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Contabilidade Social

Autores: Prof. Marcos Paulo de Oliveira


Prof. Adalberto Oliveira da Silva
Colaboradores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
Profa. Rachel Niza
Professores conteudistas: Marcos Paulo de Oliveira / Adalberto Oliveira da Silva

Marcos Paulo de Oliveira

Possui mestrado em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e graduação
em Ciências Econômicas pela Universidade Paulista (UNIP).

Leciona na Universidade Paulista (UNIP) desde o ano de 2002 nas disciplinas de Contabilidade Social, Elementos
de Economia, Economia Brasileira, Economia e Gestão do Setor Público, Macroeconomia Fechada, Macroeconomia
Aberta, Macroeconomia Aplicada, Ambiente Econômico Global, entre outras.

Trabalhou no setor privado, na área de importação e exportação, e no setor público, com políticas públicas de
geração de trabalho, emprego e renda, bem como na área de planejamento e gestão, como gerente de indicadores
econômicos e sociais e como gerente de acompanhamento das receitas e dos gastos públicos. Atua na área de pesquisa
da Macroeconomia.

Adalberto Oliveira da Silva

Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Atualmente é professor adjunto da
Universidade Paulista (UNIP) no curso de Ciências Econômicas, onde leciona disciplinas de Macroeconomia Aplicada,
História Econômica Geral e Técnicas de Pesquisa em Economia.

Também é técnico do Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos (DIEESE), onde atua
em pesquisas sobre mercado de trabalho. Suas áreas de interesse são: teoria econômica, desenvolvimento econômico,
economia brasileira e políticas públicas.

Recentemente, atuou como revisor técnico para o livro de Economia e Gestão, no ano de 2014, no projeto da
Biblioteca Universitária Pearson para a confecção de material didático de cursos superiores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O48c Oliveira, Marcos Paulo de.

Contabilidade social. / Marcos Paulo de Oliveira, Adalberto


Oliveira da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2015.

176 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-102/15, ISSN 1517-9230.

1. Contabilidade social. 2. Balanço de pagamentos. 3. Indicadores


sociais. I. Silva, Adalberto Oliveira da. Título.

CDU 339.32

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Reitor

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Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

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Vice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo Okida


Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Rose Castilho
Lucas Ricardi
Sumário
Contabilidade Social

Apresentação.......................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 DEFINIÇÕES E desenvolvimento conceitual da CONTABILIDADE SOCIAL.........................9
1.1 Definições de contabilidade social....................................................................................................9
1.2 Princípio das partidas dobradas...................................................................................................... 12
1.3 Conceitos básicos: produto, renda e despesa............................................................................ 12
1.3.1 A identidade entre produto, despesa e renda.............................................................................. 14
2 FLUXO CIRCULAR DA RENDA...................................................................................................................... 16
2.1 A macroeconomia e as contas nacionais.................................................................................... 19
2.2 Contas nacionais em uma economia fechada e sem governo........................................... 20
2.3 Contas nacionais em uma economia aberta e sem governo.............................................. 22
2.4 Contas nacionais em uma economia aberta e com governo.............................................. 24
2.4.1 O sistema de contas nacionais e as identidades contábeis em uma economia
aberta e com governo....................................................................................................................................... 27
2.5 O sistema de contas nacionais no Brasil...................................................................................... 32
3 AS CONTAS NACIONAIS NO BRASIL......................................................................................................... 35
3.1 Sistema de Contas Nacionais ou System of National Accounts (SNA)........................... 36
3.2 As Tabelas de Recursos e Usos (TRU)............................................................................................. 41
3.3 As Contas Econômicas Integradas (CEI)....................................................................................... 53
3.3.1 As contas econômicas integradas por setores institucionais................................................ 57
4 Problemas de mensuração................................................................................................................. 70
4.1 Dificuldades técnicas........................................................................................................................... 70
4.1.1 Valores nominais e valores reais........................................................................................................ 70
4.1.2 Comparações entre países e o dólar: paridade do poder de compra (PPC)..................... 74
4.2 Dificuldades operacionais.................................................................................................................. 76
4.3 Dificuldades conceituais..................................................................................................................... 79
4.3.1 As atividades não monetizadas.......................................................................................................... 79
4.3.2 Meio ambiente e desenvolvimento sustentável.......................................................................... 79

Unidade II
5 bALANÇO DE PAGAMENTOS........................................................................................................................ 85
5.1 Estrutura do Balanço de Pagamentos.......................................................................................... 87
5.2 A contabilidade do Balanço Pagamentos.................................................................................... 97
6 TAXAS DE CÂMBIO E REGIMES CAMBIAIS...........................................................................................105
7 BALANÇO DE PAGAMENTOS NO BRASIL..............................................................................................108
8 INDICADORES SOCIAIS................................................................................................................................116
8.1 Crescimento e desenvolvimento...................................................................................................118
8.2 Desigualdades regionais...................................................................................................................120
8.3 Indicadores de qualidade de vida e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).............. 122
8.4 Distribuição da renda no Brasil.....................................................................................................129
8.5 Mensuração do grau de concentração da renda....................................................................133
8.6 Curva de Lorenz e Índice de Gini..................................................................................................137
8.7 Problemas metodológicos e limitações dos dados ...............................................................141
8.8 Indicadores de mercado de trabalho no Brasil........................................................................144
Apresentação

A disciplina Contabilidade Social tem como objetivo familiarizar o aluno com os conceitos e métodos
de cálculos dos agregados macroeconômicos, com o objetivo de proporcionar a compreensão das contas
nacionais e quantificação da atividade produtiva, principalmente da economia brasileira, capacitando-o
para a teoria e análise macroeconômica.

A disciplina contempla, em primeiro lugar, uma apresentação da contabilidade social como técnica
contábil, interligando os conceitos de economia de mercado com os conceitos da Teoria Macroeconômica
na avaliação do produto e suas vertentes, sistematizando as informações dos agregados na forma de
contas nacionais básicas e tradicionais, envolvendo os agentes econômicos internos com o mercado
externo, por meio da noção de Balanço de Pagamentos das taxas de câmbio e regimes cambiais, isto é,
a relação das moedas brasileira e de outros países.

Procura ainda incluir um grande universo de conceitos que não se restringe às contas nacionais,
incorporando um contexto específico ao termo “social”, por meio da apresentação e discussão dos
indicadores sociais que procuram avaliar a forma de crescimento econômico, isto é, se a população
brasileira como um todo está se beneficiando ou apenas uma parte da população.

Para esse tipo de avaliação, temos que ir além do crescimento econômico, que é o lado quantitativo
da contabilidade social, ou seja, temos que estudar a evolução desse crescimento por meio de indicadores
sociais que avaliam o lado qualitativo de uma economia.

Sendo assim, para avaliarmos o crescimento e o desenvolvimento de uma economia, bem


como as suas desigualdades regionais, passa a ser necessário estudar indicadores do mercado de
trabalho e de qualidade de vida da população por meio do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH), analisar a distribuição da renda e mensurar o grau de concentração por meio de instrumentos
teóricos e estatísticos conhecidos como Curva de Lorenz e Índice de Gini e suas limitações e
problemas metodológicos.

Introdução

Em meados do século XX, o Brasil foi um dos países que mais cresceu pela ótica econômica, como
é o caso da China neste início do século XXI. Dado esse passado promissor, uma questão passa a ser
intrigante: se apresentamos um elevado crescimento econômico no passado e hoje estamos entre as 10
economias mais ricas do mundo pelo ranking do Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países, por
que continuamos tão atrasados em relação a outros países?

Muitos pensadores brasileiros passaram toda a vida acadêmica procurando entender e responder
essa questão, entre eles Caio Prado Junior, Florestan Fernandes, Celso Furtado, Maria da Conceição
Tavares e João Manuel Cardoso de Mello.

Para iniciarmos a busca pela resposta dessa questão, é preciso entender o processo de produção
de bens e serviços, o valor adicionado gerado por esse processo e a distribuição da renda, sendo
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necessário compreender o fluxo circular da renda de uma economia por meio das suas questões: O
que produzir? Como produzir? Para quem produzir?

Temos como respostas, respectivamente: os bens e serviços produzidos; a quantidade de fatores


de produção utilizada e quanto desses fatores são máquinas, equipamentos e mão de obra, bem como
quanto dessa mão de obra está no mercado de trabalho formal e informal; e, por fim, quem são os
consumidores desses bens e serviços e qual a sua qualidade de vida.

No entanto, ainda não conseguimos responder à questão central. Por que estamos em um estágio
de desenvolvimento econômico inferior? Para responder tal questão necessitamos medir o fluxo de
produção, seu custo e mensurar o valor gerado que constitui a renda e o estoque de riqueza da população
de um país, bem como o padrão de vida e o bem-estar social dessa mesma população.

Nesse sentido, a contabilidade social permite uma avaliação racional pela força dos números de
dados estatísticos que as contas nacionais apresentam por período de tempo.

Ao estudarmos a contabilidade social, percebemos que crescimento econômico é diferente de


desenvolvimento econômico e, por isso, o Brasil é considerado, no contexto internacional, um caso
antiexemplar, isto é, a economia brasileira não é pobre como a da África, mas é o país com uma das mais
elevadas desigualdades do mundo, ou seja, onde os 10% mais ricos da população ganham 30 vezes mais
que os 10% mais pobres.

As contas nacionais permitem avaliar o que produzimos, como produzimos e para quem produzimos,
dando uma dimensão da capacidade de produção e geração de valor adicionado da economia brasileira,
que, pela ótica da renda, revela a participação do capital e do trabalho na formação do Produto Interno
Bruto (PIB), bem como o que e quanto consumimos, investimos, exportamos e importamos de outros
países.

Ao medir cada variável que compõe as contas nacionais, conseguimos avaliar o desempenho
econômico e social da economia brasileira no presente, procurando entender e superar os problemas do
passado para uma melhoria de vida das gerações futuras por meio do acompanhamento da dinâmica
econômica e social, criando e utilizando indicadores capazes de refletir as condições de vida em cada
região brasileira, a qualidade do mercado de trabalho, as condições de moradia, saúde, educação, entre
outros.

Portanto, a contabilidade social passa a ser uma parte da ciência econômica e um ramo da economia
aplicada para a elaboração de pesquisas que permitam questionar e solucionar as grandes questões
econômicas e sociais que persistem no século XXI.

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Contabilidade Social

Unidade I
1 DEFINIÇÕES E desenvolvimento conceitual da CONTABILIDADE
SOCIAL

1.1 Definições de contabilidade social

A contabilidade social, antes compreendida apenas como contabilidade nacional, devido ao


seu sistema de contas que apuravam o nível de atividade, representa atualmente uma evolução
da ciência econômica ao final do século XX, de forma mais específica da teoria macroeconômica,
no sentido de passar a mensurar não apenas a parte quantitativa da economia ou crescimento
econômico, mas também a parte qualitativa ou desenvolvimento econômico. Segundo
Bresser‑Pereira e Nakano (1972, p. 1):

A contabilidade social é o conjunto de estatísticas de ordem econômica,


preparadas e sistematizadas com o objetivo de possibilitar uma visão
quantitativa, a mais precisa possível, da economia de um país. É uma síntese
contábil dos fatos que caracterizam a atividade econômica de um país.

Hoje, praticamente, não existe nenhum país que não tenha a sua
contabilidade social, através da qual se pode ter uma visão relativamente
exata do estado econômico do país e do seu ritmo de crescimento.

O estudo da contabilidade social não é recente, pois já nos fins do


século XVII se começa a utilizar o conceito de renda nacional. Apoiada
no estudo deste conceito, a contabilidade social desenvolve-se e neste
século, particularmente depois de 1920, os estudiosos começam a
reconhecer uma pluralidade de conceito de renda (produto, renda,
despesa, a preços de mercado, a custo dos fatores etc.). Os problemas
econômicos do após guerra vão acelerar os estudos da contabilidade
social, e aqueles conceitos de renda nacional vão ser integrados em uma
estrutura mais ampla, o sistema de contas nacionais, que descrevem as
principais operações da economia relacionando os mais importantes
setores econômicos.

Essa disciplina tinha apenas o objetivo de medir o produto, a renda e a despesa agregados, isto
é, medir o desempenho da economia por meio do crescimento econômico, ou seja, medir a variável
mais importante de um país, que é o Produto Interno Bruto (PIB). Entretanto, o século XX demonstrou
que muitos países cresceram somente pelo lado quantitativo, ou seja, apresentaram elevadas taxa de
crescimento econômico, mas continuavam com elevados índice de pobreza.
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Unidade I

Observação

Veremos, ao longo deste livro-texto, que:

Produto Interno Bruto = Consumo Agregado + Investimento Agregado +


Gastos Públicos Agregados + Exportação Agregada – Importação Agregada

Ou

Produto Interno Bruto = ∑ PiQi

Em que i representa todos os bens e serviços produzidos em um país em


um dado período de tempo.

Percebeu-se que o crescimento econômico não era distribuído de forma igualitária entre a
população e que havia elevada concentração de riqueza entre os agentes econômicos. Por esse motivo, o
desenvolvimento econômico passou a ser objeto de medição e estudo, avançando sobre a contabilidade
nacional ao incluir as características e condições de vida da população residente, isto é, passou a medir
as condições sociais.

Uma das medidas utilizadas para saber a renda das pessoas em uma economia é conhecida como
Produto Interno Bruto por pessoa ou per capita (PIB per capita), que é o total do PIB divido pela
população residente em um país.

PIB per capita = Produto Interno Bruto / Total da população residente

No entanto, o PIB per capita é uma média que não demonstra como a renda está sendo distribuída
entre essa mesma população.

O Brasil apresentou taxas de crescimento econômico nesses primeiros anos do século XXI.
Dado que o crescimento populacional não é tão acelerado, resulta em uma elevação do PIB per
capita brasileiro, que, em 2008, era de R$ 16 mil e alcançou o valor de R$ 27 mil no primeiro
trimestre do ano de 2014.

O PIB per capita, mesmo representando um valor médio, é um indicador utilizado em


várias pesquisas e como variável de vários modelos econômicos, bem como na composição de
modelos estatísticos para medir a renda anual da população, também sendo utilizado para fazer
comparações internacionais.

O gráfico a seguir, com base nos dados divulgados pelo IBGE, apresenta o PIB per capita do Brasil de
2008 a 2014.

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Contabilidade Social

30.000 27.229
25.655
25.000 23.655
22.162
20.000 19.882
16.225 17.196
15.000
10.000
5.000
0
2008 2009 2010 2011 2012(1) 2013(1) 2014(1)
Per capita...
(1) Com base nos dados de Contas Nacionais Trimestrais.

Figura 1 – PIB per capita do Brasil, em R$

Exemplo de aplicação

Estima-se que a diferença entre a renda dos 10% mais ricos da população no Brasil em relação aos
10% mais pobres seja mais de 30 vezes.

Qual é a porcentagem do PIB que fica com esses 10% mais ricos e com os 10% mais pobres?

Dito isso, a contabilidade social possui metodologia e instrumentos capazes de medir a


dinâmica de uma economia em um determinado período de tempo, geralmente no prazo de um
ano, o quanto se produziu (oferta), quanto se consumiu (demanda), quanto se investiu (formação
bruta de capital fixo), quanto se vendeu para outros países (exportação) e quanto se comprou de
outros países (importação).

Esse avanço metodológico se deve muito à obra do economista John Maynard Keynes (1883-1946),
o livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicado pela primeira vez em 1936, em que
os economistas passaram a entender e compreender melhor como mensurar de forma agregada, ou
melhor, medir toda variável de produção, renda e consumo, como também saber o que determina cada
uma dessas variáveis, além de poder relacionar cada uma delas, por exemplo, a produção e a despesa, a
despesa e a renda, e a renda e a produção dentro de uma lógica sistematizada.

Esse novo método trazido por Keynes dá início ao que os economistas denominaram de
macroeconomia, em que as variáveis são trabalhadas de forma agregada, ou seja: a somatória do
consumo de toda a população residente em um país no período de um ano, chamada de consumo
agregado; a somatória de todo o investimento das empresas residentes em um país no período de um
ano, chamada de investimento agregado; a somatória de toda a produção dos fatores de produção
residentes em um país no período de um ano, chamada de produto nacional; e a somatória de toda a
renda gerada pelos fatores de produção dos residentes em um país no período de um ano, chamada de
renda nacional.

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Unidade I

1.2 Princípio das partidas dobradas

A contabilidade social segue o método das ciências contábeis ao estruturar o balanço contábil das
empresas por meio do princípio das partidas dobradas, ou seja, um valor de lançamento a débito tem
um lançamento correspondente, no mesmo valor e simultâneo, a crédito, o que resulta nos equilíbrios
interno e externo do balanço ao sistematizar cada variável e as contas que compõem esse balanço,
conhecido como Sistema de Contas Nacionais.

1.3 Conceitos básicos: produto, renda e despesa

O objetivo principal da contabilidade social é descrever o fluxo de bens e serviços finais


produzidos em um país durante o período de um ano. Esse fluxo pode ser mensurado por
três óticas: produto, despesa e renda. Elas resultam em totais dos quais podemos montar um
sistema de contas e descrever as operações econômicas efetuadas durante um determinado
período. São eles:

• Produto: soma total dos bens e serviços finais produzidos durante o período de um ano.

• Renda: remuneração paga às famílias pelo fornecimento, durante o período de um ano, de fatores
de produção para as empresas elaborarem o produto.

• Despesa: é a despesa total realizada pelas famílias ao comprarem o produto, também durante o
período de um ano.

Produto = ∑ PiQi

Em que P é a média de preços e Q é a quantidade de todos os bens e serviços produzidos. Ou,

Produto = ∑VA

Em que VA é o valor adicionado no processo de produção, ou seja, salários, juros, lucros e aluguéis.

Cada ótica citada representa um caminho diferente para mensurar, em valores iguais, a
atividade econômica. Para maior clareza, iremos estudar a identidade entre produto, despesa
e renda e as fases de produção e composição dos setores e produtos produzidos, bem como os
valores gerados. Podemos ver na tabela a seguir que, pelas três óticas, os valores são iguais para
o Brasil no ano de 2011.

