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NATAL/RN
2016
TIBÉRIO LIMA OLIVEIRA
NATAL – RN
2016
DEDICATÓRIA:
À minha mãe Iansã, pela proteção. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Seu
abrigo me fortalece diariamente dos vendavais cotidianos da vida, Eparrei Oiá.
Aos meus pais e ao meu irmão, e familiares sempre. Pelo carinho, incentivo
por estarem sempre comigo nas horas difíceis, mas sempre apostando
positivamente nos caminhos que busquei seguir, agradeço sobretudo a minha mãe
Maria de Fátima por tudo.
Às professoras Dra. Telma Gurgel e Dra. Mirla Cisne que aceitaram minha
pela participação na condição de aluno especial no Programa de Pós-Graduação em
Serviço Social e Direitos Sociais – PPGSSDS, na disciplina “Estudos Feministas e
Relações Patriarcais de Gênero”.
O presente estudo teve por objetivo analisar o cotidiano de trabalho das travestis e a
sua inserção no mercado de trabalho em Natal, Rio Grande do Norte. É sabido que
as violações dos direitos das travestis são históricas e cotidianas, sendo estas,
desde cedo, hostilizadas muitas vezes pela própria família e expulsas de casa, da
escola e do trabalho, além de sofrerem discriminação e preconceito por grande parte
da sociedade. Nesse sentindo, mediante as transformações do mundo do trabalho
que se complexificam a partir da crise estrutural do capital iniciada nos anos 1970,
tem-se diversos limites e desafios organizativos para a classe trabalhadora, inclusive
o combate à opressão e exploração daqueles que sofrem os rebatimentos das
expressões da questão social de modo mais intenso, a saber: crianças e
adolescentes, mulheres, negros, imigrantes, populações em situação de rua e a
população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros
LGBT. Dessa forma, como objetivos específicos, a pesquisa teve por norte mapear
e analisar os campos de trabalho formal/informal onde as travestis estão inseridas
na cidade do Natal; construir um perfil socioeconômico das trabalhadoras travestis
na referida localidade; identificar e analisar as principais violações de direitos
vivenciadas pelas travestis no trabalho; e analisar a agenda política do movimento
Trans* sobre a inserção no mercado de trabalho no Brasil e em relação ao
enfrentamento da violação de direitos no trabalho. O método utilizado foi a análise
do materialismo histórico dialético, com base na técnica de abordagem
quanti/qualitativa, bem como a análise bibliográfica e documental. Fez-se entrevistas
semiestruturadas com oito travestis trabalhadoras (amostra não probabilística
intencional pela dificuldade do acesso) inseridas no trabalho formal/informal, além de
uma entrevista com a presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais
(ANTRA), contabilizando nove sujeitas entrevistadas. Como resultados dos relatos
obtidos, tem-se que as travestis vivenciam cotidianamente diversas precarizações
para se inserirem no mercado de trabalho, sofrem violações de direitos, assédios
moral e sexual, além da transfobia institucionalizada. Além disso, analisou-se às
políticas públicas de renda e trabalho para travestis no Brasil. E ainda, observou-se
o orçamento público destinado para a efetivação dessas políticas, seus limites e
suas contrações. Destarte o Estado, de fato, é o campo mediador dos direitos da
população Trans* no Brasil, sendo ainda, ínfimas as políticas públicas destinadas
para esse segmento. É nessa arena de conflitos sociais que a referida população
resiste na defesa por direitos. Concluiu-se que diante de tantos desafios que as
travestis sofrem no mundo do trabalho, somente por via da organização coletiva que
articule a luta anti-patriarcal, anti-capitalista, anti-racista e anti-cissexistas que essas
trabalhadoras podem transformar essa realidade de múltiplas desigualdades sociais.
Palavras-chave: Relações Patriarcais de Gênero; Identidade de Gênero; Travestis;
Mundo do Trabalho.
ABSTRACT:
This study aimed to analyze the daily work of transvestites and their integration in the
labor market in Natal, Rio Grande do Norte. It is known that the transvestites rights
violations are historical and everyday, these being early, often harassed by the family
and driven from home, school and work and suffer discrimination and prejudice by
much of society. In that sense, by the transformation of the working world that
complicate from the structural crisis of the capital started in the 1970s, it has many
limits and organizational challenges to the working class, including the fight against
oppression and exploitation of those who suffer the aftermaths expressions of social
issues more intensely, namely children and adolescents, women, blacks, immigrants,
people on the streets and the population of Lesbian, Gay, Bisexual, Transsexual and
Transgender LGBT. Thus, the specific objectives, the research was north map and
analyze the formal labor camps / informal where transvestites are inserted in Natal;
build a socioeconomic profile of transvestites working in that locality; identify and
analyze the main rights violations experienced by transvestites at work; and analyze
the movement of the Trans agenda on entering the labor market in Brazil and in
relation to combating the violation of rights at work. The method used was the
analysis of dialectical historical materialism, based on quantitative / qualitative
approach technique, as well as bibliographic and documentary analysis. There was
semi-structured interviews with eight working transvestites (non-probabilistic sample
intentional by the difficulty of access) inserted in the formal / informal work, as well as
an interview with the president of the National Association of Transvestites and
Transsexuals (ANTRA), accounting for nine subject interviewed. As a result of the
obtained reports, it has to be transvestites experience daily several precarizations to
be inserted in the labor market, suffer rights violations, moral and sexual harassment,
as well as institutionalized transphobia. In addition, we analyzed the public policies of
income and jobs for transvestites in Brazil. And yet, there was the public budget for
the realization of these policies, its limits and its contractions. Thus the state, in fact,
is the mediator of the field of trans people rights in Brazil, still, tiny public policies for
this segment. It is in this arena of social conflicts that this population resists the
defense of rights. It was concluded that in the face of so many challenges that
transvestites suffer in the working world, only through collective organization that
coordinates the anti-patriarchal struggle, anti-capitalist, anti-racist and anti-cissexists
that these workers can transform this reality multiple social inequalities.
FIGURA 8: Dilma Rousseff e o Movimento LGBT - uma relação difícil. ........... 183
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS:
TABELAS
GRÁFICOS
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 18
1. INTRODUÇÃO
3 “O uso de conceitos como “minorias” para caracterizar genericamente grupos vulneráveis que foram
alvos de repressão e de opressão, tais como: as mulheres, os negros e os homossexuais, atribuindo-
lhes papéis marginais na conquista da democracia, é reproduzir uma leitura da época da ditadura.
Pelos critérios mais aceitos no Brasil, as mulheres são uma maioria e os negros também. Não se
sabe quantos indivíduos existem no contingente de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transexuais e Transgêneros (LGBT) no Brasil, mas são dezenas de milhões. Os três grupos
supramencionados têm características em comum: são marginalizados, oprimidos e estigmatizados, a
partir de marcadores sociais, mas cada realidade merece um tratamento particular para dar conta das
especificidades da opressão, discriminação e violências que vivem, cada um à sua maneira, em uma
sociedade que ainda é extremamente machista, racista e homofóbica” (CNV, 2014).
4 “Na realidade, a cisgeneridade nunca foi uma possibilidade para ninguém, ela é uma imposição,
assim como a heterossexualidade é compulsória. A cobrança pela suposta coerência entre anatomia
e gênero esmaga todos os corpos [...] Quando falo de acesso à cisgeneridade, o faço porque os
sujeitos que são cisgêneros, ou seja, que se identificam com o gênero ao qual foram designados no
nascimento, são múltiplos, e a cisgeneridade, como paradigma normativo de gênero, possui sua
dimensão utópica, estabelecendo o que é ótimo para um homem e para uma mulher” (VIERA, 2015).
Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/osentendidos/2015/09/13/toda-cisgeneridade-e-a-
mesma-subalternidade-nas-experiencias-normativas/>. Acesso em: 15 de julho de 2016.
5 Sistema opressor pautado na cisgeneridade como modelo de identidade de gênero tida como
normal apenas homem e mulher cisgênero. Opta-se nesse estudo pelo termo cis/trans como uma
forma de respeitar as bandeiras de luta do movimento de travestis e transexuais, compreendendo as
particularidades desse segmento organizado politicamente, haja visto que essa discussão surge do
movimento do real, ou seja, das necessidades de estratégias políticas para conquistas de direito
como exemplo a despatologização das identidades trans.
20
6A precarização subjetiva é um conceito que vem sendo construído para explicar as modalidades de
exploração e opressão da classe trabalhadora no que se refere a sua subjetividade, isso se
expressas nas condições de trabalho. Pesquisas apresentam que “são flagrantes as alusões ao
temor do desemprego e, assim, estar empregado, ainda que em uma função que exija esforços
sobre-humanos, é apontado como preferível a emprego nenhum. Ou seja, eles estão inseridos em
uma lógica em que a única alternativa ao trabalho penoso é o desemprego. Por isso, a necessidade
de resistir ao extremo” (BERNADO, NOGUERA & BULL, 2011, p. 87).
7Durante o estudo trabalhou-se com a categoria “Travestilidades”, pois, de acordo com Pelúcio (2009,
travestis no município do Natal/RN, a exemplo de um caso de uma professora travesti que estava
sofrendo assédio moral, por parte da diretora da escola em que trabalhava, por se recusar a usar
“roupas masculinas” exigidas pela diretoria.
10Trabalho de Conclusão de Curso que teve como objetivo analisar o direito à cidade para as
travestis: uma análise da violação dos direitos em Natal/RN contra as travestilidades. Orientado pela
Profª Drª Andréa Lima da Silva, o TCC foi apresentado em: 22 de julho de 2013.
22
11 Violência física, sexual, moral, psicológica e simbólica praticada contra Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Transgêneros.
12 “O termo trans* pode ser a abreviação de várias palavras que expressam diferentes identidades,
como transexual ou transgênero, ou até mesmo travesti. Por isso, para evitar classificações que
correm o risco de serem excludentes, o asterisco é adicionado ao final da palavra transformando o
termo trans em um termo guarda-chuva” Disponível em: <http://transfeminismo.com/trans-umbrella-
term/>. Acesso em: 28 de dezembro de 2014).
13Trabalha-se nessa dissertação com o conceito de “Heterossexualidade como Ideologia” como uma
dimensão das relações de opressão, exploração e dominação que são consubstancializadas por
outras relações em face do capitalismo, patriarcado e do racismo. O conceito “Heterossexualidade
como ideologia” foi formulado e sendo utilizado pelas autoras francófonas mais precisamente por
Monique Wittig que caracteriza a heterossexualidade como um sistema político-ideológico
(FALQUET, 2014).
23
14
Pensando nos conceitos de identidade gênero na contemporaneidade, se estabelece o debate
sobre dois modos de concepção das identidades, discorridos pela perspectiva transfeminista, a saber:
a cisgneridade e a transgeneridade. O/a cisgênero é considerado aquele e/ou aquela que está de
acordo e que não tem conflitos com o gênero que lhe foi atribuído, ou seja, é o menino que, ao
nascer, se identifica como homem, e a menina que se identifica como mulher ao longo da sua
construção. Por conseguinte, a identidade de gênero refere-se como se reconhece dentro dos
padrões de “relações patriarcais de gênero” construídos e estabelecidos pela sociedade que reproduz
uma ideologia estabelecida por atribuições binárias que foram demarcadas para homens e mulheres.
Assim, quando a sociedade não reconhece as identidades travestis e transexuais como identidades
para além do binarismo, tal visão se configura como um pensamento cissexista.
