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ROTEIRO DE AULA

A Constituição (continuação)

4.3. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934)

I – A Constituição de 1934 vigou por apenas três anos (mais curta duração), mas trouxe
importantes inovações para o constitucionalismo brasileiro. Exemplos: papel do Senado
de suspender a execução de lei declarada inconstitucional pelo Poder Judiciário, cláusula
de reserva de plenário no âmbito dos Tribunais e ação de controle concentrado
(representação interventiva), julgada somente pelo STF. Foi ela que também colocou no
preambulo “sob a proteção de Deus”, consagrada em todas as demais constituições
posteriores.

II – Ao contrário das outras Constituições brasileiras, a Constituição de 1934 foi


elaborada por uma Constituinte exclusiva: os membros foram eleitos apenas para este
fim e não legislaram enquanto a Constituição estava sendo elaborada. Nem
permaneceram como parlamentares ao fim dos trabalhos.

III - Ideologia: democracia social (Weimar - 1919). A Constituição de 1934 rompeu com
a tradição liberal incorporando em seu texto normas de ordem econômica e social.
Tratou-se, portanto, de uma Constituição com caráter compromissório, pois era composta
tanto de normas liberais como normas intervencionistas.

Observação n. 1 (contexto histórico): Lembrar que o constitucionalismo moderno se divide


em duas fases: 1ª - das constituições liberais, que vai do fim do século XVIII, com a
primeira constituição escrita, a americana de 1787, até o fim da 1ª GM (1918). Neste ciclo
as constituições eram liberais. A nossa 1ª Constituição Republicana Brasileira, de 1891, foi
feita dentro deste período, portanto tinha como ideologia informadora liberal.

Já a Constituição de 1934 foi elaborada após o fim da 1ª Guerra Mundial quando se


originou um novo ciclo de Constituições (Constituições sociais) que se iniciou com a
Constituição mexicana (1917) e a Constituição de Weimar (1919). A Constituição de 1934
se inspirou na democracia social, inspirada nas Constituições mexicana e de Weimar.

IV Estado: manteve-se o modelo federalista, adotado também pela Constituição de


1891, mas passou a ser um federalismo cooperativo (inspirado na Constituição de
Weimar e adotado atualmente pela Constituição de 1988): é um modelo em que a União
e os Estados têm suas competências próprias, mas existe um grupo de competências
(comuns ou concorrentes) que ficam tuteladas pela União. Assim, a União é a
responsável, no âmbito das competências comuns ou concorrentes, por estabelecer
normas gerais e os Estados as especificam conforme seus respectivos interesses regionais.

V – Poder:

 Sistema presidencialista: já havia sido consagrado na Constituição anterior; ampliou as


competências do Poder Executivo; e supressão da figura do Vice-Presidente da
República.

 Unicameralismo: aboliu-se o papel do Senado em termos de Casa Legislativa. Em outras


palavras, ele deixou de existir nesse sentido e passou apenas a colaborar com a Câmara, a
qual passou a exercer o Poder Legislativo:

CREUB/1934, art. 22: “O Poder Legislativo é exercido pela Câmara dos Deputados com a
colaboração do Senado Federal”.

CREUB/1934, art. 23: “A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo,


eleitos mediante sistema proporcional e sufrágio universal, igual e direto, e de
representantes eleitos pelas organizações profissionais (sistema corporativo) na forma
que a lei indicar”.

VI – Controle de constitucionalidade - a Constituição empregou o nome Corte Suprema,


em vez de Supremo Tribunal Federal. Inovações:

 Suspensão pelo Senado: CREUB/1934, art. 91: “Compete ao Senado Federal (...): IV -
suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação ou
regulamento, quando hajam sido declarados inconstitucionais pelo Poder Judiciário (não
apenas pelo STF)”.

A Constituição 1891 teve inspiração na Constituição Americana, tendo Rui Barbosa sido
um dos principais mentores intelectuais, trazendo o modelo NA para o Brasil. O modelo
NA em termos de controle de constitucionalidade é o difuso, em que qualquer juiz ou
tribunal pode exercer o controle. Ocorre que nos EUA, existe o sistema do stare decisis, já
que é um sistema de common law, e impõe que se dê o devido peso aos precedentes
judiciais. Portanto, quando o tribunal dá uma decisão, os órgãos judiciários inferiores
ficam vinculados àquelas decisões. É o chamado binding effect, que existe dentro do stare
decisis. O brasil importou o controle de constitucionalidade dos EUA mas não importou o
stare decisis, pois viram que o STF dava decisão declarando a lei inconstitucional, mas os
juízes continuavam aplicando a lei, o que gerava uma desigualdade na aplicação da lei.
Dessa forma, o Brasil criou o instituto da suspensão de lei pelo SF.
 Cláusula da reserva de plenário: CREUB/1934, art. 179: “Só por maioria absoluta de votos
da totalidade dos seus Juízes, poderão os Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei
ou ato do Poder Público”.

 Representação interventiva: CREUB/1934, art. 12, § 2º: “Ocorrendo o primeiro caso do nº


V, a intervenção só se efetuará depois que a Corte Suprema, mediante provocação do
Procurador-Geral da República, tomar conhecimento da lei que a tenha decretado e lhe
declarado a constitucionalidade”.

Observação n. 1: o controle concentrado não surgiu no Direito brasileiro com a EC n.


16/65. Conforme se vê pelo dispositivo citado acima, o controle concentrado foi
introduzido pela Constituição de 1934, através da criação da representação
interventiva. O que surgiu com a EC n. 16/65 foi o controle normativo-abstrato
(representação de inconstitucionalidade, atualmente denominada de ação direta de
inconstitucionalidade). Não se pode confundir controle abstrato com controle
concentrado.

VII – Direitos fundamentais:

 Introduziu o mandado de segurança e a ação popular.

 Consagrou o escrutínio secreto e conferiu direitos políticos para as


1
mulheres .

CREUB/1934, art. 108: “São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18


anos, que se alistarem na forma da lei”.

Existia apenas o HC, que de acordo com a doutrina brasileira do HC servia para tutelar
qualquer direito violado por ilegalidade ou abuso de poder, pois a Constituição não falava
em liberdade de locomoção.

Antes da Constituição de 1934, houve uma emenda à Constituição de 1891, restringindo as


hipóteses de aplicação do HC à liberdade de locomoção. Depois, com a Constituição de
1934, consagrou-se o MS e a AP.

