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Niterói
2009
ADRIANA PINTO FIGUEIREDO
Niterói
2009
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá
CDD 469.0202
ADRIANA PINTO FIGUEIREDO
Aprovada por:
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Profª. Drª Norimar Júdice - Orientadora
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Profª. Drª Patrícia Maria Campos de Almeida
Universidade Federal do Rio de Janeiro
______________________________________________________________________
Profª. Drª. Regina Dell’ Isola
Universidade Federal de Minas Gerais
______________________________________________________________________
Profª. Drª Lygia Maria Gonçalves Trouche
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Profª. Drª Rosane Santos Mauro Monnerat
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Prof. Drª Adriana Leite do Prado Rebello - Suplente
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
______________________________________________________________________
Profª. Drª. Beatriz dos Santos Feres – Suplente
Universidade Federal Fluminense
Agradecimentos
Aos meus pais, meu irmão Breno, minha irmã Bianca, minhas irmãs
emprestadas Letícia e Ana Paula e minha sobrinha Juliana, pelo amor e amparo
em todos os momentos, trazendo a estabilidade e a motivação de que eu
precisava para realizar este trabalho.
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
Português para Estrangeiros; Cultura brasileira contemporânea; Materiais
didáticos.
ABSTRACT
This study examines the way Brazilian contemporary culture is approached in the
teaching of Portuguese as a Foreign Language, through the analysis of cultural
components from coursebooks edited in Brazil. It was researched, among the
materials published in the last two decades, a group of textbooks by the same
authors and directed to similar kinds of public, so that the selection and approach
of their cultural components could be compared.The evaluation of the samples
selected from these materials revealed the beginning of a process in which their
cultural components are approached in accordance with paradigms established in
recent theories of cultural representation.These theories have been generated
since the 90´s, in the context of the so called latest period of globalization.
KEYWORDS
1 INTRODUÇÃO 09
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 14
2.1 O DESENVOLVIMENTO DA NOÇÃO DE CULTURA NAS CIÊNCIAS
SOCIAIS 15
2.1.1 A origem social da palavra “Cultura” 17
2.1.2 O debate franco-alemão sobre a cultura 19
2.1.3 O surgimento do conceito científico de cultura 21
2.2 A AMPLIAÇÃO DE FRONTEIRAS NO DESENVOLVIMENTO
DOS ESTUDOS SOBRE CULTURA 26
2.3 OS ESTUDOS LATINO-AMERICANOS DE CULTURA 36
2.4 ALGUNS USOS DA CULTURA NA ERA GLOBAL 39
2.5 DEBATES SOBRE A CULTURA NA ERA GLOBAL 42
2.6 CULTURA E IDENTIDADE 53
2.7 ABORDAGENS CULTURAIS NO ENSINO DE LEs 70
3 O CONTEXTO SOCIOEDUCACIONAL E POLÍTICO EM QUE
A PESQUISA SE INSERE 81
3.1 O QUE DESEJAMOS COMUNICAR 93
4 METODOLOGIA 99
5 ANÁLISE DE DADOS 105
5.1 A ABORDAGEM DE TÓPIC OS CULTURAIS EM BEM-VINDO! –
A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO DA COMUNICAÇÃO 105
5.1.1 Descrição dos tópicos selecionados 105
5.1.2 Resumos dos textos 106
5.1.2.1 Textos I e II : Quem Somos Afinal (1) e (2) ? 106
5.1.2.2 Texto III : Literatura Brasileira 108
5.1.2.3 Texto IV : Música Popular 110
5.1.2.4 Texto V : O Folclore Brasileiro 113
5.1.2.5 Texto VI : Preferência Nacional 116
5.1.2.6 Texto VII : (sem título) - artigo sobre eventos folclóricos nacionais 117
5.1.2.7 Texto VIII : (sem título) - texto sobre festivais
de premiação dos gêneros de arte 118
5.1.2.8 Texto IX : Carnaval 119
5.1.3 Análise dos textos 121
5.1.3.1 Textos I e II : Quem Somos Afinal (1) e (2) ? 125
5.1.3.2 Textos III e IV : Literatura Brasileira e Música Popular 133
5.1.3.3 Textos V, VI e VII : O Folclore Brasileiro, Preferência
Nacional e artigo sobre eventos folclóricos 138
5.1.3.4 Texto VIII : (sem título) - texto sobre festivais
de premiação dos gêneros de arte 143
5.1.3.5 Texto IX : Carnaval 145
5.2 A ABORDAGEM DE TÓPIC OS CULTURAIS EM PANORAMA BRASIL –
ENSINO DO PORTUGUÊS DO MUNDO DOS NEGÓCIOS 149
5.2.1 Descrição dos tópicos selecionados 149
5.2.2 Resumos dos textos 150
5.2.2.1 Texto I : Amazônia – Desenvolvimento Sustentável 150
5.2.2.2 Texto II : (sem título) – texto sobre a criação de um
espaço de cinema comunitário 151
5.2.2.3 Texto III : Iguaria Regional Vence Barreira Geográfica
e Vira Destaque em Restaurantes do Rio e SP 152
5.2.2.4 Texto IV : Agricultura Familiar 153
5.2.2.5 Texto V : Nosso Cardápio em Cordel 153
5.2.2.6 Texto VI : (sem título) – artigo sobre a recente ampliação 154
comercial da marca Cachaça 51
5.2.2.7 Texto VII : (sem título) – entrevista com a artesã
responsável pela Flor de Concha 155
5.2.2.8 Texto VIII : (sem título) – texto sobre a criação de um
pequeno negócio para a comercialização de tecidos bordados
artesanalmente 156
5.2.2.9 Texto IX : Angola – Onde o Brasil Aprendeu a Gingar 156
5.2.2.10 Texto X : Daniella Zylbersztajn – Tataraneta e Neta
de Fabricantes de Bolsas, Cria Objetos de Desejo 157
5.2.2.11 Texto XI : O ‘Design’ com Ingrediente de Sucesso 158
5.2.2.12 Texto XII : A Dança Brasileira Conquistando Espaços 159
5.2.2.13 Texto XIII : (sem título) – texto sobre a integração da imigrante
alemã Gunhild Kruck ao Brasil por meio das artes plásticas 160
5.2.3 Análise dos textos 161
5.2.3.1 Texto I : Amazônia – Desenvolvimento Sustentável ;
e Texto II : (sem título) - texto sobre o empreendedorismo
de José Luiz Zagati na criação de um espaço de cinema comunitário 169
5.2.3.2 Textos III e IV : Iguaria Regional Vence Barreira
Geográfica ... e Agricultura Familiar ; Texto V : Nosso Cardápio em
Cordel ; e Texto VI: artigo sobre a recente ampliação da marca Cachaça 51 171
5.2.3.3 Texto VII : (sem título) - entrevista com a artesã que
idealizou a Flor de Concha ; Texto VIII : (sem título) – texto sobre
a criação de um pequeno negócio para a comercialização de
tecidos bordados artesanalmente 174
5.2.3.4 Texto IX : Angola – Onde o Brasil Aprendeu a Gingar 175
5.2.3.5 Texto X : Daniella Zylbersztajn – Tataraneta e Neta de Fabricantes
de Bolsas, Cria Objetos de Desejo ; Texto XI : O ‘Design’ com
Ingrediente de Sucesso 176
5.2.3.6 Texto XII : A Dança Brasileira Conquistando Espaços 177
5.2.3.7 Texto XIII : (sem título) – texto sobre a integração de
uma imigrante alemã ao Brasil por meio das artes plásticas 179
5.3 DA ABORDAGEM CULTURAL DE ESTRUTURA
NACIONAL À REPRESENTAÇÃO CULTURAL CONTEMPORÂNEA 182
6 CONCLUSÃO 189
REFERÊNCIAS 193
ANEXOS 202
9
2 INTRODUÇÃO
professores de LEs.
sociológico.
culture, que, nos parâmetros estabelecidos pelo autor, deve, de maneira geral,
estamos inseridos.
processos de globalização – termo que, neste trabalho, está sendo usado para
ambos obtiveram uma circulação significativa nos segmentos de ensino de PLE aos
quais se destinavam.
tópicos culturais que foram por nós analisados. Por meio da contraposição dos dois
culturais que integram grande parte dos MDs de PLE. Essa abordagem, que se
realizada.
12
identitária, conforme elas têm sido definidas pelos culturalistas que enfocam a
chamada era global. Por fim, apontamos alguns meios de categorização da cultura
adequada dos conteúdos curriculares. Com base nessa avaliação pudemos enfocar
evidenciar, que a área, naturalmente, reflete algumas das deficiências desse sistema
também explicitamos o critério para a seleção dos tópicos culturais inscritos nesses
análise.
seja, o estreitamento entre o setor privado e o social – como fator determinante para
uma revisão dos objetivos que norteiam a elaboração curricular nos diversos
uso das línguas, além de ser direcionado a funções comunicativas, seja enfocado
sociedade.
referências e os anexos com os vinte e dois textos extraídos dos dois LDs
selecionados.
14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
contemporâneos sobre a cultura e aos modos pelos quais ela funciona na época da
globalização.
como esse, tomar emprestado das Ciências Sociais a palavra “cultura” para
imposição simbólica, já que a cultura não se decreta, ela não pode ser manipulada
teorias, naturalmente, não deixaram de partir dos saberes construídos por disciplinas
como uma característica relevante por motivos que iremos explorar mais à frente.
SOCIAIS
desta evolução, que resulta no “Homo sapiens sapiens”, o primeiro homem, houve
genética, elas foram se diferenciando por suas escolhas culturais, cada uma
inventando soluções originais para os problemas que lhe são colocados. Assim, a
16
noção de cultura compreendida em seu sentido vasto, que remete aos modos de
XVIII, ela passou a suscitar cons tantemente debates bastante acirrados. E conforme
(op.cit., p.12).
É por isso que Sayad (apud Cuche, 2002, p.12) afirma que
força entre, de um lado, os grupos sociais no seio de uma mesma sociedade e, de outro
seu uso nas Ciências Sociais, é preciso que se evidenciem os laços que existem
realidades muito diversas (cultura da terra, cultura microbiana, cultura física ...), mas
produzido na língua francesa do Século das Luzes, antes de ser difundida por
século XVIII pode ser considerado como o período de formação do sentido moderno
Vinda do latim ‘cultura’ que significa o cuidado dispensado ao campo ou ao gado, ela
aparece nos fins do século XIII para designar uma parcela de terra cultivada ... Até o século
natural da língua e não ao movimento das idéias, que procede ... pela metáfora (da cultura
O termo ‘cultura’ no sentido figurado começa a se impor no século XVIII. Ele faz sua entrada
com este sentido no ‘Dicionário da Academia Francesa’ (edição de 1718) e é então quase
sempre seguido de um complemento: fala-se da ‘cultura das artes’, da ‘cultura das letras’,da
‘cultura das ciências’, como se fosse preciso que a coisa cultivada fosse explicitada...
Progressivamente, ‘cultura’ se libera de seus complementos e acaba por ser empregada só,
O autor ressalta o fato de, no fim do século XVIII, esse uso passar a ser
sua definição, a expressão “um espírito natural e sem cultura”, marcando, assim, a
Esse segundo termo, ‘civilização’, por sua vez, com seu sentido original
dos costumes), é redefinido pelos filósofos reformistas como o processo que arranca
alguns povos mais avançados que outros (a França particularmente), podendo ser
substituição de uma teologia (da história) por uma filosofia (da história), a
terceiro termo – Etnologia , que sintetiza o trabalho no campo das idéias que era
como a disciplina que estuda a “história dos progressos dos povos em direção à
civilização”.