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Contabilidade Social

Tabela 1 – Componentes do Produto Interno Bruto sob as três óticas

 2011
Componentes do Produto Interno Bruto valor corrente em
milhões de reais
A - Ótica da produção  
Total 4.374.765
Produção 7.436.390
Impostos sobre produtos 658.526
Subsídios aos produtos (-) (-) 2.605
Consumo intermediário (-) (-) 3.717.546
B - Ótica da despesa  
Total 4.374.765
Despesa de consumo final 3.454.377
Despesa de consumo das famílias 2.572.614
Despesa de consumo das Instituições sem fins 64.395
de lucro a serviço das famílias
Despesa de consumo do governo 817.368
Formação bruta de capital 954.059
Formação bruta de capital fixo 902.885
Variação de estoque 51.174
Exportação de bens e serviços 501.802
Importação de bens e serviços (-) (-) 535.473
C - Ótica da renda  
Total 4.374.765
Remuneração dos empregados 1.846.781
Salários 1.453.655
Contribuições sociais efetivas 338.487
Contribuições sociais imputadas 54.639
Rendimento misto bruto 363.863
Excedente operacional bruto 1.461.861
Impostos sobre a produção e importação 710.548
Subsídios a produção e importação (-) (-) 8.288

Adaptado de: IBGE (2015d).

Perceba que há uma identidade “produto ≡ despesa ≡ renda”, em que o valor total é igual
para as três óticas. Esse valor de que estamos falando trata-se do PIB, que foi de R$ 4,3 trilhões
13
Unidade I

no ano em questão (2011). Portanto, podemos chegar ao resultado do PIB por meio de três óticas
ao somarmos a produção de todos os bens finais produzidos (ótica da despesa), todos os valores
adicionados em cada etapa de produção (ótica do produto) ou todas as remunerações dos fatores
de produção (ótica da renda).

1.3.1 A identidade entre produto, despesa e renda

Uma identidade em contabilidade social é uma identidade contábil entre duas variáveis, como uma
situação em que a variável X possui uma identidade com a variável Y. Podemos descrever essa identidade
da seguinte forma X ≡ Y. No entanto, a identidade de X ≡ Y não implica nenhuma relação de causa e
efeito da variável X para a variável Y ou vice-versa.

Queremos apenas afirmar que o valor do produto é idêntico ao valor da despesa, o valor da despesa
é idêntico ao valor da renda e o valor da renda é idêntico ao valor do produto. Para termos mais clareza,
temos:

Despesa Agregada = Despesa de Consumo Final + Formação Bruta de


Capital Fixo + Exportação – Importação

Renda Agregada = Salários + Excedente Operacional Bruto

Produto Agregado = Produção – Consumo Intermediário

Valor Adicionado = Salários + Excedente Operacional Bruto


ou
Valor Adicionado = Valor Bruto da Produção – Consumo de Bens e
Serviços Intermediários

Vamos considerar uma economia fictícia em que não há governo e não há também o setor externo,
cujas linhas apresentam três setores e quatro fases de produção denominados aqui como local inicial de
produção: uma Fazenda, sendo este o local em que temos a matéria-prima ou insumos – setor primário
ou agrícola –; Fiação e Tecelagem, os locais de transformação dessa matéria-prima em tecido – setor
secundário ou industrial –; e Varejo, o local em que temos o comércio de tecidos – setor terciário ou
comércio e serviços.

Já nas colunas, temos o valor bruto da produção, que é a somatória de tudo que foi produzido,
inclusive o que foi utilizado como matéria-prima ou insumo na produção. Também temos a remuneração
dos fatores de produção, os salários como renda do trabalho, os lucros como remuneração da capacidade
empresarial, os juros como remuneração do capital e os aluguéis como remuneração da terra.

O valor adicionado, como veremos ao descrever a tabela, é resultado da soma da remuneração


dos fatores de produção. A decisão de transformar insumos em bens e serviços necessita de fatores
14
Contabilidade Social

de produção, portanto, ao decidir produzir, contratamos os fatores de produção e adicionamos seu


valor aos insumos, leia-se: somamos ao valor dos insumos a remuneração dos fatores de produção
contratados, conforme a tabela a seguir:

Tabela 2 – Produção de algodão e comércio de tecidos


(em milhões de unidades monetárias – $)

Setores ou Insumos – Lucros, juros


Valor bruto da
fases de consumo Salários e aluguéis Valor adicionado
produção
produção intermediário (EOB)*
Fazenda 86.399 55.000 10.500 20.899 31.399

Fiação 130.658 86.399 13.400 30.859 44.259

Tecelagem 187.927 130.658 15.900 41.369 57.269

Varejo 262.240 187.927 17.980 56.333 74.313

Total 469.480 262.240 57.780 149.460 207.240


*Excedente
operacional
bruto

O setor primário (Fazenda) apresenta $ 55.000 em insumos, é denominado de consumo intermediário


e, para transformar esse insumo em produto final, contrata $ 10.500 em salários (trabalhadores) e
$ 20.899 em lucros, juros e aluguéis, valor referente à remuneração da capacidade empresarial do produtor
desse setor, aos juros como remuneração do capital que esse mesmo produtor pegou emprestado no
banco para comprar máquinas e equipamentos para a sua produção e ao aluguel do local em que colheu
os insumos necessários para sua produção.

O valor bruto da produção desse setor, no valor de $ 86.399, conforme seu conceito, é a soma do
valor dos insumos ($ 55.000), dos salários ($ 10.500) e dos lucros, juros e aluguéis ($ 20.889). Já o valor
adicionado, no valor de $ 31.399, é a soma apenas dos salários ($ 10.500) e dos lucros, juros e aluguéis
($ 20.889).

Para a próxima fase de produção, no caso, a fiação, acontecer no setor secundário, há necessidade
de matérias-primas que serão ofertadas pelo setor primário (fazenda) no valor de $ 86.399. Veja que
este é o mesmo valor bruto da produção do setor primário, ao qual terá adicionado $ 13.400 de salários
e $ 30.859 de lucros, juros e aluguéis na próxima fase de produção (fiação), resultando no valor bruto
da produção de $ 130.658. Veja que o valor adicionado é a soma de $ 13.400 de salários e $ 30.859 de
lucros, juros e aluguéis.

Para que a próxima fase, denominada Tecelagem, ocorra, o valor bruto da produção da Fiação
($ 130.658) torna-se insumo desse setor, que terá os valores adicionados de $ 15.900 em salários e
$ 41.369 em lucros, juros e aluguéis, resultando no valor bruto de produção de $ 187.927 e no total de
valor adicionado de $ 57.269.

15
Unidade I

Já o último setor de produção (Varejo) consumirá o valor bruto da produção da Tecelagem no valor
de $ 187.927 e adicionará $ 17.980 em salários e $ 56.333 em lucros, juros e aluguéis, resultando em
um valor bruto da produção de $ 262.240 e no valor adicionado de $ 74.313.

Após todo esse processo de produção, precisamos saber qual foi o produto agregado ou Produto
Interno Bruto (PIB) dessa economia, sendo necessário consideramos apenas o valor dos bens finais
produzidos em cada fase de produção.

Perceba que não podemos considerar o Valor Bruto da Produção, devido ao fato de que ele
soma os valores de insumo ao longo de todo o processo de produção e suas fases setoriais. Se
considerarmos o valor de $ 469.480 como o produto agregado, iremos incorrer no erro da dupla
contagem, ou seja, iremos considerar os valores dos insumos adicionados duas vezes no mesmo
processo de produção.

Portanto, faz-se necessário deduzir, do Valor Bruto da Produção final, o Consumo Intermediário
final, cujo resultado é $ 207.240. Note que é o mesmo valor da soma dos valores adicionados e igual a
soma do total de salários ($ 57.780) e dos lucros, juros e aluguéis ($ 149.460).

Sendo assim, podemos chegar ao valor do produto agregado dessa economia por três métodos ou
caminhos, denominados aqui como óticas. A ótica da despesa, a ótica do produto e a ótica da renda.

A ótica da despesa é a soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no período de
um ano e que não foram consumidos como matéria-prima na produção de outros bens e serviços,
ou seja, foram considerados como bens finais (Consumo). A ótica do produto é a soma do valor
adicionado no processo de produção (Valor Bruto da Produção menos o Consumo Intermediário) e
a ótica da renda é a soma das remunerações (Salários, Lucros, Juros e Aluguéis) pagas aos fatores
de produção.

O produto agregado ou produto interno bruto dessa economia fictícia é o valor de $ 207.240, bem
como o valor de toda despesa e da renda dessa mesma economia, ou seja, a identidade Produto ≡
Despesa ≡ Renda, devido ao valor ser idêntico para os três agregados macroeconômicos.

2 FLUXO CIRCULAR DA RENDA

Para compreender melhor produto, despesa e renda iremos iniciar nossos estudos por um modelo de
sistema econômico simples.

Vamos supor que esse sistema econômico tenha apenas as empresas como unidades produtoras e as
famílias como fornecedores de fatores de produção e, ao mesmo tempo, unidades consumidoras. Não
há consumo intermediário, estoque, relações com o resto do mundo e governo, como podemos ver a
seguir:

16
Contabilidade Social

Salários, juros, lucros, aluguéis (renda)

Fatores produtivos

...Empresas... ...Famílias...

Bens e serviços finais (produto)

Consumo (despesa)

Figura 2 – Fluxo circular da renda simples

Aqui, as empresas, ao obterem os fatores de produção (trabalho, capital, recursos naturais),


transferem às famílias uma remuneração (salários, juros, lucros, aluguéis) pela utilização desses fatores,
isto é, pagam uma renda.

Ao combinarem esses fatores de produção, as empresas produzem bens e serviços cujo resultado é
o produto, que, por sua vez, será vendido às famílias, que compram os bens e serviços ou produtos e
realizam uma despesa.

Note que os agentes econômicos que compõem uma sociedade aparecem duas vezes no fluxo
circular de renda, ou seja, em um momento são produtores e em outro, consumidores.

Na sociedade em que vivemos e que é, no aspecto material, inteiramente


organizada pela troca, a ótica do produto considera a atividade dos
indivíduos como produtores, ou seja, a atividade das unidades produtivas ou
empresas. Já a ótica do dispêndio (ou dos gastos, ou da demanda) refere‑se a
sua atuação como consumidores, ou seja, como famílias. Finalmente, a ótica
da renda analisa os indivíduos em sua condição de proprietários de fatores
de produção. As transações ocorrem entre famílias e empresas e envolvem
fluxos reciprocamente determinados de bens e serviços concretos, por um
lado, e de dinheiro, por outro (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 23).

Outro ponto importante é que há dois fluxos em andamento: o fluxo real, que é o dos fatores
produtivos e de bens e serviços finais (produto), e o fluxo monetário, que é composto por salários, juros,
lucros e aluguéis (renda) e o consumo dos bens e serviços produzidos (despesa).

Portanto, o que circula é o fluxo monetário por meio da moeda, que é a única mercadoria que vai das
empresas para os trabalhadores e volta para as empresas quando estas vendem seus bens e serviços, o
que não acontece com os demais bens finais, que fazem uma única rota: das empresas para as famílias.
Quanto maior o fluxo monetário e real, maior será o crescimento econômico.

O fluxo circular da renda ampliado demonstra como empresas e famílias trocam suas necessidades
no mercado de bens e serviços e no mercado de trabalho, em que os fluxos reais medem quantidades e
os fluxos monetários medem valores, como no fluxo circular simples.
17
Unidade I

Receita Despesa
de vendas na compra
de bens e Mercado de
bens e de bens e
serviços serviços
serviços

Bens e serviços

Empresas Famílias

Remuneração Força de
do fator Mercado de trabalho
trabalho trabalho

Figura 3 – Fluxo circular da renda ampliado

As empresas produzem bens finais e bens de capitais, sendo esse segundo tipo de bens necessário
para ampliar a produção dos bens finais por meio de uma elevação da capacidade instalada. Sendo
assim, essas empresas procuram adotar novas tecnologias ou reposição do capital que se depreciou para
ofertar mais bens e serviços no longo prazo.

Em uma economia capitalista, o processo de acumulação de capital acompanha o processo de


produção devido ao fato de haver os mercados de fundos de capital, que é responsável por canalizar
os recursos da renda não consumida das famílias (poupança) para que as empresas tenham recursos
disponíveis para investir na produção via mercado de bens de investimentos ou compra de máquinas e
equipamentos.

Receita Mercado de Despesa com a compra


Mercado de de vendas de bens e serviços
bens de bens e
de bens e serviços
investimento serviços
Receita de Bens e serviços
Demanda de vendas de
máquinas e bens de
equipamentos investimentos

Mercado de
Empresas fundos de Famílias
capital
Demanda de recursos Oferta de recursos

Mercado de
Remuneração do fator trabalho trabalho Força de trabalho

Figura 4 – Fluxo circular da renda ampliado com mercado de fundos e de bens de capitais

18
Contabilidade Social

O fluxo circular da renda ampliado apresentado está contextualizado em uma economia fechada
e sem governo e que apresenta uma demanda por bens finais e bens de capital, cujo valor adicionado
gerado (renda) nesse processo de produção é dividido entre consumo e poupança para financiar apenas
as empresas, como veremos nas contas nacionais.

2.1 A macroeconomia e as contas nacionais

A partir da publicação do livro Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, de John Maynard
Keynes, em 1936, iniciou-se o processo de construção de identidades macroeconômicas e sua relação
com a teoria, sendo necessário entender como são determinadas as principais variáveis agregadas de
um país.

Lembrete

O livro a Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, de


John Maynard Keynes, publicado em 1936, ajudou no avanço da
contabilidade social, bem como na compreensão da grande depressão
dos anos 1930.

Keynes demonstrou que uma parte do consumo agregado (C) está em função da renda agregada (Y),
em que existe a propensão marginal a consumir (Pmg c ou cY) como lei psicológica fundamental, em
que Pmg c varia entre 0 e 1.

C = C + cY

Keynes também constatou que uma outra parte da Y é composta pelo investimento agregado (I),
que sofre flutuações devido às incertezas em relação ao futuro. Portanto, temos:

Y = C + cY + I

Em que temos a renda agregada (Y), o consumo agregado (C) e a poupança agregada (S), cujas
relações podemos obter:

Y=C+S

S=Y–C

A renda agregada é a soma do consumo agregado mais a poupança agregada, que, por sua vez, é
a renda agregada menos o consumo agregado. Desta forma, nos aproximamos da demanda agregada
(DA) de uma economia simples:

DA = C + I

19
Unidade I

O equilíbrio se dá quando Y = DA, então temos:

Y=C+S

DA = C + I

Ou

C+S=C+I

Ao anularmos o consumo (C) de ambos os lados da equação, temos a identidade entre poupança e
investimento:

S≡I

Isso demonstra a relação entre poupança e consumo agregados, como visto no fluxo circular da
renda ampliado.

Percebe-se que a renda agregada é determinada pelo nível de consumo e investimento agregados
em uma economia simples. Para melhor entendimento, vamos estudar as contas nacionais em três
contextos, uma economia fechada e sem governo, economia aberta e sem governo e economia aberta
e com governo.

Seguindo um formato de contas agregadas e utilizando, para cada débito, um crédito, e para cada
crédito, um débito, ou o princípio das partidas dobradas, que garante os equilíbrios interno e externo
entre todas as contas do sistema, vamos agora, por etapas, visualizar os conceitos por contas nacionais
e grau de complexidade, isto é, por agentes econômicos (famílias, empresas, governo e resto do mundo
ou setor externo) dentro de cada conjunto de contas.

2.2 Contas nacionais em uma economia fechada e sem governo

Aqui iremos supor que a economia é fechada, não havendo relações com o resto do mundo, como
exportação e importação, bem como renda enviada ou recebida do setor externo. Também iremos
considerar que não há governo e, assim, também não há tributação ou gastos públicos nas contas
nacionais.

Para iniciarmos, é necessário entender alguns conceitos básicos que compõem os créditos e débitos
em questão. O primeiro se refere à taxa de acumulação de capital ou investimento agregado, que é igual
à soma de formação bruta de capital fixo (FBKF) mais a variação de estoques (∆ Estoques):

I = FBKF + ∆ Estoques

De acordo com Paulani e Braga (2012, p. 36):

20
Contabilidade Social

O investimento costuma ser dividido em variação de estoques, que congrega


os bens cujo consumo ou absorção futuros irão se dar de uma única vez, e
a formação bruta de capital fixo, que agrega os bens que não desaparecem
depois de uma única utilização e possibilitam a produção (e, portanto,
o consumo) ao longo de um determinado período de tempo, ou seja,
possibilitam a produção de um fluxo de bens e serviços.

Já a depreciação é a parcela de reposição do capital que representa as novas máquinas e equipamentos


que irão fazer parte do processo produtivo. Este conceito é importante para chegarmos aos conceitos de
investimento líquido (IL) e produto líquido (PL):

IL = Investimento Bruto menos a depreciação

PL = Produto Bruto menos a depreciação

O quadro a seguir apresenta três contas: a de produto, a de apropriação da renda e a de capital.


Percebe-se que há uma relação entre cada conta devido à relação entre débito e crédito.

Quadro 1 – Contas nacionais em uma economia fechada e sem governo

Conta do Produto
Débito Crédito
A - produto líquido (salários, lucros, juros e aluguéis) C - consumo pessoal
B - depreciação D - variação de estoques
  E - formação bruta de capital fixo
Renda e Produto Bruto Despesa Bruta
   
Conta de apropriação da renda
Débito Crédito
C - consumo pessoal A - produto líquido (salários, lucros, juros e aluguéis)
F - poupança líquida  
Utilização da Renda Líquida Renda Líquida
   
Conta de capital
Débito Crédito
D - variação de estoques F - poupança líquida
E - formação bruta de capital fixo B - depreciação
Investimento bruto Poupança bruta

Adaptado de: Paulani e Braga (2012).

Na conta de produto ou produção das empresas, os salários, lucros, juros e aluguéis, bem como a
depreciação, são débitos. Já o consumo pessoal, a variação de estoques e a formação bruta de capital

21
Unidade I

fixo são créditos. Perceba-se que, para haver consumo (crédito), tem que haver salários, lucros, juros e
aluguéis ou renda (débito).