24
O trabalho faz parte da essência do ser social, e é ele quem funda e distingue
os seres humanos dos animais mediante processo de consciência. Neste sentido,
conforme Netto e Braz (2010, p. 34), “foi através do trabalho que grupos de
primatas, surgiram os primeiros grupos humanos – numa espécie de salto que fez
emergir um novo tipo de ser, distinto do ser natural (orgânico e inorgânico): o ser
social”. A partir do pensamento marxista, é possível afirmar que “o trabalho é um
processo entre o homem e a natureza, um processo em que homem, por sua própria
27
ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza” (MARX, 1983 apud
NETTO, BRAZ, 2010, p. 31).
Por via do trabalho, as sociedades foram se construindo e mantendo-se por
intermédio das relações sociais. Assim, as transformações via mediação dos seres
humanos (homens e mulheres) com os elementos da natureza permitiu a estes
suprirem suas necessidades físicas, biológicas, psíquicas, sociais e culturais.
Segundo Lukács (1978, p. 6), o trabalho é realizado a partir do pensamento
teleológico. Logo, o ser social produz os seus produtos em interação constante com
a natureza, ou seja, “a teleologia é um modo de pôr – posição sempre realizada por
uma consciência – que, embora as guiando em determinada direção, pode
movimentar apenas séries causais”.
É no nível da teleologia, que os indivíduos sociais realizam o trabalho – a
necessidade que foi representada na sua subjetividade (prefigurada) e no plano da
objetivação; quando esses sujeitos transformam aqueles elementos (materiais) da
natureza naquilo que foi idealizado, finalizando na sua efetivação (NETTO, BRAZ,
2010).
A história permitiu ao ser social aperfeiçoar as habilidades e suas mediações
com a natureza – processo este que se complexificou quando da geração de
diversas e novas necessidades para os seres humanos. O trabalho, ao longo dos
tempos, constituiu-se como principal elemento das relações sociais, e sempre
esteve presente desde as sociedades primatas até a atual – a capitalista, que se
consolida na passagem do século XVIII ao XIX (NETTO; BRAZ, 2010).
O trabalho no modo de produção capitalista é o principal mecanismo de
obtenção da riqueza produzida coletivamente, mas que é apropriada individualmente
pelo burguês – aquele que detém os meios de produção. Neste sentindo, a
lucratividade produzida pela força dos(as) operários(as), trabalhadores(as) e/ou
camponeses(as) faz parte do modo de produção capitalista que se reproduz
mediante o trabalho alienado. Destarte, no referido modo de produção, o trabalho
não é mais visto como um caminho para a liberdade e transformação dos seres
humanos enquanto ser social, uma vez que:
16A questão social entende-se como parte das contradições entre capital x trabalho. Está assentada
em uma base que tem como modo de produção capitalista, na qual toda riqueza que foi produzida
coletivamente é apropriada pelo o burguês, assim essas contradições geram diversas expressões da
desigualdade na sociedade. Nesse sentido, deve-se ressaltar que a particularidade da realidade na
América Latina, Brasil, que conforme (IAMAMOTO, 2011, 128) diz que “as desigualdades que
presidem o processo de desenvolvimento do País têm sido uma de suas particularidades históricas.
O “moderno” se constrói por meio do “arcaico”, recriando elementos de nossa herança histórica
colonial e patrimonialista, ao atualizar marcas persistentes e, ao mesmo tempo, transformá-las, no
contexto de mundialização do capital sob a hegemonia financeira. As marcas históricas persistentes,
ao serem atualizadas, repõem-se, modificadas, ante as inéditas condições históricas presentes, ao
mesmo tempo em que imprimem uma dinâmica própria aos processos contemporâneos”.
29
Hei-de inventar
um verso que vos faça justiça!
(Mia Couto)
mediante a perspectiva dos valores e concepções acerca do real – valores que não
requerem somente a explicação e descrição da realidade, mas a busca, sobretudo,
da superação do atual modelo de sociedade; que nega a neutralidade, na defesa de
uma sociedade com um modo de se estruturar e produzir valores que busquem a
emancipação humana.
Do ponto de vista da forma de abordagem ao problema aqui exposto,
privilegiou-se a técnica de investigação quanti-qualitativa, considerando a natureza
do objeto, o que não significa instaurar um fosso entre as pesquisas qualitativa e
quantitativa, tendo em vista que além das estratégias próprias da investigação, fez-
se uso de dados e informações de outras pesquisas que contribuíram na apreensão
do objeto de estudo.
As técnicas que foram utilizadas como forma de apreender as múltiplas
determinações do objeto foram as que se seguem: análise bibliográfica, análise
documental, diário de campo e entrevistas semiestruturadas. O estudo consistiu de
uma análise bibliográfica, a fim de elaborar e aprofundar os conceitos e as
categorias do objeto.
Para a inserção empírica e como forma estratégica de aproximação sucessiva
do objeto de estudo, fez-se uso de diversas abordagens, entre as quais, a
necessidade da participação em fóruns da comunidade travesti, participação em
congressos, seminários locais e nacionais que forneceram informações das sujeitas
da pesquisa, onde se mapeou os espaços de trabalho formal e informal destas na
cidade do Natal, além de identificar um grande contingente populacional na condição
de desempregadas.
Conforme a pesquisa realizada por Oliveira (2013), em Natal existiam duas
associações de travestis, a saber: 1) a Associação de Travestis e Transexuais
Potiguares na Ação pela Coerência no Rio Grande do Norte (ATRANSPARÊNCIA);
e, 2) a Associação das Travestis Reencontrando a Vida (ATREVIDA), que possuía
150 travestis cadastradas nas associações. Por meio das referidas associações
foram possíveis os primeiros contatos com algumas das interlocutoras do presente
estudo.
Do universo supramencionado, fez-se uso da entrevista com nove travestis
(contando com a entrevistada que era representante nacional da ANTRA) – uma
amostra não probabilística intencional. Tal delimitação se deu pela dificuldade de
acesso a essa população, inseridas nas diversas zonas administrativas do Natal.
34
18 Camille Cabral – Foi a primeira transexual brasileira eleita como deputada na França, formou-se em
medicina, depois migrou para França onde participou como uma das fundadoras do PASTT -
Prévention Action Santé Travail pour les Transgenres (Prevenção, Ação, Saúde e Trabalho para os
Transgêneros).
19 Janaina Dutra – Foi grande militante do Movimento Trans no Brasil, cearense, formada em direito
uma das primeiras Travestis que teve a carteira profissional da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) reconhecendo seu nome social e sua identidade de gênero. Janaína faleceu no dia 8 de
fevereiro de 2004, vítima de câncer pulmonar aos 43 anos de idade.
36
Marsha Johson20 – Residente do bairro das Rocas – local onde vive até hoje.
Tem 58 anos e possui duas graduações universitárias (nos cursos de
Contabilidade e Letras). Atualmente é professora da Rede Estadual de Ensino
no Rio Grande do Norte. Trabalhou por alguns anos como contadora em
diversas empresas na região metropolitana do Natal. Sempre se destacou por
conta dos estudos, embora presenciando, em alguns momentos, situações de
preconceito dado a sua identidade de gênero, seja na universidade, na rua ou
nos locais de trabalho por onde passou. Como pertencimento de classe
afirma-se como trabalhadora do setor educacional. Contribui com a
Previdência Social, faltando pouco tempo para se aposentar, pois já tem 28
anos de contribuição (isso se não for implementada a reforma da previdência
do governo Temer PMDB). Seu salário é o piso de professores da rede
estadual de ensino da qual faz parte.
20 Marsha Johnson – Era uma Mulher Trans e negra, militante do movimento LGBT nos Estados
Unidos, considerada heroína de Stonewall acontecimento histórico que trouxe grandes conquistas
organizativas para esse segmento mundialmente, Marsha tem pouca visibilidade mundial, mas foi
uma das principais líderes da revolta de Stonewall na cidade de Nova York.
21 Jovanna Cardoso – Militante dos Direitos Humanos e LGBTs, foi a fundadora no Rio de Janeiro da
primeira Associação de Travestis da América Latina, coordenadora municipal dos direitos humanos
da cidade de Picos no estado do Piauí.
37
22 Brenda Lee – Considerada como “Anjo da guarda das Travestis”, foi militante do movimento LGBT,
acolhia em sua casa pessoas discriminadas pela sociedade sobretudo pelo preconceito e estigma
relacionado à AIDS, “a Casa Brenda Lee” foi fundada no ano de 1988, tinha como proposito o
acolhimento de pessoas com HIV. Brenda foi brutalmente assassinada em 28 de maio de 1996.
23 Claúdia Wonder – Militante do Movimento LGBT de São Paulo, foi uma das coordenadoras do
Centro de Referência da Diversidade em São Paulo, foi, também, coordenadora do Grupo de Estudos
da identidade de Gênero "Flor do Asfalto", trabalhou como colunista e repórter da revista G
Magazine e do site G online até 2008, Faleceu em 2010.
24 Kátia Tapety – Foi a primeira travesti eleita a vereadora no Brasil, foi a candidata mais votada na
25 Marlene de Waya – Formada em Psicologia pela Universidad Popular Madres da Plaza de Mayo, é
uma grande militante do movimento Trans na Argentina, é Coordenadora Geral Futuro
Transgenerico y Co-fundadora da Rede Trans de Latinoamérica y el Caribe “Silvia Rivera”. Ex-
diretora de “El Teje” primeiro periódico Travesti da América latina, também, foi uma das fundadoras
da Cooperativa têxtil Nadie Echazú.
39
faziam presentes. Assim, foi possível perceber a invisibilidade dessa população nos
mercados de trabalhos formais.
Elegeu-se as travestis como interlocutoras de análise do presente estudo pelo
fato da “invisibilidade” latente e/ou da precária inserção destas no mercado de
trabalho, o que pode causar mais diversas preocupações no sentido de se construir
uma sociedade para além do atual modelo centrado na desigualdade social, fundada
na divisão sexual do trabalho, dado os processos de preconceito e discriminação
que negam o direito das sujeitas terem acesso às necessidades elementares, como,
por exemplo, o trabalho.
No que se refere ao enfrentamento das violações de direitos no trabalho, e
sobre as políticas públicas de inserção das travestis no mercado de trabalho, fez-se
uma entrevista com a representante nacional da Articulação Nacional das Travestis
(ANTRA), a presidente Cris Steffany, onde foi possível analisar a agenda política do
movimento Trans* no Brasil, em relação ao enfrentamento das violações de direitos
no mercado de trabalho. Assim, contabilizaram-se nove sujeitas que participaram da
amostra, ou seja, oito travestis (trabalhadoras e desempregadas) e uma
representante nacional da ANTRA.
Realizou-se ainda uma análise documental de caráter qualitativo dos
seguintes documentos: relatório sobre a violência LGBTfóbica contra o contingente
LGBT, mais especificamente da população travesti, lançado pela Secretária de
Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR); dados estatísticos da
transfobia pela Organização Não Governamental (ONG) europeia Transgender
Europe (TGEU), do Grupo Gay da Bahia (GGB)26, de 2014. Tal análise teve como
objetivo aprofundar os dados concernentes à realidade violenta que atinge as
travestis, para além do espaço de trabalho.
Como forma de identificar as estratégias de inserção das travestis no
mercado de trabalho, analisou-se a agenda política do movimento Trans* no Brasil
em torno das políticas de renda e trabalho. Assim, fez-se uma análise documental
das políticas públicas de renda e trabalho para as travestis, de alguns marcos legais,
como, por exemplo, os documentos dos anais da I e II Conferências Nacionais de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, o Programa Brasil Sem
Homofobia (BSH) – Programa de Combate a Violência e à Discriminação Contra
26 Esses documentos estão disponíveis para acesso livre nos sites dos respectivos órgãos. Sites:
[http://www.sdh.gov.br/]; [http://tgeu.org/] e [https://homofobiamata.wordpress.com/]
40
27 Conforme mapa da violência do Relatório da Violência Homofóbica no Brasil realizada pelo Grupo
Gay da Bahia (GGB), durante o ano de 2013 e 2014, o Estado do Rio Grande do Norte estava em 3º
lugar no Nordeste entre os estados mais perigosos para os LGBT’s. Disponível em:
<http://homofobiamata.files.wordpress.com/2012/05/o-mapa-gays-570.jpg;>. Acesso em: 18 de
outubro de 2014.