Quanto aos direitos políticos a mulheres, na época entendia-se que era lógico o fato de as
mulheres não poderem votar. Apenas com reforma política ocorrida em 1932 (no plano
infraconstitucional), é que passou-se a admitir o direito de voto pelas mulheres, tendo a
Constituição de 1934 consagrado o direito das mulheres ao voto.

4.3. Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1937)


I – Havia um grande descompasso entre o texto constitucional de 1934 e a realidade, o
que acabou minando sua credibilidade. A Constituição de 1934 tornou-se uma
Constituição muito vulnerável a alguns movimentos extremistas que existiam na época.

Houve o golpe militar que teve como motivação algumas suposições como crise
institucional, infiltração comunista e iminente guerra civil. Getúlio Vargas instituiu o
Estado Novo e outorgou a Constituição de 1937.

II – Ideologia: anticomunista e contrária à democracia liberal. O texto de 1937 ficou


conhecido como “Constituição polaca” por ser inspirado na Constituição polonesa
promulgada em 1935.

Embora a Constituição de 1937 consagrasse uma série de direitos fundamentais e


fundamentos democráticos, eles não eram respeitados (constituição insincera ou
semântica).

III – Plebiscito: nunca ocorreu.

IV - Para alguns doutrinadores, a Constituição de 1937 sequer chegou a ter validade


jurídica (posição minoritária), pois quando Getúlio Vargas a outorgou havia nela uma
previsão de que seria realizado um plebiscito, o qual nunca ocorreu.

CEUB/1937, art. 187: “Esta Constituição entrará em vigor na sua data e será submetida ao
plebiscito nacional na forma regulada em decreto do Presidente da República”.

V – Estado: autoritário e corporativista.

Na prática, há quem sustente que o Estado brasileiro não era sequer um Estado
federativo (embora o federalismo estivesse consagrado no texto constitucional), mas
unitário, pois o poder central dominava os Estados-membros (ausência de autonomia) -
exemplo: Getúlio Vargas nomeou interventores em todos os Estados da Federação,
exceto Minas Gerais.

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Além de unitário (na prática), o Estado Novo também era autoritário e corporativista .

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Diferença entre Estado autoritário e totalitário:

 Autoritário: o Presidente da República tinha algumas prerrogativas que o tornavam acima


dos demais Poderes, onde impunha a sua vontade.
 Totalitário: regula toda a vida social – exemplos: Estado nazista e stalinista.

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Os direitos sociais, por exemplo, só eram conferidos para trabalhadores de determinadas
corporações.

VI – Organização do Poder:

 O Presidente da República estava acima dos demais Poderes tanto na Constituição como
na prática: CEUB/1937, art. 73: “O Presidente da República, autoridade suprema do
Estado, coordena a atividade dos órgãos representativos, de grau superior, dirige a política interna e
externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse nacional e superintende a
Administração do País.”.

 O Poder Legislativo era exercido pelo Parlamento Nacional:

CEUB/1937, art. 38: “O Poder Legislativo é exercido pelo Parlamento Nacional com
a colaboração do Conselho da Economia Nacional e do Presidente da República
(...);

§ 1º - O Parlamento nacional compõe-se de duas Câmaras: a Câmara dos


Deputados e o Conselho Federal”.

CEUB/1937, art. 50: “O Conselho Federal compõe-se de representantes dos


Estados e dez membros nomeados pelo Presidente da República”.

Na prática, o legislativo não funcionou (parlamento sempre fechado). GV é quem


legislou, fazendo leis infraconstitucionais e emendas à CREUB/37.

 “Estado de emergência”: suspendia diversas garantias constitucionais e tornava imune ao


Poder Judiciário os atos praticados pelo Governo: CEUB/1937, art. 170: “Durante o estado
de emergência ou o estado de guerra, dos atos praticados em virtude deles (pelo
presidente da república) não poderão conhecer os Juízes e Tribunais”.

VII – Controle de constitucionalidade:

CREUB/1937, art. 96, parágrafo único: “No caso de ser declarada a inconstitucionalidade
de uma lei que, a juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do
povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da
República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por dois
terços de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal”.

Essa previsão é muito semelhante à “cláusula notwhithstand”. Trata-se da “cláusula do


não obstante” do Direito canadense (clausula 33) que prevê que as Províncias e o
Parlamento canadenses poderão, por maioria simples, deixar de cumprir determinados
direitos e liberdades individuais previstos na Constituição, assim como podem afastar
também decisões judiciais que declarem a inconstitucionalidade de lei baseada nesses
direitos. Em suma: “não obstante a declaração de inconstitucionalidade da lei, esta
permanecerá válida porque é o melhor em termos políticos”.

VIII – Direitos fundamentais:

 Não contemplou direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada, mandado de
segurança nem ação popular.

 Proibiu greve e “lock-out” (paralisação feita pelos empregadores).

 Proibiu partidos políticos.

4.3. Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1946)

I – A Constituição de 1946 teve como base a Constituição de 1934.

A Assembleia Nacional Constituinte de 1946 foi contemporânea a uma onda de


constitucionalismo global que ocorreu após o fim da 2ª Guerra Mundial - houve o
surgimento de várias Constituições democráticas na Europa (Italiana/1947, Alemã/1949,
Francesa/1946). Tais constituições resgatavam os valores democráticos e a proteção a
direitos fundamentais, que ficaram de lado com o autoritarismo e totalitarismo em
vários países.

II – Ideologia: liberalismo político, democracia e Estado social, afastando o autoritarismo


da Carta de 1937.

III – Estado: federal e intervencionista. Restabeleceu a federação, não apenas na teoria,


mas também, na prática; e consagrou um estado abstencionista, ou seja, não era um
estado abstencionista, como ocorria com o estado liberal de 1891.

Observação n. 1: os Municípios só passaram a ser considerados entes federativos com a


Constituição de 1988. No entanto, com a Constituição de 1946 já se atribuía uma ampla
autonomia aos Municípios, muito embora eles não fossem considerados como entes
federativos.

IV – Poder: foi mantido o sistema presidencialista. No entanto, durante 14 meses


aproximadamente, o sistema parlamentarista foi implantado pela EC n. 4/61.
Posteriormente, a EC n. 6/63 – após um plebiscito – reestabeleceu o sistema
presidencialista.
Como a Constituição de 1946 foi uma reação à Constituição anterior, na qual havia um
desequilíbrio entre os poderes, implementou-se uma nítida divisão de funções em
contraposição à autoridade suprema do Poder Executivo. Inclusive, não se permitia
qualquer tipo de delegação. No entanto, isso não funcionou como esperado. O
Presidente, por exemplo, não podia editar normas e quando uma questão demandava
uma resposta legislativa rápida, não existia meio para isso.

