Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Resumo
Este trabalho tem por objetivo analisar a produção científica da área de Psicologia Escolar e Educacional
brasileira referente à atuação de psicólogos no âmbito da Educação, considerando-se o movimento de crítica
vigente na área. Para tanto, analisamos a produção de 2000 a 2007, publicada em livros e coletâneas.
Encontramos nesse período 36 obras sobre o tema, sendo seis livros e 30 coletâneas em que relacionamos para
estudos 131 capítulos. A maior parte das publicações refere-se a propostas de intervenção em que destacam
a importância de compreender como se dão as relações em que a queixa escolar é produzida; entender a
escola como o principal agente de inserção social; articular a história familiar com a história escolar; incluir os
professores no processo de intervenção; pesquisar o contexto em que se produzem e manifestem os conflitos
individuais, dentre outros. De maneira geral, os trabalhos apresentam propostas de atuação de psicólogos na
Educação Básica em uma dimensão ético-política.
Palavras-chave: Psicologia Escolar e Educacional; Educação básica; intervenção psicológica.
Abstract
In this study we aim at analyzing what the researchers in the area of School and Educational Psychology
in Brazil think about the role of psychologists in Education, considering the movement of critical current
in the area. For this purpose, we surveyed the academic production in the area of Educational and School
Psychology published in books and collections in the period from 2000 to 2007. We found 36 works on
the subject, six books and 30 collections in which we analyzed 131 chapters. Most publications refers to
proposals for intervention in highlighting the importance of understand how to give the relations in which
the school complaint is produced; in understanding the school as the principal agent of social integration; in
articulating the family history with the school history; in including teachers in the intervention process; in
finding the context in which they produce and express individual conflicts, among others. In general, these
works present proposals for practicing psychologists in Basic Education in an ethical-political dimension.
Keywords: School and Educational Psychology; Elementary Education; psychological practice.
Resumen
El objetivo de este estudio fue analizar la producción científica en el campo de la psicología de la educación
en Brasil en los últimos años, en relación con la práctica de los psicólogos en Educación, considerando la
función crítica del psicólogo en educación. Para ello, se analizó la producción a partir de 2000 a 2007,
publicados en libros y coleciones. Encontramos 36 trabajos sobre el tema, seis libros y 30 colecciones en el
que analizamos 131 capítulos. La mayoría de las publicaciones se refiere a las propuestas de intervención en
resaltar la importancia de comprender como se constituyen las relaciones en las quejas de la escuela; entender
la escuela como el principal agente de integración social; articular la historia familiar con la historia de la
escuela; incluir a maestros en el proceso de intervención; encontrar el contexto en que se producen y expresar
conflictos individuales, entre otros. En general, estos trabajos presentan propuestas para la práctica de los
psicólogos en la Educación Básica en una dimensión ético-política.
Palabras clave: Psicología de la Educación; Educación Primaria; intervención psicológica.
estratégias que rompessem com a visão psicométrica, De um modo geral, pode se afirmar que mudan-
clínica e individualista de diagnóstico/tratamento ças na direção da consolidação gradativa da Psicologia
psicológico e que pudessem abarcar o campo insti- Escolar em uma perspectiva crítica, pelo menos no que
tucional das relações escolares. O psicólogo, a partir tange à teorização, ocorreram devido à aproximação
dessa discussão, teria um novo locus e um novo foco com o referencial das teorias histórico-críticas da edu-
de trabalho na educação: deveria atuar como junto às cação e com o pensamento materialista histórico dia-
questões institucionais, garantindo sua autonomia de lético, especialmente, a partir de final dos anos 1970.
trabalho e permitindo analisar a prática institucional No campo da produção acadêmica, isto significou um
e constituir mecanismos de atuação. avanço por ter possibilitado pensar a educação e seus
O substrato teórico para essa proposta, ini- reveses de forma menos ingênua, a partir da incorpo-
cialmente, centrou-se nos modelos apresentados pela ração da análise dos fenômenos escolares seus determi-
Psicologia Institucional, de cunho psicanalítico de nantes econômicos, sociais e políticos. Contudo, apesar
perspectiva freudo-marxista, base do Movimento deste progresso, podemos destacar dois importantes
Institucionalista que se fortaleceu nas décadas de desafios a serem enfrentados para a consolidação da
1970 a 1990. Este modelo defendia a atuação em perspectiva crítica em Psicologia Escolar. A primeira
forma de consultoria externa. Conforme analisam questão, diz respeito aos referenciais teórico-metodoló-
Saidon e Kamkhagi (1987) e Rodrigues et al (2001), gicos e às ações dos psicólogos escolares fora do campo
o Movimento Institucionalista, foi composto princi- acadêmico. Como podemos encontrar nos resultados da
palmente por um significativo grupo de psicanalistas pesquisa da atuação do psicólogo escolar na educação
como Bleger (1984), Baremblitt (1996) na América básica brasileira (Souza, 2010), a perspectiva crítica
Latina e um grupo da socioanálise francesa, represen- de atuação não tem se apresentado como o referencial
tados por Loureau e Lapassade. Nessa perspectiva, a hegemônico que orienta o trabalho desses profissionais
atuação do psicólogo na escola deveria primar pela na educação pública brasileira. Outro desafio impor-
autonomia profissional, não se subordinando à direção tante posto para a consolidação da Psicologia Escolar
escolar. Posteriormente, a essa esta primeira teorização Crítica relaciona-se ao trabalho no interior do próprio
crítica, advinda especialmente do grupo Plataforma da pensamento científico, pois a aproximação com esses
Argentina, a perspectiva da Psicologia Escolar crítica se referenciais levou, por sua vez, em alguns momentos
apropria das teorias psicogenéticas de Piaget, Vigotski da trajetória da Psicologia Escolar, a interpretações
e Wallon que aportam no solo brasileiro e, estas teo- pouco dialéticas, engendrando outro reducionismo
rias também se tornaram elementos constitutivos da que pode ser chamado de sociologismo no interior da
prática crítica de psicólogos escolares (Barbosa, 2011). Psicologia. Assim, observa-se uma consolidação que
A discussão sobre a autonomia do trabalho do gradativamente se instala nos meios acadêmicos em
psicólogo frente à escola e às críticas à atuação profis- termos teóricos e metodológicos, mas ainda tímido no
sional ao longo dos anos 1980, foram fundamentais campo prático e profissional. Em outras palavras, o que
para influenciar uma série de práticas políticas na rede ocorreu foi que, ao privilegiar as causas macroestru-
pública de educação, centradas em diversas ações que turais, em uma visão mecânica dos determinantes dos
tiveram, basicamente, duas tendências: a) retirada do problemas no processo de escolarização, esqueceu-se
psicólogo escolar do sistema educacional (como foi, por vez de primar pela intervenção no âmbito psico-
por exemplo, o caso dos municípios de São Paulo e de lógico e se pensar a produção das queixas escolares e
Campinas e outros pelo Brasil); b) retirada dos psicó- a forma de atuação diante dessas. Quem analisa essa
logos da escola e formação de equipes de trabalho nas questão é Tanamachi (2000, p. 79), ao afirmar que,
secretarias municipais e estaduais de educação (caso dos no caso brasileiro, é urgente:
municípios de Guarulhos e São Bernardo do Campo, A necessidade de superação desses reducionismos
