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O Jogo da Corrupção

Uma Abordagem Matemática para um


Fenômeno Ético
João Navarro C. Vale
2018

Este projeto apresenta um modelo para analisar a corrupção política através de um jogo de
caça-e-fuga, com até quatro jogadores.
Índice

Introdução.................................................................................................................................... 4
1. Teoria dos Jogos .................................................................................................................. 5
1.1. Utilitarismo e Escolha Racional .................................................................................... 5
1.2. Conceitos e Tipos de Jogos ........................................................................................... 6
1.3. O Dilema do Prisioneiro................................................................................................ 7
1.4. O Jogo da Propina ......................................................................................................... 8
2. Teoria da Corrupção ......................................................................................................... 10
2.1. Corrupção Política ....................................................................................................... 10
2.2. Controle da Administração Pública............................................................................. 12
3. Caça-e-Fuga ....................................................................................................................... 14
3.1. Matriz .......................................................................................................................... 14
3.2. Equilíbrio..................................................................................................................... 18
3.3. O Tabuleiro da Corrupção ........................................................................................... 20
4. O Jogo da Corrupção Ativa.............................................................................................. 25
4.1. Matriz .......................................................................................................................... 25
4.2. Equilíbrio..................................................................................................................... 27
4.3. O Comportamento do Corruptor Ativo ....................................................................... 32
4.4. Corrupção Ativa e o Triângulo Bom ........................................................................... 36
5. O Jogo do Controle Externo ............................................................................................. 37
5.1. Matriz .......................................................................................................................... 37
5.2. Equilíbrio..................................................................................................................... 38
5.3. O Comportamento do Controlador Externo ................................................................ 43
5.4. Controle Externo e o Triângulo Bom .......................................................................... 47
6. O Jogo Expandido da Corrupção .................................................................................... 47
6.1. Matriz .......................................................................................................................... 47
6.2. A Sociedade Quadrilátera............................................................................................ 49
6.3. A Relação Tácita entre Atores Privados...................................................................... 53
6.4. O Comportamento dos Atores Privados ...................................................................... 56
6.5. Sociedades Ideais ........................................................................................................ 59
7. Considerações Finais ......................................................................................................... 63
Referências ................................................................................................................................. 68
Anexos ........................................................................................................................................ 69
A – Recompensa por Produtividade Policial ........................................................................... 69
B – Controle Interno Corruptível ............................................................................................ 69
C – Poder Policial vs. Poder Disciplinar ................................................................................. 71
D – O Poder da Mídia ............................................................................................................. 72
E – O Papel da Assimetria de Informações ............................................................................. 74
F – A Relação Explícita entre Atores Privados ....................................................................... 74
G – Brasil e China: um breve estudo de caso .......................................................................... 74

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Lista de Tabelas e Figuras

Figura 1. O Dilema do Prisioneiro ................................................................................................ 7


Figura 2. O Jogo da Propina .......................................................................................................... 9
Figura 3. Teoria da Corrupção .................................................................................................... 13
Figura 4. Jogo-Base (Resultados)................................................................................................ 14
Figura 5. Jogo-Base (payoffs) ..................................................................................................... 15
Figura 6. Jogo-Base (probabilidades).......................................................................................... 17
Figura 7. Modelo Cíclico da Corrupção ...................................................................................... 17
Figura 8. Gráfico da Corrupção................................................................................................... 20
Figura 9. Ordem dos Resultados ................................................................................................. 21
Figura 10. Fronteira da Impunidade (y = x) ................................................................................ 22
Figura 11. Fronteira da Inocência (1 - x = y) .............................................................................. 22
Figura 12. O Tabuleiro da Corrupção ......................................................................................... 23
Figura 13. Trade-offs e Ordens de Preferência ........................................................................... 23
Figura 14. Áreas Preferidas dos Jogadores Principais ................................................................ 24
Figura 15. Matriz da Corrupção Ativa ........................................................................................ 26
Figura 16. Vetor 𝒘 ...................................................................................................................... 29
Figura 17. A Curva G/I no Tabuleiro da Corrupção ................................................................... 31
Figura 18. Três Fases da Impunidade Privada ............................................................................ 32
Figura 19. Variação de 𝑮𝑰 e (w) ................................................................................................. 34
Figura 20. Regra da Elasticidade Relativa .................................................................................. 35
Figura 21. Pressão Ética e Impunidade Privada .......................................................................... 35
Figura 22. Matriz do Jogo do Controle Externo.......................................................................... 37
Figura 23. Vetor 𝐳 ....................................................................................................................... 40
Figura 24. A Curva 𝑨𝑻 no Tabuleiro da Corrupção.................................................................... 42
Figura 25. Duas Fases da Responsabilidade Cidadã ................................................................... 43
Figura 26. Dois Equilíbrios de Nash no Controle Externo.......................................................... 44
Figura 27. Regra da Posição do Vetor 𝐳...................................................................................... 45
Figura 28. O Cidadão Errático .................................................................................................... 45
Figura 29. Pressão Ética e Responsabilidade Cidadã .................................................................. 46
Figura 30. Regras Básicas do Jogo da Corrupção ....................................................................... 47
Figura 31. Matriz do Jogo da Corrupção..................................................................................... 48
Figura 32. Vértices do Quadrilátero ............................................................................................ 49
Figura 33. Formato segundo a Intensidade ................................................................................. 50
Figura 34. Formato segundo a Elasticidade ................................................................................ 50
Figura 35. Composição da Área .................................................................................................. 52
Figura 36. Responsabilidade Cidadã e Impunidade Privada ....................................................... 55
Figura 37. Três Áreas de Comportamento .................................................................................. 57
Figura 38. Sociedades-Modelo.................................................................................................... 59
Figura 39. Condições Ideais ........................................................................................................ 60
Figura 40. Sociedades Ideais ....................................................................................................... 62
Figura 41. Variáveis Output (probabilidades) ............................................................................. 66
Figura 42. Variáveis Input (payoffs) ........................................................................................... 67

3
Introdução

A corrupção se apresenta como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento


no século XXI. Algumas das principais economias emergentes, como Brasil e China,
têm sido abaladas pela agenda do combate à corrupção nos últimos cinco anos. Trata-se
de um problema ético-moral, com profundas consequências políticas e econômicas. A
corrupção pode ser um entrave ao investimento, à legitimidade e à rigidez institucional.
Contudo, parece ser um fenômeno universal e atemporal, tão humano quanto o desgosto
por ele.
O estudo científico da corrupção esbarra em realidades abstratas, como valores,
crenças e interesses. A ciência política desenvolve métodos para analisar essas
realidades abstratas. Existem diversas instituições renomadas como, por exemplo, a
Transparência Internacional; a Transparência Brasil; o World Justice Project; etc.; que
se dedicam a medir, comparar e combater a corrupção política.
Neste projeto, buscar-se-á relacionar um fenômeno eminentemente jurídico, a
corrupção política, que está no limiar entre o Direito Penal e o Direito Administrativo; e
um modelo eminentemente econômico, a Teoria dos Jogos. Será proposta uma
ferramenta de mensuração, comparação e combate à corrupção, baseada em quatro
elementos arquetípicos que compõem o fenômeno. Critérios éticos e morais darão lugar
a uma análise estritamente utilitarista.
Como resultado, espera-se obter um modelo que possa ser utilizado para
complementar indicadores existentes, subsidiar políticas públicas de prevenção e
repressão a corrupção e, de maneira geral, contribuir para a redução da criminalidade e
aumento do desenvolvimento humano.
No primeiro capítulo, há uma breve introdução sobre o que é a Teoria dos Jogos,
com a demonstração de dois exemplos que se relacionam diretamente com o tema da
corrupção. No segundo capítulo, haverá uma sucinta descrição do que é a Teoria da
Corrupção, de onde serão extraídos os pressupostos do jogo. O terceiro capítulo
apresenta a relação de caça-e-fuga estabelecida entre os dois jogadores “principais”.
Nos capítulos seguintes o jogo será expandido para incluir os dois jogadores
“auxiliares”. Por fim, as principais conclusões do modelo são apresentadas, com suas
implicações práticas. As referências estão devidamente mencionadas ao final.
As fontes principais incluem manuais de teoria dos jogos, como o de Dixit e
Skith, Games of Strategy; manuais de direito e legislação pertinente à corrupção
política, e outros textos acadêmicos que contribuem para a análise do fenômeno. Todas
as referências estão devidamente mencionadas ao final do texto.
Não é a intenção deste projeto apresentar uma teoria geral e definitiva para a
corrupção política, mas, sim, contribuir no permanente desafio de confrontar o
problema.

4
1. Teoria dos Jogos

1.1. Utilitarismo e Escolha Racional

Existe um ditado em inglês que diz “é impossível comparar laranjas e maçãs”.


De fato, não se pode falar que uma maçã é uma “boa laranja” ou vice-versa. Em
essência, esse ditado quer dizer que existem realidades e valores incomparáveis em
termos de importância, afeição, ou mesmo rejeição. O Utilitarismo é uma filosofia que
nega esse ditado. Afinal, existem inúmeras formas em que se podem comparar uma
laranja e uma maçã.
O conceito basilar do utilitarismo é a utilidade que pode ser explicada como o
valor, ou a “nota” que uma pessoa atribui a um fato. No exemplo em tela, seria possível
perguntar para qualquer indivíduo, em uma escala utilitária onde 0 (zero) significa
“detesto” e 10 (dez) significa “adoro”, qual é a “nota” que eles dão para uma maçã e
uma laranja. Números, ao contrário de frutas, podem ser facilmente comparados. Eles
fornecem parâmetros sobre a intensidade e ordem de preferências. O utilitarismo
influencia fortemente as ciências sociais, particularmente a Economia e a Ciência
Política, e está na raiz metodológica de pesquisas de mercado e sondagens eleitorais,
por exemplo.
Imagine-se que uma pessoa atribua, na escala utilitária exemplificada acima, a
nota 9 (nove) para maçãs e 8 (oito) para laranjas. Isso quer dizer que essa pessoa gosta
muito de maçãs e laranjas, mas ainda prefere as maçãs. Outra pessoa atribui nota 3 (três)
para maçãs e 2 (dois) para laranjas. Essa pessoa não gosta de maçãs tampouco de
laranjas, mas, também, prefere as maçãs. Caso ambas as pessoas tivessem que escolher
uma das frutas, apesar de apresentarem intensidades diferentes, ambas escolheriam a
maçã.
A Teoria da Escolha Racional pressupõe que um indivíduo racional é
maximizador de utilidade. Isso significa que, defronte a uma escolha, ele ou ela
analisará as suas preferências em uma escala de utilidade e escolherá o seu preferido.
Portanto, a ordem das preferências importa muito mais do que a intensidade. Ademais,
a escolha racional pressupõe que indivíduos racionais tenham preferências completas
(isto é, que sejam capazes de atribuir uma nota numérica para cada elemento possível) e
transitivas (isto é, que as preferências tenham uma ordem necessariamente lógica entre
elas).
Para entender o que é uma pessoa racional, podemos imaginar uma pessoa que
não é racional. Suponha-se que um indivíduo tenha que escolher entre três candidatas
(A), (B) e (C). Podemos capturar a transitividade de preferências do indivíduo
perguntando a ele qual candidata ele prefere, dentre cada par de candidatas:

O indivíduo prefere a candidata (A) à candidata (B) → (𝐴 > 𝐵).


O indivíduo prefere a candidata (B) à candidata (C) → (𝐵 > 𝐶).
O indivíduo prefere a candidata (C) à candidata (A) → (𝐶 > 𝐴).

5
Podemos observar que inexistem números reais que satisfaçam a condição: (𝐴 >
𝐵 > 𝐶 > 𝐴). Portanto, esse indivíduo não apresenta transitividade entre suas
preferências e não é considerado racional, segundo a Teoria da Escolha. Ele não
consegue escolher uma candidata que lhe forneça máxima utilidade.
Transitividade de preferências não significa necessariamente uma relação de
superioridade/inferioridade. Imagine uma pessoa que, dentre as candidatas acima,
apresenta a seguinte ordem de preferências:(𝐴 = 𝐵 > 𝐶). Isso quer dizer que essa
pessoa está indecisa entre as candidatas (A) e (B), mas não seria considerada racional se
escolhesse a candidata (C).
Portanto, a Teoria da Escolha Racional diz respeito à ação de indivíduos perante
suas próprias preferências. Já a Teoria dos Jogos concerne à interação entre indivíduos
racionais em busca da maximização de utilidade. Trata-se de uma racionalidade
“elevada” que é chamada de estratégia. Chama-se situação estratégica (ou jogo)
qualquer situação onde dois ou mais indivíduos racionais (jogadores), munidos de ações
(jogadas), buscam maximizar seus ganhos ou minimizar suas perdas (payoffs), levando
em consideração que a jogada do outro jogador afeta seu resultado (estratégia). Existem
diversos conceitos e tipologias associadas à Teoria dos Jogos, que serão abordadas na
próxima seção.

1.2. Conceitos e Tipos de Jogos

Jogos podem ser sequenciais, quando os jogadores jogam em turnos; ou


simultâneos, quando jogam ao mesmo tempo, ou quando não sabem as jogadas uns dos
outros de antemão. Neste projeto, será tratado exclusivamente de jogos simultâneos, que
são tradicionalmente apresentados por uma matriz, onde todos os possíveis resultados
do jogo estão listados. Uma vez enumerados, estabelece-se a relação de preferências de
cada jogador por todos os resultados e, assim, delineia-se a melhor estratégia para cada
ator. As matrizes de jogos serão mais bem explicadas conforme forem aparecendo.
Ademais, jogos podem ser simétricos, quando os payoffs dos jogadores são
análogos; ou assimétricos. Podem ser estáticos, quando jogados apenas uma vez; ou
iterados no tempo. Além desses aspectos, existe uma classificação de jogos por
“famílias”. Uma “família” de jogos é aquela onde os payoffs obedecem a algumas
condições específicas, tornando-os jogos semelhantes. O “dilema do prisioneiro” é o
exemplo mais clássico de uma família de jogos (de cooperação e defecção). Neste
projeto, a corrupção será analisada como outro tipo de família, que se chama “caça-e-
fuga” (pursuit-evasion) e cujo exemplo principal é o jogo dos “policiais e ladrões”
(cops-and-robbers). Antes, contudo, passaremos à análise do dilema do prisioneiro e do
“Jogo da Propina”, que é uma discussão acerca de como a Teoria dos Jogos tem sido
aplicada no estudo e no combate da corrupção política.
O conceito mais relevante dentro da Teoria dos Jogos é o de Equilíbrio de Nash,
definido, grosso modo, como um resultado de jogo em que nenhum jogador tem
arrependimento, dado a jogada do outro. Esse conceito será explorado na próxima
seção, através de um exemplo.

6
1.3. O Dilema do Prisioneiro

Um empresário e um político foram presos pela prática de um crime, para o qual


a pena é dois anos de cadeia. Contudo, eles são, de fato, culpados de um crime maior,
para o qual a pena seria de quatro anos, mas do qual a polícia não tem provas. Uma vez
separados em celas distintas, ambos recorrem ao instituto da “delação premiada” que se
consiste no seguinte: se um prisioneiro delatar e o outro não delatar, então aquele que
delatou tem sua pena reduzida para um ano de cadeia e o outro tem sua pena aumentada
para quatro anos. Se ambos delatarem, ambos têm suas penas aumentadas para três anos
de cadeia. Se nenhum deles delatar, eles ficam presos por dois anos.
O dilema do prisioneiro é um jogo simultâneo e simétrico. Portanto, podemos
representá-lo sob a forma de uma matriz, onde um jogador (político) “controla” as
colunas e o outro (empresário), as linhas. Na matriz apresentada abaixo, os quatro
resultados possíveis foram listados de Q1 a Q4 e, conforme convenção, os payoffs do
jogador das colunas foram representados no canto superior direito de cada cédula, e os
da linha no canto inferior esquerdo. Nessa matriz, os payoffs estão na unidade “anos de
cadeia” e, portanto, foram simbolizados por números negativos, uma vez que
representam “utilidade perdida”.

Figura 1. O Dilema do Prisioneiro


Político
Delatar Não
-3 -4
Delatar Q1 Q2
-3 -1
Empresário
-1 -2
Não Q3 Q4
-4 -2

Para encontrar o Equilíbrio de Nash, cada jogador deve analisar a jogada do


outro “como um dado”. Isso quer dizer que o político vai comparar os casos em que o
empresário supostamente delata (Q1 e Q2), dos quais ele prefere Q1; e os casos em que
o empresário não delata (Q3 e Q4), dos quais ele prefere Q3. Dessa forma, percebe-se
que o político prefere a opção “delatar”, independentemente da jogada do empresário.
Devido à simetria do jogo, o mesmo é válido para o empresário, que irá comparar os
casos Q1 e Q3, dos quais prefere Q1; e os casos Q2 e Q4, dos quais prefere Q2.
Podemos perceber que ambos os jogadores têm fortes incentivos para sempre se
delatarem mutuamente, o que faria o resultado mais provável do jogo ser Q1, onde
ambos pegam três anos de cadeia. É importante ressaltar que isso configura um
equilíbrio em estratégias puras, uma vez que pelo menos um dos jogadores tem uma

7
estratégia que é sempre dominante. As setas inseridas na matriz representam a
dominância de estratégias, apontando da estratégia dominante para a dominada.
Isso significa que o político e o empresário, ambos racionais, na busca pela
maximização de sua utilidade, atingirão um resultado que não é ótimo, no sentido de
Pareto. Isto é, existe um resultado possível onde ambos podem ganhar mais (ou, nesse
caso, perder menos) sem que isso acarrete em custos para o outro. Caso nenhum deles
delatasse (Q4), ambos pegariam uma pena mais leve, mas ambos estariam
“arrependidos”, dado a jogada do outro.
O dilema do prisioneiro alterou paradigmas em estudos de Economia, por
comprovar matematicamente que a busca pelo interesse individual nem sempre
promove o bem coletivo. No caso específico do combate à corrupção, é desnecessário
dizer que o dilema do prisioneiro influenciou profundamente a Lei de Organização
Criminosa e o instituto da colaboração premiada, que já foi utilizada por centenas de
políticos e empresários no escopo da Operação Lava-Jato. Contudo, o dilema do
prisioneiro já foi aplicado, também, de maneira mais teórica para explicar a corrupção
como um fenômeno em si, e não para combatê-la. Existem literalmente centenas de
estudos que buscam relacionar corrupção e Teoria dos Jogos, e a maior parte deles
afirma que a corrupção se assemelha muito a um dilema do prisioneiro, pois é uma
situação em que os atores têm incentivos para serem desonestos, ainda que prefiram a
correição.

1.4. O Jogo da Propina

A primeira acadêmica que buscou relacionar corrupção e Teoria dos Jogos foi
Susan Rose-Ackerman, uma renomada professora da Universidade de Yale. Em 1978,
ela publicou Corruption: a study in political economy, em que analisou a relação
entre corruptores ativos e passivos nos Estados Unidos. Em 1999, escreveu Corruption
and Government, onde afirma claramente: “[m]ultinational firms face a [prisoners’]
dilemma when dealing with corrupt regimes. Each firm believes it needs to pay bribes,
but each knows that most of them would be better off if nobody paid.” (Rose-Ackerman,
1999, p. 88)
Seu trabalho também inspirou pesquisadores de todo o globo. Do Reino Unido,
John Macrae (1982) estudou o jogo da propina em países em desenvolvimento e
concluiu que: “a prisoner’s dilemma type of situation emerges with the added
complication that the judge and jailer may be corrupt.” (Macrae, 1982: p. 677).
Da China, os professores Sun Lianju and Peng Luyan (2011) escreveram Game
Theory Analysis of the Bribery Behavior, também analisando a relação entre
corruptores ativos e passivos, onde afirmam: “the game [of corruption] is a ‘prisoners'
dilemma’ apparently. The Pareto optimal solution of the game is not the unique Nash
equilibrium point but the situation ‘(no bribery, no bribery)’”(Lianju e Luyan, 2011, p.
106).
No Brasil, Marcos F. Silva (1999) publicou The political economy of
corruption in Brazil, onde, associando a corrupção diretamente a um dilema do

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prisioneiro, afirma que o país: “seems to be a society where the incentive to cheat and to
disrespect the rules is widespread. It is an incentive to corruption the fact that the
Justice is inefficient as well. The problem here is how to break the vicious circle of an
‘unruly’ society” (Silva, 1999, p. 36).
A matriz apresentada abaixo é uma versão alternativa do jogo da propina,
diferente daquela apresentada por Silva (1999) e tantos outros autores.