1
As duas palavras pertencem ao mesmo campo semântico, refletem as mesmas concepções fundamentais.Porém,
‘cultura’evoca principalmente os progressos individuais,‘civilização’,os progressos coletivos (op.cit.,p.22).
19
universalismo francês surge uma noção particularista . É nessa polarização que está
lingüístico.
restrito à primeira, conseqüentemente, o controle das ações políticas. Esse fato cria
“corteses” da aristocracia.
superficial. Por outro lado, tudo o que é autêntico e que contribui para o
20
cultura.
descreve Norbert Elias (apud Cuche, 2002, p.25), a antítese ‘cultura’ - ‘civilização’ se
desloca pouco a pouco da oposição social para a oposição nacional. Uma vez que a
unidade nacional alemã não estava ainda realizada e parecia impossível então no
Kultur vai tender cada vez mais à delimitação e à consolidação das diferenças
nacionais.
sua cultura própria, tem um destino específico a realizar, pois cada cultura exprime à
2
Após vencer a Batalha de Iena, Napoleão reescreveu o mapa da Alemanha com a criação da Confederação do
Reno (1806), liga de príncipes e reis alemães que ele colocou sob sua tutela (Koogan e Houaiss, 1995, p.1099).
21
Estado-nação alemão.
(op.cit.,p.33).
Torna-se claro, a essa altura, que se eles reivindicam uma nova ciência, é
‘Cultura’ e ‘civilização’, tomadas em seu sentido etnológico mais vasto, são um conjunto
(op.cit,p.35).
contexto da época. Ele privilegia “cultura” por compreender que “civilização”, mesmo
inimaginável que Deus tivesse criado seres tão “selvagens”, não reconheciam nos
pode ser eleita como representativa da escola particularista de cultura. Franz Boas
inventor da Etnografia.
ele recusa o comparatismo imprudente da maioria dos autores evolucionistas. Para ele,
havia pouca esperança de descobrir leis universais de funcionamento das sociedades e das
culturas humanas e ainda menos chance de encontrar leis gerais da evolução das culturas
(op.cit.,p.42).
a ser desenvolvida.
de forma igual em todos os países, é nos Estados Unidos que esses estudos
Estados Unidos, traze rem a questão dos estrangeiros na cidade para o centro de
suas análises.
ângulo da história cultural, a segunda tem como objetivo elucidar as relações entre
3
O etnocentrismo é o termo técnico para esta visão das coisas segundo a qual nosso próprio grupo é o centro
de todas as coisas e todos os outros grupos são medidos e avaliados em relação a ele [...]. Cada grupo alimenta
seu próprio orgulho e vaidade, considera-se superior, exalta suas próprias divindades e olha com desprezo as
25
1948), aluna e em seguida assistente de Boas, é célebre sobretudo por seus usos e
obra de Boas.
Para ela, de certo modo, cada cultura oferece aos indivíduos um “esquema”
inconsciente para todas as atividades da vida, apresenta seu pattern mais ou menos
coerente de pensamento e ação. O que define então uma cultura, não é a presença
ou ausência de tal traço ou de tal complexo de traços culturais, mas sua orientação
infância.
ainda perceptível na obra de Benedict, na medida em que ela propunha que todas
personalidade” reagiu contra o risco de reificação da cultura. Ela afirma que a cultura
estrangeiras .Cada grupo pensa que seus próprios costumes são os únicos válidos e se ele observa que outros
grupos têm outros costumes, encara-os com desdém (Simon, apud Cuche,2002,p.46).
26
é uma abstração (o que quer dizer uma ilusão). O que existe são indivíduos que
entre as culturas, a França, que não se via como um país de imigração, só teve este
difusão, quer se trate, no século XIX , de Humboldt ou de Herder, ou, no século XX,
da Escola de Frankfurt.
Mattelart e Neveu (2004) buscaram, então, fazer uma breve reconstituição histórica
27
de uma tradição recente, consagrada pelo rótulo de Estudos Culturais, que inspira
última década, sobretudo nas teorias do último intelectual a compor o grupo de seus
Ao trazer para nosso referencial teórico algumas das linhas de pensamento dos
conceber a cultura nos tempos atuais, mas também no que se refere às diferentes
concepção.
economia, a sociologia nascente são vistas com suspeição; e que ... esses tropismos
intelectuais se perpetuam para além do século (Lepennies, apud Mattelart e Neveu, 2004, p.35).
Desde 1813, por meio dos estudos literários ingleses, se constrói e se propaga a
particularmente a Índia. Com ele, visava-se uma espécie de controle ideológico das
entrada pela porta de trás. Seus programas de ensino são estabelecidos então nas
antologias destinadas ao uso do grande público, como English Men of Letters (Os
Homens de Letras Ingleses). Todavia, apenas após a Primeira Guerra Mundial (1914
pedagogia a adotar. Dele participam autores como George Orwell, Harold Laski ou
Herbert Read.
opção tem a simpatia dos partidários de uma modernização da educação popular preferentemente
vinculada ao estilo universitário e centrada nas artes e nas letras. A outra linha, mais apoiada em
realidades regionais, valoriza as tradições puritanas do movimento operário e milita em favor de uma
buscando mobilizar as pessoas mais avançadas da classe operária para formar quadros (Mattelart e
desse questionamento, mas optam de modo decisivo por uma abordagem via
classes populares.
O primeiro deles é Richard Hoggart (1918 -), que, em 1957, publicou um livro
campo de estudos :The Uses of Literacy : Aspects of Working-Class Life with Special
da universidade de Hull, onde trabalha durante cinco anos no seio das estruturas de
educação de adultos no meio operário. Como intelectual, ele reivindica uma filiação
não se pode concluir que ele não tenha podido produzir boas obras sociológicas. A
atenção aos receptores dos conteúdos culturais, e não aos emissores, manifestada
por suas análises, não impede que suas hipóteses permaneçam profundamente
das classes populares, que é a base de sua abordagem das práticas culturais
pesquisa que caracterizarão os domínios explorados pelos estudos culturais durante mais de
duas décadas. Ela remete à convicção de que é impossível abstrair a “cultura” das relações de
O período é então ainda dominado pelo debate sobre a antinomia sumária que opõe a “base
material” da economia à cultura, fazendo desta última um simples reflexo da primeira. Sair desse
dilema impossível e redutor é um dos desafios com que os estudos culturais terão de se
Esse será um dos objetivos identificados nos trabalhos mais recentes daquele
que será o quarto homem a se unir ao trio de fundadores. Oito anos mais novo que
Thompson, Stuart Hall (1932 -), ainda era uma figura-chave das revistas da nova
Jamaicano de origem, ele deixa seu país em 1951, e durante seu período de
primeiros vínculos com militantes da esquerda marxista. Ele, assim, como Williams e
posições externas (a educação de adultos no meio operário) a esse sistema ou situadas em sua
Não causa espanto, portanto, que ao fundar, em 1964, o CCCS - Centre for
cultura de massa e para o universo das práticas culturais populares. Esse objetivo
O segundo, que já foi referido, mas deve ser enfatizado, nasce de uma
(op.cit.,p.93).
Longe de constituir dois domínios distintos, os trabalhos sobre a mídia e o espaço público, de
um lado, e sobre as identidades sociais, de outro, vão encontrar a partir de então uma forte
procura despertar a atenção dos pesquisadores para um novo momento político que
especialmente na Europa’;
2) a fratura das ‘paisagens sociais’ nas ‘sociedades industriais avançadas’, o que faz com
que o ‘eu’ (self) seja doravante parte de um ‘processo de construção das identidades
não é redutível a uma ou outra coordenada (seja ela a classe, a nação, a raça, a etnia
ou o gênero)’;
para escapar a uma inexorável depreciação, os estudos culturais devem voltar a questões
com as quais se confrontavam nos anos 1970: onde se situam hoje as conexões
interdisciplinares produtivas? Como a militância pode ser o motor e não uma ameaça para o
chamada “global”, o que significa efetuar uma reflexão mais atenta à boa articulação
entre o global e o local, grandes desafios e pequenos objetos. Esse tipo de enfoque
pode dar a uma análise ambiciosa do cultural apoios mais firmes. Alguns trabalhos
(op.cit.,p.188).
acerca dos objetos de estudo acima referidos. Algumas de suas conclusões serviram
outros intelectuais.
Para isso, é preciso nos situarmos no panorama dos chamados Estudos Latino-
identidades culturais na América Latina é rica de uma vasta memória política, assim
anos de chumbo dos regimes autoritários e nos posteriores anos cinza das
O brasileiro Renato Ortiz, por exemplo, com suas pesquisas sobre a “moderna
identificar a presença das idéias derivadas dos estudos de Roger Bastide sobre a
análise.
cooperação.
38
Nesse ponto, é válido tomar o exemplo, nos anos 1960, do trabalho significativo
historicamente contidos nas culturas populares. Hoje, por outro lado, o que
que não estejam empobrecidas de um sentido político compatível com o seu tempo.
noção de globalização; o desconhecimento das análises formuladas pela economia política das
dos sistemas técnicos; a crescente defasagem diante das novas dinâmicas do movimento social;
39
e por fim, mas não por último, a carência de problematização do novo estatuto do saber e dos
tornar-se-á mais clara a nossa motivação para adotar os resultados obtidos pelas
investigações do pesquisador George Yúdice 4 acerca dos modos como a cultura tem
relativas à recepção que vários setores sociais brasileiros têm feito da conceituação
4
George Yúdice é professor do Programa de Estudos Americanos e de Literaturas e Línguas Espanhola e
Portuguesa e diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e do Caribe na Universidade de Nova York.
5
Renato Ortiz foi pesquisador do Latin American Institute da Universidade de Columbia.
6
Especialmente a leitura da obra Mundialização e Cultura (2003).
40
maior atração.
Santana (apud Yúdice, 2006, p.31) afirma que o velho modelo de apoio público
às artes por parte do Estado está morto. Os novos modelos consistem de parcerias
Interamericano de Desenvolvimento.
entretanto, uma oposição entre os domínios da economia e da cultura. Já, nos dias
Essa culturalização, por sua vez, não aconteceu naturalmente, ela foi
política.
dos direitos de propriedade, os que não têm esses direitos ou que os perderam
É por isso que, segundo Yúdice (2006, p.38), os Estados Unidos, a fim de
informava m que :
redes e satélites do mundo ... não criarão uma infra-estrutura nacional de informação (NII)
se não houver conteúdo. O que levará a NII em frente é o conteúdo que se desloca através
assim chamada sociedade civil global das ONGs – sejam homogeneizados (op.cit,
Nas últimas três décadas, muitos teóricos romperam com a tônica estatista do
cultural torna-se, assim, fator visível para repensar os acordos coletivos. Esse termo
cultura.
problemas que antes eram de domínio da economia e da política. Nas palavras dos
transnacional, que tem obtido êxitos progressivamente maiores nessa última década:
empreendimentos culturais. O patrimônio gera valor. Parte de nosso desafio mútuo é analisar os
retornos locais e nacionais dos investimentos que restauram e extraem valor do patrimônio
cultural – não importando se a expressão é construída ou natural, tais como a música indígena,
Todos esses fatores têm operado uma transformação naquilo que entendemos
por cultura e o que fazemos em seu nome e essa transformação, que segue
partir da segunda metade do século XIX . O autor faz uma síntese desse
União serviu de modelo para muitos outros setores da comunicação e da mídia: os correios
(1874), pesos e medidas (1875), rotas marítimas (1879), proteção da propriedade industrial
(1883), da propriedade das obras literárias e artísticas (1886), ferrovias (1890), etc.
dos transportes. A própria noção de organização mundial, limitando a soberania dos Estados
Após a Segunda Guerra Mundial, nos países devastados pela guerra, foi preciso
ato constitutivo.
