O Amor
Vamos Levar a Sério
David Roper
Jacó estava voltando para casa. Ele estava
todo apreensivo, pois logo estaria cara a cara
com Esaú, o irmão de quem ele havia usurpado
o direito de primogenitura. A noite anterior ao
encontro com Esaú foi terrível para Jacó. A Bíblia
diz que ele lutou a noite toda com um anjo
(Gênesis 32:24; veja também Oséias 12:3, 4). Ele
não venceu a luta, nem tampouco perdeu 1 . De
fato, ele recebeu uma bênção por causa disso.
Quando estava amanhecendo, o anjo disse:
“Deixa-me ir, pois já rompeu o dia”, e Jacó
respondeu: “Não te deixarei ir se me não abençoa-
res” (Gênesis 32:26). Então o anjo mudou o nome
de Jacó para “Israel”, que significa “príncipe de
Deus” 2 (Gênesis 32:27, 28).
Nestas nove lições, estivemos nos esforçando
para entender o conceito bíblico de amor. Foi
uma experiência de humildade; o assunto é muito
extenso. Mas tentamos persistir e não nos dar por
vencidos. Não serei tão ousado a ponto de dizer
que vencemos; nem começamos a esgotar o assun-
to. Mas, por outro lado, não creio que tenhamos
perdido. Minha vida foi abençoada como resultado
desse empenho; espero que a sua também.
Agora que chegamos à ultima lição, deixe-
me partilhar com você a razão do título desta
série ser “Amor — Um Caso Sério”. Essa frase
tem um significado duplo. Primeiramente, eu
11
A referência em Oséias diz que Jacó teve mais
força que o anjo e “prevaleceu”, mas a questão parece
ser que, considerando o seu adversário, só o fato de lutar
até o empate já era uma proeza. Como estamos falando
de um adversário com recursos ilimitados, presumimos
que o anjo não usou toda a sua força, permitindo que Jacó
continuasse a lutar a noite toda. Tudo isto foi obviamente
uma lição para o bem de Jacó. Qual seria essa lição não
nos interessa analisar no momento.
12
Existem também outras possibilidades, como
“aquele que luta com Deus”.
quis enfatizar que esta é uma tentativa séria
de entender o conceito bíblico de amor. Existe
uma necessidade de se ensinar sobre o amor
cujo alvo principal é o coração. Eu seria insensato
se negasse isto quando nos últimos anos tantos
livros de auto-ajuda sobre o amor têm sido best-
sellers. A esperança, porém, é que existe também
a necessidade de se ensinar sobre o amor que co-
meça na cabeça e avança até o coração. De tempos
em tempos é bom retomar os fundamentos
básicos sobre o assunto, para re-enfatizar as bases
bíblicas do ensino cristão sobre este tópico.
A frase também é um jogo de palavras.
Quanto ao assunto do amor, a palavra “sério”
não pode ser usada para se referir somente a
uma abordagem aprofundada, mas também a
um relacionamento aprofundado. A jovem confi-
dencia: “Acho que o nosso namoro está ficando
sério”. Quando vemos um casal em idade de se
casar namorando, frequentemente perguntamos:
“Esse namoro é sério?” Espero que, em decorrên-
cia desta série, todos nós consideremos Deus e os
nossos semelhantes “um caso sério”.
Esta é a ênfase deste último estudo: vamos
levar a sério!
VAMOS LEVAR A SÉRIO
APRENDER SOBRE O AMOR
Levamos muito a sério nosso estudo sobre o
amor. Começamos estabelecendo uma base para
toda a série de lições, fazendo um estudo das
palavras gregas traduzidas por “amor”, numa
lição intitulada “Os Gregos Têm uma Palavra para
Isso”. Hoje, usamos a palavra “amor” de um
modo superficial. Dizemos que amamos qualquer
coisa, desde um prato especial, uma pessoa, até
uma flor. Falamos até em “fazer amor”.