Figura 2. O Jogo da Propina


Corruptor Passivo
Corrupção Não
C –p
Corrupção Q1 Q2
Corruptor C C
Ativo C 0
Não Q3 Q4
–p 0
Fonte: adaptado de Silva (1999)

Esse jogo apresenta duas características semelhantes ao dilema do prisioneiro


apresentado por todos esses autores: i) existe um equilíbrio de Nash em estratégias
puras, que é o caso onde ambos são corruptos; ii) existe um “fator de desconto” de
utilidade quando um jogador decide ser corrupto e o outro, não. Esse fator pode ser
chamado de “fator propina” (p) e é ele que torna “não ser corrupto quando o oponente
for corrupto” uma estratégia ruim (sucker payoff). No entanto, a matriz apresentada
acima não é um dilema do prisioneiro, pois o resultado de equilíbrio é o resultado ótimo
(no sentido de Pareto). Ao contrário dos jogos propostos pelos pesquisadores,
pressupõe-se, nesse modelo, que ambos são “desonestos”, no sentido de que eles têm
uma tentação para cometerem o crime simplesmente porque “preferem” assim. No jogo
da propina proposto por Silva (1999), que é um dilema do prisioneiro, os atores são
compelidos a serem corruptos apesar de preferirem a situação onde ninguém é corrupto.
Como se percebe, trata-se de uma diferença de cunho ético-moral: ao contrário do
dilema do prisioneiro, o jogo da propina apresentado neste projeto parte do pressuposto
de que corruptores ativos e passivos, na condição de cúmplices de um crime, têm uma
tentação para cometê-lo. Em termos de implicações práticas, não existe nenhuma
diferença, em ambos os jogos existem incentivos para corrupção de maneira sistêmica e
perpétua.
Apesar de apresentar desdobramentos importantes, a análise da relação entre
corruptores ativos e passivos pode ser insuficiente para abarcar o fenômeno da
corrupção em sua completude. Mais recentemente, alguns autores têm buscado trazer o
papel dos controladores para o jogo da corrupção. O professor Dueñez-Gúzman, da
Universidade de Harvard, em seu artigo Power and Corruption (2010) propõe: “a

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general game allowing corruption and power asymmetries between punishers and non-
punishers” (Dueñez-Gúzman, 2010). A novidade de sua abordagem é incluir o papel da
punição ao dilema do prisioneiro, que representa um risco tanto para corruptores ativos
quanto para passivos. Em 2012, ele escreveu Evolving Righteousness into a Corrupt
World, onde utilizou um dilema do prisioneiro com quatro jogadores, e concluiu que:
“[c]orruption can be destabilized by making punishments both more egalitarian and
harsher. Provided punishments are sufficiently harsh, completely removing power
inequalities eliminates corruption, and cooperative punishment will likely spread”.
(Dueñez-Gúzman, 2012).
Todas essas pesquisas têm diferentes conclusões e resultados, mas têm em
comum o fato de associarem a corrupção a um dilema do prisioneiro. Neste modelo,
será apresentado outro tipo de jogo, que não tem equilíbrio de Nash em estratégias
puras. Antes, porém, devem-se fazer breves considerações a respeito da Teoria da
Corrupção, para delimitar os pressupostos e os conceitos que serão utilizados adiante.

2. Teoria da Corrupção

2.1. Corrupção Política

A palavra corrupção deriva do latim corruptios, que quer dizer “degradação,


apodrecimento”. Como laranjas e maçãs, as instituições parecem fadadas a perderem
seu propósito original com o tempo. Nesses termos, qualquer instituição que seja
idealizada pela sociedade é passível de ser corrompida. Um padre, por exemplo, que
utilizasse o altar para outros fins que não o sacerdócio, estaria pervertendo a sua
finalidade. Entretanto, neste projeto, trata-se exclusivamente de “corrupção política”,
que seria, portanto, a subversão das instituições públicas. Conforme observado
anteriormente, a corrupção é um fenômeno doutrinado pelo Direito Público, em suas
vertentes penal e administrativa.
A definição mais precisa de corrupção política é o desvio (ou abuso) de poder
público para fins privados. Trata-se do conceito utilizado pela Transparência
Internacional, pela Convenção de Mérida e por quase todos os artigos científicos que
tratam do tema. Primeiramente, deve-se ater aos conceitos de “desvio de finalidade”,
que seria uma violação dos princípios de legalidade, moralidade e impessoalidade, e
“abuso de poder”, que se caracteriza pelo excesso na conduta ou violação dos princípios
de proporcionalidade e razoabilidade. Destarte, trata-se de um conceito deveras
abrangente, que inclui as mais diversas práticas ilícitas de desvio de poder. Algumas são
meramente administrativas, outras, severamente criminais.
No Brasil, existe um Título específico do Código Penal intitulado “Crimes
contra a Administração Pública”, que incluem peculato, corrupção passiva, etc.
Ademais, diversos outros pedaços do ordenamento jurídico disciplinam práticas que
podem ser consideradas corrupção, como crimes de responsabilidade, eleitorais,
improbidade administrativa, etc.

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É preciso salientar que, para os fins deste projeto, a expressão “poder público” se
confunde com o conceito de “função pública”, em seu sentido mais amplo. Isso quer
dizer que não são apenas os “políticos” (eleitos ou nomeados) que têm a possibilidade
de desviar ou abusar de um poder público, mas qualquer pessoa que dispõe de algum
tipo de poder público, incluindo, portanto, qualquer agente público, seja ele um
burocrata, um servidor temporário ou mesmo um empregado da administração indireta.
O conceito de agente público pode ser encontrado nos primeiros artigos da Lei de
Improbidade Administrativa (1992):

Reputa-se agente público [...] todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função nas entidades ou órgãos da administração direta,
indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da
receita anual. (Brasil, 1992)

Onde quer que haja função pública, existe a possibilidade de que ela seja
desviada ou abusada. Saliente-se, portanto, que existe uma importante conclusão a esse
respeito: a corrupção ativa não se enquadra como corrupção, em sentido estrito. Um ator
particular, que não dispõe de função pública, não pode desviá-la. O que se pode fazer é
buscar influenciar um agente público a desviar a sua conduta por meio de incentivos
indevidos, como subornos, propinas, chantagens, etc. Portanto, o capítulo do Código
Penal brasileiro dedicado aos crimes cometidos por particulares contra a administração
configura-se como “corrupção ativa”, que é passível de punição, mas não se constitui,
por si só, como corrupção, que é um fenômeno disciplinado tanto pelo Direito Penal
(crimes cometidos por “funcionários” públicos contra a administração) quanto pelo
Direito Administrativo (disperso na legislação). É a ação do agente público, e não do
ator privado, que determina se a função pública será desviada, ainda que o ator privado
possa ser responsabilizado por buscar influenciar o desvio da função. Existem crimes e
formas de corrupção que um agente público pode praticar “sozinho”, isto é, sem levar
em consideração a presença de um corruptor ativo. O contrário, todavia, não é válido.
Dessa forma, a análise da relação entre corruptores passivos e ativos pode
explicar vários tipos de crimes, mas não compreende o fenômeno da corrupção como
um todo, que inclui os poderes disciplinar e de polícia da administração pública. Por se
tratar de matéria exclusivamente penal, a corrupção ativa é controlada por meio do
poder de polícia, que é uma prerrogativa do Estado perante a Sociedade. Por ser tanto
penal quanto administrativa, a corrupção passiva pode ser controlada tanto pelo poder
de polícia quanto pelo poder disciplinar, que é uma prerrogativa do Estado para o
Estado, associada à hierarquia, conhecida como autotutela.

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2.2. Controle da Administração Pública

Nas palavras do professor Matheus Carvalho:

“Pode-se conceituar controle administrativo como o conjunto


de instrumentos definidos pelo ordenamento jurídico a fim de permitir
a fiscalização da atuação estatal por órgãos e entidades da própria
Administração Pública [...], assim como pelo povo diretamente,
compreendendo ainda a possibilidade de orientação e revisão da
atuação administrativa de todas as entidades e agentes públicos, em
todas as esferas de poder [...] com o intuito de garantir uma eficiente
prestação dos serviços e as condutas orientadas para a busca do
interesse público.” (Carvalho, 2017, p. 386).

Se o controle da administração pública é a garantia preventiva ou repressiva de


que as funções públicas não serão desviadas, pode ser definido, por silogismo, como
prevenção e combate a corrupção. Conforme a definição do professor, o controle por ser
interno, quando é exercido pela própria administração pública (portanto, por agentes
públicos); ou externo, quando é exercido pela sociedade civil (portanto, por atores
particulares).
O controle interno relaciona-se diretamente com os poderes de polícia e de
disciplina da administração pública. Portanto, é preciso ressaltar que o controle interno
é, também, uma função pública, que pode ser desviada. Afinal, são os policiais, juízes,
promotores, etc. que efetivamente exercem o controle sobre a corrupção, e eles são,
também, agentes públicos. Ademais, agentes públicos que não são revestidos de poder
de polícia, como o chefe de um departamento (cuja função envolve supervisionar seus
subordinados), também exercem função de controle, quando se revestem de poder
disciplinar.
Por outro lado, o controle externo reflete a permeabilidade de um governo com
relação à sociedade. Manifesta-se através da cidadania, do accountability eleitoral, da
transparência pública, etc. Pode ser exercido por cidadãos comuns, por organizações
não governamentais, pela mídia, pela academia, etc. O aspecto mais relevante do
controle externo para o presente projeto é o seu caráter ambivalente. Quando, por
exemplo, um cidadão se mobiliza contra a corrupção, pode fazê-lo contra agentes
públicos que estão sendo corruptos ou contra os agentes públicos que não estão
exercendo o devido controle (ou, naturalmente, contra os dois).
Toda administração pública do mundo tem agentes públicos que exercem suas
funções (e podem desviá-las) e, dentre esses agentes, alguns cuja função é o próprio
controle. Portanto, em qualquer situação de corrupção, existem as figuras da corrupção
passiva e do controle interno, mas nem sempre estarão presentes o corruptor ativo e o
controlador externo. Ademais, deve-se ressaltar que estamos falando de dois tipos de
atores (público ou privado), cada um em dois tipos de condição (corrupção ou controle).
Uma mesma pessoa pode, eventualmente, executar qualquer um dos quatro papeis
relacionados à corrupção.

12
Todos esses pressupostos, esquematizados no diagrama abaixo, serão
“transformados” em um jogo, ou melhor, em quatro jogos possíveis, com quatro
jogadores arquetípicos que representam cada um dos elementos.

Figura 3. Teoria da Corrupção

Corrupção Ativa:
Corrupção em sentido
cometida por
amplo (Penal)
Corrupção política: particulares
desvio de função
pública para fins
privados Corrupção Passiva:
Corrupção em sentido
cometida por agentes
estrito (Penal/Adm)
públicos

Controle Externo:
Possui caráter
exercido por
ambivalente
Controle da particulares
Administração
Pública: prevenção e
combate à corrupção Controle Interno: Relacionado aos
exercido pela poderes disciplinar e
adminsitração pública de polícia

Desses quatro jogadores, conforme pudemos observar, dois (corruptores


passivos e controladores internos) estarão sempre “presentes”, sendo “essenciais” para
configurar uma situação de corrupção. Os outros dois jogadores, que são os atores
privados, podem ou não desempenhar um papel no jogo, e, portanto, foram chamados
de “auxiliares”. Portanto, podemos ter um jogo básico, entre os Corruptores Passivos e
os Controladores Internos; um jogo entre eles e cada um dos jogadores auxiliares; e um
jogo expandido, com todos os quatro jogadores.

Jogo 1 (Base): Corruptor Passivo vs.Controlador Interno

Jogo 2 (Corrupção Ativa): Corruptor Passivo vs.Controlador Interno vs. Corruptor Ativo

Jogo 3 (Controle Externo): Corruptor Passivo vs. Controlador Interno vs. Controlador
Externo

Jogo 4 (Expandido): Corruptor Passivo vs. Controlador Interno vs. Corruptor Ativo vs.
Controlador Externo

13
O capítulo seguinte trata apenas do Jogo 1 (Base). Nos capítulos subsequentes, serão
apresentadas as versões expandidas do Jogo.

3. Caça-e-Fuga

3.1. Matriz

Existem quatro possíveis resultados no Jogo-Base da Corrupção, enumerados, na


matriz apresentada abaixo, de Q1 a Q4.

Figura 4. Jogo-Base (Resultados)


Corruptor Passivo
Não Corrupção

Controle Q1 Q2
Controlador
Interno
Não Q3 Q4

Deve-se proceder estabelecendo a ordem de preferências de cada jogador entre


cada um dos quarto resultados possíveis.

3.1.1. Tentação e Risco

Conforme observado anteriormente, argumenta-se neste projeto que a prática de


um crime está associada a uma tentação para os corruptores passivos. Trata-se de
afirmar que, dentre as quatro possibilidades apresentadas acima, a chance de desviar a
função e sair impune é a mais atrativa, em termos de utilidade. Contudo, a possibilidade
de desviar função pública e ser punido por isso representa o risco, isto é, a pior dentre as
quatro situações. A relação entre não ser corrupto e ser investigado, e não ser corrupto e
não ser investigado é completamente irrelevante para as conclusões deste modelo, pois
nunca serão os casos preferido ou menos preferido dos corruptores passivos. Assim,
temos que a ordem de preferências do corruptor passivo entre os resultados do jogo é
(𝑄4 > 𝑄1 ≥≤ 𝑄3 > 𝑄2). Tanto o risco quanto a tentação associam-se a prática da
corrupção, e a jogada do controlador.
Com relação ao controlador interno, devemos assumir que o exercício do
controle apresenta custos (em termos de energia, tempo, recursos, etc.). Portanto,
presume-se que o caso preferido do controlador é (Q3), onde ele não exerce o controle e
o agente público “descontrolado” não pratica a corrupção. Contudo, o caso menos
preferido do controlador é aquele onde ele não exerce o controle e o agente público
“descontrolado” é corrupto, configurando (Q4), onde a corrupção ocorre de fato. A
transitividade entre investigar e encontrar agentes públicos corruptos e investigar e não
encontrá-los é irrelevante para os desdobramentos deste jogo, pois nunca terão os
14
valores máximos ou mínimos atribuídos a eles. Sua ordem de preferências é (𝑄3 >
𝑄1 ≥≤ 𝑄2 > 𝑄4). Podemos concluir, portanto, que, para o controlador, a tentação e o
risco associam-se ao não exercício do controle.
Na matriz abaixo apresentamos as tentações como valores positivos, pois
representam utilidade ganhada, e os riscos como valores negativos, pois representam
utilidade perdida. Os valores intermediários foram mantidos constantes iguais a 0
(zero). Isso significa que “não ser corrupto” e “exercer o controle” valem, ambos, 0
(zero). No caso Q2, o controlador recebe zero e o corruptor é “punido” (–P), que
representa o risco de ser corrupto. No caso Q3, o controlador recebe o valor da
“segurança” (S) de não exercer o controle, que representa sua tentação para não
investigar. No caso Q4, o corruptor recebe o valor positivo do “crime” (C), que
representa sua tentação para ser corrupto e o controlador interno fica “frustrado”,
recebendo o valor negativo (–F), que representa seu risco de não exercer o controle. As
setas indicam as dominâncias de estratégia.

Figura 5. Jogo-Base (payoffs)


Corruptor Passivo
Não Corrupção
0 –P
Controle Q1 Q2
Controlador 0 0
Interno 0 C
Não Q3 Q4
S –F

Não existe, nesse jogo, equilíbrio em estratégias puras, uma vez que não há
resultado possível em que nenhum dos jogadores não tem arrependimento. No caso Q1,
o controlador se arrepende de exercer o controle, dado que o agente público não foi
corrupto. No caso Q2, o corruptor se arrepende de ter sido corrupto, dado que o
controlador exerceu o controle. No caso Q3, o corruptor passivo arrepende-se de não ter
sido corrupto, dado que o controlador interno não exerceu o controle. No caso Q4, o
controlador interno está arrependido de não ter exercido o controle, dado que o
corruptor passivo foi corrupto. Assim configura-se uma relação de caça-e-fuga entre
dois jogadores. O exemplo clássico, apresentado em 1984 por Aigner e Fromme,
chamava-se “Jogo dos Policiais e Ladrões”, que se trata exatamente do mesmo modelo,
mas o “ladrão” foi substituído pelo “corruptor passivo” e o “policial”, pelo “controlador
interno”. Isso porque a corrupção, enquanto relacionada ao direito penal, pode estar
associada a jogos de criminalidade, mais do que jogos de cooperação-defecção.
O fato de que não existe equilíbrio em estratégias puras no Jogo da Corrupção
nos traz relevantes conclusões a respeito do fenômeno, que podem ser, por analogia,
estendidas à criminalidade em geral. Essas conclusões serão analisadas detidamente a
seguir.

15
3.1.2. Um Fenômeno Cíclico Inesgotável

Suponha-se que o Jogo da Corrupção, apresentado acima, seja jogado infinitas


vezes no tempo entre um corruptor passivo e um controlador interno. Imagine-se,
ademais, que o corruptor passivo escolha sempre a estratégia “ser corrupto”. Nesse
caso, a melhor resposta que o controlador tem para maximizar sua utilidade é exercer o
controle sempre. Isso eventualmente faria com que o resultado sempre fosse Q2, onde o
corruptor passivo tem arrependimento. Caso contrário, se o corruptor passivo escolhesse
nunca ser corrupto, então a melhor resposta do controlador seria nunca exercer o
controle, o que levaria inevitavelmente ao caso Q3, onde o corruptor passivo também
tem arrependimento. Isso significa duas coisas: 1) sob o ponto de vista do corruptor
passivo, a ação do controlador responde positivamente às suas (se eu for mais corrupto,
ele vai investigar mais; e se eu for menos corrupto, ele vai investigar menos); 2) jogar
uma ação com probabilidade certa (ou seja, uma estratégia pura) sempre trará
arrependimento certo ao corruptor passivo.
Agora, imagine-se que o controlador escolha sempre exercer o controle; então, a
melhor resposta do corruptor passivo é nunca ser corrupto, o que levaria ao caso Q1,
onde o controlador tem arrependimento. Caso o controlador escolhesse nunca exercer o
controle, então a melhor resposta do corruptor passivo seria sempre ser corrupto,
levando a Q4 onde o controlador tem arrependimento. Destarte: 1) sob o ponto de vista
do controlador, a ação do corruptor responde negativamente (se eu investigar mais, ele
será menos corrupto; se eu investigar menos, ele será mais corrupto); e 2) jogar uma
estratégia pura também é inviável para o controlador.
Se juntarmos as conclusões, teremos que: 1) sempre haverá uma probabilidade
de que o corruptor passivo seja corrupto (x) e uma probabilidade de que o controlador
interno exerça o controle (y), e essas probabilidades jamais chegarão a 0% ou 100% (0
> x; y > 1). Saliente-se de que existem as probabilidades complementares de que o
corruptor não seja corrupto (1 – x) e de que o controlador não exerça o controle (1 – y).
2) A relação entre as probabilidades de ação dos jogadores (x) e (y) tende à
matemática caótica (são diretamente proporcionais sob um ponto de vista e
inversamente proporcionais sob outro ponto de vista). Como corolário dessas
conclusões, podemos interpretar que sempre haverá alguma probabilidade de todos os
quatro resultados ocorram. A matriz abaixo demonstra as probabilidades de ação dos
jogadores e de ocorrência dos casos.

16
Figura 6. Jogo-Base (probabilidades)
Corruptor Passivo
Não (1 – x) Corrupção (x)
Controle 0 –P
(y) Q1: y – xy Q2: xy
Controlador 0 0
Interno Não 0 C
(1 – y) Q3: 1 – x- y + xy Q4: x – xy
S –F

Existem duas possíveis interpretações dessa conclusão. Uma, mais pessimista,


concentra-se no fato de que é impossível extinguir a corrupção, pelo menos em termos
de probabilidade. Outra, mais otimista, é de que a corrupção é um fenômeno cíclico.
Isso porque a relação de caça-e-fuga é a mesma estabelecida entre presas e predadores
no meio ambiente, e, portanto, tende a se comportar como uma onda no tempo. Para
entender essa interpretação, pode-se imaginar o Jogo da Corrupção jogado em quatro
momentos sequenciais, que se repetem ad eternum, conforme demonstrado pela figura
abaixo. No primeiro momento, aumenta-se a probabilidade de que os corruptores
passivos sejam corruptos; no segundo momento, como resposta ao primeiro, os
controladores aumentam a probabilidade de investigação; no terceiro momento, em
resposta ao segundo, os corruptores passivos diminuem a probabilidade de serem
corruptos; no quarto momento, em resposta ao terceiro, os controladores diminuem a
probabilidade de investigação, o que nos leva novamente ao primeiro momento, onde,
em resposta, os controladores aumentam a probabilidade de corrupção.

Figura 7. Modelo Cíclico da Corrupção


Momento Corruptores Passivos... Controladores Internos...
1 ...começam a ser mais corruptos... ↑ (𝑥) -
2 - ...começam a exercer mais controle... ↑ (𝑦)
3 ... começam a ser menos corruptos ... ↓ (𝑥) -
4 - ... começam a exercer menos controle ... ↓ (𝑦)
... ...começam a ser mais corruptos... ↑ (𝑥) ...

