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Este projeto apresenta um modelo para analisar a corrupção política através de um jogo de
caça-e-fuga, com até quatro jogadores.
Índice
Introdução.................................................................................................................................... 4
1. Teoria dos Jogos .................................................................................................................. 5
1.1. Utilitarismo e Escolha Racional .................................................................................... 5
1.2. Conceitos e Tipos de Jogos ........................................................................................... 6
1.3. O Dilema do Prisioneiro................................................................................................ 7
1.4. O Jogo da Propina ......................................................................................................... 8
2. Teoria da Corrupção ......................................................................................................... 10
2.1. Corrupção Política ....................................................................................................... 10
2.2. Controle da Administração Pública............................................................................. 12
3. Caça-e-Fuga ....................................................................................................................... 14
3.1. Matriz .......................................................................................................................... 14
3.2. Equilíbrio..................................................................................................................... 18
3.3. O Tabuleiro da Corrupção ........................................................................................... 20
4. O Jogo da Corrupção Ativa.............................................................................................. 25
4.1. Matriz .......................................................................................................................... 25
4.2. Equilíbrio..................................................................................................................... 27
4.3. O Comportamento do Corruptor Ativo ....................................................................... 32
4.4. Corrupção Ativa e o Triângulo Bom ........................................................................... 36
5. O Jogo do Controle Externo ............................................................................................. 37
5.1. Matriz .......................................................................................................................... 37
5.2. Equilíbrio..................................................................................................................... 38
5.3. O Comportamento do Controlador Externo ................................................................ 43
5.4. Controle Externo e o Triângulo Bom .......................................................................... 47
6. O Jogo Expandido da Corrupção .................................................................................... 47
6.1. Matriz .......................................................................................................................... 47
6.2. A Sociedade Quadrilátera............................................................................................ 49
6.3. A Relação Tácita entre Atores Privados...................................................................... 53
6.4. O Comportamento dos Atores Privados ...................................................................... 56
6.5. Sociedades Ideais ........................................................................................................ 59
7. Considerações Finais ......................................................................................................... 63
Referências ................................................................................................................................. 68
Anexos ........................................................................................................................................ 69
A – Recompensa por Produtividade Policial ........................................................................... 69
B – Controle Interno Corruptível ............................................................................................ 69
C – Poder Policial vs. Poder Disciplinar ................................................................................. 71
D – O Poder da Mídia ............................................................................................................. 72
E – O Papel da Assimetria de Informações ............................................................................. 74
F – A Relação Explícita entre Atores Privados ....................................................................... 74
G – Brasil e China: um breve estudo de caso .......................................................................... 74
2
Lista de Tabelas e Figuras
3
Introdução
4
1. Teoria dos Jogos
5
Podemos observar que inexistem números reais que satisfaçam a condição: (𝐴 >
𝐵 > 𝐶 > 𝐴). Portanto, esse indivíduo não apresenta transitividade entre suas
preferências e não é considerado racional, segundo a Teoria da Escolha. Ele não
consegue escolher uma candidata que lhe forneça máxima utilidade.
Transitividade de preferências não significa necessariamente uma relação de
superioridade/inferioridade. Imagine uma pessoa que, dentre as candidatas acima,
apresenta a seguinte ordem de preferências:(𝐴 = 𝐵 > 𝐶). Isso quer dizer que essa
pessoa está indecisa entre as candidatas (A) e (B), mas não seria considerada racional se
escolhesse a candidata (C).
Portanto, a Teoria da Escolha Racional diz respeito à ação de indivíduos perante
suas próprias preferências. Já a Teoria dos Jogos concerne à interação entre indivíduos
racionais em busca da maximização de utilidade. Trata-se de uma racionalidade
“elevada” que é chamada de estratégia. Chama-se situação estratégica (ou jogo)
qualquer situação onde dois ou mais indivíduos racionais (jogadores), munidos de ações
(jogadas), buscam maximizar seus ganhos ou minimizar suas perdas (payoffs), levando
em consideração que a jogada do outro jogador afeta seu resultado (estratégia). Existem
diversos conceitos e tipologias associadas à Teoria dos Jogos, que serão abordadas na
próxima seção.
6
1.3. O Dilema do Prisioneiro
7
estratégia que é sempre dominante. As setas inseridas na matriz representam a
dominância de estratégias, apontando da estratégia dominante para a dominada.
Isso significa que o político e o empresário, ambos racionais, na busca pela
maximização de sua utilidade, atingirão um resultado que não é ótimo, no sentido de
Pareto. Isto é, existe um resultado possível onde ambos podem ganhar mais (ou, nesse
caso, perder menos) sem que isso acarrete em custos para o outro. Caso nenhum deles
delatasse (Q4), ambos pegariam uma pena mais leve, mas ambos estariam
“arrependidos”, dado a jogada do outro.
