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segunda-feira, 1 de outubro de 2018
09:04
Importa explorar as relações entre o DIP e outras disciplinas afins desta:
Direito Constitucional;
Direito Comunitário;
Direito Internacional Público;
Direito Comercial Internacional;
Direito Comparado.
Direito Constitucional
Quando entrou em vigor a Constituição de 1976, esta relação foi bastante analisada e
explorada. Pode ser analisada por três ângulos fundamentais.
Jurisprudência: no ordenamento português, chegou a existir uma regra que mandava aplicar às
relações conjugais a lei da nacionalidade do marido. A partir de 1976, com a entrada em vigor
da CRP, essa norma tornou-se inconstitucional. A mulher tem um interesse legítimo a ver
aplicada a sua lei nacional, que é aquela que lhe é mais próxima e que conhece melhor.
Atualmente, o critério é a lei da residência habitual comum ou a lei do país com o qual a vida
familiar se haja mais estritamente conexa.
Sendo aplicável em Portugal uma lei estrangeira, por força da remissão para ela
operada por uma lei portuguesa, podemos aferir a aplicabilidade da lei estrangeira à
luz da nossa Constituição?
Quanto à segunda questão, este problema coloca-se várias vezes a nível jurisprudencial.
Jurisprudência: caso de trabalhadora portuguesa que foi despedida sem justa causa, sendo que
o ordenamento alemão não o requer.
Neste âmbito, é relevante o conceito de "ordem pública internacional", que integra os nossos
princípios fundamentais. Apenas numa situação de violação desses mesmos princípios é que os
Tribunais podem afastar a aplicação de uma norma estrangeira (Jorge Miranda).
DMV propõe uma solução intermédia: à luz dos objetivos da norma constitucional, ela deve
também ser aplicada a um caso onde a norma estrangeira é aplicável?
Mas em Portugal, pretendemos aplicar as leis estrangeiras da mesma forma que elas são
aplicadas no país de origem, para que haja harmonia jurídica internacional. Assim, se tiver
havido pronúncia de inconstitucionalidade ou a doutrina assim a considere, o TC pode afastar
a aplicação da norma.
Será que as regras de Direito Internacional Privado não são elas próprias regras de Direito
Internacional Público? Havia uma conceção que entendia que o DIP Privado servia para
delimitar a esfera de competência regulativa de cada Estado. Esta conceção está
completamente ultrapassada. O facto de uma regra de conflitos de lei no espaço dizer que se
aplica a lei da nacionalidade não significa que essa regra esteja a resolver conflitos de
soberania entre os Estados, está apenas a procurar estabelecer que lei é que vai ser aplicada
ao conflito privado. Quando os tribunais de um determinado Estado aplicam uma lei
estrangeira, o outro Estado não está a exercer funções de soberania. O Estado onde se
encontra o Tribunal está a escolher aplicar a lei estrangeira.
Essa harmonização também tem um âmbito limitado: tem essencialmente a ver com o
mercado interno. De facto, a ideia de um Código Civil Europeu tem sido posta de parte. Assim,
ainda existe, mesmo na Europa, uma vastíssima área de intervenção do DIP.
Ainda que tenha havido harmonização em certas áreas, esta é levada a cabo por Diretivas. Ora,
os Estados podem transpor essas mesmas Diretivas da forma mais díspar possível. Mesmo com
a harmonização, mantêm-se disparidades. Mesmo pela via dos Regulamentos, podem existir
interpretações distintas dos mesmos pelos Tribunais nacionais.
Jurisprudência: uma criança, filha de pais alemães nascida na Dinamarca, tinha sido registada
de acordo com o direito da Dinamarca. Mais tarde, quiseram registar o seu filho na Alemanha,
porque o nome não estava composto de acordo com a lei alemã. Esta questão chegou ao TJUE,
porque estava em causa a liberdade de circulação de pessoas. O TJUE entendeu que, neste
caso, a aplicação da lei pessoal pelos tribunais alemães contrariava o atual art. 21º do Tratado.
No que diz respeito ao direito de constituição de sociedades, houve um caso em que uma
sociedade constituída no Reino Unido por Dinamarqueses, que tinha a sede efetiva na
Dinamarca. Os tribunais dinamarqueses não quiseram reconhecer a sociedade. O TJUE
entendeu que
Também na formulação de regras de conflitos da lei no espaço existe uma projeção do DUE.
P.e., o Regulamento Roma I, no seu art. 4.º, diz-nos que não tendo as partes escolhido uma lei
aplicável, se deve aplicar a lei do país onde o contraente que tem que prestar a prestação
característica. No Regulamento Roma III, o art. 8.º manda aplicar a lei do Estado onde o
falecido tinha residência habitual. Isto contraria a tradição da norma do DIP. A EU visa facilitar
a mobilidade dos cidadãos.
Podemos concluir que o DIP encontra-se funcionalizado aos objetivos do DUE (visam
finalidades próprias do DUE). Muitas das suas fontes mais importantes são de DUE. De facto,
as nossas normas do Código já só têm aplicação residual. Este fenómeno chama-se
"europeização do DUE".
Direito Comparado