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Clara Moura Guedes

Saloio há 40 anos

David Oitavem
F
undada em 1968, começou por ser uma Como surgiu a necessidade de obter uma cer- tratégico, não operamos na área dos commodi-
empresa familiar, fabricando pequenas tificação de responsabilidade social? Fazem- ties. Mais de 40% do mercado são queijos fla-
quantidades de queijo, mas desde sem- no para vos diferenciar da concorrência ou mengos e nós não operamos nesse campo, e é
pre considerada bastante proactiva, seja porque acreditam que os levará a fazer um sempre difícil ter uma posição de liderança
do ponto de vista da produção ou da tecnolo- melhor produto? quando, por decisão nossa, não queremos es-
gia. Em 1995 a família que era proprietária Somos uma empresa que tem uma estrutura tar nesse sector porque achamos não ter di-
vendeu-a a um fundo de investimento de ac- de accionistas financeiros, ou seja, com muito mensão. Não seríamos competitivos em ter-
cionistas institucionais, e deu-se a criação da pouca ligação operacional com a empresa. E mos de preço, e achamos que é difícil obter
Saloio Holding Limited. Nessa altura ocorrem isso faz com que nós dependamos totalmente uma grande diferenciação nesse campo. E não
grandes mudanças, com a profissionalização daquilo que construirmos na própria empresa. é isso que o consumidor está à procura.
da gestão e uma reestruturação comercial e da As certificações acabam por ser um apoio, no
parte de investigação e desenvolvimento. sentido de estruturar, organizar e disciplinar O que os diferencia da concorrência?
Em 2001 adquirem a quarta empresa do sec- certas áreas. Para nós a certificação tem um Aquilo que eu acho que é um aspecto funda-
tor – a Baral – ficando a Saloio na terceira po- duplo objectivo que é, por um lado, organizar mental é ter marcas fortes. Nós fomos admiti-
sição, como, de resto, aconteceu até agora e e estruturar internamente, e por outro, é tam- dos recentemente na rede de PME Inovação
desde aí. Em 2003 obteve a certificação ISO bém uma garantia para os parceiros com os da COTEC, onde estão presentes, maiorita-
9001:200 para «produção e comercialização quais nos relacionamos, quer a montante quer riamente, empresas tecnológicas. Há poucas
de queijo curado, queijo fresco e requeijão», e a jusante. Nós temos as relações com a distri- empresas dos fast moving consumer goods e para
está já em processo final a certificação ambien- buição, obviamente, mas também temos todo nós é um grande reconhecimento terem-nos
tal e de responsabilidade social pelas normas o relacionamento com produtores de leite, aceite nesta rede. Por outro lado, o portfolio é,
ISO 14001:2004 e SA 8000. No início está que é muito relevante para nós. Achamos que para nós, um factor de diferenciação muito
ainda o processo de certificação IFS (Interna- este aspecto de sermos certificados em várias relevante. A inovação é um aspecto estratégico
tional Food Standard), norma reconhecida in- áreas é uma garantia para os nossos parceiros. muito importante no sentido de conseguir-
ternacionalmente. E foi por este prisma das mos em cada momento acompanharmos as
certificações que iniciámos a conversa com A Saloio está em terceiro lugar no mercado. O tendências de consumo. Achamos que o mer-
Clara Moura Guedes, administradora delega- primeiro posto é um objectivo a longo prazo? cado de queijos é um mercado relativamente
da da Saloio. É difícil porque nós, por posicionamento es- tradicional, e não tem sido esse o nosso tipo
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“A arte do queijo tradicional”. É com esta frase que a


Saloio se apresenta aos consumidores. Com um portfolio
de produtos que ultrapassam a centena de referências,
navega há já 40 anos no mercado nacional, tendo
sempre a inovação como farol. Tem no queijo Palhais o
seu bestseller, representando 20% das suas vendas.
David Oitavem
de abordagem. Também nos diferencia o facto
de sermos uma empresa relativamente peque-
na e, ao não pertencer a um grupo, temos uma
liberdade de actuação muito maior do ponto
de vista de desenvolvimento de produto.
Diferenciador é o nosso posicionamento, deli-
berado, no sector das especialidades. Esse é
um sector que nos dá uma amplitude de ope-
ração muito maior, e achamos que isso é um
aspecto muito importante: o facto de termos
uma dinâmica de colocação de produtos no
mercado e de desenvolvimento de propostas
diferentes para o consumidor.

Qual o investimento na investigação e desen-


volvimento de novos produtos?
Investimos cerca de 1% da nossa facturação.

E isso traduz-se em quantos lançamentos no-


vos por ano?
Cerca de dez referências. Também retiramos
outras tantas, senão não era exequível a nível
de gestão. Temos três eixos de desenvolvimen-
to fundamentais. Por um lado o prazer, por-
que a nossa missão é «a excelência e o rigor, do
saber e do sabor». Achamos que o prazer é um
vector fundamental nesta área. Os nossos pro-
dutos são alimentares, são para as pessoas co-
mer, e portanto têm que gostar. Não pode ser
o conceito antigo do óleo de fígado de baca-
lhau, que pode fazer muito bem, mas é horrí-

«Nós somos grandes fãs


da ASAE, que tem tido
um papel fundamental
na disciplinação
do mercado e,
nomeadamente, do
nosso sector».
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vel. Queremos oferecer produtos às pessoas de nossa linha de desenvolvimento de produ- nos mercados externos. Quais são os vossos
que elas gostem. tos, porque é, no fundo, quase como um up- principais mercados estrangeiros?
Outro eixo é a saúde, com produtos funcio- grade daquilo que tínhamos até agora. Por Para onde vendemos mais em valor absoluto é
nais que tragam algum valor acrescentado nes- outro lado, desenvolvemos estes produtos para a Alemanha, mas vendemos para muitos
se sentido. Temos bastantes, desde os magros que precisavam de ser apresentados ao con- outros mercados. Em Espanha estamos pre-
aos enriquecidos em cálcio e é uma tendência. sumidor, porque são de muito mais valor sentes na cadeia Carrefour com óptimos resul-
Hoje em dia é juntar ao útil ao agradável, e se acrescentado que a generalidade das nossas tados. Estamos também, como toda a gente,
uma pessoa comer uma coisa que faz bem e gamas. A ajudar a isto, verificamos, e todos em Angola, e noutros países, como Inglaterra,
sabe bem, ainda melhor. vêem isso, que as pessoas procuram coisas França, na Bélgica, no Luxemburgo, em Ma-
O terceiro é o eixo da conveniência e também diferentes, especiais, edições limitadas. A cau, e começámos agora nos estados Bálti-
tentamos ir muito por aí. Produtos práticos, co- segmentação tradicional não faz nenhum cos...
mo é exemplo a nossa gama para saladas, pronta sentido hoje em dia porque as pessoas rea-
para misturar, ou mesmo para comer isolada- gem de formas diferentes consoante a situa- A vossa comunicação tem alguma sazonalida-
mente como entrada. Achamos que esse é um ção, e o consumidor pode procurar commo- de, além da normalmente associada ao lança-
aspecto que nos diferencia muito da restante dities em certas área da vida e pode procurar mento de novos produtos?
concorrência, e por uma razão: somos uma em- águas que vêm da nascente do vulcão na Nós somos uma empresa pequena, não pode-
presa de âmbito nacional, ou seja, estamos pre- Austrália, que custam 50 euros. E em relação mos investir em muitas marcas e investir nu-
sentes em toda a distribuição. Não há nenhuma ao gourmet, a verdade é que tivemos uma re- ma já é difícil. Optámos por fazê-lo na marca
Palhais, que é a nossa gama de queijos e man-

David Oitavem
teiga de cabra. Temos vindo a construir a mar-
ca Palhais e já investimos aí há vários anos.
Tentamos regulamente, todos os anos, fazer
duas vagas de comunicação em televisão na
gama Palhais. Temos tido excelentes resulta-
dos porque é uma das marcas do mercado
com maior notoriedade, o que é excelente pa-
ra uma empresa do nosso tamanho. Para além
disso, temos tido presenças em feiras interna-
cionais, até porque a exportação é um grande
foco do nosso negócio, e é por aí que temos
tido os contactos e os clientes mais relevantes.
Estamos também a desenvolver bastante a área
de interactividade com o nosso site e comuni-
cação com os consumidores por e-mail ou por
sms.

São os produtores de leite nacionais os vossos


principais fornecedores?
Nós compramos a produtores nacionais e
também a cooperativas em Portugal e Espa-
nha. Isto, fundamentalmente, quando a pro-
dução em Portugal não é suficiente. A produ-
cadeia onde não estejamos. Dos discounts às ca- ceptividade excelente da generalidade das ção de leite de cabra é muito sazonal, e há uma
deias tradicionais. Estamos em todas. cadeias de distribuição. época do ano – Setembro a Dezembro – em
que a produção é muito baixa. Nós temos fei-
Quais as cadeias que privilegiam? Falemos da tão afamada crise. Tem afectado to um grande esforço ao longo dos últimos 10
Não privilegiamos nenhuma. É engraçado por- o vosso negócio? anos de tentar alterar essa situação, e temos
que os nossos produtos são de valor acrescenta- Temos sentido, como toda a gente, alguma re- um pagamento diferenciado, pagando signifi-
do, com preços acima da média do mercado, e tracção do consumo. Julgo que, devido ao fac- cativamente mais na altura do ano de mais
no entanto temos uma presença muito signifi- to dos nossos produtos serem diferenciados e baixa produção. No entanto, isso ainda não é
cativa nos discounts. Acho que isso vem exacta- de não haverem assim tantas ofertas similares, suficiente e a produção ainda é sazonal. Nessas
mente por esse factor diferenciador, ou seja, não a elasticidade ao preço seja de certa forma me- alturas, de baixa produção dos produtores a
há assim tantas propostas parecidas com a nossa nor do que para outras categorias de produto. quem normalmente compramos, recorremos
e que, para além disso, tenham um âmbito na- O que não impede que não a sintamos, como a cooperativas de Espanha.
cional e a garantia de qualidade que nós temos. a generalidade dos bens de consumo. Mas de
qualquer maneira, neste momento temos um Têm como slogan “A arte do queijo tradicio-
O gourmet já explodiu como nova tendência. crescimento de cerca 10% em relação ao ano nal”. Com a crescente modernização dos pro-
Porquê a aposta agora da Saloio nessa área? passado. cessos de fabrico não é cada vez mais difícil
Só para acompanhar a moda? fabricar o verdadeiro queijo tradicional?
Não. Achamos que é muito coerente com a Falou ainda há pouco na excelente aceitação Tudo depende do que se entende por tradicio-
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«Aquilo que eu acho


que é um aspecto
fundamental é ter
marcas fortes».
nal. A nossa produção é ainda tradicional. É
uma produção com muita mão-de-obra, por-
que nós temos queijos pequenos que são for-
matos muito difíceis de automatizar. O que eu
acho fundamental aí é que as receitas dos
queijos tradicionais sejam preservadas, e que a
matéria-prima seja de grande qualidade, uma
vez que isso tem uma influência enorme. Te-
mos que garantir uma homogeneidade, que
não significa que o queijo tenha sempre 5 cm.
Significa que ele não seja ácido num dia, não
ácido noutro, completamente mole num dia e
duro noutro. O que eu acho é que as pessoas
pensam em queijo tradicional e acham que ele
tem que ser feito em condições péssimas, sem
higiene, cada dia sai um diferente... E eu acho
que isso seria um péssimo serviço ao consumi-
dor. O queijo deve ser feito com qualidade,
com garantia de segurança alimentar.
Nós somos grandes fãs da ASAE, que tem tido
um papel fundamental na disciplinação do
mercado e, nomeadamente, do nosso sector.
Nós éramos extremamente prejudicados antes
da proactividade da ASAE. Porque sempre
tentámos fazer o nosso queijo, os nossos pro-
David Oitavem

dutos, de acordo com determinados parâme-


tros, que para nós são fundamentais e acha-

mos que defraudamos o consumidor se assim ram experimentadas e votadas por toda a gen-
Saloio gourmet não fizermos. E a concorrência não era leal, te. Vai ser sobretudo utilizado para fins pro-
uma vez que não existia fiscalização. Obvia- mocionais e vai servir, ao mesmo tempo, para
Recentemente a Saloio lançou uma nova ga-
mente que há exageros, mas isto também é um comemorar os 40 anos da empresa. Achamos
ma de produtos, apelidada de “Saloio Gour-
processo de aprendizagem, e os exageros de- interessante porque é a utilização dos produ-
met”. É constituída por quatro produtos:
vem ser corrigidos. Agora, o facto de os pro- tos por quem os faz. Já no ano que passou fi-
queijo de mistura coberto com pimentão,
dutos serem tradicionais e serem feitos em zemos uma coisa muito interessante, que foi o
queijo de cabra coberto com grãos de pi-
condições de higiene, não tem nada a ver uma relançamento da gama “Saloio 2 Go”. É um
menta preta, queijo de mistura com cura
coisa com a outra. Nada a ver. kit com um requeijão para barrar, com abóbo-
prolongada e duas variedades pré-prepara-
ra e canela, e que traz um pacote com cinco
das para entradas e saladas.
Que novidades podemos esperar para 2009? bolachas de água-e-sal para mergulhar.
Os produtos estão disponíveis em todas as
Continuação da aposta no gourmet e também É um produto que precisaria de outro tipo de
tipologias de pontos de venda, desde distri-
estamos a desenvolver alguns outros produtos, divulgação, e se tivéssemos um grande grupo
buição moderna à distribuição tradicional
nomeadamente um alargamento da gama Pa- por detrás talvez fosse mais fácil. Nós desen-
passando, ainda, por lojas de especialidade
lhais, com três produtos muito interessantes. volvemos também uma gama de requeijões
(de produtos gourmet) e também nos mer-
Além disso, estamos a preparar um projecto para barrar de consumo em casa e registámos
cados externos.
engraçado. Temos algumas actividades que a patente. E conseguimos registá-la nacional e
As embalagens, em tons de negro e doura-
envolvem as pessoas internamente, e uma des- internacionalmente, ou seja, de facto conse-
do, são bastante diferentes das restantes das
sas actividades são os concursos de receitas guimos desenvolver uma tecnologia total-
gamas da empresa. Sob a assinatura, “Saloio
com os nossos produtos, que têm tido imenso mente inovadora, que não existe em sítio ne-
Gourmet, uma explosão de sabores”, a em-
sucesso. nhum.
presa investiu cerca de 100 mil euros neste
Temos receitas óptimas, e agora vamos fazer
lançamento.
um livro com as receitas das pessoas, que fo- Ricardo Martins
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