O dilema do prisioneiro alterou paradigmas em estudos de Economia, por
comprovar matematicamente que a busca pelo interesse individual nem sempre
promove o bem coletivo. No caso específico do combate à corrupção, é desnecessário
dizer que o dilema do prisioneiro influenciou profundamente a Lei de Organização
Criminosa e o instituto da colaboração premiada, que já foi utilizada por centenas de
políticos e empresários no escopo da Operação Lava-Jato. Contudo, o dilema do
prisioneiro já foi aplicado, também, de maneira mais teórica para explicar a corrupção
como um fenômeno em si, e não para combatê-la. Existem literalmente centenas de
estudos que buscam relacionar corrupção e Teoria dos Jogos, e a maior parte deles
afirma que a corrupção se assemelha muito a um dilema do prisioneiro, pois é uma
situação em que os atores têm incentivos para serem desonestos, ainda que prefiram a
correição.
A primeira acadêmica que buscou relacionar corrupção e Teoria dos Jogos foi
Susan Rose-Ackerman, uma renomada professora da Universidade de Yale. Em 1978,
ela publicou Corruption: a study in political economy, em que analisou a relação
entre corruptores ativos e passivos nos Estados Unidos. Em 1999, escreveu Corruption
and Government, onde afirma claramente: “[m]ultinational firms face a [prisoners’]
dilemma when dealing with corrupt regimes. Each firm believes it needs to pay bribes,
but each knows that most of them would be better off if nobody paid.” (Rose-Ackerman,
1999, p. 88)
Seu trabalho também inspirou pesquisadores de todo o globo. Do Reino Unido,
John Macrae (1982) estudou o jogo da propina em países em desenvolvimento e
concluiu que: “a prisoner’s dilemma type of situation emerges with the added
complication that the judge and jailer may be corrupt.” (Macrae, 1982: p. 677).
Da China, os professores Sun Lianju and Peng Luyan (2011) escreveram Game
Theory Analysis of the Bribery Behavior, também analisando a relação entre
corruptores ativos e passivos, onde afirmam: “the game [of corruption] is a ‘prisoners'
dilemma’ apparently. The Pareto optimal solution of the game is not the unique Nash
equilibrium point but the situation ‘(no bribery, no bribery)’”(Lianju e Luyan, 2011, p.
106).
No Brasil, Marcos F. Silva (1999) publicou The political economy of
corruption in Brazil, onde, associando a corrupção diretamente a um dilema do
8
prisioneiro, afirma que o país: “seems to be a society where the incentive to cheat and to
disrespect the rules is widespread. It is an incentive to corruption the fact that the
Justice is inefficient as well. The problem here is how to break the vicious circle of an
‘unruly’ society” (Silva, 1999, p. 36).
A matriz apresentada abaixo é uma versão alternativa do jogo da propina,
diferente daquela apresentada por Silva (1999) e tantos outros autores.
9
general game allowing corruption and power asymmetries between punishers and non-
punishers” (Dueñez-Gúzman, 2010). A novidade de sua abordagem é incluir o papel da
punição ao dilema do prisioneiro, que representa um risco tanto para corruptores ativos
quanto para passivos. Em 2012, ele escreveu Evolving Righteousness into a Corrupt
World, onde utilizou um dilema do prisioneiro com quatro jogadores, e concluiu que:
“[c]orruption can be destabilized by making punishments both more egalitarian and
harsher. Provided punishments are sufficiently harsh, completely removing power
inequalities eliminates corruption, and cooperative punishment will likely spread”.
(Dueñez-Gúzman, 2012).
Todas essas pesquisas têm diferentes conclusões e resultados, mas têm em
comum o fato de associarem a corrupção a um dilema do prisioneiro. Neste modelo,
será apresentado outro tipo de jogo, que não tem equilíbrio de Nash em estratégias
puras. Antes, porém, devem-se fazer breves considerações a respeito da Teoria da
Corrupção, para delimitar os pressupostos e os conceitos que serão utilizados adiante.
2. Teoria da Corrupção
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É preciso salientar que, para os fins deste projeto, a expressão “poder público” se
confunde com o conceito de “função pública”, em seu sentido mais amplo. Isso quer
dizer que não são apenas os “políticos” (eleitos ou nomeados) que têm a possibilidade
de desviar ou abusar de um poder público, mas qualquer pessoa que dispõe de algum
tipo de poder público, incluindo, portanto, qualquer agente público, seja ele um
burocrata, um servidor temporário ou mesmo um empregado da administração indireta.
O conceito de agente público pode ser encontrado nos primeiros artigos da Lei de
Improbidade Administrativa (1992):
Reputa-se agente público [...] todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função nas entidades ou órgãos da administração direta,
indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da
receita anual. (Brasil, 1992)
Onde quer que haja função pública, existe a possibilidade de que ela seja
desviada ou abusada. Saliente-se, portanto, que existe uma importante conclusão a esse
respeito: a corrupção ativa não se enquadra como corrupção, em sentido estrito. Um ator
particular, que não dispõe de função pública, não pode desviá-la. O que se pode fazer é
buscar influenciar um agente público a desviar a sua conduta por meio de incentivos
indevidos, como subornos, propinas, chantagens, etc. Portanto, o capítulo do Código
Penal brasileiro dedicado aos crimes cometidos por particulares contra a administração
configura-se como “corrupção ativa”, que é passível de punição, mas não se constitui,
por si só, como corrupção, que é um fenômeno disciplinado tanto pelo Direito Penal
(crimes cometidos por “funcionários” públicos contra a administração) quanto pelo
Direito Administrativo (disperso na legislação). É a ação do agente público, e não do
ator privado, que determina se a função pública será desviada, ainda que o ator privado
possa ser responsabilizado por buscar influenciar o desvio da função. Existem crimes e
formas de corrupção que um agente público pode praticar “sozinho”, isto é, sem levar
em consideração a presença de um corruptor ativo. O contrário, todavia, não é válido.