Para nortear os nossos pensamentos em
relação ao amor, expusemos as quatro palavras
1
gregas para amor: 1) Eros refere-se a “atração
física”, o “amor bolo de morango”. 2) Storge é o
“amor de família”; designado como “amor da tia
Maria”. 3) Filia é a palavra para “amor de amigo”;
é o “amor do time de boliche”. 4) Agape é um ato
de vontade, ao qual chamamos “amor chuva-
sobre-justos-e-injustos”. Concentramos nossa aten-
ção em filia e agape. Eros nunca é usado no Novo
Testamento e storge é raramente citado, mas filia
encontra-se em quase todas as páginas da Bíblia.
A maior ênfase, porém, foi na palavra agape.
Ela é uma palavra especial para amor no Novo
Testamento. É a palavra que João usou quando
disse: “Deus é amor” (1 João 4:8, 16). É a palavra
usada em 1 Coríntios 13, o capítulo do amor.
Para salientar as qualidades distintivas de agape,
tivemos a lição “Amor Firme”, na qual observamos
algumas qualidades de agape: é o amor incondi-
cional. É o amor ativo. É o amor leal. É o amor
que não desiste. Uma das qualidades mais
distintivas é que ele é altruísta. Não está primeira-
mente interessado em receber; preocupa-se em
dar. Uma história de Victor Hugo ilustra bem
está última qualidade:
Após a revolução, uma mãe francesa foi
expulsa de sua própria casa com três filhos,
incluindo um bebê. Ela vagou pelas matas e
campos durante vários dias. A mãe e as três
crianças sobreviveram comendo raízes e fo-
lhas. Na terceira manhã, haviam se escondido
atrás de uns arbustos ao verem se aproximarem
alguns soldados e um sargento. O sargento
ordenou que um soldado investigasse o que
estava balançando os arbustos; e este puxou
para fora a mãe e as crianças. Foram colocados
ao lado do sargento, o qual imediatamente viu
que estavam morrendo de fome e deu-lhes
uma bengala de pão. A mãe olhou avidamente
para o alimento, como um animal faminto,
repartiu-o em dois pedaços, dando um pedaço
para um filho e o outro para o segundo filho.
“Ela não pegou nada para ela”, murmu-
rou o sargento.
“É porque ela não está com fome”, disse
um soldado.
“É porque ela é mãe”, acrescentou o
sargento. 3
Embora seja possível enumerar as característi-
cas do amor agape, é difícil defini-lo. Nem mesmo
no tratado mais longo e completo sobre o amor,
em 1 Coríntios 13, Paulo não tentou definir agape;
apenas o descreveu. Considerando que esse
grandioso capítulo é tão central para o assunto,
dedicamos duas lições a ele.
13
Extraído de Ninety-Three; citado por Charles Allen
em Faith, Hope, and Love (“Fé, Esperança e Amor”). Old
Tappan, N.J.: Fleming H. Revell Co., 1982, pp. 120–121.
2
O título da primeira foi extraído do último
versículo do capítulo anterior: “O ‘Caminho
Sobremodo Excelente’”. Paulo dá três razões para
o amor ser o caminho sobremodo excelente: a
primeira é a sua superioridade. Paulo nos informa
que, por maiores que sejam as habilidades de um
homem, sem amor ele não é “nada”.
Se eu tivesse as habilidades citadas em 1 Co-
ríntios 13:1–3, eu acharia que sou “alguma coisa”.
Sempre admirei pessoas que têm o dom de
aprender línguas estrangeiras. Eu não tenho esse
dom; faltam-me ouvidos para isso. Se eu pudesse
falar uma dúzia de línguas, eu acharia que sou
“alguma coisa”. Tenho uma biblioteca com alguns
milhares de volumes. Ainda não li uma parte do
que está escrito nesses volumes e guardei pouco
do que já li. Se eu soubesse tudo o que está
escrito nesses livros, eu acharia que sou alguma
coisa. A vida é cheia de mistérios. Se eu pudesse
solucionar um deles, eu acharia que sou alguma
coisa. Mas Paulo disse que não importa quais
sejam as minhas proezas, sem amor, eu não sou
nada, sou um zero à esquerda.
