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REVISTA Nov/Dez 2016 • Nº 66

O OLHAR
DO CLIENTE
Especialistas em experiência do usuário
ganham força nos bancos, para adaptar
a tecnologia aos desejos dos clientes

CIAB ENTREVISTA COM


FEBRABAN 2017 PAULO CAFFARELLI
COMO “SER DIGITAL” EM MENOS DE UM MÊS,
NO SETOR BANCO DO BRASIL TEVE
BANCÁRIO 103 MIL CONTAS DIGITAIS
ABERTAS NA INSTITUIÇÃO
sumário

CONSELHO CIAB FEBRABAN 2017

Maurício Minas-Bradesco (presidente), Gustavo


Fosse – Banco do Brasil (diretor setorial de
Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN),
Geraldo Dezena – Banco do Brasil, Gustavo Roxo –
BTG Pactual, Jorge Ramalho – Itaú-Unibanco, José
Paiva – Santander, Roberto Zambon – Caixa

COMISSÃO DE CONTEÚDO:
6 40 Keiji Sakai - BM&FBOVESPA, Adauto Del Favero –
Bradesco, Antonio Lombardi Neto - Rede, Carlos
Capa Robert Schwentker Augusto de Oliveira – Original, Cláudia Haddad – Itaú
Unibanco, Cristiane Mara Nunes – Citi, Ricardo Nery –
Instituições bancárias estruturam Blockchain será o protocolo da Citi, Eliane Grotti Borges – Caixa, Fernando Pellisario
áreas de Experiência do Usuário internet para trocar qualquer coisa, de Godoy – Caixa, Gustavo de Souza Fosse – Banco do
Brasil, Hilda Raquel Guiaro Sicuto – Santander, Jairo
para aprimorar serviços, produtos e diz especialista Avritchir- UBS, Ana Lucia Coutinho – UBS, Jorge Krug
soluções bancárias – Banrisul, Lusmary Ribero – BTG Pactual, Mario Lopes
- Societe Generale, Nilton Cesar Gratao – FEBRABAN,
Paulo Cherberle- Bradesco, Ronei Maranssati – Banco
28 do Brasil, Wallace Jagiello - Banco Votorantim

Entrevista DIRETORIA DE EVENTOS FEBRABAN:


Nair Macedo (diretora), Marcelo Assumpção,
Banco do Brasil prevê a abertura de Élita Cristina Borges Simionato, Anna Carolina
1,8 milhão de contas digitais em 2017 A. Tapias, Mayra Bazzo Tome, Fernanda Paradizo
Castillo, Ludmila Prado, Marília de Meo Borges,
Keti Granzotto Casarri

44 REVISTA DO CIAB FEBRABAN

Revolução digital DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO:


Sergio Leo (diretor), Adriana Mompean, Cleide
Analytics e robótica vão impactar Sanchez Rodriguez, Evelin Ribeiro, Anna Carolina
Gabiatti, Jessica Magalhães Graça
relação entre instituições financeiras
e clientes MARKETING:
Roseli Rapouso

32 PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO:


Ideia Visual
Regulação das fintechs
Esta é uma publicação da Federação Brasileira de
Grupo do Banco Central acompanha
Bancos – FEBRABAN, Av. Brigadeiro Faria Lima, 1485 –
mercado de fintechs no Brasil 15º andar – Torre Norte – 01452-921 – São Paulo – SP

38
Copyright 2016 - novembro/dezembro. Todos os
direitos reservados.

Ciab FEBRABAN 2017


“Ser digital” é o tema do congresso 50
de tecnologia da informação para Gestão de riscos
o setor financeiro Críticas nas redes sociais, fintechs e
regulação aumentam importância da
área nos bancos

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4 revista Ciab FEBRABAN


editorial

Gustavo Fosse
Diretor Setorial de Tecnologia e
Automação Bancária da FEBRABAN

O olhar do cliente
C
omo o próprio nome revela, a Experi- de tecnologia da informação do setor financeiro da
ência do Usuário, ou UX (User Experien- América Latina, a transformar o assunto em uma
ce) envolve os sentimentos e a percepção trilha de debates na próxima edição do evento.
de quem usa um produto ou serviço, um concei- Com o tema “Ser Digital”, o fórum vai discutir o
to que tornou-se já há algum tempo referência emprego de novas tecnologias, soluções e produtos
obrigatória para os bancos. Um cliente satisfei- inovadores e a formação de equipes especializadas
to contribui de maneira decisiva para divulgar dos bancos capazes de entender as necessidades de
positivamente a marca da instituição financeira, uma nova geração que pensa e age digitalmente.
influenciando a percepção de outros usuários e Nesta edição também teremos uma entrevis-
atraindo novos correntistas para a instituição. ta feita com Paulo Caffarelli, presidente do Banco
Os bancos investem de maneira significativa do Brasil, em que ele fala do plano de reestrutu-
neste setor, com áreas estruturadas de Experiência ração posto em marcha pelo banco público, e seu
do Usuário vinculadas às diretorias de Canais Di- ajuste ao cenário de transformação digital vivido
gitais, onde os processos, produtos e soluções pre- globalmente pelas instituições financeiras.
cisam ser intuitivos, simples, gerar engajamento, O modo como o Banco Central está acom-
e, principalmente, antecipar o olhar do cliente. O panhando o surgimento das fintechs e as trans-
objetivo é fazer com que cada usuário sinta que o formações ocasionadas por estas startups de
produto foi desenvolvido especialmente para si. tecnologia também é tema de reportagem. E
Nesta última edição da revista Ciab FEBRA- continuamos com a nossa série de reportagens
BAN de 2016, dedicamos a capa da publicação sobre a tecnologia do blockchain, sistema de con-
para debater o tema, essencial em tempos em tabilidade distribuída que desperta cada vez mais
que a maioria das transações bancárias é feita o interesse e os investimentos do sistema financei-
por canais digitais, o que exige das instituições ro global. Para esta edição, temos uma entrevista
investimento constante em novas tecnologias e a com Robert Schwentker, presidente e fundador
promoção de uma cultura digital para capacitar da Blockchain University.
os funcionários. Além de personalizar o contato A revista Ciab FEBRABAN ainda destaca
com correntistas, o uso da tecnologia melhora a novas tecnologias, como analytics e robótica, que
qualidade dos serviços prestados aos clientes e vão impactar relação entre bancos e clientes, e
ainda ajuda a reduzir os índices de reclamação traz reportagem sobre o impacto da TI na área de
em SACs e Ouvidorias das instituições. gestão de risco das instituições financeiras.
A importância do tema levou os organizado- Desejo a todos uma excelente leitura e
res do Ciab FEBRABAN 2017, maior congresso boas festas! n

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experiência do consumidor

Banco sob medida


Por Claudia Rolli

Retirada de senha pelo celular,


Antranik biometria de voz, contato personalizado
Haroutiounian,
do Bradesco, pelas redes sociais, treinamento digital
diz que a
inclusão dos
e aplicativos mais funcionais são
clientes precisa
ser financeira,
algumas iniciativas dos bancos para
social e digital usar a tecnologia a favor do cliente

A
o gosto do freguês: alvo de aten-
ção crescente e maiores investimen-
tos, especialistas em “experiência
do usuário”, nos bancos, mudaram a vida
dos clientes, com iniciativas como a iden-
tificação da voz do usuário por softwares de
biometria que diminuem as etapas de aten-
dimento por telefone; homepages do internet
banking que se adaptam de acordo com o
perfil do cliente, dando acesso personalizado
aos serviços mais usados e facilitando a lei-
tura das informações; e a emissão de senhas
por celular - para reduzir o tempo de espera
nas agências.
A demanda por serviços bancários vinda
de usuários cada vez mais exigentes e conec-
tados, aliada ao uso crescente dos canais di-
gitais, impõe aos bancos apresentar inovações
tecnológicas não só para agilizar o tempo de
atendimento, mas para ser mais eficiente no
relacionamento com os clientes. A preocupa-
Divulgação

ção com o tema levou os bancos a estruturar

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experiência do consumidor

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experiência do consumidor

“O BANCO TENTA SER O


FACILITADOR PARA QUE O
CLIENTE CONSIGA CONCLUIR
SOZINHO UMA EXPERIÊNCIA”
Cassius Schymura, do Santander

usabilidade, focus groups (grupos com dife-


rentes perfis para discutir projetos) são algu-
mas das metodologias usadas para recolher
as informações.
Até cinco pesquisas qualitativas e quan-
titativas chegam a ser feitas por mês para
atender o gosto da “clientela”. Em parte de-
las, os clientes são filmados nas agências e
o material segue para análise do UX. “Saber
ouvir faz total diferença”, diz Roberto Zorrón,
gerente-executivo da diretoria de tecnologia
do Banco do Brasil.
No BB, após verificar reclamações feitas
ao BC sobre o extrato da conta corrente, a
área de tecnologia e UX fez cinco propostas de
mudanças e consultou usuários pela internet. A
Divulgação

resposta surpreendeu: 70% pediram para não


mudar. “O problema não era o demonstrativo,
áreas de Experiência do Usuário – UX ou User mas sim dúvidas em relação a um investimento
Experience – vinculadas às diretorias de canais automático para evitar que o dinheiro ficasse
digitais, uma tendência que começou há cerca parado na conta”, diz. “Se tivéssemos feito a
de cinco anos. mudança (no extrato), o nível de reclamação
Designers, arquitetos da informação, teria sido 70% maior; a solução teria se tornado
gestores de conteúdo, analistas de dados e an- um problema.”
tropólogos digitais fazem parte das equipes de Uma nova versão do app mobile do BB
UX que ajudam a converter o comportamento para auxiliar a gerenciar as finanças também
dos clientes em serviços de uso mais intuitivo, passou pela área de UX. Após teste com 400
fácil e agradável. clientes, a demanda foi por algo menos opera-
São esses especialistas que desenham te- cional e mais consultivo. O resultado chegará
las e protótipos (design thinking), a partir de em breve aos clientes, com funções como clas-
tecnologias capazes de acompanhar os movi- sificar gastos pessoais. A partir de pedidos para
mentos de olhos (eyetracking) e toques feitos “enxergar” melhor os serviços dos cartões de
em cada fase de uma transação nos apps, e crédito, o banco criou o app Ourocard, com
registrar feedbacks dos clientes para simplificar funções que vão da contestação de despesas a
uma operação. Analytics, big data, testes de compras feitas por aproximação.

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experiência do consumidor

O avanço no uso do smartphone levou “Hoje 94% das transações são feitas por
o BB a buscar alternativas, como a retirada de canais digitais, o que exige promover uma cul-
senha pelo celular, ideia dos funcionários (por tura digital e capacitar as equipes para demons-
meio do Pensa BB, programa de inovação) que trar como esses processos podem facilitar a vida
foi aperfeiçoada pela UX. A solução, em teste dos clientes”, diz Antranik Haroutiounian,
no Distrito Federal, chega aos demais clientes superintendente-executivo de canais digitais
até o final deste ano. Com o programa de ino- do Bradesco. “Uma coisa é falar em experi-
vação, o BB diz promover uma “cabeça mais ência digital, ter um vídeo tutorial e explicar
digital” de seus funcionários. ao cliente urbano; outra é demonstrar a quem
Do mundo físico ao virtual, o Bradesco mora em uma comunidade do rio Solimões e
prepara e põe em prática mudanças na forma é atendido pela agência flutuante do Bradesco
de se relacionar com o cliente com foco no como usar um serviço pelo celular ou tablet”,
atendimento personalizado. Desde 2010, o diz. “A inclusão é financeira, social e digital.”
banco passou a treinar os funcionários com Há dois anos, o banco inaugurou a segun-
equipamentos como tablets e smartphones. da balsa que atende clientes do Norte. Desde

Valter Gonçalves
Rodrigo de Oliveira/Assessoria Caixa/4/9/2012

Nunes, da Caixa,
diz que personalizar
o contato com
correntistas e
não clientes tem
sido uma estratégia
do banco nas
redes sociais