no estado de São Paulo)1. que têm caracterizado a trajetória percorrida pela
Psicologia em suas relações com a Educação, a
1 Sobre o caso do município de São Paulo, ver: Taverna (2003).
necessidade de buscar concepções mais abrangentes
Um estudo histórico sobre a psicologia escolar na secretaria municipal de
educação da prefeitura de São Paulo. Tese de Doutorado, Pontifícia de Psicologia e de Educação e também de considerar
Universidade Católica, São Paulo. o conjunto de atribuições que lhe são próprias são
as principais tendências apontadas pelo grupo de raízes históricas, sociais e culturais de sua produção,
autores que têm participado do movimento de crítica mister se fazia pesquisá-las no contexto das políticas
à Psicologia Escolar. públicas educacionais. Entender as políticas públicas
trouxe para o interior da Psicologia Escolar a neces-
sidade de compreender como educadores, alunos e
Somente em meados dos anos 1990, as críticas gestores vivenciam sua implantação e participam de
passaram a se materializar em discussões teóricas e sua concepção (Antunes, 2007).
metodológicas em Psicologia Escolar e Educacional
Se, por um lado, as explicações sobre a não
que, partindo de uma perspectiva histórico-crítica, de
aprendizagem escolar, numa perspectiva tradicional,
compreensão do fenômeno educativo, consideravam
centravam-se em encontrar as causas nas crianças,
fundamental ter como base as finalidades da Educação
nas famílias ou no meio social ao qual pertenciam
e a presença de teorias psicológicas de aprendizagem,
essas crianças e suas famílias, por outro, as concepções
de desenvolvimento que contemplassem a complexi-
teóricas histórico-críticas permitiram avançar essa
dade da vida escolar e que respondessem aos desafios
compreensão. Para a Psicologia Escolar crítica, ao
da constituição de indivíduos no âmbito da realidade
analisar a produção do que se denomina “problemas
social. Como analisa Antunes (2007):
de aprendizagem”, “dificuldades de aprendizagem”,
Uma das consequências apontadas por essas críticas “criança-problema”, “distúrbios de aprendizagem”,
era a desconsideração dos determinantes de natureza deve-se deslocar o eixo da análise do indivíduo para
social, cultural, econômica e, sobretudo, pedagógica; o interior da escola e para o conjunto de relações
daí falar-se em reducionismo. Alguns psicólogos esco- institucionais. É fundamental uma compreensão que
lares e pesquisadores da área começaram, nessa época, contemple as dimensões históricas, psicológicas, peda-
a elaborar uma crítica radical à Psicologia Escolar e gógicas e políticas que se fazem presentes e constituem
Educacional, com base em argumentos semelhantes o dia a dia escolar, bem como constituem os indivíduos
aos apontados por pedagogos e educadores em geral. que participam ativamente nesse contexto, ou seja, o
De um lado, criticava-se a já apontada hipertrofia processo de escolarização. Como afirma Barbosa (2011,
da Psicologia na Educação e o reducionismo dos p. 305-306):
fatores educacionais e pedagógicos às interpretações
psicologizantes. Por outro lado, enfocando mais A chamada Psicologia Escolar Crítica, diferente-
especificamente a prática da Psicologia Escolar e mente, propõe um olhar para o processo de escola-
aprofundando a crítica a seu modo de ação, avança- rização, o contexto sócio-político-cultural em que
vam para a demonstração de que o enquadramento estão inseridos os processos educativos. Nesta visão,
clínico-terapêutico baseava-se num modelo médico, tem-se como objeto de interesse a investigação e
estranho às determinações pedagógicas, que tendia intervenção nos contextos educacionais, a compre-
a patologizar e individualizar o processo educativo, ensão da produção do fracasso escolar que, em seu
distanciando-se da compreensão efetiva dos determi- bojo, insere-se numa multiplicidade de fatores que
nantes desse processo e desconsiderando ações então levam ao “não aprender” na escola, muitas vezes,
denominadas preventivas, que deveriam voltar-se materializado sob a forma de uma queixa escolar
para as condições mais propriamente pedagógicas, de sobre aquele indivíduo “que não aprende”. O papel
forma a atuar mais coletivamente, com base naquilo do psicólogo que atua neste contexto é entendido de
que hoje seria denominado interdisciplinaridade, forma diferente da anterior, que tinha na investigação
com os demais profissionais da educação e da escola. psicométrica seu maior instrumental de trabalho.