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PROGRAMA DE
PÓS- TEMA QUANTIDADE
GRADUAÇÃO
-Violência contra a mulher 11
-Trabalho e formação profissional em relação às 11
Serviço Social mulheres
-Mulheres negras 5
-Gênero e Serviço Social 5
-Saúde da mulher 4
-Relações de gênero 5
-Diversidade sexual e identidade de gênero 3
-Políticas públicas na perspectiva de gênero 2
-Masculinidades e Serviço Social 2
-Gravidez na adolescência e sexualidade da mulher 2
-Empoderamento das mulheres 1
-Abuso sexual contra mulheres e adolescentes 1
-Mulheres e cidadania 1
-Mulheres e o direito à cidade 1
-Mulheres e abuso de álcool e outras drogas 1
-Mulheres lésbicas 1
-Mulheres lésbicas e negras 1
-Privação de liberdade de adolescentes (meninas) 1
-Mulheres que vivem com HIV/aids 1
-Mulheres e família 1
-Gênero e trabalho 1
-Gênero, sexualidade e pessoas com deficiência 1
-Trabalho e formação profissional em relação aos 1
47
homens
-Homens agressores e violência doméstica contra a 1
mulher
Fonte: Dados sistematizados a partir do sistema de pesquisa CAPES, em novembro de 2012 (FERREIRA, 2014)
29 A terminologia “Feminismo Materialista Francófono” (falante do francês) surgiu nos anos 1970. “As
reflexões feministas materialistas francófonas têm se estruturado ao redor da revista Questions
Féministes desde o final dos anos 1970, especialmente com o trabalho de Christine Delphy, Colette
Guillaumin, Nicole-Claude Mathieu, Monique Wittig, Monique Plaza e outras mais. O que demarca a
proposta teórica desse grupo é, sobretudo, seu antinaturalismo e o conceito de rapports sociaux de
sexe, para dizer rapidamente as coisas. Colette Guillaumin, em um artigo de 1978, foi quem articulou
esse pensamento eminentemente coletivo de forma mais completa, com o conceito de sexagem, ou
48
de sexo”, classe e “raça”, em vez da categoria gênero, e porque não se adotou aqui
tal conceito.
Por fim, concluímos com uma análise sócio-histórica do que vem sendo
construído sobre a identidade de gênero, com base em um percurso histórico sobre
o conceito político das identidades travestis e transexuais, como tais identidades
possuem distinções que perpassam as subjetividades, a cultura, a política no
entendimento social dessas duas terminologias para, assim, entender as mediações
que são necessárias na presente pesquisa sobre a inserção das travestis no
mercado de trabalho.
seja, as relações sociais de apropriação individual e coletiva das mulheres como classe de sexo,
pelos homens como classe de sexo” (CISNE; GURGEL, 2014).
49
Embora esse dado seja de certo munícipio, mas essa é uma tendência
nacional. Tem-se, portanto, uma realidade complexa que envolve a população em
estudo, do qual não se pode desconectar a discussão das dimensões de “raça”,
etnia, classe e sexo. A população travesti é intensamente marginalizada na
sociedade brasileira, conforme as construções de saberes e poderes estabelecidos
sobre esse contingente populacional.
Faz-se importante ainda pensar o lugar dessas sujeitas na sociedade. É uma
população inserida na América Latina, que tem todas as características do
colonialismo branco e burguês – que se construiu com base em um ideário de
sociedade a ser seguido, baseada na família patriarcal. Assim, aquela população
que foge do referido padrão colonialista posto no Brasil, ou seja, são marginalizadas
e discriminadas por quase toda sociedade, expostas a todo tipo de violências e
tendo seus direitos violados cotidianamente.
A afirmação da identidade de gênero travesti em uma sociedade que tem
como valores a heterossexualidade se apresenta como um sistema político e
30Grifo nosso.
31Reportagem “Apenas 5% das travestis estão no mercado formal; demais estão na prostituição”.
Disponível em: <http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/apenas-5-das-travestis-
estao-no-mercado-formal-demais-estao-na-prostituicao/>. Acesso em: 22 de agosto de 2014.
50
ideológico nas relações sociais, apresenta desafios para aquelas que rompem com o
estabelecido. Tem-se, portanto, a afirmação da identidade travesti que promove
desestabilidade desse sistema ideológico construído em bases estreitadas na não
aceitação das identidades que fogem à regra binária dos gêneros. Assim, tal
segmento passa a sofrer diversas formas de opressão e exploração no mundo do
trabalho.
A fim de compreender as múltiplas determinações sobre as opressões e
exploração dessas sujeitas, é preciso aprofundar algumas categorias analíticas que
são estruturantes das identidades de gêneros, tais como: as relações entre gênero e
patriarcado, classe, “raça”/etnia. Neste sentido, Saffioti (2004) aponta os(as)
vários(as) autores(as) feministas e não feministas que estudaram a categoria
“gênero”. Têm-se muitas análises e reflexões, porém, pouco consenso nestas
formulações.
O conceito de “gênero” tem suas disputas ideológicas no âmbito da pós-
modernidade, do pós-estruturalismo e do marxismo. A categoria “gênero” tanto
passa por críticas pelas pós-estruturalistas, na qual algumas defendem o
aprofundamento da referida categoria e outras a desconstrução de “gênero”, bem
como por críticas das autoras francófonas32, que defendem a utilização do conceito
de relações sociais de sexo.
De acordo com Saffioti (2004), o conceito de “gênero” no Brasil tem suas
raízes nas formulações de Joan Scott, com forte difusão do conceito nos anos 1990.
Ainda, segundo a referida autora, o “gênero” é um conceito aberto, repleto de
interpretações e significados, pois trata-se de uma categoria histórica fruto do
esforço de diversas pessoas engajadas nos estudos que lhes são próprios. Nesse
sentido,
32 São autoras feministas materialistas que fazem parte do feminismo Francófono, ou seja,
pertencentes ao movimento feminista que tem início na França nos anos 1970 “com destaque para a
sua perspectiva teórico-política da análise da consubstancialidade e da coextensividade das relações
sociais de sexo (incluindo sexualidade), “raça”/etnia e classe” (CISNE & GURGEL, 2014).
51
Para Saffioti (2004), a categoria “gênero” é algo mais ideológico, porém, este
é mais amplo do que patriarcado. Logo, se faz necessária a utilização simultânea do
conceito de gênero e patriarcado como uma unidade dialética, historicizando e
demarcando os limites existentes.
Neste sentido, “não se trata de abolir o uso do conceito de gênero, mas de
eliminar sua utilização exclusiva. Gênero é um conceito por demais palatável,
porque é excessivamente geral, a-histórico, a-político e pretensamente neutro”
(SAFFIOTI, 2004, p. 138). Ou seja, a crítica da autora sobre essa categoria faz
pensar que essa categoria isolada, não apresenta e não possibilita pensar nas
desigualdades entre os indivíduos homens, mulheres os sujeitos da diversidade, e
muito menos explicar a realidade social sobre as travestilidades, por não demarcar
as bases estruturantes da opressão e exploração que estão ancoradas na formação
patriarcal.
Assim, Saffioti (2004) apresenta uma crítica à noção de gênero e faz uma
análise dessa categoria a partir da história. Além disso, considera que por muito
tempo “Gênero” foi utilizado como um conceito para projetos sociais das agências
multilaterais, tais como: a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial
(BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), com a estratégia de não mencionar o
espectro existente desde a última década do século XX ao século XXI: o feminismo.
Sobre tal questão, é possível observar que:
presente pesquisa não adentrou em tal aspecto, pois não se constitui como eixo
central aqui apontado, mas apenas tem-se a citação deste como forma material para
compreender como a categoria “gênero” também apresenta aspectos ideológicos
que podem ser utilizados a favor das políticas neoliberais.
Igualmente, a categoria “patriarcado”, nos últimos tempos, passou por alguns
rebatimentos ideológicos. Na perspectiva de Saffioti (2004), muitas vezes, o
patriarcado foi substituído por outros conceitos para não mencioná-lo, quais sejam:
“falocracia”, “androcentrismo” e “falo-logo-centrismo”, nos moldes do que denomina
Bourdie (1999). De fato, aquela autora considera que tais conceitos são ideológicos
e que desistoricizam as raízes da opressão e exploração que as mulheres vivenciam
– é possível incluir aqui as travestis, as lésbicas, os gays e os/as bissexuais: um
segmento que constrói e dá visibilidade à orientação sexual e identidade de gênero
distinta da heterossexual e da cisgeneridade33.
Mas, o patriarcado tem toda uma origem histórica, social e sua importância
para apreender o sistema de opressão e exploração dos homens sobre as mulheres,
pautado em concepções para uma sociedade construída na valorização da
heterossexualidade como ideologia, e reprodução de classe dominante. A partir da
análise de Hartmann sobre a concepção de Patriarcado desenvolvida por Saffioti
(2004), é possível definir o:
34 As ondas dos movimentos feministas fazem parte da história e do surgimento das lutas das
mulheres em prol das suas pautas de luta por emancipação. Neste sentido, é preciso considerar a
primeira onda feminista, que teve início no século XIX. Sua principal pauta era a luta pelo sufrágio
feminino, ou seja, o direito do voto feminino. Nísia Floresta, foi uma das principais mulheres de
grande influência na primeira onda feminista no Brasil. Nísia, foi uma grande escritora e lutadora dos
direitos desse segmento; publicou a obra O direito das mulheres e justiças dos homens. A segunda
onda do movimento feminista surge em um período que foi marcado mundialmente por diversas lutas
no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. No Brasil tinha-se um contexto de ditadura militar, que
ceifou a vida de diversas militantes que combateram o regime autocrático. A segunda onda feminista
também é uma continuação da primeira onda, porém, com particularidades. É um momento em que
surgem diversos estudos sobre as questões que perpassam as vidas das mulheres e categorias
importantes, como, por exemplo, “relações sociais de sexo” pelos movimentos feministas francófonos,
a categoria “gênero”, em diversas perspectivas teóricas. Tal momento representou a luta das
mulheres pelos direitos reprodutivos e a igualdade entre os gêneros. Um dos grandes marcos
teóricos da segunda onda foi a obra Segundo sexo, de Simone de Beauvoir. Já a terceira onda
feminista é mais polêmica, abrangendo outros sujeitos na luta contra as estruturas de dominação,
exploração e opressão, como, por exemplo, o movimento Trans*. Considerado como parte da terceira
onda, o Transfeminismo faz parte da luta que engloba outras mulheres e suas particularidades.
Quando se trata da questão da diversidade no feminismo, uma das principais teóricas desse
movimento foi Judith Butler, com a obra Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade
(1990). Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/feminismo-
academico-9622.html>. Acesso em: 22 de março de 2015.
55
35Grifo nosso.
36 Tradução: “De acordo com os genitais os quais nascemos, o sistema patriarcal decidiu que
devemos agir de uma determinada maneira. Nossos nomes têm que ser masculino, a nossa
personalidade forte e insensível, deve ser protetores pais e usufruir a privilégios de ser opressores”.
56
Tenemos diferencias con las mujeres, como ellas tienen entre si. Las
nuestras giran em torno a haber sido criadas com toda uma carga
patriarcal, para ser “opresores”, para gozar de la dominación y esto
há hecho más difícil nuestra própria elección de gênero. Somos
traidoras del patriarcado y muchas veces pagamos esto com nuestra
vida37. (BERKINS, 2003, 165).