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experiência do consumidor

2009, quando a primeira chegou à região, a


média de abertura de contas é de 6 mil a 7
mil por ano.
Usar a tecnologia para fornecer informa-
ções com agilidade e exatidão significa me-
lhorar a aprovação de serviços e diminuir os
índices de reclamação. Uma das ferramentas
para isso é a biometria de voz já em fase de
teste com 5.000 clientes e que deve chegar ao
Fone Fácil Bradesco até julho de 2017. O sis-
tema analisa cem itens relacionados à voz do
usuário (timbre, calibragem) para aprimorar
a segurança, evitando imitações e tentativas
de fraudes.
“Primeiro o cliente teclava, escolhia no
menu os serviços e esperava os comandos da
UR (unidade de resposta audível), depois,
houve o reconhecimento de voz, com eco-
nomia de tempo; mas é preciso se identifi-
car, digitando agência, conta e senha”, diz
Haroutiounian. “Com a biometria de voz,
o cliente terá de realizar menos etapas para
fazer a transação.” Para ele, no call center,
cada segundo que você reduz de um cliente
significa estar livre para o próximo.
Novas versões do app do Bradesco no
mobile também demandaram atenção da UX.
A captura de imagem para depósito de che-
ques foi simplificada, mas com sofisticação
técnica: a leitura é automática, sem a neces-
sidade de fotografar a folha como antes. A
possibilidade de pagar boletos recebidos por
Danilo Stoqui

e-mail, usando o arquivo em PDF para pre-


encher automaticamente os dados, foi outra
“PROCESSOS MAIS OBJETIVOS, SEM função criada no app.
TANTAS BARREIRAS, MELHORAM A Na visão do Santander, o cliente já enxer-
EXPERIÊNCIA PARA O CONSUMIDOR” ga hoje o profissional de UX como alguém com
Erico Fileno, da Visa Brasil quem ele pode reclamar e ser ouvido. “O banco
tenta ser o facilitador para que o cliente con-
siga concluir sozinho uma experiência, já que
as soluções são desenhadas do ponto de vista

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experiência do consumidor

“DE NADA
ADIANTA O
PRODUTO
SER ESPETACULAR
SE A EXPERIÊNCIA
DE USO NÃO FOR
IMPECÁVEL”
Valério Murta, da
Divulgação

Mastercard Brasil
e Cone Sul

dos usuários e isso facilita sua interação com o No Bradesco, um meio de pagamento
produto ou o serviço”, diz Cassius Schymura, eletrônico criado para o e-commerce no final
diretor de canais do Santander. dos anos 90 (a carteira eletrônica com certi-
Comentários feitos nas lojas onde os usu- ficação digital) não “pegou”. Era preciso fazer
ários baixam seus aplicativos, nas redes sociais download de um software, preencher dados do
e nos canais tradicionais (call center, agências e cartão na certificação e houve resistência. O
SAC) são registrados e servem de matéria-pri- processo foi considerado “muito hightech” para
ma para estudar as necessidades dos clientes. a época. A saída foi criar o boleto eletrônico,
até hoje em uso.
Recuar para avançar Simplificar processos e facilitar a vida do
Nem sempre tudo que é proposto dá certo. O cliente também foram as preocupações da UX
que, na visão dos profissionais, pode facilitar a ao propor alterar o local em que estavam íco-
vida, às vezes, também pode criar insegurança. nes de pagamento e transferência de valores
Foi o que ocorreu quando a função de do app do Santander - eles foram parar na
saldo da conta corrente passou a ser exibida na homepage do app.
tela inicial do app do Santander. O objetivo era Em novembro, o Santander também anun-
mostrar de forma mais rápida um dos serviços ciou um novo modelo digital de financiamento
mais usados. Parte dos clientes se sentiu inse- de veículos que reduz de 108 para 9 o número
gura pela falta de privacidade, e o banco criou de campos a serem preenchidos na fase inicial de
a opção ocultar saldo na tela inicial. concessão de crédito, e para 25 até a liberação.

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experiência do consumidor

Personalizar o contato com correntistas e segurança. A inspiração vem de empresas como


não clientes tem sido uma estratégia da Caixa Amazon, Google e Apple.
nas redes sociais. Após perceber um comentário Não só os bancos, mas empresas do setor
no Twitter de um usuário descontente com também investem em centros de co-criação.
um concorrente, o banco enviou uma men- A proposta da Visa é desenvolver tecnologias
sagem pessoal com uma ficha para a abertura em parceria com bancos, startups e fintechs, por
de conta. “A resposta do cliente demonstrou meio de uma plataforma aberta, no recém-
quão importante foi essa experiência e a histó- -inaugurado Co-Creation Center.
ria terminou em casamento”, diz Valter Gon- Uma das primeiras soluções “tropicaliza-
çalves Nunes, diretor de estratégia de canais e das” para quem usa o e-commerce é o Visa Che-
operações de varejo da Caixa. ckout, em que o cliente se cadastra e com um
Duas mudanças recentes foram feitas único login e senha faz compras sem precisar
no acesso ao mobile para permitir adesão ao fornecer os dados a cada transação. Ainda hoje
app diretamente pelo smartphone, além da 68% dos potenciais compradores não comple-
reorganização do site da Caixa e a inclusão tam a transação por causa de etapas a serem
de vídeos tutorais. Com a expansão da rede cumpridas na compra, diz a Visa.
para 61,3 mil pontos de atendimento (até “Processos mais objetivos, sem tantas bar-
junho), o banco prepara o uso de novas tec- reiras, melhoram a experiência para o consumi-
nologias nos canais físicos, com terminais dor e as oportunidades para varejistas, bancos
com touchscreen. e todo o setor”, diz Erico Fileno, diretor-exe-
No Itaú Unibanco, a equipe que atua na cutivo de Produtos da Visa Brasil.
área de UX busca usar metodologias de co- “De nada adianta o produto ser espetacular
-criação para construir experiências simples, se a experiência de uso não for impecável”, avalia
intuitivas e que se tornem referência na oferta Valério Murta, vice-presidente de produtos e
digital, sem deixar de lado a preocupação com a soluções da Mastercard Brasil e Cone Sul.

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experiência do consumidor

SERVIÇOS E PRODUTOS VISAM MELHORAR


A EXPERIÊNCIA DO CONSUMIDOR

Confira o que bancos, empresas de tecnologia e os integrantes da indústria


de meio de pagamento fazem a partir de sugestões ou reclamações de clientes:

n BANCO DO BRASIL * App Trato: criado para aproximar o rela-


cionamento de pais e filhos, com tarefas e
* Senha de atendimento pelo celular: recompensas que estimulam a educação fi-
cliente escolhe a agência onde será atendi- nanceira. Em dezembro, o banco deve ofere-
do, emite senha pelo aplicativo do celular, e, cer um cartão de débito aos usuários do app
ao chegar ao local, faz check-in para entrar para funcionar como uma “mesada”
no sistema de atendimento e reduzir tempo
de espera. Em fase de teste no Distrito Fe-
deral, a solução deve ser estendida em 2017
para todo o país. Ao entrar no app, o cliente
seleciona o serviço (abertura de conta, ir ao
caixa), escolhe a agência, já sabendo o tempo
de espera, confirma a ida e “retira” uma senha
pelo mobile. Ao chegar ao local, faz o check in
e sua senha é acionada no painel, reduzindo
o tempo de espera

Divulgação
* App Ourocard : surgiu para concentrar
serviços de cartão de crédito de forma uni-
ficada, do titular, dos cartões adicionais e * Gerenciador financeiro: solução criada a
dos virtuais partir de uma evolução do app do banco para
fazer aplicações, transferências, liberar ope-
rações de crédito e classificar gastos pessoais
(lazer, educação, casa etc)

* Orientação: aten-
dimento por meio do
app sem precisar se
deslocar até agência
Divulgação
Divulgação

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experiência do consumidor

n BRADESCO Treinamento de funcionários: com tablets e


smartphones, clientes recebem orientação de
* Biometria de voz: solução vai fornecer in- como instalar e usar apps do banco, inclusive
formações de forma mais ágil, após sistema nas agências flutuantes que navegam rios da
analisar cerca de cem itens relacionado à voz região Norte do país
do usuário. Em teste com 5.000 clientes, deve
ser adotada até primeiro semestre de 2017
no Fone Fácil

* Internet banking personalizado: a home-


page varia de acordo com os serviços mais
usados pelo cliente e pode ser personalizada,
por meio de ícone na tela, para facilitar a lei-
tura das informações

Divulgação
* Atendimento de clientes nas redes so-
ciais: feito com respostas que, em média, n CAIXA
demoram cerca de dois minutos
Criação de ambientes virtuais de atendi-
* Captura de imagem para depósito de mento com horário diferenciado: projeto
cheques: foi simplificada e permite a leitura em desenvolvimento
automática da imagem, quando a câmera
identifica o código de barras; antes o usuário Acesso à nova versão do app no mobile:
precisava tirar a foto permite o cadastramento ao aplicativo dire-
tamente pelo smartphone
* Pagamento de boleto por meio de um
toque (tecnologia 3D touch): cliente recebe
PDF por e-mail, clica sobre ele, abre o arquivo
por meio de app do banco e dados para pa-
gamento são transferidos automaticamente
para pagamento pelo celular, sem a necessi-
dade de imprimir o boleto

* Videoatendimento: clientes de agência


exclusivamente digital podem se comunicar
com gerentes e consultores de investimento
(é necessário agendar) por meio de atendi-
Divulgação

mento no mobile

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experiência do consumidor

* Mudança na estrutura de páginas dos ca- n ITAÚ UNIBANCO


nais digitais: nova organização do site, com
atualização de conteúdo e links para vídeos * Tokpag: aplicativo para transferência de di-
tutoriais no modelo “Vamos fazer juntos?” nheiro semelhante ao popular app de men-
sagem instantânea WhatsApp. O software
* Nova interface em terminais de autoa- utiliza a agenda de contatos do smartphone
tendimento: deve ser executado em equipa- para mostrar quais dos amigos do usuário são
mentos com tecnologia touchscreen, projeto correntistas no banco. Assim, as operações
em estudo podem ser feitas de forma simples, com ape-
nas alguns cliques, sem que seja necessário
* Portal de renegociação: clientes com dé- decorar os números da conta e da agência. A
bitos em atraso podem regularizar a situação transferência de valores entre contas corren-
sem a necessidade de ir até a uma agência tes usa apenas o número de telefone

* Reformulação de folhas de pagamento * Pagcontas: aplicativo que permite o paga-


processadas pelo banco: mudança no mo- mento de contas e boletos em lotes de até
delo de atendimento para facilitar a vida dos dez faturas de uma vez, usando a função do
clientes nos processos de abertura de contas, leitor de código de barras, o agendamento
dar mais agilidade e um pacote de vantagens de contas a pagar, e salvar as contas lidas
exclusivas no app sem estar conectado à internet para
depois pagar todas de uma vez quando o
* Contato personalizado: pelas redes sociais, cliente se conectar
Caixa convida pessoas a se tornarem clientes,
quando percebe comentários de insatisfação
com bancos concorrentes
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experiência do consumidor

n SANTANDER * Função FAQS (perguntas frequentes):


principais dúvidas e insatisfações que clientes
* Alteração dos ícones de pagamento e tiveram no atendimento telefônico estão no
transferência de valores: foram para a ho- app do banco para atender com mais agilida-
mepage do app do Santander para facilitar as de e transparência
transações do cliente
* Agilidade nas respostas nas redes sociais

* Novo modelo de financiamento de veícu-


los: com redução de 108 para 9 no número
de campos a serem preenchidos na fase inicial
(pré-aprovação) de concessão de crédito; a
plataforma já é adotada em 12 mil conces-
sionárias e revendas de todo o país. A partir
de 2017, os clientes do banco poderão usar
a ferramenta nas compras de veículos feitas
pelo portal Webmotors

n VISA
Divulgação

* Visa Checkout: serviço de


* Função ocultar saldo na tela inicial: opção pagamento online em que con-
foi criada no app para garantir mais privaci- sumidor se cadastra e, com um
dade aos usuários que se sentiam inseguros único login e senha, pode aces-
ao ter o saldo da conta corrente exibido na sar e fazer compras em qual-
primeira tela do aplicativo quer e-commerce que possua
a ferramenta. Quando usa sites
credenciados para fazer com-
pras online, não precisa pre-
encher todas as informações
pessoais e financeiras (ende-
reço de cobrança, número do
cartão etc) ou ser direcionado
para outro site a cada compra
efetuada. O usuário pode ca-
dastrar um ou mais cartões de
crédito, débito ou pré-pago.
Divulgação

Divulgação

revista Ciab FEBRABAN 17


experiência do consumidor

* Visa Direct: solução que permite enviar di-


nheiro, por meio de canais digitais (incluindo
computadores pessoais, celulares, agências
bancárias locais ou ATMs) a clientes e con-
sumidores que possuem cartões Visa dentro
e fora de um país. Para fazer a transferência,
é preciso digitar o nome do destinatário, en-
dereço, número de cartão de 16 dígitos e o
valor. Uma vez enviado, o dinheiro será re-
cebido no cartão Visa de crédito, débito ou NAS AGÊNCIAS (**)
cartão pré-pago recarregável do destinatário.
O sistema funciona em vários países - EUA, Caixas eletrônicos com novos
Canadá, Singapura, China, Taiwan e outros - e serviços permitem:
deve chegar ao Brasil em breve.
• Saque sem cartão em terminais com
n MASTERCARD recurso de biometria

* Serviço de concierge: funciona como um • Saque com sistema de libras para


assistente pessoal de viagens; o serviço é deficientes
executado por um time de pessoas que de-
sempenham seu papel baseado nos critérios • Depósito de valores sem a
e processos desenhados pela equipe de UX necessidade de preencher envelope
(Experiência do Usuário)
• Emissão de cartões de crédito e débito
* Aplicativo para o programa Mastercard
Surpreenda: será lançado em breve e permi- • Uso de moeda digital (bitcoin)
tirá ao consumidor cadastrar cartões (débi-
to, crédito ou pré-pago), realizar a gestão de • Fazer câmbio entre várias moedas
pontos acumulados e a troca deles por vou-
chers digitais. O usuário pontua em qualquer • Sistema de atendimento virtual na
compra independentemente do valor, junta tela, onde o cliente interage com
pontos que permitem a experiência “compre funcionário 24 horas, todos os dias
um e leve outro” em benefícios em gastro-
nomia, entretenimento, serviços e compras

(*) Produtos mencionados pelas instituições e que exigiram esforços das áreas de experiência do usuário

(**) Serviços que já existem em parte dos terminais de autoatendimento e outros oferecidos em equipamentos que começam
a chegar às agências dos principais bancos do país

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experiência do consumidor

Bancos x fintechs ou bancos & fintechs?

