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Um pavor diante da paisagem sinistra instaurada pela ascensão de forças reativas por toda
parte
Uma perplexidade diante da tomada de poder mundial pelo regime capitalista em sua nova
dobra – financeirizada e neoliberal –, que leva seu projeto colonial às últimas consequências,
sua realização globalitária
Uma profunda frustração com a recente dissolução em cascata de vários governos de esquerda
pelo mundo, especialmente na América Latina
Uma decepção com a impotência das esquerdas frente ao atual estão de coisas
Diante deste trauma ou sucumbimos ou amplia-se nosso horizonte de decifração da
violencia em suas novas e antigas modalidades
O Sujeito e as formas:
o Familiar
O Fora-do-sujeito e as forças:
o Estranho
Em sua experiência enquanto sujeito, a subjetividade apreende as formas
de um mundo em seu estado atual: modos de existência, suas funções,
seus códigos, suas representações, seus sentidos
O Familiar
O Estranho
O Estranho-Familiar
O incontornável paradoxo entre as duas experiências de um mundo, díspares e indissociáveis,
coloca uma interrogação para a subjetividade
Experiência das Forças / Experiência das Formas
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A pulsação deste novo problema convoca o desejo a agir para recobrar um equilíbrio
É aqui que se distinguem as micropolíticas, segundo a perspectiva que orienta as ações
pensantes do desejo
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Os dois extremos da ampla gama de políticas do desejo em suas
ações pensantes
Foco (visível e audível): a assimetria de direitos nas formas de relação social estabelecidas pelo
regime colonial-capitalístico. Relações de poder no âmbito das classes sociais, raças, gêneros,
sexualidades, religiões, etnicidade, colonialidade...
Agentes (apenas os humanos): todos aqueles que ocupam posições subalternas nas relações de
poder em todos os domínios da vida social.
O que move seus agentes: o impulso de ‘denunciar’ as injustiças do mundo em suas formas vigentes
para mobilizar as consciências.
Critério moral de avaliação das situações: sistema de valores estabelecidos – bússola moral que
orienta nossas escolhas e ações na esfera macropolítica.
Modo de operação (por oposição ao opressor para destituí-lo de seu lugar de poder): estratégias
de luta contra o opressor e as leis que sustentam seu poder em todas suas manifestações na vida
individual e coletiva.
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II- Insurreição micropolítica: um protesto pulsional dos inconscientes
Foco (invisível e inaudível): o abuso perverso da força vital da natureza, em todos seus elementos,
o que inclui o humano. Esta é a matriz micropolítica do regime colonial-capitalístico: uma patologia
altamente agressiva com graves sequelas para o destino do planeta.
O que move seus agentes: o impulso de perseveração da vida que, nos humanos, manifesta-se como
impulso de ‘anunciar’ mundos por vir para mobilizar os inconscientes.
Critério pulsional de avaliação das situações: o que a vida pede - bússola ética que orienta nossas
escolhas e ações na esfera micropolítica.
Modo de operação (por afirmação da vida em sua essência germinativa, para desertar as relações
de poder): não ceder ao abuso da pulsão, o que depende de fazer a travessia do trauma que tal
abuso provoca e que prepara o terreno para o sequestro de sua potência. É este trauma o que nos
faz permanecer enredados na cena das relações de poder, seja na posição de subalternidade ou de
soberania (mesmo que nos insurjamos contra elas macropoliticamente).
Há que desertar seu papel, transfigurando seu personagem ou simplesmente abandonando a cena
que, com isso, não tem mais como se sustentar. Construir para si um outro corpo, abandonando a
carapaça de um corpo estruturado na dinâmica do abuso.
A resistência micropolítica é também e indissociavelmente uma resistência clínica: curar a vida de
sua impotência, sequela de seu cativeiro na trama relacional do abuso.
Modo de cooperação (construção do comum, via empatia): tecer múltiplas redes de conexões a
partir de situações, experiências e linguagens distintas, cujo traço de união é uma perspectiva ética:
a afirmação da vida em sua essência transfiguradora e transvaloradora.
Criam-se territórios relacionais temporários, variados e variáveis, nos quais se produzem sinergias
coletivas, provedoras de um acolhimento recíproco que favorece a travessia do trauma do abuso
colonial-capitalistico. Tende a compor-se assim um corpo individual e coletivo resistente à
cafetinagem da vida, capaz de a repelir.
De tais reapropriações coletivas da pulsão depende a possibilidade de constituição de campos
de emergência de acontecimentos, nos quais configuram-se outros modos de existência e suas
respectivas cartografias.
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Dez sugestões para descolonizar o inconsciente
1. Desanestesiar a vulnerabilidade às forças em seus diagramas variáveis, potência da subjetividade
em sua experiência fora-do-sujeito;
5. Não interpretar a fragilidade e seu desconforto como ‘coisa ruim’, nem projetar sobre eles
leituras fantasmáticas (ejaculações precoces do ego, provocadas por seu medo de desamparo
e falência e suas consequências imaginárias: o repúdio, a rejeição, a exclusão social e a
humilhação);
6. Não ceder à vontade de conservação das formas e à pressão que esta exerce contra a vontade de
potência da vida em seu impulso de produção de diferença. Sustentar-se no fio tênue deste estado
instável até que a imaginação criadora construa um lugar de corpo-e-fala que, por ser portador da
pulsação do estranho-familiar, seja capaz de atualizar o mundo virtual que esta experiência anuncia,
permitindo assim que as formas agonizantes acabem de morrer;
7. Não atropelar o tempo próprio da imaginação criadora, para evitar o risco de interromper a
germinação de um mundo e, com isso, tornar a imaginação vulnerável a deixar-se desviar pelo regime
colonial-cafetinístico. Tal desvio transforma a imaginação criadora em mera ‘criatividade’ a serviço
da reprodução do status quo que, mascarado de ‘novidade’, torna-se sedutor e mobiliza o desejo de
consumo;
8. Não abrir mão do desejo em sua ética de afirmação da vida, o que implica em mantê-la fecunda,
fluindo em seu processo ilimitado de diferenciação;
9. Não negociar o inegociável: tudo aquilo que impediria a afirmação da vida, em sua essência de
potência de criação. Aprender a distinguí-lo do negociável: tudo aquilo que se poderia reajustar porque
não obstaculiza a manifestação da força vital instituinte mas, ao contrário, gera as condições objetivas
para que ela se realize em seu destino de produção de acontecimento;
10. Praticar o pensamento em sua plena função: indissociavelmente ética, estética, política, crítica e
clínica. Isto é, reimaginar o mundo em cada gesto, palavra, relação, modo de existir – toda vez que a
vida assim o exigir;
Vale lembrar que este trabalho de artesania de si, do qual depende a
descolonização na esfera micropolítica, implica um esforço constante que
jamais atinge sua plena e definitiva realização. Ao longo de nossa existência,
oscilamos entre políticas do desejo que variam entre seus dois extremos.
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É neste horizonte que situam-se as pistas e sugestões aqui indicadas; elas
trazem as marcas dos limites atuais de meu trabalho nesta direção.
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Esta apresentação é, portanto, dedicada a todos aqueles cujos
gestos instauram um território relacional onde os inconscientes
encontram ressonâncias para sua insurreição: uma rede para
aninhar os germes de futuros.