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O Problema Filosófico e a Linguagem

A confecção desse artigo foi motivada por ocasião dos estudos levados a efeito no Núcleo
de Estudos da Antigüidade – NEA – UERJ, onde desenvolvo pesquisas nos campos de
História das Idéias, das Mentalidades, Comparada e Psicológica, em torno de Platão e
Hipócrates de Cós. Consultava a obra do filósofo analítico Richard Rorty (1994), A Filosofia
e o Espelho da Natureza e em sua introdução, me chamou a atenção à questão que o autor
oferece quando se posiciona a respeito do que chama problema filosófico conforme
segue: os problemas filosóficos aparecem, desaparecem ou mudam de forma devido a novas
suposições ou vocabulários. (1994:13).
Rorty se vincula à chamada filosofia analítica que atua junto aos campos de pesquisa da
Filosofia da Mente, Neuropsicologia Cognitiva e Teoria do Conhecimento, que tem como
postulado que toda a linguagem é um produto de interações sociais e que, portanto, não
existem termos naturalmente dados. conforme nos informa Teixeira (2000: 116).
De acordo com Rorty (1994:13) a História da Filosofia seria um conjunto de problemas bem
diferenciados e especialmente vinculados ao fenômeno da linguagem. Seriam perfeitamente
determinados por fatores sócio-históricos estabelecidos e, por conseguinte, muitos deles
seriam pseudo-problemas, isto é, careceriam de realidade objetiva, sendo simples jogos de
linguagem ao invés da impressão de relativa concretitude que o uso cotidiano que fazemos
da linguagem plena, segundo Rorty e os defensores da filosofia analítica, de metáforas
oculares inexistentes objetivamente na experiência sensível bruta.
Se utilizássemos o que propõe a filosofia analítica, em termos de uma reforma da
linguagem, isto é, reforma de nossa linguagem usual que para a Filosofia Analítica é de
caráter psicológico mais do que condizente aos dados sensíveis e empíricos que
detectamos, devendo a linguagem, então, ser adequada a uma nova fundamentação que
tivesse por estrutura referencial dos signos, os conhecimentos adquiridos através das
últimas descobertas e teorias neurobiológicas. Teríamos assim, condições de alcançar um
estado avançado e unificado na ciência em todos os seus ramos, exatas e humanas, com sua
conseqüente unificação em todas as variantes de investigação da natureza.
Conseqüentemente deveria ser excluída de nossa linguagem cotidiana, de maneira
escalonada, o que Rorty chama de vocabulário mentalistaou como também é conhecido entre
os pesquisadores do campo, folk psychology.
Concordo com Rorty no que se refere à questão da linguagem ser produto vivo e interativo
das necessidades e relações sócio-históricas e que as representações feitas por meio dos
signos usuais são eivadas de termos e metáforas que inferem em nós, não apenas a
existência da mente, bem como a possibilidade da pré-existência e sobrevivência dela aos
fenômenos biológicos que nos são peculiares, como bem sugere a tradição filosófica
derivada do platonismo. (PLATÃO: s/d). No entanto, no que se refere à questão da
necessária pseudo-problematização de certas questões filosóficas como algo desprovido de
substância e concretitude no real, parece-me algo exagerado e necessário se faz melhor
compreensão sobre o assunto.
No que se constitui o problema filosófico para Rorty? Diz ele (RORTY, 1998, 13-28) que
sua intenção não é a de fornecer ao leitor solução alguma aos questionamentos que
apresenta à tradição filosófica, mas pretende causar uma provocação, a desconfiança no
sentido de tentar compreender a questão sob outro ângulo, isto é, sob a perspectiva da
Filosofia Analítica, em especial sob influência de filósofos como Wittgeinstein, Heidegger e
Dewey. Neste sentido Rorty se posiciona de maneira indireta quanto ao problema
filosófico ao longo de sua Introdução. Logo, para ele, o problema filosófico é um mero
fenômeno, um jogo de linguagem que tem características metamórficas, atemporais e com
alta adaptabilidade às necessidades antropológicas, históricas, psicológicas e sociais de
seus usuários. Em geral, os problemas filosóficos emergem e submergem de tempos em
tempos conforme o zeitgeist, isto é, as forças contextuais ou espírito de época(SCHULTZ
&SCHULTZ, 2006). Nesta medida, o que Rorty chama de problema filosófico vincula-se
necessariamente à história cultural e aos vocabulários possíveis e passíveis de expressarem
as relações psicosociais na e pela linguagem em um ou mais idiomas ou conjunto de signos
recorrentes nas sociedades.