A pressão pela concorrência entre os Sete em cada dez brasileiros clientes de


bancos, associada ao fenômeno das fintechs, bancos entrevistados (74%) já usam produtos
tem obrigado as instituições financeiras a financeiros ou serviços provenientes de fintechs.
Nuno Lopes, da
Accenture, diz
buscar diferenciar-se por meio da Experiên- Entre os entrevistados, 69% dizem que indica-
que bancos têm cia do Cliente. riam essas empresas aos conhecidos, enquanto
preocupação A concorrência com as fintechs exige cada 48% recomendariam os serviços de seu banco.
crescente em vez mais urgência dos bancos, avalia Richard Os índices no Brasil estão acima da média
desenvolver uma Hechenbichler, diretor de experiência digital & mundial constatada no relatório, em que foram
boa experiência do
inovação da consultoria Capgemini no Brasil. consultados 16 mil clientes em 32 países. Quase
usuário, mas quase
sempre com foco A empresa analisou pela primeira vez o com- dois terços deles (63%) afirmam usar produtos
em produtos, canais portamento dos consumidores no uso dessas de fintechs e 55% indicariam seus serviços ante
ou processos empresas, em relatório mundial de 2016. 38% que recomendariam os de bancos.
Os bancos aprimoraram a experiência de
seus clientes em relação ao que foi constata-
do no relatório de 2015, segundo o Índice de
Experiência do Cliente. Na média mundial,
houve melhora em 2,9 pontos em 85% dos
países pesquisados. No Brasil, o acréscimo foi
ainda maior – de 4,2 pontos.
“O que está em jogo no momento é a opor-
tunidade que os bancos têm em criar experiências
cada vez melhores e tão boas quanto àquelas que
seus clientes têm quando interagem, no dia a dia,
com serviços de outras naturezas por meio de
dispositivos móveis”, diz Hechenbichler.
Transformações também ocorrem na
parte física - parte das agências deixa de ter
serviços só operacionais (caixas) e se torna um
espaço como um café – e na forma de oferecer
serviços - por meio do Messenger do Facebook,
SMS ou WhatsApp.
Apesar dos avanços no setor, ainda falta
maior integração e foco no cliente. É o que
pensa Nuno Lopes, diretor-executivo de ser-
viços financeiros da Accenture: “Temos visto
uma preocupação crescente dos bancos em
Divulgação

desenvolver uma boa experiência do usuário,

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experiência do consumidor

BANCOS X FINTECHS
Avança uso de serviços financeiros em empresas que criam
inovações nessa área, segundo relatório mundial

Perfil do estudo
PESQUISA: com 16 mil clientes de bancos de varejo de 32 países (incluindo o Brasil)
FOCO: a experiência do cliente no setor bancário
METODOLOGIA: o relatório inclui também dados qualitativos coletados por meio
de entrevistas com executivos do setor bancário

No mundo No Brasil

63% dos consumidores usam produtos


ou serviços provenientes de fintechs 74% dos consumidores usam produtos financeiros
ou serviços provenientes de fintechs

55% indicariam seus serviços a amigos e


familiares 69% indicariam seus serviços a amigos
e familiares

38% indicariam os serviços de seus


bancos 48% indicariam os serviços de
seus bancos

O que consumidores apontam O que consumidores apontam


como vantagens das fintechs como vantagens dos bancos
3 facilidade de uso 3 confiança na instituição
3 rapidez dos serviços 3 capital
3 experiência positiva do cliente 3 experiência para lidar com os órgãos reguladores

Fonte: Relatório Mundial sobre Bancos de Varejo de 2016, da consultoria Capgemini e da Efma

Experiência dos clientes com seus bancos


(www.worldretailbankingreport.com e www.efma.com/WRBR2016)

Em 2015 Em 2016

Positiva Positiva
Neutra 42% Neutra 52,4%
49,1% 42,4%

Negativa Negativa
8,9% 5,2%

revista Ciab FEBRABAN 21


experiência do consumidor

mas quase sempre com foco em produtos, ca- bons serviços. Ao caminhar por uma rua, um
nais ou processos. A experiência ainda é muito usuário que procura um imóvel (e tem um
desintegrada e inclusive inconsistente. Pode app do Common Wealth Bank) pode apontar
ser excelente no mobile banking e terrível na a câmera do celular para uma casa à venda e
agência, além do fato de algo que o cliente faz receber informações da planta, ofertas na região
num canal não ser visível em outro.” até simular um crédito imobiliário.
A UX está em diferentes estágios em cada “É só clicar um botão para fechar o ne-
Ailtom Nascimento,
da Stefanini,
banco, dentro e fora do país. No estágio pri- gócio”, diz Lopes. “O foco do banco não é só
acredita que mário é tratada como um problema de usabi- o crédito imobiliário, mas ajudar o cliente a
os bancos têm lidade. No intermediário, considera-se o modo comprar uma casa; o objetivo da vida dele no
aprimorado a coleta como o produto serve ao usuário. No mais momento.”
de informações avançado, trata-se de como o banco serve à Na opinião de Stephen Greer, analista da
sobre os clientes
vida do usuário. consultoria Celent, em Nova York, os bancos
na medida em que
ampliam as formas Exemplos dessa “maturidade bancária” agem ainda de forma lenta no movimento di-
de se relacionar existem em várias regiões do mundo. Na Aus- gital e a área de UX sofre as consequências
com eles trália, parcerias entre bancos e fintechs rendem disso. “Nem todo banco tem um aplicativo
para o mobile, e alguns são muito limitados
em funcionalidade.”
Ailtom Nascimento, vice-presidente da
Stefanini, acredita que os bancos têm aprimo-
rado a coleta de informações sobre os clientes
na medida em que ampliam as formas de se re-
lacionar. “Plataformas de inteligência artificial,
capazes de interagir com usuários e sistemas
por meio de um conjunto crescente de inter-
faces de texto e voz são modelos mais próximos
do mercado financeiro.”
O Bradesco usa desde julho uma platafor-
ma desse tipo para tirar dúvidas de funcioná-
rios. Em breve, ela deve migrar para o mobile
e no futuro chegar aos clientes.
Servir ao cliente é o que fazem as fintechs
ao identificarem um problema da vida real a
ser resolvido e desenhar uma solução para isso.
Os bancos têm se aproximado desse conceito,
seja por meio de parcerias ou de programas
de inovação.
“Advogamos os serviços invisíveis, sem
interface”, diz Lopes. “Pense em um usuário
entrando numa agência e sendo reconhecido,
Divulgação

abordado por um gerente que já sabe que ele

22 revista Ciab FEBRABAN


experiência do consumidor

simulou um crédito imobiliário no internet


banking e está pronto para falar disso”, sugere.
“Pense se você precisa pegar a carteira para pa-
gar o Uber; mas, o pagamento estava lá, feito
de forma invisível.”
Para Fernanda Benhami, gerente de cus-
tomer intelligence do SAS América Latina, os
bancos ainda se preocupam demais com usabi-
lidade dos canais e dão menos atenção à fase de
inteligência analítica das informações coletadas
dos clientes.
“Até pela origem dessas instituições, vin-
das de um mundo mais tradicional, há uma
preocupação em fazer com que o usuário migre
para o mobile, aprenda a usar o app e só depois
avalie os dados da experiência do consumidor”,
afirma a executiva.
Ao deixar de ir à agência e migrar para o
digital, as questões que devem ser repensadas
com prioridade, segundo ela, são as relativas
ao que é mais adequado a esse cliente sem de-
pender, como antes, de um gerente.
“O que pensa na hora de contratar um
serviço? O mobile app é que tem de ser legal? A
fila que não vai pegar na agência ou no ATM é
Divulgação

o que importa? Ou a velocidade que fará numa


transação na web?”, questiona. “Quem não en-
tender o que ele quer e não tiver uma oferta gens das parcerias é que a agilidade da estru- Fernanda Benhami,
pronta em tempo real vai perder o cliente.” tura das fintechs permite adequar os produtos do SAS América
Latina, diz que os
Cassius Schymura, diretor de canais do à realidade. “Enxergamos as fintechs como
bancos ainda se
Santander, concorda: a empresa tem de agir parceiras e não como concorrentes”, diz Ro- preocupam demais
antes do pedido do cliente. “Trata-se de uma berto Zorrón, gerente-executivo da diretoria com usabilidade
antecipação de etapas. Por isso, os bancos de tecnologia do BB. dos canais e dão
têm cada vez mais se utilizado das novidades “Trabalhar em conjunto significa encontrar menos atenção à
de startups e fintechs, que, unidas ao experti- alternativas mais rapidamente”, diz Antranik Ha- fase de inteligência
analítica das
se que temos do mercado financeiro, podem routiounian, superintendente-executivo de canais
informações
melhorar a relação e a oferta de produtos”, digitais do Bradesco. “Não há uma fórmula pron- coletadas dos
diz. “Nem sempre a UX tem que ser revo- ta nessa parceria; varia em cada produto.” Há dois clientes
lucionária; muitas vezes, pequenos detalhes anos, o banco criou o InovaBra, programa de
mudam a experiência do cliente.” inovação aberta, para acelerar projetos de startups
Para o Banco do Brasil, uma das vanta- com soluções para o setor financeiro.

revista Ciab FEBRABAN 23


experiência do consumidor

Da esq. p/ dir.: Julieta


Whitaker de Almeida,
59 anos, dona de casa
e artesã; Arthemis
Whitaker, 39 anos,

Paulo Cesar Rocha/FEBRABAN


tradutora e professora
de inglês; Antonio José de
Almeida, 68, ferroviário e
funcionário da CPTM

Família conectada
O primeiro computador entrou na casa encontrar é um meio de interligar os apps de
da família Whitaker nos anos 80, quando o contas em diferentes bancos”, diz a professora.
PC (personal computer) ainda era raro até em A dona de casa Julieta Whitaker de Al-
países avançados. De lá para cá, pais e filhos meida, 59 anos, mãe de Arthemis, considera o
migraram para notebooks, laptops, tablets e serviço de SMS no uso de cartão de crédito um
smartphones no uso de serviços do dia a dia, dos mais eficientes. “O que me irrita mesmo é
inclusive os bancários. a velocidade da conexão na internet. Dos ser-
Há anos, a família usa aplicativos de celular viços oferecidos pelos aplicativos dos bancos,
para pagar contas, fazer transferências, receber uso praticamente todos, e para tudo.”
informações e se comunicar com o banco. Con- O ferroviário Antonio José de Almeida,
sumidores de gerações distintas, mas integrantes 68 anos, pai da professora Arthemis, adota a
de uma mesma turma, a dos adeptos de inova- tecnologia no trabalho, em casa e até no rece-
ções tecnológicas (early adopters), a família nota bimento da aposentadoria, pelo app da Caixa.
“altos e baixos” no uso desses aparelhos. “São mais ou menos 35 aplicativos insta-
Tradutora e professora de inglês, Arthemis lados no meu celular. Caixa, BB, Itaú e Citi são
Whitaker, 39 anos, tem 115 apps instalados no os quatro que mais uso, além de Waze, Zona
smartphone e não lembra a última vez em que Azul, Google Maps e outros de trânsito”, diz ele.
foi a uma agência bancária. “Acho que por volta Recentemente, o aviso pelo celular de uma
de dois anos resolvo tudo pelos canais digitais.” compra que não havia efetuado alertou para o
Usuária também de serviços de fintechs de meios furto de um de seus cartões. “A segurança é
de pagamento – como Paypal, por exemplo – ela uma das maiores vantagens, com sistemas de
diz ter “ficado na mão” com um app uma única bloqueio eficientes e rápidos pelo celular”, diz
vez, ao não conseguir pagar uma taxa do Detran ele, que recomenda o aumento dos limites para
de São Paulo pelo aplicativo mobile. certas transações e maior praticidade e rapidez
“São dois toques e pronto: pago contas, no internet banking. “Serviço personalizado não
transfiro o valor da vaquinha do churrasco entre significa só trocar a cor da tela de acordo com o
amigos, faço o que preciso. O que falta ainda cliente. É preciso muito mais.” n