(Antunes, 2007, p. 9) Nesta linha de pensamento, trata-se criticamente,
indo às origens e raízes do processo de escolarização
A pesquisa em Psicologia Escolar e Educacional que abarca diferentes facetas, incluindo o aprendiz,
passou, então, a compreender as relações escolares, os docentes, a família, a escola, a Educação como um
o processo de escolarização e os atravessamentos do todo e a sociedade em que está inserida.
conjunto de reformas educacionais, fruto de decisões
políticas no campo da educação escolar. Se a crítica à Nesse sentido, tendo essa mudança em pers-
Psicologia Escolar tradicional levou a compreender a pectiva, a presente pesquisa principia a partir dos
escola e as relações que nela se constituem a partir das seguintes questionamentos: passados quase 30 anos das
primeiras críticas à atuação do psicólogo na Educação, produções compreendem a atuação do psicólogo esco-
o que pensam hoje os pesquisadores brasileiros nesta lar, as práticas desenvolvidas e os desafios postos para
área? Como entendem as possibilidades de participação os psicólogos no âmbito da educação básica e superior.
de psicólogos na educação básica? Há avanços descritos
nas publicações brasileiras e nas propostas realizadas MÉTODO
nas escolas públicas? Em que direção?
Essas e outras perguntas instigaram a realizar A realização do levantamento da produção
uma investigação que tivesse como centro as pro- acadêmico-científica sobre o campo teórico-prático da
duções científicas que tratassem especificamente da Psicologia Escolar e Educacional organizou-se em três
atuação profissional de psicólogos na rede pública momentos: 1) constituição de critérios de escolha das
de Educação. O estudo envolveu a participação de produções bibliográficas a serem analisadas; 2) siste-
pesquisadores de sete estados brasileiros (Acre, Bahia, matização das publicações selecionadas; 3) articulação
Minas Gerais, Paraná, Rondônia, Santa Catarina e São das questões postas na contemporaneidade com as
Paulo). A análise da literatura da área sobre esse tema discussões consolidadas no âmbito científico da área de
mostrava que existem várias polêmicas que constituí- Psicologia Escolar e Educacional. A seguir, detalham-
ram e constituem o campo de atuação do psicólogo na -se esses momentos e os procedimentos elaborados e
Educação e que a própria definição do campo/área da desenvolvidos em cada uma das etapas.
Psicologia Escolar e Educacional é ainda discutida por
autores como Antunes (2003), Meira (2000; 2003) e Critérios de escolha das produções bibliográficas
Tanamachi (2000). Quanto a essas polêmicas, pode-
-se citar, como exemplo, o trabalho intitulado “(Des) É importante dizer que não foram abarcadas
Enlaces da Psicologia Escolar na Rede Pública de todas as produções acadêmicas deste tema. Dado
Ensino” de Giongo e Oliveira-Menegotto (2010) que o grande número de publicações relacionadas à
revela essas controvérsias. Psicologia Escolar e Educacional produzidas no campo
A existência de polêmicas e controvérsias expli- científico brasileiro, o levantamento das produções
cita o caráter contraditório e dialético que marca a consideradas em nossa investigação deu-se no universo
Psicologia Escolar como campo de pesquisa e atuação de livros e coletâneas. Em outras palavras, privilegiou-
e, além disso, evidencia a luta de seus profissionais pela -se a inclusão de livros e capítulos de livros sobre o
construção de estudos que efetivamente contribuam tema. Isso se deu por considerar o grande número
para o avanço dessa área. O intenso movimento de de publicações dessa natureza e pela importância de
repensar a atuação do psicólogo junto à Educação investigar seu conteúdo.
é materializado pelo significativo número de livros, Assim sendo, para definição de quais publicações
coletâneas e capítulos que tratam, especificamente, de seriam analisadas, foram elaborados quatro critérios
várias dimensões da prática profissional da Psicologia para a busca de obras que comporiam o conjunto de
nesse contexto. Dada essa constatação, buscou-se trabalhos para análise:
aprofundar a análise dessas produções, considerando A. publicações de editoras que apresentassem um sig-
que seriam importantes expressões das discussões na nificativo número de títulos na área de Psicologia
área. Assim, nasceu o estudo que agora se apresenta Escolar e Educacional (recorte editorial);
neste artigo, que é fruto desta análise mais pormenori- B. publicações realizadas a partir de 2000 a 2007, in-
zada sobre essas publicações acadêmicas que permitiu cluindo reedições de publicações (recorte temporal);
compreender melhor os aspectos da produção científica C. publicações que tratassem especificamente de te-
sobre a intervenção do psicólogo na sua relação com máticas de Psicologia Escolar e Educacional (recorte
a educação pública. pela subárea de conhecimento);
Este artigo, portanto, tem o objetivo de apre- D. publicações que se referissem direta ou indire-
sentar algumas das produções na área de Psicologia tamente à prática do psicólogo escolar (recorte
Escolar e Educacional, publicadas no período de 2000 temático).
a 2007, por meio de livros e coletâneas, e que tratam Dada a característica qualitativa desse estudo,
da atuação de psicólogos no campo da Educação. os recortes acima foram se constituindo a medida em
Buscou-se analisar, especificamente, como tais que o próprio levantamento bibliográfico ia sendo
Tabela 1
Textos que contemplam a categoria Intervenção do Psicólogo na Educação por ano
Ano Título da publicação
Bertuol, C. (1997). Saúde e escola: a experiência de Santos. In: Educação especial em debate. São Paulo: Casa do Psicólogo, Conselho
1997
Regional de Psicologia, pp, 161-166
Collares, C. A., & Moysés, M. A. A. (1997/ 2009). Respeitar ou submeter: a avaliação da inteligência em crianças em idade escolar/
1997 O profissional da saúde e o fracasso escolar: compassos e descompassos. In: Educação especial em debate. São Paulo: Casa do Psicólogo,
Conselho Regional de Psicologia, pp. 117-136.