O problema filosófico então, se submete à evolução (adaptações) da linguagem, logo, a
Filosofia é uma linguagem técnica específica caracterizada por um dado vocabulário, em
uma das modalidades possíveis do discurso racional que por si só, já se caracteriza como
uma linguagem criada na Grécia, entre os séculos VII-IV a. C. (DETIENNE, 1998). Do que
decorre que o problema filosófico não tem existência dada, isto é, como produto das
interações sociais, sendo especificamente uma construção, um artefato psicocultural
expresso na História da Filosofia, ele tem características e aplicações multifacetadas,
vinculado necessariamente à linguagem e aos fenômenos cognitivos a ela vinculados e
particularizados culturalmente. O que melhor o caracterizaria não seria a condição
de problema, mas de pseudo-problema por não ter existência concreta em termos físicos,
objetivos, porém por ser necessariamente fundado sobre um fenômeno cognitivo arcaico
helênico que Rorty chama de fenômeno metafórico ocular essencialmente caracterizado
pela fiel representação mental dos objetos de conhecimento exteriores ao sujeito
cognoscente, ao menos no ocidente (PROVETTI JR, J.: 2007).
O que diz a tradição filosófica a respeito de nosso objeto de estudo, isto é, o problema
filosófico? Conforme se verifica em Japiassu & Marcondes (1993:202):
1. Em sentido genérico, dificuldade, tarefa prática ou
teórica de difícil solução (...)
2. Em sentido mais amplo, filosófico e, em geral, teórico,
toda questão crítica, de natureza especulativa ou prática,
examinando o fundamento, a justificativa e o valor de um
determinado tipo de conhecimento em forma de ação.
Tanto na primeira quanto na segunda acepção percebe-se o caráter de algo que provoca uma
atitude específica que em se detendo em analisá-la e nela refletir, encontra-se maior ou
menor dificuldade em dirimi-la. Ora, pelo que se vê acima, na definição de Japiassu e
Marcondes, um problema é uma coisa prática, empírica, que pode ser de natureza teórica,
hipotética ou concreta, sensível, se constituindo como tal, na medida em que se apresenta
como uma dificuldade real e concreta, empiricamente posta diante de quem a examina e
tem por tarefa solucioná-la, transpô-la ou construir alguma estratégia de relacionamento
para diminuir seus efeitos, quando necessário.
Quando Rorty coloca que os problemas filosóficos são pseudo-problemas constituídos
sócio-historicamente através de um vocabulário especializado à época, em utilização por
seus contemporâneos, supõe transpor a dificuldade em explicar as relações mente-corpo
através de uma estratégia de esvaziamento do conceito de mente como se esse fosse mero
produto cultural de uso consuetudinário, sagrado pela tradição mentalista que permeia a
história do pensamento no ocidente, em especial, quando declarada por Descartes e Locke
no século XVII.
Assim procedendo, creio que Rorty, ao invés de solucionar o problema, o acentua, embora
seja bem verdade que declare na mesma introdução, que sua intenção não é solucionar a
relação mente-corpo, mas estimular a reflexão em torno da questão, no intuito de provocar
a desmistificação do mentalismo da linguagem usual, constituindo-se assim, o livro dele, uma
forma de terapêutica ao problema, de caráter anti-cartesio-lockeano.
Questiono a posição exposta por Rorty quanto ao pseudo-problema filosófico, pois em
verdade, o que problematiza não é a consistência e objetividade do problema ao longo da
História da Filosofia, mas nos traz à discussão outra questão, mais delicada ao meu ver, e
que foca nossa atenção sobre o que é o real e quais os parâmetros possíveis ao sujeito do
conhecimento, para defini-lo e nele, por ele e através dele representá-lo de maneira
eficiente e condizente com as necessidades de nossa sociedade; já que um vocabulário
fundado em sensações puras e isento de elaborações por parte do entendimento, em alguma
linguagem, é discriminado pelo autor como o que provoca a falsa impressão da existência da
mente, dos fenômenos mentais e do vocabulário mentalista que usamos. E nesta medida,
vale ressaltar, que a princípio, ele se refere direta ou indiretamente, à linguagem usual
entre nós, que desde o século VII a. C. tomou vulto ao longo da história do pensamento e no
Ocidente determina os mínimos parâmetros de relacionamento e comportamento intra e
intersubjetivo, bem como com a natureza como um todo. Tal linguagem é a racional, que
exerce em nosso dia a dia, as parametrizações em nosso interagir natural e social, nos
mínimos processos para identificação e decodificação dos estímulos recebidos pelo
organismo, isto é, a razão recebe o estímulo através dos sensórios em nosso corpo,
classifica-o, relaciona-o a outros esquemas neurologicamente armazenados em nossa
memória e, a princípio, sem tal elaboração racional, seria impossível o entendimento a
respeito do percepto e ao que este se refere.
Eis a verdadeira questão que percebemos na Introdução de Rorty, pois sem o processo
descrito anteriormente, ou algum semelhante, a informação sensorial nada mais seria que o
fluxo incessante de blocos de sensações, uma chuva de sinapses a mais produzidas em nosso
sistema nervoso central, sem sentido semiótico por parte do indivíduo ou em termos
filosóficos, do sujeito do conhecimento.
Da mesma maneira, precisamos compreender o que está envolvido na questão de aceitar
a proposta revolucionária da linguagem feita pela filosofia analítica. Como bem recorda
Teixeira (2000: 42), no que se refere à identificação de fenômenos mentais aos eventos
cerebrais, por redução da linguagem a eventos neuronais, informa-nos o autor sobre a
colocação feita por Kant sobre os limites do conhecimento humano, que é tão interessante
que creio ser pertinente reproduzir, como segue:
As tentativas de resolver o problema mente-corpo seriam, no entender de
Kant, um caso típico de uso ilegítimo da razão – um erro que resulta de
ignorar que nosso conhecimento está confinado aos limites da experiência
possível. Quando sustentamos tanto que a mente e cérebro são a mesma
coisa, quanto que não o são, esquecemos que não podemos falar nem de
mentes nem de cérebros, mas apenas de como mentes e cérebros
se apresentam para nós, pois todas as nossas experiências são modeladas
por nosso aparelho cognitivo, inclusive nossas percepções de mentes e
cérebros.
Nessa medida, como distinguir a melhor linguagem e vocabulário para determinarmos nossas
relações com o real e suas realidades como propõe a filosofia analítica, para realizarmos a
mencionada revolução do vocabulário, uma vez que toda percepção que temos de nós e da
realidade exterior são modelagens cognitivas possíveis, nos dizeres de Kant apud Teixeira
(2000:42), empiricamente falando?
Mais uma vez, a despeito dos esforços de físicos, matemáticos, psicólogos, neurobiólogos e
filósofos analíticos nos deparamos com um típico, empírico e não com um
metafísico problema filosófico. A despeito de qualquer referencial lingüístico a ser
adotado, ele se mostra momentaneamente hermético, pois toda e qualquer inferência a
respeito seria não mais que uma das inferências cognitivas possíveis e prováveis a respeito
do tema, modeladas por nossa aparelhagem cognitiva através de nosso sistema nervoso
central, logo, insolúvel até o momento.
Contudo, esse estado de insolubilidade ou em termo técnico-filosófico, - aporia -, não nos
impede de sobre os conceitos de mente, cérebro, fenômenos mentais e neuronais nos
debruçarmos e propormos soluções, hipóteses e teorias que melhor esclareçam os
meandros que os caracterizam, pois como concordamos com Rorty nas primeiras linhas
desse artigo, o vocabulário que usamos é e continuará a ser produto sócio-histórico de
fundo cultural, indiferente ao referencial adotado, isto é, mentalista ou oriundo da empiria
bruta das sensações. Continuará a ser utilizado e funcionará como veículo comunicacional e
de interação entre nós, a natureza e nossos semelhantes, construindoreais possíveis e
passíveis de percepção, como frutos generosos de nosso entendimento através das
potencialidades ou atos de nosso sistema nervoso central, seja ele compreendido como
causa ou efeito da mente, ou melhor, diria como ação-reação da mente, para a mente e pela
mente, simultaneamente entendendo por mente, o que nos define tal qual somos e existimos
individualmente, isto é, o verdadeiroproblema filosófico fundamental de todos os tempos
em nossa cultura, a saber, o nó cognitivo-existencial representado por nossa consciência em
plena natureza, a dar mostras de sua realidade através da mente e seus fenômenos, embora
nos esqueça, quase sempre, que enquanto nos colocamos na posição de sujeito do
conhecimento, não somos seres a parte da natureza, somos elementos dela tanto quanto
qualquer outro elemento que constitui nosso meio ambiente.
Para finalizar este artigo, vale recordar o bom e velho Sócrates, com o que os pensadores
posteriores acreditaram ser sua ironia ao afirmar que a cada dia que passava só sabia que
nada sabia e que nos faz refletir sobre algumas das limitações momentâneas de nossa
aparelhagem cognitiva, à espera dos aperfeiçoamentos que a evolução de nossa espécie
provavelmente nos permitirá atingir por meio dos novos estágios de inter-relacionamento na
natureza e desse, certamente, emergirá novo vocabulário com termos que melhor
expressem na linguagem, novosproblemas filosóficos, com a solução total ou parcial dos
anteriores.
por JOSÉ PROVETTI JUNIOR

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