Outra conclusão a respeito do jogo de caça-e-fuga se relaciona a duas


características peculiares do exercício do controle no jogo. Conforme foi mencionado,
uma estratégia mista é aleatória, o que significa que a chance de um corruptor passivo
ser investigado deveria ser igual para todos. Na vida real, investigações policiais não se
configuram como estratégias mistas, pois o poder de polícia da administração pública só
pode atuar quando provocado e/ou deve atuar sempre que provocado, o que traria uma
espécie de “certeza” na ação do controlador. Neste projeto, nos referimos a uma
investigação, sempre, randômica, de forma que a probabilidade de controle interno (y)

17
está em termos aleatórios. Ademais, o controle interno demonstrado neste modelo pode
ser chamado de infalível, uma vez que não foram consideradas as possibilidades de se
punirem pessoas inocentes ou de não se punirem pessoas culpadas. Isso significa que,
nesse jogo, o controle interno sempre leva à “verdade”, isto é, ele sempre consegue
distinguir claramente os inocentes dos culpados. Uma investigação aleatória e infalível é
exatamente uma amostragem estatística da população. Isso quer dizer que, em um jogo
como o apresentado acima, qualquer porcentagem da população de agentes públicos que
for investigada será representativa de todo o conjunto de agentes públicos. Podemos
estimar a probabilidade de que os investigados tenham sido corruptos (xy) e a
probabilidade, dentre os investigados, de serem inocentes (y – xy). Assim, seria possível
realizar uma extrapolação estatística do crime e descobrir as chances de que um agente
público tenha sido corrupto e não investigado (x – xy). Naturalmente, como se trata de
uma amostragem probabilística, seria necessário estipular um intervalo de confiança e
uma margem de erro. Não se trata de advogar pela investigação desmotivada e aleatória
de agentes públicos, apenas ressaltar que, nesse aspecto, o modelo apresentado se
diferencia parcialmente da vida real. Por fim, a última conclusão da relação de caça-e-
fuga é de que, em equilíbrio, a probabilidade de ação de um jogador está em função dos
payoffs do outro jogador. Essa conclusão será analisada a seguir.

3.2. Equilíbrio

3.2.1. Teoria dos Valores Esperados

Para encontrar o equilíbrio de Nash em um jogo de estratégias mistas, é preciso


voltar-se ao que os utilitaristas chamam de Teoria dos Valores Esperados. Cada ação de
cada jogador tem um valor esperado, que é a soma dos valores dos resultados de uma
ação ponderados (multiplicados) pelas probabilidades de que esses resultados venham a
ocorrer.
Para o controlador, o Valor Esperado de Investigar(𝑉𝐸𝐼 ) é igual ao que ele
ganha investigando e encontrando corruptores passivos (0)(x), somado ao que ele ganha
quando investiga e não encontra corruptores passivos (0)(1 – x). Portando, o valor
esperado de exercer o controle interno é 0 (zero). Via de regra, quando o valor de uma
ação é sempre o mesmo em todos os casos, esse é o valor esperado da ação.
Já o Valor Esperado de Não Investigar (𝑉𝐸𝑁𝐼 )é igual ao que obtém quando não
investiga e o corruptor passivo é corrupto (–F)(x), somado ao que ele obtém quando não
investiga ponderado pela chance de o corruptor não ser corrupto (S) (1 – x).

𝑉𝐸𝑁𝐼 = (−𝐹)(𝑥) + (𝑆)(1 − 𝑥) = 𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑭𝒙

Se o valor esperado de uma ação é maior do que o valor esperado de outra ação,
então a ação de maior valor é mais estratégica. Dizemos que um jogador está em
equilíbrio de estratégias mistas quando a probabilidade de ação do outro jogador é tal,
que o torna indiferente entre suas opções. Ou seja, existe uma probabilidade de que o
18
corruptor passivo pratique a corrupção (x) que faria, para o controlador, os valores
esperados de investigar e não investigar se igualarem. 𝑉𝐸𝑁𝐼 = 𝑉𝐸𝐼

𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 = 0

𝑆𝑥 + 𝐹𝑥 = 𝑆

𝑆
𝑥=
𝑆+𝐹

Assim, a equação de equilíbrio do controlador nos fornece a probabilidade de


ação de equilíbrio do corruptor passivo.
Para o corruptor passivo, o Valor Esperado de Ser Corrupto (𝑉𝐸𝐶 ) é o payoff que
ele obtém quando é punido ponderado pela chance de punição (–P)(y), mais o payoff
obtido quando ele comete o crime sai impune, ponderado pela chance de não ser
investigado (C)(1 – y). Já o Valor Esperado de Não Ser Corrupto (𝑉𝐸𝑁𝐶 ): é igual a 0
(zero), pois, nesse jogo, ele não ganha nem perde nada quando não é corrupto. Em
equilíbrio:(𝐸𝑉𝐶 = 𝐸𝑉𝑁𝐶 ).
𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 = 0

𝐶𝑦 + 𝑃𝑦 = 𝐶

𝐶
𝑦=
𝐶+𝑃

3.2.2. Variáveis de Posição

Note-se que a probabilidade de corrupção passiva (x) é diretamente proporcional


à tentação do controlador para não investigar (S), e inversamente proporcional ao risco
do controlador para não investigar (F). Em outras palavras, o agente público, em
equilíbrio, será tanto mais corrupto quanto for a relação tentação-risco do controlador
𝑆
para não investigar (𝐹). O inverso dessa relação pode ser chamado de responsabilidade
𝐹
policial-disciplinar, ou seja, a relação risco-tentação para não exercer o controle( 𝑆 ).
Quanto maior for a responsabilidade policial-disciplinar dos controladores, menor será a
probabilidade de equilíbrio de que os corruptores sejam corruptos. A mesma lógica se
aplica para o outro jogador, mas dessa vez trazendo uma conclusão ainda mais contra-
intuitiva.
A probabilidade de equilíbrio de que o controlador interno exerça o controle é
diretamente proporcional a relação tentação-risco do corruptor passivo, associada a ser
𝐶
corrupto(𝑃). Podemos definir essa relação como sensação de impunidade pública. Se
um agente público desvia, por exemplo, milhões de reais (um alto valor de C), e pega
19
uma pena “leve” (um baixo valor de P), então a sensação de impunidade é alta, mas
também o é a probabilidade de que esse corruptor seja investigado (y). Se definirmos a
verdadeira impunidade como a “chance de qualquer agente público não ser investigado”
(1 – y), então temos que ambas são inversamente proporcionais. Podemos considerar,
ademais, que o inverso da sensação de impunidade pública representa uma sensação de
“injustiça” (caso a punição seja muito mais alta que o valor do crime, por exemplo).
Conclui-se, portanto, que, em um jogo de caça-e-fuga, em equilíbrio, as
probabilidades de ação de um jogador estão em função dos payoffs dos outros
jogadores, e também que essas probabilidades de ação jamais chegarão a 0% ou
100%:(0 < 𝑥; 𝑦 < 1). Uma forma de alterar a probabilidade de ação de um dos
jogadores é alterar os incentivos econômicos do outro.
Nesse sentido, aumentar a punição para a prática de corrupção teria, num primeiro
momento, o efeito de diminuir o valor estratégico de ser corrupto. Contudo, caeteris
paribus, teria também o efeito de diminuir a probabilidade de equilíbrio de que a
corrupção fosse investigada (y) e aumentar as chances de que ela de fato ocorresse (x –
xy). Contudo, diminuir a punição não parece ser uma alternativa razoável de combate à
corrupção, de forma que é preciso encontrar um meio-termo entre elas. Para debater
essa questão, e encontrar uma relação “ideal” entre riscos e tentações, foi elaborada uma
forma de visualização gráfica do Jogo aqui apresentado, que foi chamada de Tabuleiro
da Corrupção, analisado em seguida.

3.3. O Tabuleiro da Corrupção

Na figura abaixo, a probabilidade de corrupção passiva (x) foi colocada no eixo


das abscissas e a probabilidade de controle interno (y) foi colocada no eixo das
ordenadas. Como sabemos que os limites dessas probabilidades são 0 (zero) e 1 (um),
1
esses são também os limites do gráfico. Uma linha vertical foi desenhada onde (𝑥 = 2)
1
e uma linha horizontal onde (𝑦 = 2), separando o gráfico em quatro quadrantes. Cada
um desses quadrantes representa as áreas do gráfico onde os respectivos resultados (Q1,
Q2, Q3, Q4) serão os mais prováveis de acontecer. No corpo do gráfico, foi listada a
probabilidade de a corrupção de fato ocorrer (Q4), em porcentagem.

Figura 8. Gráfico da Corrupção

20
A probabilidade de a corrupção de fato ocorrer será tanto maior quanto maior for
(x) e quanto menor for (y), indicando que ela cresce nos sentidos para a direita e para
baixo no gráfico. É digno de nota mencionar que a corrupção ocorre menos nas
extremidades superiores e na inferior esquerda. Contudo, a probabilidade de Q4, por si
só, não é indicativa das probabilidades (x) e (y). Por exemplo: no gráfico acima, foram
listados quatro pontos onde a probabilidade de que a corrupção de fato ocorra é igual a
18%, duas vezes no quadrante Q2 e duas vezes no quadrante Q3. Qual é a diferença
entre esses quatro pontos? Vejamos.

3.3.1. As Fronteiras do Crime

Imagine-se que cada um desses quatro pontos seja diferentes “sociedades”. Na


primeira, a probabilidade de que os passivos sejam corruptos (x) é de 90% e a
probabilidade de que os controladores investiguem (y) é de 80%. Na segunda, (x =
60%) e (y = 70%). Na terceira, (x = 30%) e (y = 40%). Na quarta (x = 20%) e (y =
10%). Conforme sabemos, em todas, a corrupção de fato (Q4) ocorre com probabilidade
de 18%, mas a probabilidade de que os outros casos (Q1, Q2 e Q3) ocorram é diferente
em cada uma delas. Abaixo, eles foram calculados e ordenados, do maior para o menor,
para cada uma das quatro sociedades.

Figura 9. Ordem dos Resultados


Sociedade (x) (y) Q1 Q2 Q3 Q4 Ordem
I 90% 80% 8% 72% 2% 18% 𝑄2 > 𝑄4 > 𝑄1 > 𝑄3
II 60% 70% 38% 42% 12% 18% 𝑄2 > 𝑄1 > 𝑄4 > 𝑄3
III 30% 40% 28% 12% 42% 18% 𝑄3 > 𝑄1 > 𝑄4 > 𝑄2
IV 20% 10% 8% 2% 72% 18% 𝑄3 > 𝑄4 > 𝑄1 > 𝑄2

A primeira conclusão que podemos extrair desses cálculos é que sempre que Q2
é predominante, Q3 é o menos frequente, e vice-versa. O que se altera entre as
sociedades de um mesmo quadrante é a ordem entre os casos Q1 e Q4. A reta que divide
esse segmento do gráfico é onde (y = x). Nas sociedades (I) e (IV), a probabilidade de
investigação (y) é menor que a probabilidade de corrupção (x) e, portanto, (Q4 > Q1).
Nas sociedades (II) e (III), a probabilidade de investigação (y) é maior do que a
probabilidade de corrupção (x), e (Q4 < Q1).
Uma forma de interpretar essa realidade é abstrair do termo “probabilidade” e
pensar em termos de “possibilidade”. Se o número de corruptos é maior do que o
número de investigados, então não é possível investigar todos que foram corruptos, e
com certeza algum corrupto saiu impune. Se o número de investigados for maior do que
o número de corruptos, então é possível eventualmente investigar todos os corruptos.
Destarte, podemos desenhar uma linha inclinada positivamente, onde (y = x), e que
separa completamente os casos Q1 e Q4. Em qualquer ponto à esquerda dessa linha, (y
> x) e (Q1 > Q4). Qualquer ponto à direita, (y < x) e (Q1 < Q4).

21
Figura 10. Fronteira da Impunidade (y = x)

A mesma lógica se aplica inversamente. Pode-se observar, pois, uma simetria


também entre os casos Q1 e Q4. Se for desenhada uma linha negativamente inclinada
que separa completamente os casos Q2 e Q3, teremos que, nessa reta (y = 1 – x) e (Q2 =
Q3). Em qualquer ponto à direita, (y > 1 – x) e (Q2 > Q3). Qualquer ponto à esquerda,
(y < 1 – x) e (Q2 < Q3).

Figura 11. Fronteira da Inocência (1 - x = y)

Portanto, no Jogo da Corrupção, existem dois possíveis trade-offs: Q1 é inverso


a Q4; e Q2 é inverso a Q3. Em outros termos, devemos trocar a probabilidade de
investigar pessoas inocentes [(1 – x)(y)] pela probabilidade de não investigar pessoas
culpadas[(x)(1 – y)]; e a probabilidade de não investigar inocentes [(1 – x)(1 – y)] pela
probabilidade de investigar culpadas [(x)(y)]. Torna-se uma escolha estranha e
complicada, em termos de definição ética. Se desenharmos as quatro fronteiras no
gráfico, vamos separá-lo em oito triângulos retângulos, cada um com uma ordem
diferente de freqüência entre os quatro casos. Essas oito porções foram enumeradas, em
sentido horário, de C1 a C8, no Tabuleiro da Corrupção, exposto abaixo.

22
Figura 12. O Tabuleiro da Corrupção

3.3.2. O Triângulo Bom

Conforme podemos observar, nenhum dos oito triângulos do tabuleiro satisfaz


a ordem de preferências de nenhum dos jogadores. Contudo, agora que sabemos haver
dois possíveis trade-offs no Jogo da Corrupção, podemos identificar quais são as
preferências dos jogadores relativas a esses trade-offs. Na tabela abaixo, foram listadas
as ordem de preferências de cada jogador e suas preferências entre as relações (Q1 –
Q4) e (Q2 – Q3), e a melhor relação entre (x) e (y) para cada um deles.

Figura 13. Trade-offs e Ordens de Preferência

Jogador Ordem de Preferência (Q1 – Q4) (Q2 – Q3) Melhor relação entre (x) e (y)

Passivo 𝑄4 > 𝑄1 ≥≤ 𝑄3 > 𝑄2 𝑄4 > 𝑄1 𝑄3 > 𝑄2 1−𝑥 ≥ 𝑦 ≥𝑥


Interno 𝑄3 > 𝑄1 ≥≤ 𝑄2 > 𝑄4 𝑄4 < 𝑄1 𝑄3 > 𝑄2 1−𝑥 ≥ 𝑦 ≤𝑥

Destarte, conclui-se que as áreas preferidas do controlador interno no Tabuleiro


são C1 e C8, onde a probabilidade de investigação (y) é menor do que a probabilidade
de que os corruptores não sejam corruptos (1 – x), e maior do que a probabilidade de
que eles sejam corruptos. As áreas C2 e C3 satisfazem apenas uma de suas condições
(Q4 > Q1), e as áreas C6 e C7 satisfazem apenas a condição (Q3 > Q2). Portanto, o
triângulo “preferido” dos controladores está à esquerda da fronteira (1 – x = y) e à
esquerda da fronteira (y = x). Já os casos favoritos do corruptor passivos são C6 e C7,
indicando que eles preferem estar à esquerda da fronteira (1 – x = y) e à direita da
fronteira (y = x). Note-se que ambos têm em comum o fato de preferirem “não
investigar inocentes” a “investigar culpados”, isto é, ambos preferem Q3 a Q2. A figura
abaixo demonstra o triângulo “favorito” da cada jogador: do controlador interno, em cor
escura; e do corruptor passivo, em cor clara. Seus triângulos “menos preferidos” são
aqueles imediatamente opostos (e não o triângulo favorito de seu oponente), pois eles
não satisfazem a nenhuma de suas preferências.

23
Figura 14. Áreas Preferidas dos Jogadores Principais

Um aspecto digno de nota é que a área preferida do controlador está inteiramente


1 1
situada onde (𝑥 < ), e do corruptor onde (𝑦 < ). Quanto menor o valor de (x), maior
2 2
a chance de ele se encontrar no triângulo “bom”. Nesse diapasão, note-se que, se a
chance de investigação (y) for igual a 50%, então qualquer (x) menor que 50% estará no
triângulo “bom”. Agora, substituem-se os valores de (x) e (y) pelas suas formulas de
equilíbrio.

1−𝑥 >𝑦 >𝑥

𝐹 𝐶 𝑆
> >
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃 𝑆+𝐹

𝐶𝐹 + 𝐹𝑃 > 𝐶𝑆 + 𝐶𝐹

𝐹 𝐶
>
𝑆 𝑃

𝐶𝑆 + 𝐶𝐹 > 𝐶𝑆 + 𝑃𝑆

𝐹 𝑃
>
𝑆 𝐶

Em outras palavras, uma sociedade estará posicionada no triângulo “bom”


𝐹
quando a relação risco-tentação ( 𝑆 ) do controlador para não investigar for maior do que
𝐶 𝑃
sensação de impunidade pública (𝑃) e do que a sensação de injustiça pública (𝐶 ), ao
mesmo tempo. Para que a probabilidade de investigação (y) atinja 50%, a tentação e o
risco do corruptor passivo devem ter o mesmo valor, indicando que a punição para a

24
corrupção deve ser proporcional ao valor desviado pelo crime (C = P). Assim, qualquer
risco maior do tentação para os controladores (F > S) obedecerá às condições acima
expostas.
Para estar no triângulo “bom”, reitere-se que a responsabilidade policial-
𝐹
disciplinar dos agentes públicos ( 𝑆 )deve ser maior que 1 (um) e, quanto maior ela for,
𝐶
melhor. Já a sensação de impunidade pública (𝑃)pode ser alta, média ou baixa (mas,
preferencialmente, média).
Por fim, façamos uma breve consideração sobre a área total do Tabuleiro.
Conforme sabemos, os valores de (x) e (y) vão de 0 (zero) a 1 (um), exclusive. Podemos
imaginar a área total do tabuleiro valendo 1 (um), ou 100%, e cada um dos oito oitavos
ocupando 12,5% da área total. Essa noção de área será importante quando
acrescentarmos os corruptores ativos e controladores externos, o que será feito adiante,
primeiramente de maneira individualizada e, em seguida, combinados.

4. O Jogo da Corrupção Ativa

4.1. Matriz

Para adicionar o corruptor ativo ao Jogo-Base da Corrupção, partiremos do


pressuposto de que o mesmo controlador interno responsável por investigar o corruptor
passivo é o responsável por investigar e controlar o corruptor ativo. Nesse caso, ele
exerce simultaneamente os poderes disciplinar e de polícia. Também assumiremos que o
corruptor ativo exerce algum tipo de “poder” ou “pressão” sobre os jogadores
auxiliares. Ademais, consideraremos que o corruptor ativo, similarmente ao passivo,
tem tentações e riscos associados a ser corrupto. Dessa forma, devemos estabelecer a
ordem de preferências do corruptor ativo entre os quatro resultados do Jogo-Base.
Em um jogo com três jogadores, existem oito resultados possíveis, demonstrados
na matriz abaixo, de 1 a 8. No primeiro bloco de três colunas, estão as ações de cada
jogador em cada caso. No segundo bloco, estão seus payoffs. No terceiro bloco, foi
denotado se o jogador tem ou não arrependimento em cada resultado, a partir da
comparação dos casos onde as jogadas dos outros são “dadas”.
A relação de caça-e-fuga entre os jogadores essenciais é mantida, uma vez que
inexiste resultado em que ambos não têm arrependimentos. Portanto, o corruptor ativo
também deverá randomizar suas jogadas, isto é, com uma probabilidade (w) de
“oferecer propina” e uma probabilidade (1 – w) de não praticar a corrupção ativa.

25
Figura 15. Matriz da Corrupção Ativa

Ações Payoffs Arrependimentos


Caso
Passivo Interno Ativo Passivo Interno Ativo Passivo Interno Ativo
1 Corrup Control Corrup −𝑃 0 −𝐼 Sim Não Sim
2 Corrup Control Não −𝑃 0 0 Sim Não Não
3 Corrup Não Corrup 𝐶 −𝐹 − 𝑓 𝐺 Não Sim Não
4 Corrup Não Não 𝐶 −𝐹 0 Não Sim Sim
5 Não Control Corrup −𝑝 0 −𝐼 Não Sim Sim
6 Não Control Não 0 0 0 Não Sim Não
7 Não Não Corrup −𝑝 𝑆−𝑓 0 Sim Não Não
8 Não Não Não 0 𝑆 0 Sim Não Não

4.1.1. Fatores Éticos

Ao praticar a corrupção ativa, o jogador auxiliar altera os payoffs dos jogadores


originais. Podemos representar essas alterações como fatores de desconto de utilidade,
que podem ser representados como riscos e/ou tentações adicionais. Poderíamos
considerar, por exemplo, que o corruptor passivo ganhasse uma utilidade extra quando
ele fosse corrupto e o corruptor ativo também, pois dessa forma eles conseguem praticar
o crime. Porém, neste projeto, todos os fatores de desconto serão representados por
riscos adicionais, pois os resultados matemáticos são os mesmos e optou-se pela
simplificação. No caso dos corruptores ativos, chamaremos os riscos adicionais de
“éticos”. Portanto, será considerado que os corruptores passivos perdem utilidade
quando eles não são corruptos e os ativos, são. Esse fator de desconto, chamado “fator
propina” é o mesmo apresentado no capítulo 1 e será representado pela letra minúscula
(p). Já os controladores internos perdem utilidade quando deixam de investigar
corruptores ativos, representado pela “frustração adicional” (f). Ressalte-se ainda, que
os riscos éticos adicionais (p) e (f) não podem ultrapassar o valor dos riscos e tentações
originais (P) e (S), respectivamente.