24 revista Ciab FEBRABAN


revista Ciab FEBRABAN 25
experiência do consumidor

Banco Central cobra atendimento


mais ágil e quer diminuir queixas

O Banco Central informou aos bancos produto ou serviço financeiro, a não adequação
que lideram o ranking de reclamações finan- do produto contratado à real necessidade do
ceiras e entidades do setor, em recente reunião consumidor e a garantia da integridade, confia-
em São Paulo, que vai cobrar mais agilidade bilidade e segurança dos serviços contratados.
na solução das reclamações dos clientes, dimi- Débitos em conta não autorizados pelos
nuição do volume das queixas e melhoria dos clientes e cobrança irregular de tarifas estão
canais de atendimento. entre as cinco irregularidades mais comuns nas
Além de discutir a efetividade do ranking reclamações (http://www.bcb.gov.br/ranking/
como ferramenta para induzir a melhorias, as index.asp), explica o diretor do Banco Central.
estruturas de SAC e Ouvidoria dos três maio- Usando a tecnologia para reduzir quei-
res bancos privados do país receberam a visita xas, o Santander, por exemplo, incluiu no
do diretor de relacionamento institucional e aplicativo mobile a função FAQs (perguntas
cidadania do Bacen, Isaac Sidney Menezes de frequentes), com respostas às principais dúvi-
Ferreira. A experiência será repetida agora nos das e insatisfações registradas no atendimento
dois maiores bancos públicos, com sede em telefônico. “Dessa forma, somos mais rápidos
Brasília. “Foi importante para que o BC pos- e transparentes. A velocidade de respostas do
sa mensurar o esforço empreendido por essas banco nas redes sociais também é bastante po-
instituições no atendimento a seus clientes, na sitiva”, diz o diretor de canais do Santander,
busca de solução de conflitos e na melhoria em Cassius Schymura.
seus processos de venda de produtos e pres- “Investimentos em tecnologia contri-
tação de serviços” comenta o diretor do BC. buem consideravelmente com a diminuição
O número de reclamações já tem caído, de reclamações, especialmente quando criam
mesmo após novas regras que ampliaram as formas de atendimento e de abordagens per-
obrigações dos bancos na contratação de pro- sonalizadas”, afirma o diretor de estratégia de
dutos e serviços. Para um total de contas ativas canais e operações de varejo da Caixa, Valter
nos bancos da ordem de centenas de milhões, Gonçalves Nunes. Aplicativos e serviços na in-
em 2013, foram 377 mil reclamações no siste- ternet banking e no mobile, além de ampliar os
ma de atendimento ao público do BC. Ferra- canais de comunicação e o acesso, permitem
mentas tecnológicas têm papel importante para maior autonomia, comodidade e melhor gestão
simplificar processos, melhorar o atendimento do tempo dos clientes, argumenta.
e reduzir essas queixas, na visão dos bancos. O Bradesco avalia que não só a agilidade,
As reclamações mais recorrentes são as mas a exatidão na prestação das informações
associadas a obrigações na contratação de pro- e serviços reduz os índices de reclamação. “A
dutos e serviços, como prestação de informa- biometria de voz, que em breve estará no Fone
ções necessárias ao cliente na aquisição de um Fácil, é um exemplo de como a tecnologia pode

26 revista Ciab FEBRABAN


experiência do consumidor

ajudar a melhorar a relação com o cliente”, diz


o superintendente-executivo de canais digitais
do Bradesco, Antranik Haroutiounian.
“A área de experiência do consumidor
tem de se antecipar aos movimentos do cliente;
e a qualidade da comunicação é fundamental”,
diz o gerente-executivo da diretoria de tecno-
logia do BB, Roberto Zorrón. “Essa evolução
para os canais digitais é importante porque
o cliente não quer mais ir até a agência; se a
transação por esses canais não funcionar, ele
vai reclamar, e com razão.”
O BB anunciou no final de novembro
maior investimento na área digital e adapta-
ção de sua estrutura ao comportamento dos
clientes. O banco vai fechar 402 agências,
transformar 379 em postos de atendimento
bancário e abrir 255 unidades de atendimento
digital, que irão se somar as 245 existentes.
Segundo o banco, o seu app para celular tem
Divulgação

9,4 milhões de clientes, que fazem cerca de 1


bilhão de transações por mês – 40% do total
de transações no banco. “O BC VEM ATUANDO DE FORMA
SISTÊMICA COM VISTAS A PROMOVER
A MELHORIA CONTINUA DO
Melhoria dos serviços RELACIONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES
As reclamações são uma “ótima fonte” para FINANCEIRAS COM SEUS CLIENTES E
identificar a verdadeira causa dos problemas, USUÁRIOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS”
diz o diretor-executivo de serviços financeiros Isaac Sidney Menezes de Ferreira, do BC
da consultoria Accenture no Brasil, Nuno Lo-
pes. “Não é só em sites dos Procons e do Re- cutando ligações no call center e até mesmo
clame Aqui que está o ouro”, alerta. “É preciso atendê-las, se for possível. Visitar as agências,
usar intensivamente as redes sociais e buscar circular por onde o cliente circula e usar todos
tudo o que o cliente nos diz.” os canais em diferentes situações. Não vejo for-
“Todos os executivos de um banco de- ma melhor de sair do conceito e passar à vida
veriam dedicar um tempo, todos os dias, es- real”, recomenda o diretor da Accenture.

revista Ciab FEBRABAN 27


entrevista

Contas digitais no Banco


do Brasil já são 103 mil
Por Adriana Mompean

Paulo Rogério Caffarelli, presidente experiência digital abrangente é uma das prio-
ridades do Banco Brasil.”
da instituição, estima que a Conta De acordo com Caffarelli, a instituição re-
Fácil BB, totalmente aberta e gistra mais de um bilhão de transações mensais
somente pelo celular. Hoje, o BB conta com
movimentada pelo celular, deverá 9,4 milhões de usuários do app, com expecta-
trazer 1,8 milhão de novos clientes tiva de alcançar 15 milhões ao final de 2017.
Atualmente, 67% das transações do banco
para o banco em 2017; conta digital são realizadas pelo celular e pela internet, e a
foi lançada em novembro tendência é de rápido crescimento desse per-
centual, segundo o executivo.
Recentemente, o Banco do Brasil anun-

E
m menos de um mês após lançado, o pro- ciou um plano de reestruturação que inclui o
jeto de transformação digital do Banco do fechamento de agências e incentivo à aposenta-
Brasil, uma das prioridades do banco esta- doria. Ele falou à revista Ciab FEBRABAN so-
tal, já registrou a abertura de 103,3 mil contas bre as transformações no banco, que pretende
digitais na instituição. Lançada oficialmente concluir em fevereiro a migração das contas de
em novembro, a Conta Fácil BB, que pode ser agências a serem fechadas para outras agências
totalmente aberta e movimentada pelo celular, próximas, prestes a ganhar mais funcionários:
deverá trazer 1,8 milhão de novas contas para a
instituição financeira em 2017, representando O Banco do Brasil anunciou recentemen-
50% do total de contas abertas anualmente te um plano de reestruturação que inclui
nas agências. Foram abertas, em média, 10 mil fechamento de agências e incentivo à apo-
contas digitais por dia útil, mas a adesão veio sentadoria. Como estas medidas poderão
em ritmo acelerado. Em 30 de novembro, o afetar os serviços prestados para o cliente?
banco já registrou mais de 15 mil contas novas. Paulo Rogério Caffarelli – As medidas de
“Nosso app é o quinto mais presente reorganização institucional vão aprimorar o
na tela inicial dos brasileiros; ficamos ape- atendimento ao adequá-lo às necessidades e
nas atrás de redes sociais”, conta Paulo Ro- perfis dos clientes. Continuaremos com o pro-
gério Caffarelli, em entrevista exclusiva para pósito de agregar comodidade e conveniência
a revista Ciab FEBRABAN. “Oferecer uma ao consumo de nossos produtos e serviços por

28 revista Ciab FEBRABAN


meio da utilização de soluções digitais e do
aprimoramento dos nossos processos internos,
o que elevará a produtividade do atendimen-
to nas agências. A qualidade na prestação de
serviços será garantida também pelo aumento
do quadro de funcionários das agências para
as quais serão direcionados clientes daquelas
que forem fechadas. O processo de migração
de contas ocorrerá de janeiro a fevereiro, e os
clientes serão previamente informados pelos
diversos canais de relacionamento do BB. Os
cartões e senhas continuarão válidos; portanto,
não há qualquer mudança na oferta de nossos
produtos e serviços. Quanto à adaptação dos
Divulgação

nossos funcionários aos desafios do mundo di-


gital, posso afirmar que isso já ocorre no Banco
do Brasil como algo natural, tanto do ponto de atendimento ampliado e assessoria financeira “VAMOS INVESTIR
de vista do maior contato das pessoas com as de especialistas (investimentos, crédito, previ- NA CRIAÇÃO DE
MAIS 255 PONTOS
novas tecnologias, quanto em relação ao nível dência e outros temas), que pode ser acionadas
DE ATENDIMENTO
de excelência de nossa universidade corporati- por videoconferência a partir de qualquer local, DIGITAL. SERÃO
va, premiada internacionalmente, que oferece e muitas outras conveniências e soluções que não 500 DESSAS
capacitação com estímulo à convergência entre dependem do ponto físico. A estratégia de trans- UNIDADES, ATÉ O
o mundo digital e as transformações pelas quais formação digital nos permite entregar mais valor FIM DE 2017, ENTRE
passam o sistema financeiro. e aprimorar a experiência dos clientes. Nossas AGÊNCIAS ESTILO
E ESCRITÓRIOS
pesquisas apontam que a satisfação de um clien-
DIGITAIS”
Há demanda para a abertura de mais escri- te encarteirado no nosso modelo digital é 16% Paulo Rogério
tórios digitais? Quantos desses escritórios superior ao daquele que utiliza os serviços das Caffarelli,
serão criados ou ampliados já em 2017? agências físicas. Esses estudos confirmam uma presidente do
Que outras mudanças haverá neles já no realidade que já vivenciamos e que se acentuará Banco do Brasil
próximo ano? nos próximos anos, com o relacionamento di-
Paulo Rogério Caffarelli –Vamos investir na gital se consolidando como a melhor forma de
criação de mais 255 pontos de atendimento di- customizar soluções bancárias.
gital. Serão 500 dessas unidades, até o fim de
2017, entre agências Estilo e escritórios digitais. O Banco do Brasil já transformou todas
Começamos a implantação dos modelos BB Es- as agências Estilo (para correntistas com
tilo Digital e BB Exclusivo Digital no primeiro renda acima de R$ 8 mil) em digitais. A ins-
semestre de 2015. O objetivo é oferecer, com esse tituição tem planos de levar a medida para
novo formato, facilidade de acesso dos clientes clientes com menores faixas de renda?
ao gerente de relacionamento, por meio de fer- Paulo Rogério Caffarelli – Toda a rede de
ramentas baseadas em tecnologias móveis. As atendimento especializado em clientes alta ren-
agências digitais também contam com horário da do segmento Estilo já é atendida no mode-

revista Ciab FEBRABAN 29


entrevista

lo digital. O mesmo ocorrerá com as agências da abertura e movimentação de conta em qual-