37 Tradução: “Temos diferenças com as mulheres, como elas tem entre si. As nossas giram em torno
de ser criados com uma carga inteira patriarcal para ser "opressor" para desfrutar de dominação e
isso tornou mais difícil para nossa própria escolha de gênero. Nós somos traidores do patriarcado e,
muitas vezes pagamos isso e com nossas vidas. Resumidamente, as travestis sofrem dois tipos de
opressão”.
57
38Mathieu apresenta em suas ideias na obra: “Identidade sexual/ sexuada/ de sexo? Três modos de
conceituação da relação entre sexo e gênero”. Este texto foi escrito no ano de 1982 para o
Congresso Mundial de Sociologia na Cidade do México, com o objetivo de analisar a conceituação do
sexo na prática das ciências sociais e nas teorias dos movimentos de mulheres.
60
No Modo I, Mathieu (2005) atenta que a identidade “sexual” tem por base uma
consciência individual do sexo, ou seja, uma correspondência igual entre sexo e
gênero: o gênero traduz o sexo – o indivíduo vive essa consciência por meio de uma
experiência psicossocial de forma naturalizada. O sexo “macho” destina-se ao
homem, e o sexo “fêmea” destina-se à mulher. Tem-se aí um modelo de sociedade
à heterossexualidade, concebida no ocidente como uma expressão dada pela
natureza.
Neste sentido, Mathieu (2005) trabalha com a perspectiva de que tais
relações não se dão de forma harmônica, ou seja, as sociedades também detém
sujeitos que fogem dos padrões de identidade estabelecidos, e estes são
classificados por aquela autora como as “travestis” e os/as “transexuais”,
denominando-os como “transgressores/as”40.
Algumas vezes é necessária a adaptação do sexo ao gênero, como é o caso
das transexuais das sociedades modernas, que, em sua maioria, rejeitam a ideia de
serem homossexuais. Assim, é possível perceber que mesmo “transgredindo” a
ordem binária dos sexos/gêneros, tem-se uma adequação da ordem heterossexual
(MATHIEU, 2005).
Neste sentido, no Modo I, a referência encontra-se no sexo, na
heterossexualidade como modelo de sociedade, e faz parte de uma consciência
individual, primazia do sistema hetero-sexual com predominância da dimensão
biológica; ou seja, todos aqueles que fogem às regras binárias da sociedade são
considerados anomalias, patologias – perspectiva que pode ser analisada nos
estudos de Michel Focault (2011), em sua obra História da Sexualidade: a vontade
de saber.
No Modo II, Mathieu (2005) destaca que a identidade “sexuada” tem por base
uma consciência de grupo. Tem-se aí uma correspondência analógica entre o sexo
comportamental de contravenção a uma norma, a uma lei, mas também em seu sentido pleno,
etimológico: transgredir, de Trans.
61
41 TRADUÇÃO: Ser transgênero é ter uma atitude muito íntima e profunda de viver um gênero
diferente em que a sociedade atribuiu ao seu sexo. Não é sobre a roupa, maquiagem ou cirurgia...
Trata-se de maneiras de sentir, pensar e ver as coisas e como se relacionam. (BERKINS, 2003, p.
135).
62
42 TRADUÇÃO: Agora ouço falar de "relações sociais de produção de gênero” (relações de gênero
de produção), mas, apesar da transferência de gênero e até mesmo sexo, essas relações de
produção envolvem a exploração de mulheres. Sem dúvida, existem gêneros "homem-mulher”, mas
na base e na menor escala da etapa de gêneros, de forma que há, na verdade, fêmeas: sexo social
"mulher". (MATHIEU, 2005, p. 168).
63
43“Os gêneros tradicionais dos indígenas norte-américanos vão além do feminino e do masculino” por
André Cabette Fábio. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/06/24/Os-
g%C3%AAneros-tradicionais-dos-ind%C3%ADgenas-norte-americanos-v%C3%A3o-al%C3%A9m-
do-masculino-e-feminino#.V3A0U8Sxb7E.twitter>. Acesso em: 21 de julho de 2016.
64
com múltiplas identidades de gênero, para além do binarismo ocidental posto pelos
brancos. No entanto, as referidas identidades foram combatidas e reprimidas pelos
invasores, de tal forma a categoria “gênero” apesar dos seus limites históricos e
políticos ela apresenta uma maior ampliação na concepção de representatividades e
concepções acerca da diversidade postas pelo o que convencionou-se chamar por
masculino e feminino, ou gênero neutro.
Assim, para além dos valores vitoriosos, ocidentais e colonialistas, que tinham
como concepção de mundo pautada no conservadorismo e no fundamentalismo de
entendimento branco europeia que as relações sociais deviam ter como norte as
relações entre homens e mulheres, e o que predominava-se na América Latina
antes da chegada dos europeus era uma forma de socialização pautada no respeito
em algumas etnias pela diversidade de gêneros, e essa diversidade de gênero entre
os povos indígenas se adequavam da seguinte forma:
44 “Na América do Norte, os homens que adotavam papéis femininos e as mulheres masculinizadas,
que caçavam e lutavam com os homens eram chamados de Berdaches. Estes Berdaches tinham
fama de poderosos curandeiros e feiticeiros e, muitas vezes, ocupavam uma posição de destaque na
aldeia como sacerdotes ou como pajés. Os primeiros índios que os europeus observaram praticar o
travestismo foram os Illinois, os Sioux, os índios da Luisiânia, da Florida e do Iucatã, no México. Entre
os Mbayá havia uma classe de homens que imitavam as mulheres, em todos seus hábitos e
atividades, vestindo-se como elas, fiando, tecendo, fazendo louças e etc. Estes efeminados, cujas
vidas saíam das regras cotidianas, eram encarados como Manitu, ou sagrados” (FILHO, 2000, p.
221).
66
Nesse sentido, o presente estudo não faz uso da categoria “gênero” em sua
dimensão a-crítica, a-histórica, despolitizada. Sabe-se dos seus limites de análise,
da sua polissemia. No entanto, é preciso considerar que os termos “gênero” e
“patriarcado” são duas categorias primordiais para a compreensão do objeto de
estudo aqui apontado e sua multiplicidade, conforme afirma Saffioti (2004, p. 135):
45“Butler não é uma freudiana ou uma foucaultiana, tampouco uma marxista, uma feminista ou uma
pós-estruturalista; em vez disso, podemos dizer que ela tem afinidades com as teorias e com seus
projetos políticos, não se identificando com nenhuma delas em particular, mas utilizando uma série de
paradigmas teóricos sempre que pareça conveniente, sob as mais variadas, e por vezes inesperadas
combinações”. (SALIH, 2012, p. 16).
67
46 Grifo nosso.
69
discriminados pela sociedade que tem por base a heterossexualidade como padrão
de relação afetiva-sexual.
Com base em uma perspectiva culturalista, as autoras referenciadas
apresentam algumas reflexões que são importantes para se pensar o sistema de
normatização que a sociedade construiu social e culturalmente. De tal modo, o
corpo, a partir de dadas sociedades, ganhou diversos significados, normas e
descrições. Assim, “o corpo, “fala” e o faz através de uma série de códigos, de
adornos, de cheiros, de comportamentos e de gestos que só podem ser “lidos”, ou
seja, significados no contexto de uma dada cultura” (LOURO, 2003, p. 2).
Na visão da Butler (2000) e Louro (2003), o corpo é culturalmente construído,
e tal construção se deu por diversos significados e sentidos. Olha-se para um corpo
com pênis e barba, e logo este é associado a um homem/macho. Olha-se para um
corpo com vagina e seios, e este é associado a uma mulher/fêmea, em uma
perspectiva sexista que naturalizou o sexo. Neste sentido,
O termo “Queer” foi utilizado por uma parte do movimento homossexual que
ressignificou essa terminologia e passou a utilizá-la como estratégia para questionar
as normas imputadas pela heterossexualidade. Conforme Louro (2001), não há um
consenso em torno dos teóricos que fazem uso desta teoria. Trata-se de um grupo
heterogêneo, com muitas divergências.
Em uma sociedade que tem como valores a normatização das relações entre
homens e mulheres e a heterossexualidade como modelo social a ser seguido, a
organização de sujeitos políticos que se opõem a esses valores e que lutam por uma
73
47 Por Léo Moreira Sá para o site: “Os jornalistas Livres” – reportagem: “Travestis e Transexuais
ocupam a câmara municipal de São Paulo”. Disponível em: <https://medium.com/jornalistas-
livres/travestis-e-transexuais-ocupam-a-ca%CC%82mara-municipal-de-sa%CC%83o-paulo-
2c3ea162863d>. Acesso em: 24 de junho de 2015.
76
50As atribuições binárias são as demarcações que foram construídas social e culturalmente para
homens e mulheres.
79
Fonte:<http://memorabiliagay.blogspot.com.br/2009_11_01_archive.html>
cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Segundo aquele autor, as travestis que
se prostituem moram em regiões que predominam a prostituição, vivem em hotéis
compartilhados com outras travestis, prostíbulos e/ou em pensões, por períodos
indeterminados. Dado o cotidiano incerto, as despesas diárias com alimentação,
moradia, remédios, roupas e produtos de higiene pessoal podem se transformar em
uma dívida difícil de saldar (BENEDETTI, 2005).
Uma das características dessas sujeitas é a transformação do corpo. Por não
se identificarem com o gênero lhes foram atribuídos, passam a se transformar com a
injeção de hormônios femininos e silicone no corpo, buscando a visibilidade da
identidade gênero travesti. Sobre tal questão, é possível perceber que a:
54 Foi um grupo teatral da década de 1970, com uma perspectiva contra cultural hegemônica. Este
fazia uso de uma perspectiva teatral contra os tabus fomentando discussões a partir da arte teatral
sobre a diversidade sexual. O grupo Teatral Dzi Coquetes contestava a ditadura militar no Brasil, que
teve início nos anos 1960. O grupo foi fortemente perseguido e censurado. Para uma melhor
concepção do que foi esse grupo teatral que para sua época tinha uma perspectiva revolucionária,
fez história e marcou os anos 1970, para uma melhor apreciação sobre a história do grupo conferir o
documentário “Dzi Croquettes” (2010), das diretoras Tatiana Issa e Raphael Alvarez.
87
Tal processo foi analisado por Peres (2005) como a socialização das sujeitas
que vivenciam estigmas e preconceito na organização em redes sociais, onde se
sentem acolhidas e respeitadas – pertencimento de grupo.
De fato, a visibilidade da identidade de gênero na sociedade capitalista possui
diversos limites, primeiro porque esse modelo de socialização é repleto de
contradições e de negação da diversidade humana, principalmente em relação à
particularidade da identidade de gênero travesti na sociedade.
apresentam tal aspecto como algo importante e que perpassa negativamente a vida
das travestis, tornando-as marginalizadas e subalternizadas pela sociedade,
rebatendo principalmente em sua inserção precarizada no mundo do trabalho.
A “coisificação” dessas identidades na sociedade tem resvalado até mesmo
no processo de tráfico internacional de pessoas55, com muitas travestis e
transexuais brasileiras, muitas vezes, atraídas ou até mesmo levadas
clandestinamente para trabalharem no mercado internacional do sexo (mercado
transnacional), por incorporarem e reproduzirem a ideologia dominante e serem
reconhecidas por meio da “beleza da mulher brasileira”, injetam hormônios, fazem
cirurgias (quando podem pagar financeiramente) e se modelam para atingirem ao
máximo o padrão construído social e culturalmente. Assim, esses indivíduos são
“coisificadas” em um processo de sexagem (apropriação dos corpos) para grandes
metrópoles europeias, para servirem como trabalhadoras no comércio internacional
do sexo, como destino final do desejo de posse para muitos homens.