V – Controle de constitucionalidade: foi introduzido o controle abstrato (EC n. 16/65):

CEUB/1946, art. 101: Ao Supremo Tribunal Federal compete:

I – processar e julgar originariamente:

(...)

k - a representação contra inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa,


federal ou estadual, encaminhada pelo Procurador-Geral da República”.

Trata-se da ADI que conhecemos hoje, para a qual só havia um legitimado, o que
perdurou durante a Constituição de 1967 e a de 1969, somente sendo modificado com a
CF/88, que, em seu art. 103, ampliou substancialmente o rol)”.

VI – Direitos fundamentais (CEUB/1946, art. 141)

Trouxe um intenso rol de direitos e garantias fundamentais, em contraposição ao que de


fato ocorria com o autoritarismo da CF de 1937, apesar de o rol de direitos dessa carta ser
também formalmente extenso.

 Liberdades públicas tradicionais.

 Ações constitucionais (HC, MS e AP).

 Direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada.

 Inafastabilidade da prestação jurisdicional.

 Vedação de penas de morte (salvo guerra externa), banimento, confisco e caráter


perpétuo.

 Obrigatoriedade do voto.

4.3. Constituição do Brasil (1967)

Em 31 de março de 1964, ocorreu o golpe militar, tendo vários atos institucionais sido
feitos pelos militares à época, até que surgiu a Constituição de 1967.
I – O texto da Constituição de 67 refletiu os valores de um grupo militar
ideologicamente moderado. No entanto, os Atos Institucionais suprimiram os limites
inicialmente estabelecidos ao Poder Executivo.

II – Embora formalmente discutida e votada pelo Parlamento, a Constituição de 1967


não podia ser alterada por ele. Veio do Executivo pronta e o parlamento, que tinha medo
das Forças Armadas, apenas discutiu e votou a constituição da forma encaminhada pelo
Executivo. Portanto, não é considerada uma Constituição democrática, mas outorgada.

III – Ideologia: social-liberal e ditatorial.

IV – Estado: federalismo de integração.

O federalismo de integração se contrapõe ao federalismo dual, no qual União e Estados-


membros têm uma relação de coordenação (relação horizontal – ocorria isso na
Constituição de 1946). No federalismo de integração há uma subordinação dos Estados-
membros à União (relação vertical).

Observação n. 1: federalismo cooperativo: consagração de competências da União e


dos Estados, mas algumas competências comuns ou concorrentes ficam sob a tutela da
União.

V – Direitos fundamentais: os direitos nela consagrados, embora em amplo rol, careciam


de efetividade, apenas existiam no Texto Constitucional, ou seja, na prática eram
completamente desrespeitados.

VI – Poder:

 Fortalecimento do Poder Executivo: que passou a ter competencia para editar decretos
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com força de lei (art. 58 ), os famosos decretos-lei, e eleições indiretas (art. 77).

5
CB/1967, art. 58: “O Presidente da República, em casos de urgência ou de
interesse público relevante (mesmos requisitos para a MP de hoje), e desde que
não resulte aumento de despesa (mais limitações do que para as Mps de hoje),
poderá expedir decretos com força de lei sobre as seguintes matérias:

I segurança nacional;

II - finanças públicas.

Parágrafo único: Publicado, o texto, que terá vigência imediata, o Congresso


Nacional o aprovará ou rejeitará, dentro de sessenta dias, não podendo
emendá-lo; se, nesse prazo, não houver deliberação o texto será tido como
aprovado (diferentemente do que ocorre hoje com a MP, havia a aprovação
tácita do decreto-lei)”.

 Assim como no período da Constituição de 1937, o art. 173 da CB/67, ao contrário do que
dizia o Texto de 1946, que consagrava a inafastabilidade do controle jurisdicional, dizia:
“Ficam aprovados e excluídos de apreciação judicial os atos praticados pelo Comando
Supremo da Revolução de 31 de março de 1964, assim como:”.

 AI-7/69, art. 7º: “Ficam suspensas quaisquer eleições parciais para cargos executivos ou
legislativos da União, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios”.

4.3. Constituição da República Federativa do Brasil (1969)

I – EC n. 1/69: fundamentos: AI-5 e AI-6.

Embora formalmente consagrada como “emenda”, é considerada pela maioria da


doutrina como uma nova Constituição, a qual foi outorgada por uma junta militar que
comandava o Brasil na época. É considerada nova constituição porque a EC 1/69
modificou o nome de Constituição do Brasil para Constituição da República Federativa do
Brasil. Além disso, o texto da emenda reproduz o texto de todos os dispositivos da
Constituição de 1967 que foram mantidos.

II – Poder:

 Poder Executivo: ampliou ainda mais os poderes.

 Poder Legislativo: reduziu imunidades e consagrou a infidelidade partidária. Por exemplo:


excluiu a imunidade material no caso de crimes contra a honra e contra a segurança
nacional praticados por parlamentares. E a imunidade formal poderia ser afastada pelo
parlamento por maioria absoluta e não mais por 2/3, o que ocorria anteriormente.

 O Ministério Público foi consagrado dentro do Capítulo do Poder Executivo – na


Constituição anterior ele havia sido consagrado no Capítulo do Poder Judiciário.

III – Direitos fundamentais: ainda outros retrocessos, pois vários direitos fundamentais
foram restringidos, tendo sido objeto de retrocesso social.

Hermenêutica constitucional (introdução


não digitada por volta dos 20min do bloco
2)
Trecho do início do bloco 3 - De acordo Canotilho, os métodos não seriam excludentes
entre si, mas complementares. Haveria de existir uma junção de métodos ou um
sincretismo metodológico.

Virgílio Afonso da Silva (USP) critica o sincretismo, aduzindo que isso não contribui em
nada para o desenvolvimento da interpretação constitucional. O ideal é que se use um
único método, que deve ser bem utilizado para a adequada interpretação constitucional.

1. Contribuições da dogmática alemã

1.1. Métodos de interpretação (Böckenförde)

Questão n. 1: por que se desenvolveram métodos específicos para a interpretação da


Constituição?