que utiliza provêm das contribuições dos Estados membros e de fundos extra-
Conferência gerou deliberações que foram chamadas de uma Nova Ordem Mundial
pareceu inaceitável tanto para os soviéticos, quanto para a mídia americana, que
temiam perder assim a vantagem da qual gozavam, tendo o controle mundial não só
organização e deflagrando uma crise que acabou por promover reformas de gestão.
assunto importante demais para ser abandonada somente aos seus mercadores, os
Portanto, levadas pela onda de liberalização das trocas que ganhou força
nos anos 80, as organizações comerciais buscaram afirmar sua influência sobre as
protecionistas e até desleais são a regra e não a exceção, logo, como afirma
sem colocar o fraco à mercê do forte? Em outros termos, como colocar um boxeador peso
trocas comerciais mundiais, com vistas a equacionar o problema citado. Ele foi
fato de que os filmes e a música, em sua opinião, são cruciais para a identidade
cultural e não deveriam ser sujeitos aos mesmos termos do mercado, como, por
46
de sua obra (a qual citamos nesse estudo), entre os anos de 1999 e 2000 – o
cinema francês produzia de 100 a cento e 120 longas-metragens por ano, e era
sessão da Conferência Geral da UNESCO, realizada em 2003, que tinha como tema
propostas.
um mês depois da Conferência 7, afirmava que a França, com uma política de cotas
nacional.
que o estímulo à produção francesa não significa fechar barreiras para os enlatados
hollywoodianos, uma vez que a diversidade cultural só faz e fará sentido se não
7
A edição é a de 12 de novembro de 2003 (pp.83,84,85) e a Conferência se realizou entre os dias 29 de setembro
e 17 de outubro deste mesmo ano.
47
Mas deve estar claro que o essencial é que a diversidade cultural seja
que o cinema francês está enraizado em uma tradição cultural de cinema de autor e
a cultura que vigorou na França desde o século XVIII, adentrando o século XX,
que ela tem obtido resultados em uma progressão rápida e constante, na medida em
que se vale de mecanismos e recursos bem mais eficientes. Além disso, o contexto
cultura :
dos canais), em nome da qual os grupos multimídias mais poderosos pretendem fazer
progredir sua interferência sobre os conteúdos, bem como sobre os suportes, de acordo
Para Yúdice, o fato de os direitos autorais estarem cada vez mais nas mãos
erosão.
conventos, etc. Em alguns deles, haverá grupos em que os sujeitos vivem melhor
Por tudo isso, o autor considera que falar de globalização da cultura trata-se
escala mundial revela-se como um falso debate, fortemente inscrito nas angústias do
imaginário.
Para justificar esse ponto de vista, Warnier opõe o que chama de uma
culturais, pode-se associar ao que Yúdice (2006, p.45) classifica como a projeção de
Santos, de um novo paradigma utópico. Ela pode ser melhor sintetizada nas próprias
palavras de Santos (2001, p.145), para quem uma espécie de ética da informação
a cultura de massas :
segundo níveis mais baixos de técnica, de capital e de organização, daí suas formas típicas
de criação. Isto seria, aparentemente, uma fraqueza, mas na realidade é uma força, já que
se dá, desse modo, uma integração orgânica com o território dos pobres e o seu conteúdo
serviço do poder ou do mercado, são, a cada vez, fixos. Frente ao movimento social e no
objetivo de não parecerem envelhecidos, são substituídos, mas por uma outra simbologia
também fixa : o que vem de cima está sempre morrendo e pode, por antecipação, já ser
visto como cadáver desde o seu nascimento. É essa a simbologia ideológica da cultura de
massas.
hierarquia Norte-Sul. Essa linha de pensamento adotada por Santos, se opõe ao que
o próprio autor denomina pensamento único, como o próprio título da obra citada
sugere 8.
pelo credo do liberalismo econômico, que, por ser infinitamente citado, comentado e
esquerda, e pelos meios de comunicação que citam-se entre si e competem para ganhar os
pontos de audiência, acabam por adquirir ‘tal força de intimidação que sufoca qualquer
tentativa de reflexão livre e torna difícil a resistência contra este novo obscurantismo’.
menosprezam o que é muito modesto e local para ser captado pela mídia e que é
no cotidiano dos valores orientados, que acaba por gerar antídotos, réplicas e
8
O título é Por uma outra Globalização : do pensamento único à consciência universal.
9
Ele utiliza a mesma expressão de Santos.
52
contemporaneidade parta do jogo cultural que deriva de reviravo ltas das estruturas
muito distintos, revisões vigorosas nos valores e no modus vivendi dos sujeitos que
referimos anteriormente nos estudos de Yúdice acerca dos usos da cultura na era
afirmam que
pouco a pouco se impôs uma noção de cultura instrumental, funcional com relação à
necessidade de regulação social da nova ordem social sob efeito dos novos imperativos da
53
gestão simbólica dos cidadãos e dos consumidores pelos Estados e pelas grandes
unidades econômicas.
apropriação dessa conduta por parte dos sujeitos só é possível porque atrelada à
identidades culturais.
No final da Idade Média, ainda predominava uma ordem secular e divina que
Iluminismo do século XVIII surgiu o “indivíduo soberano”, que para muitos teóricos,
que sofria as conseqüências dessas práticas – aquele que estava sujeitado a elas
comércio era descrito através de um modelo que supunha indivíduos separados que
complexas, elas adquiriam uma forma mais coletiva e social. As teorias clássicas
obrigadas a dar conta das estruturas do Estado-nação e das grandes massas que
Emergiu, então, uma concepção mais social do sujeito, que possibilita classificá-
primeira metade do século XX, quando as Ciências Sociais assumem sua forma
disciplinar atual.
operaram cinco grandes avanços na teoria social e nas Ciências Humanas ocorridos
no pensamento, ou que sobre ele tiveram seu principal impacto. Sua conseqüência
55
pertence, naturalmente, ao século XIX e não ao século XX, mas foi reinterpretado na
homens fazem a história, mas apenas sob as condições que lhes são dadas. Seus
novos intérpretes leram isso no sentido de que os indivíduos podiam agir apenas
utilizando os recursos materiais e de cultura que lhes foram fornecidos por gerações
anteriores.
“cada indivíduo singular”, o qual é seu sujeito real. Esse “anti-humanismo teórico”
pensamento moderno.
XX ocorre com a descoberta do inconsciente por Freud, que arrasa com o conceito
A leitura que pensadores psicanalíticos, como Jacques Lacan, fazem de Freud é que a imagem
parcialmente, e com grande dificuldade. Ela não se desenvolve naturalmente a partir do interior
do núcleo do ser da criança, mas é formada em relação com os outros ... (Hall, 2004, p.37).
psicanalítica, existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade, ela
formada”.
Por isso, Hall propõe que em vez de falar da identidade como algo acabado,
da identidade que já está dentro de nós como indivíduos, mas em uma falta de
inteireza que é “preenchida” a partir de nosso exterior, pelas formas através das
estáveis.
que preexiste a nós e não um sistema individual. E, sendo assim, falar uma língua
Derrida, passaram a argumentar que o/a falante individual não pode nunca fixar o
O quarto e principal fator que contribuiu para uma reconfiguração das noções de
infelicidades e os prazeres do indivíduo’, assim como sua saúde física e moral, suas
práticas sexuais e sua vida familiar, sob estrito controle e disciplina, com base no
observar que embora esse poder seja o produto das novas instituições coletivas e
sujeito.
que permite aferir a distribuição dos indivíduos numa dada população, por exemplo –
dos “novos movimentos sociais” que emergiram durante os anos sessenta. Dentre
“Terceiro Mundo”, os movimentos pela paz e tudo aquilo que está associado com
“1968”.
organizações políticas de massa com ela associadas, bem como sua fragmentação
em vários e separados movimentos. E, uma vez que cada movimento apelava para a
movimento.
sociológico, passa a haver uma consciência de que este núcleo interior do sujeito
não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras
pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e
predizíveis.
institucionais. Por isso, o próprio processo de identificação pelo qual nos projetamos
modo temporário, poderíamos nos identificar. É a partir desse contexto que se pode
identidades culturais nos períodos que vêm sendo chamados de modernidade tardia
como elas estão sendo afetadas ou deslocadas pela fase recente do processo de
globalização.
legais de uma nação, elas participam da idéia da nação tal como representada em
Uma nação é, portanto, uma comunidade simbólica, o que explica seu poder
para gerar um sentimento de identidade e lealdade (Schwarz, apud Hall, 2004, p.49).
caberá defini-la antes como um discurso, nos termos em que o vernáculo é descrito
pelo Penguin Dictionary of Sociology (apud Hall, 2004, p.50) – um modo de construir
61
sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que
Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que
conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas. Como
imaginada’ (op.cit.,p.51)
trabalho.
nacional que preexiste a nós e continua existindo após nossa morte. Em segundo
podemos dizer, de forma sintetizada, que uma cultura nacional atua como uma fonte
Ernest Renan (apud Hall, 2004, p.58) define alguns mecanismos interacionais que
imaginada”. Elas deixam claro, então, que a palavra nação refere-se tanto ao
nação político quanto uma identificação com a cultura nacional : ‘tornar a cultura e a esfera
política congruentes’ e fazer com que ‘culturas razoavelmente homogêneas, tenham, cada
Dizendo de outro modo, a cultura nacional busca unificar seus membros sob
uma perspectiva que se concentra na forma como a vida social está ordenada ao
temporais é um aspecto central para a análise dos efeitos que a globalização exerce
economia mundial, nunca permitindo que suas aspirações fossem determinadas por
fronteiras nacionais.
modernidade, é inegável que, desde os anos 70, tanto o alcance quanto o ritmo da
globalização, tornou-se cada vez mais marcada a separação entre espaço e lugar.
Nas sociedades pré-modernas, o espaço e o lugar eram amplamente coincidentes, uma vez
que as dimensões espaciais da vida social eram, para a maioria da população, dominadas
pela ‘presença’ – por uma atividade localizada ... A modernidade separa, cada vez mais, o
espaço do lugar, ao reforçar relações entre outros que estão ‘ausentes’, distantes (em
locais são inteiramente penetrados e moldados por influências sociais bastante distantes
pode ser “cruzado” num piscar de olhos pelas novas tecnologias. Isso permite que
mercado), na verdade, explora a diferenciação local ... Este local não deve, naturalmente,
delimitadas. Em vez disso, ele atua no interior da lógica da globalização [grifo nosso]
(op.cit., pp.77,78).
globo, entre regiões e entre diferentes extratos da população dentro das regiões. E a
que nas suas periferias, as quais também estão se apropriando de seu efeito
Hall, 2004, p.84). E o exercício dessa Tradução é um exemplo do caráter político das
65
integrantes das “novas diásporas” criadas pelas migrações pós-coloniais, já que eles
são obrigados a negociar com as novas culturas em que vivem, sem simplesmente
de vista proposto por esse trabalho, esse mesmo processo de Tradução está sendo
como manifestação relacional foi assim definida na obra pioneira de Frederik Barth,
relação que opõe um grupo aos outros grupos com os quais está em contato.