Já na conta de apropriação da renda pelas famílias, temos como crédito a renda gerada como produto
líquido na forma de salários, lucros, juros e aluguéis e a utilização dessa renda, no lado do débito, em
consumo pessoal e poupança líquida, já descontada a depreciação para a reposição do capital como
renda não consumida.

Na conta de capital, que é importante para sabermos a capacidade da economia em repor e ampliar a
capacidade de produção, temos como crédito a poupança líquida e a depreciação, que são fundamentais
para a formação bruta de capital fixo, isto é, investimento e reposição da produção com a variação de
estoques.

2.3 Contas nacionais em uma economia aberta e sem governo

Aqui iremos supor que a economia é aberta, ou seja, que há relações com o resto do mundo, como
exportação e importação, renda enviada ou recebida do setor externo, bem como manteremos a
consideração de que não há governo, tributação e gastos públicos nas contas nacionais.

As relações com o resto do mundo podem ser identificadas pelas seguintes variáveis:

• Exportação de bens e serviços (X).

• Importação de bens e serviços (Q).

• Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE).

• Renda Líquida Recebida do Exterior (RLRE).

A exportação de bens e serviços é uma parte da produção interna que é vendida para outros países e
representa um débito do setor externo com o país exportador. A importação de bens e serviços representa
a compra de bens e serviços do exterior e, portanto, representa um crédito do resto do mundo em
relação ao país importador. A exportação (X) e a importação (Q) são de bens e serviços e não de fatores
de produção.

A Renda Líquida Enviada do Exterior (RLEE) e a Renda Líquida Recebida do Exterior (RLRE) representam
salários, juros, lucros e aluguéis remetidos para fora ou recebidos do resto do mundo. Por exemplo, um
jogador de futebol que joga na Europa, ao enviar uma parte dos seus rendimentos para o seu país de
origem, estará gerando uma renda líquida recebida do exterior (RLRE). Já uma multinacional americana
operando no Brasil e que remete uma parte dos seus lucros para seu país de origem estará gerando uma
renda líquida enviada do exterior (RLEE).

22
Contabilidade Social

Observação

Mesmo considerando, por enquanto, as economias sem governo, é


bom lembrar que a renda é liquida devido a ser tributada em seu país
de origem.

Toda transação com o resto do mundo é computada em um Balanço de Pagamento (BP), que é
composto por duas contas principais: a Conta das Transações Correntes e a Conta Financeira e de
Capitais. Iremos, aqui, considerar apenas a conta de Transações Correntes, que é composta pelas
subcontas Balança Comercial, na qual são computadas as exportações e as importações, Balança de
Serviços, na qual são computadas as rendas líquidas enviadas e recebidas, e Transações Unilaterais, na
qual são computadas as viagens internacionais, entre outras relações unilaterais com o resto do mundo,
como doações.

Ao considerarmos uma economia aberta, temos a criação de uma nova conta, que é a do setor
externo. Do lado do crédito, há as importações e a renda enviada ao exterior. Já do lado do débito,
temos as exportações e a renda recebida do exterior. Veja que há uma rubrica como “resultado do BP
em transações correntes”, que representa o saldo entre o crédito e o débito dessa conta. Por exemplo,
se a exportação for maior que a importação, o saldo é positivo, o que significa superávit externo.
Referente a essa rubrica ou resultado, Paulani e Braga (2012, p. 47) afirmam:

[...] pode ficar de fato em qualquer dos lados da conta do setor externo desde
que seu sinal esteja correto, garantindo-se o equilíbrio interno da conta.
Ficando onde está, ou seja, do lado esquerdo, ele deverá ter sinal positivo se
o país em questão teve um déficit em transações correntes e sinal negativo
se o país teve superávit. Isso ocorre porque como esta conta está construída
do ponto de vista do resto do mundo, um resultado negativo em transações
correntes dessa economia significa, para o resto do mundo, um superávit, o
inverso ocorrendo se se tratar de um resultado positivo.

A conta de produção passa a ter como complementos as rubricas de exportação do lado do crédito,
ou seja, pela ótica de dentro para fora, a exportação significa vendas no setor externo, portanto, valores
a receber do setor externo. Do lado do débito, teremos as importações ou valores a pagar, o saldo das
rendas líquidas enviadas e recebidas, o produto líquido e a depreciação.

Na conta de capital, do lado do débito, permanecem as duas rubricas anteriores. Em uma


economia aberta, o que muda é do lado do crédito, com a inserção do resultado do BP em transações
correntes somados com a poupança líquida e a depreciação. Isso se deve ao resultado do BP em
representar a possiblidade de poupança externa, o que poderá elevar a capacidade de investimento
da economia interna.

23
Unidade I

Quadro 2 – Contas nacionais em uma economia aberta e sem governo

Conta do setor externo


Débito Crédito
G - exportações de bens e serviços não fatores I - importações de bens e serviços não fatores
H - renda recebida do exterior J - renda enviada ao exterior
K - resultado do BP em transações correntes  
Total do débito Total do crédito
   
Conta de produção
Débito Crédito
I - importações de bens e serviços não fatores G - exportações de bens e serviços não fatores
J (-) H - renda líquida enviada (+) ou recebida (-) C - consumo pessoal
A - produto líquido (salários, lucros, juros e aluguéis) D - variação de estoques
B - depreciação E - formação bruta de capital fixo
Oferta de bens e serviços Demanda por bens e serviços
   
Conta de capital
Débito Crédito
D - variação de estoques F - poupança líquida
E - formação bruta de capital fixo B - depreciação
  K - resultado do BP em transações correntes
Investimento bruto total Poupança bruta total

Adaptado de: Paulani e Braga (2012).

2.4 Contas nacionais em uma economia aberta e com governo

Daremos início ao sistema de contas nacionais que passam a ter o agente econômico denominado
governo, portanto, temos a conta do governo, que apresenta, do lado do crédito, as receitas públicas
e, do lado do débito, as despesas públicas. Quando a receita pública é maior que a despesa, o resultado
positivo tem como consequência o superávit fiscal ou a poupança pública. Já quando temos uma despesa
pública superior à receita, denominamos déficit fiscal, que irá compor a dívida pública.

Por meio dos impostos diretos, indiretos e outras receitas correntes líquidas, o governo sustenta seus
gastos com folha de pagamento do funcionalismo público, bem como o pagamento de bens e serviços
que demanda do setor privado, denominado consumo do governo.

Os impostos são classificados em diretos e indiretos. Os impostos diretos oneram a renda, Imposto
de Renda (IR), ou a propriedade, Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU), bem como o
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotivos (IPVA). Esse tipo de imposto é considerado como
progressivo, pois acompanha o valor da renda ou da propriedade, isto é, quanto maior o valor, maior
será a alíquota do imposto.

24
Contabilidade Social

Os impostos indiretos são pagos ao incidirem sobre o preço das mercadorias, como o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Esse tipo
de imposto é considerado regressivo, pois não acompanha o valor da renda dos consumidores, ou seja,
paga mais ICMS e IPI quem ganha menos, devido à alíquota de imposto ser a mesma para todas as faixas
de renda dos consumidores.

As transferências do governo podem ser denominadas em pensões, aposentadorias, programa de


renda mínima, programa bolsa família, auxílio doença, entre outros, e representa uma devolução que o
governo faz à sociedade dos impostos cobrados sem nenhuma contrapartida.

Já os subsídios são considerados como imposto negativo, isto é, ao invés de arrecadar por meio de
impostos, o governo abre mão do imposto. Um exemplo recente foi a ação do governo federal brasileiro
no ano de 2009 de reduzir as alíquotas de impostos sobre carros e sobre toda a linha branca, como
geladeiras e fogões, permitindo aos setores produtores desses bens duráveis reduzirem preços devido à
queda dos impostos.

Percebe-se que o governo tem um papel relevante no sistema econômico, principalmente na forma
de registro dos agregados que compõem o sistema das contas nacionais. Por meio dos impostos indiretos
e subsídios, o governo altera o sistema de preços de uma economia. É por esse motivo que temos os
conceitos de PIB a preços de mercado e PIB a custo de fatores.

O PIB a preços de mercado é aquele que considera os impostos indiretos menos os subsídios e o PIB
a custo de fatores é aquele que não considera os impostos indiretos e os subsídios. O valor divulgado
anualmente é o PIB a preços de mercado, isto é, o que conta com a participação do governo no sistema
de preços do sistema econômico.

Observação

PIB preço de mercado = PIB custo de fatores + impostos indiretos -


subsídios

PIB custo de fatores = PIB preço de mercado - impostos indiretos +


subsídios

Com a entrada da conta do governo e a descrição de cada rubrica, podemos analisar as outras contas
e ver como o governo participa de cada uma delas. Na conta de produção, temos o consumo do governo
do lado do crédito, devido à compra de bens e serviços do setor privado, e do lado do débito, temos os
impostos indiretos líquidos de subsídios.

[...] como a conta de produto tem que registrar o PIB a preço de mercado,
é preciso lançar no lado do débito o valor dos impostos indiretos líquidos
de subsídios. Em contrapartida, temos agora também que lançar do lado do
crédito o consumo do governo (rubrica L), compensando assim o lançamento a
25
Unidade I

débito do governo. De fato, além de coletar tributos, o governo surge também


como um agente adicional de demanda, além daquelas que já existiam, quais
sejam, consumo pessoal, investimentos (formação bruta de capital fixo mais
variação de estoques) e exportações (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 55).

A próxima conta é a de apropriação da renda, que apresenta a renda nacional a custo de fatores. Do
lado do crédito temos o produto líquido ou a renda dos fatores de produção e do lado do débito, temos
as despesas, como consumo pessoal, impostos diretos já líquidos das transferências e outras receitas
correntes líquidas do governo, como taxas e contribuições, e, por fim, a renda não gasta em consumo,
representada pela poupança líquida.

Para finalizar, na conta de capital, temos do lado do crédito o saldo do governo em conta corrente
devido ao fato de que o governo também pode gerar poupança pública, que poderá ser utilizada na
formação bruta de capital fixo ou investimentos do lado do débito. Dessa forma, há o equilíbrio interno
e externo das contas, em que, ao deduzirmos cada lado, isto é, créditos e débitos de todas as contas, o
resultado será zero.

Quadro 3 – Contas nacionais em uma economia aberta e com governo

Conta do governo
Débito Crédito
L - consumo do governo P - impostos diretos
M - transferências O - impostos indiretos
N - subsídios R - outras receitas correntes líquidas
O - saldo do governo em conta corrente  
Utilização da receita Total da receita
   
Conta de produção
Débito Crédito
I - importações de bens e serviços não fatores G - exportações de bens e serviços não fatores
J (-) H - renda líquida enviada (+) ou recebida (-) C - consumo pessoal
A - produto líquido (salários, lucros, juros e aluguéis) L - consumo do governo
B - depreciação D - variação de estoques
Q (-) N - impostos indiretos líquidos de subsídios E - formação bruta de capital fixo
Oferta de bens e serviços Demanda por bens e serviços
   
Conta de apropriação da renda
Débito Crédito
C - consumo pessoal A - produto líquido (salários, lucros, juros e aluguéis)
P (-) M - impostos diretos líquidos de transferências  
R - outras receitas correntes líquidas  
F - poupança líquida  
Utilização da Renda Líquida Renda Líquida

26
Contabilidade Social

Conta do setor externo


Débito Crédito
G - exportações de bens e serviços não fatores I - importações de bens e serviços não fatores
H - renda recebida do exterior J - renda enviada ao exterior
K - resultado do BP em transações correntes  
Total do débito Total do crédito
   
Conta de capital
Débito Crédito
D - variação de estoques F - poupança líquida
E - formação bruta de capital fixo B - depreciação
  K - resultado do BP em transações correntes
  O - saldo do governo em conta corrente
Investimento bruto total Poupança bruta total

Adaptado de: Paulani e Braga (2012).

2.4.1 O sistema de contas nacionais e as identidades contábeis em uma economia


aberta e com governo

Após apresentarmos as contas nacionais em uma economia aberta e com governo, podemos
completar os conceitos por meio das identidades contábeis sobre produto e renda. Anteriormente,
apresentamos renda agregada determinada apenas pelo nível de consumo e investimento agregados
em uma economia simples.

As contas nacionais em uma economia aberta e com governo passam a ter relações com o resto
do mundo, como exportação e importação, bem como renda enviada ou recebida do setor externo, e a
participação do governo por meio da tributação e dos gastos públicos nas contas nacionais.

Como já apresentamos as variáveis do setor externo, vamos entender a dinâmica econômica com a
entrada do governo e sua participação na economia e assim completar as variáveis que determinam o
Produto Interno Bruto (PIB).

A entrada da conta governo revela que esse agente econômico gera uma receita pública que é
composta principalmente por impostos diretos e indiretos, dando condições de executar os gastos
públicos em bens e serviços, entre outros.

Observação

Bens públicos são aqueles que não podem ser providos pelo mecanismo
de mercado, como justiça, segurança pública nacional, entre outros. Duas
características são inerentes a esse tipo de bem, a da não exclusão e da não
rivalidade ou indivisibilidade.
27
Unidade I

Constatamos que a renda agregada (Y) é composta por consumo (C) e poupança (S) agregados e a
despesa agregada é composta por consumo (C) e investimento (I) agregados. Temos:

Y=C+S

DA = C + I

Com a entrada do governo, temos um complemento. Teremos agora, de ambos os lados, as variáveis
de arrecadação do governo ou tributação (T) e gastos do governo ou gastos públicos (G):

Y=C+S+T

DA = C + I + G

A renda agregada passa a ser representada por consumo, poupança ou renda não consumida e
tributação ou parte da renda gerada e transferida para o governo por meio de impostos, contribuições
e taxas.

Desta vez, se igualarmos Y = DA, temos:

C+S+T=C+I+G

Ao cortar o consumo (C) de ambos os lados e invertendo os termos, teremos:

S+T=I+G

S–I=G-T

As equações demonstram, do lado esquerdo, a possibilidade de poupança privada, se a poupança for


maior que o investimento (S > I), e, do lado direito, a possiblidade de poupança pública, se os gastos do
governo forem menores que a arrecadação pública (G < T).

Sempre que houver um déficit público, isto é, quando o governo gastar mais do que arrecadou (G >
T), deverá ocorrer um excesso de poupança privada para financiar os gastos excessivos do governo, ou
seja, S > I.

Como já comentado, o governo altera os preços devido a impostos indiretos e subsídios. Sendo
assim, temos o produto a preço de mercado e o produto a custo de fatores, que podem ser apresentados
da seguinte forma:

Produto a preço de mercado = Produto a custo de fatores

+ Impostos indiretos – subsídios

28
Contabilidade Social

Produto a custo de fatores = Produto a preço de mercado

- Impostos indiretos + subsídios

Agora iremos ampliar a renda e a despesa agregadas com as variáveis do resto do mundo, ou setor
externo, como já descrito:

• Exportação de bens e serviços (X);

• Importação de bens e serviços (Q);

• Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE);

• Renda Líquida Recebida do Exterior (RLRE).

A partir daqui, iremos apresentar os conceitos de oferta e de despesa interna e global, da seguinte
forma:

Y=C+I+G+X–Q

Em que a renda agregada representa o produto interno bruto ou a oferta interna (Y) e do outro lado
da equação temos todas as despesas internas, inclusive os gastos com importação.

Y+Q=C+I+G+X

Já nessa segunda equação, temos a renda agregada (Y) somada à importação (Q), que representam
a oferta global, isto é, a oferta de bens e serviços produzidos internamente e fora do país, e do outro
lado da equação temos todas as despesas globais, inclusive os gastos do resto do mundo com nossas
exportações.

Por meio da apresentação desses conceitos, temos:

• Ótica da utilização da renda que apresenta como os agentes econômicos consomem, poupam e
pagam impostos:

Y=C+S+T

• Ótica da distribuição das despesas que apresenta como os agentes econômicos consomem e
investem em produção do lado privado, consomem e investem em produção do lado público,
gastam em exportação e importação:

Y=C+I+G+X–Q

29
Unidade I

Ao igualarmos as duas últimas equações apresentadas, temos:

C+S+T=C+I+G+X–Q

Cortando a variável de consumo (C) de ambos os lados e invertendo a importação do lado direito
para o lado esquerdo, temos:

S+T+Q=I+G+X

Rearranjando os termos:

(T - G) + (S – I) = (X – Q)

Ou

(X – Q) = (T - G) + (S – I)

As duas últimas equações demostram o que chamamos de poupança global, isto é, a poupança
interna privada (S - I), a poupança interna pública (T - G ou G - T) e a poupança externa (X – Q).

No caso de (X – Q) > 0, temos o que se chama de superávit comercial, ou seja, quando as exportações
(X) são maiores que as importações (Q), esse resultado indicará um superávit externo, também, ou no
setor privado (S – I) > 0 ou no governo (T – G) > 0, ou em ambos.

Até agora falamos somente do Produto Interno Bruto (PIB), que trata apenas da produção e
despesas dos agentes residentes internos, mas também há o Produto Nacional Bruto (PNB), que trata
da produção e despesas dos agentes residentes e não residentes de um país e pode ser apresentado
da seguinte forma:

PNB = PIB – RLEE + RLRE

PIB = PNB + RLEE – RLRE

Esses dois conceitos são importantes e devemos sempre tomar cuidado ao utilizar o PIB e o PNB
quando estamos fazendo comparações internacionais devido ao fato de que alguns países apresentam
um PNB maior que o PIB, como é o caso dos EUA, e em outros, o PIB é maior que o PNB, como é o caso
do Brasil.

Observação

O Brasil tem um PIB > PNB e os EUA tem um PIB < PNB.

30
Contabilidade Social

Percebe-se que a diferença entre PIB e PNB é devido às rendas líquidas recebidas e enviadas
de um país para o outro, pois representam um fluxo de renda de juros, lucros, salários e aluguéis
entre agentes residentes e não residentes, isto é, brasileiros que moram no exterior e estrangeiros
que moram no Brasil.

Lembrete

Como já visto, quando um jogador de futebol vai morar na Europa,


ele deverá enviar uma parte do seu salário para o Brasil para custear suas
despesas familiares, entre outras. Essa renda é considerada como renda
líquida recebida do exterior (RLRE). Ela é liquida devido a ser toda tributada
no país de origem e representa a renda de fatores de produção de brasileiros
não residentes.