4.1.2. Duplo Risco

Conforme exposto anteriormente, o corruptor ativo não tem o poder de desviar


função pública “sozinho”, de modo que o seu “ganho pessoal” só pode ser obtido
quando o corruptor passivo “aceita” a vantagem indevida oferecida, isto é, quando ele
pratica a corrupção, e quando o controlador não investiga. Ou seja, sua tentação,
representada pelo valor positivo (G), ocorre em Q4.
Também sabemos que o corruptor ativo será punido toda vez que ele for
“investigado”, independentemente de seu suborno ter sido aceito ou não. Dessa forma,
seu risco, representado pela letra (–I) ocorre tanto no caso Q1 quanto no caso Q2. O
resultado obtido em Q3 será o mesmo obtido quando ele escolhe “não ser corrupto”, que

26
é igual a 0 (zero). Dessa forma, temos que, para o corruptor ativo, (𝑄4 > 𝑄3 > 𝑄1 =
𝑄2). Isso se traduz, na matriz do jogo, como um duplo risco e apenas uma tentação para
cometer o crime.

4.2. Equilíbrio

Para encontrar o equilíbrio de Nash, devemos proceder como antes, encontrando


os valores esperados de cada ação, para cada jogador, em função das probabilidades de
ação dos outros jogadores, e então igualá-los.

Corruptor Passivo:

Valor Esperado de Ser Corrupto:

(−𝑃)(𝑦𝑤) + (−𝑃)(𝑦 − 𝑦𝑤) + (𝐶)(𝑤 − 𝑦𝑤) + (𝐶)(1 − 𝑦 − 𝑤 + 𝑦𝑤)

−𝑃𝑦𝑤 − 𝑷𝒚 + 𝑃𝑦𝑤 + 𝐶𝑤 − 𝐶𝑦𝑤 + 𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝐶𝑤 + 𝐶𝑦𝑤

𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝑷𝒚

Valor Esperado de Não Ser Corrupto = (−𝑝)(1 − 𝑤) = −𝒑𝒘

Equilíbrio: 𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 = −𝑝𝑤

𝐶 + 𝑝𝑤
𝑦=
𝐶+𝑃

Controlador Interno:

Valor Esperado de Investigar = 0 (zero).

Valor Esperado de Não Investigar:

(−𝐹 − 𝑓)(𝑥𝑤) + (−𝐹)(𝑥 − 𝑥𝑤) + (𝑆 − 𝑓)(𝑤 − 𝑥𝑤) + (𝑆)(1 − 𝑥 − 𝑤 + 𝑥𝑤)

−𝐹𝑥𝑤 − 𝑓𝑥𝑤 − 𝑭𝒙 + 𝐹𝑥𝑤 + 𝑆𝑤 − 𝑆𝑥𝑤 + 𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑆𝑤 + 𝑆𝑥𝑤 − 𝒇𝒘 + 𝑓𝑥𝑤

𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑭𝒙 − 𝒇𝒘

Equilíbrio: 𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 − 𝑓𝑤 = 0

27
𝑆 − 𝑓𝑤
𝑥=
𝑆+𝐹

Corruptor Ativo:

Valor Esperado de Ser Corrupto:

(−𝐼)(𝑥𝑦) + (𝐺)(𝑥 − 𝑥𝑦) + (−𝐼)(𝑦 − 𝑥𝑦) + (0)(1 − 𝑥 − 𝑦 + 𝑥𝑦)

−𝐼𝑥𝑦 + 𝑮𝒙 − 𝑮𝒙𝒚 − 𝑰𝒚 + 𝐼𝑥𝑦

𝑮𝒙 − 𝑮𝒙𝒚 − 𝑰𝒚

Valor Esperado de Não Ser Corrupto = 0 (zero).

Equilíbrio: 𝐺𝑥 − 𝐺𝑥𝑦 − 𝐼𝑦 = 0

𝐼𝑦
(𝑥)(1 − 𝑦) =
𝐺

4.2.1. A Pressão Ética – vetor (w)

Encontramos três equações de equilíbrio, uma para cada jogador, a saber:

𝑆 − 𝑓𝑤
(𝐼) → 𝑥 =
𝑆+𝐹

𝐶 + 𝑝𝑤
(𝐼𝐼) → 𝑦 =
𝐶+𝑃

𝑦 𝐺
(𝐼𝐼𝐼) → =
(𝑥)(1 − 𝑦) 𝐼

As duas primeiras equações de equilíbrio remetem às equações de equilíbrio


originais do Jogo-Base, apenas com a subtração dos fatores de desconto ponderados por
sua respectiva probabilidade. Existem, portanto, valores mínimos e máximos de (x) e
(y) associados a (w). É interessante notar que (x) é inversamente proporcional a (w), o
que indica que, quanto mais propina é oferecida, menos ela é aceita. Como o corruptor
passivo perde utilidade quando o corruptor ativo não é corrupto, então (y) é diretamente

28
proporcional a (w), indicando que, quanto mais propina eles oferecem, mais a corrupção
é investigada.
Essas premissas indicam a existência, no gráfico, de um vetor 𝑤
̅, que representa
a possível ação do corruptor ativo sobre os jogadores essenciais. Esse vetor sempre se
direcionará para cima e para a esquerda, conforme exposto na figura abaixo.

Figura 16. Vetor 𝒘


̅

4.2.1.1. Direção e Sentido

O vetor 𝑤̅ “move a sociedade” na direção Q4 → Q1, que é do seu caso mais


preferido a um dos seus casos menos preferidos. Isso poderia significar que o corruptor
ativo “joga contra si mesmo”, pois, quanto mais ele pratica a corrupção ativa, cateris
paribus, menos os corruptores passivos praticam a corrupção e mais os controladores
internos a investigam. Enquanto a direção do vetor (w) é sempre a mesma (para cima e
para a esquerda), seu tamanho (intensidade), inclinação e posição no Tabuleiro podem
variar substancialmente. Analisemos cada uma dessas variáveis separadamente.

4.2.1.2. Intensidade

A intensidade do vetor 𝑤̅ representa o poder total de pressão, ou a influência do


corruptor ativo sobre ambos os jogadores essenciais. Em termos de cumprimento,
sabemos que a maior linha possível nessa direção do vetor 𝑤 ̅ é a própria fronteira (1 – x
= y), que vale √2, e esse é o limite máximo da intensidade que um vetor (w) pode ter.
Para calcular a intensidade, naturalmente, usamos o Teorema de Pitágoras, que pode ser
utilizado para decompor um vetor em seus dois eixos e calcular a hipotenusa de um
triângulo retângulo. Esse valor é igual à soma dos quadrados dos catetos, formados
pelas variações em (x) e (y):
𝑆 𝑆−𝑓 𝑓
∆(𝑥) = 𝑆+𝐹 − 𝑆+𝐹 = 𝑆+𝐹
𝐶+𝑝 𝐶 𝑝
∆(𝑦) = 𝐶+𝑃 − 𝐶+𝑃 = 𝐶+𝑃

29
𝑝2 𝑓2
Intensidade: √(𝐶+𝑃)2 + (𝑆+𝐹)2 .

4.2.1.3. Elasticidade

Para analisar a inclinação do vetor 𝑤 ̅, pegaremos emprestado o conceito de


elasticidade de uma reta, que é a relação entre a variação no eixo (x) e a variação no
eixo (y). Assim, a elasticidade do vetor (w) demonstra a pressão do corruptor ativo
sobre o controlador interno relativa à sua pressão sobre o corruptor passivo. Quanto
mais vertical for o vetor, mais inelástico; e quanto mais horizontal, mais elástico. A
fórmula de elasticidade pode ser obtida da seguinte maneira:
𝑓
∆(𝑥) 𝑆+𝐹 𝑓(𝐶+𝑃)
Elasticidade: (∆(𝑦) = 𝑝 )→ 𝑝(𝑆+𝐹)
𝐶+𝑃

Nos limites extremos, a elasticidade valerá 0 (zero), e o vetor será totalmente


vertical, quando (f = 0), ou seja, quando o corruptor ativo não tiver nenhum poder de
pressão sobre os controladores internos. Ela será ∞ (infinita), e o vetor totalmente
horizontal, quando o corruptor ativo não tiver poder de pressão algum sobre o corruptor
passivo (p = 0). Caso o corruptor ativo exerça igual poder de pressão relativo sobre
ambos os jogadores essenciais, então a elasticidade será unitária e o vetor terá um
ângulo de 45°. Dependendo de suas posições, esses vetores extremos podem
eventualmente coincidir com três das fronteiras no Tabuleiro da Corrupção, mas jamais
poderá coincidir com a fronteira onde (y = x), pois ela vai à direção oposta

4.2.1.4. Posição

Por fim, sabemos que a posição inicial e final do vetor 𝑤


̅ está ligada às relações
tentação-risco dos dois jogadores essenciais, conforme observado no capítulo anterior.
Assim, todo o vetor estará mais à esquerda quanto maior for a responsabilidade policial-
𝐹 𝐶
disciplinar ( 𝑆 ) e mais acima quanto maior a sensação de impunidade pública (𝑃).

𝑮
4.2.2. Sensação de Impunidade Privada – curva 𝑰

Por fim, façamos uma breve observação sobre a terceira probabilidade de


equilíbrio, do corruptor ativo. Ela nos mostra que a relação tentação-risco do corruptor
𝐺
ativo, doravante chamada de sensação de impunidade privada ( 𝐼 ), é direta e
quadraticamente proporcional à probabilidade de controle interno (y); e inversa à
probabilidade de corrupção passiva (x).

𝐺 𝑦
=
𝐼 (𝑥)(1 − 𝑦)

30
4.2.2.1. Disposição e Siginificado

A sensação de impunidade privada demonstra, em equilíbrio, a


probabilidade de investigação (y) relativa à probabilidade de que a corrupção de fato
ocorra (x)(1 – y). No Tabuleiro da Corrupção, essa curva sempre parte do ponto inicial
𝐺
onde (x = y = 0) e vai até um ponto onde (x = 1) e (𝑦 = 𝐺+𝐼). Interessantemente, caso
seja mantida constante, a sensação de impunidade privada força uma relação direta entre
(x) e (y), implicando que, ao longo de uma determinada curva, a probabilidade de
corrupção passiva é diretamente proporcional à probabilidade de controle interno. A
figura baixo demonstra cinco exemplos de curvas de impunidade privada, uma de valor
superior a 2 (dois); uma de valor igual a 2 (dois); uma de valor inferior a 2 (dois) e
superior a 1 (um); uma de valor igual a 1 (um); e uma de valor inferior a 1 (um).

Figura 17. A Curva G/I no Tabuleiro da Corrupção

Como se percebe, a curva de impunidade privada sempre é uma parábola com


concavidade para cima a percurso ascendente, isto é, um aumento da curva implica em
um movimento para a esquerda e para cima no Tabuleiro. Ademais, quanto menor o
seu valor, mais “reta” é a curva de impunidade privada. De maneira geral, podemos
analisar a curva de impunidade privada a partir de seus tipos e de suas fases.

4.2.2.2. Tipos de Impunidade Privada

Podemos separar as curvas de impunidade privada basicamente em três tipos: se


a tentação para cometer a corrupção ativa for maior que duas vezes o risco (G > 2I),
então a sensação de impunidade privada é alta e essa “sociedade” estará nos casos C1,
C2, C3, C4 ou C8. Se a tentação para cometer corrupção ativa for maior que o risco,
mas menor que o dobro do risco (2I > G > I), então a sensação de impunidade privada é
média e a sociedade estará nos casos C4, C5, C6, C7 ou C8. Caso o risco de cometer a
corrupção ativa seja maior do que a tentação (I > G), então a sensação de impunidade é
baixa, mas a sociedade estará nos casos C5, C6 ou C7, todos eles à direita da linha da
impunidade. Note-se, ademais, que as fronteiras C7-C8 e C4-C5 estão completamente
compreendidas na faixa de impunidade privada média-alta.

31
4.2.2.3. Fases da Impunidade Privada

Existem duas das quatro grandes fronteiras do Tabuleiro que uma determinada
curva de impunidade privada cruza independentemente de seu valor, quais sejam (x =
½) e (1 – x = y).
Caso a impunidade privada seja alta, ela passa primeiro por (x = ½), e, depois,
por (1 – x = y). Se for média-alta ou baixa, é o contrário. A curva de impunidade
privada onde (G = 2I) apresenta apenas duas fases, pois o ponto onde ela intercepta as
duas fronteiras é o mesmo (x = y = ½). É digno de nota que a curva de impunidade
privada só será inelástica caso seja alta (maior que dois), em sua primeira fase, como
demonstrado pela figura abaixo.

Figura 18. Três Fases da Impunidade Privada

𝐺
A inserção do corruptor ativo nos trouxe o vetor 𝑤
̅ e a curva ( 𝐼 ). Adiante, será
feita uma breve análise da probabilidade de corrupção ativa (w) e todos os outros
payoffs envolvidos no jogo.

4.3. O Comportamento do Corruptor Ativo

4.3.1. Probabilidade de Corrupção Ativa (w)

A partir de todas as variáveis que representam os payoffs dos três jogadores, é


possível encontrar as probabilidades (x), (y) e (w). Ao contrário de (x) e (y), não
existem impedimentos matemáticos para que (w) valha efetivamente 0 (zero) ou 1 (um).
Isso significa que, em determinadas circunstâncias, pode ser estratégico para o corruptor
ativo ser corrupto sempre ou nunca.
Saliente-se, portanto, que para um determinado vetor (w), haverá uma curva de
imunidade privada máxima e uma mínima associadas a (w = 0) e (w = 1),
respectivamente. Podemos analisar a probabilidade de corrupção ativa de três formas: i)
isolando (w) na fórmula de equilíbrio de (x); ii) isolando (w) na fórmula de equilíbrio de

32
(y); e iii) substituindo os valores de (x) e (y) por suas respectivas fórmulas de equilíbrio
na terceira equação.

𝑆−𝑓𝑤 𝑆−𝑥(𝑆+𝐹)
(i) 𝑥= →𝑤=
𝑆+𝐹 𝑓

Caeteris paribus, a probabilidade de corrupção ativa (w) é inversamente


𝐹
proporcional à responsabilidade policial-disciplinar ( 𝑆 ) e ao fator ético (f).

𝐶+𝑝𝑤 𝑦(𝐶+𝑃)−𝐶
(ii) 𝑦= →𝑤=
𝐶+𝑃 𝑝

Caeteris paribus, a probabilidade de corrupção ativa (w) é inversamente


𝐶
proporcional à sensação de impunidade pública (𝑃) e ao fator ético (p).

𝐶+𝑝𝑤
𝐺 𝑦 𝐶+𝑃 (𝐶+𝑝𝑤)(𝑆+𝐹)
(iii) = (𝑥)(1−𝑦) = 𝑆−𝑓𝑤 𝑃−𝑝𝑤 = (𝑃−𝑝𝑤)(𝑆−𝑓𝑤)
𝐼 ( )( )
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑎 = 𝐺𝑓𝑝
𝑏 = −[𝐺(𝑆𝑝 + 𝑃𝑓) + 𝐼𝑝(𝑆 + 𝐹)]
𝑐 = 𝐺𝑃𝑆 − 𝐶𝐼(𝑆 + 𝐹)

−𝑏 ± √𝑏 2 − 4𝑎𝑐
𝑤=
2𝑎

A probabilidade de corrupção ativa (w) é uma função quadrática, com apenas


um resultado possível, que satisfaça a condição (1 ≥ 𝑤 ≥ 0). Alterar qualquer uma das
variáveis, ou seja, o tamanho, a inclinação, ou a posição do vetor (w), teria algum efeito
sobre a probabilidade de corrupção ativa. Contudo, na próxima seção, dedicar-nos-emos
exclusivamente aos efeitos de uma alteração nos payoffs do corruptor ativo e sua própria
probabilidade de ação, isto é, mantido constante o vetor, a relação entre a probabilidade
𝐺
(w) e a curva ( 𝐼 ).

4.3.2. Corrupção Ativa e Impunidade Privada

A regra geral do comportamento do corruptor ativo é a de que, quanto maior for


a sensação de impunidade privada (sua relação tentação-risco para ser corrupto), maior
é a probabilidade de ele ser corrupto (w).
Isso se dá porque a relação entre a curva de impunidade privada e as
probabilidades (x) e (y) é a mesma entre essas variáveis e (w):

33
𝐺 𝑦 𝐺
= (𝑥)(1−𝑦)→ 𝑠𝑒 (↑ 𝑤) → (↓ 𝑥)𝑒/𝑜𝑢(↑ 𝑦) → (↑ 𝐼 )
𝐼

Contudo, a depender de seu tamanho, inclinação e posição, uma mesma


alteração na sensação de impunidade privada pode provocar diferentes alterações na
probabilidade de corrupção ativa. A figura abaixo demonstra dois vetores (w) com a
mesma intensidade e elasticidade, em diferentes posições do Tabuleiro da Corrupção. E
uma variação na impunidade privada.

𝑮
Figura 19. Variação de ( 𝑰 ) e (w)

A curva de impunidade privada de menor valor demonstra uma probabilidade de


corrupção ativa (w) maior no primeiro vetor (abaixo e à esquerda) do que no segundo
(acima e à direita). Além disso, a mesma variação na curva de impunidade privada
aumenta a probabilidade de corrupção ativa menos no primeiro vetor do que no
segundo.
De maneira prática, a variação da probabilidade de ação do corruptor ativo em
resposta a uma variação em seus próprios payoffs depende das elasticidades relativas do
vetor 𝑤
̅ e das curvas de impunidade privada que o interceptam. Embora sejam infinitas
as possíveis combinações nesse sentido, podemos estabelecer uma regra geral da
𝐺
elasticidade relativa, segundo a qual a relação positiva entre a curva ( 𝐼 ) e o vetor 𝑤
̅ é
intensificada quando ambos são elásticos, ou quando ambos são inelásticos.

4.3.2.1. Regra da Elasticidade Relativa

A figura abaixo demonstra quatro vetores 𝑤 ̅, elásticos e inelásticos, todos com a


mesma intensidade, em diferentes fases da curva de impunidade privada.

34
Figura 20. Regra da Elasticidade Relativa

Como corolário, observamos que o vetor (w) inelástico será intensificado apenas
quando a impunidade privada for alta (G > 2I), em sua primeira fase (1 – x > y), que
corresponde, grosso modo, ao Triângulo Bom. Todavia, trata-se apenas de uma regra
geral, uma vez que o vetor (w) pode efetivamente cruzar até quatro fronteiras do
Tabuleiro, e apresentar uma relação variável entre a sua probabilidade de ação e seus
próprios payoffs.

4.3.2.2. Pressão Ética e Impunidade Privada

𝐺
A relação entre (w) e ( 𝐼 ) pode ser mais bem observada a partir de um gráfico
auxiliar que relaciona, no eixo das ordenadas, a sensação de impunidade privada e, no
eixo das abscissas, a probabilidade corrupção ativa, indo de 0 a 1, inclusive. A figura
abaixo demonstra, de um lado, um vetor 𝑤 ̅ que cruza 4 (quatro) das oito fronteiras do
Tabuleiro, e o gráfico auxiliar, que demonstra a relação entre corrupção ativa e
impunidade privada.

Figura 21. Pressão Ética e Impunidade Privada

35
As linhas verticais no gráfico auxiliar demonstram as probabilidades de
corrupção ativa e respectivos valores de impunidade privada que cruzam cada uma das
quatro fronteiras do Tabuleiro.

4.3.3. Sensações de Impunidade Privada e Pública

Retomemos a terceira equação de equilíbrio, dessa vez isolando-se a


probabilidade de corrupção passiva (x):

𝐺 𝑦 𝐼 𝑦 𝐼 𝐶+𝑝𝑤
= (𝑥)(1−𝑦) → 𝑥 = 𝐺 . (1−𝑦)→ 𝑥 = 𝐺 . 𝑃−𝑝𝑤
𝐼

Caso a curva de impunidade privada mantenha-se constante, um movimento ao


longo da curva implica uma relação positiva entre (x) e (y), isto é, a probabilidade de
corrupção passiva torna-se forçosamente diretamente proporcional à probabilidade de
controle interno. Nesse sentido, a probabilidade de corrupção passiva (x) é, tudo o mais
𝐶
constante, diretamente proporcional à sensação de impunidade pública (𝑃) e
𝐺
inversamente proporcional à sensação de impunidade privada ( 𝐼 ), além de também ser
diretamente proporcional à pressão ética sobre o corruptor passivo (pw).
Como sabemos, a probabilidade de corrupção passiva sempre será um número
menor do que 1 (um). Destarte, podemos concluir uma importante relação entre as
sensações de impunidade pública e privada no Jogo da Corrupção Ativa:

𝐼 𝐶+𝑝𝑤 𝐺 𝐶+𝑝𝑤
1 > 𝐺 . 𝑃−𝑝𝑤 → > 𝑃−𝑝𝑤
𝐼
Neste jogo, a sensação de impunidade privada será sempre maior que a sensação
de impunidade pública, para qualquer probabilidade de corrupção ativa. Essa regra não
será verdadeira no jogo analisado no capítulo 5.

4.4. Corrupção Ativa e o Triângulo Bom

Conforme observado anteriormente, garantimos que um ponto esteja no


triângulo bom quando a responsabilidade policial-disciplinar for maior que a sensação
de impunidade pública e que a sensação de injustiça pública, ao mesmo tempo.
Ademais, vimos que a sensação de impunidade privada deve ser maior que 1 (um),
indicando que uma sociedade só poderá estar no triângulo bom quando os ganhos
associados à corrupção ativa forem maiores que as perdas (G > I).
Nessa seção, vamos observar as condições para que o vetor 𝑤̅, por inteiro, esteja
𝐹 𝐶 𝐹 𝑃
situado no triângulo bom. Para tanto, além das condições ( 𝑆 > 𝑃) e (𝑆 > 𝐶 ), a
𝐹+𝑓 𝐶+𝑝
probabilidade (1 – xmin) deve ser maior que a probabilidade (ymax) (𝑆+𝐹 > 𝐶+𝑃).

36
𝐶𝐹 + 𝐹𝑃 + 𝐶𝑓 + 𝑃𝑓 > 𝐶𝑆 + 𝐶𝐹 + 𝑆𝑝 + 𝐹𝑝

𝐹𝑃 − 𝐶𝑆 > 𝑝(𝑆 + 𝐹) − 𝑓(𝐶 + 𝑃)

A regra geral é de que, estando o ponto inicial no triângulo bom, qualquer vetor
(w) unitário ou elástico estará no triângulo bom, independentemente de sua intensidade.
𝐹
Quanto maiores forem a responsabilidade policial-disciplinar (𝑆 ) e a sensação de
𝑃
injustiça pública (𝐶 ), mais espaço existirá para que o vetor 𝑤
̅ seja mais intenso e mais
inelástico.
A seguir, será analisado o Jogo do Controle Externo.

5. O Jogo do Controle Externo

5.1. Matriz

A matriz do Jogo do Controle Externo, apresentada abaixo, segue a mesma


disposição da matriz do Jogo da Corrupção Ativa.

Figura 22. Matriz do Jogo do Controle Externo

Ações Payoffs Arrependimentos


Caso
Passivo Interno Externo Passivo Interno Externo Passivo Interno Externo
1 Corrup Control Control −𝑃 − 𝛼 0 0 Sim Não Sim
2 Corrup Control Não −𝑃 0 𝑇 Sim Não Não
3 Corrup Não Control 𝐶−𝛼 −𝐹 − 𝛽 0 Não Sim Não
4 Corrup Não Não 𝐶 −𝐹 −𝐴 Não Sim Sim
5 Não Control Control 0 0 0 Não Sim Sim
6 Não Control Não 0 0 𝑇 Não Sim Não
7 Não Não Control 0 𝑆−𝛽 0 Sim Não Sim
8 Não Não Não 0 𝑆 𝑇 Sim Não Não

5.1.1. Fatores Democráticos

Conforme mencionado no capítulo 2, o controle externo é ambivalente, pois se


direciona tanto aos corruptores passivos quanto aos controladores internos. Podemos
supor que os cidadãos, ou a opinião pública de maneira geral, podem criticar tanto os
“políticos corruptos” quanto os controladores, como a polícia, o Judiciário, etc. Dessa
forma, o fator de desconto, que será chamado de risco “democrático”, é retirado dos
corruptores passivos que são corruptos (−𝛼) quando o controle externo é exercido, e é
retirado dos controladores internos que não investigam (−𝛽) também quando o controle

37
externo é exercido. Uma vez que os riscos adicionais não ultrapassam as tentações
originais (𝐶 > 𝛼) e (𝑆 > 𝛽), a relação de caça-e-fuga entre os jogadores essenciais é
mantida.

5.1.2. Tripla Tentação

Agora, podemos estabelecer a ordem de preferências do controlador externo no


Tabuleiro da Corrupção. Vamos supor que o controlador externo também tem uma
tentação e um risco associados a não exercer o controle externo. Dessa forma, podemos
supor que o controlador externo ganhe utilidade, representada pela letra (T), quando ele
não se mobiliza contra a corrupção e ela de fato não ocorre (ou seja, quando corruptores
passivos não praticam a corrupção ou quando controladores internos a investigam). Ele
perde utilidade, representada por (–A), quando ele não se mobiliza e a corrupção de fato
ocorre (quando corruptores passivos são corruptos e não são investigados). Destarte,
temos que, para o controlador externo: (𝑄1 = 𝑄2 = 𝑄3 > 𝑄4).

5.2. Equilíbrio

Para encontrar o Equilíbrio de Nash em Estratégias Mistas, será feito o mesmo


procedimento de antes. Para tanto, vamos considerar que a probabilidade de que o
controlador externo exerça o controle seja (z), e a probabilidade de que ele não exerça
(1 – z).

Corruptor Passivo:

Valor Esperado de Ser Corrupto:

(−𝑃 − 𝛼)(𝑦𝑧) + (−𝑃)(𝑦 − 𝑦𝑧) + (𝐶 − 𝛼)(𝑧 − 𝑦𝑧) + (𝐶)(1 − 𝑦 − 𝑧 + 𝑦𝑧)

−𝑃𝑦𝑧 − 𝛼𝑦𝑧 − 𝑷𝒚 + 𝑃𝑦𝑧 + 𝐶𝑧 − 𝐶𝑦𝑧 − 𝜶𝒛 + 𝛼𝑦𝑧 + 𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝐶𝑧 + 𝐶𝑦𝑧

𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝑷𝒚 − 𝜶𝒛

Valor Esperado de Não Ser Corrupto:

Equilíbrio: 𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 − 𝛼𝑧 = 0

𝐶 − 𝛼𝑧
𝑦=
𝐶+𝑃

38
Controlador Interno:

Valor Esperado de Investigar = 0 (zero).

Valor Esperado de Não Investigar:

(−𝐹 − 𝛽)(𝑥𝑧) + (−𝐹)(𝑥 − 𝑥𝑧) + (𝑆 − 𝛽)(𝑧 − 𝑥𝑧) + (𝑆)(1 − 𝑥 − 𝑧 + 𝑥𝑧)

−𝐹𝑥𝑧 − 𝛽𝑥𝑧 − 𝑭𝒙 + 𝐹𝑥𝑧 + 𝑆𝑧 − 𝑆𝑥𝑧 − 𝜷𝒛 + 𝛽𝑥𝑧 + 𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑆𝑧 + 𝑆𝑥𝑧

𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑭𝒙 − 𝜷𝒛

Equilíbrio: 𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 − 𝛽𝑧 = 0

𝑆 − 𝛽𝑧
𝑥=
𝑆+𝐹

Controlador Externo:

Valor Esperado de Não Se Mobilizar:

(𝑇)(𝑥𝑦) + (−𝐴)(𝑥 − 𝑥𝑦) + (𝑇)(𝑦 − 𝑥𝑦) + (𝑇)(1 − 𝑥 − 𝑦 + 𝑥𝑦)

𝑇𝑥𝑦 − 𝑨𝒙 + 𝑨𝒙𝒚 + 𝑇𝑦 − 𝑇𝑥𝑦 + 𝑻 − 𝑻𝒙 − 𝑇𝑦 + 𝑻𝒙𝒚

−(𝒙)(𝟏 − 𝒚)(𝑻 + 𝑨) + 𝑻

Valor Esperado de Se Mobilizar = 0 (zero).

Equilíbrio: −(𝑥)(1 − 𝑦)(𝑇 + 𝐴) + 𝑇 = 0

𝑇
(𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴

5.2.1. A Pressão Democrática – vetor 𝒛̅

Como anteriormente, foram encontradas três equações de equilíbrio, uma para


cada jogador:
𝑆 − 𝛽𝑧
(𝐼) → 𝑥 =
𝑆+𝐹

39
𝐶 − 𝛼𝑧
(𝐼𝐼) → 𝑦 =
𝐶+𝑃

𝑇
(𝐼𝐼𝐼) → (𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴

A inserção do controlador externo afeta as probabilidades de equilíbrio (x) e (y),


sendo inversamente proporcional a ambas. Em um gráfico, essas informações nos
permitem deduzir a existência de um vetor z̅, que se move simultaneamente para baixo e
para a esquerda, formando uma reta positivamente inclinada, conforme demonstrado
pela figura abaixo.

Figura 23. Vetor 𝐳̅

5.2.1.1. Direção e Sentido

Diferentemente do vetor 𝑤̅, o vetor z̅ move uma sociedade na direção (Q2 →


Q3), que é a direção que ambos os jogadores essenciais consideram “boa”. Não se pode
falar aprioristicamente que o controlador externo “joga contra si mesmo”, uma vez que
ele pode “arrastar” uma sociedade para uma posição em que a corrupção de fato ocorre
menos ou para uma posição onde ela ocorre mais. Assim como o vetor 𝑤 ̅, o vetor z̅
apresenta uma elasticidade, uma intensidade e uma posição, cujos cálculos seguem a
mesma lógica.

5.2.1.2. Intensidade

𝑆 𝑆−𝛽 𝛽
∆𝑥 = 𝑆+𝐹 − 𝑆+𝐹 = 𝑆+𝐹
𝐶 𝐶−𝛼 𝛼
∆𝑦 = 𝐶+𝑃 − 𝐶+𝑃 = 𝐶+𝑃

𝛼2 𝛽2
Intensidade: √(𝐶+𝑃)2 + (𝑆+𝐹)2

40
5.2.1.3. Elasticidade

𝛽
𝛽(𝐶+𝑃)
Elasticidade: ( 𝑆+𝐹
𝛼 ) →
𝛼(𝑆+𝐹)
𝐶+𝑃

5.2.1.4. Posição

A posição do vetor z̅ também obedece à lógica das variáveis de posição. Todo o


𝐹
vetor estará mais à esquerda quanto maior a responsabilidade policial-disciplinar ( 𝑆 ) e
𝐶
mais acima quanto maior a sensação de impunidade pública (𝑃).

𝑨
5.2.2. Responsabilidade Cidadã – curva𝑻

5.2.2.1. Disposição e Significado

Por fim, ressalte-se que a probabilidade de que a corrupção de fato ocorra (x)(1 –
𝐴
y) é inversamente proporcional à relação risco-tentação do controlador externo (𝑇 ), que
podemos chamar de sensação de dever cidadão. Isso se explica pelo fato de ambos os
agentes públicos, corruptor e controlador, estarem em uma relação de caça-e-fuga com o
controlador externo, devido a sua ambivalência. Portanto, uma análise apenas dos
payoffs dos controladores externos pode ser um ótimo indicativo das chances de que a
corrupção ocorra em uma sociedade, mas não será indicativo, especificamente, de se a
chance de criminalidade (x) é alta ou de investigação (y) é baixa, apenas do conjunto
das duas.

𝐴 1 − (𝑥)(1 − 𝑦)
=
𝑇 (𝑥)(1 − 𝑦)
𝐴
De maneira sucinta, a curva (𝑇 ) demonstra a probabilidade de que a corrupção
não ocorra (Q1 + Q2 + Q3) relativa à probabilidade de que ela ocorra (Q4). No
𝑇
Tabuleiro da Corrupção, ela vai de algum ponto onde (𝑥 = 𝐴+𝑇) e (y = 0) até algum
𝐴
ponto onde (x = 1) e (𝑦 = 𝐴+𝑇). Ao longo de toda a curva, a probabilidade de que a
corrupção de fato ocorra é a mesma. A figura baixo demonstra cinco curvas de
responsabilidade cidadã, uma de valor superior a 3 (três), uma de valor igual a 3 (três);
uma de valor inferior a 3 (três) e superior a 1 (um); uma de valor igual a 1 (um); e uma
de valor inferior a 1 (um).

41
𝑨
Figura 24. A Curva 𝑻 no Tabuleiro da Corrupção

5.2.2.2. Tipos de Responsabilidade Cidadã

Também é possível dividir os controladores externos em três tipos: se o risco de


não se mobilizar contra a corrupção for maior que três vezes a tentação (A > 3T), então
a sensação de dever cidadão é alta e a sociedade passa pelos casos C1, C2, C3, C4, C7
e C8. Se o risco de não se mobilizar estiver entre três vezes e o valor da tentação (3T >
A > T), então a sensação de dever cidadão é média e essa sociedade ocupa os casos C5,
C6 ou C7. Caso a tentação para não se mobilizar seja maior que o risco (T > A), então a
sensação de dever cidadão é baixa e a sociedade estará nos casos C5 ou C6. Portanto,
uma sociedade apenas poderá estar n o triângulo “bom” caso a responsabilidade cidadã
𝐴
seja maior que 3 (três) (𝑇 > 3), mas essa condição é apenas necessária, não suficiente.

5.2.2.3. Fases da Responsabilidade Cidadã

A curva de responsabilidade cidadã, independentemente de seu valor, cruza


necessariamente apenas uma das grandes fronteiras do Tabuleiro, qual seja, (1 – x = y).
Ela sempre será inelástica na primeira fase (à esquerda da linha da inocência) e elástica
na segunda (à direita), conforme demonstrado pela figura abaixo.

42
Figura 25. Duas Fases da Responsabilidade Cidadã

A probabilidade de que o controlador externo exerça o controle também será a


interseção entre a curva de responsabilidade cidadã e o vetor 𝑧̅, e está em função de
todos os payoffs, trazendo uma interessante possibilidade de dois equilíbrios de Nash
em estratégias mistas, e de um comportamento errático do controlador externo.

5.3. O Comportamento do Controlador Externo

5.3.1. Probabilidade de Controle Externo (z)

A probabilidade de controle externo (z) também pode valer 0 (zero) ou 1 (um).


Também podemos analisar a probabilidade de controle externo de três formas:

𝑆−𝛽𝑧 𝑆−𝑥(𝑆+𝐹)
(i) 𝑥= →𝑧 =
𝑆+𝐹 𝛽
A probabilidade de que o controlador externo exerça o controle (z) é, caeteris
𝐹
paribus, diretamente proporcional à responsabilidade policial-disciplinar ( 𝑆 ) e
inversamente proporcional ao fator democrático (𝛽).

𝐶−𝛼𝑧 𝐶−𝑦(𝐶+𝑃)
(ii) 𝑦= →𝑧 =
𝐶+𝑃 𝛼
A probabilidade de que o controlador externo exerça o controle (z) é, caeteris
𝐶
paribus, diretamente proporcional à sensação de impunidade pública ( ) e
𝑃
inversamente proporcional ao fator democrático (𝛼).

𝑇
(iii) (𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴
𝑎 = 𝛼𝛽(𝐴 + 𝑇)
𝑏 = −[(𝑆𝛼 − 𝑃𝛽)(𝐴 + 𝑇)]
𝑐 = 𝑇(𝐶𝑆 + 𝐶𝐹 + 𝐹𝑃) − 𝐴𝑆𝑃

43
−𝑏 ± √𝑏 2 − 4𝑎𝑐
𝑧=
2𝑎
A função quadrática da probabilidade (z), diferentemente de (w), nos traz a
possibilidade de dois valores possíveis de (z), e, portanto, dois equilíbrios de Nash em
estratégias mistas. A figura baixo demonstra uma curva de responsabilidade cidadã e
dois vetores z̅ que a cruzam, cada um, em dois pontos.

Figura 26. Dois Equilíbrios de Nash no Controle Externo

5.3.2. Controle Externo e Responsabilidade Cidadã

Enquanto a relação entre impunidade privada e corrupção ativa é sempre


positiva, o mesmo não se pode dizer a respeito da relação entre a probabilidade de
controle externo e variações na responsabilidade cidadã. Em um vetor z̅ perfeitamente
elástico, por exemplo, um aumento da responsabilidade cidadã sempre acarretaria em
um aumento da probabilidade (z); já em um vetor z̅ perfeitamente inelástico, um
aumento da responsabilidade cidadã acarretaria invariavelmente uma diminuição da
probabilidade de controle externo. A relação entre elas nem sempre é positiva. Depende,
sobretudo, da elasticidade da curva.
Em regra, a relação entre essas variáveis é positiva quando (1 – x > y) e negativa
quando (1 – x < y), ou seja, dependendo da posição do vetor z̅ com relação à linha da
inocência.

5.3.2.1. Regra da Posição do Vetor 𝒛̅

A figura baixo demonstra dois vetores z̅ de mesma intensidade e elasticidade, e


uma variação na responsabilidade cidadã.

44
Figura 27. Regra da Posição do Vetor 𝐳̅

Note-se que, quando a curva de responsabilidade cidadã é inelástica, o


“cidadão” tende a se mobilizar mais quanto maior for a sua relação risco-tentação.
Quando a curva é elástica, o cidadão tende a se mobilizar menos quanto maior for a sua
responsabilidade.
Ademais, a regra geral da elasticidade também se aplica ao vetor z̅. Isso quer
dizer que a relação entre controle externo e responsabilidade cidadã, seja ela positiva ou
negativa, é intensificada quando as elasticidades do vetor e da curva são coincidentes,
isto é, quando ambos são elásticos ou inelásticos. Ressalte-se que são apenas regras
gerais, pois são inúmeras as possibilidades de combinações entre vetor e curva.
O Jogo do Controle Externo traz, portanto, duas conclusões interessantes que,
quando combinadas, geram uma situação de difícil análise, que chamamos de “Cidadão
Errático”.

5.3.2.2. O Cidadão Errático

A figura abaixo demonstra um vetor z̅ de elasticidade unitária, que cruza a linha


da inocência.

Figura 28. O Cidadão Errático

45
Nesse vetor, com a exceção de uma curva que o tangencia, todas as outras o
cruzam em dois pontos, fazendo com que, para uma determinada curva de
responsabilidade cidadã, haja duas possíveis probabilidades (z) de equilíbrio
(notadamente, uma alta e uma baixa). No exemplo, poderíamos considerar que é
impossível saber se uma sociedade está posicionada no ponto (i) ou no ponto (ii).
Além disso, aumentar o valor da responsabilidade cidadã poderá ter efeitos
ambíguos nessa sociedade. Ao passar para a curva de maior valor, pode ser que
tenhamos saído do ponto (i) para o ponto (iii) – isto é, um cidadão que se mobiliava
muito passou a se mobilizar ainda mais; do ponto (ii) para o ponto (iv) – isto é, um
cidadão que se mobilizava pouco passou a se mobiliar ainda menos; do ponto (ii) para o
ponto (iii) – ou seja, um cidadão que se mobilizava pouco e passou a se mobilizar
muito; e do ponto (i) para o ponto (iv) – ou seja, um cidadão que mobilizava muito
passou a se mobilizar pouco.
O cidadão errático nos mostra que, mesmo munidos dos todas as variáveis que
indicam os payoffs dos três jogadores pode ser impossível apurar não apenas o ponto de
equilíbrio, mas uma possível resposta do controlador externo a uma alteração em seus
próprios payoffs. Essa realidade não será verdadeira no jogo apresentado no capítulo
seguinte.

5.3.2.3. Pressão Democrática e Responsabilidade Cidadã

De maneira semelhante à pressão ética, podemos analisar a relação vetor z̅ e


𝐴
curva (𝑇 ) com um gráfico auxiliar, colocando, no eixo das ordenadas, a
responsabilidade cidadã, e, no eixo das abscissas, a probabilidade de controle externo,
de 0 (zero) a 1 (um), inclusive. A figura abaixo demonstra o gráfico auxiliar do vetor
respectivo ao cidadão errático, supramencionado.

Figura 29. Pressão Ética e Responsabilidade Cidadã

Nesse caso, a relação entre a responsabilidade cidadã e a probabilidade de


controle externo pode ser negativa ou positiva, a depender da própria probabilidade de
corrupção externa.

46
5.4. Controle Externo e o Triângulo Bom

Por fim, vamos considerar as condições para que o vetor z̅ esteja inteiramente
posicionado no triângulo bom. Para tanto, basta que, além das condições originais, no
ponto (xmin; ymin), ele também satisfaça à condição (y > x).

𝐶−𝛼 𝑆−𝛽
> 𝑆+𝐹 → 𝐶𝐹 − 𝑆𝑃 > 𝛼(𝑆 + 𝐹) − 𝛽(𝐶 + 𝑃)
𝐶+𝑃

Como regra geral, o vetor (z) que se inicia no triângulo bom nele permanecerá
𝐹 𝐶
sempre que for elástico ou unitário. Mas, quanto maior forem ( 𝑆 ) e (𝑃), mais espaço há
para inelasticidade do vetor z̅.
Concluímos que adicionar jogadores ao Jogo-Base da Corrupção tem o poder de
alterar as probabilidades de equilíbrio e as chances de que a corrupção de fato ocorra.
Embora ambos os vetores sejam inversos à probabilidade de corrupção passiva (x), têm
diferentes influências sobre a probabilidade de controle interno (y). Portanto, eles se
somam no eixo (x) e se anulam no eixo (y). Na próxima seção, será apresentada a
combinação dos dois vetores, ou seja, a inserção de ambos os jogadores auxiliares do
Jogo da Corrupção.

6. O Jogo Expandido da Corrupção

6.1. Matriz

Em sua derradeira versão, o Jogo Expandido da Corrupção apresenta quatro


jogadores e, portanto, dezesseis casos possíveis. Todas as variáveis contidas nos jogos
anteriores foram introduzidas e todas as relações entre elas permanecem verdadeiras,
conforme resumidas na figura abaixo. Ademais, está apresentada a matriz do jogo,
novamente denotando as ações, os payoffs e os arrependimentos dos jogadores em cada
caso.

Figura 30. Regras Básicas do Jogo da Corrupção

Jogadores Ações Probabilidades Condições


Corrupção (x) 𝐶 > 𝛼 ≥ 0 ≥ −𝑝 > −𝑃
Corruptor Passivo
Não (1 – x ) 0<𝑥<1
Essenciais
Controle (y) 𝑆 > 𝛽 + 𝑓 ≥ 0 > −𝐹
Controlador Interno
Não (1 – y) 0<𝑦<1
Corrupção (w) 𝐺 > 0 > −𝐼
Corruptor Ativo
Não (1 – w) 0≤𝑤≤1
Auxiliares
Controle (z) 𝑇 > 0 > −𝐴
Controlador Externo
Não (1 – z) 0≤𝑧≤1

47
Figura 31. Matriz do Jogo da Corrupção

Ações Payoffs Arrependimentos


Caso
Psv Int Atv Ext Psv Int Atv Ext Psv Int Atv Ext
1 C C C C −𝑃 − 𝛼 0 −𝐼 0 Sim Não Sim Sim
2 C C C N −𝑃 0 −𝐼 𝑇 Sim Não Sim Não
3 C C N C −𝑃 − 𝛼 0 0 0 Sim Não Não Sim
4 C C N N −𝑃 0 0 𝑇 Sim Não Não Não
5 C N C C 𝐶−𝛼 −𝐹 − 𝑓 − 𝛽 𝐺 0 Não Sim Não Não
6 C N C N 𝐶 −𝐹 − 𝑓 𝐺 −𝐴 Não Sim Não Sim
7 C N N C 𝐶−𝛼 −𝐹 − 𝛽 0 0 Não Sim Sim Não
8 C N N N 𝐶 −𝐹 0 −𝐴 Não Sim Sim Sim
9 N C C C −𝑝 0 −𝐼 0 Não Sim Sim Sim
10 N C C N 0 0 −𝐼 𝑇 Não Sim Sim Não
11 N C N C −𝑝 0 0 0 Não Sim Não Sim
12 N C N N 0 0 0 𝑇 Não Sim Não Não
13 N N C C −𝑝 𝑆−𝑓−𝛽 0 0 Sim Não Não Sim
14 N N C N 0 𝑆−𝑓 0 𝑇 Sim Não Não Não
15 N N N C −𝑝 𝑆−𝛽 0 0 Sim Não Não Sim
16 N N N N 0 𝑆 0 𝑇 Sim Não Não Não

Um aspecto importante de se ressaltar a respeito dessa matriz é que não foram


consideradas relações de payoffs entre os jogadores auxiliares. Mesmo que pudéssemos
considerar a possibilidade de um controlador externo se mobilizar contra corruptores
ativos, tratar-se-ia de uma relação entre dois atores estritamente privados, que foge ao
escopo do nosso objeto de estudo. Realizando-se os cálculos de equilíbrio, obtêm-se as
seguintes equações:

𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧
(I) – 𝑥 = 𝑆+𝐹

𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧
(II) – 𝑦 = 𝐶+𝑃

𝐼𝑦
(III) – (𝑥)(1 − 𝑦) = 𝐺

𝑇
(IV) – (𝑥)(1 − 𝑦) = 𝑇+𝐴

48
Das duas primeiras equações de equilíbrio, teremos uma figura necessariamente
quadrilateral associada aos valores de (w) e (z), que terá um formato, um tamanho e
uma posição.

6.2. A Sociedade Quadrilátera

Pelas duas primeiras equações, observamos que existem quatro pontos, onde (x)
e (y) são mínimos e máximos. Eles são os vértices de uma figura quadrilátera, conforme
exposto na figura abaixo.

Figura 32. Vértices do Quadrilátero

Vértice (w) (z) (x) (y)


𝑆 𝐶
A 0 0 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑆−𝑓 𝐶+𝑝
B 1 0 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑆−𝛽 𝐶−𝛼
C 0 1 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑆−𝛽−𝑓 𝐶+𝑝−𝛼
D 0 0 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃

No tabuleiro, teremos que o ponto (A) está mais à direita (𝑥𝑚𝑎𝑥 ); o ponto (B)
está mais para cima (𝑦𝑚𝑎𝑥 ); o ponto (C) está mais para baixo (𝑦𝑚𝑖𝑛 ); e o ponto (D) está
mais para a esquerda (𝑥𝑚𝑖𝑏 ). Podemos “desenhar” o quadrilátero a partir do ponto (A),
desenhando o vetor (w), que corresponde à aresta (𝐵𝐷 ̅̅̅̅) e desenhando o vetor (z) que
̅̅̅̅). Depois, invertem-se os vetores unindo os segmentos (𝐴𝐶
corresponde à aresta (𝐶𝐷 ̅̅̅̅ ) e
̅̅̅̅). A respeito do quadrilátero, podemos observar o formato, o tamanho e a posição.
(𝐴𝐵

6.2.1. Formato

Podemos analisar o formato do quadrilátero a partir da intensidade e/u da


elasticidade dos vetores 𝑤
̅ e 𝑧̅, ou, de maneira mais sucinta, a partida relação entre os
pontos (B – C) e (A – D).

6.2.1.1. Formato Segundo Intensidade

A figura abaixo demonstra três quadriláteros formatos a partir de vetores de


elasticidade unitária:

49
Figura 33. Formato segundo a Intensidade

Caso a intensidade dos vetores seja igual, os pontos (B – C) e (A – D) são


paralelos. Caso a intensidade do vetor 𝑤 ̅ seja maior que a intensidade do vetor 𝑧̅, o
ponto (B) está à esquerda do ponto (C) e o ponto (A) está abaixo do ponto (D). Caso a
intensidade do vetor 𝑧̅ seja maior que a do vetor 𝑤
̅, o ponto (B) estará à direita do ponto
(C) e o ponto (A) estará acima do ponto (D).

6.2.1.2. Formato Segundo Elasticidade

O formato do quadrilátero também pode ser determinado pela elasticidade dos


vetores 𝑤
̅ e 𝑧̅. As combinações entre eles nos dão nove formatos que podem ser
divididos em cinco categorias, conforme a figura abaixo, onde todos os vetores têm a
mesma intensidade.

Figura 34. Formato segundo a Elasticidade

O primeiro formato representa a possibilidade de ambos os vetores terem


elasticidade unitária, indicando que tanto 𝑤
̅ quanto 𝑧̅ afetam igualmente, cada um, os
jogadores essenciais. Importante ressaltar que os vetores não necessariamente têm a
mesma intensidade, como no exemplo demonstrado, que é uma figura perfeitamente

50
simétrica. A característica desse formato é que ambos os vetores, juntos, somam
exatamente 90º, o que faz dele um retângulo perfeito. Todos os três vetores da figura
anterior se enquadrariam neste formato segundo a elasticidade.
O segundo formato é quando ambos os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅ são inelásticos, ou seja,
quando ambos os jogadores auxiliares afetam mais o corruptor passivo do que o
controlador interno. O terceiro formato notável é o oposto do segundo, ambos os
jogadores auxiliares afetam mais os controladores do que os corruptores.
O quarto formato é onde 𝑤 ̅ tende a ser inelástico e 𝑧̅ tende a ser elástico. Isso
implica que os corruptores ativos afetam mais os passivos e os controladores externos
afetam mais os internos. Caso um dos vetores seja unitário, então o ponto (A) estará
abaixo do ponto (D) ou o ponto (B) estará à esquerda do ponto (C). O quinto e ultimo
formato é o oposto: 𝑤 ̅ tende a ser elástico e 𝑧̅ tende a ser inelástico. Nesses casos, o
corruptor ativo afeta mais o controlador interno e controlador externo afeta mais o
corruptor passivo. Caso um dos vetores tenha elasticidade unitária, então o ponto (A)
estará acima do ponto (D) ou o ponto (B) estará à esquerda do ponto (C).

6.2.1.3. Coletivismo x Individualismo dos Agentes Públicos

Uma variável interessante que se apresenta no Jogo Expandido da Corrupção é a


relação entre os fatores democráticos e éticos para os corruptores passivos e
controladores internos. Para determinados atores, pode ser que a ação do controlador
externo tenha mais peso relativo do que a ação dos corruptores ativos, ou vice-versa.
Para perceber qual ator privado influencia mais cada um dos agentes públicos podemos
pensar nas relações entre os fatores democráticos e éticos e a sua respectiva tentação, e
então a relação entre essas relações.
Primeiramente , vamos analisar a relação entre os pontos (B) e (C) no eixo (x).

𝑆−𝑓 𝑆−𝛽 𝛽
= 𝑆+𝐹 → 𝑓 = 1
𝑆+𝐹

𝛽
Caso os controladores internos sejam “coletivistas” (isto é, > 1), então o ponto
𝑓
𝛽
(B) estará à direita do ponto (C). Caso eles sejam “individualistas” ( 𝑓 < 1), então o
ponto (B) estará à esquerda do ponto (C).
Segundamente, analisemos a relação entre os ponto (A) e (D) no eixo (y).

𝐶 𝐶+𝑝−𝛼 𝛼
= →𝑝 = 1
𝐶+𝑃 𝐶+𝑃

𝛼
Caso os corruptores passivos sejam “coletivistas” (isto é, > 1), então o ponto
𝑝
𝛼
(A) estará acima do ponto (D). Caso eles sejam “individualistas” (𝑝 < 1), então o ponto
(A) estará abaixo do ponto (D).

51
6.2.2. Tamanho

O tamanho do quadrilátero também está em função da intensidade e elasticidade


dos vetores 𝑤̅ e 𝑧̅. As sociedades também podem ser classificadas segundo tamanho,
sendo as mais “democráticas” aquelas em que ambos os vetores são intensos a partir da
origem, pois os atores privados têm amplo poder de pressão relativo sobre os agentes
públicos. A área total do quadrilátero corresponde aos poderes de influência dos
corruptores ativos e dos controladores externos sobre os agentes públicos. Para calcular
a área do quadrilátero, podemos circunscrevê-lo em um retângulo, formado pela
decomposição dos vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅. Esse retângulo compreende todo o quadrilátero, e mais
dois triângulos retângulos formados por cada um dos vetores. Então, calculamos a área
total do retângulo em volta, e subtraímos a área dos quatro triângulos retângulos
adicionais. A figura abaixo demonstra a composição da área do quadrilátero.

Figura 35. Composição da Área

𝛼+𝑝 𝛽+𝑓 𝛼𝛽 + 𝛼𝑓 + 𝛽𝑝 + 𝑓𝑝
𝐴1 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑡â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 𝑒𝑚 𝑣𝑜𝑙𝑡𝑎: ( )( )=
𝐶+𝑃 𝑆+𝐹 (𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝑓 𝑝
2 (𝑆 + 𝐹 ) (𝐶 + 𝑃)
𝐴2 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑖𝑠 𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑣𝑒𝑡𝑜𝑟 𝑤
̅=
2
𝑓𝑝
=
(𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝛽 𝛼
2 (𝑆 + 𝐹 ) (𝐶 + 𝑃 )
𝐴3 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑖𝑠 𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑣𝑒𝑡𝑜𝑟 𝑧̅ =
2
𝛼𝛽
=
(𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)

𝛼𝛽+𝛼𝑓+𝛽𝑝+𝑓𝑝−𝛼𝛽−𝑓𝑝 𝜶𝒇+𝜷𝒑
Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑄𝑢𝑎𝑑𝑟𝑖𝑙á𝑡𝑒𝑟𝑜 = 𝐴1 − 𝐴2 − 𝐴3 = (𝑆+𝐹)(𝐶+𝑃)
= (𝑺+𝑭)(𝑪+𝑷)

52
6.2.3. Posição

A posição do quadrilátero depende das tentações e riscos dos jogadores


essenciais, conforme observado no capítulo três. Portanto, quanto maior for a sensação
𝐶
de impunidade pública (𝑃), maior será o (y) máximo, e todo o quadrilátero estará mais
𝐹
acima. Quanto menor for a sensação de dever disciplinar ( 𝑆 ), maior será (x) máximo, e
mais à direita estará todo o quadrilátero.

6.3. A Relação Tácita entre Atores Privados

É possível encontrar as probabilidades de ação dos jogadores essenciais (x) e (y)


exclusivamente através das tentações e riscos dos jogadores auxiliares, através da
igualdade entre as equações (III) e (IV).

𝐼𝑦 𝑇
(𝑥)(1 − 𝑦) = =
𝐺 𝑇+𝐴

𝑮𝑻
𝒚=
𝑰(𝑻 + 𝑨)

𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇
1−𝑦 =
𝐼(𝑇 + 𝐴)

(𝑥)((𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇)) 𝑇
=
𝐼(𝑇 + 𝐴) (𝑇 + 𝐴)

(𝑥)((𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇))(𝑇 + 𝐴) = (𝐼)(𝑇)(𝑇 + 𝐴)

𝑰𝑻
𝒙=
𝑰(𝑻 + 𝑨) − 𝑮𝑻

Podemos perceber que o ponto exato que uma sociedade ocupa é a interseção, no
𝐺 𝐴
tabuleiro, entre as curvas ( 𝐼 ) e (𝑇 ). Portanto, nesse jogo, inexiste a possibilidade de
haver dois equilíbrios de Nash, pois, dadas duas determinadas curvas, elas apenas se
interceptam em um ponto do Tabuleiro.

6.3.1. Responsabilidade Cidadã e Impunidade Privada

Como sabemos, os valores de (x) e (y) jamais chegarão a 1 (um), portanto


podemos extrair limites par os payoffs dos jogadores auxiliares, pelas equações acima.

53
𝐺𝑇
𝑦=
𝐼(𝑇 + 𝐴)

𝐺𝑇
1>
𝐼(𝑇 + 𝐴)

𝑰 𝑻
>
𝑮 𝑻+𝑨

𝐼
A sensação de injustiça privada (𝐺) é sempre, invariavelmente, maior que o
𝑇
nível de corrupção (x)(1 – y) = (𝑇+𝐴).
𝐼𝑇
𝑥=
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇

𝐼𝑇
1>
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇

𝐼𝑇 + 𝐴𝐼 − 𝐺𝑇 > 𝐼𝑇

𝐴𝐼 > 𝐺𝑇

𝑨 𝑮
>
𝑻 𝑰

𝐴
A Responsabilidade Cidadã (𝑇 )é sempre, necessariamente, maior que a
𝐺
Sensação de Impunidade Privada ( 𝐼 ). Caso contrário, as curvas não se interceptam no
Tabuleiro.
Por fim, saliente-se que, cateris paribus, isto é, mantendo cada uma das curvas
constante, temos que: (i) um aumento da impunidade privada acarreta em aumento de
(x) e de (y); e (ii) um aumento da responsabilidade cidadã implica em diminuição de (x)
e de (y); conforme demonstrado pela figura abaixo.

54
Figura 36. Responsabilidade Cidadã e Impunidade Privada

6.3.1.1. Identidade da Subtração

𝐴
Observamos que a sensação de dever cidadão ( )será sempre, em qualquer
𝑇
𝐺
sociedade, maior que a sensação de impunidade privada( 𝐼 ). Através dessas duas
variáveis, conseguimos, também, encontrar a probabilidade de corrupção passiva (x).

𝐴 1 − (𝑥)(1 − 𝑦)
𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑠𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐶𝑖𝑑𝑎𝑑ã = =
𝑇 (𝑥)(1 − 𝑦)

𝐺 𝑦
𝑆𝑒𝑛𝑠𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝐼𝑚𝑝𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑃𝑟𝑖𝑣𝑎𝑑𝑎 = =
𝐼 (𝑥)(1 − 𝑦)

1 − (𝑥)(1 − 𝑦) 𝑦 1 − 𝑥 − 𝑦 + 𝑥𝑦 (1 − 𝑥)(1 − 𝑦)
− → →
(𝑥)(1 − 𝑦) (𝑥)(1 − 𝑦) (𝑥)(1 − 𝑦) (𝑥)(1 − 𝑦)

𝟏−𝒙 𝑨 𝑮
= −
𝒙 𝑻 𝑰

Concluímos, destarte, que a sensação de dever cidadão menos a sensação de


impunidade privada nos dará uma ideia do nível de corrupção passiva (x) em uma
sociedade em equilíbrio. Para que esse nível seja baixo, é preciso que a diferença entre
as duas variáveis seja alta.

6.3.1.2. Hipocrisia dos Atores Privados

Também é digno de nota que, para qualquer ator privado, na maior parte do
gráfico, a tentação para cometer corrupção ativa é maior do que o risco (G > I), e, ao
mesmo tempo, o risco de não exercer o controle externo é maior do que a tentação (A >

55
T). Caso o risco de cometer corrupção ativa seja maior que a tentação (I > G), então
pode ser que os riscos e tentações para não exercer a corrupção sejam iguais, maiores ou
menores que as tentações, mas essa sociedade inevitavelmente estará nas áreas C5, C6,
ou C7 do Tabuleiro, todas fora do “triângulo bom”. Ademais, inexiste a possibilidade de
que a tentação para cometer corrupção ativa seja maior que o risco (G > I) e, ao mesmo
tempo, a tentação para não exercer controle seja maior que o risco (T > A). Assim,
conclui-se que, na maior parte das vezes, os atores privados são “hipócritas” porque
“preferem” cometer a corrupção e se mobilizar contra ela (ou não cometê-la e não se
mobilizar). Caso eles “prefiram” não cometer a corrupção e se mobilizar contra ela,
então com certeza a probabilidade de investigação será menor do que a probabilidade do
crime (y < x), e haverá impunidade certa nessa sociedade.

6.3.1.3. O Coletivismo do Controlador Interno e as Impunidades Pública e


Privada

No Jogo Expandido da Corrupção, torna-se inverdade a afirmação de que a


sensação de impunidade privada é sempre maior do que a sensação de impunidade
𝐺
pública. Em verdade, a relação tentação rico para corruptores ativos ( 𝐼 ) poderá ser
𝐶
menor que aquela dos corruptores ativos (𝑃) sempre que o coletivismo dos corruptores
passivos for maior que a probabilidade de corrupção ativa, relativa à probabilidade de
controle externo:

𝐼 𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧 𝐺 𝐶
𝑥 = 𝐺 . 𝑃−𝑝𝑤+𝛼𝑧 onde (x < 1) e ( 𝐼 = 𝑃)

𝐶 𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧 𝜶 𝒘
𝑃
> 𝑃−𝑝𝑤+𝛼𝑧→(𝐶𝑃 − 𝐶𝑝𝑤 + 𝐶𝛼𝑧) > (𝐶𝑃 + 𝑃𝑝𝑤 − 𝑃𝛼𝑧)→(𝐶 + 𝑃)𝛼𝑧 = (𝐶 + 𝑃)𝑝𝑤→𝒑 > 𝒛

6.4. O Comportamento dos Atores Privados

6.4.1. Pressão Ética e Responsabilidade Cidadã

Como a curva de responsabilidade cidadã aumenta para cima e para a esquerda,


ela também tem uma relação sempre necessariamente positiva com o vetor 𝑤 ̅.
Prevalece, também, a regra geral da elasticidade relativa, ou seja, a intensificação dessa
relação positiva quando vetor e curva tiverem elasticidade semelhante.

6.4.2. Pressão Democrática e Impunidade Privada

A relação entre a pressão democrática e a impunidade privada também pode


apresentar ser negativa ou positiva, a depender da elasticidade da curva. Como regra

56
geral, essa relação só é positiva quando a curva de impunidade privada é alta, em sua
primeira fase, ou seja, grosso modo, no triângulo bom.

6.4.3. Três Áreas de Comportamento

A combinação dos tipos e fases das curvas de responsabilidade cidadã e de


impunidade privada nos permite observar quatro áreas onde, de maneira generalista, o
comportamento dos controladores externos é diverso. A figura abaixo demonstra essas
quatro áreas do comportamento.

Figura 37. Três Áreas de Comportamento

Na Área 1, que corresponde ao triângulo bom, ambas as curvas de


responsabilidade cidadã e de impunidade privada são inelásticas, indicando que o vetor
𝑧̅ tem uma relação positiva com ambas, que é intensificada caso ele seja, também,
inelástico. Ademais, a relação positiva entre corrupção ativa e impunidade privada é
intensificada caso o vetor 𝑤
̅ seja inelástico.
Na Área 2, que corresponde ao triângulo favorito dos corruptores, a curva de
responsabilidade cidadã é inelástica e a de impunidade privada é elástica, indicando que
o vetor 𝑧̅ tem uma relação positiva com a seus próprios payoffs, intensificada se ele for
inelástico, mas uma relação negativa com os payoffs do corruptor ativo, intensificada
𝐺
caso ele seja elástico. Ademais, a relação positiva entre (w) e ( 𝐼 ) é intensificada caso o
vetor 𝑤
̅ seja elástico.
Na Área 3, que corresponde a todo o resto do Tabuleiro, ambas as curvas de
responsabilidade cidadã e de impunidade privada são elásticas, indicando que o vetor 𝑧̅
tem uma relação negativa com ambas, que é intensificada caso ele seja, também,
𝐺
elástico. Ademais, a relação positiva entre (w) e ( 𝐼 ) é intensificada caso o vetor 𝑤
̅ seja
elástico.

57
6.4.4. O Tabuleiro Auxiliar

Conforme exposto anteriormente, podemos analisar as sociedades, de maneira


genérica, observando quantas e quais das oito fronteiras do Tabuleiro elas cruzam.
Sempre que um quadrilátero cruzar uma fronteira, ele necessariamente o fará em pontos
onde (w) ou (z) equivalem a 0 (zero) ou 1 (um).

𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧 1 𝑺−𝑭
(x = ½) = 2 → 𝒇𝒘 + 𝜷𝒛 =
𝑆+𝐹 𝟐

𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧 1 𝑷−𝑪+𝟐𝒑
(y = ½) = 2 → 𝒑𝒘 − 𝜶𝒛 =
𝐶+𝑃 𝟐

(y = x) 𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧
𝑆+𝐹
=
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧
𝐶+𝑃
→ 𝑷𝑺 − 𝑪𝑭 + 𝒑(𝑺 + 𝑭) = (𝑺 + 𝑭)(𝒑𝒘 − 𝜶𝒛) + (𝑪 + 𝑷)(𝒇𝒘 + 𝜷𝒛)

(y = 1– x) 𝐹+𝑓𝑤+𝛽𝑧
𝑆+𝐹
=
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧
𝐶+𝑃
→ (𝑪 + 𝑷)(𝒇𝒘 + 𝜷𝒛) + (𝑺 + 𝑭)(𝜶𝒛 − 𝒑𝒘) = 𝑪𝑺 − 𝑭𝑷 − 𝒑(𝑺 + 𝑭)

Uma forma de facilitar a visualização do comportamento dos atores privados é


desenhar um Tabuleiro Auxiliar, onde são colocadas, no eixo das abscissas, a
probabilidade de corrupção ativa (w) e, no eixo das ordenadas, a probabilidade de
controle externo (z). Assim, estaremos “transpondo” a figura quadrilateral, alterando
seu formato e sua disposição. O vértice (A) passaria necessariamente para canto inferior
esquerdo do quadrado; o vértice (B) para o canto inferior direito; o (C) para o canto
superior esquerdo; e o (D) para o canto superior direito. Esse tabuleiro auxiliar será
“repartido” em tantas linhas quantas foram as fronteiras que a sociedade cruzar no
Tabuleiro original.
De forma resumida, o Tabuleiro Auxiliar nos permite observar o comportamento
dos atores privados, ignorando o seu formato, isto é, a inclinação e intensidade dos
vetores 𝑤
̅ e 𝑧̅. Para Exemplificar, vamos imaginar duas sociedades-modelo, que ocupam
toda a área do Tabuleiro da Corrupção. Em ambas, a responsabilidade policial-
𝐹
disciplinar é nula (𝑆 = 0). Na sociedade I, a sensação de impunidade pública é infinita
𝐶 𝛼
(𝑃 = ∞), bem como o é o coletivismo dos corruptores passivos (𝑝 = ∞), enquanto os
𝛽
controladores são absolutamente individualistas ( 𝑓 = 0). Na sociedade II, é o oposto, a
𝐶
sensação de impunidade pública é nula (𝑃 = 0), bem como o é o coletivismo dos
𝛼
corruptores passivos (𝑝 = 0), enquanto os controladores são absolutamente coletivistas
𝛽
( 𝑓 = ∞).

58
Figura 38. Sociedades-Modelo

Na sociedade I, aumentar a responsabilidade cidadã e a impunidade privada tem


o efeito de aumentar a probabilidade de corrupção ativa (w) e diminuir a probabilidade
controle externo (z). Ela estará no triângulo bom quando (w > z > 1 – w).
Na sociedade II, aumentar a responsabilidade cidadã e a impunidade privada tem
o efeito de aumentar a probabilidade de corrupção ativa (w) e também a probabilidade
controle externo (z). Ela estará no triângulo bom quando (z > w > 1 – z).
O Tabuleiro Auxiliar deve ser calculado de maneira individualizada para cada
sociedade, de modo a auxiliar a compreensão acerca do comportamento dos atores
privados e, a partir deles, dos agentes públicos. A seguir, serão feitas considerações
sobre sociedades “ideais”, que sempre estão no triângulo bom, independentemente das
probabilidades (w) e (z).

6.5. Sociedades Ideais

A partir das condições apresentadas nos capítulos anteriores, podemos


posicionar os pontos (A), (B) e (C) no triângulo bom, o que é condição suficientemente
para que o ponto (D) também esteja neles posicionado. Nesta seção, nos dedicaremos a
𝐴 𝐺
analisar as variáveis ( )e ( ) para que sociedades estejam no triângulo bom. Nesse
𝑇 𝐼
sentido, sabemos de antemão que a responsabilidade cidadã deve ser maior do que 3
(três), ou seja, que o risco para o controlador externo não se mobilizar contra a
corrupção deve ser, no mínimo, maior que três vezes o valor da tentação. Já a sensação
de impunidade privada, deve ser maior que 1 (um), indicando que a tentação para
corruptores ativos deve ser maior do que o risco, associado a ser corrupto. Além disso, a
diferença entre essas variáveis deve ser maior do que 1 (um), para que a probabilidade
de corrupção passiva (x) seja menor que ½. Todas essas condições ainda são
insuficientes para posicionar uma sociedade no triângulo bom, pois, conforme

59
demonstrado pela figura abaixo, restam o caso C2 e um pedaço do caso C7, conforme
demonstrado, em cor cinza, na figura abaixo.

Figura 39. Condições Ideais

6.5.1. Impunidade Privada

Caso a impunidade privada seja menor que 2 (dois), (2𝐼 > 𝐺 > 𝐼), devemos
garantir que a probabilidade de controle interno seja maior que a probabilidade de
corrupção passiva (y > x), o que ocorrerá quando a sensação de injustiça privada for
menor do que a probabilidade de que o controlador interno não exerça o controle.

𝐺𝑇 𝐼𝑇
>
𝐴𝐼 + 𝐼𝑇 𝐴𝐼 + 𝐼𝑇 − 𝐺𝑇

𝐴𝐺𝐼𝑇 + 𝐼𝐺𝑇² − 𝐺²𝑇² > 𝐴𝐼²𝑇 + 𝐼²𝑇²

𝐴𝐼+𝑇𝐼−𝐺𝑇 𝐼 𝑰
𝐺(𝐴𝐼 + 𝑇𝐼 − 𝐺𝑇) > 𝐼²(𝐴 + 𝑇) → (1 − 𝑦) = 𝐴𝐼+𝑇𝐼
> 𝐺 →𝟏−𝒚>𝑮

Caso a impunidade privada seja maior que 2 (dois), (𝐺 > 2𝐼), devemos garantir
que a probabilidade de controle interno seja menor que a probabilidade de que o
corruptor não pratique a corrupção passiva (1 – x > y), o que ocorrerá quando a razão
𝐴 𝐺
entre a ética cidadã (𝑇 ) e a sensação de impunidade privada ( 𝐼 ) – que será sempre um
número maior que 1 (um), configurando a relação entre riscos e tentações dos atores
𝐴𝐼
privados (𝐺𝑇) – obedecer à seguinte inequação:

𝐴𝐼 − 𝐺𝑇 𝐺𝑇
>
𝐴𝐼 + 𝐼𝑇 − 𝐺𝑇 𝐴𝐼 + 𝑇𝐼

𝐴²𝐼² + 𝐴𝐼²𝑇 − 𝐴𝐺𝐼𝑇 − 𝐺𝐼𝑇² > 𝐴𝐺𝐼𝑇 + 𝐺𝐼𝑇² − 𝐺²𝑇²

60
𝐴²𝐼² + 𝐴𝐼²𝑇 − 2𝐴𝐺𝐼𝑇 > 2𝐺𝐼𝑇² − 𝐺²𝑇²

𝐴𝐼(𝐴𝐼 + 𝐼𝑇 − 2𝐺𝑇) > 𝐺𝑇 2 (2𝐼 − 𝐺)

𝑨𝑰 𝑻(𝟐𝑰 − 𝑮)
>
𝑮𝑻 𝑰(𝑨 + 𝑻) − 𝟐𝑮𝑻

Outra forma de se pensar em sociedade “ideais” é posicionar todo o quadrilátero


no triângulo “bom”. A figura abaixo demonstra três exemplos de sociedades idéias e
suas características:

61
Figura 40. Sociedades Ideais
𝐴 𝐺
𝐹 𝐶 𝛼 𝛽 ( ) ( )
Sociedade ( ) ( ) ( ) ( ) 𝑇 𝐼 Quadrilátero Tabuleiro Auxiliar
𝑆 𝑃 𝑝 𝑓
A B C A B C

I = 3 = 3 =0 =0 = 15 = 1600 = 4,33 = 12 = 1200 = 1,33

II = 3 = 1 =1 =1 =7 = 63 = 8,14 =4 = 56 = 1,14

1
III = 3 = =∞ =∞ = 4,33 = 15 = 532,33 = 1,33 = 12 = 133,33
3
A principal característica em comum entre as três sociedades acima é a de que a
sensação de dever disciplinar dos controladores internos é alta, condição para que a
probabilidade máxima de corrupção passiva (𝑥𝑚𝑎𝑥 ) seja baixa. A principal diferença
entre as três sociedades é a sensação de impunidade pública, que pode ir de um valor
médio-alto a um valor médio-baixo.
Na primeira sociedade, a sensação de impunidade pública tende a ser mais alta,
posicionando o ponto (A) do quadrilátero no caso C1. Nessa sociedade, os corruptores
passivos são mais coletivistas e os controladores internos são mais individualistas e,
portanto, o vetor 𝑤 ̅ é menor e mais elástico, enquanto o vetor 𝑧̅ é maior e mais
inelástico. Portanto, a probabilidade de corrupção ativa (w) aumenta a sensação de
dever cidadão e de impunidade privada, enquanto a probabilidade de controle externo
(z) as diminui. Nesse caso, a pressão democrática pode levar a sociedade de C1 a C8.
A terceira sociedade é o inverso da primeira. A sensação de impunidade pública
tende a ser baixa, posicionando o ponto (A) no caso C8. Nessa sociedade, os corruptores
passivos são mais individualistas e os controladores internos são mais coletivistas, de
forma que o vetor 𝑤 ̅ é maior e mais inelástico, enquanto o vetor 𝑧̅ é menor e mais
elástico. Tanto a probabilidade de corrupção ativa (w) quanto de controle externo (z)
aumentam a sensação de dever cidadão e a sensação de impunidade privada.
A sociedade intermediária representa a sensação de impunidade pública justa (C
= P), posicionando o ponto (A) na fronteira entre os casos C1 e C8. Nesse caso, os
jogadores essenciais não são nem individualistas nem coletivistas, de modo que ambos
levam em consideração igualmente a pressão de cada jogador auxiliar. Contudo, isso
não significa que os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅ são elásticos, pois ambos são inelásticos, indicando
que ambos os jogadores auxiliares afetam mais o corruptor passivo do que o controlador
interno. Nessa sociedade, ambos os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅ aumentam a sensação de dever
cidadão, mas a probabilidade de corrupção ativa (w) aumenta a sensação de impunidade
privada, enquanto a probabilidade de controle externo (z) a diminui. A sociedade estará
no caso C8 quando (z > w).
Em suma, caso haja uma sensação de impunidade pública alta, é melhor que os
agentes públicos sejam mais individualistas, isto é, que a pressão “ética” seja maior que
a pressão “democrática”. Caso contrário, é melhor que os que os agentes públicos sejam
mais coletivistas, ou seja, que a pressão “democrática” seja maior que a pressão ética
para ambos. Caso a sensação de impunidade pública seja média, então o coletivismo ou
individualismo dos agentes públicos deixa de ser de grande relevância, pois certamente,
nessa sociedade, o nível de corrupção é baixo e ela provavelmente estará posicionada no
triângulo “bom” (desde que a responsabilidade policial-disciplinar seja alta)

7. Considerações Finais

As principais conclusões do modelo apresentado aqui são baseadas em uma


simples premissa, a de que existe, em qualquer situação de corrupção política, uma
relação de caça-e-fuga entre o agente público que decide entre desviar ou não a sua
função e o seu eventual controlador. Atores privados, ainda que possam desempenhar

63
um papel em situações específicas, não são “essenciais” para configurar uma situação
de corrupção política. Essa relação pode ser esquematizada afirmando-se que existe,
para todos os jogadores, uma tentação e um risco, associados a uma de suas ações
(“praticar corrupção” e “não exercer controle”, respectivamente). Essas tentações e
riscos se traduzem na ordem de preferências dos jogadores que terão, sempre, casos
mais e menos preferidos (para o corruptor passivo, Q4 e Q2 e, para o controlador
interno Q3 e Q4, respectivamente). Essas simples afirmações trazem três importantes
desdobramentos éticos.
O primeiro é de que a corrupção é um fenômeno inesgotável, e que, em termos
de probabilidade, ele não pode ser extinto. A política pública deve, portanto, focar na
diminuição de (x) e/ou aumento de (y) e será demagógico perseguir o “fim da
corrupção”. O segundo é de que a corrupção é um fenômeno cíclico, e que, para
combatê-la, é preciso, primeiramente, analisar em qual dos quatro “momentos” do jogo
uma sociedade está. O terceiro é de que, em equilíbrio, as probabilidades de ação de
um jogador estão em função dos payoffs do outro jogador. Isso implica que alterar
os incentivos dos corruptores passivos teria o efeito de alterar a probabilidade de
equilíbrio de que eles sejam investigados e, para influenciar a probabilidade de que eles
ajam, seria necessário alterar os incentivos de seus controladores. Corolários práticos
dessa conclusão é de que existe um trade-off entre a sensação de impunidade e a
impunidade real e um trade-off entre a sensação de dever disciplinar e a
desonestidade dos agentes públicos.
Nesse sentido, foi considerado também que inexiste possibilidade das ordens de
preferência dos jogadores serem obtidas no “tabuleiro”, de modo que é preciso fazer um
trade-off entre (Q1 – Q4) e entre (Q2 – Q3). Em outras palavras, significa que, no jogo
da corrupção, deve-se trocar simultaneamente, a probabilidade de investigar
pessoas inocentes pela probabilidade de não investigar pessoas culpadas; e a
probabilidade de investigar pessoas culpadas pela probabilidade de não investigar
pessoas inocentes. Ademais, pela transitividade de preferências dos jogadores, afirma-
se que nenhum deles prefere Q2 a Q3.
Foi chamada de triângulo “bom” do tabuleiro a chance de que (1 – x > y > x).
Ou seja, idealmente, a probabilidade de que um agente público não seja corrupto deve
ser maior do que a probabilidade de ele ser investigado, que deve ser maior que a
probabilidade de ele ser corrupto. Quanto menor o valor de (x), maior a chance de ele
satisfazer essas condições. Ressalte-se que, para (y = ½), qualquer (x < ½) satisfaz as
condições. Para tanto, é preciso que a sensação de dever disciplinar seja alta, mas não
existe condição ideal para a sensação de impunidade pública. A divisão entre elas,
entretanto, deve ser um número maior que 1 (um).
Em seguida, acrescentamos o primeiro ator privado ao Jogo da Corrupção, que
pode exercer a corrupção ativa ou não. Definimos que ele tem um duplo risco, pois pode
ser punido, caso seja corrupto, sendo o corruptor passivo corrupto ou não. Ademais, ele
retira utilidade do agente público corrupto quando decide não ser corrupto, e retira
utilidade do agente público controlador quando é corrupto. Nesses moldes, forma-se um
vetor 𝑤̅ em que a prática da corrupção ativa diminui a prática da corrupção

64
passiva e aumenta o exercício do controle interno. Essa é uma das consequências
mais contra-intuitivas do Jogo, pois vai de encontro às teorias apresentadas no capítulo
1, que afirmam haver, na relação dos corruptores ativos, incentivos para corrupção
sistêmica e perpétua. Com um vetor podemos analisar a influência do ator privado
sobre os agentes públicos através de sua elasticidade, intensidade e posição.
Em seguida, analisamos a relação do ator privado na condição de controlador
externo. Nesse caso, ele tem uma tripla tentação para não exercer o controle quando a
corrupção não ocorre. Os agentes públicos, corruptor e controlador, perdem utilidade
quando o controlador externo exerce o seu poder e eles são corruptos ou não
investigam, respectivamente. Nessas condições, existe um vetor 𝑧̅, que move uma
sociedade na direção (Q2 → Q3), ou seja, o controle externo ambivalente diminui as
chances de que os agentes púbicos sejam corruptos, mas também as chances de que
eles sejam investigados. Para diminuir a corrupção (x) mais do que o controle (y), seria
necessário que o controle externo afetasse com mais intensidade os controladores
internos do que os corruptores passivos, ou seja, mais elástico.
Pudemos concluir, ademais, que, tudo o mais constante, as probabilidades de
ação dos atores privados (w e z) são inversamente proporcionais ao seu poder de
pressão sobre os jogadores essenciais (𝜶; 𝜷; 𝒇 𝒆 𝒑).Os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅, combinados,
formam uma figura necessariamente quadrilátera que terá um formato, em função da
elasticidade dos vetores, e u tamanho, em função da sua intensidade. Não existem
condições ideais de formato, e uma sociedade se posicionará no triângulo “bom”, mas,
em termos de área, o máximo que uma sociedade pode ter sem deixar de ocupá-lo é
25% do total do Tabuleiro. O formato e tamanho do quadrilátero serão dados,
fundamentalmente, pelo coletivismo ou individualismo dos agentes públicos, isto é, se
eles levam em consideração a ação de um ator privado mais que o outro.
Portanto, para alguém que esteja interessado tão somente na probabilidade
de ocorrência da corrupção, o formato do quadrilátero é irrelevante. Foi imaginada
a figura de um “quinto jogador”, representado por um investidor estrangeiro, e um
tabuleiro auxiliar, que “deforma” uma sociedade para facilitar a visualização da sua área
e posição. Ainda assim, a variável mais fundamental, para ele é o nível de corrupção
(x)(1-y) no equilíbrio do jogo, isto é, no ponto exato que uma sociedade ocupa dentro
do quadrilátero.
O equilíbrio do jogo da corrupção pode ser encontrado exclusivamente a partir
das variáveis dos atores privados. A sensação de dever cidadão e a sensação de
impunidade privada são inversamente proporcionais ao nível de corrupção. Uma
regra velada, mas absoluta, é de que a sensação de dever cidadão é sempre maior que
a sensação de impunidade privada. Para que uma sociedade esteja no triângulo
“bom”, a sensação de dever cidadão dever ser alta, a sensação de impunidade privada
deve ser média-alta.
Note-se, ademais, que existem fortes incentivos para uma espécie de
“hipocrisia natural” dos atores privados, pois na maior parte do tabuleiro eles têm
incentivos ou para praticar ambas as coisas (corrupção ativa e controle externo) ou
nenhuma delas. Os casos que representam exceções a essa regra são necessariamente

65
casos onde (Q4 > Q1). Uma vez que as relações tentação-risco desses jogadores não são
variáveis autônomas, para qualquer ponto do tabuleiro existe uma única relação entre
esses payoffs e o controlador externo apresenta uma “tentação tripla”, enquanto o
corruptor ativo apresenta um “risco em dobro”.
A figura abaixo busca sintetizar as informações sobre das principais variáveis do
Jogo da Corrupção. As probabilidades de ação (x), (y), (w) e (z), são consideradas
variáveis output, ou seja, são os valores que se buscam encontrar. As demais variáveis
dizem respeito à posição, formato, tamanho e equilíbrio de um quadrilátero no tabuleiro
da corrupção. Idealmente, o equilíbrio deve estar nos casos C1 ou C8, o que implica em
condições em termos de posição e tamanho, mas não de formato.