Uma cultura particular não produz por si só uma identidade diferenciada : esta identidade
eles utilizam em suas relações. Logo, ... para definir a identidade de um grupo, o importante
não é inventariar seus traços culturais distintivos, mas localizar aqueles que são utilizados
pelos membros do grupo para afirmar e manter uma distinção cultural (Cuche, 2002, p.82).
se opõe àquela que poderia tomar traços de uma “identidade nacional” como
identidade e identificação.
tanto na plenitude da identidade que já está dentro de nós como indivíduos, mas na
falta de inteireza que é preenchida pelas formas através das quais nós imaginamos
ser vistos por outros. Conseqüentemente, Hall propõe que, em vez de falar da
identidade como algo acabado, deveríamos falar de “identificação”. Ele também fala
culturais.
interior de uma situação relacional, na medida também em que ela é relativa, pois pode
evoluir se a situação relacional mudar, seria talvez preferível adotar como conceito
sempre uma concessão, uma negociação entre uma ‘auto-identidade’ definida por si mesmo
todos os grupos têm o mesmo “poder de identificação”, pois esse poder depende da
posição que se ocupa no sistema de relações que liga os grupos. Só podem impor
muitas das culturas e subculturas das nações não hegemônicas, com a instauração
usos da cultura na era global. É por meio desses mecanismos que consideramos
deve ser interpretado de forma simplificadora, já que não existe grupo ou indivíduo
vinculações sociais (de sexo, de idade, de classe social, de grupo cultural, ...).
caráter multidimensional e dinâmico. É isto que lhe confere sua complexidade mas também
68
até a manipulações.
Para sublinhar esta dimensão mutável da identidade que não chega jamais a uma solução
Nesta perspectiva, a identidade é vista como um meio para atingir um objetivo (Cuche,
2002, p.196).
determinam a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas representações
e suas escolhas. Dito de outra forma, por ser um motivo de lutas sociais de
certa margem de manobra, é inapropriado pensar que eles possam fazer o que
identidade.
69
cultura, já que uma mesma cultura pode ser instrumentalizada de modo diferente e
“fronteiras” coletivas.
variações de identidade. A análise da identidade não pode então se contentar com uma
abordagem sincrônica e deve ser feita também em um plano diacrônico (Cuche, 2002,
pp.201,202 ).
Optamos, assim, por adotar o viés teórico de Cuche (2002), que sugere que
uma questão social, é : Como, por que e por quem, em que momento e em que
p.202).
língua (L2) 10, afirma que o impacto de tais fatores na proficiência dos aprendizes é
qual eles são expostos. A segunda é contribuindo para modelar as atitudes que os
10
Tomamos os resultados de pesquisas sobre a aquisição de L2 que consideramos serem igualmente válidos para
a aquisição de LEs.
71
entre as línguas.
línguas ou línguas estrangeiras e convertê -las cada vez mais em elementos neutros,
ou mesmo facilitadores.
afirma que a relação entre língua e sociedade não pode ser longamente discutida
que conferem destaque aos estudos no campo sociopolítico para que se operem
adequação entre fins e meios nos projetos de ensino, é premente, que, com base
comunicativistas.
preparar-nos a viver juntos com nossas diferenças (De Carlo, apud Puren, 2004,
p.62).
deu lugar a situações qualitativamente diferentes que serão cada vez mais
habitar), mas de ‘fazer juntos’ (co-atuar), não nos podemos conformar em assumir
deve estar preparado para realizar uma parte de seus estudos em língua
estrangeira, para cursar uma parte de sua carreira universitária no estrangeiro e para
perspectiva intercultural, quando ainda não havia demandas para que se estipulasse
pesquisa.
formação cultural é híbrida. Logo, se sempre houve uma escala entre o ser igual ou
Ocorre que os projetos comuns (fazer junto) requerem negociação bem mais
mais complexa, uma vez que implica localizar os interesses e direitos comuns nos
nos sistemas de valores culturais que eram mais fáceis de estabelecer, quando as
direitos em uma negociação, cada vez mais, sob o prisma do liberalismo formal,
berço dos princípios do politicamente correto, que se tem difundido rapidamente por
75
orientais (que são aqui tomados na acepção hibridizada, assim como nós), teria de
haver uma profunda revisão dos paradigmas formadores da diferença, como ocorreu
segurança (Hall,2003,p.81).
têm influenciado a Lingüística por uma trajetória que, grosso modo, nos conduziu de
transculturação.
de defini-lo como um espaço ou tempo para nossa cultura/identidade, que está além
da esfera de nossa tradição cultural, tanto quanto está além da tradição cultural do
outro.
relação língua-sociedade-cultura.
Nosso enfoque da história não pretende, contudo, efetuar uma busca daquilo
delimita, porém não diz o que somos, mas aquilo de que estamos em vias de diferir
social. Pensamos que o ensino de PLE pode ser, para qualquer tempo, lugar e
progressiva dos rudimentos de um pensar histórico ... (Moniot, 1991, p.34). Mas
esse pensar histórico não se traduz em operações que visam ao resgate de uma
tradição.
Seria um resgate ilusório, pois a tradição não implica algo fixo. É antes um
conceito discursivo, na medida em que este desempenha uma tarefa distinta; busca
A questão que se impõe, então, é como essa tensão se tem refletido nas
no uso do termo.
para Stern (1992), eles se oporiam (pelo menos, em relação ao tratamento da questão
cultural no ensino de línguas), pois a postura deste é de que o choque maior entre os
viés humanístico clássico (grandes realizações de uma nação), ambos, segundo Stern
(op.cit.), reconhecidos como legítimos pelos teóricos, o que resultou na utilização de rótulos
como : cultura com ‘C’ (maiúsculo) ou cultura formal no conceito humanístico clássico, e
Os títulos que Viana classifica como rótulos, cultura com ‘C’ maiúsculo e
ampla gama de elementos culturais para fins de análise teórica. Como costuma
ocorrer com grande parte dos termos guarda-chuva, a intensificação de seu uso
Bennett, Bennet e Allen (2003) afirmam que a distinção entre Big C e little c
Bennett, Bennet e Allen (op.cit., p.243), na obra Standards for Foreign Language
Nas definições mais genéricas da Big C Culture, ela é apontada como uma
categoria que abrangerá os aspectos culturais mais visíveis, uma espécie de cultura
dada cultura e suas respectivas e variadas definições acabam por fazer uma
uma investigação específica. E sendo assim, só poderá ser tomada como correta na
nas obras de Viana (2003) e Bennet, Bennet e Allen (2003) – para ilustrar a
uma revisão e atualização consideráveis dos componentes culturais que cada uma
condução de nossa pesquisa é proposta por Hadley (apud Lima, 2000, p.30). De
Português como Língua Estrangeira (PLE), que será realizada por meio da
A PESQUISA SE INSERE
comunicativa (a qual havia se estabelecido como panacéia por volta do início dos
estudos (relativos ao ensino de Língua Inglesa, nesse caso). Enquanto isso, embora
o como ensinar não se revelasse como um fator desprezível para elevar o grau de
motivação dos aprendizes, entre outros desafios pedagógicos, parecia que sua
ensinar.
12
Revista Veja, Editora Abril, edição 2074, ano 41- n°33, pp.72 à 78, 80, 82, 84, 86, 87.
82
ensino de todas as disciplinas nas escolas brasileiras, que tratam os textos de Veja.
pais, professores e alunos fazem uma avaliação positiva das escolas públicas e
relação à realidade.
todo o sistema escolar privado e particular, é algo que os professores levam mais a
sério do que o ensino das matérias em classe. E 75% dos livros didáticos analisados
como um dever em sala de aula. Ele afirma que, sob sua ótica, a formação política
diz não acreditar que a maioria dos professores brasileiros, com seu baixo preparo
proposto por Veja para a sociedade brasileira não representa uma escolha de
concreta de escolhas com esse caráter, pois, acreditamos que o ato de escolher, por
si, pressupõe uma ruptura com a neutralidade, ainda que envolva diferentes níveis
de reflexão e consciência.
doutrinações ideologizantes nas escolas brasileiras , de acordo com o que pôde ser
todo. Pois, acreditamos, assim como Mourin (apud Martinazzo, 2004, p.41), que no
Ele ocorre num movimento circular ininterrupto, num vaivém entre a parte e o todo,...
reformulação dos currículos não se exclui de nenhum dos segmentos onde tivemos
comunidade.
dados coletados, 22% dos professores do ensino básico não têm diploma
universitário ; a orientação das aulas ministradas por grande parte dos professores
se faz calcada nos livros didáticos eleitos pelas instituições onde lecionam ; e 60%
dos estudantes chegam ao fim da 8ª série sem saber interpretar um texto ou efetuar
panorama descrito acima , antes de estreitarmos o foco sobre aquele que será o
Português como Língua Estrangeira (PLE) nos diferentes segmentos em que ele
atualidade?
matérias.
professores entrevistados tenham optado por formar cidadãos, para nós surgiu de
imediato a indagação dos motivos pelos quais as três opções teriam de ser
Assim como os jornalistas julgam que a opção por formar cidadãos atrela-se
a uma vocação para a doutrinação esquerdista por parte dos professores, o que
pode ser parcialmente verdade, o que para eles (os jornalistas) significa contribuir
dever e indigna-se com o fato de que apenas 8,9% dos professores brasileiros, em
conhecimentos básicos.
políticas públicas para esse setor nas décadas recentes, é preciso levarmos em
Constituição de 1988 (capítulo III, seção I, art. 205) fala de uma educação ... visando
Além disso, se por um lado devemos nos opor firmemente a qualquer forma
tanto quanto o estado deve ser laico, como sugere Ioschpe (p.87). Por outro lado,
conteúdos curriculares.
individual do aprendiz ao projeto [ou, diríamos com mais propriedade, aos projetos]
partidários.
ideologizantes nas escolas brasileiras, e, muito menos ocultar o fato de que uma
89
sob nosso ponto de vista, tornam relevante que se opere uma contextualização
- Representação e comunicação
- Investigação e compreensão
- Contextualização sociocultural
os materiais podem ser vistos como a mais concreta forma física de representação das
relacionadas à sua seleção e uso ... O livro-texto é visto como a espinha dorsal do currículo (e, em
grande parte dos professores estabelece a orientação de suas aulas calcada nos
considerar características dos materiais que utilizam ... pois, desse modo, será
plausibilidade (Prabhu, 1997) 13, o que pode frutificar na criação de novos materiais.
modismos sobre como ensinar línguas, isto é, recebem uma formação pautada por
capacitados para integrar equipes dentro das instituições que sejam responsáveis
13
Nota do Autor : Dr. Prabhu, de Bangalore, ministrou aulas na UNICAMP durante o período de 18/03/96 a
08/04/96. Ele define senso de plausibilidade como a intuição que permite ao professor saber o que é mais
produtivo para sua classe, à luz de sua experiência enquanto professor.
91
cursos.
pesquisa.
produtores, reforçamos uma vez mais, corresponde a ampliar sua participação nas
decisões curriculares.
de normatização curricular do modo como opera hoje. Mas, na medida em que essa
integram. E, assim fazendo, reforçam para seus alunos a tendência a fazer escolhas
positivas de sua cultura de aprender, apenas ela não deveria representar um círculo
resistências, que deve ser intensamente estimulado pelo professor, com os recursos
dos quais ele pode dispor. E não percebemos o livro didático, como muitos o fazem,
aprendizes, via de regra, respondem melhor aos materiais que parecem menos
abordagem dos livros-texto como uma rejeição ao próprio currículo, com sua seleção
e uso de conteúdos, uma vez que, como a própria autora explicitou, o livro-texto é,
muitas das vezes, a espinha dorsal do currículo, quando não o currículo em si.
desse sistema.
Fazemos esse retorno, antes de tudo, para esclarecer que nossa crítica
manejo quase obsessivo dos recursos formais para a manipulação do idioma. Com
94
público-alvo.
seria uma ‘aquisição eficaz’, e, com o tempo, percebeu-se que ela só se poderia
justificativa para a fixação de tal rotina era a de que ela representava o necessário e
e hierarquicamente gradativas.
estudante;
situacional.
que além da língua construída como comunicação, empregada para auxiliar nosso
compõe o dilema básico dos sistemas educacionais, que devem ao mesmo tempo
idiomas e desejamos certamente nos valer dos avanços obtidos nas pesquisas,
qual, relembramos aqui, nos termos de Hadley (apud Lima, 2000, p.30) trata de
mercearia etc).