55 Mesmo não sendo o foco do presente estudo – a análise sobre o trabalho sexual e o tráfico
internacional de indivíduos travestis e transexuais, tem-se aí tal questão social como um processo
que reitera essas identidades de forma fetichizadas e coisificadas na sociedade capitalista. Para
maior aprofundamento sobre a questão, que atinge a população Trans* no Brasil, conferir os
trabalhos de Patrício (2008) e Pelúcio (2011) sobre o mercado transnacional do sexo.
90
dos animais, uma vez que ao transformar a natureza para suprir suas necessidades
sociais, (o ser social) o indivíduo também se transforma, cria novas necessidades.
Por fim, tomando por base todas essas análises desde as “relações
patriarcais de gênero” e a perspectiva de compressão das identidades travestis nas
relações de classe, “raça”/etnia, sexualidade, acredita-se que tais sujeitas, na
sociedade brasileira, são bem mais do que “corpos abjetos” e “performatividade”;
são, sobretudo, relações e constructo das conquistas sociais e históricas das
condições materiais de vida ensejadas por meio da relações entre práxis-
sociabilidade-relação objetividade e subjetividade no decorrer da história (SANTOS,
2005).
“Eu gosto deixar claro que sou trans para não precisar participar
das diversas etapas do processo seletivo e assim que chegar a
última, descobrindo que você é trans, você ser cortada, gerando
uma perda de tempo e enorme frustração. Se houver problema em
relação a isso, não vai ter segunda etapa.
E se não houver na primeira, não terá nas outras”
56Admitir os próprios preconceitos é admitir que somos humanos', diz feminista transmulher Daniela
Andrade”. Disponível em http://www.nlucon.com/2013/11/daniela-andrade-entrevista-transmulher-
feminista.html>. Aceso em: 25 de julho de 2016.
98
Raça no Brasil no início do Século XXI”; e de Hirata & Kergoat (2007), com pesquisas sobre as
“Novas configurações da divisão sexual do trabalho”, entre outros.
100
(Bertolt Brech)
propositalmente não reconhece a validade das existências trans é, antes de tudo, patriarcal. O
homem cis branco é o modelo, o homem cis branco é o sujeito de direito, o homem cis branco é a
norma, o homem cis branco é o ser humano. É perfeitamente possível um cenário onde a maioria das
pessoas seja trans e continue havendo transfobia e exclusão, a exemplo da constante predominância
numérica de pessoas designadas mulher diante do machismo, ou a imensa maioria de pessoas
pobres diante do domínio dos ricos” (idem, 2016).
102
A reflexão que a autora apresenta possibilita pensar nas múltiplas faces das
desigualdades existentes no atual modelo de sociedade, que tem uma produção
coletiva da riqueza, mas no qual toda essa produção é apropriada por uma minoria,
o que gera diversas expressões da questão social, especialmente nos
desempregados que não tem acesso ao mercado de trabalho. Essas consequências
são uma das dimensões que atingem de forma crucial as necessidades mais
elementares da classe trabalhadora.
Pode-se perceber diante de tal conjuntura que “o conceito de desigualdade
sócio-econômicas leva a discutir, sobretudo, as formas renovadas de exploração do
trabalho e como apropriação privada dos resultados da produção social foi
intensificada nas últimas décadas” (CATTANI, 2012, p. 15), exploração essa que
rebate na vida dos(as) trabalhadores(as) nas suas particularidades, perpassando
dimensões de gênero, de raça/etnia e de sexualidade.
Dessa maneira, as desigualdades sociais que transcorrem no cotidiano das
travestis trabalhadoras formais, informais e/ou desempregadas em Natal/RN
constituem uma parte da totalidade da vida social. De tal modo, para pensar-se na
vida instável desse contingente, faz-se um diálogo com algumas autoras feministas
e transfeministas62 que possibilitam pensar a materialidade das expressões da
divisão sexual do trabalho e a cisgeneridade, como forma de traçar estratégias de
superação do atual módus operandi.
A desigualdade social pode ser compreendida sobre alguns aspectos,
principalmente quando relacionada a dimensões da concentração de riqueza que
constituiu-se como necessidade do desenvolvimento de alguns mecanismos, por
exemplo a “acumulação primitiva”, processo que permitiu a transição da sociedade
feudal para a sociedade capitalista, realizada pela expropriação de terras e,
sobretudo, dos(as) trabalhadores(as) dos meios de produção, constituindo-se esses
em livres e assalariados(as).
Outro mecanismo utilizado foi a racionalização da produção em decorrência
da divisão sócio técnica do trabalho. Nesse processo de transformações e de
63 Por Viviane V (2013). “O que vejo nas realidades e lutas trans*”. Disponível em:
<http://transfeminismo.com/o-que-vejo-nas-realidades-e-lutas-trans/>. Acesso em: 16 de junho de
2016.
64 Citamos os trabalhos de Saffioti (2013); Antunes (2010), (2011); Alves (2013), Diniz (2014) são
Falquet (2008).
105
destinadas aos homens e as mulheres, e pelo modo com o qual a sociedade utiliza
esses mecanismos para hierarquizar as atividades por intermédio do sexo/gênero
social, estruturados pelas “relações patriarcais de gênero”. Assim, aquela “é também
uma construção social e histórica. Se é certo que o capitalismo utiliza estratégia de
‘dividir para reinar’, a configuração dessas divisões é construída socialmente através
das relações de classe, de raça, de gênero e das práticas sociais” (SOUSA-LOBO,
2011, p. 173).
De tal forma, os estudos sobre essa temática durante os 30 anos desde a
década de 1970 centraram-se em duas abordagens: a análise que tratou apenas
das desigualdades existentes entre homens e mulheres, acúmulo e soma dessas
desigualdades; e a análise que as autoras, Hirata e Kergoat (2007), seguem sobre o
desvelamento das desigualdades, das origens e de compreensão da natureza do
sistema que as origina (HIRATA, KERGOAT, 2007).
Metodologicamente, e por posicionamento político e ideológico, a segunda
abordagem tem como suporte a análise das raízes dessas desigualdades na divisão
sexual do trabalho, de suas origens para que as transformações no mundo do
trabalho, sejam hierarquizadas e desiguais, e do modo como atinge a vida das
travestis. Os apontamentos críticos realizados pelas autoras centram-se na questão
das precarizações das mulheres cis. Assim como mediação, serão utilizadas essas
apreciações para aprofundar como a divisão sexual do trabalho rebate nas
particularidades das identidades travestis na cidade do Natal/RN.
Para tratar das transformações no mundo do trabalho, é necessário definir o
que seria “precarização do trabalho” e como essa faz parte da divisão sexual do
trabalho que atinge as mulheres cis e as travestis. Baseando-se nas análises de
Antunes (2011), a instabilidade estrutural do trabalho é parte de um processo
histórico, econômico, social e político; centra-se na sociedade capitalista
monopolista, resultado das profundas transformações estruturais advindas da crise
do capital.
Assim, é parte de “um processo de maior heterogeneização, fragmentação e
complexificação da classe trabalhadora” (ANTUNES, 2011, p. 47). Além disso, “essa
mudança na estrutura produtiva e no mercado de trabalho possibilitou também a
incorporação e o aumento da exploração da força de trabalho das mulheres em
ocupações de tempo parcial, em trabalhos ‘domésticos’ subordinados ao capital”
(idem, 2011, p. 51).
106
conhecer quem são, qual a realidade social em que estão inseridas e quais os
desafios que enfrentam no seu cotidiano social e profissional.
As histórias de vida e de trabalho que foram relatadas tiveram grande
significado, por proporcionarem uma reflexão a respeito da inserção das travestis no
mercado de trabalho, para uma identificação de suas necessidades sociais, das
dificuldades, das carências e das precarizações subjetivas e objetivas que enfrentam
cotidianamente. As entrevistas revelaram as condições de vida e de trabalho,
caracterizadas pela desigualdade social, pela subalternização, pelas violações de
direitos, pelas identidades marcadas por processos de enfrentamento à violência,
bem como por processos de superação e resistência em face das desigualdades
sociais, como pode ser observado no seguinte relato:
66“A imagem dos vasos comunicantes permite imaginar os reequilíbrios incessantes dos diferentes
modos de obtenção do trabalho: exploração, apropriação individual, apropriação coletiva” (FALQUET,
2013, p. 19).
110
67 O termo “bico”, utilizado nesse trabalho, é uma expressão coloquial utilizada para representar o
trabalho informal.
68 Tradução: Em um estudo realizado em 2005, durante a qual foi consultada 302 companheiras
travestis residentes na cidade de Buenos Aires, os subúrbios de Buenos Aires e na cidade de Mar del
Plata, descobriu que "o exercício da prostituição de rua é a mais importante fonte de renda para 79,1
% das parceiras pesquisadas. As colegas que também relatam encontrados outros empregos no
mercado informal, sem qualquer reconhecimento dos direitos dos trabalhadores em ocupações de
baixa qualificação e remuneração "(BERKINS, 2012, p. 224)
111
74 Nacionalmente a população Trans*(travestis, mulheres trans, homens trans) tem como uma das
pautas de luta a defesa pela aprovação da Lei de Identidade de Gênero, que tramita no Congresso
Federal, o PL é de autoria do Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL/RJ) e da Deputada Federal Érika
Kokay (PT/DF) “que estabelece o direito à identidade de gênero definida como a vivência interna e
individual do gênero tal como cada pessoa o sente, que pode corresponder ou não com o sexo
atribuído após o nascimento”. Disponível em: <http://ambito-
juridico.jusbrasil.com.br/noticias/100495477/projeto-de-lei-estabelece-direito-a-identidade-de-genero>.
Acesso em 1 de julho 2016.
115
das dificuldades vivenciadas por elas nas migrações, assim como as misérias que
sofreram em outros países fora da realidade brasileira.
Outras vivem no Brasil recorrendo à prostituição, algumas sob controle de
“cafetinas” ou “cafetões”, mas não pode-se generalizar essa situação da autonomia
do corpo das travestis em relação ao trabalho sexual. Haja vista em todas atividades
existem relações de poder e de apropriação, assim como os processos de
resistência. A pesquisa realizada por Benedetti (2005) apresenta certos aspectos
sobre as explorações que as travestis vivenciam no mundo da prostituição:
75 Antunes (2010) apresenta as características dos trabalhadores informais tradicionais como sendo
trabalhadores “ocasionais” ou “temporários” – realizam trabalhos informais quando estão
desempregados os típicos “bicos”, mas tem por objetivo retornar ao trabalho assalariado – alguns são
digitadores, faxineiras, salgadeiras, cabeleireiras, principalmente pelas dificuldades encontradas em
tempos de crise. De modo que a sociedade impõe diversas barreiras para a inserção das travestis
nos trabalhos formais.
119
isso surge uma gama de fatores que precarizam ainda mais a classe trabalhadora.
Sendo assim,
37,50%
62,50%
.
É tudo aquilo que eu lhe disse, se você for hétero e não tem uma
formação escolar, uma formação qualificada e não tem uns cursos
básicos, ou tem uns cursos, mas não tem uma formação certa então
você como hétero já complica imagine você se você não for hétero?
Até para você ser hétero você precisa ter uma aparência formal
como eles querem, você tem que ter uma aparência boa, você não
pode estar com uma tatuagem, você não pode estar cheio de
pincing, aqueles cabelos grandes, barba mal feita, você tem que está
bem aparentavel, então assim imagine para a travesti? (CAMILLE
CABRAL – CABELEIREIRA INFORMAL).