Já quando temos uma empresa multinacional chinesa produzindo no


Brasil, e essa mesma empresa gera lucros e remete parte ou todo lucro
para seu país de origem, a China, consideramos essa renda como renda
líquida enviada ao exterior (RLEE), que é resultado da produção de fatores
de produção de estrangeiros residentes.

Na comparação entre Brasil e EUA, há muito mais fatores de produção norte-americanos não
residentes, principalmente multinacionais, que remetem RLEE para os EUA do que fatores não residentes
brasileiros, por esse motivo o PNB norte-americano acaba sendo maior do que seu PIB.

Ao entendermos esses conceitos, passamos ao conceito de Renda Nacional (RN), que é igual ao
Produto Nacional Líquido a custo de fatores (PNLcf), e de Renda Pessoal (RP), que é igual à Renda
Nacional menos os lucros retidos pelas empresas, menos os impostos diretos sobre as empresas, menos
outras receitas do governo, como previdência, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), mais
transferências do governo, como aposentadorias, pensões, seguro desemprego, entre outros.

RN = PNLcf

RP = RN − lucros retidos pelas empresas


− impostos diretos sobre as empresas − outras receitas do governo
+ transferências do governo

E, por último, a Renda Pessoal Disponível (RPD), que é igual à Renda Pessoal menos os impostos
diretos sobre as famílias:

RPD = RP − Impostos Diretos sobre as famílias

Outro ponto importante é que quando apresentamos os valores do produto e renda não podemos
esquecer que eles são resultado da média de preços multiplicada pela quantidade de todos os bens e
31
Unidade I

serviços produzidos no período de um ano. Portanto, se houver um aumento contínuo e generalizado do


nível de preços, isto é, ocorrer uma inflação, não se pode considerar isso como um aumento da produção
ou da quantidade produzida de bens e serviços, mas somente como um aumento do nível de preços,
leia-se: inflação.

Para que possamos anular esse efeito da inflação sobre o desempenho da produção, que é medida
pelo PIB, temos que trabalhar com os conceitos de Produto Nominal e Produto Real.

O Produto Nominal é a somatória de tudo que foi produzido (Q) no período de um ano, por exemplo,
o ano de 2014, multiplicado pelo nível médio de preços do mesmo ano corrente, ou seja, do mesmo ano
de 2014. Já o Produto Real é a somatória de tudo que foi produzido (Q) no período de um ano, entretanto,
essa somatória é multiplicada pelo nível médio de preços do ano anterior. No caso do exemplo, do ano
de 2013, como apresentado a seguir:

Produto Nominal = ∑P2014 x Q2014

Produto Real = ∑P2013 x Q2014

Dessa forma, anulamos o efeito dos preços na contabilidade nacional e podemos chegar ao resultado
de crescimento real do PIB, se ele cresceu por meio de uma maior quantidade de bens e serviços
produzidos (Q) e não devido ao impacto da elevação do nível de preços.

Por fim, temos o conceito de deflator implícito do PIB, que é a variação média dos preços do período
em relação à média dos preços do período anterior e pode ser apresentado da seguinte forma:

Deflator = Produto Nominal = ∑P2014 x Q2014


Produto Real = ∑P2013 x Q2014

Com o deflator, podemos calcular o PIB real dividindo o PIB nominal pelo deflator e multiplicando por 100:

PIB real = PIB nominal x 100


Deflator

Veremos mais adiante a importância do deflator em corrigir a distorção que o aumento de preços
causa aos preços relativos da economia como um todo, bem como na mensuração das contas nacionais,
que têm o objetivo de apurar o crescimento econômico real do PIB.

2.5 O sistema de contas nacionais no Brasil

O sistema de contas nacionais é um sistema de contabilidade nacional que evolui no tempo e sofre
modificações com as normas internacionais e nacionais. No Brasil isso não é diferente. O quadro a seguir
apresenta as quatro principais contas nacionais:
32
Contabilidade Social

• Conta Produto Interno Bruto (PIB).

• Conta Renda Nacional Disponível Bruta (RDB).

• Conta Transações Correntes com o Resto do Mundo.

• Conta de Capital.

A primeira conta irá apresentar, do lado do crédito, o PIB pela ótica da despesa e, do lado do débito,
o PIB pela ótica da renda, em que o excedente operacional bruto representa juros, lucros e aluguéis.

A segunda conta apresenta do lado do crédito toda a renda gerada ou a renda nacional,
isto é, já líquida, da renda enviada e recebida do exterior. A terceira apresenta todos os fluxos
realizados com o setor externo, e, por fim, a quarta conta apresenta a capacidade de investimento
da economia, isto é, a poupança bruta necessária para o financiamento da produção ou formação
bruta de capital fixo.

Quadro 4 – Sistema de Contas Nacionais no Brasil

Conta Produto Interno Bruto (PIB)


Débito Crédito
1.1 – Produto Interno Bruto a custo de fatores 1.4 – Consumo final das famílias
1.1.1 – Remuneração dos empregados 1.5 – Consumo final das Administrações Públicas
1.1.2 – Excedente Operacional Bruto 1.6 – Formação Bruta de Capital Fixo
1.2 – Tributos indiretos 1.7 – Variação de estoques
1.3 - (menos) Subsídios 1.8 – Exportação de bens e serviços não fatores
  1.9 – (menos) Importações de bens e serviços não fatores
Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIB pm) Dispêndio correspondente ao Produto Interno Bruto
   
Conta Renda Nacional Disponível Bruta (RDB)
Débito Crédito
1.4 – Consumo final das famílias 1.1 – Produto Interno Bruto a custo de fatores
1.5 – Consumo final das Administrações Públicas 1.1.1 – Remuneração dos empregados
4.3 – Poupança Bruta 1.1.2 – Excedente Operacional Bruto
3.2 (-) 3.6 – Remuneração de empregados líquida recebida
  do resto do mundo
3.3 (-) 3.7 – Outros rendimentos líquidos recebidos do resto
  do mundo
3.4 (-) 3.8 – Transferências unilaterais líquidas recebidos do
  resto do mundo
  1.2 – Tributos indiretos
  1.3 - (menos) Subsídios
Utilização da Renda Nacional Disponível Bruta (RDB) Apropriação da Renda Nacional Disponível Bruta (RDB)

33
Unidade I

Conta Transações Correntes com o Resto do Mundo


Débito Crédito
1.8 – Exportações de bens e serviços não fatores 1.9 – Importações de bens e serviços não fatores

2.5 (+) 3.6 – Remuneração de empregados recebida do 3.2 (-) 2.5 – Remuneração de empregados paga ao resto do
resto do mundo mundo

2.6 (+) 3.7 – Outros rendimentos recebidos do resto do 3.3 (-) 2.6 – Outros rendimentos pagos ao resto do mundo
mundo

2.7 (+) 3.8 – Transferências unilaterais recebidas do resto 3.4 (-) 2.7 – Transferências unilaterais pagas ao resto do
do mundo mundo

  4.4 – Saldo das transações correntes com o resto do mundo


Recebimentos Correntes Utilização dos Recebimentos Correntes
   
Conta de Capital
Débito Crédito
1.6 – Formação bruta de capital fixo 2.3 – Poupança Bruta
3.9 - (menos) Saldo das transações correntes com o resto
1.6.1 – Construção do mundo
Administrações públicas  
Empresas e famílias  
1.6.2 – Máquinas e equipamentos  
Administrações públicas  
Empresas e famílias  
1.6.3 – Outros  
1.7 – Variação de estoques  
Total da Formação Bruta de Capital Financiamento da Formação Bruta de Capital

Adaptado de: Paulani e Braga (2012).

A partir do quadro podemos visualizar a composição do Produto Interno Bruto a preços de mercado
(PIBpm) e todas as despesas correspondentes a sua produção. Podemos visualizar, também, a utilização
e a apropriação da Renda Nacional Disponível Bruta (RDB), as transações correntes com o resto do
mundo ou setor externo e a capacidade de investimento da economia por meio do total da formação
bruta de capital e da sua capacidade de financiamento.

O quadro a seguir, considerada a quinta conta ou conta complementar, trata da conta corrente das
administrações públicas (governo) e apresenta as rubricas de receitas correntes do governo e as rubricas
de utilização dessa receita corrente, isto é, as despesas do governo.

34
Contabilidade Social

Quadro 5 – Conta Complementar

Conta Corrente das Administrações Públicas


Débito Crédito
Consumo final das administrações públicas Tributos indiretos
Salários e encargos Tributos diretos
Outras compras de bens e serviços Outras receitas correntes líquidas
Subsídios Outras receitas correntes brutas
Transferências de assistência e previdência (-) Outras despesas de transferência
Juros da dívida pública interna Transferências intragovernamentais
Poupança em conta corrente Transferências intergovernamentais
  Transferências ao setor privado
  Transferências ao exterior
Utilização da Receita Corrente Total da Receita Corrente

Fonte: Paulani e Braga (2012, p. 64).

Percebe-se que todo lado do débito ou despesas públicas, como salários e encargos, compra de bens
e serviços e outras despesas, tem como contrapartida o lado do crédito ou receitas do governo por meio
dos tributos e outras receitas que são oneradas por transferências para outras esferas públicas, setor
privado e resto do mundo.

3 AS CONTAS NACIONAIS NO BRASIL

A metodologia sobre a mensuração e a valoração de tudo que é produzido e consumido em um país


em dado período de tempo, isto é, um ano, cuja estrutura é conhecida como contas nacionais, segue
os princípios contábeis e as diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU), do Fundo Monetário
Internacional (FMI), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Banco
Mundial. No Brasil, a contabilidade social é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que segue essas mesmas diretrizes, fazendo as adaptações necessárias às especificidades da
economia brasileira.

A metodologia das contas nacionais tem evoluído no tempo com objetivo de se manter: atualizada,
ao acompanhar a sofisticação dos mercados financeiros e as complexidades econômicas; flexível, ao
possibilitar a adaptação de economias de diferentes níveis político, econômico e social; e harmônica, ao
ser compatível com outras estatísticas internacionais.

Com base nas publicações, nas notas metodológicas e última referência de atualização do IBGE,
iremos descrever a evolução do Sistema de Contas Nacionais brasileiro, bem como apresentar os
principais instrumentos e seus dados agregados, procurando sempre demonstrar os valores das
contas reais da economia brasileira como forma de sabermos as dimensões da realidade nacional.

35
Unidade I

3.1 Sistema de Contas Nacionais ou System of National Accounts (SNA)

Recentemente, o IBGE apresentou novos resultados do Sistema de Contas Nacionais, com referência
ao ano de 2010, seguindo as recomendações internacionais.

Essas mudanças das séries de dados do Sistema de Contas Nacionais ocorrem anualmente desde
a atualização do Sistema de Contas Nacionais do Brasil, publicada em 1997, com a adoção das
recomendações internacionais, com base no manual System of National Accounts (SNA) 1993.

A metodologia recente segue a revisão de conceitos apresentada no novo manual System of National
Accounts 2008. As séries estatísticas seguem a recomendação de manutenção dos valores a preços
constantes, isto é, a preços do ano anterior, para anular o efeito da inflação.

Cada país faz suas mudanças particulares devido à flexibilidade intrínseca à metodologia do
SNA em vigor em um ano de referência. No Brasil, as revisões da série do Sistema de Contas
Nacionais foram:

• Cálculo do ano de referência e a atualização dos anos anteriores com a introdução das alterações
realizadas. Esse processo é chamado de retropolação ou retorno à origem, isto é, faz o valor
nominal regredir ao valor do ano anterior resultando em uma nova série estatística atualizada e
coerente no período determinado.

• Segue-se a recomendação internacional para a determinação do ano-base ou ano de


referência para verificar as variações de volume e preço. O ano-base para as variações é o
ano anterior, por este motivo a série é considerada como base móvel, isto é, se move para o
ano anterior.

• Encadeamentos de séries apenas nas Contas Nacionais Trimestrais. Uma série encadeada é feita a
partir de um ano estabelecido como base, não sendo necessário coincidir com o ano de referência.
Esse método possibilita a criação de índices para avaliar a evolução de uma série com base fixa em
um ano. Essa tarefa permite produzir uma série de números índices com base 100 no ano-base e
valores a preços do ano-base, chamados série de valores encadeados.

Lembrete
A metodologia das contas nacionais tem que ser atualizada, flexível e
harmônica.

As Contas Nacionais, com a referência 2010, permitem uma nova classificação das atividades
econômicas e dos produtos produzidos, e, com isso, a inserção de novas fontes de dados, novos
conceitos e métodos, além de outros resultados de pesquisas específicas que podem ser realizadas,
como a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), o Censo Agropecuário, entre outros estudos
realizados pelo IBGE.

36
Contabilidade Social

Uma das regras adotadas em um Sistema de Contas Nacionais é que


mudanças profundas nas séries sejam feitas em períodos determinados,
de forma a se evitar que os anos da série percam comparabilidade.

A dinâmica da economia exige que se mantenha uma permanente


discussão, em fóruns específicos, entre os diversos Institutos de
Estatística e Bancos Centrais compiladores de Contas Nacionais, em
conjunto com organismos internacionais, com vistas a atualizar ou
expandir as metodologias de tal forma que reflitam as modificações
ocorridas na economia e na sociedade. A partir dessas discussões,
originam-se as revisões conceituais e metodológicas internacionais que
devem ser adotadas oportunamente nos Sistemas de Contas Nacionais
dos países. O SNA 2008 apresentou, por exemplo, novos instrumentos
financeiros, mudanças no tratamento dos fundos de pensão e uma nova
classificação para os ativos que constituem a formação bruta de capital
fixo (IBGE, 2015d, p. 11).

Não é fácil a construção do ano de referência de um Sistema de Contas Nacionais, pois


existem dados que são impossíveis de estimar todos os anos devido à escassez de tempo para o
levantamento, divulgação e acompanhamento dos dados no Sistema. Portanto, criam-se índices
e parâmetros para acompanhar a dinâmica do consumo das famílias, do consumo intermediário,
entre outros.

Observação
Toda a exigência da realização de trabalho adicional para
atualização de conceitos e metodologia gera um período de transição
entre séries estatísticas, o que faz a divulgação da série mais detalhada
ser suspensa.

As estimativas mais agregadas são mantidas com base na metodologia em vigor. O IBGE interrompeu,
em 2009, a divulgação da série do Sistema de Contas Nacionais com referência do ano de 2000 ao
não publicar as Tabelas de Recursos e Usos (TRU) e as Contas Econômicas Integradas (CEI) dos anos
posteriores. Por esse motivo, às vezes pesquisamos uma série de dados estatísticos no site do IBGE e
percebemos que ela não está atualizada.

Para o período de 2010 a 2013, por exemplo, estavam disponíveis apenas os dados das Contas
Nacionais Trimestrais. Com a implantação do Sistema de Contas Nacionais com a referência 2010
teremos os dados anuais, evitando esse tipo de problema para os pesquisadores.

Como a própria metodologia internacional propõe, há a necessidade de revisões periódicas das


séries estatísticas do Sistema de Contas Nacionais. No manual internacional System of National
Accounts 2008 houve a revisão da classificação nacional de atividades econômicas (CNAE), que

37
Unidade I

revelou novos dados para a economia brasileira e exigiu a atualização da série do Sistema de
Contas Nacionais do Brasil, fazendo com que, no ano de 2011, houvesse a revisão nos seguintes
pontos:

• Nova classificação de produtos e atividades no Sistema de Contas Nacionais e integração com o


código nacional de atividades econômicas (CNAE) atualizado.

• Inserção dos resultados do Censo Agropecuário 2006, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
2008-2009 e do Censo Demográfico 2010.

• Atualização da fonte ou matriz de consumo intermediário com dados das seguintes atividades
econômicas: extrativa mineral, indústria de transformação, construção civil e serviços da Pesquisa
de Consumo Intermediário (PCI) 2010.

• Atualização das margens de comércio e de transporte com base em pesquisas específicas e na


Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2010.

• Atualização das estruturas de impostos com base na revisão das alíquotas e nas novas estruturas
de consumo.

• Utilização dos dados da Receita Federal, isto é, da declaração do Imposto de Renda de Pessoa Física
como referência para parte dos resultados do setor institucional Famílias nas Contas Econômicas
Integradas (CEI).

O SNA 2008 introduziu modificações conceituais que impactaram nos agregados econômicos,
inclusive no Produto Interno Bruno (PIB), sendo o caso da nova classificação dos ativos não financeiros
que ampliam a formação bruta de capital fixo, por exemplo, os gastos em softwares e em pesquisa e
desenvolvimento (P&D), que passaram a ser tratados como formação bruta de capital fixo e não mais
como consumo intermediário.

Há também no SNA 2008 especificações sobre como tratar as atividades do governo e do setor
público ao consolidar conceitos que se relacionam com as atividades de governo e estabelecer a ligação
com outros sistemas estatísticos, seguindo o manual Government Finance Statistics do ano de 2001,
publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

A análise do setor público é importante devido a estar relacionado aos seus objetivos de política
econômica e industrial, por meio de empresas, financeiras e não financeiras, sob seu controle, em que
tais objetivos alteram as receitas e despesas públicas, bem como o Produto Interno Bruto.

38
Contabilidade Social

Saiba mais

Veja também as pesquisas anuais:

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa(s):


Pesquisa Anual da Indústria da Construção. Rio de Janeiro: [s.d.]. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.
php?id_pesquisa=27>. Acesso em: 13 jul. 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa(s):


Pesquisa Anual de Comércio. Rio de Janeiro: [s.d.]. Disponível em: <http://
www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_
pesquisa=28>. Acesso em: 13 jul. 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa(s):


Pesquisa Anual de Serviços. Rio de Janeiro: [s.d.]. Disponível em: <http://
www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_
pesquisa=29>. Acesso em: 13 jul. 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa


industrial anual: 1986/1995. Rio de Janeiro: [s.d.]. Disponível em: <http://www.
ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pia/>. Acesso em: 13 jul. 2015.

Dito um pouco sobre a evolução recente do Sistema de Contas Nacionais com base nas
normas e diretrizes internacionais e do IBGE, os instrumentos de mensuração dos agregados
econômicos passam a ser nosso objeto de estudo daqui para frente, como a Tabela de Recursos
e Usos (TRU) e as Contas Econômicas Integradas (CEI), que apresentam os resultados e
permitem a análise do desempenho da economia por setores institucionais e têm relação com
as informações da TRU.