É com base nessa mesma lógica que Schlatter (1997,p.16) ressalta que a
Porém, assim como não nos propomos neste trabalho, a abordar a chamada
formais de uma civilização – também não cremos que uma análise antropológica e
sociológica, nos moldes em que até hoje essas análises têm sido utilizadas no
seleção desses conteúdos para integrar materiais didáticos de PLE – os quais para
efeitos instrumentais, são agrupados sob o título Big C culture – que objetivamos
analisar.
Eles integram dois livros didáticos de PLE, com publicações respectivas em 1999 e
4 METODOLOGIA
editados no Brasil.
partir dos anos 90, com um intervalo de tempo que permitisse possíveis atualizações
cultura contemporânea. Outro parâmetro para a seleção do corpus foi que os MDs
tivessem uma circulação significativa, ou seja, suficiente para ilustrar a influência das
Mundo dos Negócios (de 2006). Além de serem da autoria de um mesmo grupo e de
exterior.
intervalo entre as publicações (quando não havia MDs editados em escala para esse
A seleção de tópicos culturais para análise nos LDs foi calcada na divisão de
culture. Esses dois campos foram redefinidos várias vezes na trajetória de sua
Como já foi exposto, de acordo com o modelo proposto pelo autor, a little c
Panorama Brasil.
Cultura) do LD. Na seção Gente e Cultura Brasileira, estão inseridos quatro textos:
Quem Somos Afinal ? (1) e (2) – unidades 17 e 18; Literatura Brasileira e Música
cada análise. Esse recurso nos pareceu necessário, já que , em geral, os textos são
- Textos I e II : Quem Somos Afinal ? (1) e (2) – o título recebe as numerações (1) e
isoladamente ;
categoria Big C culture, estão localizados na Unidade 3, cujo título é Arte e Cultura.
Essa unidade é composta por treze textos e, dentre eles, quatro aparecem na forma
de atividades elaboradas pelas autoras (textos II, IV, VII, e VIII). Esses quatro textos
atividades.
distribuídos em sete grupos para análise, seguindo critérios, estabelecidos com base
- Textos III, IV, V e VI : Iguaria Regional Vence Barreira Geográfica e Vira Destaque
multiplicação de mercadorias ;
- Textos VII e VIII (ambos sem títulos) : entrevista com a artesã que idealizou a Flor
trabalho de duas artistas, que a partir do contato travado com modelos de criação
- Texto XIII : texto (sem título) sobre a integração de uma imigrante alemã ao Brasil
por meio das artes plásticas – é analisado conjuntamente com as duas primeiras
perguntas da atividade que nele se baseia, pois, seus conteúdos somados aos
Por fim, os conteúdos dos conjuntos de textos dos dois LDs foram analisados,
contemporâneo.
105
5 ANÁLISE DE DADOS
festivais e carnaval.
dos textos está inserido em uma das quatro unidades, respectivamente (17,18,19 e
e 18, que recebem os títulos: Quem somos, afinal ? (1) e (2). A segunda e terceira
Os três temas restantes são abordados em cinco outros textos que integram
a unidade 20. Três textos enfocam diferentes aspectos do tema folclore brasileiro, o
artigo (sem título) sobre os eventos folclóricos nacionais. O quarto texto (sem título)
12
Vamos nos restringir à análise dos conteúdos culturais apresentados nos textos dos LDs selecionados, não
incluindo as atividades a eles relacionadas e o tipo de interação que elas buscariam promover entre os estudantes.
106
duas partes distintas do resumo de um mesmo texto original. Ele descreve um povo
brasileiro resulta nte de uma fusão de raças e culturas, que ainda se encontra em
manteve -se unido, por uma alma comum proveniente sobretudo de sua matriz étnica
indígena.
Essa matriz étnica, somou-se à negra e à branca que chegou em parte com
dos habitantes das cidades até o final do século, parece estar tornando os
brasileiros cada vez mais parecidos, embora ainda seja possível encontrar gente que
leva consigo a alma de caipiras, sertanejos e tantos outros personagens que fizeram
Grande do Sul, essa figura surgiu em busca do gado que, trazido pelos jesuítas,
desdém dos habitantes da cidade. Tem vários sinônimos pejorativos, como jeca,
da caatinga nordestina. Com vida simples, típica do sertão, cria umas poucas
entre brancos e negros. No período colonial, muitas vezes os mulatos foram frutos
nos troncos para extrair o látex e, em seguida, defumá-lo até que se transforme em
borracha.
deslocamento dos rebanhos das terras baixas, alagáveis pelas cheias do Rio
aos manguezais. Sua atividade é a pesca na foz dos rios e o cultivo de subsistência.
mistura de raças, mas nos últimos anos tem sido mais usado para o caso dos
sermões dos jesuítas e tendo entre seus principais autores o padre José de
Anchieta.
como o barroco com a poesia lírica e satírica e o romantismo (início do século XIX),
conceber e produzir a arte literária e também para outros setores da cultura, surge
Lima Barreto, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha, que deixou como legado dessa
com ele uma revitalização do regionalismo. Esse é o período em que são produzidas
algumas obras centrais que registram estudos do sociólogo Gilberto Freyre. É ele
tem como marco a realização da Semana de Arte Moderna, em 1922, na qual se fez
110
destacam-se autores como Lígia Fagundes Telles e Rubem Fonseca. Nas décadas
Fernando Veríssimo; Otto Lara Resende; Fernando Morais ; e Adélia Prado , dentre
outros.
fusão com o lundu, dança trazida por escravos angolanos, resulta no maxixe,
e, apenas ao final do século XIX, aparece o samba, influenciado pela marcha e pelo
111
batuque. No final dos anos 20, ganham força as modas de viola, com as primeiras
duplas sertanejas.
ídolos populares como Francisco Alves (o ‘Rei da Voz’), Emilinha Borba e Marlene.
Estava-se em plena “Era Vargas” e, com a música sob censura, foi criada a Aquarela
alguns exemplos são Sílvio Caldas e Orlando Silva. Ao final daquela década e no
Moraes.
que tem origem no período após a bossa nova e, na época, apresentava temática
grandes espaços públicos. Entre seus representantes, estão, dentre outros, Elis
112
Regina e Gilberto Gil; além de Chico Buarque com sua inesquecível canção A
Institucional, o AI-5, vários “astros” dos festivais partiram rumo ao exílio e outros se
consagraram como intérpretes e compositores ao longo dos anos 70. Entre eles
estão Gal Costa, Ney Matogrosso, Gonzaguinha, Elba Ramalho e muitos outros,
surgimento foi influenciado pelo rock internacional e trouxe o sucesso àquele que
Roberto Carlos. Nos anos 70, o rock brasileiro se desenvolve com Rita Lee e Raul
Seixas.
Já nos anos 80, ele aparece em composições que, por vezes, também
agregam reggae e funk. Essas canções que resultam da fusão de gêneros, estão
presentes na produção de Luiz Melodia, Marina Lima, das bandas Barão Vermelho,
Mercury.
113
Nesse mesmo período, teve ampla repercussão uma nova música sertaneja,
que incorpora o viés romântico do country norte-americano, ela ganha impulso nas
Nos anos 90, chega a vez do rap, do funk e do pagode. Na MPB, a mistura
de rock, reggae e funk ganha novas nuances com a geração de Chico Science,
revitalizando, o que permite a esse gênero musical, juntamente com o pagode, obter
todo maltratado e com a crina trançada.“É coisa de saci-pererê”, explica. São figuras
como a do caboclo, que terão nomes e trajes diferentes nos vários cantos do país,
Cascudo é uma delas. Ele ensina que qualquer objeto que projete interesse
pica-pau amarelo do escritor Monteiro Lobato, na qual grande parte das estórias
literatura oral, que vem a ser toda manifestação cultural, de fundo literário,
personagens muito populares no Brasil, alguns nascidos aqui e outros trazidos por
colonizadores e imigrantes.
Sul e conhecido em todo o país, ele é dado a fazer travessuras, como entrar nas
do Pastoreio : menino escravo, que depois de surrado por fazendeiro rico e jogado
Maria. A tradição manda acender uma vela para o negrinho quando se quer
encontrar algo. Também gaúcha é a figura folclórica do generoso : duende que entra
nas casas, mistura sal com açúcar, toca instrumentos e surpreende pessoas na
cama.
115
pesada, que não molesta ninguém fisicamente, mas é um perigo para mulheres
adúlteras. Ele ladra na porta de suas casas, sempre que sai de sua touceira de
bambu.
planta teria surgido no local onde uma linda moça, que decidiu viver com a Lua, teria
avistado a imagem de seu objeto de desejo refletida em um rio e nele se atirado sem
jamais retornar. E seria por isso que a vitória-régia sempre floresce conforme as
garotas ribeirinhas. Daí serem atribuídos a ele os filhos de pai incógnito. Papel
semelhante tem a sereia brasileira, a mãe d’água ou iara é um tipo irresistível, com
olhos verdes que brilham como esmeraldas. Para o fundo dos rios onde habita atrai
indígena local, o rio está ligado à criação do mundo. Ela se dá quando o casamento
do Sol com a Lua é desfeito por ordem de Tupã, fazendo com que as lágrimas
nascidas do pranto da Lua caiam sobre o mar e por serem doces não se misturem
às suas águas salgadas, originando, assim, o grande rio. Também são os índios os
narradores da lenda de Uribici, que pede a Tupã para ser transformada na ave
Uirapuru ao ser rejeitada pelo noivo, o cacique Ururau. Quando quer silêncio na
definidas, ela está associada ao ciclo da angústia infantil, pois a advertência de que
as crianças podem ser levadas pela cuca para um lugar misterioso é utilizada para
tentar convencer as mais agitadas a dormirem. Esse recurso foi registrado pela
registrava em seus escritos o terror que o mito causava aos índios. Ele é conhecido
como guardião das florestas e animais e, graças a sua fama, como tal foi instituído
por uma lei assinada em 11 de setembro de 1970 pelo então governador de São
assombra quem encontra. Seu galope é ouvido longe e seu encanto pode ser
seu caso, é transfigurar-se, tornando-se meio lobo e meio homem nas noites
sete filhas, segundo a tradição oral que vem da Grécia. Trazida pelos portugueses
para o Brasil, a lenda foi adaptada na região Nordeste, onde se diz que doentes de
5.1.2.6 Texto VII : (sem título) - artigo sobre eventos folclóricos nacionais
comidas, bebidas, música e dança partilhadas pela multidão, que paga promessas à
Nossa Senhora de Nazaré e luta por um lugar na imensa corda que acompanha a
e milhares de fiéis atravessa o rio Guaíba para levá -la de volta à sua igreja, onde
ficará até o ano seguinte. São ofertadas flores, fitas, grinaldas e vestidos de noiva,
melancias.
perícia dos cavaleiros. Entre eles está O Jogo das Argolinhas, surgido no Brasil no
século XVI, como parte da Cavalhada. Nele, uma argolinha enfeitada com fitas é
pendurada numa trave ou poste ornamentado para que os cavaleiros a retirem com
5.1.2.7 Texto VIII : (sem título) - texto sobre festivais de premiação dos gêneros
de arte
1992.