desse segmento que serão implantadas daqui quer dia, local e horário. Já são 103.328 contas
em diante. Além do modelo Estilo Digital, digitais, até o dia 1º de dezembro, sendo que
destinado aos clientes com renda superior a 94.839 delas foram abertas via mobile. A quan-
R$ 8 mil, o banco lançou o modelo de aten- tidade vem aumentando a cada dia. A média é
dimento BB Exclusivo Digital, para os clientes de 10 mil contas digitais abertas por dia, mas
com renda mensal entre R$ 4 mil e R$ 8 mil. em 30 de novembro, por exemplo, já foram
Na concepção de escritórios de negócios, não mais de 15 mil contas. Na tela inicial do apli-
há qualquer vínculos com agências bancárias cativo do BB, o cliente seleciona “Quero abrir
tradicionais. Ao todo, já foram inaugurados 12 uma conta” e, com alguns cliques, tem a conta
escritórios desse tipo no País. A estimativa é aberta rapidamente. Basta preencher os dados
que, até o final de 2017, sejam pelo menos 202 pessoais, cadastrar a senha, escolher a agência de
escritórios, inclusive em localidades do interior. relacionamento e a conta já se torna apta para
movimentação. No final de novembro, do total
Com a revolução digital, como o senhor vê de contas abertas pelo banco, 85% já foram digi-
o futuro das agências? Elas terão um perfil tais e 15% tradicionais, abertas na rede. A expec-
mais de negócios? As agências físicas ten- tativa, portanto, é de um crescimento, cada vez
dem a acabar? maior, com previsão de abertura de 1,8 milhão
Paulo Rogério Caffarelli – Buscamos ser um de contas em 2017. A experiência do cliente com
banco que concilia a conveniência do atendi- os bancos, notadamente, será digital.
mento físico com uma experiência digital abran-
gente. São duas formas de relacionamento que Atualmente, qual é o perfil do cliente do
se complementam, conforme o perfil de cada Banco do Brasil? Ele é majoritariamente
cliente. Os modelos físico e digital acabam in- um cliente digital? Já usa mais o celular
teragindo. O crescimento do número de tran- em suas transações bancárias?
sações pelos canais virtuais libera as agências de Paulo Rogério Caffarelli – Ainda não podemos
inúmeros processos administrativos durante afirmar que os clientes do Banco do Brasil sejam,
o atendimento. Atualmente, 67% das nossas preponderantemente, usuários intensivos de tec-
transações são realizadas pelo celular e internet, nologias digitais bancárias. Mas quero passar
e a tendência é de rápido crescimento desse per- alguns números de como o comportamento de
centual. Diante desse cenário, a atuação das nossa base está mudando de forma acelerada,
agências ficará cada vez mais direcionada para a no uso de canais virtuais. Totalizamos mais de
orientação ao cliente e a realização de negócios. um bilhão de transações mensais somente pelo
celular. São 9,4 milhões de usuários de nosso
Qual é a expectativa, para 2017, de adesão app, com expectativa de alcançar 15 milhões ao
às contas digitais? final de 2017. Nossos pontos de atendimento
Paulo Rogério Caffarelli – O Banco do Brasil digital atendem a 1,3 milhão de clientes e pre-
lançou, em meados de novembro, a sua conta tendemos chegar a 4 milhões em dezembro do
totalmente digital, o BB Conta Fácil. Em me- próximo ano. São números que apoiam nossa
nos de um mês, os clientes já demonstram, em decisão estratégica de investir no modelo digital
números, aderência à conveniência e facilidade de relacionamento.

30 revista Ciab FEBRABAN


entrevista

Os usuários estão cada vez mais conecta- os meios digitais. Também quero lembrar que
dos e ao mesmo tempo mais exigentes, o o BB é o único banco a oferecer financiamento
que obriga os bancos sempre apresentem de veículos pelo celular, que alcançou R$ 150
inovações tecnológicas para seus clientes. milhões em desembolso em novembro, represen-
Como o senhor avalia a estratégia digital do tando 15% das contratações dessa linha.
Banco do Brasil frente aos concorrentes?
Paulo Rogério Caffarelli – Nosso app é o quinto E o que a tecnologia trouxe de benefícios
mais presente na tela inicial dos brasileiros. Fica- para a instituição? Aumentou a produtivi-
mos apenas atrás de redes sociais e à frente dos dade e reduziu custos?
demais bancos. É um dado inequívoco da funcio- Paulo Rogério Caffarelli – Em todas as frentes
nalidade de nossas soluções digitais por celular e em que implantamos o modelo digital, os ganhos
da vanguarda de nossa atuação. Também somos de eficiência foram significativos. Basta observar
o primeiro grande banco brasileiro a instalar um que os clientes que utilizam nossos pontos digitais
laboratório no Vale do Silício, na Califórnia. Mi- de atendimento consomem até 40% a mais em
lhares de empresas de tecnologias estão sediadas produtos e serviços, quando comparados àqueles
naquela região. É um polo de inovação no qual que se dirigem às agências físicas. O novo modelo
já estamos inseridos para interagir com empreen- também é mais produtivo. Um gerente de contas
dedores e identificar novas fintechs que possam consegue gerenciar um número 35% maior de
fortalecer nossa cultura digital. Os bancos têm carteiras de clientes, se comparado ao atendimen-
optado por formas distintas de avançar na era to nas agências tradicionais. Esses são exemplos
digital. Nós acreditamos que, para se desenvolver de como os investimentos nas estratégias digitais
e aplicar soluções aos clientes nessa nova reali- são totalmente compatíveis com nossa busca por
dade, seja necessário estar aberto a parcerias e a níveis crescentes de rentabilidade. Quanto ao
incorporar novos processos e tecnologias. perfil de nossos funcionários, acreditamos na
diversidade como um diferencial competitivo.
O que a tecnologia proporcionou de me- Temos funcionários com experiências distintas,
lhoria na experiência do cliente do Banco vindos de culturas diversas, e isso gera conheci-
do Brasil? Poderia citar exemplos de so- mento e estimula a capacidade de adaptação das
luções e produtos que tiveram um grande equipes a cenários diversos. Agora, os valores da
impacto na vida dos clientes? organização são únicos. E são eles que estimulam
Paulo Rogério Caffarelli – No mês passado, um o sentimento de pertencer a uma organização
cliente contratou um financiamento de R$ 1 mi- com uma missão específica.
lhão para adquirir uma Ferrari. Ele realizou essa
operação totalmente pelo celular, num domingo Como o Banco do Brasil se prepara para
com a família. É claro que falo de uma operação lidar com o surgimento das fintechs?
que envolve um valor distante da vida das pessoas. Paulo Rogério Caffarelli – Entendemos as
Mas, por outro lado, esse caso revela algo em que fintechs como parte do ambiente que influencia
se deve prestar atenção: a extrema confiança nesse a experiência digital do cliente. Nesse sentido,
canal de relacionamento, para que o cliente deci- não são apenas um desafio para os bancos, mas
disse efetuar um financiamento nesse montante, também provedoras de soluções que estimulam
e a sinalização de que já não existem limites para a inovação do segmento financeiro. n

revista Ciab FEBRABAN 31


regulação

De olho nas fintechs


Por Maurício Moraes

Banco Central monta grupo para


acompanhar o surgimento de
empresas de tecnologia que podem
revolucionar o sistema financeiro

32 revista Ciab FEBRABAN


regulação

A
tecnologia tem pressa. Empresas
que apostam em inovação para revolu-
cionar os serviços financeiros, as finte-
chs, surgem em um ritmo alucinante no Brasil.
O número de startups nessa área passou de 130,
catalogadas em setembro de 2015, para 206 um
ano depois, de acordo com o levantamento
Radar FintechLab, que faz mapeamento peri-
ódico do setor. Com tantos atores chegando
ao mercado em tão pouco tempo, é inevitável
que surja uma preocupação: como isso pode
Divulgação

afetar a estabilidade do sistema? Para mostrar


que está atento às mudanças, o Banco Central
(BC) divulgou no Relatório de Estabilidade elaborar estudos sobre inovações tecnológicas Paula Ester Farias
Financeira de setembro que desde junho acom- digitais ligadas a atividades desempenhadas no de Leitão, do Banco
panha de perto essas transformações. Sistema Financeiro Nacional (SFN) e no Sis- Central: grupo de
trabalho surgiu para
De acordo com o documento, um grupo tema de Pagamentos Brasileiro (SPB). A ideia
acompanhar de
de trabalho interdepartamental foi criado por é avaliar que tipo de impacto as inovações perto as inovações
meio da Portaria 89.399, em 3 de junho, para podem causar sobre o funcionamento desses
sistemas e, se for necessário, agir rapidamente
para que a área competente regule as atividades
capazes de provocar problemas. Assim, o órgão
espera garantir que não haja nenhum tipo de
sobressalto na economia.
O grupo reúne representantes de todas as
diretorias. “Isso não afeta o trabalho de cada
equipe. A fiscalização vai continuar fazendo
o que tem que fazer, assim como a parte do
sistema de pagamentos, a regulação”, explica
a chefe-adjunta do departamento de regulação
do sistema financeiro (Denor) do Banco Cen-
tral, Paula Ester Farias de Leitão. “Não tem
efetivamente uma regulação sendo trabalhada
nesse momento. Como são coisas novas, a nos-
sa orientação aqui é acompanhar.”
De acordo com Paula, existe, inclusive, a
Divulgação

preocupação de não impedir que as inovações


ocorram, agindo apenas se for necessário. Não
Carolina Secches, do Trench, Rossi e há uma agenda predefinida para que o grupo faça
Watanabe Advogados: regulação em excesso reuniões. Periodicamente, representantes de cada
pode bloquear o surgimento de serviços diretoria trazem informações que acham perti-

revista Ciab FEBRABAN 33


regulação

nentes, para discutir em conjunto. Também


têm ocorrido conversas com algumas empresas
e com os bancos, o que ajuda a conhecer me-
lhor algumas das novas iniciativas do mercado.
Isso porque o Banco Central não quer se limi-
tar a acompanhar apenas as fintechs; todo tipo
de inovação que ocorrer no setor financeiro
será analisada – independentemente de quem
a liderar.
Funcionários do BC que participam de
encontros no exterior também dividem suas
experiências, que muitas vezes podem incluir
conversas com reguladores de outros países.
Os debates podem eventualmente gerar um
entendimento sobre uma determinada ques-
tão, o que é compartilhado por todos. “Não
é no sentido de vigilância; para mim, quando
Divulgação

alguém fala de vigilância, dá a impressão de


que está querendo segurar o negócio; não tem
isso”, afirma Paula. “É muito mais no sentido José Augusto Martins, do Trench, Rossi
e Watanabe Advogados: há áreas mais
de acompanhar e entender, de ver e conhecer
sensíveis a limitações regulatórias
esses modelos; é um fórum de discussão, onde
são levadas algumas questões.” de visibilidade ao tema. Mas não foi a primeira
Podem ser encaminhadas preocupações, vez em que o regulador falou sobre o assunto.
por exemplo, não apenas quanto à regulação. Além de divulgar o documento, o Banco
Se houver algo que necessite ser fiscalizado, as Central tem procurado participar de eventos e
áreas responsáveis são acionadas. Ou seja, o citado a existência do grupo nessas oportunida-
grupo prepara o Banco Central para que não des. O diretor de Regulação do Banco Central,
seja pego de surpresa e atue quando for neces- Otávio Damaso, falou sobre esse trabalho da
sário, de diferentes formas. instituição no 6º Congresso Internacional de
O comunicado sobre o grupo de tra- Gestão de Riscos, realizado pela FEBRABAN
balho incluído no Relatório de Estabilidade em outubro. “Naturalmente, todo esse proces-
Financeira não teve a intenção de servir como so de inovação sempre atrai riscos que a gente
aviso. “Foi mais uma questão de transparên- consegue ver agora e riscos que a gente ainda
cia, de mostrar que esse assunto está sendo não está vendo”, afirmou. "Então, o processo
acompanhado pelo Banco Central”, diz Paula de interação da discussão também vai nessa
Leitão, do BC. “Há um interesse do merca- linha: ampliar nossos horizontes e identificar
do em saber se estamos olhando isso ou não; os potenciais riscos desse processo."
estamos olhando.” Uma das questões em discussão é o dis-
O informe foi incluído no documento, tributed ledger (DLT), tecnologia que está por
com o título “Inovações Financeiras”, e deu gran- trás do blockchain e do bitcoin. “Isso é novo,

34 revista Ciab FEBRABAN


regulação

O crescimento das fintechs no Brasil

Empréstimos
Gerenciamento
financeiro 27 Eficiência
Quantas financeira
Pagamentos 32
startups há 67 18
em cada área
Número
de
empresas
2016
206

2015 Câmbio
130 4
Negociação
de dívidas
Cryptocurrency 6
Investimentos e blockchain
17 Funding Seguros 11
13 11

Fonte: Radar FintechLab (setembro de 2016)

revista Ciab FEBRABAN 35


regulação

critório associado ao Baker & McKenzie, do


Vale do Silício, especialista em regulamenta-
ção para fintechs. Para a advogada, talvez seja
até necessário simplificar a regulamentação
que existe, em alguns casos. Isso serviria para
adequá-la a esse novo panorama de múltiplas
empresas de tecnologia e permitir que ocor-
ram inovações.
O excesso ou o rigor das normas brasi-
leiras podem atrapalhar, inclusive, os bancos
que querem também oferecer novos tipos de
serviços, muitas vezes trabalhando em conjun-
to com as fintechs. “Claro que flexibilizar tem
um limite, sempre pensando na segurança do
sistema financeiro nacional”, destaca Carolina.
Divulgação

“Mas acho que até ajudaria as instituições fi-


nanceiras, que, às vezes, querem oferecer esses
Marcelo Bradaschia, demanda conhecimento. Temos acompanhado serviços e não conseguem, justamente por cau-
do FintechLab: com a ajuda da nossa área de TI. Estamos na sa da quantidade de regras que têm que seguir.”
cenário regulatório
mesma linha que o mercado, de conhecer essa Revisar as regras existentes seria uma for-
no Brasil não é pior
que o de outros tecnologia e ver quais são os impactos que isso ma de preparar o mercado financeiro para essa
países pode trazer para o sistema financeiro”, destaca nova realidade. Hoje, é comum o escritório ser
a chefe-adjunta do Denor. consultado por fintechs sobre a viabilidade de
Segundo Paula, o tema tem tomado novas ideias serem implementadas no Brasil.
bastante tempo do grupo, por se tratar de Regulamentações recentes do Banco
algo muito recente. O que se tem percebido Central ajudaram a estruturar o setor de pa-
é que, por enquanto, as empresas têm apenas gamentos. Tanto que a maior parte das star-
experimentado a tecnologia para descobrir tups mapeadas pelo Radar FintechLab (32%)
no que pode ser utilizada no segmento fi- concentra-se nessa área. Mas, quando são exi-
nanceiro. Por isso, fazer uma regulação ainda gidas licenças ou regulações mais restritivas,
seria prematuro. há limitações que não podem ser superadas
pelas fintechs – é preciso que elas adaptem-se,
Sob controle fazendo parcerias, para poder funcionar.
A percepção atual do Banco Central é que “Ninguém que não seja banco pode cap-
não há, por enquanto, questões urgentes em tar e emprestar; e tem algumas outras ativida-
volume que demande uma ação imediata. des, como distribuição de valores mobiliários,
“Com a regulamentação que existe, é muito que exigem uma corretora”, exemplifica José
difícil de sair atuando, fazendo algo que já não Augusto Martins, também sócio do escritório
esteja supervisionado; isso dá segurança para Trench, Rossi e Watanabe. Apesar disso, há
o mercado”, acredita Carolina Secches, sócia mais flexibilidade em setores como o de co-
do Trench, Rossi e Watanabe Advogados, es- branças ou seguros.