Dessa forma, a análise da relação entre corruptores passivos e ativos pode
explicar vários tipos de crimes, mas não compreende o fenômeno da corrupção como
um todo, que inclui os poderes disciplinar e de polícia da administração pública. Por se
tratar de matéria exclusivamente penal, a corrupção ativa é controlada por meio do
poder de polícia, que é uma prerrogativa do Estado perante a Sociedade. Por ser tanto
penal quanto administrativa, a corrupção passiva pode ser controlada tanto pelo poder
de polícia quanto pelo poder disciplinar, que é uma prerrogativa do Estado para o
Estado, associada à hierarquia, conhecida como autotutela.
11
2.2. Controle da Administração Pública
12
Todos esses pressupostos, esquematizados no diagrama abaixo, serão
“transformados” em um jogo, ou melhor, em quatro jogos possíveis, com quatro
jogadores arquetípicos que representam cada um dos elementos.
Corrupção Ativa:
Corrupção em sentido
cometida por
amplo (Penal)
Corrupção política: particulares
desvio de função
pública para fins
privados Corrupção Passiva:
Corrupção em sentido
cometida por agentes
estrito (Penal/Adm)
públicos
Controle Externo:
Possui caráter
exercido por
ambivalente
Controle da particulares
Administração
Pública: prevenção e
combate à corrupção Controle Interno: Relacionado aos
exercido pela poderes disciplinar e
adminsitração pública de polícia
Jogo 2 (Corrupção Ativa): Corruptor Passivo vs.Controlador Interno vs. Corruptor Ativo
Jogo 3 (Controle Externo): Corruptor Passivo vs. Controlador Interno vs. Controlador
Externo
Jogo 4 (Expandido): Corruptor Passivo vs. Controlador Interno vs. Corruptor Ativo vs.
Controlador Externo
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O capítulo seguinte trata apenas do Jogo 1 (Base). Nos capítulos subsequentes, serão
apresentadas as versões expandidas do Jogo.
3. Caça-e-Fuga
3.1. Matriz
Controle Q1 Q2
Controlador
Interno
Não Q3 Q4
Não existe, nesse jogo, equilíbrio em estratégias puras, uma vez que não há
resultado possível em que nenhum dos jogadores não tem arrependimento. No caso Q1,
o controlador se arrepende de exercer o controle, dado que o agente público não foi
corrupto. No caso Q2, o corruptor se arrepende de ter sido corrupto, dado que o
controlador exerceu o controle. No caso Q3, o corruptor passivo arrepende-se de não ter
sido corrupto, dado que o controlador interno não exerceu o controle. No caso Q4, o
controlador interno está arrependido de não ter exercido o controle, dado que o
corruptor passivo foi corrupto. Assim configura-se uma relação de caça-e-fuga entre
dois jogadores. O exemplo clássico, apresentado em 1984 por Aigner e Fromme,
chamava-se “Jogo dos Policiais e Ladrões”, que se trata exatamente do mesmo modelo,
mas o “ladrão” foi substituído pelo “corruptor passivo” e o “policial”, pelo “controlador
interno”. Isso porque a corrupção, enquanto relacionada ao direito penal, pode estar
associada a jogos de criminalidade, mais do que jogos de cooperação-defecção.
O fato de que não existe equilíbrio em estratégias puras no Jogo da Corrupção
nos traz relevantes conclusões a respeito do fenômeno, que podem ser, por analogia,
estendidas à criminalidade em geral. Essas conclusões serão analisadas detidamente a
seguir.