dias antes da Semana Santa, contados a partir do Domingo de Ramos. Sua duração
brincadeira na qual as pessoas atiravam umas nas outras bexigas com água e
compositor Ismael Silva é o primeiro a usar a expressão para se referir a seu grupo
Rio de Janeiro continua sendo o mais tradicional e o de maior projeção. Nele, cada
Castro Alves. Os trios são caminhões equipados com palco e aparelhagem de som –
com até 100.000 watts de potência – que fazem shows ao vivo se deslocando pela
121
blocos de frevo, que é um gênero musical de ritmo bastante acelerado e uma dança
como a Recifolia (do Recife) e o Carnatal (de Natal). Atualmente, mais de trinta
partir dos anos 1930, torna-se clara a construção de uma disposição nacional-
elites alinhadas com o Estado que promoviam a industrialização como substituto dos
estão as origens das extraordinárias burocracias que deram apoio a uma ‘cultura
A ‘cultura do povo’ se disseminou a partir desses âmbitos, não fora do mercado, mas dentro
das indústrias culturais controladas e, algumas vezes, subsidiadas pelo Estado ... A
(Raphael,1980; Vianna,1999, apud Yúdice, 2004, p.106). Isso produziu aquela cultura em
Vários regimes populistas reconheceram que a cultura vernácula das classes trabalhadoras
que havia sido aceito no plano doméstico e no exterior como identidades nacionais latino-
movimentos forneceram uma “opção para os pobres”, ou seja o popular, mas foram alvo do
(op.cit.,p.107).
coletiva.
nacionais – que, por sua vez, já estavam, em certa medida, em consonância com o
conceituação da cultura, que impõe uma revisão nas bases de seus interesses
teóricos.
eram os itens elencados para compor a categoria Big C culture, porém, essa
Hadley (apud Lima, 2000, p.30) pelo grau de operacionalidade que oferece para a
seleção dos tópicos culturais, que são o objeto de nossa pesquisa, em ambos os
LDs de PLE.
Essa constatação deixa bastante claro que a divisão entre Big C culture e
little c culture é meramente instrumental, como já foi dito, e cientes disso abordamos
brasileiro, como também da cultura brasileira. As definições, por sua vez, são
histórico.
Assim, a partir dos anos 30, como ressaltou Yúdice, passaram a compor
Roberto da Matta. Esses culturalistas tiveram e ainda têm grande parte de suas
recebe as numerações (1) e (2) por fazer referência a duas partes do mesmo texto.
Em primeiro lugar, ao longo da leitura, torna-se bastante claro que não existe
um, ou mesmo em muitos textos. É o que diz o próprio autor, Vinícius Romanini, ao
afirmar que : Algumas das cabeças mais brilhantes do Brasil, de Gilberto Freire (sic)
cultural apresentada pelo mesmo está, em linhas gerais, em sintonia com o tipo de
Uma fusão de raças e culturas que já dura meio milênio deu aos brasileiros traços e
personalidade próprios. Mas basta olhar mais de perto para perceber que, apesar de tudo,
matrizes étnicas, há meio milênio, quando se inicia o período colonial, que está
dentre os mais explorados pelos teóricos referidos, onde se fincaram raízes que
povo.
brasileiro.
13
Para a descrição e fundamentação de Portugal como nação de natureza não xenofóbica, ver Freyre (2002,
p.266 à 270).
128
raça, contribui para a unidade que desejavam construir a rigidez com que impunham
cristã. Esse objetivo tentou ser cumprido pelos padres jesuítas, por meio de um
acabou por se tornar o amálgama que fixou a língua portuguesa em todo o território.
imigrantes que acolhemos e até o grande número de orientais adventícios ... todos
tão maciça numericamente e tão definida do ponto de vista étnico, que pôde
(Ribeiro,1995, pp.73,242).
que compõem o estrato básico de cultura indígena não só heranças como os nomes
129
também algo mais profundo, que moldou nosso inteiro jeito de ser.
reconhecendo que o Brasil não se esgota na herança indígena, como também não
E uma vez mais Freyre atribui à grande propensão dos portugueses para a
miscibilidade como um fator crucial para que as influências da matriz negra fossem
inicialmente por escassez de mulher branca, porque já no século XVII, ela se apoiará
em decidida preferência sexual, quando entre as filhas das caboclas iam buscar
esposas legítimas muitos portugueses, mesmo dos mais ricos ... (Freyre, 2002,
p.163).
Paralelamente, no século XVI, teve início uma fusão, que para Freyre,
escravo.
multiplicador. Ele acaba por travar com a matriz importada, relações de sexo e de
as norteava.
O cultivo do café, que se praticava um pouco por todo o Brasil, como raridade e para
consumo local, ganha significação econômica com as primeiras grandes lavouras plantadas na
zona montanhosa próxima ao porto do Rio de Janeiro. O sucesso das exportações - que
crescem de 3.178 sacas, na década de 1820, a 51.631 sacas, na década de 1880 – promove
rapidamente o novo cultivo à liderança em que se manterá, daí em diante, como a atividade
econômica fundamental do Brasil ... Para implantar o empreendimento cafeeiro contava-se com
ponderável, atingiu a 803 mil trabalhadores, sendo 577 mil provenientes da Itália.
p.399).
núcleos caipiras... [e] massas pobres... nas cidades (op.cit.,p.403) a tardia abolição
trabalhadores rurais.
frutas européias.
Embora pareça ser um dos objetivos do autor, não nos pareceu possível
análise : a descrição dos dez personagens apresentados como típicos entre o povo
torna-se difícil identificar a linha que une os elementos : gaúcho, caboclo, caipira,
seja, o morador das margens dos rios, principalmente os da região Norte, da bacia
amazônica.
tange à seleção e organização dos conteúdos culturais por ele apresentado. Além
disso, ele poderia ter sido calcado em fontes mais sólidas, apoiando-se, assim, em
Uma vez mais fizemos a opção por analisar os dois textos em um bloco
único, dadas as semelhanças dos mesmos no que concerne aos tipos e à forma de
assuntos e fontes :
134
textos em termos da utilização didática que deles poderia ser feita junto a aprendizes
um curso inteiro sobre cada um dos dois gêneros. Além disso, esse modelo de texto
ou seja, o período de elaboração do LD, que, nesse caso, é a segunda metade dos
que a abordagem didática dos tópicos culturais leve em conta o potencial dos
agrupamento dos conteúdos dos dois textos, abordaremos, com referência ao texto
Literatura Brasileira. No texto IV, o ponto central a ser enfocado é a influência das
modelo europeu.
aos estilos literários importados. Com base nesses dados e nos estudos de Ribeiro
136
- um minúsculo estrato social de letrados que, através do domínio do saber erudito e técnico
europeu de então, orienta as atividades mais complexas e opera como centro difusor de
- artistas que exercem suas atividades obedientes aos gêneros e estilos europeus,
A cidade se viu avassalada pela massa desproporcional de gringos, eram mais numerosos
que os paulistas antigos. A própria Semana de Arte Moderna, que foi uma reação a esse
avassalamento, foi também por seu estilo a forma mais expressiva desse eurocentrismo
(op.cit,p.407)
No texto IV, está refletida uma forte influência das heranças de nossa matriz
nacional. E dentre esses gêneros, um dos que está mais associado à identidade
final do século XIX, no Rio, influenciado pelo lundu (dança de origem angolana
trazida pelos escravos), pela marcha e pelo batuque. Também se faz notar na forma
de samba-canção fundido à música pop, nas composições da MPB dos anos 70. E
misturado ao reggae.
samba, atravessam o histórico traçado pelo texto , que se encerra no final do século
XX, em que se destacam como grandes sucessos de vendas, a própria axé music e
o pagode. E foi justamente nas rodas de samba que nasceu o pagode, como uma
Freyre são dedicados à investigação detalhada das influências africanas nas raízes
culinária e a música.
segundo ele, no tipo de escravidão que aqui se instaurou, dado o período em que
plano, o que o negro pôde reter dentro de si, crenças religiosas, práticas mágicas,
Tanto nas plantações como dentro de casa, nos tanques de bater roupa, nas cozinhas, lavando
roupa, enxugando prato, fazendo doce, pilando café; nas cidades, carregando sacos de açúcar,
pianos, sofás de jacarandá de ioiôs brancos – os negros trabalharam sempre cantando: seus
eventos folclóricos
três textos, que foram agrupados nesta seção por reunirem informações acerca do
Fonte : Revista Kalunga Ano XXVI - 08/98 - n°92 e Adaptação de Brasil – Histórias,
Costumes e Lendas.
animais estranhos. A partir desse ponto, passam a ser descritos mitos e lendas
O outro aspecto destacado, o das festas, será abordado apenas no texto VII,
o que nos leva a crer que os textos foram recortados e/ou adaptados a partir de um
bloco único de informações extraído da mesma fonte. No caso do texto VII, como
referência à obra do escritor Monteiro Lobato, O Sítio do Pica-pau Amarelo, mas dos
folclóricos mais conhecidos no Brasil, ao lado, justamente, do saci pererê. Esse fato
140
também corrobora a idéia dos textos serem partes de um todo, cujo conjunto de
trazidos por colo nizadores e imigrantes. Segundo Freyre (2002, p.383), dentre os
que foram trazidos pelos portugueses estão a côca (cuca), o papão e o lobisomem .
proveniente da Grécia, e cuja lenda é famosa em todo o mundo (texto VI, quarto
criatura está sempre pronta a surgir, geralmente à noite, e roubar as crianças, por
Novos medos trazidos da África, ou assimilados dos índios pelos colonos brancos e pelos
negros, juntaram-se aos portugueses ... E o menino brasileiro dos tempos coloniais viu-se rodeado de
maiores e mais terríveis mal-assombrados que todos os outros meninos do mundo ... No mato, o saci-
pererê, o caipora, o homem de pés às avessas, o boitatá. Por toda parte, a cabra-cabriola, a mula-
sem-cabeça ... Nos riachos e lagoas, a mãe-d’água. À beira dos rios, o sapo-cururu. De noite, as
almas penadas. Nunca faltavam : vinham lambuzar de ‘mingau das almas’ o rosto dos meninos. Por
141
isso menino nenhum devia deixar de lavar o rosto ou de tomar banho logo de manhã cedo ... (op.cit.,
p.383)
No que se refere às influências dos índios, Freyre (2002) ressalta que ficaria
Do que não estava livre entre os selvagens a vida de menino nem de gente grande era de
horrorosos medos ... não era só mal-assombrado. Nem era apenas o diabo na figura de bichos que
vivia a aperrear a vida do selvagem. Eram monstros que hoje não se sabe bem o que seriam : os
Assim a velha canção ‘escuta, escuta, menino’ aqui amoleceu-se em ‘durma, durma, meu
filhinho’ ... E em vez do papão ou da côca, começaram a rondar o telhado ou o copiar das casas-
grandes, atrás dos meninos malcriados que gritavam de noite nas redes ... – cabras-cabriolas, o
manifestação cultural popular, que foi feita pelo padre Miguel do Sacramento Lopes
Gama, no Recife, em 1840. E, de acordo com Freyre (2002, p.512), era bastante
consolidando por meio de inúmeras crenças, como a das devotas que fazem
em pagamento, lançam seus vestidos de noiva nas águas do rio. Da mesma forma,
santos, exemplificado no texto (primeiro parágrafo) pelas flores, fitas e grinaldas que
chegam à Procissão.
portuguesas, que ganham força ainda no período colonial. Freyre (2002) descreve,
O das devotas que fazem promessas a Nossa Senhora do Parto, do Bom Sucesso, do Ó,
da Conceição, das Dores, no sentido de um parto menos doloroso ou de um filho são ou bonito.