Afinal, o que somos nós senão a zona cinzenta no rosto por não
termos como arcar com a depilação a laser, nossa mão grande,
gogó, ombros largos, testa protuberante, voz característica? O que
somos nós senão o genital com que nascemos, espremido numa
calcinha apertada, e que tratam como se estivesse estampado em
nossa testa? O que somos nós senão esse peito que se recusa a
crescer mesmo com doses cavalares de hormônio? O que somos
senão a cicatriz dos socos, facadas, tiros que levamos? (MOIRA,
2016)76
Nesse sentido, o “corpo abjeto” das travestis, que escapa da rigidez binária, é
visto pela sociedade patriarcal por diversos símbolos, marcas e formações
subversivas, sofrendo consequências postas pelo sistema cissexista que não
permite esse rompimento, baseado em valores conservadores que recaem,
inclusive, na precarização desse segmento no sistema produtivo.
Dadas as expressões construídas social e culturalmente, tem-se assim a
materialização manifestada na formação da divisão sexual do trabalho, os
indicadores da instabilidade do emprego – “desvalorizados(as)” – e o desemprego
em âmbito internacional que atinge o contingente feminino, evidenciam as condições
de marginalidade e de subalternidade que são: ausência de proteção social; salários
baixos e que levam frequentemente à fragilidade; níveis baixos de qualificação; o
não acesso aos principais direitos (carteira assinada desde o primeiro dia de
trabalho, repouso semanal, férias remuneradas de trinta dias, vale transporte com
desconto de no máximo 6% do valor do salário e décimo terceiro).
Conforme a pesquisa de campo, Camille Cabral, Brenda Lee e Claúdia
Wonder são as que estão na informalidade, seus relatos demostram algumas
características de contratos frágeis. A única que possui seu próprio empreendimento
é Claúdia Wonder, proprietária de um salão, além de ser a única que contribui com a
previdência social.
Sou cabelereira, não tenho o meu próprio salão porque não quero,
porque assim do jeito que você precisa, você tem seu tempo
disponibilidade de ir a um salão o salão está lá disponível para você,
124
77 Grifo nosso.
125
78 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições eqüitativas e
satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação
alguma, a salário igual por trabalho igual. (Artigo 23 – Da Declaração Universal dos Direitos
Humanos).
127
79Disponível em: Taxa de desemprego no Brasil sobe para 7,9% no primeiro trimestre, este trecho é
parte de conteúdo que pode ser acessado em: http://www.valor.com.br/brasil/4039442/taxa-de-
desemprego-no-brasil-sobe-para-79-no-primeiro-. Acesso em: 10 de agosto de 2015.
129
desempregados, na maioria das vezes, não diferenciam raça, classe, etnia, geração
e gênero, quiçá sexualidade.
De modo que a atual conjuntura apresenta desafios organizacionais para a
classe proletária, sobretudo com relação à escassez e à instabilidade das ofertas de
trabalho como extensão das consequências da reorganização da cadeia produtiva.
Tal fato é um dos desafios do setor, visto que suas problemáticas vão além daquelas
relacionadas ao desemprego; abrangem, pois, a questão da redução dos salários e,
principalmente, as pautas que englobam as particularidades da população Trans*.
Constitui-se, assim, desafios para a luta da classe trabalhadora contra a
transfobia simbólica e material que renegam as identidades travestis relegando-as
às margens. O sentimento de subalternidade fica explícito na fala de uma das
entrevistadas, quando perguntada sobre os desafios que essa população enfrenta
no mercado de trabalho:
É importante frisar que, para Heller (1992), a vida cotidiana se constitui pelo
trabalho e se apresenta de forma complexa, heterogênea e, principalmente,
hierarquizada; o que vai ao encontro daquilo que foi constatado nessa pesquisa,
como mostra a fala de Jovana que, embora tivesse um curso técnico de
enfermagem, só se inseriu no mercado de trabalho a partir do concurso realizado
pelo Estado do Rio Grande do Norte. O preconceito materializa-se na vida cotidiana
de trabalho como violação da negação da visibilidade Trans*, havendo, portanto,
poucos espaços de aceitação para as travestis, fato explicitado na seguinte
entrevista:
Outra situação relatada nas experiências das travestis entrevistadas, foi com
relação ao trabalho como uma forma de “ter dignidade”. Entretanto, os problemas
enfrentados quando elas deixam seus currículos em lojas nos shoppings mostram
como essa “dignidade” é rompida, mediante os preconceitos que enfrentam nesses
espaços, a negação, os olhares constrangedores. Mesmo assim, “apesar de
desqualificado, monótono, repetitivo e sem criatividade, o trabalho configura-se
como uma forma de ser, uma forma de inserção digna na vida social, um caminho
para ‘ganhar a vida’, uma identidade social” (YAZBEK, 2006, p. 98).
Esse aspecto faz parte, de forma contraditória, do trabalho nesse modelo de
sociedade que é produzido e reproduzido de forma alienada, dicotômica e
exploradora. A coisificação do ser humano, ainda constitui uma das principais
formas de suprir as necessidades mais elementares como alimentar-se, vestir-se,
habitar. Para as travestis que fazem parte de uma classe socialmente marginalizada,
o trabalho torna-se um elemento consubstancial de suas vidas. De tal modo, quando
se pensa no desemprego relacionado às travestilidades muitas questões são
perpassadas, e uma delas é a da qualificação.
Na pesquisa percebe-se que apenas uma das interlocutoras é graduada – a
professora Marsha Johson – e outra é técnica – Jovanna Cardoso. Para elas, a
única forma de inserção no mercado de trabalho formal seria por meio da
necessidade de se qualificarem, estudarem, fazerem uma graduação e um concurso
público:
FONTE: http://www.revistaforum.com.br/2015/07/24/colegio-anglo-e-denunciado-por-transfobia/
83“Colégio Anglo é denunciado por Transfobia”, por Leo Moreira Sá, no Jornalistas Livres. Disponível
em: <http://www.revistaforum.com.br/2015/07/24/colegio-anglo-e-denunciado-por-transfobia/>.
Acesso em: 14 de janeiro de 2016
138
em atos violentos contra a população LGBT. Além disso, entender que a homofobia
“revela-se como contra face do sexismo e da superioridade masculina, na medida
que a homossexualidade põe em perigo a estabilidade do binarismo das identidades
sexuais e de gênero, estruturadas pela polaridade masculino/feminino” (RIOS, 2009,
p. 64).
Alguns autores trabalham com a noção de heteronormatividade. Considera-
se, a título desse trabalho, que essa categoria tem sua importância no plano da luta
política. Louro (2009) expõe que os Estados Nacionais, no advento da sociedade
capitalista, necessitaram de parâmetros para controlar a população, principalmente
aqueles que estão fora dos padrões então estabelecidos como normais. Entretanto,
acredita-se que a heterossexualidade nos moldes atuais de sociedade funciona não
como uma norma, mas como uma ideologia (que tem como bases materiais a
divisão sexual do trabalho, a violência e a transfobia) que recria, conforme suas
necessidades, formas de opressão.
O sentido de apresentar os dados da transfobia, em âmbito nacional, justifica-
se pela importância de se compreenderem as negações que as travestis sofrem na
realidade brasileira, as violações de direitos que recaem sobre elas. Considera-se a
expressão da violência transfóbica como o ápice do machismo da sociedade
cissexista, que nega a possibilidade dessas pessoas serem respeitadas como
sujeitas de direito. Assim, os dados da transfobia no Brasil expressam o modelo de
sociabilidade que vive-se, uma estrutura de violência física que se propaga de
diversas formas, como identificado nesse estudo nas negações ao acesso ao
mercado de trabalho.
Nesse aspecto, a materialização do preconceito/discriminação contra LGBTs
na sociedade brasileira, principalmente contra travestis, é contabilizado
mensalmente por intermédio de órgãos institucionais não governamentais e pelo
próprio movimento, que recebe, diariamente, denúncias. De tal modo, situa-se em
nível internacional a Organização Não-Governamental Transgender Europe (TGEU),
a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) e o Grupo
Gay da Bahia (GGB), que realizam a coleta desses dados
Em nível governamental, serão trabalhados os dados disponibilizados a partir
do ano de 2011, que são os primeiros a serem contabilizados pela Secretária de
Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, em relatórios lançados
anualmente. No entanto, até o momento de realização dessa pesquisa, a SDH
142
lançou apenas os relatórios 2011 e 2012, pelo o disque 100 que recebe
cotidianamente inúmeras denúncias de violações de direitos humanos, inclusive de
violência contra população LGBT.
FONTE: https://homofobiamata.wordpress.com/estatisticas/relatorios/
85Dado disponível no Relatório da violência homofóbica no Brasil realizado pelo Grupo Gay da Bahia.
Disponível no site: <http://homofobiamata.files.wordpress.com/2012/05/o-mapa-gays-570.jpg>.
Acesso em: 16 out. 2014.
143
assédio contra a população Trans* é parte de uma realidade que afeta muitas
travestis, caso da professora Luiza Coppieters em São Paulo, que ganhou
visibilidade. “Luiza conta que logo depois da transição, ocorrida em 2014, seu
espaço e atuação dentro da escola foram gradualmente sendo delimitados. Ela
sofreu cortes de número de aulas e a diminuição de seu salário, o que inclusive é
crime trabalhista” (REVISTA FÓRUM, 2015)88.
Sim já, ave Maria, já trabalhei aqui num salão que ela exigia que eu
vestisse roupa de “homem” e eu pensava “ai meu pai do céu”, mas
quando era no sábado só de ruim eu pegava colocava meu shortinho
curtinho e ia trabalhar, ela ficava se cortando, pra completar o marido
dela bateu uma foto do meu bumbum aí só foi a treva, mas eu
aguentei até um certo momento...
88 Reportagem “Colégio Anglo é denunciado por Transfobia” por Leo Moreira Sá, no Jornalistas
Livres. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/2015/07/24/colegio-anglo-e-denunciado-por-
transfobia/. Data de acesso dia 14 de janeiro de 2016.
147
ambiente de trabalho, usando roupas tidas como “masculinas”, para não perder o
emprego. Segundo sua empregadora não permitia visibilidade da identidade de
gênero travesti naquele local. Terceiro, constatou-se que tal atitude caracteriza-se
por ser constrangedora, vexatória, humilhante e preconceituosa; uma relação de
poder entre patroa e trabalhadora. Dificilmente Claúdia iria se contrapor a essas
atitudes, pois necessitava da remuneração, que durante um tempo economizou para
montar seu próprio empreendimento e sair dessa situação. Ela conta como:
Não denunciei. Fui juntando meu dinheiro, um dia saio daqui, um dia
saio, no último dia peguei o shortinho, uma blusinha e fui lá aí ela
falou =eu não quero você assim aqui – aí eu falei – “pois pode
arranjar um cabelereiro ou uma cabelereira porque eu uso e não vou
trabalhar mais aqui vou abri o meu salão”, até hoje ela nunca veio
aqui no meu salão, ela bem poderia ficar feliz, mas não e diz que é
minha amiga (CLAÚDIA WONDER – CABELEIREIRA).
A luta para nos encaixarmos no padrão feminino cis (coisa que nos
faz ser acusadas de “reproduzir estereótipos de gênero”) é a forma
que encontramos para diminuir a violência a que estamos sujeitas:
quanto mais sucesso tivermos nisso, mais deixaremos de ser alvo da
transfobia para sê-lo apenas da misoginia (MOIRA, 2016)89.