15
3.1.2. Um Fenômeno Cíclico Inesgotável
16
Figura 6. Jogo-Base (probabilidades)
Corruptor Passivo
Não (1 – x) Corrupção (x)
Controle 0 –P
(y) Q1: y – xy Q2: xy
Controlador 0 0
Interno Não 0 C
(1 – y) Q3: 1 – x- y + xy Q4: x – xy
S –F
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está em termos aleatórios. Ademais, o controle interno demonstrado neste modelo pode
ser chamado de infalível, uma vez que não foram consideradas as possibilidades de se
punirem pessoas inocentes ou de não se punirem pessoas culpadas. Isso significa que,
nesse jogo, o controle interno sempre leva à “verdade”, isto é, ele sempre consegue
distinguir claramente os inocentes dos culpados. Uma investigação aleatória e infalível é
exatamente uma amostragem estatística da população. Isso quer dizer que, em um jogo
como o apresentado acima, qualquer porcentagem da população de agentes públicos que
for investigada será representativa de todo o conjunto de agentes públicos. Podemos
estimar a probabilidade de que os investigados tenham sido corruptos (xy) e a
probabilidade, dentre os investigados, de serem inocentes (y – xy). Assim, seria possível
realizar uma extrapolação estatística do crime e descobrir as chances de que um agente
público tenha sido corrupto e não investigado (x – xy). Naturalmente, como se trata de
uma amostragem probabilística, seria necessário estipular um intervalo de confiança e
uma margem de erro. Não se trata de advogar pela investigação desmotivada e aleatória
de agentes públicos, apenas ressaltar que, nesse aspecto, o modelo apresentado se
diferencia parcialmente da vida real. Por fim, a última conclusão da relação de caça-e-
fuga é de que, em equilíbrio, a probabilidade de ação de um jogador está em função dos
payoffs do outro jogador. Essa conclusão será analisada a seguir.
3.2. Equilíbrio
Se o valor esperado de uma ação é maior do que o valor esperado de outra ação,
então a ação de maior valor é mais estratégica. Dizemos que um jogador está em
equilíbrio de estratégias mistas quando a probabilidade de ação do outro jogador é tal,
que o torna indiferente entre suas opções. Ou seja, existe uma probabilidade de que o
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corruptor passivo pratique a corrupção (x) que faria, para o controlador, os valores
esperados de investigar e não investigar se igualarem. 𝑉𝐸𝑁𝐼 = 𝑉𝐸𝐼
𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 = 0
𝑆𝑥 + 𝐹𝑥 = 𝑆
𝑆
𝑥=
𝑆+𝐹
𝐶𝑦 + 𝑃𝑦 = 𝐶
𝐶
𝑦=
𝐶+𝑃
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A probabilidade de a corrupção de fato ocorrer será tanto maior quanto maior for
(x) e quanto menor for (y), indicando que ela cresce nos sentidos para a direita e para
baixo no gráfico. É digno de nota mencionar que a corrupção ocorre menos nas
extremidades superiores e na inferior esquerda. Contudo, a probabilidade de Q4, por si
só, não é indicativa das probabilidades (x) e (y). Por exemplo: no gráfico acima, foram
listados quatro pontos onde a probabilidade de que a corrupção de fato ocorra é igual a
18%, duas vezes no quadrante Q2 e duas vezes no quadrante Q3. Qual é a diferença
entre esses quatro pontos? Vejamos.
A primeira conclusão que podemos extrair desses cálculos é que sempre que Q2
é predominante, Q3 é o menos frequente, e vice-versa. O que se altera entre as
sociedades de um mesmo quadrante é a ordem entre os casos Q1 e Q4. A reta que divide
esse segmento do gráfico é onde (y = x). Nas sociedades (I) e (IV), a probabilidade de
investigação (y) é menor que a probabilidade de corrupção (x) e, portanto, (Q4 > Q1).
Nas sociedades (II) e (III), a probabilidade de investigação (y) é maior do que a
probabilidade de corrupção (x), e (Q4 < Q1).
Uma forma de interpretar essa realidade é abstrair do termo “probabilidade” e
pensar em termos de “possibilidade”. Se o número de corruptos é maior do que o
número de investigados, então não é possível investigar todos que foram corruptos, e
com certeza algum corrupto saiu impune. Se o número de investigados for maior do que
o número de corruptos, então é possível eventualmente investigar todos os corruptos.
Destarte, podemos desenhar uma linha inclinada positivamente, onde (y = x), e que
separa completamente os casos Q1 e Q4. Em qualquer ponto à esquerda dessa linha, (y
> x) e (Q1 > Q4). Qualquer ponto à direita, (y < x) e (Q1 < Q4).
21
Figura 10. Fronteira da Impunidade (y = x)
22
Figura 12. O Tabuleiro da Corrupção
Jogador Ordem de Preferência (Q1 – Q4) (Q2 – Q3) Melhor relação entre (x) e (y)
23
Figura 14. Áreas Preferidas dos Jogadores Principais
𝐹 𝐶 𝑆
> >
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃 𝑆+𝐹
𝐶𝐹 + 𝐹𝑃 > 𝐶𝑆 + 𝐶𝐹
𝐹 𝐶
>
𝑆 𝑃
𝐶𝑆 + 𝐶𝐹 > 𝐶𝑆 + 𝑃𝑆
𝐹 𝑃
>
𝑆 𝐶
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corrupção deve ser proporcional ao valor desviado pelo crime (C = P). Assim, qualquer
risco maior do tentação para os controladores (F > S) obedecerá às condições acima
expostas.
Para estar no triângulo “bom”, reitere-se que a responsabilidade policial-
𝐹
disciplinar dos agentes públicos ( 𝑆 )deve ser maior que 1 (um) e, quanto maior ela for,
𝐶
melhor. Já a sensação de impunidade pública (𝑃)pode ser alta, média ou baixa (mas,
preferencialmente, média).
Por fim, façamos uma breve consideração sobre a área total do Tabuleiro.