Atendido o pedido por Nossa Senhora, pagava-se a promessa, consistindo muitas vezes em tomar a
143
criança o nome de Maria; donde as muitas Marias no Brasil : Maria das Dores, dos Anjos, da
Deve-se ainda registrar o costume dos ex-votos de mulheres grávidas : ofertas de meninos
Algumas capelas de engenho guardam numerosas coleções de ex-votos de mulheres (op.cit., p.380).
5.1.3.4 Texto VIII : (sem título) - texto sobre festivais de premiação dos gêneros
de arte
gêneros de arte.
Com base nessa breve descrição, é possível aferir a função dos textos
informações sobre o tema de cada unidade que possam ser apresentadas de modo
produções artísticas, que são considerados pelas autoras como os mais importantes
do país.
144
Big C culture, já que ele descreve eventos associados à cultura, ou melhor dizendo,
música, teatro e cinema. E foi sob esse critério que selecionamos o texto VIII.
desse tópico cultural, feita pelas autoras de Bem Vindo!, vincula-se à uma linha
teórica diferente daquela que pode ser identificada pela análise dos outros tópicos
Brasil.
não dá margens para uma análise minuciosa, mas também porque a natureza do
Além disso, embora a maior parte dos sete festivais citados no texto se
brincadeira na qual as pessoas atiravam umas nas outras bexigas com água e
farinha. E está nessa manifestação cultural, de caráter lúdico e pueril – que foi sendo
Ainda no carnaval de 1933, na Praça Onze, no Rio de Janeiro, tivemos ocasião de admirar
vê-los quando se exibem, felizes, contentes, dançando atrás dos seus estandartes, alguns
Freyre faz menção aos ranchos, mas não às escolas de samba, que ainda
surge em 1928, no Rio de Janeiro, utilizada pelo compositor Ismael Silva para se
referir a seu rancho, o Deixa Falar. E o primeiro desfile oficial é realizado apenas em
1935, portanto, dois carnavais após o de 1933, que é referido na citação anterior.
carnavalesca :
O negro à sombra da Igreja inundou das reminiscências alegres de seus cultos totêmicos e
fálicos as festas populares do Brasil; na véspera de Reis e depois, pelo carnaval, coroando
os seus reis e as suas rainhas; fazendo sair debaixo de umbelas e de estandartes místicos,
entre luzes quase de procissão seus ranchos protegidos por animais – águias, pavões,
elefantes, peixes, cachorros, carneiros, avestruzes, canários – cada rancho com o seu bicho
festa dos grupos populares, que são os principais responsáveis pelo seu
amor à vida. Tudo isso que se traduz por generosidade e que é típico daquelas
em clara sintonia. Para Santos (2001), há uma força nas culturas populares que
deriva da integração entre o território dos pobres e o seu conteúdo humano. Daí a
que segundo a nossa mitologia nasceu nas áreas fronteiriças da sociedade brasileira – nos
seus porões e senzalas, nas favelas, em meio à pobreza dos seus negros e miseráveis
habitantes ... Pois, ao contrário das classes médias, com suas propostas típicas das idéias
igualitárias , para quem é preciso dizer as coisas ... no samba, as coisas são dançadas, de
um modo corporal e visceral mais ligado ao mundo dos trabalhadores e dos marginais do
Reforçando uma antiga idéia popular de que nos dias de Carnaval, a voz do
povo vem dizer que um dia súdito vira rei, Da Matta (1997) aponta a mesma
Para o autor, o nome escola foi fixado pelo tempo para grupos sabidamente ignorantes,
sistematicamente perseguidos pela polícia e residentes nas favelas dos morros do Rio de
Janeiro. Eles que, no mundo diário, vivem aprendendo nossas regras e ocupam nossas
cozinhas e oficinas, surgem agora como professores, ensinando o prazer de viver atualizado no
14
canto, na dança, no samba (op.cit., p.127)
bateria, etc.).
permitiu associá-los às suas bases teóricas, as quais, como já foi explicitado, são
consolidou a partir dos anos 30, pôde ser identificado na abordagem dos tópicos
14
Além do significado compensatório do termo escola vale conferir a identificação de um sentido persuasivo nos
verbos cantar e brincar (pp.144,145), também associados ao rito carnavalesco.Assim como o verbo cantar é
usado no sentido de propor um relacionamento amoroso a uma mulher ... Pela mesma lógica, na dialética de
classes da festa popular, pessoas de posição social elevada ou que tenham algo que o outro pretende são
cantadas para que possam ceder. No caso de brincar, há também a significação de relacionar-se, procurando
romper as fronteiras entre posições sociais, criar um clima não verdadeiro, superimposto à realidade.
149
comunitário
Restaurantes do Rio e SP
marca Cachaça 51
- Texto VII : (sem título) – entrevista com a artesã que idealizou a Flor de
Concha
- Texto VIII : (sem título) – texto sobre a criação de um pequeno negócio para
- Texto XIII : (sem título) – texto sobre a integração de uma imigrante alemã
do interior do Amazonas.
O projeto é gerenciado pela empresa Native e teve seu início com mais de
150 peças, sob a criação e coordenação do arquiteto e designer Luiz Galvão. Hoje,
comunitário
José Luiz Zagati aos 10 anos de idade pôde pagar suas primeiras entradas de
caixas d’água. A paixão pelo cinema nutrida pelo menino o acompanhou ao longo
São Paulo, para onde sua família havia se mudado em busca de trabalho.
Após ficar desempregado, aos 40 anos, com nove filhos, José Luiz passou a
nas redondezas e fez sua primeira sessão de cinema, em preto e branco, no ano
de 1998. Por fim, como as sessões eram ao ar livre e, quando chovia, o filme não
152
era exibido, assim que pôde, ele se mudou para seu próprio terreno e construiu
5.2.2.3 Texto III : Iguaria Regional Vence Barreira Geográfica e Vira Destaque em
Restaurantes do Rio e SP
regional : a mandioca.
Pernambuco, dezembro/2004.
Creme de Camarão.
é uma tendência que veio para ficar. É o reconhecimento de um produto que faz
preço médio de R$ 1,00 em cada esquina das capitais do Nordeste, e seu recheio
Brasil, respondendo por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e por cerca
que tem a maior participação de mulheres. Ela gera um emprego direto para cada 2
Brocoió.
proporciona a seus clientes : sentir o cheiro e o sabor da terra, e voltar à raiz através
paçoca, feijão verde, buchada, carne -de-sol, sarapatel e panelada. Todas essas
marca Cachaça 51
Paulo, janeiro/2005.
caipirinha. É uma versão cremosa da bebida, preparada com gelo picado, cachaça
e limão por cerca de 800 máquinas que a Cia.Müller pretende, depois, espalhar por
lugares da moda.
produto abra novas portas para a cachaça no mercado interno, conforme ocorreu
5.2.2.7 Texto VII : (sem título) – entrevista com a artesã responsável pela Flor de
Concha
realizado pela Flor de Concha – pequena empresa que emprega sete funcionários
– a artesã Cristina Maria Ribeiro Lauteman se declara feliz com o sucesso obtido
1987. Ao chegar lá, sua atenção foi atraída pela grande variedade de conchas da
5.2.2.8 Texto VIII : (sem título) – texto sobre a criação de um pequeno negócio
começou na infância em Caicó, no Rio Grande do Norte. Na escola, ela era a melhor
desenhista da turma, o que a auxiliou muito, quando, anos mais tarde, decidiu
Maria extrai suas idéias a partir de desenhos obtidos em revistas, algumas até
importadas. Ela não os copia, mas os toma como base para realizar suas próprias
criações. Atualmente, a artista tem doze bordadeiras, todas treinadas por ela, e o
trabalho da equipe, que dispensa o uso de máquina industrial, foi sendo divulgado
de Portugal, tem o sotaque mais parecido com o brasileiro. Além da língua, os dois
países têm em comum uma grande riqueza musical. Os angolanos são donos de um
ritmo e uma ginga admiráveis, mas também sabem apreciar o talento de nossos
artistas.
Eles amam a música brasileira, que é a mais escutada nas rádios de lá. E
quase toda semana pelo menos um cantor voa do Brasil para se apresentar em uma
Roberto Carlos e uma centena deles já cantaram em Angola. Mas Martinho da Vila é
moda.
novembro/2005.
também da avó materna, que fazia o acessório para ajudar no orçamento da casa,
conhecida entre os fashionistas e suas peças foram exportadas para Londres, Milão,
escultura, técnica que ela utilizou por muito tempo antes de ingressar na carreira
artístico, o consumidor associa uma jóia a seu valor monetário. Mas, em suas peças,
sucesso.
159
no Brasil faltam incentivos, patrocínios e uma política adequada para uma maior
executiva.
países, é fazer parte do elenco de uma boa companhia, onde terá melhores
Mas , apesar de não termos em nosso país uma escola específica nem uma
tradição no balé, somos artistas muito bem recebidos lá fora. O nosso diferencial é a
natural.
160
5.2.2.13 Texto XIII : (sem título) – texto sobre a integração da imigrante alemã
plásticas, como fator de integração cultural de Gunhild Kruck, uma imigrante alemã
no Brasil.
do Peru com o marido, que na época trabalhava para uma empresa alemã, e a filha
mais velha, então com um ano e oito meses. Guna é artista plástica, e especializou-
área.
À espera de sua mudança que seria transferida do Peru para o Brasil, ela
instalada, pôde voltar às suas atividades de pintura. Enquanto na Alemanha sua arte
areias.
naturais em suas criações. Trabalha em casa, com vista alta de parte da cidade e
com o privilégio de ter muito verde ao seu redor. Se precisasse sair do Brasil,
sentiria falta do verde, além das praias e terras, que são sua principal fonte de
inspiração.
161
Europa.
inglês.
estavam basicamente interessados em deslocar de seu lugar central na cultura nacional uma
tradição de ‘o melhor do que foi pensado e dito’ ... e dirigi-lo a uma valorização e estudo das
práticas da classe operária britânica. Esse deslocamento cultural foi descrito como uma luta
complexa pela hegemonia ... uma reconfiguração do sentido num todo articulado
tão significativa na constituição política ... quanto as lutas pelos direitos civis nos Estados
suas demandas para o cenário público e obtiveram importantes vitórias que deixaram suas
marcas na Constituição Brasileira de 1988’ (Paoli; Telles, 1998:64, apud Yúdice, 2004, p.111).
1993, do primeiro presidente eleito por voto direto, Fernando Collor de Mello. A partir
base.
163
as mobilizações dos anos 1980 e 1990 demonstram que as as agendas relativas à justiça
social podem ser promovidas mesmo através das redes que caracterizam o personalismo,
porque a prática mesma de estabelecer redes foi rearticulada com o auxílio das ONGs
crescimento das organizações sem fins lucrativos a partir dos anos 90.
Soviética.
ideológico. Por defender causas próximas dos interesses do cidadão comum e por
XIX e início do XX. Ele afirma que : “Este é um momento especial da História.
o que o pesquisador pôde constatar por meio de um estudo que englobou 40 países,
de US$ 1,9 trilhão por ano, o que é mais que o PIB do Brasil de US$ 1,3 trilhão. Se
(IBGE) havia divulgado que entre 2002 e 2005, o número de ONGs criadas no país
aumentou 22,6%, passando de 287 mil para 338,2 mil, e hoje estima-se que já
funcionários com carteira assinada – mais que o triplo dos funcionários públicos
federais.
desvio de dinheiro público que surgiram ao redor das ONGs devem ser combatidos e
investigados. A legislação que as regula também deve ser aperfeiçoada para evitar
governo. De acordo com a pesquisa da Johns Hopkins, apenas 14% dos recursos
setor fosse pouco preocupado com os interesses dos mais pobres. O fato de o Brasil
ter tanta riqueza nas mãos de um número pequeno de pessoas faz com que muita
gente ligada ao setor social sinta certa frustração com relação à comunidade de
negócios.
Por isso, não deixa de ser uma ironia que o espírito empreendedor,
empreendedores usam para criar riqueza no mundo dos negócios”, é o que afirma
Blair é cultuado no setor por ter defendido uma terceira via entre o capitalismo
estava no poder. A Terceira Via é o título de uma das obras do sociólogo inglês
Nos dias atuais, nos Estados Unidos, um trabalhador que atue no Terceiro
Setor – que há muito tempo vem se consolidando como a terceira via blairista –
166
recebe em média US$ 627 por semana em comparação a US$ 669 na iniciativa
salários mínimos por mês (ou R$ 1,577), que correspondem a 3,2% a mais que a
média nacional.
Rockefeller, por exemplo, sediada nos Estados Unidos, oferece apoio a ações
parar de usar em dez ou 15 anos”. Ele declarou, à Época, que “as fronteiras entre o
ONGs que são criadas diariamente no Brasil, as que estão relacionadas à Cultura e
Recreação ocupam o quarto lugar na lista das nove áreas sociais em que as
É esse quadro que Yúdice (2004, p.122) busca retratar, quando afirma que
os atores mais inovadores em determinar estratégias para ações políticas e sociais passam a
exploração capitalista (por exemplo, na mídia, consumismo e turismo), e como uma fonte de
Essa conexão internacional em volta de certos movimentos sociais, bem como a crescente
igualdade dos sexos e sua relação com o colapso da política formal, criou um novo imaginário
que poderia não ser fielmente captado pela estrutura antiimperialista [vigente nos quadros
anteriores]. Isto não quer dizer, é claro, que desigualdades enormes pararam de existir entre
o Norte e o Sul.
com políticos de esquerda tradicionais. Agora, acreditam que podem mudar, eles
civil organizada”.
a cultura não poderia mais ser vista predominantemente como a reprodução do ‘estilo de vida’
da nação enquanto uma discreta entidade, separada das tendências globais ... Nas últimas décadas,
Foi a partir dessa constatação, que nos interessou investigar em que medida
documentação e legitimação dos currículos, optamos por fazer essa identificação por
estrutura nacional, do modo como o define Yúdice com base no histórico que
descrevemos previamente. (Os aspectos que nos levaram a essa conclusão serão
observado por meio da análise dos tópicos culturais por nós selecionados em
2004, p.25), já a segunda parte irá abordar uma cultura cujo papel expandiu-se
(op.cit.,p.63), que convidamos os leitores a identificarem nos temas dos treze textos
associação com a Native (no texto I), como as de José Luiz Zagati (no texto II),
povos da Amazônia).
providos pela própria natureza – os resíduos florestais, para gerar renda para as
sustentável para a região, ou seja, que não traga danos para as áreas ambientais
iniciais, realizado pelo arquiteto e designer Luiz Galvão, ilustrou o mecanismo que é
valor aos produtos. Mas, aliada à inventividade dos designers, está o talento dos
produção.
José Luiz é motivado por uma paixão pessoal, mas seu projeto envolve
cinematográfica, que para muitos, assim como para ele próprio, era impedido pelas
social daquela região de periferia, ele parte em busca de recursos por meio de seus
esforços individuais.
16mm, onde obtém, por meio de uma doação, o primeiro filme que projetou. De
Os quatro textos que foram agrupados nesse item têm em comum valerem-se
econômica.
material mais também pelo apelo cultural que adiciona aos pratos elaborados pelos
restaurantes. Assim fazendo, ela propicia ao produto final uma ampliação em termos
emprego direto. Além disso, sendo a gestão de seu cultivo típica do modelo familiar,
família.
173
restaurante busca estimular nos clientes uma “identificação cultural” com sua
dos produtos comercializados pelo Brocoió ; e sob um viés mais amplo, valorizam a
caracteristicamente brasileiro.
também no exterior.
174
estratégias de marketing.
5.2.3.3 Texto VII : (sem título) - entrevista com a artesã que idealizou a Flor de
tecidos é uma tradição cultural transmitida pelas Escolas de Bordados de Caicó, Rio
expressão da cultura de cada uma das regiões, foi mobilizado pela iniciativa das
cultural.
Se, por um lado, sentimo-nos, por vezes, invadidos pela entrada e circulação
incluídas nesse grupo as produções musicais; por outro, o fato de a música brasileira
ser a mais escutada nas rádios de Angola, é uma amostra da reprodução desse
musicais (como os shows dos músicos brasileiros em Luanda e outras capitais), uma
autorais que sofrem hoje, devido à regulamentação ainda muito incipiente dos novos
Sucesso
técnicas mais acadêmicas no processo de criação. Com isso, o produto final recebe
que já tinha um histórico de participação nesse tipo de atividade. Nos cursos formais
sucesso obtido por suas peças, exportadas para vários países, como Londres, Milão
e Tóquio.
técnicas clássicas visavam a elaboração de jóias que seriam apreciadas por seu
público consumidor.
bailarino, tanto no Brasil como em outros países, é fazer parte do elenco de uma boa
Yúdice (2004, p.31). O autor explica que o velho modelo de apoio público às artes
por parte do Estado está morto. Os novos modelos consistem de parcerias com o
nacionais e internacionais.
ocorreu em outros países, aqui não se constituiu uma escola específica, nem uma
escola, com tradição, que caracterize o balé brasileiro, nós somos artistas muito bem
brasileiros.
investimento no capital físico durante os anos 1960, no capital humano dos anos 1980, e no
capital social dos anos 1990. Cada nova noção de capital foi projetada como um meio de
5.2.3.7 Texto XIII : (sem título) – texto sobre a integração de uma imigrante alemã
Atividade : Discuta com algum outro aluno do seu grupo ou com o professor :
17. Guna chegou ao Brasil em 1973 e, obviamente, já tinha em seu imaginário uma
idéia do que encontraria por aqui. Na sua opinião, qual era a imagem mais divulgada
18. Trinta e dois anos depois muita coisa mudou no mundo das comunicações.
Imagens e informações são divulgadas a passos céleres. Como você acha que
alguém pode se preparar para a vinda ao Brasil? Que tipos de informação o Brasil
divulga de si mesmo?
país, por meio das artes plásticas, que atuam nesse processo como uma espécie de
tentarem inferir o Brasil que poderia existir no imaginário de Guna antes dela imigrar
consciente de nós mesmos ... permite traduzir melhor a diferença entre nós e os outros e , assim,
Sob essa perspectiva, uma concepção adequada de cultura deve reconhecer que não há
homens sem cultura e permitir comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais,
182
inferiores (DaMatta,1986,p.127).
acadêmica. Mas, devemos levar em conta o dinamismo que esse movimento requer
afirma que : algumas das cabeças mais brilhantes do Brasil, de Gilberto Freire (sic) a
buscar delimitar, por meio de definições, uma identidade cultural para o brasileiro, no
responsável pelo prefácio da 46° edição do livro, foi saudado à época, entre outras
Araújo afirma que através dessa obra, Freyre redefiniu a própria identidade da
Darcy Ribeiro, em uma introdução com a qual agraciou a mesma 46° edição
suas obras é por nós tomada como uma grande contribuição, cada qual situada em
fornecer.
teórica atuais, esse brasileiro de identidade tão unificada, fixa e delineável, embora
modo, Ribeiro (1995) identifica, no período colonial, traços que, por vezes, o autor
se encontram, sob sua ótica, operantes, ainda no final do século XX. Segundo o
antropólogo,
Dois estilos de colonização se inauguram no norte e no sul do Novo Mundo. Lá, o gótico altivo
de frias gentes nórdicas, trasladado em famílias inteiras para compor a paisagem de que
vinham sendo excluídos pela nova agricultura, como excedentes de mão-de-obra. Para eles, o
índio era um detalhe, sujando a paisagem que, para se europeizar, devia ser livrada deles. Que
fossem viver onde quisessem, livres de ser diferentes, mas longe, se possível para outro além-
Cá, o barroco das gentes ibéricas, mestiçadas, que se mesclavam com os índios, não lhes
reconhecendo direitos que não fosse o de se multiplicarem em mais braços, postos a seu
A evolução de uma e outra dessas formações dá lugar, nas mesmas linhas, de um lado, ao
amadurecimento de uma sociedade democrática, fundada nos direitos de seus cidadãos, que
acaba por englobar também os negros. Do lado oposto, uma feitoria latifundiária, hostil a seu
Para o autor, não restam dúvidas de que essa etapa da história marcou
nosso modo de pensar, agir e viver em todos os tempos até os dias atuais. Tal é a
força dessa ideologia que ainda hoje ela impera, sobranceira (Ribeiro,1995,p.72).
Holanda (apud Ribeiro, 1995, p.451) segue a mesma linha de pensamento quando
nossa identidade cultural e na política nacional de forma definitiva : ele faz menção
Sócrates, pulicado por Veja, em maio de 2003, desperta a atenção de seus leitores
... não vale mais invocar o imperialismo, a colonização e fatores que tais como
estudos que a abordam sob o prisma das transformações sociais ocorridas nas
assim como foi feito em relação às teorias anteriores, adotar uma avaliação
feita por Yúdice e da identificação nos textos de Panorama Brasil dos mecanismos
Nesse aspecto, Yúdice (2004, p.454) vem em nosso auxílio e esclarece que
não é seu propósito ao descrever essa estratégia, desqualificá-la como sendo uma
perversão da cultura, ou como uma redução cínica dos modelos simbólicos ou dos
O autor enfatiza que a economia cultural ... não é a única a valer-se da cultura como
expediente, como recurso para outros fins. Podemos encontrar essa estratégia em muitos e
diferentes setores da vida contemporânea: o uso da alta cultura (por exemplo, os museus, as
Latina; para a redefinição da propriedade como forma de cultura a fim de estimular o acúmulo
(op.cit.,p.454).
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mesmo nos casos em que o escritor procura objetividade ou transcendência. Mas essa
posição não precisa ser normativa, baseada no que é certo ou errado (p.63,64).
Para fundamentar seu ponto de vista, Yúdice nos remete à noção foucaultiana
também forjar sua liberdade trabalhando os modelos que encontra em sua cultura e
que lhe são propostos, sugeridos, impostos por sua cultura, sua sociedade e seu
de articulação entre trabalho intelectual e compromisso social que eram tidas como
extintas (op.cit.,p.198).
6 CONCLUSÃO
A análise dos conteúdos culturais presentes nos conjuntos de textos por nós
brasileiro, que, muitas das vezes, assumem uma forma de auto-exaltação que é bem
categoria dos textos referidos acima, a Big C Culture , incluindo: artefatos derivados
culturais propriamente ditos e sua substituição pelo enfoque nos diferentes caminhos
Mas, nesse caso eram fomentados pelo Estado, como Estado-nação, o qual pôde
promover o valor dos conteúdos culturais pelo potencial que eles apresentavam em
nacional.
Mas, não é esse tipo de valor que está em jogo na dinâmica atual de
fronteiras entre o setor pri vado e o social. E sob esse viés, fará cada vez menos
Por outro lado, parece menos razoável ainda que ignoremos a necessidade
educacionais, que sirvam de ponto de partida para reflexões e debates sobre esse
período de transição que vivemos. Este momento tem promovido mudanças tão
significativas nos mercados mundiais que acabam por alterar estilos de vida, valores
nos diferentes discursos que se contrapõem nas tentativas de representá -la, esteja
politicamente, discursivamente.
cultura, com vistas a aprimorar a integração entre as nações, é preciso que haja uma
que, conforme dizem os autores (op.cit, p.198), tanto a evolução do mundo como a
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