É o IBGE que apresenta os resultados das Tabelas de Recursos e Usos (TRU). Recentemente,
por exemplo, o instituto divulgou as TRU a preços correntes de 2010 e a preços constantes do
ano anterior e correntes de 2011. As Contas Econômicas Integradas (CEI) para os cinco setores
institucionais (empresas financeiras, empresas não financeiras, governo geral, famílias e instituições
sem fins de lucro a serviço das famílias), em valores correntes para o biênio 2010-2011, também
foram divulgadas.

39
Unidade I

Saiba mais
No site do IBGE, também há a disponibilização da TRU para 68 atividades
e 128 produtos, bem como as tabelas sinóticas ou complementares por
seções (20 atividades) da classificação nacional de atividades econômicas
(CNAE), além das Contas Econômicas Integradas (CEI) com maior nível de
desagregação:

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Contas


nacionais: Brasil 2010-2011: referência 2010: tabelas completas. Rio de Janeiro:
[s.d.]. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/
contasnacionais/2011/defaulttab_xls.shtm>. Acesso em: 13 jul. 2015.

As informações apresentadas nas TRU mostram os fluxos de oferta e demanda


dos bens e serviços e, também, a geração da renda no processo produtivo e
do emprego em cada atividade econômica. Os dados que compõem as CEI
oferecem uma visão de conjunto da economia, por setor institucional, e
descrevem seus fenômenos essenciais: produção, consumo e acumulação.
Fornecem, ainda, uma representação compreensível e simplificada, porém
completa, deste conjunto de fenômenos e das suas inter-relações (IBGE,
2015d, p. 14).

As contas econômicas integradas seguem uma sequência de contas de fluxos inter-relacionadas e


articuladas com as contas de patrimônio (estoques), além de demonstrar as relações entre a economia
nacional e o setor externo. Elas são apresentadas em três grandes subconjuntos:

• Contas correntes (produção, distribuição e uso da renda).


• Contas de acumulação (capital e financeira).
• Contas de patrimônio (ativos e passivos de abertura e fechamento).

As TRU e as CEI são instrumentos essenciais e é a partir delas que o IBGE apresenta os resultados das
contas correntes, de capital e de patrimônio financeiro por meio de tabelas sinóticas ou complementares
elaboradas pelo próprio instituto para melhor análise dos dados apresentados. São 15 tabelas sinóticas
que contêm os principais agregados anuais para a economia brasileira no período em questão.

Os resultados das tabelas complementares permitem, ao leitor, identificar


as principais grandezas macroeconômicas calculadas no Sistema de
Contas Nacionais do Brasil. A partir delas, pode-se, para cada ano, obter
as informações agregadas para o conjunto da economia nacional sobre
a magnitude do PIB; a composição da oferta e da demanda agregada; a

40
Contabilidade Social

geração, distribuição e uso da renda nacional; a acumulação de capital;


a capacidade ou necessidade de financiamento; as transações correntes
com o resto do mundo; a composição do PIB, segundo as três óticas
(produção, despesa e renda); a população, emprego e renda per capita,
entre outras informações sobre os agregados macroeconômicos (IBGE,
2015d, p. 14-15).

A seguir, vamos apresentar a estrutura conceitual das TRU e de suas contas das Atividades Econômicas,
bem como das Contas Econômicas Integradas (CEI) e de suas contas por setores institucionais.

Veremos nas TRU os recursos (produção, importação, impostos e subsídios a produtos), à esquerda, e
os usos (consumo intermediário, despesa de consumo final, formação bruta de capital fixo, variação de
estoques e exportação), à direita da tabela.

As TRU são fundamentais ao Sistema de Contas Nacionais ao demonstrar como o total da oferta de
bens e serviços foi alocado em um determinado uso, como também ver a composição do PIB por duas
das três óticas:

• Ótica da produção: PIB = Valor bruto da produção – consumo intermediário + impostos – subsídios
sobre produtos

• Ótica da despesa: PIB = Consumo final + formação bruta de capital fixo + variação de estoques +
exportações – importações

A terceira ótica é a da renda, que é a soma dos valores adicionados, isto é, a soma de todos os
salários, juros, lucros e aluguéis de um determinado período, e pode ser analisada no quadrante C das
TRU, como veremos em sua estrutura.

3.2 As Tabelas de Recursos e Usos (TRU)

As TRU são constituídas por seis matrizes:

• A – Oferta

• A1 – Produção

• A2 – Importação

• B1 – Consumo intermediário (insumos)

• B2 – Despesa final

• C – Componentes do valor adicionado

41
Unidade I

Em que teremos:

A = A1 + A2

A = B1 + B2

C = A1 – B1

Em sua estrutura, apresentam as tabelas de recursos de bens e serviços, composta por três quadrantes,
e de usos de bens e serviços, subdivididos em quatro quadrantes, conforme mostra a figura a seguir:
I - Tabela de recursos de bens e serviços

Oferta Produção Importação

A = A1 + A2
II - Tabela de usos de bens e serviços

Oferta Consumo intermediário Demanda final

A = B1 + B2
Componentes do valor adicionado

C
Figura 5 – Modelo das Tabelas de Recursos e Usos

Como consta na figura, a tabela I ou tabela de recursos de bens e serviços descreve a origem dos
produtos em nacional e importado. O quadrante A apresenta o valor da oferta total (produção mais
importação) a preços de consumidor e a preços básicos.

Preços ao consumidor = preços básicos + impostos sobre produtos e

importação líquidos de subsídios + margens de comércio e transporte.

A figura a seguir apresenta a estrutura da tabela A da forma em que ela é publicada pelo IBGE,
ou seja, a oferta total a preços do consumidor ou a preços básicos por setores. Dessa forma, podemos
analisar quais setores produzem mais e permitem maior dinâmica ao Produto Interno Bruto brasileiro e
a qual etapa da produção esse setor pertence, isto é, primário, secundário ou terciário.

42
Contabilidade Social

Figura 6 – Tabela A, de recursos de bens e serviços

A produção das atividades econômicas por produto forma o quadrante A1 com os produtos descritos
nas linhas e as atividades nas colunas, ou seja, cada linha indica em quais atividades os produtos são
produzidos, enquanto as colunas indicam a composição dos bens e serviços produzidos por cada nível
de atividades.

Figura 7 – Tabela A1 de recursos de bens e serviços

43
Unidade I

O quadrante A2 apresenta as importações detalhadas em duas colunas para os bens e serviços. Na


terceira coluna temos um ajuste chamado CIF/FOB, isto é, o CIF é o termo em inglês de Cost, Insurance e
Freight e Free On Board ou FOB, sendo o primeiro o custo da mercadoria em serviços como frete e seguro
e o segundo o custo da própria mercadoria.

Figura 8 – Tabela A2 de recursos de bens e serviços

Agora temos o lado de uso, ou seja, a tabela de usos de bens e serviços ou tabela II, que irá apresentar
o equilíbrio entre oferta e demanda a preços de consumidor, bem como o consumo intermediário das
atividades econômicas por produto.

O quadrante B1 apresenta os insumos usados na produção de cada atividade, com os produtos


descritos nas linhas e as atividades nas colunas. Esse quadrante representa a matriz insumo-
produto devido a mostrar as compras intermediárias dos setores entre si, isto é, insumos para
produção ou quanto cada setor comprou em insumo dos demais setores de produção.

44
Contabilidade Social

Figura 9 – Tabela B1 de usos de bens e serviços

Observação

Os setores não são puros, isto é, cada setor utiliza bens e serviços de
outros setores na composição de seus próprios bens e serviços, por isso é
importante fazer a análise linha-coluna e insumo-produto.

O quadrante B2 apresenta a demanda final de bens e serviços por meio do consumo final das
famílias, das Instituições Privadas Sem Fins Lucrativos a serviço das famílias (ISFL) e das administrações
públicas, formação bruta de capital fixo, variação de estoques e as exportações de bens e de serviços.
Perceba que podemos estimar o PIB setorial devido ao fato de que o PIB é a somatória do consumo total,
formação bruta de capital fixo e variação de estoques e exportações.

45
Unidade I

Figura 10 – Tabela B2 de usos de bens e serviços

Por fim, o quadrante C apresenta a remuneração dos empregados, bem como o total de postos de
trabalho em cada atividade, além dos impostos, líquidos de subsídios, o rendimento misto bruto e o
excedente operacional bruto.

Figura 11 – Tabela C de usos de bens e serviços

46
Contabilidade Social

As TRU têm como objetivo analisar os fluxos de bens e serviços e o processo de produção, como a
estrutura de insumos e a estrutura de produção de produtos por atividade, e a geração da renda. Dois
elementos são fundamentais em sua construção: as atividades pelo conjunto de agentes no processo de
produção e os produtos pelo conjunto de bens e serviços.

Em síntese, os resultados das TRU podem ser apresentados por meio de duas tabelas, sendo a
primeira a Conta de Bens e Serviços, que apresenta o total da oferta e dos usos de bens e serviços no
período considerado, e a conta do Produto Interno Bruto (PIB), que apresenta o seu cálculo pela ótica
da produção (lado esquerdo) e pela ótica da demanda (lado direito).

Quadro 6 – Conta de bens e serviços

Conta de bens e serviços


Recursos Usos
Valor bruto produção pb Consumo intermediário
Impostos líquidos sobre produtos Consumo famílias
Importação de bens e serviços Governo
IPSFLSF
Formação de capital
Formação bruta de capital fixo
Variação de estoques
Compra - Venda de “Valores“
Exportação de bens e serviços
Total oferta Total usos

Fonte: IBGE (2015a, p. 11)

Quadro 7 – Cálculo do Produto Interno Bruto

PIB
Produção Defesa
Valor bruto produção pb Consumo famílias
menos Governo
Consumo intermediário pc IPSFLSF
igual

Valor adicionado bruto a preços básicos Formação de capital


Formação bruta de capital fixo
Variação de estoques
Compra - Venda de “Valores“
Exportação de bens e serviços
menos

Importação de bens e serviços


PIB PIB

Fonte: IBGE (2015a, p. 11).

47
Unidade I

Após a apresentação teórica, metodológica e conceitual das TRU, é importante a sua apresentação
prática, isto é, como as TRU apresentam a série estatística dos principais agregados macroeconômicos,
como oferta e importação agregadas, consumo, investimentos, gastos do governo, exportação,
importação, entre outros valores agregados.

Para isso, apresentaremos a seguir a TRU do ano de 2011 com seus 12 setores institucionais
na linha e coluna. Nela é possível identificar alguns dados que podem auxiliar na extração dos
principais dados da série e fazer análises econômicas sobre ela, transformando-as em informações
relevantes.

As figuras a seguir apresentam os quadrantes A = A1 + A2. Neles, temos a oferta agregada total
a preços do consumidor em R$ 8,6 trilhões e a preços básicos em R$ 7,9 trilhões por setores. Caso a
necessidade seja o dado desagregado, isto é, a oferta agregada total a preços do consumidor apenas do
setor de transformação, o valor é de R$ 3,5 trilhões.

Figura 12 – Recursos de bens e serviços (2011) – Quadrante A

48
Contabilidade Social

Figura 13 – Recursos de bens e serviços (2011) – Quadrante A1

Figura 14 – Recursos de bens e serviços (2011) – Quadrantes A1 e A2

49
Unidade I

As figuras a seguir apresentam os quadrantes A = B1 + B2. Temos nesses quadrantes os insumos


necessários para a produção (B1) e as despesas ou demanda final (B2), sendo essa última um dos
caminhos para se chegar ao valor do PIB, pois apresenta os gastos agregados. Por exemplo: a demanda
final foi de R$ 4,9 trilhões, menos as importações de R$ 535,4 bilhões, o que resultará no valor do PIB
de R$ 4,3 trilhões em valores correntes no ano de 2011.

Figura 15 – Uso de bens e serviços (2011) – Quadrante B1

50
Contabilidade Social

Figura 16 – Uso de bens e serviços (2011) – Quadrantes B1 e B2

Por fim, o quadrante C apresenta os valores adicionados, ou o PIB pela ótica da renda, isto é, pela
soma dos salários, renda do trabalho e do excedente operacional bruto, renda do capital, isto é, a soma
dos juros, lucros e aluguéis.

Sendo o PIB a soma dos valores adicionados, por meio desse quadrante também podemos chegar ao
valor do PIB, basta ver a linha “Valor adicionado bruto (PIB)” e a coluna “total do produto”, cujo valor
apresentado é de R$ 3,7 trilhões. Para que o valor seja igual a R$ 4,3 trilhões, como já apresentado, basta
somar os R$ 655,9 bilhões de imposto líquidos de subsídios.

51
Unidade I

Figura 17 – Uso de bens e serviços (2011) – Quadrante C

Figura 18 – Uso de bens e serviços (2011) – Quadrante C

52
Contabilidade Social

3.3 As Contas Econômicas Integradas (CEI)

Com base nas TRU, as Contas Econômicas Integradas (CEI) apresentam uma visão de conjunto da
economia em que são dispostas, em colunas, as contas dos setores institucionais, do resto do mundo e
de bens e serviços.

As tabelas apresentam uma coluna para a soma dos setores institucionais, isto é, o total da economia,
na qual são apresentados os agregados macroeconômicos. Já nas linhas, temos as operações, saldos e
alguns agregados, descritos na coluna central da tabela.

Observação

É importante ressaltar que as contas do resto do mundo são apresentadas


do ponto de vista do resto do mundo e não do ponto de vista interno.

As CEI possuem uma tabela síntese em que as colunas de bens e serviços são consideradas colunas
especiais, pois funcionam como uma conta espelho da conta dos setores institucionais. Na coluna de
usos, do lado esquerdo, aparece a oferta de bens e serviços, enquanto na de recursos, do lado direito,
aparece a demanda de bens e serviços.

Para entendermos as CEI e suas tabelas e contas, necessitamos ver uma a uma. A primeira é a
conta de produção, que demonstra os dados do processo de produção e o valor bruto da produção a
preços básicos, o consumo intermediário a preços do consumidor e o valor adicionado bruto a preços
básicos, sendo esse o saldo dessa conta, obtido pela diferença entre o valor de produção e o consumo
intermediário.

Quadro 8 – Conta de Produção

Contas correntes
Usos Recursos
Produção
Consumo intermediário Valor bruto produção pb
Impostos líquidos sobre produtos
Valor adicionado / PIB

Fonte: IBGE (2015a, p. 12)

Antes de prosseguirmos, dois conceitos são importantes. Segundo o IBGE (2015a, p. 21):

A Renda Nacional Bruta a preços de mercado, ou Produto Nacional Bruto


(PNB), é a soma das rendas primárias a receber pelos setores institucionais
residentes. Assim, a RNB é igual ao PIB menos as rendas primárias a pagar,
líquidas das a receber, das unidades não residentes (resto do mundo). Ela

53
Unidade I

equivale à renda obtida pelas unidades institucionais residentes pelo uso de


seus fatores de produção (trabalho e capital) [...].

A Renda Nacional Disponível Bruta expressa a renda disponível da nação


para consumo final e para poupança. É igual a RNB mais os impostos
correntes sobre a renda e o patrimônio líquidos, recebidos do exterior,
mais as contribuições e benefícios sociais e outras transferências correntes
líquidas, recebidas do exterior.

As CEI apresentam as contas de distribuição primária da renda. As rendas primárias são rendas
que se revertem para as unidades institucionais como o resultado de sua participação no processo de
produção ou pela propriedade de ativos necessários à produção. A CEI registra a renda primária em duas
contas: a conta de geração da renda e a conta de alocação da renda primária.

A conta de geração da renda apresenta a distribuição do valor adicionado, renda gerada no processo
de produção, entre os fatores de produção (trabalho e capital) e as administrações públicas, cujo ponto
de vista é dos produtores, por as operações de distribuição estarem diretamente ligadas ao processo de
produção.

Quadro 9 – Conta de geração da renda

Geração
Valor adicionado/PIB
Remunerações
Impostos s/ produção
Excedente operacional bruto

Fonte: IBGE (2015a, p. 13).

A conta de alocação da renda, como o próprio nome revela, registra a distribuição primária da renda
entre renda do trabalho e do capital, bem como as rendas de propriedade a pagar e a receber, e também
a remuneração dos empregados e os impostos, líquidos dos subsídios, a receber respectivamente por
famílias e administrações públicas.

Quadro 10 – Conta de alocação da renda

Alocação primária
Excedente operacional bruto
Remunerações
Impostos s/ produção
Rendas de propriedade Rendas de propriedade
Renda nacional bruta

Fonte: IBGE (2015a, p. 13).

54
Contabilidade Social

A conta de distribuição secundária da renda apresenta a dedução dos impostos e contribuições,


demonstrando a passagem do saldo da renda primária de um setor para renda disponível, após o
recebimento e pagamento de transferências correntes, exceto as transferências sociais em espécie. Essa
redistribuição representa a segunda fase no processo de distribuição da renda.

Quadro 11 – Conta de Distribuição Secundária da Renda

Distribuição secundária
Renda nacional bruta
Impostos sobre a renda, Impostos sobre a renda,
propriedade propriedade
Contribuições sociais Contribuições sociais
Benefícios sociais Benefícios sociais
Outras transferências correntes Outras transferências correntes
Renda nacional bruta
disponível

Fonte: IBGE (2015a, p. 14).

Agora temos a conta de uso da renda que revela como o país e os setores institucionais alocam
sua renda disponível em consumo e poupança, sendo esse o saldo da conta. A Renda Nacional Bruta
Disponível (RNDB) está dividida em consumo final e a renda não consumida, isto é, poupança. Sendo
assim, essa conta considera como recurso a RNDB e as despesas de consumo final que efetivamente
dispenderam os recursos.

Quadro 12 – Conta de Uso da Renda Nacional Bruta Disponível

Uso da renda
Renda Nacional Bruta
Disponível (RNDB)
Consumo final
Poupança

Fonte: IBGE (2015a, p. 14).

Observação

O IBGE geralmente publica apenas a conta do uso da renda.

Quando se registram os resultados por setor institucional, consideram-se as transferências sociais


em espécie e, ao fazer isso, temos no Sistema de Contas Nacionais o conceito de Renda Nacional Bruta
Disponível Ajustada (RNDBA), que é igual à RNDB para o total da economia, mas difere para os setores
institucionais afetados pelas transferências sociais em espécie.

55
Unidade I

A conta de uso da renda disponível ajustada parte da renda disponível ajustada, cujas transferências
sociais são recursos para as famílias e usos das administrações públicas e das instituições privadas
sem fins lucrativos a serviço das famílias (ISLSF). Essas transferências sociais elevam o consumo das
famílias e o consumo final efetivo. Por esse motivo, o Sistema de Contas Nacionais registra na conta de
redistribuição da renda em espécie a passagem da RNDB para a RNDBA, registrando em uma linha as
transferências em espécie.

No quadro a seguir, podemos ver o detalhamento desse processo na conta de uso da renda
nacional bruta disponível e na conta de uso da renda nacional bruta disponível ajustada. A primeira
detalha o uso da RNDB pela despesa de consumo final, como a tabela apresenta, o individual e
coletivo, e a segunda detalha o uso da RNDBA pelo consumo final efetivo, também, o individual
e o coletivo. A poupança total, que é o saldo da conta de uso da renda, não se altera em função
desses desdobramentos.

Quadro 13 – Conta de Uso da Renda Nacional Bruta Disponível Ajustada

Uso da renda nacional disponível


Renda Nacional Bruta
Disponível (RNDB)
Despesa de consumo final
Individual
Coletivo
Poupança
Uso da renda nacional disponível ajustada
Renda Nacional Bruta
Disponível Ajustada (RNDBA)
Consumo final efetivo
Individual
Coletivo
Poupança

Fonte: IBGE (2015a, p. 15).

A conta de capital é a conta que dá condições para a formação bruta de capital fixo e variação de
estoques, ou seja, os investimentos em produção. Portanto, apresenta relação com a poupança que é o
saldo final das operações correntes e é o ponto de partida da conta de acumulação.

Sendo assim, a conta de capital registra as operações relativas às aquisições de ativos não
financeiros e às transferências de capital que implicam em redistribuição de riqueza, cujo saldo é a
capacidade/necessidade líquida de financiamento, isto é, a poupança bruta mais as transferências
de capital líquidas a receber do exterior, menos a formação bruta de capital fixo, menos a variação
de estoques.

56
Contabilidade Social

Quadro 14 – Conta de Capital

Contas capital
Usos Recursos
Capital
Poupança
Formação bruta de capital Transferência de capital
fixo
Consumo de capital fixo
Variações de estoques
Capacidade e
necessidade de
financiamento

Fonte: IBGE (2015a, p. 16).

A conta financeira demonstra como um país ou uma economia aloca sua capacidade ou necessidade
de financiamentos por meio das transações financeiras com ativos e passivos. Conforme o quadro a
seguir, a conta é composta por instrumentos financeiros com a aquisição líquida de ativos, registrada na
coluna da esquerda, e a dos passivos, na coluna da direita.

Quadro 15 – Conta Financeira

Aquisição líquida de Aquisição líquida de


ativos passivos
Financeira
Instrumentos financeiros Instrumentos financeiros
Capacidade e
necessidade de
financiamento

Fonte: IBGE (2015a, p. 17).

3.3.1 As contas econômicas integradas por setores institucionais

Diversos países adotaram as CEI por setores institucionais para melhorar a produção das contas
nacionais e suas aplicações analíticas do sistema, mas também para aprofundar o uso dos dados
microeconômicos e individualizados para a elaboração de mais informações, principalmente aquelas
que são sonegadas, em que “o objetivo das CEI Institucionais é verificar de que forma as empresas, as
famílias e a administração pública participam dos processos de geração, apropriação, distribuição e uso
da renda” (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 117).

A metodologia de passagem de dados microeconômicos (fiscais, contábeis


etc.), obtidos através de pesquisas estatísticas ou por registros administrativos,
para estimativas de contas nacionais está institucionalizada em diversos
países com sistemas estatísticos e de contas mais avançados. Nessa etapa

57
Unidade I

de elaboração da contabilidade nacional, os dados microeconômicos dos


agentes são agregados, mantendo-se as estimativas provenientes das fontes
individualizadas, mas aproximando-os às definições de contas nacionais.
Nessa fase, respeita-se a coerência dos dados fornecidos por cada agente
(IBGE, 2008, p. 82).

Antes de caracterizarmos os setores institucionais, devemos lembrar que temos os agentes residentes
e não residentes e, assim, é melhor compreender o que é uma economia interna e o resto do mundo.

Uma economia interna é o conjunto de todas as unidades institucionais residentes no território


econômico brasileiro, portanto, consideramos residente o agente econômico que tem seu centro de
interesse no país ou nele realiza operações econômicas por um ano ou mais.

Esse ponto é importante devido ao conjunto de contas das CEI por setores institucionais agregar
dados denominados “resto do mundo”, isto é, apresentar os fluxos entre unidades institucionais
residentes e não residentes, sob o ponto de vista dos não residentes.

No Sistema de Contas Nacionais, temos seis setores institucionais:

• Empresas não financeiras.

• Empresas financeiras.

• Administrações públicas.

• Famílias.

• Instituições sem fins de lucro a serviço das famílias (ISFLSF).

• Operações com o resto do mundo.

Faz-se necessária a explicação de cada um desses setores. Com base na nota metodológica nº 4 do
IBGE (2015c) referente as Contas Nacionais - referência 2010, apresentamos nos quadros 11 a 16, a
forma strictu sensu como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística define e esclarece a abrangência
e a fonte dos dados de cada setor que compõe as CEI.

Empresas não financeiras

O setor institucional empresas não financeiras é composto por empresas privadas e


públicas, produtoras de bens e serviços mercantis. No caso das empresas públicas, foram
consideradas como tal somente aquelas controladas pelos governos federal, estadual e
municipal, nas quais mais de 50% dos recursos provêm de receita de vendas ao público
em geral. As empresas públicas que não satisfazem essa condição foram classificadas no
setor institucional administração pública. Já as empresas privadas são aquelas que não são
controladas por unidades da administração pública.
58
Contabilidade Social

A produção de bens e serviços mercantis significa a prática de preços economicamente


significativos pelas empresas. Os preços são considerados economicamente significativos
quando têm influência nos montantes que os produtores estão dispostos a oferecer e nos
montantes que os compradores desejam comprar.

No caso das empresas públicas, a fonte de informação foi a pesquisa Estatísticas


Econômicas das Empresas Públicas Não Financeiras, desenvolvida pelo IBGE. Esta pesquisa,
com periodicidade anual, tinha por finalidade a obtenção de informações detalhadas
sobre a demonstração de resultados, balanço patrimonial, formação de capital, variação
de estoques e participação acionária, das empresas federais, estaduais e das municipais das
capitais e regiões metropolitanas.

Para estimar as contas das empresas privadas foram utilizadas informações provenientes
da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ).

Empresas financeiras

O setor institucional empresas financeiras é composto por unidades institucionais


que se dedicam, principalmente, à intermediação financeira ou às atividades auxiliares
estreitamente ligadas a ela. Portanto, também inclui as empresas cuja principal função é
facilitar a intermediação sem que elas próprias a pratiquem.

O setor institucional empresas financeiras é subdividido em instituições financeiras e


instituições de seguro. No primeiro grupo, incluem-se o Banco Central, as sociedades que
compõem o sistema financeiro nacional e os auxiliares financeiros.

No segundo grupo, incluem-se as sociedades de seguros, planos de saúde e fundos


de pensão. O objetivo principal da atividade seguradora é transformar riscos individuais
em riscos coletivos, garantindo pagamentos (indenizações ou benefícios) no caso da
ocorrência de sinistro.

A seguir, apresentam-se os subsetores que compõem o setor institucional empresas


financeiras:

• Banco Central: compreende, além do Banco Central, todas as demais instituições


que regulam ou supervisionam as empresas financeiras.

• Sociedades de depósitos: são constituídas das empresas que captam por meio de
depósitos, podendo ser divididas em dois grupos:

— Sociedades de depósitos monetários: referem-se às empresas financeiras que


captam por meio de depósitos à vista, transferíveis mediante cheque ou outra
forma, como os bancos comerciais e múltiplos.

59
Unidade I

— Outras sociedades de depósitos: referem-se às instituições financeiras que captam


por meio de depósitos não imediatamente transferíveis, como as sociedades de
depósitos e sociedades de crédito imobiliário.

• Outros intermediários financeiros: exceto empresas de seguros e fundos de pensão,


instituições financeiras que captam sob outras formas que não depósitos, como os
bancos de investimento.

• Auxiliares financeiros: instituições que apenas auxiliam a intermediação financeira,


não desempenhando de fato essa função, como as sociedades corretoras de valores
mobiliários e corretoras de câmbio.

• Sociedade de seguros e fundos de pensão: entidades cuja função principal consiste


no fornecimento de seguros em geral e as estabelecidas com o fim de prover pensões
e aposentadorias.

Instituições financeiras

As fontes básicas de informações são os balancetes semestrais analíticos das instituições


financeiras, sob a forma do Plano Contábil das Instituições Financeiras (COSIF) e o Plano
Geral de Contas do Banco Central (PGC), ambos consolidados. Além dessa fonte, para os
segmentos não cobertos pelo COSIF, mas considerados nas contas nacionais, como atividade
financeira, foram utilizadas as informações provenientes da Declaração de Informações
Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ). Em relação aos fundos de investimentos, a
fonte é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Instituições de seguros

As fontes utilizadas são as informações provenientes da DIPJ, da Superintendência de


Seguros Privados (SUSEP), e dados da Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

Administrações públicas

O setor institucional administração pública é constituído por unidades que têm


como função principal produzir serviços não mercantis destinados à coletividade
e/ou efetuar operações de repartição de renda e de patrimônio. Os serviços são
considerados não mercantis quando prestados de forma gratuita ou a preços
economicamente não significativos (quando não têm grande influência nos
montantes que os produtores estão dispostos a oferecer e nos montantes que os
compradores desejam comprar).

A principal fonte de recursos do setor é o pagamento obrigatório efetuado pelas demais


unidades institucionais na forma de impostos, taxas e contribuições sociais.

60
Contabilidade Social

O setor da administração pública é composto pelas seguintes unidades institucionais:

• Órgãos governamentais da administração direta e indireta (autarquias, fundações e


fundos), nos âmbitos federal, estadual e municipal.

• Entidades públicas juridicamente constituídas como empresas, com funções típicas


de governo e cujos recursos são provenientes, em sua maior parte (mais de 50% do
total das receitas), de transferências.

• Entidades paraestatais que têm como principal fonte de receita a arrecadação de


contribuições compulsórias. São elas: Sistema S, instituições produtoras de serviços
sociais (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, Serviço Social da
Indústria – SESI, Serviço Social do Comércio – SESC etc.); Conselhos profissionais,
instituições de apoio à regulação das atividades profissionais; e Fundos de caráter
público, como os fundos constitucionais, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) e o fundo remanescente do Programa de Integração Social e Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP).

Para obtenção dos dados do governo federal, utilizou-se o Balanço Geral da União e o
Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI), da Secretaria do Tesouro Nacional,
do Ministério da Fazenda, e levantamentos especiais de dados contábeis do FGTS, PIS/PASEP,
Sistema S e conselhos profissionais.

As informações dos governos estaduais, assim como dos municípios das capitais e das
regiões metropolitanas, foram obtidas por meio de pesquisa própria do IBGE: Estatísticas
Econômicas das Administrações Públicas.

Para os governos municipais, além da pesquisa Estatísticas Econômicas das Administrações


Públicas, são utilizadas as informações do sistema Finanças do Brasil (FINBRA), da Secretaria
do Tesouro Nacional, e do Sistema de Informações de Orçamentos Públicos em Saúde
(SIOPS), do Ministério da Saúde.

Famílias

Nos Sistemas de Contas Nacionais, famílias são definidas como um pequeno grupo de
indivíduos que partilham o mesmo alojamento, que reúnem parte, ou a totalidade, do seu
rendimento e patrimônio e que consomem coletivamente certos tipos de bens e serviços,
principalmente a habitação e a alimentação.

O setor institucional famílias abrange as famílias como consumidoras e como produtoras.


Nesse setor estão incluídas as unidades produtivas não inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica (CNPJ) – não constituídas em empresas –, e os trabalhadores autônomos. Além dessas
categorias, são considerados, ainda, o aluguel imputado aos imóveis residenciais ocupados por
seus proprietários, o aluguel efetivo recebido por pessoas físicas e o serviço doméstico remunerado.
61
Unidade I

Para as estimativas do setor, são utilizadas informações da Pesquisa Nacional por


Amostra de Domicílios (PNAD), da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), da Declaração
de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ), da pesquisa Economia Informal
Urbana (ECINF) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho
e Emprego.

Instituições sem fins de lucro a serviço das famílias (ISFLSF)

As instituições sem fins de lucro a serviço das famílias são entidades jurídicas ou sociais
criadas com o objetivo de produzir bens ou serviços para as famílias, cujo estatuto não lhes
permite ser uma fonte de rendimento, lucro ou outro ganho financeiro, para as unidades
que as criam, controlam ou financiam.

O setor das instituições sem fins de lucro a serviço das famílias é definido como o
conjunto de todas as instituições sem fins de lucro a serviço das famílias residentes, exceto
as que estão a serviço das empresas, consideradas produtoras mercantis, e as que são não
mercantis, mas que são controladas pelas administrações públicas.

São definidas duas grandes categorias de instituições sem fins de lucro a serviço
das famílias que fornecem bens ou serviços às famílias, gratuitamente ou a preços
economicamente não significativos:

• Sindicatos, sociedades profissionais ou científicas, associações de consumidores,


partidos políticos, igrejas ou sociedades religiosas (incluindo as financiadas por
administrações) e clubes sociais, culturais, recreativos e desportivos.

• Organizações de caridade, assistência e ajuda, financiadas por contribuições


voluntárias em numerário ou em espécie de outras unidades institucionais.

No Sistema de Contas Nacionais, foram consideradas no setor instituições sem fins de


lucro a serviço das famílias as entidades classificadas nas seguintes atividades:

• Serviços sociais com alojamento: compreendem a assistência social a crianças,


idosos, pessoas em situação de exclusão social, como as atividades que são realizadas
em orfanatos, albergues infantis, centros correcionais para jovens, asilos, centros de
reabilitação para pessoas com tendência ao consumo de álcool e outras drogas etc.

• Serviços sociais sem alojamento: compreendem os centros de orientação a famílias,


detentos, refugiados, imigrantes, alcoólatras etc., e as atividades das creches.

• Atividades de organizações profissionais: compreendem as atividades de organizações


e associações constituídas em relação a uma profissão, técnica ou área de saber.

• Atividades de organizações sindicais: compreendem as atividades das entidades


62
Contabilidade Social

sindicais e associações de trabalhadores assalariados ou profissionais centradas na


representação e defesa de seus interesses trabalhistas.

• Atividades de organização religiosa: compreendem as atividades de organizações


religiosas ou filosóficas; igrejas, mosteiros, conventos ou organizações similares e
catequese, celebração ou organização de cultos.

• Atividades de organizações políticas: compreendem as atividades de organizações


políticas e auxiliares, como as organizações juvenis associadas a um partido político,
com finalidade de influir na opinião e poder públicos.

• Outras atividades associativas, não especificadas anteriormente: compreendem


as atividades de organizações associativas diversas, criadas para defesa de causas
de caráter público ou objetivos particulares, como os movimentos ecológicos e de
proteção de animais, associações de mulheres por igualdade de sexos, associações
de proteção de minorias étnicas e grupos minoritários, associações de pais de alunos
etc. Compreendem, também, as associações com objetivos dominantes nas áreas
culturais e recreativas, como os grupos literários, de cinema, fotografia, de música e
arte, de artesanato, de colecionadores, carnavalescos etc.

• Atividades desportivas: compreendem a gestão de instalações esportivas


(estádios, ginásios, quadras de tênis e outros esportes, piscinas, hipódromos etc.),
a organização e exploração de atividades esportivas por clubes, associações etc.,
a promoção e organização de eventos esportivos, a atividade de profissionais
ligados ao esporte (árbitros, treinadores etc.), o ensino de esportes em escolas
esportivas ou por professores independentes, as atividades dos centros de
musculação, aeróbica e outros tipos de ginástica, a pesca desportiva e de lazer,
atividades ligadas à corrida de cavalos, atividades ligadas a esportes mecânicos
(automóveis, karts, motos etc.).

A fonte de informação básica para a estimativa desse setor é a DIPJ, por meio da ficha
de Origens e Aplicações de Recursos das entidades imunes ou isentas.

Operações com o resto do mundo

As operações com o resto do mundo retratam as transações econômicas entre as


unidades institucionais não residentes (sem que possam ser identificadas) e as unidades
institucionais residentes, ou seja, aquelas que têm seu centro de interesse no País ou nele
atuam, por um ano ou mais. As contas do resto do mundo descrevem estes fluxos sob o
ponto de vista dos não residentes.

A fonte básica de dados é o Balanço de Pagamentos, do Banco Central, acrescido de:


desagregações especiais fornecidas pelo Banco Central; fitas de importações por produtos
da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), da Secretaria da Receita Federal, e fitas de
63
Unidade I

exportações por produtos NCM da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério


do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

As estimativas dos agregados de contas nacionais tomaram como fonte os dados do


Balanço de Pagamentos, alterados, sempre que necessário, por ajustamentos conceituais ou
quantitativos dos fluxos considerados.
Adaptado de: IBGE (2015c).

As CEI representam um novo sistema que substitui as contas antigas. Seus três grupos de contas
permitem uma melhor análise dos agregados macroeconômicos, ou seja, o grupo 1, composto pela
conta de bens e serviços, o grupo 2, composto pela conta de produção ou do PIB, conta da renda
e a conta de acumulação, e o grupo 3, composto pela conta das operações correntes com o resto
do mundo.

As operações de débito e crédito que davam os equilíbrios interno e externo às contas antigas foram
substituídas pelas operações de usos e recursos, que exigem a mesma coerência contábil e permite
avaliar os agregados pela ótica matricial insumo-produto, isto é, a relação da produção com as matérias-
primas ou insumos disponíveis.

Cada conta das CEI mensura um agregado macroeconômico, como a demanda agregada total, que
é a soma das despesas agregadas com consumo, investimento e exportações e que permite mensurar o
Valor Bruto da Produção (VBP), que, por sua vez, é a base para mensurar o Produto Interno Bruto (PIB).

As contas relacionadas à geração de renda também permitem visualizar a distribuição da renda,


principalmente na divisão da renda entre trabalho e capital, sendo esta última descrita como Excedente
Operacional Bruto (EOB), que é a soma dos lucros, juros e aluguéis.

As contas relacionadas à renda informam a renda nacional bruta (RNB), que, com a entrada do
governo, passa a ser renda nacional disponível bruta (RNDB), que será dividida entre renda consumida e
não consumida, isto é, a formação da poupança agregada interna e a necessidade ou não de poupança
externa.

As figuras a seguir apresentam a estrutura das CEI da forma como cada tabela é publicada pelo IBGE.
Perceba que cada operação fica centralizada e apresenta, do lado direito, os recursos necessários para os
devidos usos lançados do lado esquerdo da tabela, ou seja, operações que reduzem o valor de um setor
institucional e entram como recursos para aumentar o valor de um setor institucional.

Cada tabela das CEI mostra a desagregação das contas, por operação, para cada setor
institucional. Cada conta se relaciona com as contas seguintes por meio do saldo gerado, que
é o resultado entre a diferença entre os usos e recursos de cada conta. Por exemplo: a conta 1
se relaciona com a conta 2 por meio da diferença entre o valor bruto da produção e o consumo
intermediário e o valor adicionado.

64
Contabilidade Social

Figura 19 – Contas Econômicas Integradas: produção e geração da renda

Figura 20 – Contas Econômicas Integradas: conta de distribuição primária da renda

65
Unidade I

Figura 21 – Contas Econômicas Integradas: alocação e distribuição da renda

Figura 22 – Contas Econômicas Integradas: redistribuição secundária da renda

66
Contabilidade Social

Figura 23 – Contas Econômicas Integradas: uso da renda

67
Unidade I

Figura 24 – Contas Econômicas Integradas: acumulação de capital

Da mesma forma que fizemos com as TRU, apresentaremos por meio das figuras a seguir os lados
das CEI com os valores dos agregados monetários das contas nacionais brasileiras para o ano de 2011.
Nelas estão apenas as contas de produção e renda como forma de visualizar, extrair e analisar alguns
dados, cuja conta de capital poderá seguir o mesmo método de análise. Veja que ela apresenta os valores
por setores, bem como o PIB agregado para uma análise macroeconômica e o PIB setorial para uma
análise microeconômica.

Por exemplo: ao analisar as figuras 23 e 24, conseguimos extrair o dado do PIB de 2011, que foi
de R$ 4,3 trilhões, cujas empresas não financeiras, como indústrias, entre outras, foram as que mais
participaram na composição desse valor, isto é, a parte do PIB gerado por esse setor institucional
foi de R$ 2,1 trilhões. Esse setor também foi o que gerou a maior parte da massa salarial na forma
de remuneração aos empregados com mais de R$ 1 trilhão e as famílias tiveram R$ 2,5 trilhões em
despesas com consumo final. Para finalizar, tivemos R$ 535 bilhões em importação e R$ 501 bilhões de
exportação de bens e serviços.
68
Contabilidade Social

Figura 25 – Contas Econômicas Integradas 2011 – Lado Esquerdo (Usos)

Figura 26 – Contas Econômicas Integradas 2011 – Lado Direito (Recursos)

69
Unidade I

4 Problemas de mensuração

Como já estudamos, as contas nacionais são uma fonte de dados e informações que permitem
avaliar o avanço econômico e social de um país. Sua simplicidade está apenas em sua forma e estrutura
devido a sua complexidade em mensurar e valorar as variáveis que compõem seu conjunto de contas,
isto é, os agregados macroeconômicos, que constituem um desafio metodológico devido a problemas
técnico, operacionais e conceituais.

4.1 Dificuldades técnicas

4.1.1 Valores nominais e valores reais

Sabemos que as contas nacionais, como exemplo o PIB, são o registro da multiplicação de preços por
quantidades (PIB = ∑P x Q). A relação dessas duas variáveis é que permite saber o resultado de tudo que foi
produzido e consumido no período de um ano. Entretanto, os preços variam no tempo por vários fatores e,
como essa variável faz parte do cálculo, sua variação pode induzir o resultado final da produção e do consumo
agregados.

Por exemplo: se a média de preços de um ano foi de R$ 5,00 e a produção foi de 1.000 unidades de
bens e serviços, podemos dizer que o PIB nominal dessa economia foi de R$ 5.000,00. Se a média de
preços subir para R$ 10,00, mantendo a quantidade de unidades produzidas em 1.000 unidades, o PIB
nominal dessa economia subiu para R$ 10.000,00. Entretanto, percebe-se que não houve um aumento
da produção (Q), mas somente um aumento do nível de preços (P).

Esse tipo de crescimento é considerado como crescimento nominal do PIB, que resulta do
aumento dos valores nominais ou correntes por ser um aumento do nível de preços dentro do
último ano encerrado, por exemplo, o ano de 2014. Para que possamos anular o efeito do aumento
de preços na mensuração das contas nacionais, trabalhamos com o nível de preços do ano anterior,
que chamaremos de ano base ou ano inicial da série de dados como referência.

Ao adotarmos um ano como base e utilizarmos seu nível de preços, por exemplo o ano de 2013, estamos
anulando o impacto do aumento do nível de preços sobre os agregados monetários do ano posterior, neste caso
o ano de 2014. Esse método resulta no que é conhecido como valores reais, ao não levar em conta a variação
dos preços do ano corrente, mas somente a variação da quantidade produzida desse mesmo ano. Por exemplo:

PIB nominal = ∑P2014 x Q2014

PIB real = ∑P2013 x Q2014

O PIB nominal considera os valores correntes de cada ano. Já o PIB real considera como valor
corrente apenas a quantidade produzida e os preços do ano anterior ou ano base. Esse método do PIB
real é chamado deflacionamento, que consiste em anular a variação dos preços, cujos instrumentos
para essa tarefa são os índices de preços que acompanham as variações dos níveis de preços em um
dado período de tempo e são apresentados em números-índice. Segundo Hoffmann (2006, p. 309): “Os
70
Contabilidade Social

números-índices (também chamados, simplesmente, índices) são proporções estatísticas, geralmente


expressas em porcentagem, idealizadas para comparar as situações de um conjunto de variáveis em
épocas ou localidades diversas”.

Os números-índices acompanham a variação relativa de uma série de dados no tempo e podem


ser classificados em índices simples (IS), que medem a evolução de apenas uma série de dados iguais, e
índices compostos (IC), que medem a evolução de apenas uma série de dados diferentes.

Chamaremos de P2013 o preço de uma mercadoria no ano base de 2013 e P2014 é o preço corrente
em um período de tempo, no caso o ano de 2014, cujo preço relativo da mercadoria em questão pode
ser apresentado da seguinte forma:

IC = ∑P2014 / ∑P2013

Usualmente, o valor do número-índice é dado em porcentagem:

IC = (∑P2014 / ∑P2013) x 100

Tabela 3 – Preços de livros

Ano Preço
2013 25,00
2014 28,00

IC = 28,00/25,00 = 1,12

Ou

IC = (28,00/25,00) x 100 = 112

Este resultado significa que os preços subiram 12%. Geralmente, a base é considerada como
100. Se o resultado for maior, significa que os preços subiram e, caso esse índice seja menor do que
100, indica que os preços caíram de um ano para o outro.

Os índices compostos são utilizados quando a série de dados é diferente, como preços e
quantidades. São conhecidos três tipos diferentes de índices compostos de preços e quantidade:
Laspeyres (IL), Paasche (IP) e também o índice composto de Fisher, que é calculado com base na
média geométrica dos índices de Laspeyres e Paasche.

Índice de Laspeyres de preço = ∑P2014 x Q 2013 / ∑P2013 x Q 2013

Índice de Laspeyres de quantidade = ∑P2013 x Q 2014 / ∑P2013 x Q 2013

71
Unidade I

Índice de Paasche de preço = ∑P2014 x Q 2014 / ∑P2013 x Q 2014

Índice de Paasche de quantidade = ∑P2014 x Q 2014 / ∑P2014 x Q 2013

Índice de Fisher de preço = √ índice de Laspeyres x índice de Paasche

Índice de Fisher de quantidade = √ índice de Laspeyres x índice de Paasche

Tabela 4 – Preços e quantidades de livros

Ano Preço Quantidade

2013 25,00 150

2014 28,00 180

Aplicando as equações, temos:

IL preços = 28,00 x 150 / 25,00 x 150 = 1,12


IL preços = (28,00 x 150 / 25,00 x 150) x 100 = 112
IL quantidades = 25,00 x 180 / 25,00 x 150 = 1,20
IL quantidades = (25,00 x 180 / 25,00 x 150) x 100 = 120

IP preços = 28,00 x 180 / 25,00 x 180 = 1,12


IP preços = (28,00 x 180 / 25,00 x 180) x 100 = 112
IP quantidades = 28,00 x 180 / 28,00 x 150 = 1,20
IP quantidades = (28,00 x 180 / 28,00 x 150) x 100 = 120

Analisando os resultados de cada índice, percebemos que os índices de preços apresentaram


uma variação de 12%, tanto o índice de Laspeyres (IL) quanto o de Paasche (IP). Da mesma forma,
se considerarmos a base como 100, o resultado foi 112, o que significa a mesma variação de 12%.
Já os índices de quantidades indicam que a variação da quantidade foi de 20%, o que representa
um crescimento real da produção ao anularmos o efeito dos preços.

Para ficar mais claro, vejamos a tabela a seguir, que apresenta um Produto Interno Bruto
nominal e real hipotéticos. Vamos supor que há um único bem produzido na economia, que são os
livros, cuja equação do PIB é ∑P x Q.

72
Contabilidade Social

Tabela 5 – PIB nominal e PIB real

Ano Preço Quantidade PIB Nominal IP PIB real Variação real do PIB
2013 25,00 150 3.750,00 1,00 3.750,00 -
2014 28,00 180 5.040,00 1,12 4.500,00 20,0

Ao considerarmos os livros como único produto, chegamos ao PIB nominal de 2013 no valor
de 3.750,00, que é resultado da ∑P 2013 x Q 2013. O índice de Paasche (IP) considerado em 2013
é igual a 1,00 e se multiplicado por 100, será igual à base 100, portanto não apresenta variação de
preços. Já o PIB nominal de 2014 segue a mesma lógica, isto é, apresenta o valor de 5.040,00 e é
resultado da equação ∑P 2014 x Q 2014.

Os valores de 3.750,00 e 5.040,00 são valores nominais ou correntes de cada ano. Os valores reais são
aqueles que não apresentam a variação de preços. Na tabela, o PIB real é o valor de 3.750,00 dividido
pelo índice de Paasche de 1,00 em 2013. No ano de 2014, o PIB real é resultado de 5.040,00 dividido
pelo índice de Paasche de 1,12. Veja que, ao olharmos a coluna de variação real do PIB, percebemos que
o PIB real cresceu entre 2013 e 2014 em 20%, ou seja, exatamente a variação da quantidade produzida
de um ano para o outro, como apresentado nos cálculos anteriores.

Tabela 6 – Brasil: PIB nominal e variação nominal e real do PIB (em milhões de reais)

Ano PIB nominal Variação PIB nominal Variação PIB real


2000 1.179.482,00    
2001 1.302.136,00 10,4 1,31
2002 1.477.822,00 13,5 2,66
2003 1.699.948,00 15,0 1,15
2004 1.941.498,00 14,2 5,71
2005 2.147.239,00 10,6 3,16
2006 2.369.484,00 10,4 3,96
2007 2.661.344,00 12,3 6,09
2008 3.032.203,00 13,9 5,17
2009 3.239.404,00 6,8 -0,33
2010 3.770.084,87 16,4 7,53
2011 4.143.013,34 9,9 2,73
2012 4.392.094,00 6,0 1,03
2013 4.844.815,08 10,3 2,49

Na tabela anterior, com dados do Ipeadata, apresentamos os dados de PIB nominal, a variação
nominal do PIB e a variação real do PIB da economia brasileira deste início do século XXI, e podemos
perceber que o valor do PIB nominal cresceu a cada ano. A média de variação do PIB nominal no período
de 2000-2013, por exemplo, foi de 11,5%, enquanto a média de crescimento ou variação do PIB real foi
de 3,3%. Para o resultado da variação do PIB real, o IBGE calcula e divulga o deflator implícito do PIB.
Conforme afirmam Paulani e Braga (2012, p. 144):
73
Unidade I

No Brasil, temos um índice de preços obtido de forma indireta, que é o


deflator implícito do PIB. O que ocorre é que, para o cálculo do valor do
PIB, a Fundação IBGE estima o produto dos vários setores institucionais da
economia a preços correntes. Isso possibilita, a cada ano, a obtenção do
valor do PIB nominal. Todavia, o que mais importa é saber o comportamento
do PIB em termos reais, ou seja, o crescimento da quantidade de bens e
serviços finais produzidos. Para tanto, constroem-se também, para cada
setor, índices de produto real, que, conjuntamente tomados, fornecem uma
estimativa da taxa de crescimento de produto real do PIB em cada ano.

Saiba mais

Para saber mais sobre o deflator implícito do PIB, basta acessar a


seguinte página do IBGE:

IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA). Sistema


de Contas nacionais: Brasil 2010-2011: referência 2010. Rio de Janeiro:
[s.d.]. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/
contasnacionais/2011/default.shtm>. Acesso em: 14 jul. 2015.

Ou então, acesse a homepage do Ipeadata (<http://www.ipeadata.gov.


br/>), entrar em “Temas”, “Contas nacionais” e pesquisar o deflator implícito
do PIB.

4.1.2 Comparações entre países e o dólar: paridade do poder de compra (PPC)

O problema técnico colocado aqui se refere à necessidade de se comparar variáveis de um país com
outro, por exemplo, o PIB dos Estados Unidos da América (EUA) com o PIB do Brasil ou o PIB do Brasil
com o PIB da Argentina.

Como cada país mensura suas contas nacionais seguindo as recomendações internacionais, não há
problema. Entretanto, cada país valora sua produção na moeda corrente local, isto é, os EUA valoram
sua produção e consumo agregados em dólares americanos (US$), o Brasil, em reais (R$), e a Argentina,
em peso argentino ($). Acontece que cada moeda possui uma taxa de câmbio, que é o valor da moeda
estrangeira em moeda local. Em março de 2015, por exemplo, um dólar da moeda americana (US$)
estava sendo vendido no Brasil por R$ 3,16. Entretanto, esse tipo de taxa de câmbio, que representa o
preço da moeda estrangeira em moeda local, oscila muito pela lei da demanda e oferta, compra e venda
de moeda estrangeira, fator que muda os valores da taxa de câmbio, leia-se da moeda estrangeira, a
cada momento.

Como exemplo, façamos o seguinte: conforme a tabela 6, o PIB do Brasil em 2013 foi de R$ 4,8
trilhões de reais (R$ 4.844.815,08). Ao convertermos o PIB brasileiro para dólar, bastar dividir o valor de

74
Contabilidade Social

R$ 4.844.815,08 por R$ 3,16. Portanto, o valor do PIB brasileiro em dólar será de US$ 1,5 trilhão (US$
1.533.169,33). Mas, caso o preço do dólar em um dado momento tenha uma redução para R$ 1,58, metade
do valor anterior, o valor do PIB brasileiro em dólar subirá para US$ 3,0 trilhões (US$ 3.066.338,66), por
uma simples variação da taxa de câmbio, isto é, variação de preços da moeda americana em reais.

Para resolver esse problema, utiliza-se a conversão de reais em dólar pelo câmbio de Paridade do
Poder de Compra (PPC) vigente, que só leva em conta o que é denominado de bens tradables, ou bens
comercializáveis, isto é, a taxa de câmbio passa a ser resultado de uma cesta de bens que são idênticas
entre os países e, por ser uma cesta de bens, ela sofre menos oscilações do que a compra e venda de
moeda estrangeira, além de demonstrar o custo de vida em cada país.

Lembrete

As flutuações cambiais, isto é, a variação do preço das moedas


estrangeira em moeda local, distorcem os preços em reais e em dólares.

Portanto, utiliza-se a taxa de câmbio ajustada da moeda de cada país com o dólar americano
pelo Poder de Paridade de Compra (PPC) com base na cesta de bens e serviços ofertada em ambas
as economias, o que torna possível comparar o poder de compra de um país em termos de poder de
compra de outro país.

Saiba mais

Na bibliografia internacional, o PPC é chamado de PPP, isto é, Purchase,


Power e Parity. Veja em:

SOUZA, J. L. O que é? Dólar PPC. In: ___. Indicadores. Desafios do


desenvolvimento, Brasília, ano 5, n. 40, p. 64, fev. 2008. Brasília: Ipea, 2008.
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/images/stories/PDFs/
desafios040_completa.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2015.

Os índices PPC ou PPP são índices espaciais e não temporais, isto é, são índices que mensuram o custo
de vida por regiões e países, cuja base é a economia americana, ou seja, sempre estamos comparando
o custo de vida entre países. Por exemplo: o custo de vida do Brasil e da Argentina em dólares PPP em
relação aos EUA.

Quando o índice PPC é menor do que 1 (Índice PPC < 1), o valor da variável em questão, por exemplo
o PIB per capita de cada país em dólar PPC (US$ PPC), será maior e quando o índice PPC é maior do
que 1 (Índice PPC > 1), o valor em dólar PPC (US$ PPC) será menor devido à relação do preço dos bens
e serviços que são produzidos em cada país e os produtos que compõem a cesta de bens tradables em
dólar PPC, podendo ter relação com uma maior ou menor produtividade ou renda locais.
75
Unidade I

Vamos supor que a cesta de bens entre dois países (Brasil e EUA) seja o pé de alface e que o preço
desse bem seja R$ 2,00 no Brasil e US$ 3,00 nos EUA. O câmbio ou dólar PPC será de R$ 0,66 no Brasil,
isto é, são os R$ 2,00 divididos pelos US$ 3,00. Caso nosso objetivo seja obter o valor do PIB de 2013
em dólar PPC, basta dividir o valor de R$ 4,8 trilhões (R$ 4.844.815,08) pelo câmbio PPC de R$ 0,66,
cujo valor passa a ser em US$ PPC 7,3 trilhões (US$ 7.340.628,90). Muito diferente se a operação fosse
realizada com a taxa de câmbio comum ou comercial de R$ 3,16, cujo valor seria de US$ 2 trilhões (US$
2.018.672,95).

