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Foto: Gilvan Barreto
por Letícia Queiroz
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A formação das crianças além das possibilidades oferecidas pela escola é um dos objetivos da Casa da Arte de Educar. Foto: Gilvan Barreto
não só a chance de falar, mas de se fazer ouvir. São espa- vocês acham que as pessoas das favelas sofrem pre-
ços que o estimulam a contar suas experiências e falar de conceito?”, questiona a professora, experimentando
sua cultura, o que ele, em geral, não tem a oportunidade outro caminho. “Porque somos pobres”, responde uma
de fazer nem nos bancos da escola, nem à mesa de jan- menina de cabelos longos. “Porque o pessoal da favela
tar, com a família. Nesse diálogo entre culturas, o conhe- não se impõe perante a sociedade”, diz outra de cabelo
cimento intelectual entra em contato com a vivência da arrepiado. Leandra arregala os olhos e continua a esti-
periferia. As duas pontas da cidade, enfim, se encontram. mular a discussão. É por meio dela que os dois mundos
E se alimentam. se aproximam.
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Renata Freitas, na UFRJ: canções em guarani para os garotos da Maré. Foto: Gilvan Barreto
de debates de performance negra. Ele chegou à UQ Favelas, do Complexo da Maré, produziram um filme
por curiosidade, e hoje acredita que o curso trará mais que reflete a mudança social no país.
elementos para seus projetos pessoais. “Eu acho isso
muito difícil”, retruca Luciana Bezerra, diretora do epi- Ao fim da conversa, Renata sugere uma síntese estética
sódio Acenda a Luz, do filme 5x Favela – Agora por Nós para o encontro. “Quero ensinar uma canção guarani
Mesmos. Ela que, na semana anterior, tinha ido assistir que aprendi. Vamos fazer uma rodinha aqui?” As cadei-
à première de seu filme em Cannes. “Não existem dire- ras são arrastadas para os cantos da sala e uma roda
tores pobres no cinema. Isso causou uma curiosidade se forma em seu centro. Todos começam a andar em
muito grande na imprensa do mundo todo”, conta para círculos, batendo o pé direito a cada dois segundos.
a turma. “Minha história é tão forte que eles ficavam Renata puxa o canto e o grupo repete suas palavras:
perguntando: como você chegou até aqui? Como isso “Moema... croootá paramãe popuãoã taquariporã... eh
está surgindo no Brasil?” Luciana é a coordenadora do têitêi eh têitêi moema...” e a cantoria vai diminuindo
Grupo Nós do Morro, que, em parceria com pessoas da junto com as batidas dos pés até o som sumir. Explo-
Central Única das Favelas (Cufa) e do Observatório das dem os aplausos.
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Nas oficinas de Artes Plásticas da Casa das Artes de Vila Isabel se produzem objetos de decoração. Foto: Gilvan Barreto
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No Complexo da Maré os alunos do Projeto Tear produzem textos baseados em suas vidas. Foto: Gilvan Barreto
pelas técnicas de ensino começou aos 15 anos, quando de Paulo Freire. O programa é financiado pela Secretaria
conheceu as teorias do educador Paulo Freire a respeito de Educação, com o apoio de grandes empresas privadas.
da educação dos mais pobres. Em 1963, no Rio Grande do
Norte, aplicando os princípios de alfabetização concebi- Sim, existe uma tecnologia para o diálogo entre culturas,
dos por Freire, e em apenas 45 dias, ensinou 300 adultos e ela se sofistica cada vez mais. As técnicas desenvolvidas
a ler e escrever. Sueli incorporou conceitos que podem na Casa da Arte, por exemplo, são levadas para outras re-
ser resumidos em uma frase do educador: “Não há saber giões do Brasil em parceria com os Ministérios da Educa-
mais ou saber menos, há saberes diferentes”. Aos 16 anos, ção e da Cultura. “É uma ação de diálogo dos pontos de
engajou-se em uma ação pedagógica com os professores cultura com as escolas”, explica Sueli. No começo de 2010,
da Rocinha. Não parou mais. Tempos depois, a empresa o programa Mais Educação tornou-se uma ação nacional.
Xerox, que realizava ações esportivas na Mangueira, a “As nossas duas casas funcionam como um laboratório de
convidou para organizar um projeto educacional e cul- metodologias”, ela diz. “Com base em nossa experiência,
tural no morro. Assim nasceu a Casa da Arte de Educar, desenvolvemos conceitos e técnicas que serão aplicados
onde Sueli, aliando-se a um corpo eclético de educado- em outras regiões do país.” O reconhecimento desse es-
res, vindos tanto das favelas como do meio acadêmico, forço veio rápido: a Casa da Arte de Educar ganhou o prê-
criou uma metodologia própria, inspirada nos princípios mio Itaú-Unicef 2009, concorrendo com 1.917 projetos.
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Da escola para a universidade
PESQUISADORES ACADÊMICOS
BUSCAM CONHECER E REFLETIR
SOBRE A PRODUÇÃO CULTURAL
DAS PERIFERIAS, ESPAÇO
URBANO ONDE AS CARÊNCIAS
DE FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO
SUPERIOR SÃO GRANDES
A palavra da periferia
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