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AULA
Saber e sabedoria
objetivos
Pré-requisito
Para a compreensão desta aula recomenda-
se o estudo das aulas “Pensando o
conhecimento” e “Saber e poder”.
Sociologia e Educação | Saber e sabedoria
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Com a travessia vagarosa, nosso sábio – homem acostumado à vida
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agitada das cidades e à rotina dos gabinetes e das salas de aula – começa
a ficar um tanto melancólico, lamentando que não haja transporte mais
rápido que o leve logo ao encontro de seu compromisso numa cidade
ainda distante, na qual poderá dar uma palestra com o brilho, entusiasmo
e reconhecimento costumeiros.
Depois de olhar para o céu, em que as primeiras estrelas começam
a despontar depois do ocaso, e para afastar o tédio que começa a
invadi-lo, o sábio puxa conversa com o balseiro.
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Preocupados com saberes, acabamos por perder de vista a Sabe-
doria, que também costuma ser denominada “sapiência”.
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Uma educação que valoriza os saberes e a sabedoria permitirá
ao aluno sentir-se como sujeito importante do processo, na medida
em que tanto a cultura científica – os saberes – como a cultura das
humanidades – a sabedoria – podem ser mobilizadas.
O aluno deixaria de se sentir um “estranho no ninho”, com saberes
abstratos, e passaria a dialogar, também, com os saberes acumulados
pela vivência do dia-a-dia.
Os saberes do nosso “sábio” – aprendidos na escola – e a sabe-
doria do balseiro – aprendida na vida – certamente gerarão um saber
com sabor: a sapiência.
Era certamente ao tipo de conhecimento como “saber” que pertenciam
as coisas mencionadas ao balseiro pelo sábio da nossa história.
Mas, caro aluno, será que todos podemos ser sábios nesse sentido?
Será que nossa vida não depende também de saberes menos objetivos,
saberes que dependem de nossa subjetividade, de nosso “sentir” o
mundo? Uma observação mais atenta demonstra que dependemos
muito de um saber do tipo “comum” ou “vulgar”, que aprendemos no
que já denominamos “escola da vida”. Foi esse saber que salvou nosso
balseiro da morte certa.
Dada a sua complexidade, a questão dos saberes tem sido objeto
inclusive de classificações. Scheler, por exemplo, fala de: “saber técnico”, Max Scheler
(1874-1928)
aquele que é motivado pela necessidade; “saber culto”, suscitado pela
Filósofo alemão.
curiosidade; e “saber de salvação”, um tipo de saber que tem vinculação Além de estudos
com a motivação religiosa. sobre valores e sobre
o Homem, propondo
Outro tipo de classificação é feito segundo a natureza do um campo de estudos
filosóficos que veio a
saber. Assim teríamos o já mencionado “saber comum ou vulgar”, o denominar-se “Antro-
pologia Filosófica”,
“saber científico” e o “saber filosófico”.
investiga a questão
Desde a Grécia Antiga havia uma preocupação em distinguir saber dos tipos de saber,
em seus trabalhos de
de sabedoria. Esta última já era considerada uma espécie de inteligência Sociologia
da Cultura.
prática, uma arte capaz de permitir o discernimento e a habilidade neces-
sários para agir e resolver problemas, uma forma de pensamento ou de
ação vinculada à capacidade de julgar. Nesse sentido, sabedoria vincula-se
menos a uma capacidade de saber das coisas do mundo, e de buscar uma
“verdade” científica, do que se relaciona com a capacidade de agir com
prudência, moderação, utilizando a experiência e a maturidade.
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Entender a origem do significado das palavras, o que se deno-
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mina Etimologia, nos ajuda muito. Se fizermos isso com a palavra Etimologia
“saber”, veremos que tem a mesma raiz do termo “sabor”, como já Termo derivado do
grego etymología,
mencionamos antes nesta aula. Isso provavelmente se deve ao fato de significa a ciência que
que os homens, desde épocas remotas, perceberam que nosso conta- investiga as origens
próximas e remotas
to com o mundo é um contato integral: aprendemos sobre as coisas das palavras e a sua
evolução histórica.
não somente entendendo-as com a utilização de nosso intelecto, de
nossa razão; aprendemos com todo o nosso ser; aprendemos com
a mente e igualmente com o corpo; com a razão e com a emoção.
Desse modo, é fácil perceber que aquele conhecimento intelectual, de que
falava o sábio de nossa história, não dá conta de tudo; traz-nos saber,
que é indispensável, mas não nos garante a sabedoria, inclusive para a
melhor utilização do saber, como ficou demonstrado nos exemplos que
demos acima.
A Ciência é, portanto, um saber muito mais limitado do que
pensamos. Numa analogia com a culinária, o educador Rubem
Alves afirma:
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Você não acha, caro aluno, que isso fala muito de perto a nós,
professores? No dia-a-dia da sala de aula, desejamos que nossos alunos
apreendam o saber, mas que também desenvolvam sabedoria, isto é,
criatividade, capacidade inventiva para resolver problemas, muitos dos
quais, já vimos, não vão poder ser solucionados apenas com a ajuda do
saber, ou seja, com o lado razão de nosso aluno.
Essa citação, quando menciona a criminalidade e a maldade
– ingredientes infelizmente muito presentes na realidade brasileira –, nos
faz refletir novamente sobre a distinção já mencionada nesta aula: uma
coisa é saber o que são a justiça ou a bondade, outra é dispor da sabedoria
necessária para vivenciá-las, para aplicá-las efetivamente em nossa vida.
Como professores, além da missão de ajudar os alunos a adquirir saberes,
é necessário termos sensibilidade para levá-los a adquirir sabedoria.
É ainda Morin quem pode nos ajudar a pensar mais um pouco sobre
o tema desta aula, sobretudo quando menciona o papel dos professores.
Embora se refira especificamente aos que lidam com a Filosofia, cremos
que essas palavras podem se aplicar a qualquer professor, a você mesmo,
na sua relação com seus alunos:
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Nosso trem põe-se novamente em marcha, já abastecido de lenha
e água; a locomotiva resfolega conduzindo-nos em nossa viagem pela
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Terra dos Fundamentos da Educação.
Instalados em nosso vagão, podemos conversar sobre o que vimos
até este momento nesta aula.
Nosso objetivo, não esqueçamos, era estabelecer a distinção
entre saber e sabedoria. E começamos a percebê-la quando vimos que a
dimensão do conhecimento, por si só, não é suficiente para enfrentarmos
nossos problemas, como ficou ilustrado com a história do sábio que
acabou no fundo do rio, talvez afundando mais rapidamente com o peso
de sua erudição. Esta, sem a sabedoria para a escolha e aplicação, vale
menos do que se imagina.
Você já deve ter observado que tem vários alunos que, embora
enfrentando dificuldades de assimilar o conteúdo dado em sala de aula,
dispõem da sabedoria prática. Este é o caso, por exemplo, do aluno que
é reprovado porque não consegue captar os “mistérios” da Aritmética,
mas que jamais se engana no troco quando suas condições de vida o
obrigam a vender frutas ou balas no sinal de trânsito.
A Ciência também foi objeto de nossa reflexão. Vimos de que
maneira ela acaba por estabelecer-se como modelo ou paradigma de
saber, mas que sua conversão em ações práticas nem sempre é louvável
e beneficia a vida humana. Muitas decisões importantes em nossa vida
pessoal, ou relativas ao mundo onde vivemos, ultrapassam a capacidade
da Ciência, isto é, escapam à dimensão do intelecto e exigem nosso
envolvimento integral: de nosso corpo, de nossa mente, de nossos
conhecimentos, mas também de nossa sensibilidade, de nossa emoção.
Fomos alertados também que “saber” e “sabor” têm a mesma
origem etimológica. Isso pode nos levar a refletir sobre o papel do pro-
fessor e sobre o tipo de saber que está levando o aluno a adquirir. Que
tal, caro aluno, provocar essa discussão em sala de aula, para que se
possa verificar até que ponto o conhecimento “comum” ou “vulgar” é
rico e pode se constituir numa base pedagógica interessante para que os
alunos ultrapassem esse patamar e ingressem no mundo do conhecimento
científico? Mas, em verdade, sempre sugerindo que voltem às origens, às
fontes de sabedoria popular onde bebem tais saberes.
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Auto-Avaliação
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• Alguma vez, em minha vida, vivenciei uma história semelhante à apresentada
no início desta aula?
Nosso trem segue em sua marcha. A linha férrea atravessa a mata, cruza pontes e
avança por longos campos verdejantes, permitindo-nos contemplar a exuberância
da natureza brasileira.
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