Me amam até demais, minha mãe até então ela não me chama, é
muito difícil, eu já vi várias amigas minhas que mudaram o nome no
RG, que são “operadas”, mas que as mães não conseguem chamar
pelo nome social feminino. Eu não ligo não, pela minha família ligo
não, é mais constrangedor fora, as vezes o nome é muito relativo,
você denominar uma pessoa por conta de um nome, um artigo “o” ou
“a”, tem tantos bichos que tem um nome só e que são machos e
fêmeas tipo jacaré é macho ou fêmea, é um jacaré, cobra é macho
ou fêmea e a gente tem de definido por um “o” ou um “a”, um
binarismo muito forte, e tem tantos nomes de pessoas que é
151
Não, ainda não, vou ver se vou na secretária como levo mais o
tempo no trabalho, estou esquecendo essa questão que é mais
importante o meu nome, porque na minha escala está vindo o meu
nome do registro. Então é constrangedor quando vem na minha
escala o nome que nem gosto, em vez de vir Jovanna vem fulano.
Fica exposto para minhas colegas, tem gente que me conhece como
Jovanna que não sabe que é fulano... oxe quem é essa pessoa? Aí
as pessoas precisam explicar... e no começo que eu ficava me
perguntando – como me apresento? Apresento meu nome como?
Agora não, quando alguém liga eu falo – meu nome é Jovanna eu
me identifico mesmo pelo meu nome, eu acho que no meu trabalho
eu não preciso dar satisfação a todo mundo (JOVANNA CARDOSO
– TÉCNICA DE ENFERMAGEM).
FONTE: http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/20471#.VpfqCRUrLIU
153
90 “A universidade precisa ter ‘cara de povo’, afirma ativista Trans”. Disponível em:
<http://www.revistaforum.com.br/semanal/universidade-precisa-ter-cara-de-povo-afirma-ativista-
trans/>. Acesso em: 25 de julho de 2016.
155
Após a abertura política, já nos anos 80, outros grupos foram criados
e a constituição do movimento LGBT, na época movimento
homossexual, ganhou outra face. É necessário destacar também o
advento da AIDS, um dispositivo que de inquisidor tornou-se
motivador de luta, e a desestigmatização da AIDS como ―peste gay
passou a ser um pilar central no reconhecimento das questões LGBT
no Brasil. É neste período que os primeiros grupos de ativismo
passaram pelo processo de onguização, justificado na necessidade
de institucionalização para pleito de financiamento, para
desenvolvimento de atividades de prevenção a AIDS.
Uma parte dos movimentos sociais existentes no final dos anos 1980 passa
por refluxos, principalmente transformando-se em ONGs, que apresentam alguns
impactos ideológicos na sociedade no que diz respeito aos futuros projetos
societários que seriam construídos. Tal processo não foge ao movimento LGBT,
uma vez que muitos ex-militantes e ex-políticos deixaram a militância política e
passaram a se organizar em organizações com pautas focalizadas, “apoiadas, em
sua maioria, em fontes de financiamento internacional, não mais estavam coligados
a partidos e a um projeto social e político comum, mas em demandas específicas”
(FONTES; 2010, p. 231).
163
É nesse período que o Brasil foi marcado pela ofensiva das políticas
neoliberais, iniciadas durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Melo
(1989), prosseguindo nos mandatos dos governos do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (1994 a 2002). Para Harvey (2008), o neoliberalismo é, em
primeiro lugar, uma teoria das práticas políticas-econômicas que propõem o bem-
estar humano, pelo fomento às liberdades e capacidades empreendedoras, sob um
viés da mercantilização, de estruturas pautadas na propriedade privada e no livre
comércio.
É nesse ideário que a governabilidade brasileira executa uma forte
contrarreforma do Estado, sob especulação do capital, que incidiu, inclusive, na
fragmentação e despolitização de muitos partidos políticos, sindicatos e movimentos
sociais. Neste sentido, o movimento LGBT, durante o período mencionado,
experimenta uma forte institucionalização por meio das ONGs, principalmente com
trabalhos voltados para pautas específicas, como, por exemplo, o combate ao
HIV/AIDS (IRINEU, 2009).
A partir da “neoliberalização”, conforme Harvey (2008), tem-se a
intensificação da ofensiva que atinge, de diversos modos, a vida social – a
“mercantilização de tudo” –, principalmente na defesa intransigente da propriedade
privada e uma forte desumanização das relações sociais, pautadas em uma esfera
do crescimento econômico.
Como consequência das relações apontadas, o Estado acaba criminalizando
movimentos sociais que se encontram na resistência, mercantilizando determinados
direitos, quais sejam: educação, saúde, previdência social, assistência social e
segurança. Além disso, ocorre “a mercadificação da sexualidade, da cultura, da
história, da tradição; da natureza como espetáculo ou como remédio; a extração de
renda monopolista da originalidade; da autenticidade e da peculiaridade” (HARVEY,
p. 179, 2008).
Diante da uma conjuntura complexa em termos políticos e econômicos as
travestis e transexuais passaram a se organizar organicamente na perspectiva de
movimento social organizado. A partir dos anos 1990, principalmente com a
organização desse segmento em torno do combate ao HIV/AIDS, as travestis e
transexuais organizaram o primeiro Encontro Nacional de Travestis e Transexuais
que Atuam na Luta contra a AIDS (ENTLAIDS).
164
93 “A Casa de Apoio Brenda Lee é uma entidade civil de caráter beneficente, sem fins lucrativos, que
acolhe o público GLBTT (Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Transgêneros) portadores de
HIV/AIDS. Para casos de pessoas deste grupo que estejam sem moradia fixa, sem tratamento de
saúde adequado e sem condições de manterem-se sozinhas, a Casa de Apoio Brenda Lee pode
ajudar. As pessoas que desejam ter o nosso apoio devem conversar com um assistente social ligado
à Casa de Apoio para serem atendidas”. Disponível em: http://www.casabrendalee.org.br/#!sobre-
nos/aboutPage. Acesso dia 19 de julho de 2016.
165
Mas antes dessa época ela já existia não de fato de direto, só existia
somente de fato, a gente já trabalhava desde 1993. A perspectiva da
criação da instituição a gente passou por várias discussões para
poder chegar em um nome, por exemplo ia ser RENATA, mas
RENATA era um nome próprio, depois foi a RENTRAL, foi mudando
até chegar num denominador da palavra ANTRA que até então era
Articulação Nacional de Transgeneros (ENTREVISTA – CRIS
STEFANNY).
saúde, na educação, na cultura e no labor. Por ser uma instituição que atua
nacionalmente, a ANTRA possui alguns sujeitos políticos que se articulam em
espaços deliberativos de poder em busca de estratégias políticas.
Desde o final dos anos 1980, apresenta-se como uma nova característica dos
movimentos sociais, principalmente do diálogo do Estado com a sociedade civil,
maior participação nos órgãos de controle, pois, desde o ano de 1988, a participação
social foi ampliada via espaços de controle social das lutas sociais (IRINEU, 2009),
como é o caso, por exemplo, da participação da ANTRA nos conselhos nacionais de
saúde, de combate à discriminação LGBT, de segurança pública e da mulher, que
são “fortalecidos pelas conferências de direitos (conferência de saúde, assistência
social, da mulher, igualdade racial e recentemente a LGBT), que consistem em
espaços de ampliação da participação da sociedade na política nas três esferas”
(IRINEU, 2009, p. 12).
Neste sentido, por intermédio da participação desses espaços de deliberação
política, o movimento Trans* no Brasil conseguiu conquistar, com o enfretamento
político, algumas políticas públicas. Assim, no tópico que se segue, fez-se uma
análise sobre quais foram as conquistas da população travesti em torno das
Políticas Públicas de renda e trabalho para esse segmento, os limites dessas
políticas e quais os desafios a serem enfrentados pelo movimento Trans* na
realidade brasileira. Como recorte, fez-se uma análise do governo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e do primeiro governo da presidente afastada
Dilma Rousseff (2010-2014)
167
relação na teoria gramsciana com o Estado. Deste modo, não se pode esquecer que
a sociedade civil é composta por organismos que estão na luta de classes para
conservar ou conquistar hegemonia, descritos como organizações políticas,
sindicatos, movimentos sociais, organizações trabalhistas, partidos, sistema
educacional, escola, universidade, meios de comunicação, mídia, jornais e igreja.
Nesse sentido, Marx e Engels (2003), apresentam aporte interessante sobre a
questão do Estado considerando esse, portanto como a síntese das relações de
produção capitalista, representando interesses da classe dominante. De tal forma, “o
Estado capitalista não pode ser outra coisa que instrumento de dominação de
classe, pois se organiza para sustentar a relação básica entre capital e trabalho. Se
fosse diferente, o capitalismo não se sustentaria por muito tempo” (HARVEY, 2005,
p. 84).E é com base em Marx, Engels e Lênin que Gramsci amplia o conceito de
Estado, conforme se segue:
classe pode realizar tal transição, apresentando, assim, uma mediação sobre os
processos contraditórios do Estado.
97 “O termo “BBB” foi usado por Kokay pela primeira vez em uma reunião da bancada do PT na
Câmara no início do ano, e arrancou risadas dos colegas. A expressão não tardou a se difundir entre
parlamentares de partidos de esquerda, que também identificam nessa articulação uma ameaça aos
direitos humanos e das minorias. “Desde a discussão do Código Florestal, em 2012, os ruralistas
buscam essa aproximação com os evangélicos. Logo depois, eles estavam unidos em torno da PEC
215, que retira do Executivo a prerrogativa de demarcar Terras Indígenas, transferindo-a para o
Congresso. Mais recentemente agregaram a Bancada da Bala”, afirma o deputado Ivan Valente, do
PSOL. “Com Eduardo Cunha na presidência da Câmara, essa aliança consolidou-se. Até porque
esses grupos ajudaram a elegê-lo.”” (MARTINS, 2015). Texto intitulado: A bancada BBB domina o
Congresso, Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/revista/844/bbb-no-congresso-1092.html>.
Acesso em: 14 de junho de 2016.
173
Supõe-se, segundo essa lógica, que todas as pessoas sejam (ou devam
ser) heterossexuais – daí que os sistemas de saúde ou de educação, o
jurídico ou o midiático sejam construídos à imagem e a semelhança desses
sujeitos. São eles que estão plenamente qualificados para usufruir desses
sistemas ou de seus serviços e para receber os benefícios do Estado.
(LOURO, 2009, p. 90)
100 Relatórios sobre os índices de homofobia no Brasil anos de 2014 à 2015. Disponível:
<https://homofobiamata.wordpress.com/estatisticas/relatorios/>. Acesso em: 04 de maio de 2015.
181
Destarte, foi possível observar que não há força e vontade política por parte
de Dilma Rousseff em considerar as diversas formas de violências sofridas por
aqueles sujeitos. Consequentemente, a mandatária optou em ouvir e dar voz e vez
aos setores conservadores, vetando o Projeto de Combate a Homofobia nas
Escolas, sobre o princípio que não permitiria propagandas de “opções sexuais em
seu governo”. Como se sabe, o Movimento LGBT não adota o termo “opção sexual”,
mas sim, “orientação sexual”.
Conforme Pedro Chequer, coordenador do Programa Conjunto das Nações
Unidas sobre HIV/AIDS no Brasil (UNAIDS), a atitude da presidenta foi, sem dúvida,
uma postura retrógada: “A mensagem de independência pode ser substituída por
uma postura retrógada, de quem restringe suas ações em virtude de dogmas
religiosos101”, podendo acarretar na erosão do Estado laico, no retorno de valores
religiosos para a política.