A terceira razão para o amor ser o caminho
sobremodo excelente é a sua estabilidade. Outras
coisas passam, mas o amor perdura. “Agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e o amor, estes
três” (1 Coríntios 13:13a). Se fizéssemos uma
lista das coisas que mais nos preocupam e tomam
o nosso tempo, uma alta porcentagem delas seria
de coisas temporárias, relativas ao aqui e agora.
As qualidades permanentes são fé, esperança e
amor, “porém o maior destes é o amor” (v. 13b).
Voltando à segunda razão, o amor é o caminho
sobremodo excelente por causa dos seus superla-
tivos, suas qualidades especiais estão enumeradas
em 1 Coríntios 13:4–7. Sendo elas o núcleo da expo-
sição de Paulo sobre o amor agape, ocupamos uma
lição inteira para discuti-las, numa lição intitulada
“A Resposta de Deus para Muitos Problemas”. O
amor é paciente, é bondoso, e não é ciumento. O
amor é humilde, cortês, altruísta e de boa índole.
O amor acredita no melhor. O amor é interessado.
Como a minha vida precisa dessas qualidades!
Depois de tentar definir o que o amor agape
é, enfocamos a verdadeira intenção da primeira
parte do segundo maior mandamento: “Amarás o
teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10:27). Para
muitos de nós essa isto é “O Amor Posto à Prova”.
Na parábola do bom samaritano, Jesus não deixou
dúvida de que o termo “próximo” inclui todos os
seres humanos (Lucas 10). De fato, no Sermão do
Monte, Cristo destacou que devemos amar até os
nossos inimigos (Mateus 5:44ss.). Isto nos forçou
a re-examinar o que agape realmente significa:
não necessariamente “sentir-se bem” com o ser
amado, mas sim “buscar o melhor” para o ser
amado. Em vez de revidar contra os inimigos,
devemos procurar ajudá-los, levantá-los e, se
possível, vencê-los através do nosso amor. O
grande exemplo desse tipo de amor é Jesus
na cruz, orando: “Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
Quando era menino, o talentoso tenor Roland
Hayes, ouviu um velho pregador falar sobre Jesus
durante o Seu sofrimento e morte. O ministro
encerrou os sermão com as seguintes palavras:
“Por mais cruéis que fossem aquelas pessoas, Jesus
nunca disse uma só palavra de murmuração”.
Anos depois, Roland Hayes viu-se diante de
uma platéia nazista hostil no Beethoven Hall, em
Berlim. À medida que os insultos e vaias foram
aumentando, ele foi ficando cada vez mais
furioso. Então, lembrou-se do sermão de tanto
tempo atrás: “Ele nunca disse uma só palavra de
murmuração”. E ficou ali em silêncio, orando,
até que a multidão se acalmou. Daí, começou a
cantar. Ele os venceu através do canto, sem
“nenhuma palavra de murmuração”.
Mas não queremos deixar a questão de amar
ao próximo no campo teórico. A seguir, tivemos três
lições de aplicação prática. Começamos com o
importante assunto do casamento, numa lição
intitulada “A Preparação para a Vida a Dois”. Reto-
mamos as palavras gregas eros, filia e agape e a
participação de cada uma delas na preparação e
na preservação de um bom casamento. Foi enfatiza-
do que hoje em dias são muitos os casamentos fun-
damentados basicamente emeros, a atração física.