Cunha, B. B. B. (1997). A queixa escolar e o fazer/saber do psicólogo: a história de um caso. In: B. B. B. Cunha. Psicologia na escola:
1997
um pouco de história e algumas histórias. São Paulo: Arte e Ciência, pp. 65-95.
Morais, M. L. S., & Souza, B. P. (2001). Intervenção em equipamentos educacionais. In: M. L. S. Morais & B. P. Souza (Orgs.), Saúde
2001
e Educação: muito prazer! Novos rumos no atendimento a queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 159-162.
Morais, M. L. S., & Souza, B. P. (2001). Trabalhos integrados entre equipes de Unidades Básicas de Saúde e vários equipamentos
2001 educacionais. In: M. L. S. Morais & B. P. Souza. (Orgs.), Saúde e Educação: muito prazer! Novos rumos no atendimento a queixa escolar.
São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 89-94.
Minto, E. E. W., Carvalho, E. E., Gomes, E. M. G. P., & Morais, M. L. S. (2001). Encontro da equipe de saúde com professoras de
2001 uma Delegacia de Ensino. In: M. L. S. Morais & B. P. Souza. (Orgs.), Saúde e Educação: muito prazer! Novos rumos no atendimento a
queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 203-230.
Pacífico, J. M. (2002). A Queixa Docente. In: M. P. R. Souza & M. Neneve. (Orgs.), Psicologia e Educação na Amazônia: pesquisa e
2002
realidade brasileira. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 33-51.
Machado, A. M. (2003). Os psicólogos trabalhando com a escola: intervenção a serviço de quê? In: M. E. M. Meira & M. A. M.
2003
Antunes. (Orgs.), Psicologia Escolar: Práticas Críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 63-86.
Neves, M. M. B. da J., & Almeida, S. F. C. (2003). A atuação da Psicologia escolar no atendimento aos alunos encaminhados com
2003 queixas escolares. In: S. F. C. Almeida (Org.), Psicologia Escolar: ética e competência na formação e atuação profissional. Campinas,
SP: Alínea, pp. 83-103.
Freller, C. C. (2004). Crianças portadoras de queixa escolar: reflexões sobre o atendimento psicológico. In: A. M. Machado & M. P.
2004
R. Souza (Orgs.), Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 63-77.
Freller, C. C. Grupos de crianças com queixa escolar: um estudo de caso (2004). In: A. M. Machado & M. P. R. Souza (Orgs.), Psicologia
2004
Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 123-137.
Guarido, R. L., & Sayão, Y. (2004). Intervenção psicológica em creche/pré-escola. In: A. M. Machado & M. P. R. Souza (Orgs.),
2004
Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 79-87.
Kupfer, M. C. M. (2004). Pré-escola terapêutica Lugar de Vida: um dispositivo para o tratamento de crianças com distúrbios globais
2004 do desenvolvimento. In: A. M. Machado & M. P. R. Souza (Orgs.), Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do
Psicólogo, pp. 51-61.
Machado, A. M. (2004). Relato de uma intervenção na escola pública. In: A. M. Machado & M. P. R. Souza (Orgs.), Psicologia Escolar:
2004
em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 89-102.
Santos, C. S. G. (2004). Atuação do psicólogo escolar/educacional e habilidades sociais: uma relação necessária. In: M. Correia (Org.),
2004
Psicologia e escola: uma parceria necessária. Campinas, SP: Alínea, pp.83-100.
Souza, B. P. (2004). Professora desesperada procura psicóloga para classe indisciplinada. In: A. M. Machado & M. P. R. Souza (Orgs.),
2004
Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 103-112.
Martinho-Araujo, C. M., & Almeida, S. F. C. (2005). Intervenção institucional: possibilidades de prevenção em Psicologia Escolar.
2005 In: C. M. Marinho-Araújo & S. F. C. Almeida. Psicologia Escolar: construção e consolidação da identidade profissional. Campinas:
Alínea, pp. 85-98.
Angelucci, C. B. (2007). Por uma clínica da queixa escolar que não reproduza a lógica patologizante. In: B. P. Souza (Org.), Orientação
2007
à queixa escolar São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 353-378.
Braunstein, V. C. (2007). Um atendimento em Orientação à Queixa Escolar numa perspectiva winnicottiana: muito além do indi-
2007
víduo. In: B. P. Souza (Org.), Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 399-415.
Leandrini, K. D., & Saretta, P. (2007). Atendimento em grupo de crianças com queixa escolar: possibilidades de escuta, trocas e novos
2007
olhares. In: B. P. Souza (Org.), Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 379-398.
Santos, A. A. C. (2007). Uma proposta de olhar para os cadernos escolares. In: B. P. Souza (Org.), Orientação à queixa escolar. São
2007
Paulo: Casa do Psicólogo, p. 165-184.
Saraiva, L. F. O. (2007). Olhares em foco: tensionando silenciamentos. In.: B. P. Souza (Org.), Orientação à queixa escolar. São Paulo:
2007
Casa do Psicólogo, p. 59-78.
Souza, B. P. (2007). Apresentando a Orientação à Queixa Escolar. In.: B. P. Souza (Org.), Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa
2007
do Psicólogo, p. 97-118.
Souza, B. P. (2007). Trabalhando com dificuldades na aquisição da língua escrita. In: B. P. Souza (Org.), Orientação à queixa escolar.
2007
São Paulo: Casa do Psicólogo, p.137-164.
Souza, B. P., & Sobral, K. R. (2007). Características da Clientela da Orientação à Queixa Escolar: revelações, indicações e perguntas.
2007
In: B. P. Souza. (Org.), Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 119-134.
Souza, M. P. R. de. (2007). Prontuários revelando os bastidores do atendimento à queixa escolar. In: B. P. Souza (Org.), Orientação à
2007
queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 27-58.
das explicações clássicas presentes na literatura da área propostas de atuação que ofereçam caminhos possíveis
da Psicologia Escolar e Educacional que centram as para a melhoria da qualidade do ensino e para apropria-
causas do fracasso escolar nas crianças. ção do conhecimento por parte de alunos e professores.