36 revista Ciab FEBRABAN


regulação

Na mira da CVM
Nem tudo está sob os cuidados do Banco Cen-
tral. Recentemente, as fintechs de equity cro-
wdfunding chamaram a atenção da Comissão
de Valores Mobiliários (CVM). Diferentemente
das empresas que fazem financiamento coletivo
para o lançamento de produtos ou para apoiar
projetos, a oferta, nesse caso, serve para fazer
investimentos em startups ou até em empreendi-
mentos imobiliários. Os interessados destinam
uma quantia e, com isso, esperam obter lucro.
O problema dessa mobilidade está no
alto grau de risco envolvido – o que, mesmo
assim, não tem impedido cada vez mais pes-
soas de participar.
Desde 2014, a CVM suspendeu pelo me-

Divulgação
nos quatro ofertas de investimento feitas por
pequenas empresas de equity crowdfunding. Isso
ocorreu porque as startups não comunicaram Paulo Deitos, da ABFintechs: regulação da
a CVM sobre o crowdfunding, como a regula- CVM veio no momento certo
mentação exige.
“Hoje a CVM tem uma norma que permite ma de proteger os investidores. “A CVM, muito
que seja feita captação até R$ 2,4 milhões por proativamente, tomou uma atitude de criar uma
empresa no mercado; tem algumas iniciativas que regulação para o mercado num tempo recor-
já estão muito próximas disso ou passando desse de; no Brasil, onde as coisas demoram tanto,
valor”, afirma Marcelo Bradaschia, fundador do a gente conseguir isso em menos de dois anos,
FintechLab, um observatório que acompanha foi realmente algo a se admirar”, avalia Deitos.
todo o setor. Diante desse novo cenário, a CVM Tanto a CVM quanto o Banco Central
preparou uma minuta que revê a regulação nesses têm se posicionado a favor da inovação, com o
casos e abriu uma audiência pública, com prazo cuidado de garantir a segurança do sistema. Para
para manifestações até 6 de dezembro. Bradaschia, do FintechLab, isso é positivo. “Tem
A iniciativa foi bem vista por empresas de pontos que em algum momento vai ser interes-
equity crowdfunding. “A gente tinha uma limi- sante rediscutir, mas não acho que temos um
tação de regulação e gostaria de poder captar cenário regulatório no Brasil que é pior do que
mais recursos”, diz Paulo Deitos, cofundador da muitos outros países”, diz. “Nos Estados Unidos,
recém-criada Associação Brasileira de Fintechs é muito mais complicado operar com fintechs,
(ABFintechs) e sócio-fundador da Urbe.me, uma porque muitas vezes você tem regulações que são
startup de equity crowdfunding imobiliário. diferentes por Estado”, compara. O desafio, lá
A proposta da CVM é ampliar o limite de ou aqui, está em manter o terreno livre para que
captação por empresa para R$ 5 milhões, além as inovações aconteçam. “Sempre existe espaço
de obrigar as startups a se registrarem, como for- para eliminar burocracias e intermediários.” n

revista Ciab FEBRABAN 37


fórum de TI

“Ser digital” é o
tema do Ciab 2017
Por Adriana Mompean

Maior congresso de tecnologia da informação


para o setor financeiro da América Latina
debaterá as necessidades da nova geração de
clientes, que pensa de forma digital. Em 2017,
fórum ocorrerá entre 6 e 8 de junho

A
transformação digital vivida glo- as expectativas de seus clientes para que possam
balmente pelas instituições finan- desenvolver e aplicar novas tecnologias que re-
ceiras exige que os bancos invistam almente irão aproximar instituições e usuários.”
cada vez mais em oferecer uma experiência Assumpção informa que o congresso de
diferenciada para os clientes, processo que de- TI será organizado em três trilhas: Experiên-
manda novas tecnologias, soluções e produtos cia do Cliente (leia reportagem sobre o tema
inovadores, e equipes especializadas, capazes de nesta edição), Produtos e Transformação Di-
entender as necessidades de uma nova geração gital. Entre os assuntos que serão debatidos
que pensa e age digitalmente. por especialistas e congressistas estão meios de
Para debater este novo cenário, o Ciab pagamento, seguros, blockchain, moedas virtu-
FEBRABAN, considerado o maior congresso ais, cloud computing e segurança da informação.
de tecnologia da informação para o setor finan- Ganhará maior destaque, no 27º Ciab
ceiro da América Latina, escolheu para o fórum FEBRABAN, o debate sobre as fintechs - em-
do próximo ano o tema “Ser Digital”, que será presas com estruturas enxutas e forte apoio de
realizado entre 6 e 8 de junho no Transamerica novas tecnologias que resultam em produtos
Expo Center, em São Paulo. e serviços financeiros personalizados e preços
“O que impulsiona as novas tecnologias é mais acessíveis. O objetivo será abordar o im-
a necessidade de o consumidor ter uma melhor pacto dessas startups no mercado financeiro; e
experiência com os produtos e serviços que o congresso terá, novamente, o Lounge Finte-
utiliza”, afirma Marcelo Assumpção, gerente de ch, em 2017 com uma área com mais de 500
Relacionamento de Eventos da FEBRABAN. metros quadrados para acomodar um número
“É importante que os bancos entendam melhor maior de expositores, que demonstrarão suas

38 revista Ciab FEBRABAN


fórum de TI

Dayana Souza/FEBRABAN

tecnologias para os bancos e instituições fi- Lançamento do


nanceiras presentes. Ciab FEBRABAN
Outra novidade para 2017 será a realização 2017, realizado em
São Paulo; maior
de mesas de debates para que fornecedores e congresso de TI do
executivos de bancos discutam questões de forte setor financeiro
influência na evolução do mercado financeiro. na América será
organizado em
ANOTE NA AGENDA Lançamento três trilhas:
Experiência do
No lançamento do Ciab 2017, realizado no
Cliente, Produtos
Ciab FEBRABAN 2017 final de setembro em São Paulo, grandes em- e Transformação
Data: de 6 a 8 de junho presas garantiram sua presença na próxima Digital
Local: Transamerica Expo edição do megaevento. Os organizadores re-
Center, em São Paulo gistraram um aumento de 34,78% no número
Tema: Ser Digital de patrocinadores em relação ao Ciab 2016.
Além disso, setenta expositores confirmaram
Trilhas: participação no fórum de TI e 82,5% da área
• Experiência do Cliente total do congresso já foi reservada.
• Produtos O Ciab 2016, realizado em junho pas-
• Transformação Digital sado, recebeu cerca de 3.000 congressistas,
um aumento de 50% em relação ao fórum do
Assuntos em debate: ano passado. Aproximadamente 18 mil pesso-
• Fintechs as circularam pelo congresso de TI, que teve
• Blockchain como tema central “Cultura Digital Transfor-
• Cloud Computing
mando a Sociedade”. Duzentos palestrantes
• Meios de Pagamento
apresentaram as principais soluções e inovações
• Seguros
de tecnologia para o setor bancário, em uma
• Moedas Virtuais
área de mais de 20 mil m². No total, o fórum
• Segurança da Informação
de TI contou com 40 patrocinadores e 130
expositores. n

revista Ciab FEBRABAN 39


entrevista

Blockchain ajuda
a vencer fronteiras na
transformação digital
Por Ediane Tiago
de Los Angeles

virtuais, principalmente com a possibilidade


Tecnologia de contabilidade de descentralizar informações e processos. “A
distribuída será o protocolo da tecnologia de contabilidade distribuída será
o protocolo para trocar qualquer coisa pela
internet para trocar qualquer coisa internet”, avisa.
ou valor, rompendo com modelos Apesar do avanço na digitalização, o
mundo virtual depende de instituições (em
de negócios tradicionais, prevê um modelo centralizado, burocrático e caro)
Robert Schwentker, presidente e para validar as operações na internet. Não
há confiança mútua entre os negociantes. As
fundador da Blockchain University vendas demandam centrais de negócios; as
movimentações financeiras requerem acesso

E
nquanto avançam no terreno do aos bancos de dados de diversas instituições;
blockchain, as instituições financeiras e a gestão de documentos, contratos e ativos é
percebem o óbvio: a ruptura do atual realizada por processos pouco automatizados.
modelo de operação é inevitável. As trocas Ao descentralizar, cria-se um ambiente
de valores - sejam moedas, papéis ou ativos muito mais complexo e parecido com a eco-
- são a última fronteira na digitalização total nomia real. “Não foi o Bitcoin que deixou
dos negócios, e ela vem sendo ultrapassada os bancos interessados, mas o registro distri-
rapidamente. “Estamos diante de uma trans- buído e confiável das transações”, comenta
formação sem precedentes”, dispara Robert Schwentker.
Schwentker, presidente e fundador da Blo- A quebra de paradigmas desafia as insti-
ckchain University, localizada em Mountain tuições a encontrarem seu papel em um mundo
View, na Califórnia (EUA). que dependerá cada vez menos delas. “Tudo
Segundo ele, o blockchain – lançado será redesenhado. A questão não é só técnica”,
como a base tecnológica para a criptomoe- diz o especialista, que também comanda um
da Bitcoin – traz recursos capazes de ampliar projeto de criptomoedas no Massachusetts Ins-
a segurança e reduzir custos nas transações titute of Technology (MIT) e roda o mundo em

40 revista Ciab FEBRABAN


entrevista

maratonas de programação (ou hackathons).


Na Califórnia, Schwentker conversou com a
revista Ciab FEBRABAN sobre os principais
desafios para o avanço da digitalização no mer-
cado financeiro, entre eles a formação de mão
de obra capaz de captar as necessidades dessa
transformação.

O que, de fato, significa o blockchain para


o mercado financeiro?
Robert Schwentker – O blockchain é uma
ruptura na forma como negociamos. É uma
transformação em todas as cadeias produ-
tivas e no dia a dia das pessoas. Permite a
criação de uma rede de confiança, retirando
os intermediários de qualquer tipo de tran-
sação. A rede passa a assegurar e validar a
transferência de valores e ativos. Na práti-
ca, não precisaremos mais das instituições
para certificar pessoas, garantir a entrega e
o pagamento dos ativos. Os bancos sabem
que é impossível ficar de fora. Não é uma
onda tecnológica. Quando apareceu o Bitcoin
(primeria criptomoeda de alcance global e
cuja base de operação é o blockchain), as ins-
tituições financeiras observaram o avanço e
a aceitação da moeda. Ficaram interessadas,
mas reticentes. O real interesse pela tecnolo-
gia surgiu com os aspectos de segurança, pela
criptografia robusta do sistema.
Divulgação Ewally

Agora quais são as características que


estão no centro do desenvolvimento de
“BANCOS SABEM QUE É IMPOSSÍVEL FICAR
soluções? DE FORA DA TECNOLOGIA DO BLOCKCHAIN;
Robert Schwentker – Governos e institui- NÃO É UMA ONDA TECNOLÓGICA”
ções financeiras perceberam que o blockchain Robert Schwentker, durante hackathon
vai além de uma criptografia robusta. O realizado pela Ewally
registro distribuído das informações – re-
sultando em um banco de dados global e
descentralizado – é a base para a criação de
um protocolo para trocar qualquer coisa em

revista Ciab FEBRABAN 41


entrevista

meio digital. Seja dinheiro, ativos, contratos, técnicos para desenvolver aplicativos para um
informações, conteúdo. A internet cresceu determinado banco. O redesenho dos pro-
com camadas de protocolos dirigidos aos cessos é algo mais profundo. As transações
processos e negócios. Agora temos, de fato, financeiras estão arraigadas em operações que
um protocolo para transacionar valores. As vão da simples venda de um produto pela
instituições precisam entender seus papéis internet – em negociação entre duas pessoas
neste novo mundo. – até a gestão de contratos complexos. As ins-
tituições vão ter de rever a sua participação
Em sua opinião, o capital humano é um nesse ecossistema, nessa nova rede de confian-
problema para o desenvolvimento de ça. Entre janeiro de 2015 e janeiro de 2016,
soluções? Como os bancos conseguirão a Blockchain University, por exemplo, for-
acompanhar este movimento e, ao mesmo mou 350 alunos (cerca de 200 engenheiros)
tempo, formar mão de obra qualificada? e inspirou 60 projetos. Também estamos for-
Robert Schwentker – O desafio está no fato mando educadores. Neste período, 25 pessoas
de que as soluções não demandam apenas começaram a dar aula sobre a tecnologia de
conhecimento técnico. Para redesenhar pro- blockchain. Temos de tudo nas turmas. Pessoas
cessos, é necessário comandar equipes mul- ligadas à engenharia, marketing, negócios etc.
tidisciplinares, reunir talentos em diversas Tem aumentado o interesse de profissionais
áreas do conhecimento. Uma solução exige de outras áreas.
codificadores, engenheiros, especialistas em
mercado e comportamento do consumidor, Há uma mudança também na forma de
advogados e economistas. A criptografia vai como os bancos desenvolvem soluções e
precisar de mais matemáticos, uma vez que inovam em processos e serviços?
os algoritmos estão na base da programação. Robert Schwentker – As ideias surgem de
Outros profissionais que entram na lista são todas as partes. Além de exercer atividades
os especialistas em teoria dos jogos, sendo na Blockchain University, lidero um projeto
estes recursos fundamentais para a adoção de criptomoedas no Massachusetts Institute of
da tecnologia e segurança dos sistemas. Afi- Technology, o MIT Media Lab Cryptocurren-
nal, os possíveis ataques ao blockchain não cy Bootcamp. Outra iniciativa é a realização
ocorrerão de uma única máquina ou pessoa. de maratonas de programação, os chamados
É necessário um grupo. O uso de teoria dos hackathons. Estive envolvido em quatro deles
jogos permite identificar quando os parti- (inclusive o realizado em São Paulo). Nes-
cipantes da rede agem fora das regras ou ses programas, testemunhei o lançamento
quando estão tentando manobrar o sistema de outros 60 projetos de blockchain. Com
para mudá-las. tantas coisas acontecendo, as instituições
precisam conhecer a tecnologia e também
É possível traçar um perfil do especialista os projetos. Não se trata apenas de trabalhar
em blockchain? com uma plataforma aberta de desenvolvi-
Robert Schwentker – Não. Problemas di- mento, o caminho para a inovação está fora
ferentes demandarão pessoas e equipes dife- das instituições e demanda colaboração entre
rentes. Não se trata de colocar um grupo de diferentes agentes.

42 revista Ciab FEBRABAN


entrevista

Os maiores bancos globais estão unidos A entrada dos governos no desenvolvi-


em um consórcio para desenvolver solu- mento do blockchain também desafia o
ções de blockchain, o R3. Recentemente, o ambiente de negócios?
R3 lançou o Corda, uma plataforma aberta. Robert Schwentker – Os governos estão in-
Este é um dos caminhos para avançar? teressados e já divulgaram que vão testar (e até
Robert Schwentker – As instituições finan- operar) moedas digitais. Os bancos centrais
ceiras querem utilizar as bases do blockchain dos Estados Unidos e Inglaterra, por exem-
para criar uma rede de negócios global, em que plo, estão avançados nisso e veremos muitos
todas participam. É uma forma de colaboração movimentos no próximo ano. Por isso, são
nunca vista, porque pode criar um ambiente necessárias diretrizes para o funcionamento
‘mais controlado’. O Corda, inclusive, é uma do mercado financeiro. A pergunta é: se um
das soluções do projeto de Hyperledger – pla- banco central lança uma moeda digital, onde
taforma aberta de colaboração com o objetivo eu devo colocar meus recursos? Deixo em ati-
de desenvolver soluções entre diferentes indús- vos digitais no meu banco, ou migro para o
trias, da financeira à cadeia de suprimentos, governo? O que é mais garantido? As pessoas
integrando diferentes negócios. É uma boa farão essas perguntas, porque decidirão qual
sinalização levar o sistema financeiro para o instituição é mais capacitada, na opinião delas,
projeto. Afinal, os bancos estão presentes no para identificá-las como donas dos ativos. A
dia a dia de qualquer empresa. entrada dos governos pode tirar importante
mercado dos bancos.
Apesar da urgência para desenvolver o block-
chain, os bancos ainda estão muito cautelo- Os bancos brasileiros estão acompanhan-
sos em testar e utilizar a tecnologia. Por quê? do o movimento? Temos mão de obra ca-
Robert Schwentker – O setor financeiro é al- pacitada para as novas demandas?
tamente regulamentado. Precisamos envolver Robert Schwentker – Sim. Estive em se-
advogados e reguladores no processo. Conheço tembro em São Paulo para a realização de
startups com ótimos projetos, mas que não des- um hackathon organizado pelo Blockchain
lancham por conta da incerteza. As regras não Center. Esperava um evento de uma dezena
estão estabelecidas. Os bancos correm o risco de pessoas e fiquei surpreso com as 65 inscri-
de lançar um serviço, moeda, ou aplicação e, de ções. O hackathon uniu empreendedores, de-
repente, sofrerem acusação de ilegalidade. Todos senvolvedores e estudantes. Conheci projetos
os serviços que rompem modelos de negócios como o da eWally (que desenvolve solução
são sujeitos a isso. Veja o exemplo do Uber, ques- com o Bradesco) e da FoxBit. Durante o
tionado em diferentes cidades do mundo. Mas evento tive contato próximo com as equipes
banco não é um serviço de transporte. Existem do Bradesco e Itaú. Os profissionais dessas
regras arraigadas no modelo vigente. Além disso, instituições conhecem bem os aspectos técni-
é muito difícil regular algo que, na prática, não cos e buscam inovação. Como o mercado fi-
existe. O avanço tecnológico do setor exige a nanceiro é maduro, espero que boas soluções
elaboração de diretrizes para essas novas solu- sejam criadas pelas instituições brasileiras.
ções. Algo que permita aos bancos investir em Já agendamos, inclusive, um hackathon para
inovação, dentro das regras. março de 2017. n

revista Ciab FEBRABAN 43


revolução digital

Design de serviços,
analytics e robótica vão
impactar relação entre
bancos e clientes
Por Charles Nisz

Novas tecnologias aumentam


uso de dados, sofisticam serviços
e criam produtos interativos

44 revista Ciab FEBRABAN


revolução digital

Leopoldo Martinez,
da Accenture,
diz que quatro
tendências
afetarão os
serviços bancários:
Dayana Souza/FEBRABAN

design de serviços,
biometria,
robotização e
advanced analytics

D
esign de serviços, robótica e o uso mente analisar, mas criar capacidade pre-
de inteligência computacional para ditiva sobre o comportamento do cliente”,
fazer análise preditiva são três das disse Martinez. Empresas como Amazon,
grandes tendências tecnológicas que guiarão Google e Facebook redefiniram a experiên-
a oferta de serviços bancários, segundo ava- cia de compra dos consumidores, lembra ele.
liação de especialistas do setor presentes em E esse comportamento precisará ser copiado
evento realizado na FEBRABAN. pelos bancos.
Para Leopoldo Martinez, managing direc- Martinez vislumbra como seria a atu-
tor da consultoria Accenture, a relação entre ação dos bancos num cenário de fragmen-
bancos e fintechs será baseada em “coopetição”. tação de produtos e serviços: “a agência
“Em alguns casos, bancos e fintechs irão com- passará a ser o centro de geração de receita,
petir; em outros, irão cooperar e, num terceiro em vez de focar no atendimento”, afirmou.
caso, irão se complementar”, resumiu. Segun- “O relacionamento será baseado em canais
do Martinez, serão quatro as tendências que eletrônicos e haverá uma carteira de pa-
afetarão os serviços bancários: design de servi- gamentos e de recompensas digitais.” De
ços, biometria, robotização e advanced analytics acordo com o profissional, o cliente será
(avançado uso de dados e análises que levam a movido, cada vez mais, por estímulos ofe-
tomadas de decisões mais eficientes). recidos pelo banco com a manutenção do
“Uma das tendências mais fortes é o relacionamento, assim como faz com outras
uso de advanced analytics: a ideia não é so- empresas de compra.

revista Ciab FEBRABAN 45


revolução digital

Experiência é a aposta dos bancos


para garantir fidelidade dos clientes

Diante de tantas mudanças comporta- uma startup, de onde saem hoje a maioria das
mentais e tecnológicas, como os bancos vão inovações digitais do BB.” Batizado de “sala
competir com as fintechs para atrair clientes? 8”, esse grupo de trabalho do banco estatal
Uma das apostas está na melhoria da expe- tem uma equipe de apenas 25 pessoas, mas já
riência do usuário, análise de dados e estra- “incubou” cerca de 15 startups. Num esque-
tégias como gamificação, explicou Carlos ma parecido com uma empresa de garagem,
Rudnei Dutz, gerente executivo de negócios as soluções técnicas são desenvolvidas e testa-
digitais do Banco do Brasil. das num prazo médio de apenas três semanas,
“Investimos na criatividade”, contou. contou Dutz.
“Nosso banco tem uma sala funcionando como Para o executivo do BB, o banco precisa
ter uma relação de marca com o cliente: “Nosso
usuário vira fã”. Ele dá o exemplo de uma ini-
ciativa de gamificação, onde pais e filhos jogam
um game sobre educação financeira. Os pontos
obtidos são usados pela família em produtos e
serviços do banco.
A aposta no mobile também é outra ver-
tente dessa abordagem de engajamento: o apli-
cativo do BB é o sexto mais baixado do Brasil
dentre todos os apps. O resultado é mais de 1
bilhão de transações mobile/mês. Dutz contou
que as redes sociais são muito úteis nessa es-
tratégia de implementar soluções tecnológicas
de modo mais veloz. “A resposta desse tipo de
interação é muito rápida, permitindo que o
banco corrija eventuais erros de uma maneira
muito mais ágil.”

“INVESTIMOS NA CRIATIVIDADE.
NOSSO BANCO TEM UMA SALA
Dayana Souza/FEBRABAN

FUNCIONANDO COMO UMA STARTUP,


DE ONDE SAEM HOJE A MAIORIA
DAS INOVAÇÕES DIGITAIS DO BB”
Carlos Rudnei Dutz, do Banco do Brasil

46 revista Ciab FEBRABAN


revolução digital

“O CLIENTE ESTÁ NO
CENTRO DA NOSSA
PROPOSTA DE VALOR.
Dayana Souza/FEBRABAN

ESSA CONSTATAÇÃO
GUIA TODO O
NOSSO TRABALHO”
Thiago Charnet, do Itaú

De acordo com Dutz, as novas estratégia posta de valor, e essa constatação guia todo
invertem totalmente o ciclo de desenvolvimen- o nosso trabalho”, diz. “Hoje, por exemplo,
to de produto. “Antes, eles eram desenvolvi- consideramos os dados obtidos em redes so-
dos de dentro para fora: o banco criava um ciais como confiáveis para a elaboração de uma
produto, ele era usado por todos os clientes e, concessão de crédito”. Essa análise é baseada
daí, aprimorados”, diz. “Hoje, pensamos em em modelos criados por cientistas de dados
experiência: a partir do comportamento e das e isso afeta o modelo de negócio do banco,
demandas dos usuários é que criamos produtos acrescenta Charnet.
que pensamos que poderão satisfazer as neces- Nesse cenário, segundo o executivo do
sidades dos clientes”, complementou. Itaú, armazenar dados em nuvem deixou de
ser tabu. “Tecnologia e negócio agora andam
Gerenciamento de TI juntos, com decisões compartilhadas e um
Thiago Charnet, diretor de Arquitetura de TI do modelo de trabalho que propicie mais mobi-
Itaú, explicou como a digitalização de processos lidade, colaboração e produtividade para os
afetou a maneira como os bancos irão gerenciar funcionários do banco.” Outra mudança em
sua estrutura de TI daqui em diante. “Estamos termos técnicos é que o mercado passou a ver o
mudando a maneira como gerenciamos nos- hardware como commodity, explicou Charnet.
sa área de tecnologia e até mesmo a relação de “Utilizamos a estrutura de TI não mais como
trabalho com nossos colaboradores”, explicou. um ativo a ser comprado, mas como um ser-
“O cliente está no centro da nossa pro- viço a ser contratado conforme a demanda.”

revista Ciab FEBRABAN 47


revolução digital

América Latina ainda patina


na adoção do banco digital

Apesar da intensa digitalização do mundo Segundo Débora, cerca de 91% dos clien-
atual, o banco digital ainda encontrará espaço tes desses bancos ainda dependem das agências
para muito crescimento na América Latina. Essa para realizar algum tipo de transação. Por outro
é a conclusão de um estudo feito pela Univer- lado, apenas 19% desses clientes (estimados
sidade de Stanford em 56 bancos de 13 países em 90 milhões na América Latina) têm um
no continente. De acordo com Débora Fortes, aplicativo para celular providenciado por seus
gerente de marketing e comunicação Latam da bancos. No entanto, a tecnologia não é o fator
Technisys, vivemos num cenário híbrido, em que limitante para uma maior adoção de canais
internet banking, agências e caixas eletrônicos digitais, segundo o estudo feito pela universi-
ainda estão misturados e com uso intensivo. dade dos EUA.
“Há uma série de peculiaridades locais
que impede uma plena adoção de canais di-
gitais e mobile”, afirmou. “No México, o do-
mínio das empresas de telecom dificulta uma
maior adoção da internet; já na Argentina, a
cultura local tem predileção por transações em
dinheiro vivo, tornando mais rara a adoção de
cartões de crédito, aplicativos de pagamento e
tecnologias mais avançadas como o near field
communication (NFC)”, acrescentou.
Para 73% dos bancos pesquisados, a prin-
cipal motivação para inovar é a manutenção
da competitividade no mercado local. Apenas
47% deles estão preocupados com as fintechs e
somente 40% estão preocupados com o desen-
volvimento de soluções de pagamento baseadas
em dinheiro digital. É um cenário muito di-

Débora Fortes,
da Technisys,
apresentou o
Dayana Souza/FEBRABAN

cenário de adoção
tecnológica nos
bancos da América
Latina

48 revista Ciab FEBRABAN


revolução digital

ferente dos EUA e mesmo do Brasil, país que aponta Débora. Nesse cenário, em que os ban-
faz parte da amostra pesquisada – 50% dos cos passam a não fornecer apenas monetização
brasileiros tem um smartphone e cerca de 58% e transações aos clientes, mas sim experiências
dos clientes-alvo de bancos nos EUA têm me- de uso e de compra, a adoção de estratégias
nos de 30 anos ou são consumidores digitais. omnichannel (tudo no mesmo lugar) é uma
“De acordo com as conclusões do estudo, maneira dos bancos buscarem diferenciação
o fator limitante para uma maior adoção da perante a concorrência, explica a gerente da
tecnologia na América Latina é a regulação”, Technisys. n
gestão de riscos

Tão perto, tão longe


Por Felipe Falleti

Críticas nas redes sociais, fintechs e regulação


em mudança acelerada aumentam importância
da gestão de risco para as instituições financeiras.
A boa notícia: novas tecnologias prometem
facilitar a vida dos bancos como nunca

50 revista Ciab FEBRABAN


gestão de riscos

É
uma contradição: ao mesmo tempo em
que a disrupção tecnológica cria ameaças
inéditas para instituições financeiras de
todos os portes, o mesmo avanço digital poderá
simplificar a análise de riscos e prever cenários
futuros com grau elevado de acerto, de forma a
tornar a gestão de riscos em bancos mais segura
e econômica. É o que afirma Scott Vincent, Contradição: para
CEO da Parker Fitzgerald, consultoria inglesa Scott Vincent,
CEO da Parker
especialista em gestão de riscos para bancos,
Fitzgerald, a
criada no ápice da crise financeira global, no tecnologia
Divulgação/Parker Fitzgerald

final de 2008. aumenta e diminui


Para Vincent, o setor financeiro vive exposição dos
ainda sua infância na revolução digital bancos a riscos
que, em áreas como as de notícias, entre-
tenimento e viagens, destruiu indústrias
inteiras. “Fenômenos como Netflix, iTunes lucratividade bem mais modesta”, diz o CEO
e Expedia, por exemplo, forçaram os players da Parker Fitzgerald.
tradicionais destes segmentos a se reinven- Além do surgimento de novas empresas
tar radicalmente e, mesmo assim, o fizeram competindo no setor financeiro, como as
para se posicionar em um novo patamar, de fintechs, a tecnologia digital incluiu na pauta

Michael Haupt,
da IBM, afirma
que o sistema
de computação
cognitiva vai reduzir
drasticamente
o tempo que
um banco leva
para perceber o
Dayana Souza/FEBRABAN

surgimento de
um novo risco
regulatório

revista Ciab FEBRABAN 51


gestão de riscos

do dia dos bancos a necessidade de responder a mil novas regulações no setor financeiro são
críticas ácidas nas redes sociais, comentários em publicadas no mundo, o que dá uma média
blogs e um inédito poder atribuído ao consu- de 83 novas regras e circulares por dia, que
midor, capaz de compartilhar uma reclamação precisam ser analisadas e aplicadas. A mesma
com milhares de contatos digitais ou mudar de análise afirma que um grande banco emprega
provedor de serviços financeiros com poucos em torno de 21 mil funcionários para inter-
toques na tela do celular. pretar e cumprir exigências de compliance e,
O cenário de tempestade perfeita se mesmo assim, a cada ano, mais de US$ 70
desenha quando, sobre a conta dos desafios, bilhões são pagos em multas por instituições
somam-se as complexas respostas dos bancos financeiras por erros e tropeços no cumpri-
centrais de todo mundo, alterando regulações mento destas regras.
em ritmo inédito, em seguidas tentativas de “Os custos crescentes com compliance
evitar uma nova crise de seus sistemas eco- estão esmagando a capacidade de inovar dos
nômicos, como a registrada em setembro de grandes bancos”, afirma Michael Haupt, con-
2008. Um estudo apresentado pela IBM, por sultor para governança da IBM. “Estes depar-
exemplo, indica que todos os anos mais de 20 tamentos consomem recursos que deveriam
ser aplicados em pesquisa e desenvolvimento,
sobretudo quando surgem centenas de startups
Anderson Vieira, da IBM, diz que soluções todos os anos, propondo solucionar questões
cognitivas são capazes de interpretar
que os bancos não viram a tempo.”
as emoções de um comentário postado
na fanpage de um banco no Facebook Um relatório do Crunchbase, base de
ou gerar análises preditivas dados do serviço global Techcrunch, de in-
formação sobre inovação digital, indica, por
exemplo, que a cada ano surgem 1.800 novas
fintechs em todo mundo, cada uma planejando
morder uma parte do faturamento dos bancos.

Mão dupla
A boa notícia é que a tecnologia não joga ape-
nas contra as instituições financeiras, mas pode
ser apropriada em seu favor. Exemplo disso são
as ferramentas de computação cognitiva, que
permitem às máquinas ler, interpretar e gerar
alertas de forma mais eficiente que a análise de
documentos feita por especialistas humanos,
ainda que a decisão final sobre como superar
cada desafio caiba a um executivo de carne,
Dayana Souza/FEBRABAN

osso, terno e gravata.


O sistema de computação cognitiva Wat-
son, desenvolvido pela IBM, por exemplo, é
capaz de ler e interpretar todas as regulações

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gestão de riscos

bancárias publicadas no mundo, em dezenas


de idiomas, e gerar alertas e relatórios indi-
cando como aquela determinada decisão im-
pactará a gestão de riscos de uma instituição
financeira específica.
Este recurso, aliás, ainda é pouco utiliza-
do em bancos se compararmos, por exemplo,
com seu uso em áreas médicas ou de varejo.
Nestes dois setores, por exemplo, ferramentas
cognitivas já são utilizadas para recomendar os
melhores tipos de tratamento contra câncer ou
para descobrir quais produtos terão mais apelo
de vendas em uma determinada vitrine.
“O uso de serviços como Watson vai
reduzir drasticamente o tempo que um ban-
co leva para perceber o surgimento de um
novo risco regulatório, reduzirá a incidência
de multas e vai liberar recursos para a insti-
tuição investir em inovação, tornando-a mais
eficiente para competir com novos entrantes”,
afirma Haupt.
Este mesmo recurso pode ser utilizado
para avaliar, por exemplo, as repercussões de
um anúncio feito aos clientes, à imprensa ou
mesmo prever a reação de acionistas a um de-
terminado comunicado. De acordo com An-
Dayana Souza/FEBRABAN

derson Vieira, superintendente de risco reputa-


cional da IBM, soluções cognitivas são capazes
de interpretar as emoções de um comentário
postado na fanpage de um banco no Facebook
ou gerar análises preditivas (quando se prevê Para Marcelo Golovaty, do
a reação de uma pessoa) ao ler determinado Santander, instituições do mundo
todo estão atentas ao potencial
anúncio ou comunicado.
da computação cognitiva e os
“Nós sabemos que reputação é a percep- bancos devem liderar sua adoção
ção que um terceiro tem de nós e de nossas no médio prazo
empresas. Por tanto, estas ferramentas são
capazes de analisar, a partir de um texto que
escrevemos, como a média das pessoas reagirá
em termos de sentimento em relação a nós,
permitindo uma gestão mais previsível de nossa
reputação”, afirma Vieira.

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gestão de riscos

De acordo com Marcelo Golovaty, su- bancos, de processos de controle e auditoria,


perintendente de riscos do Santander, insti- evitando que um determinado funcionário
tuições do mundo todo estão atentas ao po- feche um contrato sem cumprir alguma etapa
tencial da computação cognitiva e os bancos específica. No Itaú, esta tecnologia está sendo
devem liderar sua adoção no médio prazo, na usada para automação no backoffice.
medida em que elas se demonstrem efetivas Um estudo, publicado pela revista Forbes
para a redução de riscos e mais vantajosas fi- em novembro deste ano, indica que o apoio
nanceiramente. Golovaty afirma, ainda, que o de instituições financeiras às fintechs cresceu
surgimento de centenas de startups no Brasil exponencialmente nos Estados Unidos, país
é, antes de mais nada, uma oportunidade de onde foi conduzida a pesquisa, ao longo dos
mercado, já que todas elas precisarão de ser- últimos 6 anos. Em 2010, por exemplo, bancos
viços financeiros. americanos aplicaram US$ 1,8 bilhão em em-
“Empresas iniciantes, com soluções es- presas do tipo, volume que saltou para US$ 5,2
caláveis, podem se tornar grandes clientes no bilhões apenas no primeiro trimestre de 2016.
médio prazo, e isso é muito positivo para os Destes investimentos, ao menos duas
bancos”, afirma o executivo do Santander. empresas iniciantes emergiram com soluções
Uma das alternativas para os bancos se para redução da gestão de riscos. A Robo Ad-
manterem na ponta do desenvolvimento de visors, por exemplo, usa algoritmos de análise
novas tecnologias é usar sua força financeira de investimentos de correntistas para avaliar,
e institucional para apoiar o surgimento de ao longo de uma linha do tempo, quando eles
novas startups, assegurando prioridade na fizeram bons ou maus negócios. Com esses da-
adoção de soluções por elas criadas. Uma dos, e gera relatórios indicando ajustes no perfil
das formas de realizar esta tarefa é a criação de investimentos de cada cliente, ajudando-os
de aceleradoras, em que se oferece mentoria, a reduzir perdas mais comuns e maximizar seus
rede de contatos e espaço físico para o traba- ganhos. Já a Smart Contracts criou um siste-
lho de empresas iniciantes em troca de um ma de validação de contratos que permite aos
percentual acionário e a preferência no uso bancos checar, via software, se alguma cláusula
de soluções inovadoras. lhes é potencialmente lesiva, tanto do ponto
A aceleradora Cubo, por exemplo, de vista da regulação governamental quanto
criada pelo Itaú, apoia projetos iniciantes das políticas de governança internas, evitando
em diferentes áreas nos mesmos modelos de deslizes cometidos por desatenção do depar-
entidades similares em todo o mundo, po- tamento jurídico.
rém com o diferencial de manter projetos de Essas novas ferramentas digitais estão
interesse do banco em seu radar. De acordo criando formas de as instituições financeiras
com Ricardo Guerra, diretor executivo de TI gerirem seus riscos com mais previsibilidade
do Itaú, a experiência já rendeu a adoção de e segurança e aumentam as chances de tomar
três soluções financeiras criadas por startups decisões certas em situações difíceis. Gerir ris-
dentro da rede de serviços do banco. Um cos de forma eficiente nunca foi uma conquista
dos exemplos é a Fhinck, empresa que utiliza tão distante de ser alcançada como agora e, ao
inteligência artificial para monitorar o cum- mesmo tempo, nunca foi uma tarefa apoiada
primento, por parte dos colaboradores dos por tantas ferramentas. n

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