O educador Harold Hazelip alega que este é
um dos principais fatores responsáveis pelo fra-
casso de muitos casamentos 4 . Ele comenta que o
escritor francês Denis de Rougemont, em Love in
the Western World (“O Amor no Mundo Ociden-
tal”), observa a existência de uma correlação
entre o alto índice de divórcios e o fato de “nos
casarmos por amor”. (Preciso parar para dizer
que “amor” aqui significa “amor romântico”, o
qual, num grande número de casos é sinônimo
de eros.) Hazelip também referiu-se ao notável
autor C. S. Lewis, que afirmou que eros pode unir
pessoas que não se combinam. Lewis disse que
um jovem é propenso a concluir: “É melhor ser
infeliz com ela do que feliz sem ela”.
14
Harold Hazelip, Happiness in the Home (“Felicidade
no Lar”). Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1985,
pp. 115–16.
Na lição sobre casamento, destacamos que
antes de duas pessoas se casarem, eros precisa
progredir para filia, amizade; e filia precisa
progredir para agape, compromisso. Sugerimos
que enquanto o casal mantiver esse amor compro-
misso, ambos serão capazes de resistir a qualquer
tempestade antes ou depois do casamento.
A seguir, mudamos do casamento para a
família, enfatizando que o amor é “O Núcleo do
Lar”. Nossa abordagem foi simples: cada membro
da família precisa amar cada um dos outros
membros da família.
O problema atual parece ser que estamos
ocupados demais. Emprestando a expressão de
1 Reis 20:40, estamos “ocupados daqui e dali”.
Estamos ocupados demais para dizer “eu te amo”.
Estamos ocupados demais para ser pacientes.
Estamos ocupados demais para resolver as
diferenças enquanto elas são pequenas. Estamos
ocupados demais para mostrar o quanto nos
importamos com os outros.
O amor dentro do lar deve começar com o pai
e a mãe. “Maridos, amai vossa mulher, como
também Cristo amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela” (Efésios 5:25). Recentemente,
li a respeito de um homem que tinha um hábito
peculiar, mas os maridos podem aprender algu-
ma coisa com esse homem.
Durante anos, ele tinha um encontro es-
pecial com a esposa toda quinta-feira à noite.
Ele vinha para casa à tarde, tomava banho e
se barbeava, vestia seu melhor terno, entrava
no carro e saía. Poucos minutos depois, volta-
va e tocava a campainha. A esposa o cumpri-
mentava à porta, e eles se sentavam por um
instante na sala de estar e conversavam.
Depois, saíam para jantar e se divertir juntos.
Ao voltar, ele estacionava ao carro na frente
da casa, escoltava a mulher até a porta, dava-
lhe um beijo de boa noite e depois guardava
o carro na garagem e entrava na casa pela
porta dos fundos.
…quando esse homem morreu, seu tú-
mulo ficou alagado com as lágrimas da esposa.5
Do lar, passamos para outra área prática: a
necessidade de amarmos um ao outro dentro da
igreja. O título da lição, “O Emblema dos Discí-
pulos”, foi extraído da afirmação de Jesus em João
13:35: “Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”.
Infelizmente, nem sempre é possível dizer que
somos discípulos de Jesus pela maneira como
nos relacionamos com os irmãos em Cristo. Certa
vez foi anunciado no término do culto de adoração
15
Allen, p. 157.
3
que um grupo envolvido num determinado projeto
se reuniria na casa de uma irmã. Após o culto,
uma mulher que fazia parte da mesma comissão
ralhou com o pregador: “Eu não vou na casa dela
depois de como ela me tratou no passado!” O
pregador olhou para a mulher por um instante e
então perguntou: “Quanto tempo faz que você é
membro desta congregação?” “Vinte e sete anos”,
respondeu ela. O pregador então citou os nomes
de todos os homens piedosos que haviam ocu-
pado o púlpito durante aqueles vinte e sete anos.
“Querida irmã”, disse ele com tristeza, “você
não ouviu nada nestes vinte e sete anos?”
Uma das maiores necessidades para nos
darmos bem com os irmãos é aprender a perdoar.
Jesus nos ensinou a orar: “Perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós temos perdoado aos
nossos devedores” (Mateus 6:12). Por alguma
razão interpretamos um espírito perdoador como
fraqueza. Parece que sentimos que estamos
fechando os olhos para o erro se perdoarmos.