Percebeu-se ainda nos textos analisados, uma Ao identificar quais seriam as finalidades do
discussão a respeito de uma certa padronização com trabalho elaborado pelos autores das publicações ana-
relação aos atendimentos oferecidos às crianças com lisadas, foi possível observar diversos objetivos. Entre
queixas escolares pelos psicólogos. Tal constatação é esses pode-se citar como por exemplo: a) compreender
feita para referendar a necessidade de se pensar novas como se constroem as queixas escolares; b) repensar
formas de atuação diante dos processos de escolariza- as relações institucionais e as práticas escolares que
ção. Freller (2004) esclarece que a intervenção deve produzem o fracasso escolar; c) identificar e compre-
ender a influência de elementos externos à escola na
contemplar a participação de todos os envolvidos no
produção das queixas escolares, como o impacto de
processo educativo e pautar-se em um “diagnóstico
políticas públicas na Educação; d) discutir a questão da
social”. Essa ideia de um trabalho mais coletivo e
prática de atendimento à queixa escolar nas Unidades
abrangente aparece em muitas dessas publicações.
Básicas de Saúde; d) romper com os modelos tradicio-
Foram identificados também textos que tratam nais de intervenção; e) apresentar e discutir práticas
da análise de como as práticas pedagógicas têm sido críticas em Psicologia Escolar e Educacional, entre os
desenvolvidas no interior das instituições escolares e as principais. Também identificou-se que os autores têm
suas influências na produção do fracasso e indisciplina uma preocupação em discutir sobre a necessidade de: a)
escolar. Souza (2004) relata que, como psicóloga esco- oferecer caminhos possíveis para uma atuação eficiente
lar, foi solicitada a realizar uma intervenção em uma do profissional da Psicologia alocado no cenário escolar;
instituição de ensino tendo como foco questões do b) apresentar aos psicólogos novas formas de olhar o
âmbito da indisciplina e agressividade dos educandos. fenômeno da queixa escolar resgatando a dimensão
A autora discorre que, durante essa experiência, a refle- política, social e institucional da produção dos proble-
xão sobre quais estratégias pedagógicas eram adotadas mas escolares; c) expor a base teórica, os princípios e
em sala de aula teve um papel central em sua inter- o funcionamento de serviços de atendimento à queixa
venção com os profissionais da escola. Também destaca escolar; e d) discutir sobre novas formas de se realizar
a importância da inserção do brincar nas atividades as avaliações psicológicas.
diárias da instituição educacional para o enfrentamento Por meio dessa análise pormenorizada e aden-
das queixas de indisciplina e de agressividade escolar. sada, verificou-se que há uma tendência dos trabalhos
A análise dos textos apontou que a grande de terem como propósito apresentar e discutir práticas
motivação para as discussões propostas pelos autores pautadas em uma perspectiva crítica de Psicologia
é a importância da discussão sobre as dificuldades nos Escolar e Educacional à medida que procuram divulgar
processos de escolarização. Vários autores reiteram a formas alternativas de atendimento à queixa escolar.
Os autores, de um modo geral, trazem contribuições
defesa apresentada em Souza (1996) de que a queixa
que buscam romper com os modelos tradicionais de
escolar consiste em uma das principais demandas de
intervenção e revelam uma preocupação em construir
encaminhamento para o psicólogo, correspondendo
novos saberes sobre como atuar de forma efetiva no
a aproximadamente dois terços de crianças que che-
sentido de facilitar a dissolução dos problemas no
gam aos serviços-escola de Psicologia e aos serviços de processo de escolarização. Há ainda uma preocupa-
Saúde. Esses dados revelam que os problemas escolares ção com a inclusão e inserção escolar das crianças
ocupam uma importante dimensão no trabalho coti- advindas, principalmente, das instituições públicas de
diano do psicólogo – tanto na área da Educação como ensino que apresentam dificuldades no seu processo
na área da Saúde – e centram-se principalmente nos de escolarização.
primeiros anos do processo de escolarização (Morais & Em resumo, as publicações analisadas apontam
Souza, 2001; Souza, 1996). Nesse sentido, constata-se ainda a necessidade de rompimento com a perspectiva
que, no âmbito da Psicologia Escolar e Educacional, tradicional de atendimento individualista e mostram
tornou-se fundamental a realização de pesquisas cuja uma diferenciação em relação a essas. Essa diferencia-
tônica da discussão seja a queixa escolar, bem como ção das práticas tradicionais se manifesta, por exemplo,
nas discussões sobre o público-alvo de trabalho do Outras críticas apresentadas pelos autores foram
psicólogo, que agora não se restringe apenas à criança quanto: a) ao uso de testes psicológicos como sendo
que “não aprende”, mas abarca todos os personagens única forma de aproximação das queixas escolares; b)
do universo escolar. Também observa-se essa ampliação à explicação medicalizante das dificuldades ocorridas
da atuação no que tange ao locus de atuação desse pro- dos processos de escolarização; c) à não implicação dos
fissional que tem como primazia os trabalhos grupais. fatores intraescolares para entender e atender às pro-
No que se refere especificamente aos locais em blemáticas que surgem no processo de escolarização;
que as intervenções foram desenvolvidas, as publica- d) à formação a-crítica dos estudantes de Psicologia;
ções tratam de trabalhos desenvolvidos em: escolas e) à prática psicodiagnóstica presente nas clínicas, que
da rede pública de ensino, serviços de saúde, serviços desconsideram os processos escolares no atendimento
de atendimento à queixa escolar, serviço de assessoria à queixa escolar; f) ao atendimento clínico das queixas
a profissionais da educação, serviços de orientação à escolares, com foco nos indivíduos; g) à psicologização
queixa escolar, creches, e pré-escola terapêutica para das questões escolares que enfatiza os conteúdos emo-
crianças com transtornos globais do desenvolvimento. cionais em detrimento da compreensão das relações
Ressaltamos ainda que há textos que não explicitam o institucionais.