Conforme sabemos, os valores de (x) e (y) vão de 0 (zero) a 1 (um), exclusive. Podemos
imaginar a área total do tabuleiro valendo 1 (um), ou 100%, e cada um dos oito oitavos
ocupando 12,5% da área total. Essa noção de área será importante quando
acrescentarmos os corruptores ativos e controladores externos, o que será feito adiante,
primeiramente de maneira individualizada e, em seguida, combinados.
4.1. Matriz
25
Figura 15. Matriz da Corrupção Ativa
26
é igual a 0 (zero). Dessa forma, temos que, para o corruptor ativo, (𝑄4 > 𝑄3 > 𝑄1 =
𝑄2). Isso se traduz, na matriz do jogo, como um duplo risco e apenas uma tentação para
cometer o crime.
4.2. Equilíbrio
Corruptor Passivo:
𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝑷𝒚
Equilíbrio: 𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 = −𝑝𝑤
𝐶 + 𝑝𝑤
𝑦=
𝐶+𝑃
Controlador Interno:
𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑭𝒙 − 𝒇𝒘
Equilíbrio: 𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 − 𝑓𝑤 = 0
27
𝑆 − 𝑓𝑤
𝑥=
𝑆+𝐹
Corruptor Ativo:
𝑮𝒙 − 𝑮𝒙𝒚 − 𝑰𝒚
Equilíbrio: 𝐺𝑥 − 𝐺𝑥𝑦 − 𝐼𝑦 = 0
𝐼𝑦
(𝑥)(1 − 𝑦) =
𝐺
𝑆 − 𝑓𝑤
(𝐼) → 𝑥 =
𝑆+𝐹
𝐶 + 𝑝𝑤
(𝐼𝐼) → 𝑦 =
𝐶+𝑃
𝑦 𝐺
(𝐼𝐼𝐼) → =
(𝑥)(1 − 𝑦) 𝐼
28
proporcional a (w), indicando que, quanto mais propina eles oferecem, mais a corrupção
é investigada.
Essas premissas indicam a existência, no gráfico, de um vetor 𝑤
̅, que representa
a possível ação do corruptor ativo sobre os jogadores essenciais. Esse vetor sempre se
direcionará para cima e para a esquerda, conforme exposto na figura abaixo.
4.2.1.2. Intensidade
29
𝑝2 𝑓2
Intensidade: √(𝐶+𝑃)2 + (𝑆+𝐹)2 .
4.2.1.3. Elasticidade
4.2.1.4. Posição
𝑮
4.2.2. Sensação de Impunidade Privada – curva 𝑰
𝐺 𝑦
=
𝐼 (𝑥)(1 − 𝑦)
30
4.2.2.1. Disposição e Siginificado
31
4.2.2.3. Fases da Impunidade Privada
Existem duas das quatro grandes fronteiras do Tabuleiro que uma determinada
curva de impunidade privada cruza independentemente de seu valor, quais sejam (x =
½) e (1 – x = y).
Caso a impunidade privada seja alta, ela passa primeiro por (x = ½), e, depois,
por (1 – x = y). Se for média-alta ou baixa, é o contrário. A curva de impunidade
privada onde (G = 2I) apresenta apenas duas fases, pois o ponto onde ela intercepta as
duas fronteiras é o mesmo (x = y = ½). É digno de nota que a curva de impunidade
privada só será inelástica caso seja alta (maior que dois), em sua primeira fase, como
demonstrado pela figura abaixo.
𝐺
A inserção do corruptor ativo nos trouxe o vetor 𝑤
̅ e a curva ( 𝐼 ). Adiante, será
feita uma breve análise da probabilidade de corrupção ativa (w) e todos os outros
payoffs envolvidos no jogo.
32
(y); e iii) substituindo os valores de (x) e (y) por suas respectivas fórmulas de equilíbrio
na terceira equação.
𝑆−𝑓𝑤 𝑆−𝑥(𝑆+𝐹)
(i) 𝑥= →𝑤=
𝑆+𝐹 𝑓
𝐶+𝑝𝑤 𝑦(𝐶+𝑃)−𝐶
(ii) 𝑦= →𝑤=
𝐶+𝑃 𝑝
𝐶+𝑝𝑤
𝐺 𝑦 𝐶+𝑃 (𝐶+𝑝𝑤)(𝑆+𝐹)
(iii) = (𝑥)(1−𝑦) = 𝑆−𝑓𝑤 𝑃−𝑝𝑤 = (𝑃−𝑝𝑤)(𝑆−𝑓𝑤)
𝐼 ( )( )
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑎 = 𝐺𝑓𝑝
𝑏 = −[𝐺(𝑆𝑝 + 𝑃𝑓) + 𝐼𝑝(𝑆 + 𝐹)]
𝑐 = 𝐺𝑃𝑆 − 𝐶𝐼(𝑆 + 𝐹)
−𝑏 ± √𝑏 2 − 4𝑎𝑐
𝑤=
2𝑎
33
𝐺 𝑦 𝐺
= (𝑥)(1−𝑦)→ 𝑠𝑒 (↑ 𝑤) → (↓ 𝑥)𝑒/𝑜𝑢(↑ 𝑦) → (↑ 𝐼 )
𝐼
𝑮
Figura 19. Variação de ( 𝑰 ) e (w)
34
Figura 20. Regra da Elasticidade Relativa
Como corolário, observamos que o vetor (w) inelástico será intensificado apenas
quando a impunidade privada for alta (G > 2I), em sua primeira fase (1 – x > y), que
corresponde, grosso modo, ao Triângulo Bom. Todavia, trata-se apenas de uma regra
geral, uma vez que o vetor (w) pode efetivamente cruzar até quatro fronteiras do
Tabuleiro, e apresentar uma relação variável entre a sua probabilidade de ação e seus
próprios payoffs.
𝐺
A relação entre (w) e ( 𝐼 ) pode ser mais bem observada a partir de um gráfico
auxiliar que relaciona, no eixo das ordenadas, a sensação de impunidade privada e, no
eixo das abscissas, a probabilidade corrupção ativa, indo de 0 a 1, inclusive. A figura
abaixo demonstra, de um lado, um vetor 𝑤 ̅ que cruza 4 (quatro) das oito fronteiras do
Tabuleiro, e o gráfico auxiliar, que demonstra a relação entre corrupção ativa e
impunidade privada.
35
As linhas verticais no gráfico auxiliar demonstram as probabilidades de
corrupção ativa e respectivos valores de impunidade privada que cruzam cada uma das
quatro fronteiras do Tabuleiro.
𝐺 𝑦 𝐼 𝑦 𝐼 𝐶+𝑝𝑤
= (𝑥)(1−𝑦) → 𝑥 = 𝐺 . (1−𝑦)→ 𝑥 = 𝐺 . 𝑃−𝑝𝑤
𝐼
𝐼 𝐶+𝑝𝑤 𝐺 𝐶+𝑝𝑤
1 > 𝐺 . 𝑃−𝑝𝑤 → > 𝑃−𝑝𝑤
𝐼
Neste jogo, a sensação de impunidade privada será sempre maior que a sensação
de impunidade pública, para qualquer probabilidade de corrupção ativa. Essa regra não
será verdadeira no jogo analisado no capítulo 5.
36
𝐶𝐹 + 𝐹𝑃 + 𝐶𝑓 + 𝑃𝑓 > 𝐶𝑆 + 𝐶𝐹 + 𝑆𝑝 + 𝐹𝑝
A regra geral é de que, estando o ponto inicial no triângulo bom, qualquer vetor
(w) unitário ou elástico estará no triângulo bom, independentemente de sua intensidade.
𝐹
Quanto maiores forem a responsabilidade policial-disciplinar (𝑆 ) e a sensação de
𝑃
injustiça pública (𝐶 ), mais espaço existirá para que o vetor 𝑤
̅ seja mais intenso e mais
inelástico.
A seguir, será analisado o Jogo do Controle Externo.
5.1. Matriz
37
externo é exercido. Uma vez que os riscos adicionais não ultrapassam as tentações
originais (𝐶 > 𝛼) e (𝑆 > 𝛽), a relação de caça-e-fuga entre os jogadores essenciais é
mantida.
5.2. Equilíbrio
Corruptor Passivo:
𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝑷𝒚 − 𝜶𝒛
Equilíbrio: 𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 − 𝛼𝑧 = 0
𝐶 − 𝛼𝑧
𝑦=
𝐶+𝑃
38
Controlador Interno:
𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑭𝒙 − 𝜷𝒛
Equilíbrio: 𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 − 𝛽𝑧 = 0
𝑆 − 𝛽𝑧
𝑥=
𝑆+𝐹
Controlador Externo:
−(𝒙)(𝟏 − 𝒚)(𝑻 + 𝑨) + 𝑻
𝑇
(𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴
39
𝐶 − 𝛼𝑧
(𝐼𝐼) → 𝑦 =
𝐶+𝑃
𝑇
(𝐼𝐼𝐼) → (𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴
5.2.1.2. Intensidade
𝑆 𝑆−𝛽 𝛽
∆𝑥 = 𝑆+𝐹 − 𝑆+𝐹 = 𝑆+𝐹
𝐶 𝐶−𝛼 𝛼
∆𝑦 = 𝐶+𝑃 − 𝐶+𝑃 = 𝐶+𝑃
𝛼2 𝛽2
Intensidade: √(𝐶+𝑃)2 + (𝑆+𝐹)2
40
5.2.1.3. Elasticidade
𝛽
𝛽(𝐶+𝑃)
Elasticidade: ( 𝑆+𝐹
𝛼 ) →
𝛼(𝑆+𝐹)
𝐶+𝑃
5.2.1.4. Posição
𝑨
5.2.2. Responsabilidade Cidadã – curva𝑻
Por fim, ressalte-se que a probabilidade de que a corrupção de fato ocorra (x)(1 –
𝐴
y) é inversamente proporcional à relação risco-tentação do controlador externo (𝑇 ), que
podemos chamar de sensação de dever cidadão. Isso se explica pelo fato de ambos os
agentes públicos, corruptor e controlador, estarem em uma relação de caça-e-fuga com o
controlador externo, devido a sua ambivalência. Portanto, uma análise apenas dos
payoffs dos controladores externos pode ser um ótimo indicativo das chances de que a
corrupção ocorra em uma sociedade, mas não será indicativo, especificamente, de se a
chance de criminalidade (x) é alta ou de investigação (y) é baixa, apenas do conjunto
das duas.
𝐴 1 − (𝑥)(1 − 𝑦)
=
𝑇 (𝑥)(1 − 𝑦)
𝐴
De maneira sucinta, a curva (𝑇 ) demonstra a probabilidade de que a corrupção
não ocorra (Q1 + Q2 + Q3) relativa à probabilidade de que ela ocorra (Q4). No
𝑇
Tabuleiro da Corrupção, ela vai de algum ponto onde (𝑥 = 𝐴+𝑇) e (y = 0) até algum
𝐴
ponto onde (x = 1) e (𝑦 = 𝐴+𝑇). Ao longo de toda a curva, a probabilidade de que a
corrupção de fato ocorra é a mesma. A figura baixo demonstra cinco curvas de
responsabilidade cidadã, uma de valor superior a 3 (três), uma de valor igual a 3 (três);
uma de valor inferior a 3 (três) e superior a 1 (um); uma de valor igual a 1 (um); e uma
de valor inferior a 1 (um).
41
𝑨
Figura 24. A Curva 𝑻 no Tabuleiro da Corrupção
42
Figura 25. Duas Fases da Responsabilidade Cidadã
𝑆−𝛽𝑧 𝑆−𝑥(𝑆+𝐹)
(i) 𝑥= →𝑧 =
𝑆+𝐹 𝛽
A probabilidade de que o controlador externo exerça o controle (z) é, caeteris
𝐹
paribus, diretamente proporcional à responsabilidade policial-disciplinar ( 𝑆 ) e
inversamente proporcional ao fator democrático (𝛽).
𝐶−𝛼𝑧 𝐶−𝑦(𝐶+𝑃)
(ii) 𝑦= →𝑧 =
𝐶+𝑃 𝛼
A probabilidade de que o controlador externo exerça o controle (z) é, caeteris
𝐶
paribus, diretamente proporcional à sensação de impunidade pública ( ) e
𝑃
inversamente proporcional ao fator democrático (𝛼).
𝑇
(iii) (𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴
𝑎 = 𝛼𝛽(𝐴 + 𝑇)
𝑏 = −[(𝑆𝛼 − 𝑃𝛽)(𝐴 + 𝑇)]
𝑐 = 𝑇(𝐶𝑆 + 𝐶𝐹 + 𝐹𝑃) − 𝐴𝑆𝑃
43
−𝑏 ± √𝑏 2 − 4𝑎𝑐
𝑧=
2𝑎
A função quadrática da probabilidade (z), diferentemente de (w), nos traz a
possibilidade de dois valores possíveis de (z), e, portanto, dois equilíbrios de Nash em
estratégias mistas. A figura baixo demonstra uma curva de responsabilidade cidadã e
dois vetores z̅ que a cruzam, cada um, em dois pontos.
44
Figura 27. Regra da Posição do Vetor 𝐳̅
45
Nesse vetor, com a exceção de uma curva que o tangencia, todas as outras o
cruzam em dois pontos, fazendo com que, para uma determinada curva de
responsabilidade cidadã, haja duas possíveis probabilidades (z) de equilíbrio
(notadamente, uma alta e uma baixa). No exemplo, poderíamos considerar que é
impossível saber se uma sociedade está posicionada no ponto (i) ou no ponto (ii).
Além disso, aumentar o valor da responsabilidade cidadã poderá ter efeitos
ambíguos nessa sociedade. Ao passar para a curva de maior valor, pode ser que
tenhamos saído do ponto (i) para o ponto (iii) – isto é, um cidadão que se mobiliava
muito passou a se mobilizar ainda mais; do ponto (ii) para o ponto (iv) – isto é, um
cidadão que se mobilizava pouco passou a se mobiliar ainda menos; do ponto (ii) para o
ponto (iii) – ou seja, um cidadão que se mobilizava pouco e passou a se mobilizar
muito; e do ponto (i) para o ponto (iv) – ou seja, um cidadão que mobilizava muito
passou a se mobilizar pouco.
O cidadão errático nos mostra que, mesmo munidos dos todas as variáveis que
indicam os payoffs dos três jogadores pode ser impossível apurar não apenas o ponto de
equilíbrio, mas uma possível resposta do controlador externo a uma alteração em seus
próprios payoffs. Essa realidade não será verdadeira no jogo apresentado no capítulo
seguinte.
46
5.4. Controle Externo e o Triângulo Bom
Por fim, vamos considerar as condições para que o vetor z̅ esteja inteiramente
posicionado no triângulo bom. Para tanto, basta que, além das condições originais, no
ponto (xmin; ymin), ele também satisfaça à condição (y > x).