Pensamos que, de alguma maneira, estaríamos
perdendo e a outra pessoa ganhando, se per-
doássemos. Mas quando Jesus orou na cruz:
“Pai, perdoa-lhes”, Ele demonstrou força e não
fraqueza. Ele não fechou os olhos para o mal,
mas obteve uma grande vitória.
Obviamente, é a cruz que por fim define e
demonstra o amor; por isso, quando nos aproxi-
mamos do fim desta série, voltamos à origem de
todo amor na lição “As Dimensões do Amor”.
João disse: “Nós amamos porque ele nos amou
primeiro” (1 João 4:19). O único exemplo perfeito,
totalmente abnegado de amor agape é Deus.
Vários anos atrás, John M. Templeton, um
norte-americano patrocinador de obras filan-
trópicas, financiou um prêmio Nobel religioso
no valor anual de 88.400 dólares a quem fosse
um “instrumento na ampliação do conhecimento
humano do amor de Deus” 6 . Não sei se alguém
recebeu o prêmio, mas duvido que alguém tenha
superado as expressões de amor do próprio Deus.
Cada gramado, cada arco-íris, cada sorriso de
um bebê declara que o nosso Deus ama (Tiago
1:17). Mas a maior demonstração do Seu amor é
a cruz. “Porque Deus amou ao mundo de tal ma-
neira que deu o seu Filho unigênito” (João 3:16).
Neste momento, a epidemia da AIDS continua
se alastrando. Há uma pequena porcentagem de
casos de contágio por transfusão de sangue e por
16
Publicado em Christianity Today; citado em Encyclo-
pedia of 7,700 Illustrations (“Enciclopédia de 7.700 Ilustra-
ções”). Rockville, Md.: Assurance Publishers, 1979, p. 493.
4
outros meios, mas a epidemia se concentra
principalmente na comunidade homossexual.
Milhões de impostos estão sendo gastos no
tratamento e na tentativa de se descobrir uma
cura. Imaginemos que um dia destes descobrem
a cura: se um determinado tipo de sangue for
encontrado, ele poderá ser usado para se fazer
um antídoto. Então, pouco tempo depois, alguém
bate à nossa porta. Uma pesquisa mundial revela
que somente uma pessoa em todo o planeta
possui esse sangue. É o seu filho recém-nascido,
seu único filho. E para desenvolver o antídoto
será necessária cada gota do sangue do corpo
dele. Para salvar todos os que têm AIDS, o seu
filho terá de dar a própria vida! Você concordaria
com isto? Concordaria? Duvido.
Mas nós tínhamos uma doença muito mais
mortal que a AIDS, causada pela nossa própria
teimosia, uma doença chamada “pecado” — e a
única cura era o sangue do único Filho de Deus.
Como Deus pôde pagar esse preço? Eu não sei;
jamais poderei entender, mas agradeço a Ele por
ter feito isso.
A natureza incompreensível desse gesto de
amor foi o tema dos comentários sobre “a largura
e o comprimento, e a altura e a profundidade”
do sacrifício de Jesus na cruz (Efésios 3:18ss.).
Chegamos agora a esta última lição. Estive-
mos estudando seriamente o amor. Agora, vamos
levar a sério a vivência do amor sobre o qual
temos estudado.
VAMOS LEVAR A SÉRIO
VIVER O AMOR
Deparei-me outro dia com um desenho que
mostrava um pregador debruçado num púlpito,
dizendo: “Este é o quarto sermão sobre o poder
transformador do evangelho. Por que vocês
ainda parecem ser o mesmo velho rebanho?” É
provável que o ministro estivesse esperando
demais (sem dúvida, ele parecia o mesmo velho
pregador), mas a pergunta dele tem alguma valia.
Depois de estudarmos o tema do amor juntos,
isto fez alguma diferença nas nossas vidas? Ou
“parecemos ser o mesmo velho rebanho”?
Depois de escrever o grande capítulo do amor,
Paulo admoestou seus leitores: “Segui o amor”
(1 Coríntios 14:1a). “Seguir” traduz uma palavra
grega que significa “seguir avidamente, esforçar-
se determinadamente para adquirir;… pressionar
para frente” 7 (grifo meu). Este mundo é forte e
17
Analytical Greek Lexicon (“Léxico Grego Analítico”).
Londres: Samuel Bagster & Sons Ltd., 1971, reimpressão,
p. 104.
dinâmico. Não basta simplesmente aprendermos
sobre o amor, precisamos fazer alguma coisa.
Desde que comecei a redigir estas lições,
tenho indagado: “Por que há tão pouco amor
autêntico no mundo?” Todos parecem concordar
com o fato de que o mundo precisa urgentemente
de amor, um amor gentil. Toda vez que alguém
fala da necessidade de mais amor, todos ba-
lançam a cabeça vigorosamente. Mas, ao mesmo
tempo, o mundo em geral parece estar ficando
cada vez mais mesquinho. Por quê?
Cheguei à conclusão de que o que muitos de
nós queremos dizer com “o mundo precisa de amor”
é: “Eu preciso de amor. Eu me sinto sozinho. Eu
preciso de alguém que me entenda. Eu preciso de
alguém que seja amável comigo”. Quando nossa
filha mais velha, Cindy, era uma coisa minúscula
e aprendeu na aula bíblica a dividir, durante
semanas ela só ficava dizendo: “Divide comigo;
divide comigo!” Receio que, depois de falarmos
sobre a necessidade de amar, muitos fiquem
parados dizendo: “Me ame; seja gentil comigo”.
Se isto for verdade, não é de admirar que o
mundo não esteja se tornando mais amoroso.
Sejamos objetivos. Depois de estudarmos nove
lições juntos, a maioria de nós provavelmente
tem uma ótima idéia sobre o que significa ser
uma pessoa amorosa. Então por que você não é
mais amoroso? Por que eu não sou mais amoroso?
Porque para ser uma pessoa mais amorosa, tenho de
mudar e eu não gosto de mudar.
Se eu pedisse para levantarem as mãos todos
os que gostariam de ser melhores, a maioria das
pessoas ergueria as mãos. Mas a verdade é que,
no íntimo do nosso ser, não queremos ser melho-
res, porque para isto temos de mudar. E mudar
implica dor. Para mudar temos de sair da zona de
conforto, e pouquíssimas pessoas realmente gos-
tam disso. Se você não acredita em mim, tente fazer
uma coisa tão simples quanto convencer algumas
pessoas a se sentarem num lado do auditório
diferente, onde não costumem se sentar nos
últimos anos ou décadas! Independentemente
de quanto apoiemos as mudanças, mesmo em se
tratando de mudanças necessárias, o fato
é que “gostamos das coisas do jeito que elas estão”.
O desafio final desta série, portanto, é que
nos mobilizemos no sentido de sair da nossa
zona de conforto, que nos machuquemos um
pouco se for necessário para nos tornarmos
pessoas mais amorosas, e que amemos mais a
Deus e aos nossos semelhantes.
Em primeiro lugar, leve a sério amar a Deus.
Depois que Jesus ressuscitou dos mortos,
Ele apareceu a Pedro e a vários outros discí-
pulos junto ao mar da Galiléia. Em pé na praia,
Jesus olhou para um homem que O havia negado
três vezes e lhe fez uma série de perguntas (veja
João 21:15–17).
Imagine-se por um instante no lugar de Pedro.
O Senhor está olhando nos seus olhos. Talvez as
mãos dEle estejam sobre os seus ombros. Ele
olha para dentro da sua alma, enquanto diz o seu
nome e depois pergunta: “Você me ama?” Assim
como Pedro, você tem plena consciência de que
O abandonou mais de uma vez. Qual seria a sua
resposta? Qual seria a minha resposta se Jesus
me fizesse essa pergunta?
Amar a Deus, amar a Jesus é o ponto de
partida do amor. Eu realmente amo a Deus? Ou
simplesmente digo que amo a Deus?
Muitas vezes durante esta série, comentamos
a superficialidade do amor eros, um amor que se
declara apaixonado, mas sem assumir compro-
misso — um “amor” que é egocêntrico. A aplica-
ção desse tipo de amor foi em relações humanas,
especialmente no casamento. Todavia, o autor
Charles Allen comenta que também é possível
ter esse tipo de “amor” por Deus:
Fingimos que amamos a Deus, mas geral-
mente temos um motivo mais profundo. Não
é Deus que queremos — e sim paz mental, ou
força para viver, ou a resposta para as nossas
orações, ou queremos escapar do inferno, ou
queremos a providência de Deus. E, tantas ve-
zes, quando algo perturbador nos acontece,
esfriamos na fé com ressentimento e amargura.8
Será que realmente amamos a Deus? Temos
realmente um compromisso com Deus? Temos o
compromisso de obedecer a Ele aconteça o que
acontecer? Temos o compromisso de ficar com
Ele aconteça o que acontecer? É visível em nossas
vidas que nós O amamos?
Quando Jesus perguntou pela primeira vez a
Pedro se ele O amava, a pergunta inteira era:
“Amas-me mais do que estes outros?” “Estes
outros” no caso de Pedro referia-se às redes, aos
barcos, aos peixes, todas as coisas que, no passa-
do, eram essenciais na vida de Pedro. No seu caso,
“estes outros” se refere a que? E no meu caso?
Quais coisas são tão importantes para mim, fazem
parte da minha vida ou talvez do meu passado?
Bens? Família? Profissão? Amigos? Posição?
Talvez você queria fazer um auto-exame por um
momento e preencher as lacunas. Depois disso,
visualize novamente Jesus olhando nos seus
18
Allen, p. 148.
5
olhos com a penetrante interrogação: “Amas-me
mais do que estes outros?” O que você diria? O
que eu diria? Deus está realmente em primeiro
lugar em nossas vidas e em nossas afeições?
Anos mais tarde, aquele a quem Jesus primei-
ramente fez essa pergunta escreveu duas cartas
para companheiros cristãos. Em sua primeira
carta, ele teve isto a dizer a respeito do relaciona-
mento dos seus leitores com Deus: “A quem, não
havendo visto, amais” (1 Pedro 1:8). Que isto se
aplique a cada um de nós! Vamos levar mais a
sério o nosso amor a Deus.
E agora, vamos levar a sério o amor entre nós.
Depois que Pedro conseguiu responder, em
outras palavras: “Sim, eu amo o Senhor”, Jesus
disse: “Pastoreia os meus cordeiros” (João 21:16).
Na verdade, Ele disse isto três vezes.
Jesus é tão prático. É fácil dizer: “Sim, eu te
amo, Jesus”. Jesus diz a Pedro: “Prove isto cui-
dando das minhas ovelhas”. Lembre-se: “Aquele
que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode
amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4:20).
Será que Pedro entendeu? Abramos as nos-
sas Bíblias em Atos 3. Os acontecimentos descri-
tos ali ocorreram algum tempo depois da cena na
praia. Jesus havia voltado para o Pai. A igreja
tinha se estabelecido. Agora, Pedro e um apóstolo
estão a caminho do templo, provavelmente para
pregar as boas novas de Jesus. Quando eles
chegam à Porta Formosa, um paralítico pede
esmolas. Pedro lhe diz: “Não possuo nem prata
nem ouro” (v. 6). Isto não é triste? Ele não tem
nada para colocar no chapéu do homem.
Mas existe algo maravilhoso a respeito do
amor. O amor sempre tem alguma coisa para dar. Pode
não ser o que foi pedido, nem o que se espera,
mas o amor sempre tem alguma coisa para dar.