local onde foi desenvolvida a intervenção apresentada. Além disso, encontram-se também propostas
Como apontado anteriormente, um ponto de novas intervenções que levem em consideração: a)
frequente nas produções que tratam da intervenção a compreensão de que os problemas de escolarização
em Psicologia Escolar e Educacional foi a busca por não são necessariamente fenômenos psicopatológicos;
instituir uma prática baseada na perspectiva crítica b) a forma de olhar e entender os processos de esco-
de atuação rompendo com os moldes tradicionais de larização buscando não focar nas limitações e, sim,
atendimento às queixas escolares. Dessa forma, faz- nas possibilidades de transformação e mudança; c) a
-se relevante destacar o que os autores investigados compreensão do caderno como produção individual
entendem como uma atuação tradicional: uma prática do aluno e um instrumento importante de análise;
psicológica que tem como disparador as solicitações d) a união de esforços entre a Saúde e Educação para
feitas pelas escolas, pais e/ou outros profissionais para um atendimento que rompa com o modelo clínico de
a realização de atendimentos clínicos com crianças que atendimento às queixas escolares.
apresentam dificuldades no processo de escolarização, Dessa forma, os textos revelam a necessidade
constituindo-se queixas escolares. Nesses trabalhos de se oferecer modalidades de atuação que consigam
de cunho individualista e tradicional é recorrente, por articular os aspectos sociais, políticos e institucionais
parte dos psicólogos, a utilização de instrumentos como relacionados à queixa escolar, ou seja, que se aproxi-
anamnese, observação lúdica e técnicas psicométricas. mem da perspectiva crítica em Psicologia Escolar e
E ao final desse tipo de atendimento, a postura do Educacional.
profissional é, de um modo geral, a de identificar um Alguns autores como Tanamachi (2000) e Meira
déficit, uma defasagem ou um distúrbio nas crianças e/ (2000; 2003) têm sido referência na discussão dessa
ou pais atendidos e, a partir disso, produzir um laudo perspectiva de atuação. Para Tanamachi (2000), o pen-
psicológico que culpa as reais vítimas desse processo samento crítico em Psicologia Escolar e Educacional
(Braunstein, 2007). No material analisado identifica-se contém alguns elementos como: a) a compreensão de
uma severa crítica a esse modelo de atuação. homem como sendo concreto, produto e produtor das
Os autores das publicações investigadas criticam relações sociais, ou seja, como um ser social e histórico;
a Psicologia Escolar tradicional por responsabilizar os b) a preferência por realização de trabalhos coletivos;
indivíduos, sejam as crianças, seus pais ou professores c) a ênfase na construção de condições de autonomia,
pelas dificuldades surgidas no processo de escolariza- consciência crítica e liberdade dos indivíduos; d) a
ção, que se corporificam na produção de uma queixa atuação com função emancipatória. Para a autora,
escolar. Segundo a maioria das publicações, esse tipo o fazer crítico do psicólogo escolar deve passar pela
de atuação do psicólogo escolar não tem se mostrado colaboração na criação de condições concretas de
uma ferramenta útil no processo de dissolução dos ensino que garantam aprendizagem efetiva e favore-
problemas do âmbito educacional, cuja origem é bem cer uma ação transformadora, visando crescimento e
mais ampla e contextual. desenvolvimento criativo, além da multiplicidade de
ações profissionais. Meira (2000) ao discutir a atuação B. busca por conhecer o ponto de vista de todas as
crítica em Psicologia Escolar e Educacional diz que o pessoas envolvidas na produção da queixa escolar;
profissional pautado por essa perspectiva deve buscar C. construção de uma parceria efetiva com a instituição
colaborar na produção de humanidade nos indivíduos e escolar, na qual seja possível a troca de informações,
na luta pela transformação das relações sociais a partir a construção conjunta de reflexões sobre os sentidos
da participação efetiva no processo de democratização atribuído às dificuldades no processo de escolari-
da Educação. O psicólogo escolar crítico deve, assim, zação e por conseguinte na produção de queixas
contribuir para transformações qualitativas da ação escolares e o planejamento sobre quais estratégias
educativa e para que a escola cumpra sua função social de intervenção serão utilizadas;
de disseminação dos conhecimentos historicamente D. parceria entre o profissional psicólogo e a institui-
acumulados pela humanidade. ção escolar com todos os profissionais da mesma
O conjunto de publicações analisado para comunidade escolar. Isso pode tornar possível a
esta pesquisa foi pequeno diante da vasta produção movimentação da queixa cristalizada, pois se cria
na área. E entende-se a limitação deste estudo aqui um espaço para circular as informações e, a partir
apresentado. Porém, pode-se afirmar que o conjunto disso, pode-se resgatar e integrar os saberes dos
da produção analisado mostra características da nova pais, dos educadores e da criança potencializando-
Psicologia Escolar. Em termos gerais, essas publicações -os para a superação dos problemas escolares;
apontam novas reflexões e propostas de intervenção, E. realização de grupos com professores como um
distanciando-se daquelas anteriormente citadas que importante espaço de intervenção do psicólogo
escolar. Nos encontros com os docentes, propõem
tinham limitações de compreensão dos fenômenos
que se façam discussões e reflexões a respeito dos
escolares por culpar especialmente as crianças pobres
problemas encontrados nas instituições escolares,
pelo fracasso escolar.
realizando leituras orientadas e dinâmicas de grupo;
Quanto à análise das referências e concepções
F. realização de reuniões com temas específicos relacio-
teóricas que embasaram as discussões dos autores
nados ao cotidiano escolar com todos os envolvidos
investigados, percebe-se que, na grande maioria dos
no processo de escolarização;
textos, não há uma explicitação da concepção de educa-
G. realização de trabalhos no interior da escola que
ção que sustenta as propostas de atuação apresentadas.
podem ajudar o profissional a ampliar seu enten-
Por outro lado, as referências analisadas, em
dimento sobre a situação escolar das crianças com
termos gerais, trazem como fundamentação teórico-
dificuldades em seu processo de escolarização;
-metodológica de suas reflexões vários autores, muitos H. integração do psicólogo escolar a uma equipe
identificados com a perspectiva crítica. Entre os clássi- multiprofissional ou interdisciplinar com outros
cos podemos citar: Vigotski, Agnes Heller, Foucault, equipamentos como saúde, assistencial social,
Piaget e Bleger. Quanto aos brasileiros, nas publica- judiciário, etc.