Dificuldades:

I – Tipologia das normas: ao contrário das leis que são compostas, sobretudo, por regras
(mandamentos definitivos), as Constituições são compostas por vários princípios, os quais
não são mandamentos definitivos, mas contributivos para a decisão.

Segundo Alexy, os princípios são mandamentos de otimização que devem ser cumpridos
na maior medida possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas existentes.
Determiná-las (possibilidades fáticas e jurídicas) é algo extremamente complexo.

Em suma, em razão da tipologia das normas constitucionais, muitas vezes exteriorizadas


por meio de princípios, a interpretação e aplicação da Constituição torna-se tarefa
extremamente complexa, ou seja, mais complexa do que a aplicação das leis em geral,
razão pela qual existem os métodos próprios de interpretação constitucional.

II – Objeto e eficácia: há uma diversidade muito grande em relação ao objeto e a


eficácia das normas constitucionais.

Quanto ao objeto porque a Constituição trata dos mais variados temas – exemplos: a CF
possui normas gerais sobre diversos ramos (matérias) de direito: Direito Civil, Penal,
Ambiental, Administrativo; quanto à eficácia também em razão da grande variedade –
exemplos: normas de eficácia plena, normas de eficácia contida, normas de eficácia
limitada, normas de eficácia exaurida. Então, o intérprete, além de extrair a eficácia do
dispositivo, ele tem de conhecer também a teoria constitucional, para saber o tipo de
eficacia que terá o dispositivo, sob pena de fazer interpretação equivocada do respectivo
texto.
III – Superioridade hierárquica: as leis estão abaixo da Constituição e retiram dela o seu
fundamento de validade. Assim, as leis devem ser interpretadas à luz da Constituição
(interpretação conforme ou filtragem constitucional).

No caso da Constituição não há uma norma hierarquicamente superior a ela para


interpretá-la à sua luz. Trata-se de uma peculiaridade em relação às leis.

IV – Origem compromissória: a Constituição, a rigor, não é fruto de um grande pacto,


mas resulta, no caso de Constituições democráticas feitas em sociedades pluralistas, de
vários pequenos pactos ou acordos ocorridos dentro da Constituinte.

Os grupos presentes na constituinte às vezes tem de ceder em determinados debates. A


origem compromissória gera uma tensão muito grande entre as normas constitucionais.
Inclusive, existe um princípio específico no caso dessas tensões (princípio da unidade),
para harmonizar tais tensões.

V – Carga moral e política (ideologia), principalmente nos direitos fundamentais: a alta


carga moral e política de algumas normas da Constituição faz com que a ideologia do
intérprete ou suas preferências políticas acabem influenciando a interpretação daquele
dispositivo, ainda que de maneira inconsciente. Ainda que o juiz entenda que está
decidindo a causa com neutralidade, isso não ocorre, pela inexistência de neutralidade no
âmbito do direito. Os juízes, em ampla maioria, têm consciência de que não podem ser
neutros, mas que, ao decidirem, tentam conformar o direito com os valores que a
Constituição consagra.

1.1.1. Método jurídico (hermenêutico clássico)

Segundo Ernst Forsthof, embora a Constituição possua peculiaridades, tais características


não exigem métodos específicos de interpretação. O autor utiliza a Tese da identidade
(constituição = lei).

I - De acordo com a tese da identidade (constituição = lei), a Constituição é um conjunto


de normas como as demais leis. Sendo assim, não há razão para se utilizar métodos
diferentes para interpretá-la - as peculiaridades não justificam a criação de um método
específico. Portanto, a constituição deve ser interpretada, assim como as demais leis,
pelos elementos tradicionais desenvolvidos por Savigny.

Elementos tradicionais (Savigny):

 Gramatical.

 Sistemático.
 Histórico.

 Lógico.

II – Segundo o autor, a força normativa estaria assegurada em função do próprio texto


constitucional, que serviria como a) ponto de partida da interpretação e como b) limite da
atividade interpretativa.

III - Crítica: os elementos tradicionais criados por Savigny foram desenvolvidos para o
direito privado. Embora úteis para a interpretação da constituição, são insuficientes para
dar conta da complexidade constitucional.

1.1.1. Método científico-espiritual

I – A tradução “científico-espiritual” é incorreta, segundo VAS. O método também é


conhecido como “sociológico”, “integrativo” ou “valorativo”.

II - Elemento valorativo: conforme Rudolf Smend, um dos principais elementos da


interpretação da Constituição são os valores subjacentes à Constituição. O intérprete deve
buscar no sistema subjacente de valores da Constituição a interpretação das Normas
constitucionais. Isso, porque valor nada mais é do que um fim a ser alcançado. Portanto,
se a CF consagra determinados valores, significa que estes são fins que se deve buscar,
seja pelo Executivo, Legislativo e Judiciário. Talvez, daí venha o termo espiritual, porque os
valores formam o espírito da constituição, enquanto a norma forma o corpo da
constituição.

Observação n. 1: Na Constituição de 1988, os valores supremos da sociedade estão


consagrados no Preâmbulo, portanto, neste há fins a serem buscados na interpretação da
Constituição.

III - Elemento integrativo: está ligado ao princípio do efeito integrador. É a especificação


do princípio da unidade da constituição e da interpretação sistemática. O princípio do
efeito integrador parte da premissa, que é a mesma do elemento integrativo: a
Constituição é o principal elemento de integração da comunidade. Sendo assim, na
interpretação das normas constitucionais, o intérprete deve sempre buscar sempre
aquela que confira unidade à Constituição, favorecendo a integração política e social.

III - Elemento sociológico: impõe que o intérprete leve em consideração fatores


extraconstitucionais ( f o r a d a C o n s ti t u i ç ã o ) – exemplo: realidade subjacente à
Constituição (realidade social). Isso faz com que muitos digam que este método tem feição
mais politica do que jurídica.
IV - Críticas:

 Falta de clareza em relação ao fundamento e a utilização dos elementos. Não


especifica qual o fundamento em que cada um desses elementos pode ser utilizado
e em que caso cada um deve ser utilizado. Se deve usar um em cada caso, deve
haver uma primazia de um em face de outro, se todos devem ser utilizados em
conjunto?

 Indeterminação e mutabilidade dos resultados - insegurança jurídica. Por


considerar as realidades sociais, o resultado pode ser diferente dependendo do
momento, podem mudar a todo instante, o que gera instabilidade.

1.1.1. Método tópico-problemático

I – Foi desenvolvido por Theodor Viehweg: tratou-se de uma reação ao positivismo


jurídico e foi desenvolvido inicialmente para o Direito Civil, mas acabou sendo utilizado
também no ambito do direito constitucional.