Atualmente tem-se um nítido período de teor conservador. Sobre tal questão,
o ano de 2013 foi extremamente expressivo, pois marcou a história de grandes
embates entre os evangélicos e os Movimentos LGBT, feminista e negro. Assim, foi
possível identificar, por meio das bancadas religiosas, os conflitos entre o Estado e
aqueles setores. Neste sentido, Gramsci fornece elementos que são atualíssimos
em suas análises para pensar as correlações de força:
limites sobretudo com ações concretas, com políticas públicas efetivas para a
população Trans* que cotidianamente vivencia diversas opressões, pois não adianta
ter uma formação se o mercado de trabalho não vai inserir essa pessoa por conta do
preconceito e da transfobia e outros determinantes sociais que impendem muitas
vezes de inserir uma pessoa que é qualificada para trabalhar por conta do estigma
social construído sobre essas identidades, como expressa na entrevista de Cris
Stefanny:
Sabe-se que não existe nenhuma lei no Brasil que criminalize a LGBTfobia,
nesse sentido fica difícil para uma travesti ou transexual fazer uma denúncia desse
caráter, mesmo ela denunciando no Disque 100 da Secretária da Presidência da
República (SDH), para que tramite o processo no Ministério Público (MP) levará
dias, não que essa deixe de denunciar.
Geralmente a denúncia tem que ser feita, para que sejam contabilizadas as
violências e que sejam desenvolvidas políticas públicas efetivas de combates as
essas práticas, no entanto mesmo com os altos índices de violência contra
população Trans* no Brasil não se tem nenhuma medida de combate as essas
práticas de forma efetiva e combativa.
Identifica-se, assim, muitos retrocessos no campo dos direitos desse
segmento, como exemplo citamos a decisão pelo engavetamento do Projeto de Lei
(PLC) 122 da Senadora Federal Marta Suplicy em 2011, esse que além de
criminalizar a LGBTfobia reconhecia as identidades de gêneros das Travestis e
Transexuais no Brasil.
Dessa forma, como percorreu até nesse momento o Estado é o campo
mediador desses direitos da população Trans* no Brasil. É nessa arena de conflitos
sociais que essa população resiste na defesa por direitos para esse segmento.
Apreende-se que o direito tem uma função ideológica no capitalismo de manutenção
191
Órgãos Gestores com Políticas Públicas voltadas para 14% dos municípios (383)
população LGBT.
FONTE: http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2260
193
Chesnais (2008), a crise que está colocada possui características comparáveis com
a de 1929, mas que seus efeitos somente foram sentidos a partir de 1933, com
longa fase de recessão – resultado dos limites históricos do capital.
Ainda conforme aquele autor, para a superação desses limites, o capital tem
adotado algumas medidas, tais como: o processo de liberalização da economia e do
comércio; o desenvolvimento do capital fictício e dos meios de créditos para a
ampliação das demandas insuficientes do capital através da financerização da
economia; e, a reincorporação dos países ao grande capital (Rússia e seus
seguidores, e a China, por exemplo) (CHESNAIS, 2008).
O fundo público vem sendo utilizado para amortizar a dívida externa e,
principalmente, para salvar os bancos da crise financeira. Neste sentido, o Estado
tem uma função extremamente importante para a manutenção da acumulação
capitalista. Chesnais (2000, p. 11) destaca que o Estado não é “exterior” ao mercado
financeiro, mas faz parte do desenvolvimento econômico do capital, assegurando,
por exemplo, as medidas para as retomadas das taxas de lucratividade (nesse caso,
com o viés do neoliberalismo, ou seja, “sem a ajuda ativa dos Estados, os FMN e os
investidores financeiros institucionais não teriam chegado às posições de domínio
que sustentam hoje e não se manteriam tão à vontade nessas posições”) (idem,
2000, p. 11).
Em relação às análises do fundo público, Fattorelli (2010) explicita que a crise
de 2008 não somente atingiu o hemisfério sul, mas como diversos país do Norte,
com forte endividamento público, transferindo seus recursos para os setores
financeiros, apresentando, como consequência, o endividamento, a financeirização
da economia e a injustiça social.
A dívida pública, pode ser uma expressão ou se não uma das maiores
expressões ligadas as desigualdades sociais e ao atraso da cultura política no Brasil
que reproduz inclusive no fomento e no déficit políticas públicas e sociais destinadas
aos LGBT's, claro que não desconhecemos que o atraso no fomento dessas
políticas, além disso, perpassa a um campo do moralismo e do conservadorismo,
mas também ao econômico e político, dado que a sociedade é uma totalidade una e
indivisível.
A auditoria da dívida externa pode proporcionar muitos recursos destinados
às necessidades sociais desse contingente. Neste sentido, o debate aqui
196
Estado trata de forma omissa a violência LGBTfóbica no Brasil, com redução ampla
dos recursos destinado a essa população:
travestis no mercado de trabalho. A luta pelo pleno emprego tem sido mundialmente
uma pauta contra os diversos mecanismos de exploração e opressão da atual fase
do capitalismo, sobretudo, na garantia de direitos para a classe trabalhadora. Sabe-
se da persistente reprodução desigual e combinada do capital, com a prospecção
das múltiplas expressões da questão social, acirrando as lutas no mundo do
trabalho.
A partir da organização dos sujeitos coletivos, outras pautas endossaram as
bandeiras de luta da classe trabalhadora em decorrência dos altos índices de
desemprego que atingem determinados segmentos. Ademais, quando se analisam
outros elementos, compreende-se que as múltiplas expressões da questão social
perpassam por recortes de classe, gênero e raça/etnia.
Diante do exposto, faz-se importante identificar quais os motivos da expulsão
das travestis no mercado de trabalho formal. Assim, é preciso ampliar tal questão a
partir da compreensão do ponto de vista dessas sujeitas – organizadas
coletivamente.
A representante da ANTRA, Cris Steffany, ao analisar a questão da grande
inserção dessa população na prostituição e os motivos que levaram tais indivíduos
aos referidos espaços, assevera:
103 “Parceria abre oportunidades de trabalho para travestis e transexuais” Disponível em:
http://www.joaopessoa.pb.gov.br/parceria-abre-oportunidades-de-trabalho-para-travestis-e-
transexuais/. Acesso dia 06/05/2016.
104 ATRAS – Associação de Travestis e Transexuais de Salvador. Disponível em:
http://www.curtosim.com.br/atras---associação-de-travestis-de-salvador. Acesso dia 06/05/2016.
202
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/prefeitura-lanca-programa-de-insercao-social-as-mulheres-
transexuais-582.html. Acesso dia 15/05/2016.
203
107
A obra Sobre a questão judaica é cheia de polêmicas. Durante muito tempo, o livro do Karl Marx
foi utilizado de modo indevido. Marx, muitas vezes, foi considerado antissemita, descontextualizado
no seu tempo histórico, sem fazer as devidas mediações cabíveis; por isso, a necessidade de
contextualizar a sua obra é fundamental para não se cair em equívocos. Sobre a questão judaica foi
escrita durante 1843 e 1844, publicado nos Anais Franco Alemão, em uma única edição, “para
escapar da censura da monarquia prussiana, dois ensaios que, ao romperem com o universo
conceitual jusnaturalista, rousseauniano e liberal, marcaram o efetivo início da sua contribuição
teórico-filosófica original” (TRINDADE, 2011, p. 69). O texto marca o rompimento de Marx com Bruno
Bauer – um jovem hegeliano. Para Marx, a crítica que Bruno Bauer fez sobre a questão judaica era
apenas de ordem filosófica, bem mais complexa, pois Marx considerava ser uma questão mais ampla
sobre uma perspectiva política e social.
206
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
108 Dado disponível na Instituição Não Governamental Transgender Europe (TGEU) disponível no
site: http://www.transrespect-transphobia.org/uploads/downloads/2014/TMM-Map-2014-
IDAHOT_ES.pdf. Acesso dia 18 de outubro de 2014.
220
110 Texto: “Nem um passo atrás”, por Gisele Teixeira, disponível em:
http://revistatrip.uol.com.br/tpm/direitos-transgeneros-na-argentina. Acesso dia 23/05/2016.
111 Texto: Gobierno promulga Ley de Identidad de Género, por Miguel Melendres, disponível em:
http://www.eldeber.com.bo/bolivia/aprueban-ley-transgenero-medio-desacuerdos.html. Acesso
dia 23/05/2016.
223
sentido de quando se tem um recorte de gênero nessas políticas elas não deixam de
ser meramente ideológicas, apresentando assim “[...] o pensamento neoliberal não
tem lugar para o gênero além de garantias vagas, de que a igualdade de
oportunidade no mercado irá resolver todos os problemas relativos à questão”
(IBIDEM, 2014, p. 12), como apontou-se nas análises desse trabalho, não existe
uma profunda discussão sobre as raízes que fundamentam essas desigualdades de
gênero no mundo do trabalho, tem-se apenas a mercantilização da vida humana
face exploração do capital.
Diante da conjuntura de crise econômica do capital; das complexas e
desafiadoras relações no campo da política macroeconômica; do avanço da ofensiva
neoliberal; do conservadorismo e fundamentalismo baseado na “cegueira moral” é
mais do que necessário nesse momento a organização coletiva dos/das sujeitos e
sujeitas, como explicita Silva (2011) é preciso o fortalecimento dos laços de
solidariedade entre os diversos segmentos sociais para assim fortalecer a luta contra
à barbárie social, e a todas formas de opressão e exploração, pois somente na luta
coletiva que poderá romper com a ordem: capitalista – racista – sexista e patriarcal.
Nesse sentido, para finalizar essas considerações aponta-se que as travestis,
no Brasil mediante organização coletiva essas sujeitas marcam a partir de seus
enfrentamentos e vivências elementos fundamentais que colaboram para o
rompimento de saberes hegemônicos pautados na dominação de aspectos
conservadores sobre a matriz de intelegibilidade de gênero e sexo, essas que à
revelia dos processos de dominação inscrevem nas histórias cotidianas de
enfretamento contra marcas deterministas, por via das transgressões.
Conclui-se que as Travestis com sua organização política e inserção nos
movimentos sociais denunciam cotidianamente a barbárie posta pelo
recrudescimento da transfobia em nível nacional, que se materializam nas violências
físicas e psicológicas; nas negações dos espaços de trabalho; nas reivindicações
por políticas públicas de combate as violências praticadas contra as travestis. O
desafio posto é a articulação das pautas de luta que tenham como horizonte o
enfretamento anti-capitalista, anti-patriarcal, anti-racista e anti-sexista e anti-
transfóbico.
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WOOD, Elen. Democracia contra Capitalismo. São Paulo, Ed. Boitempo, 2006.
239
240
6. APÊNDICE:
Esclarecimentos
Por intermédio deste termo são garantido-lhes os direitos de: retirar qualquer
momento e deixar de participar do estudo sem que isto me traga qualquer prejuízo; solicitar
a qualquer tempo, maiores esclarecimentos sobre esta Pesquisa entrando em contado com
o acadêmico pesquisador (telefone celular: (84) 96019807) ou sua orientadora (Telefone
celular (84) 99933131); ser devidamente esclarecido sobre os objetivos da pesquisa acima
mencionada de maneira clara e detalhada; sigilo absoluto sobre seus dados pessoais; a
ampla possibilidade de negar-se a responder a quaisquer questões ou fornecer informações
que julguem prejudiciais a sua integridade física, moral e social.
Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados
serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que
ela trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da
pesquisa “A inserção precária das Travestis no trabalho formal e informal em
Natal/RN”, e autorizo a gravação da minha entrevista, e divulgação das informações por
mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado possa
me identificar conforme a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que
regulamenta as pesquisas envolvendo os seres humanos.
NOME:____________________________________________
ASSINATURA:______________________________________
PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Tibério Lima Oliveira
RUA: Das Gardênias; Mirassol; n. 1885.
CEP: 59077-020 FONE: (84)96019807
Impressão
datiloscópica do
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes – participante
CEP/HUOL. Av. Nilo Peçanha, 620 – Petrópolis – Natal/RN
Fone: (84)3342 5003. Email: CEP.huol@yahoo.com.br
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ROTEIRO SEMI-ESTRUTURADO I
II – CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL:
I – ORGANIZAÇÃO POLÍTICA: