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For once in my life I have someone who needs me Finalmente eu tenho alguém que precisa de mim
Someone I've needed so long Alguém que eu sempre precisei
For once, unafraid, I can go where life leads me
And somehow I know I'll be strong Finalmente, destemido, eu posso ir aonde a vida me levar
E de alguma maneira que sei que serei forte
For once I can touch what my heart used to dream of
Long before I knew Finalmente eu posso tocar o que meu coração ousou sonhar
Someone warm like you
Would make my dreams come true Muito antes que eu soubesse
Alguém carinhoso como você
For once in my life I won't let sorrow hurt me Que faria meus sonhos se tornarem realidade
Not like it hurt me before
For once, I have something I know won't desert me
Finalmente eu não deixarei a tristeza me ferir
I'm not alone anymore
Não como me feriu antes
For once, I can say, this is mine, you can't take it Finalmente eu tenho alguém que sei que não irá me
As long as I know I have love, I can make it abandonar
For once in my life, I have someone who needs me
E eu não estou mais sozinho
Finalmente eu tenho alguém que precisa de mim! Com esse alguém eu posso tudo e eu sou
tudo. Sou completa, sou plena. Tenho novamente um Ego Ideal e dessa vez ninguém vai me
tirar isso.
A letra acima, escrita por dois homens, sintetiza perfeitamente o sentimento da Mãe fálica
com seu bebê. É como se essa Mãe dissesse “Ok, eu perdi essa plenitude com minha própria
mãe, mas agora eu vou construí-la com meu filho!”. É exatamente como eu me sinto como
filha e também como mãe.
É curioso que essa letra não tenha me chamado atenção antes. Sem pensa-la como uma
história de amor entre Mãe e filho era apenas um apanhado de palavras sem muito sentido.
Entretanto ao ouvi-la no rádio logo após uma aula sobre o Édipo em Lacan ela ganhou outro
significado.
A primeira e ultima estrofes da canção mencionarem uma relação de total dependência.
Exatamente como o bebê é dependente de seu cuidador em seus primeiros anos de vida. Ela
também fala de um sentimento de onipotência que acomete o sujeito da canção. Faz-me
lembrar das palavras de um amigo alto executivo do mercado financeiro logo depois do
nascimento de sua primeira filha:
“As coisas mudaram. Se precisar eu vou limpar o chão da rodoviária… e vou limpar
feliz…”
Também me faz lembrar eu mesma cuidando da minha filha em seus primeiros meses de vida. A fase
de total enamoramento em que eu passava o dia inteiro me dividindo entre amamentar, cuidá-la,
cantar para ela. Como o simples fato de olhar para ela quando ela ainda nem conseguia abrir os olhos
fazia com que eu me sentisse plena e absoluta. Entretanto com o passar dos meses passei a sentir falta
de voltar ao trabalho, de estudar, de estar com meu marido e com isso as necessidades da vida, o
cotidiano e seus afazeres, o Pai, atravessaram esse relacionamento mãe/filha. Sinto-me exatamente a
Mãe em Lacan que propõe ao filho a sociedade perfeita que se mostra insustentável. Ainda assim,
embora eu me sinta muito feliz cumprindo as diferentes funções de minha vida, até hoje o momento
de colocar minha filha para dormir, momento esse em que estamos sozinhas, que cantamos juntas e
que me relembra aquele mesmo aconchego dos tempos em que ela era bebezinha, é sem duvida a
melhor parte do meu dia.
Outro ponto que me chama a atenção na canção é o fato de haver nela uma falta anterior que
dominava o sujeito da canção há muito tempo. Fico com uma impressão de espera longa e agoniante e
que talvez por isso tenha me levado a traduzir “For once in my life” como “Finalmente”. Talvez como
se sentiu esse sujeito quando no seu colapso narcisista. Talvez como eu mesma me senti quando vi
que apesar de gigante a minha própria mãe não era onipotente e que eu não era tudo para ela.
Por fim acho perfeita a fala da canção “Finalmente tenho alguém que não vai me abandonar, eu não
estou mais sozinho”. Me passa uma ideia de história de amor eterna que é inalcançável mesmo no
mais longevo relacionamento conjugal. É uma história de amor que só pode mesmo acontecer entre
Mãe e filho. Não porque o filho seja tudo para a mãe e vice versa. Como já falamos num
relacionamento são esse romance está sujeito à falência. O individuo precisa passar pelo Édipo ate a
sua dissolução. A eternidade está no fato de que ainda que essa história de amor vá terminar, ainda
que a sociedade proposta pela Mãe no Edipo esteja sujeita à falência, a influência dessa primeira
história de amor vai nos marcar de forma tão tácita, que mesmo depois do Édipo não se afastará de
nós, pelo contrário vai permear todos os relacionamentos futuros que virão a partir daí.