Pedro então diz: “…mas o que tenho, isso te dou”.
Isto é tudo o que Deus pede. O que nós realmente
temos. Deus não espera de nós mais do que somos
capazes de dar, mas Ele espera de nós tudo o que
somos capazes de dar. Pode ser que não tenhamos
um milhão de dólares para dar às pessoas, mas
temos palavras de amor, atos de bondade e uma
linha direta até o ouvido de Deus em favor delas.
Vamos dar o que temos.
Quando Pedro deu o que ele tinha, o paralítico
foi curado e começou a pular e louvar a Deus
(vv. 6–8)! Quantas pessoas poderiam ser curadas
espiritual e emocionalmente, se aprendêssemos
a dar o que temos — e a dar com amor. “Apascenta
os meus cordeiros”, disse Jesus a Pedro. “Pasto-
reia as minhas [pequenas] ovelhas”. “Apascenta
as minhas ovelhas.”
6
Recordemos: o amor supre qualquer necessi-
dade. O amor satisfaz qualquer necessidade. Al-
guém disse que o amor passa por todo o alfabeto
espiritual. Deixe-me mostrar o que isto quer
dizer. O amor:
Aceita: Eu amo você, eu aceito você como
você é.
Bendiz: Eu amo você, eu falo bem de você.
Cuida: Eu amo você, eu cuido de você quando
você está ferido.
Deseja: Eu amo você, eu desejo o melhor para
você.
Espera: Eu amo você, eu espero você mudar.
Favorece: Eu amo você, eu favoreço você no
que eu puder. 9
Você pode continuar a lista a partir daqui.
CONCLUSÃO
Chegamos agora ao encerramento desta série
de estudos. Alguns de vocês foram tão fiéis no
estudo deste grandioso tema do amor. A estes eu
teria muito prazer em entregar um certificado
FALS (Fraternidade do Amor Levado a Sério).
Mas o curso não acabou. Recebemos a instrução
e as orientações, mas agora vocês e eu precisamos
fazer o dever de casa. Que Deus nos abençoe
enquanto fazemos isto.
Talvez seja porque o mundo está mudando
tanto; talvez seja porque estou ficando velho;
mas tenho uma forte impressão de que o tempo
está encurtando — e ainda não somos o que
deveríamos ser. Eu não sou o que deveria ser; eu
não sou a pessoa amorosa que deveria ser.
Willard Tate conta uma triste história de um
moço 10 . Ele ingressou na Marinha porque seu
pai havia servido a Marinha. Mas o coração do
moço não estava realmente ali. Ele teve um
problema de disciplina e foi expulso por ofensa
grave. O coração do pai ficou moído e renegou o
filho. O rapaz mudou-se para uma outra parte
do país e refez a vida, mas sentia sempre um
peso no coração por não ter o amor nem a
aprovação do pai. Um dia, ele soube que seu pai
estava gravemente doente, e foi imediatamente
até ele. Mas, quando chegou à beira da cama do
pai, este já estava inconsciente. A triste história
termina com o rapaz chorando porque sabia que
jamais ouviria aquelas palavras que significariam
que tudo estava bem entre ele e o pai.
Esta história me corta o coração, mas deixe-
19
Adaptado de uma variedade de fontes.
10
Tate, p. 28. A história é extraída de The Blessing (“A
Bênção”) por Smalley e Trent.
me contar uma história que tem um fim mais
trágico: e se nós terminarmos os nossos dias na
terra sem nunca dizer as palavras nem fazer as
coisas que nos reconciliariam com Deus? Sem
nunca dizer as palavras nem fazer as coisas que
fariam os outros saberem o quanto os amamos?
Que Deus nos ajude a levar o amor a sério!
Vamos cantar agora um cântico de convite.
Aqui está uma oportunidade de ouro para você
dizer a Deus e aos demais presentes: “Eu ainda
tenho um coração que pode ser tocado. Eu quero
mostrar o meu amor…” †

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