Saiba mais
Para saber mais sobre cesta de bens e serviços em valores PPC ou PPP,
vale a leitura sobre o Big Mac Index, que tem o objetivo de medir o poder de
compra dos consumidores desse sanduíche em diversos países. Você pode
obter mais informações nos seguintes artigos:
SILVA, J. A. L. da. Brasil sobe de posição e tem o 4º Big Mac mais caro do
mundo. Infomoney, São Paulo, 23 jan. 2015. São Paulo: Money e Markets,
2015. Disponível em: <http://www.infomoney.com.br/minhas-financas/
precos/noticia/3824440/brasil-sobe-posicao-tem-big-mac-mais-caro-
mundo>. Acesso em: 13 jul. 2015.
ÍNDICE Big Mac mostra que real é a quarta moeda mais cara do mundo.
Uol, São Paulo, 22 jan. 2015. São Paulo: Uol, 2015. Disponível em: <http://
economia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/01/22/indice-big-mac-
mostra-que-real-e-a-quarta-moeda-mais-cara-do-mundo.htm>. Acesso
em: 13 jul. 2015.

Portanto, o nível de preços dos bens e serviços de uma economia podem distorcer os valores dos agregados
macroeconômicos, bem como levar a contabilidade de valores irreais devido à variação da taxa de câmbio
ou preços das moedas estrangeiras em moeda local (R$/US$ ou R$/$). Entretanto, os métodos estatísticos
empregados de deflacionamento das variáveis permitem ajustar as séries de dados estatísticos e corrigi-las.
Já nas comparações internacionais, o dólar PPC ou PPP substitui a taxa de câmbio comum ou comercial e
permite corrigir e mensurar os custos de vida em diferentes países, por mais que suas moedas locais sejam
diferentes. Mas há outros problemas envolvidos na contabilidade social.

4.2 Dificuldades operacionais

Os problemas operacionais estão relacionados à assimetria ou à falta de informação que algumas


atividades produtivas geram ao fazerem parte do que é conhecido como economia informal e economia
subterrânea.

Na medida em que as empresas não são formalizadas, isto é, não possuem o registro de abertura
legal, há dificuldades em identificá-las e localizá-las e, portanto, levantar os dados necessários para

76
Contabilidade Social

mensurar a produção e o valor adicionado por cada uma delas no computo do Produto Interno Bruto.
Conforme Paulani e Braga (2012, p. 58):

[...] a economia subterrânea incorpora uma boa parte da economia informal.


A diferença entre um e outro termo está em que o primeiro refere-se
exclusivamente às atividades que não são deliberadamente declaradas por
várias razões: escapar do fisco, não cumprir leis trabalhistas, não arcar com
o pagamento de contribuições à seguridade social (previdência), não ter
que seguir determinadas normas da atividade produtiva cuja adoção pode
implicar custos etc. Assim, a economia subterrânea não inclui as atividades
ilegais, nem a economia informal da costureira de bairro ou da cozinheira
que faz doces para fora para aumentar o orçamento doméstico.

As atividades econômicas subterrâneas podem se dar por transações monetárias ou não, ou seja,
pela compra e venda em que a moeda é o principal meio de circulação ou as não monetárias, que se dão
principalmente pelo escambo ou produção para subsistência.

Dentro desse tipo de economia podemos ter atividades legais não consideradas no computo da
produção de um país, por meio da evasão de benefício fiscais em renda não reportada proveniente
de emprego autônomo, descontos e benefícios para funcionários, benefícios, escambo de produtos
e serviços legais e salário e ativos provenientes de trabalho não reportado relacionado a produtos e
serviços legais.

Quadro 16 – Tipos de atividades econômicas subterrâneas

Transações monetárias Transações não monetárias


Atividades ilegais
Comércio com produtos roubados. Escambo de drogas, produtos roubados, contrabando etc.
Fabricação e tráfico de drogas. Produção ou plantio de drogas para uso próprio.
Prostituição. Roubo para uso próprio.
Jogo.  
Contrabando.  
Fraude.  
Outros.  
Atividades legais
Evasão fiscal Benefício fiscal Evasão fiscal Benefício fiscal
Renda não reportada Descontos para funcionários, Escambo de produtos Todo o trabalho do tipo “faça
proveniente de emprego benefícios. e serviços legais. você mesmo” e ajuda a vizinhos.
autônomo.
Salário e ativos
provenientes de
trabalho não reportado      
relacionado a produtos e
serviços legais.

Fonte: Schneider (2009, p. 55).

77
Unidade I

No quadro, percebe-se que, mesmo dentro de atividades legais, há sonegação de informações


e outras obrigações exigidas. A economia subterrânea é uma parte da economia informal. Um
dado clássico sobre informalidade é a respeito do número de trabalhadores informais, isto é, os
trabalhadores sem vínculo de emprego, sendo esta a principal diferença entre trabalho e emprego: a
questão dos direitos trabalhistas e proteção social que o trabalho sem vínculo empregatício não tem
e que eleva a precarização do mercado de trabalho.

Segundo o Ipea (2014), o mercado de trabalho brasileiro vem apresentando queda do nível de
informalidade, cujo percentual médio em 2012 foi de 34%, em 2013, foi de 33%, e em janeiro de 2014,
o índice foi de 32,2%. Percebe-se que ainda 1/3 dos trabalhadores brasileiros vive na informalidade, o
que não é bom para a sociedade e para o país.

De forma geral, com relação ao pedaço da informalidade dentro do PIB, o Instituto Brasileiro de Ética
Concorrencial (ETCO), em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas
(FGV/IBRE), calculam e divulgam o Índice de Economia Subterrânea (IES), conforme o gráfico a seguir
(ETCO; FGV, 2014, p. 12):
25

21 20,9 20,4 20,1


20 19,4
18,7 18,5 17,7
16,9 16,7
16,3 16,2
15

10

0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Figura 27 – Índice de Economia Subterrânea (IES)

Como podemos observar, há uma tendência de queda da informalidade por meio da economia
subterrânea dentro do PIB. No ano de 2003, o índice apresentava 21% do PIB e passou a ser
16,2% do PIB em 2014. Ainda assim, podemos concluir que mais de 10% do PIB não é declarado e,
portando, não entra no computo das contas nacionais brasileiras, o que prejudica a contabilidade
social do país.

Há muito para fazer e um dos grandes avanços tem se dado nas Contas Econômicas Integradas
Institucionais (CEI Institucionais), que estudaremos mais adiante, que incorporam a produção formal e
informal das famílias e que passam a ser uma fonte de análise para acompanhar a parte de produção e
consumo não declarados.

78
Contabilidade Social

4.3 Dificuldades conceituais

4.3.1 As atividades não monetizadas

Os problemas conceituais são os problemas teóricos, como a questão das atividades não
monetizadas, isto é, atividades que não se integram ao fluxo circular da renda no mercado de
bens e serviços, como a economia de subsistência ou produção para consumo próprio, que não
é valorada e monetizada. Pode não parecer um problema de forma individual, mas ao agregar
todos os indivíduos e pequenos produtores agrícolas, entre outros, o valor a computar pode ser
relevante.

Paulani e Braga (2012, p. 160) afirmam que há tanto um problema teórico como prático. Teórico
devido a essa economia de subsistência ser uma atividade produtiva de bens e serviços que atende às
necessidades humanas, portanto, deveriam entrar nas contas nacionais. No entanto, na questão prática,
essas atividades não geram renda monetária.

Tal solução tem se dado por imputação de valores, ou seja, estima-se o valor dessas atividades com
base no valor de mercado e soma-se ao PIB. Essa operação é puramente convencional e arbitrária de
cada país, que seleciona o que deve ser computado ou não.

4.3.2 Meio ambiente e desenvolvimento sustentável

O Produto Interno Bruto de um país tem como base seus recursos naturais, que são os insumos ou
matérias-primas necessários para a produção dos bens e serviços, ou seja, a relação insumo-produto de
uma economia.

Entretanto, observou-se nas últimas décadas uma aceleração da degradação do meio ambiente, por
meio da emissão de gás carbônico na atmosfera, o uso irracional e contaminação dos recursos hídricos,
devastação das florestas, poluição de rios e do ar e a exaustão dos recursos naturais, em que alguns
desses recursos são exauríveis, como a fonte de energia conhecida como petróleo.

Todos esses pontos geram o que é chamado de externalidades negativas. Uma externalidade é
algo que não faz parte do mecanismo ou sistema de mercado, mas tem impacto na vida dos agentes
econômicos que compõem esse sistema. Como os apontamentos são todos negativos, podemos
considerá-los como externalidades negativas, porque reduzem o bem-estar social e econômico de todos
os agentes econômicos.

Essas agressões ao meio ambiente são resultado da acelerada e desordenada industrialização e


urbanização, que substituíram os produtos in natura por produtos industrializados.

Diante dessa problemática, surgiu um novo campo de estudo chamado de economia do meio
ambiente, em que o objeto de estudo é o crescimento sustentável, ou seja, a atividade de produção que
possibilite o bem-estar social e econômico e preserve os recursos naturais.

79
Unidade I

A contabilidade social vem fazendo um grande esforço para valorar os custos ambientais e
considerá‑los nas contas nacionais, bem como estimar a depreciação ou reposição do capital in natura
dos países e do planeta como forma de melhorar o bem-estar social e econômico.

Muitas pesquisas e propostas para as contas nacionais estão em discussão, como a ideia de valorar
as externalidades negativas por meio da mensuração das despesas necessárias para a restauração do
meio ambiente e evitar a sua degradação acelerada.

Saiba mais

Uma das iniciativas para melhorar a questão do meio ambiente é a


criação dos chamados empregos verdes. Veja mais em:

MUÇOUÇAH, P. S. Empregos verdes no Brasil: quantos são, onde estão e


como evoluirão nos próximos anos. Brasília: Organização Internacional do
Trabalho, 2009. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/
files/topic/green_job/pub/empregos_verdes_brasil_256.pdf>. Acesso em:
29 jun. 2015.

Outro ponto em discussão é a possibilidade da utilização do conceito de disposição a pagar. Por


exemplo: comparar bairros, cidades, estados e países com elevada e baixa poluição, comparar o preço
dos imóveis em ambos os locais e medir a disposição a pagar dos moradores dos locais com elevada
poluição para a redução dessa externalidade negativa, criando o indicador de custos de (des)poluição
do ar.

E, por fim, a inserção no sistema de contas nacionais de duas rubricas, uma como degradação do
meio ambiente do lado de usos (débito) e uma de investimentos em antipoluentes do lado de recursos
(crédito). Esse tipo de decisão seria bem interessante do ponto de vista econômico, pois o país que mais
degradar o seu meio ambiente estará, ao mesmo tempo, reduzindo seu valor do PIB, caso não faça
investimentos eficazes em antipoluentes e elevação do bem-estar social e econômico.

Resumo

A contabilidade social representa atualmente uma evolução da ciência


econômica ao final do século XX, de forma mais específica, da teoria
macroeconômica, no sentido de passar a mensurar não apenas a parte
quantitativa da economia ou o crescimento econômico, mas também a
parte qualitativa ou desenvolvimento econômico.

Seu objetivo é medir o produto, a renda e a despesa agregadas, isto é,


medir a variável mais importante de um país, que é o Produto Interno Bruto
80
Contabilidade Social

(PIB), que revela se uma economia cresceu ou não, mas também medir a
qualidade desse crescimento econômico.

Esse avanço foi possível devido à publicação do livro de John Maynard


Keynes, Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, em 1936, que
possibilitou entender algumas variáveis e criar identidades entre diferentes
agregados macroeconômicos.

A identidade produto ≡ despesa ≡ renda não implica nenhuma relação


de causa e efeito da variável produto para despesa e da variável despesa
sobre a renda, mas que podemos chegar ao resultado do PIB por meio
de três óticas diferentes ao somarmos a produção de todos os bens finais
produzidos (ótica da despesa), somar todos os valores adicionados em
cada etapa de produção (ótica do produto) ou ao somarmos todas as
remunerações dos fatores de produção (ótica da renda).

A partir dessas identidades, as contas nacionais passaram a ter um


melhor equilíbrio interno e externo a partir do princípio das partidas
dobradas, em que para um crédito, há um débito e vice-versa.

Todo esse movimento de produto, despesa e renda é visualizado, de


forma simples, no fluxo circular da renda entre empresas e famílias em que
temos a oferta de bens e serviços por pagamentos, a oferta de fatores de
produção por remunerações.

Com a entrada de mais dois agentes econômicos, além de empresas e


famílias, governo e setor externo, a demanda agregada passa a ter mais
variáveis, como gastos do governo, exportação e importação. Do lado
externo, ainda teremos a renda líquida enviada e recebida do exterior, o
que permitirá trabalhar com uma ótica interna e nacional, isto é, produto e
renda internos e nacionais.

A mensuração das contas nacionais não é algo tão simples. Há três


tipos de problemas que são enfrentados para podermos mensurar,
valorar, comparar e analisar a riqueza de dados dessas contas. Os
problemas técnicos estão relacionados à variação de preços de um ano
para o outro devido à inflação. Para não cometermos erros, passa a
ser necessário calcular, além do PIB nominal, o PIB real, por meio da
criação de um número-índice que permite deflacionar os dados de um
ano para o outro.

Ainda nessa mesma categoria de problema, temos sempre o objetivo


de fazer comparações internacionais, em que a taxa de câmbio comercial
apresenta variações de mercado, sendo necessário o cálculo da taxa de
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Unidade I

câmbio com base no conceito de paridade do poder de compra (PPC ou


PPP), calculado sobre os bens e serviços tradables, que são mercadorias ou
cestas de bens idênticas entre todos os países.

O segundo problema está relacionado às questões operacionais,


como as atividades econômicas informais, que, dentro da economia
subterrânea, utilizam recursos, como matéria-prima e fatores de
produção, além da venda dessa produção, mas geram assimetria de
informação ao não seguir a lei, pagar impostos e informar os recursos e
usos utilizados. Ainda se constitui um desafio identificar e localizar esse
tipo de atividade para inserir seus dados no PIB. E, por fim, o terceiro
problema está relacionado às atividades não monetizadas ligadas às
economias de subsistência em que o IBGE procura estimar o valor desse
tipo de produção e imputar o mesmo valor no PIB, e a degradação do
meio ambiente, considerada uma externalidade negativa e que segue
em discussão sobre a possibilidade de se completar as contas nacionais
com uma conta que considere essa degradação.

As contas nacionais no Brasil são realizadas pelo IBGE, que segue


recomendações internacionais com base no manual System of National
Accounts 1993. A metodologia recente segue a revisão de conceitos
apresentada no novo manual System of National Accounts 2008. As
atualizações são realizadas em períodos específicos como forma de se
evitar que os anos da série percam comparabilidade.

As informações das contas nacionais passaram a ser apresentadas


por Tabelas de Recursos e Usos (TRU), que mostram os fluxos de
oferta e demanda dos bens e serviços e a renda gerada no processo
produtivo por cada atividade econômica, e pelas Contas Econômicas
Integradas (CEI), que dão uma visão de conjunto da economia, por
setor institucional, e descrevem a produção, consumo e acumulação e
suas identidades.

Exercícios

Questão 1. Seja a função de produção da economia dada por Yt = Akt, onde Y é o produto, A é a
tecnologia (constante) e K é uma medida ampla do estoque de capital (inclui capital físico e humano).
Nesta economia, a taxa de poupança é igual a 20% ao ano, a população é constante e o nível de
tecnologia é A = 0,4. A esse respeito, qual afirmativa é verdadeira?

A) As taxas de crescimento do capital e do produto são iguais a 8% a.a.

B) As taxas de crescimento do capital e do produto são iguais a 6% e 8% a.a., respectivamente.


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Contabilidade Social

C) A produtividade é crescente.

D) O modelo prevê a convergência da renda per capita entre países com parâmetros idênticos e
diferentes níveis iniciais de renda per capita.

E) Um aumento da taxa de poupança elevaria, temporariamente, a taxa de crescimento do produto.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: o crescimento do estoque de capital é dado pela taxa de poupança aplicada à taxa de
crescimento da renda, ou seja, Kt = sYt (0 < s< 1). A taxa de poupança dada no enunciado é de 20%;
assim, Kt = 0,20Yt. Portanto, como sabemos que a razão de crescimento da renda pelo crescimento do
capital nessa questão é de 0,4, teremos 0,20 x 0,40 = 0,08. Ou seja, a taxa de crescimento do capital é
de 8% a.a., conforme indica a alternativa. Essa taxa de crescimento do capital produto (Kt/K) em 8% a.a.
implica crescimento do produto (Yt/Y), pois K t = 0, 2Yt ⇒ K t = Yt . Ou seja, as taxas de crescimento
K 0, 2Y K Y
do produto e do capital são as mesmas.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: conforme demonstrado na análise da alternativa A, que está correta, ambas as taxas de
crescimento, do produto e de capital, são iguais, sendo de 8% a.a.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: nada há nesse enunciado que indique essa possibilidade, ainda mais que o nível de
tecnologia mantém-se constante.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse modelo não prevê convergência, pois apresenta razão de crescimento econômico
dada pelos parâmetros. Assim, o estoque inicial é relevante, pois diferenciará os resultados.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse modelo não prevê que a alteração do nível de poupança alteraria a dinâmica do
crescimento econômico de forma permanente.

Questão 2. A década de 1980 foi dominada pela inflação e pelo desequilíbrio externo, para os quais
concorreu (concorreram):

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Unidade I

A) O elevado nível da atividade econômica em todo o período.

B) O serviço da dívida externa e a inflação, herdados da década anterior.

C) O saldo positivo da balança comercial.

D) Os projetos de investimento do período, visando a completar a estrutura industrial brasileira.

E) Os juros reduzidos no mercado internacional.

Resolução desta questão na plataforma.

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