ções há a referência aos trabalhos de vários autores. É Além dessas ações, destacam-se outras mais
importante destacar que em alguns capítulos não são pontuais como a proposta de mudança na avaliação
explicitadas as concepções teóricas que embasam as psicológica no âmbito escolar. Com relação ao processo
reflexões, o que foi analisado a partir das referências de avaliação das queixas escolares, Neves e Almeida
bibliográficas. (2003) destacam a importância de: 1) superar a dico-
Um destaque que é perceptível nos textos é a tomia existente entre avaliação e intervenção; 2) pro-
intenção dos autores de apontar as novas formas de porcionar um maior envolvimento do professor durante
intervenção do psicólogo na escola. Assim, algumas o processo (o que pode ser considerado um reconhe-
ações são sugeridas pelos autores para a atuação do cimento à competência do professor e favorecimento
psicólogo no campo educacional, o que destaca-se a da consolidação de sua autonomia); 3) compreender
seguir: a história escolar do aluno; 4) entrevistar os pais e/ou
A. resgate da história escolar e social das crianças que responsáveis com o objetivo de entender sua concepção
são identificadas como aquelas que apresentam sobre a queixa escolar; e 5) considerar a versão que a
dificuldades no seu processo de escolarização e sobre criança apresenta a respeito de sua história escolar e
as quais se produzem queixas escolares; dos problemas a ela atribuídos.
Guarido e Sayão (2004), ao discutirem a atuação que a queixa escolar é produzida; b) entender a escola
do psicólogo escolar, explicitam que não pretendem como o principal agente de inserção social; c) articular
estabelecer um modelo de ação, mas de caracterizar a história familiar com a história escolar; d) incluir os
uma proposta de atuação que considere todo o contexto professores no processo de intervenção; e) pesquisar
que produziu uma determinada situação-problema. o contexto em que se produzem e manifestem os
Dessa forma, as autoras destacam aspectos que julgam conflitos individuais; f) propor um espaço de escuta;
importante para uma intervenção que leve em conside- g) excluir o foco colocado na “criança-problema”; h)
ração a instituição em que a queixa escolar foi produ- valorizar a produção das crianças de um modo geral;
zida. São eles: a) uma intervenção breve e pontual, que i) propor intervenções breves; j) discutir as estratégias
parta da demanda da instituição e se configure de modo pedagógicas que são utilizadas pelos professores; k)
específico para cada caso; b) atendimento em grupo
realizar observações em salas de aula; l) trabalhar com
(não terapêutico) com número limitado de encontros,
os docentes; m) encontrar novas formas de avaliação e
usualmente uma vez por semana; c) explicitação
intervenção que rompa com o modelo individualizante.
do contrato a todos os participantes convidados; d)
Com o objetivo de exemplificar como se con-
apresentação do processo percorrido à instituição para
que essa possa se apropriar das questões levantadas e figura uma atuação inspirada na perspectiva crítica
se reposicionar diante de seus objetivos educacionais. de Psicologia Escolar e Educacional alguns autores
Destaque-se ainda o texto elaborado por Santos realizam relatos de atendimentos psicoeducacionais
(2007) que aborda a importância de oferecer ao psicó- por eles conduzidos diante das queixas escolares ou
logo escolar uma ferramenta útil no processo de aten- contam a respeito de acompanhamentos feitos por
dimento à queixa escolar: os cadernos escolares. Esse outros profissionais que desenvolveram seus trabalhos
objeto, comum no cotidiano escolar, é tradicionalmente apoiados nessa perspectiva. Nesses relatos nota-se a
usado como um instrumento para diagnósticos das inclusão de uma diversidade de pessoas envolvidas
crianças com queixas em seu processo de escolarização (professores, direção, pais e alunos) em atuações que
a partir de uma compreensão descontextualizada acerca se deram em múltiplos contextos (educação infantil,
das relações escolares. Porém, nessa referência, a autora escolas da rede pública de ensino com foco nas séries
convida os profissionais a construírem novas maneiras iniciais do ensino fundamental, creches e outras ins-
de olhar e entender os materiais escolares, especial- tituições educativas). Verifica-se que, com relação ao
mente os cadernos escolares. Dentre as sugestões nível de ensino, a maioria das publicações se referem a
apresentadas no texto destacam-se: a) a importância pesquisas e intervenções realizadas nas séries do ensino
de que o psicólogo conte com a anuência da criança fundamental (em especial, as séries iniciais) de escolas
para acessar o material escolar; b) a criança precisa pertencentes à rede pública de ensino e instituições de
ser ouvida e convidada a fazer comentários sobre suas educação infantil.
produções; c) distinguir, no conteúdo, a produção Dessa forma, a análise da produção acadêmico-
autônoma da criança, da cópia; d) atentar para os tipos
-científica da área de Psicologia Escolar e Educacional
de erros presentes nas cópias; e) verificar o conteúdo
aqui investigada, no que se refere à atuação do psicó-
dos bilhetes escritos nos cadernos por professores e
logo no campo educacional, revelou um compromisso
responsáveis; e) usar o caderno como um mediador
do psicólogo com as finalidades da Educação, com as
no diálogo com o professor, para que esse comente
aquilo que seu aluno produz e para que o profissional políticas públicas sociais, questionando as explicações
possa contextualizar as situações em que o material foi clássicas que centram na criança as causas do não-
produzido. Dessa forma, o texto convida os psicólogos -aprender na escola.
escolares a considerarem a multiplicidade de fatores As publicações apresentaram ainda um conjunto
que estão relacionados à produção do caderno escolar de temas clássicos da Psicologia Escolar que foram
que, segundo a autora, se constitui como articulação revisitados por uma perspectiva teórica que insere os
entre as várias instâncias da realidade escolar. fenômenos humanos histórico, social e culturalmente.
De uma forma geral, a análise dos textos revelou Dentre os temas, ressaltaram-se: afetividade, avaliação
elementos importantes para a intervenção do psicólogo psicológica, indisciplina, entre outros. Apresentaram
na escola: a) compreender como se dão as relações em ainda propostas de fundamentos teórico-metodológicos
Morais, M. L. S., & SOUZA, B. P. (2001). Trabalhos Santos, A. A. C. (2007). Uma proposta de olhar para
integrados entre equipes de Unidades Básicas os cadernos escolares. In: B. P. Souza (Ed.),
de Saúde e vários equipamentos educacionais. Orientação à queixa escolar (pp. 165-184). São
In: M. L. S. Morais & B. P. Souza (Eds.). Saúde Paulo: Casa do Psicólogo.
e Educação: Muito prazer! Novos rumos no Saraiva, L. F. O. (2007). Olhares em foco: tensionando
atendimento a queixa escolar (pp. 89-94). São silenciamentos. In: B. P. Souza (Ed.), Orientação
Paulo: Casa do Psicólogo. à queixa escolar (pp. 59-78). São Paulo: Casa do
Minto, E. E. W.; Carvalho, E. E.; Gomes, E. M. G. P., Psicólogo.
& Morais, M. L. S. (2001). Encontro da equipe Severino, A. J. (2000). Metodologia do trabalho científico.
de saúde com professoras de uma Delegacia de São Paulo: Cortez.
Ensino. In: M. L. S. Morais & B. P. Souza (Eds.). Souza, B. P. (2007). Apresentando a Orientação à
Saúde e Educação: Muito prazer! Novos rumos no Queixa Escolar. In: B. P. Souza. (Ed.), Orientação
atendimento a queixa escolar (pp. 203-230). São à queixa escolar (pp. 97-118). São Paulo: Casa
Paulo: Casa do Psicólogo. do Psicólogo.
Neves, M. M. B. DA J., & Almeida, S. F. C. (2003). A Souza, B. P. (2004). Professora desesperada procura
atuação da Psicologia escolar no atendimento aos psicóloga para classe indisciplinada. In: A. M.
alunos encaminhados com queixas escolares. In: Machado & M. P. R. Souza (Eds.), Psicologia
S. F. C. Almeida (Ed.), Psicologia Escolar: Ética e Escolar: Em busca de novos rumos (pp. 103-112).
competência na formação e atuação profissional São Paulo: Casa do Psicólogo.
(pp. 83-103). Campinas: Alínea. Souza, B. P. (2007). Trabalhando com dificuldades
Pacífico, J. M. (2002). A Queixa Docente. In: M. P. R. na aquisição da língua escrita. In: B. P. Souza
Souza & M. Neneve (Eds.), Psicologia e Educação (Ed.), Orientação à queixa escolar (pp.137-164).
na Amazônia: Pesquisa e realidade brasileira (pp. São Paulo: Casa do Psicólogo.
33-51). São Paulo: Casa do Psicólogo. Souza, M. P. R. de (1996). A queixa escolar e a formação
Patto, M. H. S. (1984). Psicologia e Ideologia: uma do psicólogo. Tese de Doutorado. Instituto de
introdução crítica à Psicologia. São Paulo: T. A. Psicologia, Universidade de São Paulo.
Queiroz. Souza, M. P. R. de (2007). Prontuários revelando os
Patto, M. H. S. (1987). A produção do fracasso escolar: bastidores do atendimento à queixa escolar. In:
Histórias de subsmissão e rebeldia. Tese de livre- B. P. Souza. (Ed.), Orientação à queixa escolar (pp.
docência, Universidade de São Paulo, São Paulo. 27-58). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Patto, M. H. S. (1988). O fracasso escolar como objeto Souza, B. P., & Sobral, K. R. (2007). Características
de estudo: anotações sobre as características de da Clientela da Orientação à Queixa Escolar:
um discurso. Cadernos de Pesquisa, 65, 72-77. Revelações, indicações e perguntas. In: B. P.
Rodrigues, H. de B. C., Fernandes, P. J., & Duarte, Souza (Ed.), Orientação à queixa escolar (pp. 119-
M. das G. dos S. (2001). Plataforma Argentino: 134). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Trajetória de constituição de uma análise em Souza, M. P. R. de (2010). Atuação do Psicólogo na
ato da instituição psicanalílica. Perfil (Assis), Rede Pública de Educação frente à demanda escolar:
12, 43-56. concepções, práticas e inovações. Tese de Livre-
Saidon, O., & Kamkhasi, V. R. (1987). Análise Docência, Instituto de Psicologia, Universidade
Institucional no Brasil. Rio de Janeiro, Rosa dos de São Paulo, São Paulo.
Tempos. Tanamachi, E. R. (2000). Mediações teórico-práticas
Santos, C. S. G. (2004). Atuação do psicólogo escolar/ de uma visão crítica em Psicologia Escolar. In:
educacional e habilidades sociais: uma relação E. R. Tanamachi, M. P. R. de Souza & M. L.
necessária. In: M. Correia (Ed.), Psicologia e Rocha (Eds.), Psicologia e Educação: Desafios
escola: Uma parceria necessária (pp. 83-100). teórico-práticos (pp. 73-103). São Paulo: Casa
Campinas: Alínea. do Psicólogo.