O autor foi o responsável pela retomada da tópica no campo jurídico: discussão em torno
do problema. A tópica é uma técnica do pensamento problemático, ou seja, é baseada no
problema. Diante de um problema concreto a ser resolvido, são feitas várias
argumentações favoráveis e contrárias à solução daquele problema, até se chegar ao
melhor resultado (argumento mais convincente).

II - “Topos”: é uma forma de raciocínio ou de argumentação; os “topoi” (plural de


“topos”) são extraído dos princípios gerais do direito, da jurisprudência dominante, da
doutrina e do senso comum. Exemplo de “topos”: “normas excepcionais devem ser
interpretadas restritivamente”. Portanto, o topos é uma diretriz hermenêutica utilizada
como forma de raciocinio na interpretação de determinados dispositivos constitucionais.

A forma de argumentação (topos) pode ter sido extraída da jurisprudência, da doutrina,


do consenso na sociedade, do senso comum etc.

III – Problema: o método gira em torno do problema concreto a ser resolvido, diante do
qual são levados em consideração argumentos favoráveis e contrários a determinadas
soluções. O método tópico-problemático considera que, em uma discussão, o que
prevalecerá não é necessariamente o argumento mais verdadeiro, mas sim o mais
convincente, ou seja, aquele capaz de obter o maior número de adeptos.

IV - Ponto de partida: compreensão prévia tanto do problema quanto da Constituição;

V ponto de apoio: o consenso ou o senso comum.


VI – Utilidades principais:

 Complementação de lacunas. Nos casos em que não existir uma norma específica
para regulamentar aquele caso, o MTP, como se baseia em vários topois, vários
esquemas de pensamento, não necessita de uma norma a ser utilizada podendo ser
empregados outros argumentos para se chegar ao melhor resultado.

 Comprovação ou confirmação de resultados obtidos por outros métodos de


interpretação constitucional anteriormente utilizados.

VI - Críticas:

 Investigação superficial da jurisprudência (não confere aos precedentes o devido


valor), a qual é considerada como apenas mais um “topos”, mais uma forma de
raciocínio ou de argumentação, ao lado de várias outras (doutrina, do consenso na
sociedade, do senso comum etc). Inclusive, a própria norma jurídica é considerada
como um “topos”. É extremamente antipositivista, a ponto de a norma jurídica ser
apenas mais um topos.

 Pode conduzir a um casuísmo ilimitado. Como a norma é apenas mais um topos,


pode-se ter os mais diferentes resultados. Assim, cada caso concreto será
resolvido de uma determinada forma, o que gera insegurança jurídica.

 Caminho inverso dos métodos tradicionais: ele parte do problema para a norma,
em vez de buscar a norma adequada para a solução do problema. Assim, primeiro
há uma discussão em torno do problema (busca da melhor solução) e, após obtê-
la, busca-se no ordenamento jurídico uma norma para fundamentar a decisão. O
intérprete não interpreta inicialmente a constituição, mas faz o inverso, ou seja,
analisa o problema, pensa na solução que seria mais adequada, utilizando vários
topoi, depois de chegar ao resultado que considera mais justo, vai no OJ buscar a
NJ para fundamentar a decisão. Observação n. 1: embora este procedimento seja
muito criticado pela doutrina, na prática é o que grande parte dos juízes fazem
em muitas matérias. Os ministros dos Tribunais Superiores decidem de uma
determinada forma e depois buscam a fundamentação para o decisão. Marco
Aurélio assumiu isso publicamente.

1.1.1. Método hermenêutico-concretizador

I – É um método desenvolvido Konrad Hesse (autor do livro “A força Normativa da


Constituição”).
II – O autor desenvolveu um catálogo de princípios, inspirados nas obras de Theodor
Viehweg e Luhmann (da sociologia – teoria dos sistemas). Criou alguns princípios próprios
de interpretação da constituição: unidade, força normativa, da concordância prática e
conformidade funcional.

III – Segundo o autor, a interpretação e a aplicação da norma consistem em um processo


unitário. Por isso, deve-se falar em concretização e não apenas em interpretação:
somente se interpreta um dispositivo se for para aplicá-lo a um caso concreto e somente
consegue aplicar o dispositivo ao caso concreto se se interpretá-lo. Portanto, a
interpretação nada mais é do que a concretização da norma, pois para concretizá-la é
necessário interpretá-la.

IV - Elementos básicos:

 Norma a ser aplicada - somente é possível utilizar o método Hermenêutico


concretizador se houver norma a ser aplicada. Há aqui diferença em relação ao
método tópico-problemático: a norma não é necessariamente imprescindível, ou
seja, é possível aplicar o MTP ainda que haja lacuna, portanto útil quando não ha
norma específica.

 Compreensão prévia – para Konrad Hesse, somente é possível utilizar o método


Hermenêutico concretizador se houver compreensão prévia do problema e da
teoria da Constituição. Se o intérprete não sabe a diferença da eficacia de uma
norma constitucional, se plena, limitada ou contida, autoaplicável, se é princípio ou
regra, não terá o elemento fundamental para aplicar o método HC. É uma visão
diferente do Peter Harbele, autor do método concretista da constituição aberta,
que prega por meio de seu método um alargamento do círculo de interpretes:
todos os que vivem a constituição devem ser considerados seus legítimos
interpretes.

 Problema a ser resolvido: para obter a concretização é necessário um problema concreto


a ser resolvido (interpretação e aplicação consistem em um processo unitário). Não dá
para fazer em tese, ou seja, pegar a constituição e dar a interpretação, pela exigência da
concretização.

V – Esse método corrige a principal crítica feita ao método tópico-problemático (partir


do problema para buscar a norma). No método hermenêutico-concretizador, há uma
primazia da norma sobre o problema.

1.1.1. Método normativo-estruturante

I – Seu principal expoente é Friedrich Müller.


II – Assim como Konrad Hesse, Friedrich Müller também parte da ideia de concretização
- a interpretação, embora seja um dos mais importantes, seria apenas um dos elementos
da concretização. O que importa é a concretização da norma.

O método é denominado de “normativo-estruturante” exatamente por estabelecer uma


estrutura com vários elementos para a concretização da norma.

III – O autor faz uma distinção entre o programa normativo e o domínio normativo:

 Programa normativo: texto da norma.

 Domínio normativo: realidade social conformada pela norma.

Na visão do autor, a norma jurídica é o resultado do programa normativo e do domínio


normativo. Em outras palavras, a norma surge a partir do momento em que há uma
interpretação do texto à luz da realidade social (concretização).

Texto e norma não se confunde. O texto são os sinais liguisticos contidos na lei na
constituição. O artigo da CF contem o texto da norma, que é o produto da interpretação.
Segundo Muller é o resultado da concretização do dispositivo.

IV - Elementos que devem ser utilizados para a concretização da norma.

 Metodológicos: elementos clássicos de interpretação, de Savigny (gramatical,


sistemático, histórico e lógico; teleológico, genético) e os princípios específicos de
interpretação (catálogo que ele também utiliza com o Konrad Hesse).

 Dogmáticos: compostos pela doutrina e pela jurisprudência.

 Teóricos: são os elementos de Teoria da constituição (assim como no tocante ao


MHC, defende que o intérprete tem de ter o conhecimento e compreensão prévios
sobre a teoria da constituição, para que possa fazer uma interpretação
minimamente adequada: eficacia das normas constitucionais, diferenças entre as
espécies normativas, os fenômenos de direito constitucional no tempo etc.).

 Política constitucional: são elementos de natureza política, mas que também


devem ser levados em consideração quando da concretização de uma norma –
exemplo: a reserva do possível. O tribunal quando decidir sobre determinado
tema, não pode ignorar as limitações orçamentarias que um estado possui (Na
Alemanha se pleiteava vagas para todas as pessoas nas universidades, mas o
tribunal decidiu que embora seja desejável que tenha vaga para todos, até para
que possam escolher livremente qual profissão exercer, isso não é possível, pois o
estado também tem outras demandas a atender).

V - Críticas:
Segundo Müller, aqueles elementos que estão mais próximos da norma (metodológicos e
dogmáticos) teriam uma prevalência sobre os demais elementos (teóricos e política
constitucional). Crítica (Paulo Bonavides): isso seria um ponto falho do método
normativo-estruturante, que ao se abrir para a realidade, assenta sua última estrutura
numa limitação à atividade interpretativa, ao estabelecer essa hierarquia entre os
elementos. Portanto, o método acaba tendo sua última postulação assentada em uma
estrutura jurídica limitativa (restringe a interpretação do intérprete).

1.5.6. Método concretista da constituição aberta

I - Peter Häberle.

II - A preocupação do autor não é em relação ao procedimento de interpretação da


Constituição, ou seja, não se preocupa como a constituição deve ser interpretada, mas
com quem deve ser considerado seu legítimo intérprete.

III – Alargamento do círculo de intérpretes: o autor sustenta que a interpretação não deve
ser feita apenas por um círculo fechado de intérpretes oficiais. Todo aquele que vive a
Constituição deve ser considerado o seu legítimo intérprete (cidadão comum, e grupos
sociais, como igrejas e sindicatos, por exemplo). Se todos devem obediência à
constituição, antes de obedecer, devem interpretar. Deve ser assim, ainda que como co-
intérprete, pois a palavra final será da Corte Constitucional, o que não impede que outros
interpretes colaborem na interpretação constitucional.

IV - Na visão de Häberle, a interpretação da Constituição deve ser um processo aberto e


público: a democracia deve estar presente tanto no momento de elaboração da norma,
como no momento posterior, quando ela for interpretada.

V – No Direito brasileiro há algumas concretizações dessas ideias (ver Lei nº 9868/98):

 Audiências públicas: realizadas pelo Supremo quando determinado assunto exige um


conhecimento mais específico. Ex. Na ADI 3510, onde se discutiu a constitucionalidade da
lei de Biossegurança, que permite a pesquisa de células-tronco embrionarias, o STF
realizou AP, na qual ouviu determinadas autoridades em um e em outro sentido, para que
pudessem levar opiniões diferentes sobre essas pesquisas. O mesmo aconteceu com o
“programa mais médicos”.

 “Amicus curiae”: alguém que com seu conhecimento sobre uma determinada matéria
vai contribuir para que o Tribunal decida a respeito daquele assunto. Quando se trata de
assuntos técnicos, a figura do AC é extremamente importante, tanto que surgiu no direito
brasileiro na legislação do CADE e da CVM, que são questões extremamente técnicas, que
exigem conhecimento específico.

Ambas são exteriorizações dessa ideia de democratizar a interpretação constitucional.

VI - Críticas:

 O alargamento excessivo do círculo de intérpretes pode gerar o enfraquecimento da força


normativa da constituição.

 Para Paulo Bonavides, seriam necessários alguns requisitos - sem os quais não se poderia
falar em sociedade aberta para toda a sociedade - inexistentes em países como o Brasil,
para que a abertura da interpretação se mostre útil: a) existência de um sólido consenso
democrático; b) instituições fortes; e c) cultura política desenvolvida.

1.2. Princípio da interpretação (Konrad Hesse e Friedrich Müller)

Tais princípios fazem parte de um catalogo idealizado por Konrad Hesse e Friedrich Müller
e mencionados por Canotilho e que passaram a ser cobrados em concursos no Brasil,
como se fossem extremamente utilizados na Alemanha.

1.2.1. Princípio da unidade da constituição

I - Considerado o mais importante princípio de interpretação da Constituição pelo


Tribunal Constitucional alemão e bastante mencionado na jurisprudência do STF.

II - Definição: impõe ao intérprete o dever de harmonizar as tensões e contradições


existentes entre as normas da Constituição. Realmente, a Constituição é um todo unitário,
razão pela qual não pode haver contradições, antagonismos e incoerências entre suas
normas. Se houver uma tensão ou conflito entre elas, cabe ao intérprete harmonizá-los.
Nada mais é do que uma especificação da interpretação sistemática.

III - Especificação da interpretação sistemática: de acordo com este elemento, como os


dispositivos não existem isoladamente - compõem um sistema -, é preciso interpretá-los
levando em conjunto com as demais normas que compõem o sistema no qual está
inserido, e não isoladamente.
Como visto, a Constituição em sociedades democráticas e pluralistas resulta de vários
pequenos pactos (tem caráter compromissório e são ecleticas), consagrando valores
muitas vezes colidentes entre si. Cabe ao interprete harmonizar essas tensões.

Exemplo da CF/88 (que tem viés liberal e social):

 CF, art. 5º, XXII: “é garantido o direito de propriedade” (norma típica do Estado
Liberal, consagrada desde a Constituição Americana de 1787).

 CF, art. 5º, XXIII: “a propriedade atenderá a sua função social” (norma típica do
Estado Social de Direito – Novelino falou em norma típica do Estado Social
i n t e r v e n c i o n i s t a ).

Interpretação: o direito de propriedade é garantido mesmo quando não for cumprida a


função social. No entanto, quando a propriedade não cumpre a função social, a proteção
ao direito de propriedade pode sofrer restrição. Ou seja, a proteção conferida a este
direito será menor do que na hipótese de cumprimento da função social.

Exemplo: quando cumpre a função social, a propriedade rural não pode ser
desapropriada para fins de reforma agraria, ocorrendo o contrário com a propriedade que
não cumpre a Função social, ocorrendo o pagamento com títulos da dívida agraria,
resgatáveis em até 20 anos.

Quando a propriedade cumpre a função social, se houver desapropriação para fins de


utilidade pública, necessidade pública ou interesse social, o pagamento é sempre em
dinheiro.

IV – O princípio da unidade da Constituição desempenha um papel extremamente


importante no sentido de afastar uma tese de Otto Bachof, qual seja, a possibilidade de
normas originárias serem consideradas inconstitucionais. A tese foi muito acolhida pela
Alemanha após a SGM, inclusive foi aplicada pelo tribunal alemão.

Otto Bachof possui uma obra intitulada de “Normas constitucionais inconstitucionais?”.


Nesta, o autor menciona várias teorias levantadas por Krüger. Dentre as teorias:

 A Constituição possui normas superiores e normas inferiores. Sempre que uma


norma originária da Constituição inferior colidir com outra norma originária da
Constituição superior, a superior deve prevalecer – Otto Bachof não concorda
com esta hipótese.

 As normas da Constituição deveriam observar as normas de sobredireto (acima


do direito positivo). Caso contrário, as normas constitucionais, mesmo sendo
originárias, seriam inconstitucionais – Otto Bachof concorda.
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal afastou a tese da hierarquia entre normas
originárias da Constituição com base no princípio da unidade. Precedente: ADI n. 40976
6 Tratou-se do questionamento (Partido Social Cristão) sobre a constitucionalidade da
CF, art. 14, § 4º: “São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos” - (norma originária).
Alegação: art. 14, § 4º: norma inferior da CF, a qual violava princípios superiores (não
discriminação, sufrágio universal e isonomia). STF (decisão monocrática do Min. Cezar
Peluso): impossibilidade jurídica do pedido – extinção sem julgamento de mérito.
Fundamento: princípio da unidade. Não há hierarquia entre normas da Constituição.
Estas tensões existentes devem ser harmonizadas pelo intérprete. Assim, a
inelegibilidade dos analfabetos é uma exceção ou restrição ao sufrágio universal em vista
da impossibilidade de uma pessoa analfabeta exercer um cargo público. Lembrar que a
emenda (obra do poder constituinte derivado reformador) pode ser objeto de análise de
compatibilidade com a constituição, ou seja, deve observar as limitações tratadas no
artigo 60 da CF.

1.2.1. Princípio do efeito integrador

É muito ligado ao princípio da unidade, tanto que alguns autores sequer mencionam o
presente princípio de forma específica, pois a ideia é muito parecida com a daquele
princípio.

I - Definição: nas resoluções de problemas jurídico-constitucionais deve ser dada


primazia aos critérios que favoreçam a integração política e social produzindo um efeito
criador e conservador da unidade.

II - A Constituição é o principal elemento de integração comunitária. Assim, na resolução


dos problemas jurídico-constitucionais deve se dar primazia àquelas que favoreçam a
integração política e social. A constituição é o principal elemento de integração da
comunidade.

1.2.1. Princípio da concordância prática (princípio da harmonização)

Também é semelhante ao que dispõe o princípio da unidade. Talvez a diferença mais


prominente seja no fato de que se deveria utilizar o princípio da unidade quando há
colisão em abstrato entre princípios da CF, exemplo: direito de propriedade e função
social da propriedade.
Já o princípio da concordância prática (princípio da harmonização) é utilizado naqueles
casos em que concretamente tem uma colisão de bens constitucionalmente consagrados.
Em princípio, os bens jurídicos consagrados não são colidentes entre si. Exemplo:
Liberdade de locomoção e liberdade de reunião. Em tese, no plano abstrato não há
colisão entre eles, mas no caso concreto pode ocorrer.

I - Definição: impõe ao intérprete o dever de coordenar e combinar os bens jurídicos em


conflito, realizando a redução proporcional do âmbito de alcance de cada um deles.

Assim, em vez de sacrificar totalmente um bem ou interesse para que o outro prevaleça,
o intérprete deve buscar uma redução proporcional do âmbito de alcance de cada um
dos bens ou interesses constitucionalmente protegidos.

II – Exemplos de aplicação:

 A Constituição consagra a liberdade de reunião, a liberdade de manifestação do


pensamento e a liberdade de locomoção das pessoas. Questão n. 1: seria razoável que um
grupo de manifestantes, na sexta-feira, no final da tarde, fechasse completamente a Av.
Paulista? Embora eles possuam o direito de manifestação e de reunião, tais direitos não
são absolutos, pois encontram limites em outros direitos que a Constituição, igualmente,
consagra (liberdade de locomoção, portanto). Concordância prática a ser operada:
permitir a manifestação limitando a ocupação à apenas uma via.

 Manifestação de pessoas mascaradas: a Constituição consagra a liberdade de reunião,


mas ela também veda o anonimato.

 Grupo de médicos e enfermeiros resolvem fazer uma paralisação na porta do hospital


onde trabalham. Em tese, eles poderiam fazer a manifestação, desde que o número
mínimo de profissionais necessários fosse respeitado. No entanto, não poderia impedir o
trânsito de veículos nem ser barulhenta.

Há casos em que não dá pra fazer a concordância prática, pois ou se assegura um


determinado direito de forma integral ou não dá para assegurar. Exemplo: Programa Linha
Direta Justiça, exibido pela Rede Globo, que trazia a tona diversos crimes cujos
responsáveis já haviam sido punidos, trazendo de novo para a sociedade o fato a ser
reaberto para rediscussão social. Bandido da Luz vermelha, que havia ficado preso há
diversos anos, quando ia ser solto, teve o programa. O bandido foi indenizado, tendo em
vista que o programa foi exibido. Outro foi o do Caso Daniela Peres, com a exposição do
Guilherme de Pádua, que conseguiu impedir a exibição do programa, sob o fundamento de
que aquilo impediria sua ressocialização.
1.2.1. Princípio da força normativa da Constituição (Konrad Hesse)

I - Definição: o princípio dispõe que na aplicação da Constituição deve ser dada


preferência às soluções concretizadoras de suas normas que as tornem mais eficazes e
permanentes.

III – O princípio da força normativa não disponibiliza nenhum procedimento específico.


Ele faz um apelo ao intérprete para que opte por aquela solução e torne as normas
constitucionais mais eficazes e mais permanentes.

III – O princípio tem sido utilizado na jurisprudência do STF com um objetivo: afastar
interpretações divergentes, que enfraquecem a força normativa constituição e o princípio
da máxima efetividade (normalmente mencionados conjuntamente, como reforço
argumentativo um do outro). Inclusive se tem admitido a relativização da coisa julgada,
para que a decisão seja conformada ao entendimento do STF. Isso poderia causar
estranheza, com base na Súmula 343 do STF. Ver item abaixo.

IV - S. 343 STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a
decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos
tribunais”.

A Súmula não está superada. O STF realiza o “distinguishing” (distinção entre duas
situações): o enunciado continua válido para a interpretação de lei; se for uma
controvérsia sobre a interpretação de texto constitucional, caberá a ação rescisória. O
novo CPC adotou esse entendimento.

Precedente: STF – AI 555.806 AgR/MF: “[...] 2. Inaplicabilidade da Súmula 343 em


matéria constitucional, sob pena de infringência à força normativa da Constituição e ao
princípio da máxima efetividade da norma constitucional”.

V – Hipótese: juiz profere uma decisão no mesmo sentido decidido pelo Supremo. No
entanto, posteriormente, o STF muda a sua jurisprudência 1. Questão n. 1: neste caso cabe
ação rescisória? Segundo o STF, não:

1STF já entendeu que a prisão pena poderia ser após condenação em segundo grau;
depois só poderia ocorrer após o trânsito em julgado; depois voltou novamente para o
entendimento anterior de que seria possível prisão com condenação em segundo grau;
agora está querendo discutir de novo se só pode a partir do trânsito em julgado.

Também houve oscilação no tocante ao julgamento pelo STJ apenas com a autorização da
AL, se a CE previsse, mesmo a CF não trazendo essa disposição de modo expresso. Agora
está dizendo que mesmo se a CE dissesse que é necessário, é vedado que o julgamento
do governador seja condicionado à deliberação da AL.
STF - RE n. 590.809: “Não cabe ação rescisória quando o julgado estiver em harmonia
com o entendimento firmado pelo Plenário do Supremo à época da formalização do
acórdão rescindendo, ainda que ocorra posterior superação do precedente”.

O entendimento acima pode ser questionado em face do que dispõe o Novo Código de
Processo Civil:

CPC, art. 525, § 12º: “Para efeito do disposto no inciso III do § 1o deste artigo, considera-
se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em
lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou
fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso2”.

CPC, art. 525, § 15º: “Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em
julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do
trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal”.

 Se na época em que o juiz decidiu a decisão estava de acordo com o entendimento do


Supremo, ainda assim caberá ação rescisória? Segundo o professor, é possível interpretar
o dispositivo em harmonia com a decisão proferida pelo Supremo antes da entrada em
vigor do Novo Código de Processo Civil, no sentido de que só caberá ação rescisória se o
entendimento adotado não tiver sido compatível com entendimento do Supremo.

Nesse sentido, o entendimento adotado pelo Supremo:

“Reitero que o entendimento aplicado por esta Suprema Corte quando da


prolação do decisum rescindendo estava de acordo com seu entendimento e
prevalece até a presente data. E, ainda que houvesse algum indicativo de
alteração do entendimento quanto à questão posta nos autos (o que não é o
caso, pois esta Corte se mantém firme em sua compreensão), não restaria
configurada a alegada causa de rescindibilidade da decisão, prevista no art. 966,
inciso V, do Código de Processo Civil atual, pois, conforme tese fixada no
julgamento do Tema 136 da Repercussão Geral (RE nº 590.809/RS): ‘não cabe
ação rescisória quando o julgado estiver em harmonia com o entendimento
firmado pelo Plenário do Supremo à época da formalização do acórdão
rescindendo, ainda que ocorra posterior superação do precedente’ (sublinhei).”
(AR 2572 AgR, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgamento em

2 Com base nesse dispositivo, GM reabriu a discussão sobre a mutação do papel do


senado (art. 52, X, CR).
24.2.2017, DJe de 21.3.2017) - Este julgado foi incluído no material de apoio pelo
Professor Marcelo Novelino.

 O prazo para ação rescisória é contado não da decisão que transitou em julgado, mas do
trânsito em julgado da decisão do STF. Isso pode fazer com que a ação rescisória seja
cabível anos e anos depois do acórdão ter sido proferido, o que é constitucionalmente
questionável, tendo em vista a forte afetação do princípio da segurança jurídica.

O entendimento do STF é bastante razoável: adotava o entendimento de que se


houver divergência de interpretações cabe AR dentro do prazo de 2 anos da
decisão rescindenda, o que possibilitava a harmonização do principio da justiça e
o da isonomia. Possibilita-se uma relativização da segurança jurídica, permitindo
a AR dentro dos dois anos e ao mesmo tempo você protege a segurança jurídica,
pois após os dois anos não poderá mais haver ação rescisória. Ao mesmo tempo,
assegura-se a isonomia e a justiça. Agora se não houver limite de tempo,
permitindo a rescisão 20 ou 30 anos após, a segurança jurídica fica
comprometida, não havendo a possibilidade de harmonização dos referidos
princípios.

Situações (cabimento de ação rescisória, cf. o precedente acima):

 O Tribunal decidiu, a decisão transitou em julgado e, no momento em que o


Tribunal decidiu, não havia nenhum precedente do STF sobre o tema: cabe a ação
rescisória, caso o STF decida diferente.

 O Tribunal decidiu e na época já havia um precedente do Supremo em sentido


diverso, mas a decisão do Tribunal transitou em julgado (não houve o RE para o
STF): cabe a ação rescisória.

 A decisão transitou em julgado e o entendimento adotado pelo Tribunal foi no


mesmo sentido do entendimento do Supremo, mas este posteriormente muda seu
entendimento: não cabe a rescisória.

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