Figura 41. Variáveis Output (probabilidades)


Variável Nome Fórmula(s) de equilíbrio
(x) Corrupção 𝑆+𝑓𝑤−𝛽𝑧 𝐼 (𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧) 𝐼𝑇
𝑥= (𝑆+𝐹)
𝑥 = 𝐺. 𝑃−𝑝𝑤+𝛼𝑧
𝑥 = 𝐼(𝐴+𝑇)−𝐺𝑇
Passiva
(y) Controle 𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧 𝐺 𝑇
𝑦= 𝐶+𝑃
𝑦 = 𝐼 . 𝐴+𝑇
Interno
(w) Corrupção 𝛼[𝑆 − 𝑥(𝑆 + 𝐹)] − 𝛽[𝐶 − 𝑦(𝐶 + 𝑃)]
Ativa 𝑤=
𝛼𝑓 + 𝛽𝑝
(z) Controle 𝑝[𝑆 − 𝑥(𝑆 + 𝐹)] + 𝑓[𝐶 − 𝑦(𝐶 + 𝑃)]
Externo 𝑧=
𝛼𝑓 + 𝛽𝑝

66
Figura 42. Variáveis Input (payoffs)

Tipo Nome Variável Explicação Incidência (aumento da variável) Condições Ideais

Responsabilidade Policial- 𝐹 Relação Risco-Tentação de não Desloca o quadrilátero para a


Disciplinar 𝑆 exercer controle interno esquerda

𝐹 𝐶 𝑆
Posição > >
𝑆 𝑃 𝐹

Sensação de Impunidade 𝐶 Relação Tentação-Risco para


Desloca o quadrilátero para cima
Pública 𝑃 praticar corrupção passiva

𝛽 Relação Fatores Democrático- Arrasta o vértice (C) para a


Coletivismo do Controlador ( )
𝑓 Ético esquerda do vértice (B)

Formato
𝛼 Relação Fatores Ético- Arrasta o vértice (D) para abaixo
Coletivismo do Corruptor ( )
𝑝 Democrático do vértice (A)

𝐴
Pode ser diretamente ou >3
𝐴 Relação Risco-Tentação de não 𝑇
Responsabilidade Cidadã inversamente proporcional a (z)
𝑇 exercer controle externo
e (w)
Equilíbrio
𝐺
>1
𝐼
Sensação de Impunidade 𝐺 Relação Tentação-Risco de Diretamente proporcional a (z) e
Privada 𝐼 praticar corrupção ativa (w) * Condições necessárias, mas insuficientes

67
Referências

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Berlin, Klinigin-Luke-Sk. 24-26, D-1000 Berlin 33.

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Brasil, (1940) Decreto-Lei n 2.848/40 (Código Penal)

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Carvalho, M. (2017). Manual de Direito Administrativo. 4° edição. Editora JusPodium.

Dixit, A. and Skeath, S. (2004) Games of Strategy. W.W. Norton ISBN 0393924998,
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https://www.researchgate.net/publication/49622740_Power_and_corruption

Dueñes-Gúzman, E. & Sadelin, S (2012). Evolving Righteousness in a Corrupt World. Disponível


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http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0044432

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Macrae, J. (1982). Underdevelopment and the Economics of Corruption: a Game Theory


Approach. World Development,Vol. 10, No. 8, pp. 677-687, 1982.

Rose-Ackerman, S. (1978). Corruption: a study in political economy. Boston: Academic Press.

Rose-Ackerman, S. & Palifka, B. J. (1999). Corruption and Government: Causes, Consequences,


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Shepsle, Kenneth (2010). Analyzing Politics: rationality, behavior and institutions. Editora
Paperback.

Silva, Marcos F. (1999). The Political Economy of Corruption Brazil. RAE - Revista de
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Transparência Internacional (2018). What is Corruption? Disponível em:


https://www.transparency.org/what-is-corruption

Wikipedia. Anti Corruption Campaign Under Xi Jiping. https://en.wikipedia.org/wiki/Anti-


corruption_campaign_under_Xi_Jinping

Wikipedia. Operation Car Wash. https://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Car_Wash

68
Anexos

Nessa seção, apresentaremos versões supra-expandidas dos Jogos 1, 2 e 3. Para


tanto, vamos, no Jogo 1, considerar que os controladores também podem ser
corruptos, dado que são agentes públicos. No Jogo 2, separar o poder disciplinar e
poder de polícia, criando, assim, dois controladores para o corruptor passivo e um
controlador para o corruptor ativo. No Jogo 3, vamos distinguir duas formas de
controle externo, uma de caráter ativista e outra de caráter denuncista.

Figura 36. Elementos Associados à Corrupção

Poder
Controle Cidadão
Externo Poder da
Sociedade
Corrupção Mídia
Ativa

Corrupção
Passiva Poder
Estado
Controle Disciplinar
Interno Poder de
Polícia

A – Recompensa por Produtividade Policial

B – Controle Interno Corruptível

O jogo apresentado abaixo é uma versão do Jogo-Base da corrupção onde o


controlador interno tem três opções de jogadas: além de investigar ou não investigar
devidamente, ele pode também desviar a função de controle de que dispõe, adquirindo,
dessa forma, a tentação para cometer o crime (C). Nesse caso, ele age, também, como
corruptor. Caso o controlador esteja disposto a ser corrupto e o corruptor não, então o
controlador perde o fator propina (p) de sua tentação para não investigar (S). O jogo tem
seis resultados possíveis e o controlador compara, sempre, três resultados. Foi
considerado que ele tem arrependimento no pior desses resultados e não tem
arrependimento no melhor, sendo atribuída nota 0 (zero) para o resultado intermediário.

Figura 37. Matriz do Jogo da Corrupção Perpétua

69
Ações Payoffs Arrependimentos
Caso
Passivo Interno Passivo Interno Passivo Interno
1 Corrup Control –P 0 Sim 0
2 Corrup Não C –F Não Sim
3 Corrup Corrup C C Não Não
4 Não Control 0 0 Não Sim
5 Não Não 0 S Sim Não
6 Não Corrup 0 S–p Sim 0

Apesar de possuir seis resultados possíveis, nesse jogo há um Equilíbrio de Nash


em estratégias puras, que é o caso 3, onde nenhum dos jogadores tem arrependimento.
Trata-se justamente de uma situação onde há incentivos para a corrupção perpétua, mas,
deve-se ressaltar, não é um dilema do prisioneiro, pois o resultado de equilíbrio é
ótimo para os jogadores. Nesse jogo, volta-se ao dilema proposto por Macrae (1982) e
Silva (1999), expostos no capítulo 1. Como quebrar a relação viciosa, que leva agentes
públicos inescrupulosos a cometerem crimes? Uma possível resposta seria adicionar o
controlador externo, uma vez que ele possui caráter ambivalente e pode afetar
negativamente ambos os agentes públicos corruptos. Na matriz abaixo, foram
acrescentados os pressupostos do controlador externo, incluindo o fator de desconto alfa
também para os controladores corruptos.

Figura 38. O controlador externo no jogo da corrupção perpétua

Ações Payoffs Arrependimentos


Caso
Psv Int Ext Psv Int Ext Psv Int Ext
1 Corr Cont Cont −𝑃 − 𝛼 0 0 Sim 0 Sim
2 Corr Cont Não −𝑃 0 𝑇 Sim 0 Não
3 Corr Não Cont 𝐶−𝛼 −𝐹 − 𝛽 0 Não Sim Não
4 Corr Não Não 𝐶 −𝐹 −𝐴 Não Sim Sim
5 Corr Corr Cont 𝐶−𝛼 𝐶−𝛼 0 Não Não Não
6 Corr Corr Não 𝐶 𝐶 −𝐴 Não Não Sim
7 Não Cont Cont 0 0 0 Não Sim Sim
8 Não Cont Não 0 0 𝑇 Não Sim Não
9 Não Não Cont 0 𝑆−𝛽 0 Sim Não Sim
10 Não Não Não 0 𝑆 𝑇 Sim Não Não
11 Não Corr Cont 0 𝑆−𝑝−𝛼 0 Sim 0 Sim
12 Não Corr Não 0 𝑆−𝑝 𝑇 Sim 0 Não

Caso os fatores de desconto não ultrapassem as tentações originais (𝛼 < 𝐶),


então o caso 5 é um equilíbrio de Nash em estratégias puras e, neste caso, sim, pode ser
associado a um dilema do prisioneiro, pois o resultado de equilíbrio não é ótimo para

70
nenhum dos jogadores. Contudo, caso as condições acima sejam falsas, então os
arrependimentos que estão em negrito trocarão de lugar, e não haverá resultado de
equilíbrio em estratégias puras. Podemos concluir, destarte, que o controlador externo
pode quebrar o ciclo vicioso da corrupção perpétua, desde que seu poder de pressão
sobre os agentes públicos corruptos (𝛼) ultrapasse a tentação para que eles sejam
corruptos (C).

C – Poder Policial vs. Poder Disciplinar

Nesse jogo, temos os corruptores ativo e passivo, o poder de polícia e o poder


disciplinar. Conforme explicado pela doutrina, o poder de polícia pode investigar e
punir tanto agentes públicos quanto atores privados corruptos, e independentemente das
ações do outro. É, portanto, um poder investigativo maior. Existem, assim, duas
tentações e dois riscos de não exercer o poder de polícia serão chamadas de (T1 e T2) e
(–R1 e –R2), respectivamente, e a probabilidade de exercício desse poder será chamada
de (q). Devemos considerar, ademais, que as penalidades administrativas e penais para
atos de corrupção são diferentes, e que elas podem se somar, caso o agente público seja
condenado nas duas esferas. Portando, o corruptor passivo, nesse jogo, apresenta dois
riscos, o penal, que continuará sendo chamado de (–P), e o administrativo, que
chamaremos de (–A). O fator (f) foi retirado, porque os controladores disciplinares não
têm nenhum poder sobre os corruptores ativos. Nesse jogo, teríamos quatro equações de
equilíbrio, a saber:

Figura 39. Poderes de Polícia e Disciplinar

Ações Payoffs Arrependimentos


Caso
Psv Disc Atv Pol Psv Int Atv Pol Psv Int Atv Pol
1 C C C C −𝐴 − 𝑃 0 −𝐼 0 S N S N
2 C C C N −𝐴 0 𝐺 −𝑅1 − 𝑅2 S N N S
3 C C N C −𝐴 − 𝑃 − 𝑝 0 0 0 S N N
4 C C N N −𝐴 − 𝑝 0 0 −𝑅1 + 𝑇2 S N S
5 C N C C −𝑃 −𝐹 −𝐼 0 S S S N
6 C N C N 𝐶 −𝐹 𝐺 −𝑅1 − 𝑅2 N S N S
7 C N N C −𝑃 − 𝑝 −𝐹 0 0 S S N
8 C N N N 𝐶−𝑝 −𝐹 0 −𝑅1 + 𝑇2 N S S
9 N C C C 0 0 −𝐼 0 N S S
10 N C C N 0 0 0 𝑇1 − 𝑅2 N S N
11 N C N C 0 0 0 0 N S N S
12 N C N N 0 0 0 𝑇1 + 𝑇2 N S N N
13 N N C C 0 𝑆 −𝐼 0 N N S
14 N N C N 0 𝑆 0 𝑇1 − 𝑅2 S N N
15 N N N C 0 𝑆 0 0 N N N S

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16 N N N N 0 𝑆 0 𝑇1 + 𝑇2 S N N N

𝑆 𝐼𝑞 𝑇1 + 𝑇2 − 𝑤(𝑇2 + 𝑅2)
𝑥= = =
𝑆 + 𝐹 𝐺(1 − 𝑞) 𝑇1 + 𝑅1

𝐶−𝑞(𝑃+𝐶)−𝑝(1−𝑤) 𝐶−𝑦(𝐴+𝐶)−𝑝(1−𝑤)
𝑦= →𝑞 =
𝐴+𝐶(1−𝑞) 𝑃+𝐶(1−𝑦)

É impossível completar a tabela de arrependimentos sem saber se a sensação de


dever policial voltada para os corruptores passivos é maior, menor ou igual à sensação
de dever policial voltada para os corruptores ativos. Ainda assim, podemos afirmar que
o jogo nunca terá um equilíbrio em estratégias puras, independentemente dessa relação.
Dessa forma, percebemos que existe uma relação dupla de caça-e-fuga entre os
corruptores ativos e controladores disciplinares e policiais, e uma relação de caça-e-fuga
simples entre corruptores ativos e controladores policiais.
Mesmo não tendo prerrogativa de investigar corruptores ativos, note-se que a
probabilidade de corrupção ativa (w) é diretamente proporcional à probabilidade de
investigação policial (q), da mesma forma que é diretamente proporcional à
probabilidade de investigação administrativa (y) e inversamente proporcional à
probabilidade de corrupção passiva (x).
A sensação de impunidade pública foi expandida, incluindo as punições penais e
𝐶
administrativas (𝐴+𝑃). Ela é diretamente proporcional às probabilidades de investigação
policial e disciplinar (q) e (y). A sensação de impunidade privada permanece sendo
𝐺
( 𝐼 )e inversamente proporcional a probabilidade de corrupção passiva (x). Contudo, ela
é diretamente proporcional somente à probabilidade de investigação policial (q), e não
administrativa.
𝐹
A sensação de dever disciplinar (𝑆 ) é inversamente proporcional somente à
probabilidade corrupção passiva (x). Já a sensação de dever policial pode ser dividida
𝑅1
em dois tipos: a relação risco-tentação para não investigar corruptores passivos (𝑇1),
chamada de sensação de dever policial-Estado, e a relação risco-tentação para não
investigar civis, chamada de sensação de dever policial-Sociedade. Ambas são
inversamente proporcionais às probabilidades de corrupção passiva e ativa (x) e (w),
mas a sensação de dever policial-Estado diminui mais a probabilidade de corrupção
passiva (x) e a sensação de dever policial-Sociedade diminui mais a probabilidade de
corrupção ativa (w).
De maneira geral, as conclusões principais do modelo não se alteram.

D – O Poder da Mídia

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A distinção entre os dois controladores externos pode ser exemplificada pela
diferença entre um cidadão comum e um jornalista político. Enquanto o cidadão
obedece à lógica do controlador externo exposta no projeto, isto é, ele tem uma tentação
e um risco associado a não se mobilizar, vamos considerar que o “jornalista” ganha
utilidade quando a corrupção acontece e ele consegue denunciá-la (como um “furo de
reportagem”). Sua tentação será representada por (D). Ele perde utilidade quando
denuncia a corrupção e ela não ocorre (como uma reportagem falsa), representado por
(–N). Ao contrário do cidadão, o jornalista apresenta um risco triplo, e não uma tentação
tripla.
A probabilidade de ação do jornalista será chamada de (k) e vamos considerar
que a mídia também provoca fatores de desconto adicionais, comparáveis a alfa e beta.
Nesse caso, teríamos a seguinte matriz e equações de equilíbrio:

Figura 40. Poder da Mídia

Ações Payoffs Arrependimentos


Caso
Passivo Interno Mídia Passivo Interno Mídia Passivo Interno Mídia
1 Corrup Control Control −𝑃 − 𝛼 0 −𝑁 Sim Não Sim
2 Corrup Control Não −𝑃 0 0 Sim Não Não
3 Corrup Não Control 𝐶−𝛼 −𝐹 − 𝛽 𝐷 Não Sim Não
4 Corrup Não Não 𝐶 −𝐹 0 Não Sim Sim
5 Não Control Control 0 0 −𝑁 Não Sim Sim
6 Não Control Não 0 0 0 Não Sim Não
7 Não Não Control 0 𝑆−𝛽 −𝑁 Sim Não Sim
8 Não Não Não 0 𝑆 0 Sim Não Não

𝑆 − 𝛽𝑘
𝑥=
𝑆+𝐹

𝐶 − 𝛼𝑘
𝑦=
𝐶+𝑃

𝐷 (𝑦)(1 − 𝑥)
=
𝑁 (𝑥)(1 − 𝑦)

O vetor (k) tem a mesma direção e características que o vetor (z). Contudo, a
terceira equação de equilíbrio traz a relação tentação-risco para o jornalista denunciar a
corrupção (tentação para denunciar quando acontece e risco de denunciar quando não
acontece). Podemos chamar essa relação de sensação de dever jornalístico. Ela é a
representação matemática exata do trade-off (Q1 – Q4), observado no capítulo 3.
Quanto maior for a ética jornalística, maiores serão as chances de investigação da
corrupção (y) e menores serão as chances de corrupção passiva (x). Destarte, quanto

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mais ética jornalística, maior a chance de se investigarem pessoas inocentes (Q1), e
quanto menor, maiores serão as chances de que a corrupção de fato ocorra (Q4).

E – O Papel da Assimetria de Informações

E.1. Controle falível

E.2. Ideologia e Corrupção

F – A Relação Explícita entre Atores Privados

G – Brasil e China: um breve estudo de caso

Conforme mencionado anteriormente, Brasil e China, duas das economias que


mais cresciam no começo do século XXI, têm sido recentemente abalados pela agenda
anticorrupção, que teve impactos em seu desenvolvimento econômico. Na China, desde
2012, ocorre a maior operação anticorrupção da história do país. Conhecida como a
“Campanha dos Tigres e Moscas”, ela objetiva investigar e punir todas as formas de
corrupção, das de menor às de maior escalão. No Brasil, também ocorre, desde 2014, a
maior operação anticorrupção da história do país, a Lava Jato, que se iniciou como uma
investigação policial e tomou proporções gigantescas na sociedade brasileira. Ambas as
operações têm em comum o fato de que indiciaram, investigaram e efetivamente
puniram dezenas de políticos importantes dos dois países e polarizaram a opinião
pública, que se divide entre elogios e críticas (à parcialidade das investigações e à
desobediência ao devido processo legal, nos dois casos).
Apesar das semelhanças, existem importantes diferenças entre as duas
operações. A Campanha Tigres e Moscas foi lançada pelo próprio presidente Xi
Jinping, está associada a seu marketing pessoal e é encabeçada, desde 2012, por um
órgão diretamente ligado ao Partido Comunista Chinês, podendo ser classificada como
top-down e de caráter político. A sociedade e a mídia chinesas tiveram pouca
participação no processo, e o partido acabou se fortalecendo. No Brasil, a Operação
Lava Jato ganhou impulso com uma ampla mobilização social a partir de 2013, e
tornou-se um dos assuntos mais cobertos pela mídia do país. A investigação é
direcionada especialmente a grandes políticos e esquemas de lavagem de dinheiro, e é
levada a cabo pela força tarefa que envolve a Polícia Federal, o Judiciário e o Ministério
Público, que são instâncias autônomas, no sentido de não responderem diretamente à
população nem ao Governo. Ao contrário da China, o partido que estava no poder no

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momento em que a operação se iniciou acabou sendo prejudicado pelos seus
desdobramentos.
É de se pensar que, apesar das diferenças, as operações anticorrupção nos dois
países teriam aumentado as chances de que a corrupção fosse investigada (y) e, com
isso, diminuído as chances de que a corrupção ocorresse. Contudo, se observarmos o
índice de Percepção da Corrupção, publicado anualmente pela Transparência
Internacional para centenas de países, podemos verificar que não foi isso que ocorreu. O
índice relaciona pesquisas de opinião com milhares de agentes públicos e atores
privados e estabelece um ranking anual de países, conforme a percepção da própria
população sobre a corrupção. Desde a década de noventa, quando o ranking teve início,
Brasil e China têm, ambos, se posicionado medianos, embora o Brasil tenha,
historicamente, se posicionado um pouco acima da China (em termos rudimentares,
podemos dizer que, segundo o índice, o Brasil é tradicionalmente um pouco “menos
corrupto” do que a China). Essa situação mudou drasticamente desde 2012, quando as
operações começaram. A figura abaixo demonstra as posições relativas dos dois países
no ranking entre 2012 e 2017.

Figura 34. Evolução da Corrupção Comparada: Brasil-China (2012 – 2017)

Como se pode perceber, desde o início das operações anticorrupção, ela


diminuiu na China e aumentou no Brasil. Após o início da Tigres e Moscas, a China
apresentou uma leve queda, mas tem apresentado uma subida estável desde então. Já o
Brasil, mesmo com alguma variação, tem apresentado queda significativa desde as
grandes manifestações de rua de 2013 e operação Lava Jato. Por que duas grandes
operações contra a corrupção podem levar a resultados tão diferentes em dois países? A
explicação, dentro do modelo apresentado neste projeto, é que Brasil e China têm
formatos, tamanhos e posições diferentes no Tabuleiro, relativos à relação entre Estado
e Sociedade nos dois países. Particularmente, que o vetor (z) é mais inelástico no Brasil
do que na China, de modo que a própria participação da sociedade no processo de
combate à corrupção no Brasil pode ser um fator que tenha contribuído para o aumento
da percepção da corrupção no país. Essa explicação não difere em nada de dizer que são

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as distinções culturais ou institucionais dos países que explicam os comportamentos
diferentes, mas trata-se de uma forma matemática de abordar o fenômeno. O capítulo
seguinte busca compilar os principais desdobramentos éticos do modelo apresentado
neste projeto.

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