𝐶−𝛼 𝑆−𝛽
> 𝑆+𝐹 → 𝐶𝐹 − 𝑆𝑃 > 𝛼(𝑆 + 𝐹) − 𝛽(𝐶 + 𝑃)
𝐶+𝑃
Como regra geral, o vetor (z) que se inicia no triângulo bom nele permanecerá
𝐹 𝐶
sempre que for elástico ou unitário. Mas, quanto maior forem ( 𝑆 ) e (𝑃), mais espaço há
para inelasticidade do vetor z̅.
Concluímos que adicionar jogadores ao Jogo-Base da Corrupção tem o poder de
alterar as probabilidades de equilíbrio e as chances de que a corrupção de fato ocorra.
Embora ambos os vetores sejam inversos à probabilidade de corrupção passiva (x), têm
diferentes influências sobre a probabilidade de controle interno (y). Portanto, eles se
somam no eixo (x) e se anulam no eixo (y). Na próxima seção, será apresentada a
combinação dos dois vetores, ou seja, a inserção de ambos os jogadores auxiliares do
Jogo da Corrupção.
6.1. Matriz
47
Figura 31. Matriz do Jogo da Corrupção
𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧
(I) – 𝑥 = 𝑆+𝐹
𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧
(II) – 𝑦 = 𝐶+𝑃
𝐼𝑦
(III) – (𝑥)(1 − 𝑦) = 𝐺
𝑇
(IV) – (𝑥)(1 − 𝑦) = 𝑇+𝐴
48
Das duas primeiras equações de equilíbrio, teremos uma figura necessariamente
quadrilateral associada aos valores de (w) e (z), que terá um formato, um tamanho e
uma posição.
Pelas duas primeiras equações, observamos que existem quatro pontos, onde (x)
e (y) são mínimos e máximos. Eles são os vértices de uma figura quadrilátera, conforme
exposto na figura abaixo.
No tabuleiro, teremos que o ponto (A) está mais à direita (𝑥𝑚𝑎𝑥 ); o ponto (B)
está mais para cima (𝑦𝑚𝑎𝑥 ); o ponto (C) está mais para baixo (𝑦𝑚𝑖𝑛 ); e o ponto (D) está
mais para a esquerda (𝑥𝑚𝑖𝑏 ). Podemos “desenhar” o quadrilátero a partir do ponto (A),
desenhando o vetor (w), que corresponde à aresta (𝐵𝐷 ̅̅̅̅) e desenhando o vetor (z) que
̅̅̅̅). Depois, invertem-se os vetores unindo os segmentos (𝐴𝐶
corresponde à aresta (𝐶𝐷 ̅̅̅̅ ) e
̅̅̅̅). A respeito do quadrilátero, podemos observar o formato, o tamanho e a posição.
(𝐴𝐵
6.2.1. Formato
49
Figura 33. Formato segundo a Intensidade
50
simétrica. A característica desse formato é que ambos os vetores, juntos, somam
exatamente 90º, o que faz dele um retângulo perfeito. Todos os três vetores da figura
anterior se enquadrariam neste formato segundo a elasticidade.
O segundo formato é quando ambos os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅ são inelásticos, ou seja,
quando ambos os jogadores auxiliares afetam mais o corruptor passivo do que o
controlador interno. O terceiro formato notável é o oposto do segundo, ambos os
jogadores auxiliares afetam mais os controladores do que os corruptores.
O quarto formato é onde 𝑤 ̅ tende a ser inelástico e 𝑧̅ tende a ser elástico. Isso
implica que os corruptores ativos afetam mais os passivos e os controladores externos
afetam mais os internos. Caso um dos vetores seja unitário, então o ponto (A) estará
abaixo do ponto (D) ou o ponto (B) estará à esquerda do ponto (C). O quinto e ultimo
formato é o oposto: 𝑤 ̅ tende a ser elástico e 𝑧̅ tende a ser inelástico. Nesses casos, o
corruptor ativo afeta mais o controlador interno e controlador externo afeta mais o
corruptor passivo. Caso um dos vetores tenha elasticidade unitária, então o ponto (A)
estará acima do ponto (D) ou o ponto (B) estará à esquerda do ponto (C).
𝑆−𝑓 𝑆−𝛽 𝛽
= 𝑆+𝐹 → 𝑓 = 1
𝑆+𝐹
𝛽
Caso os controladores internos sejam “coletivistas” (isto é, > 1), então o ponto
𝑓
𝛽
(B) estará à direita do ponto (C). Caso eles sejam “individualistas” ( 𝑓 < 1), então o
ponto (B) estará à esquerda do ponto (C).
Segundamente, analisemos a relação entre os ponto (A) e (D) no eixo (y).
𝐶 𝐶+𝑝−𝛼 𝛼
= →𝑝 = 1
𝐶+𝑃 𝐶+𝑃
𝛼
Caso os corruptores passivos sejam “coletivistas” (isto é, > 1), então o ponto
𝑝
𝛼
(A) estará acima do ponto (D). Caso eles sejam “individualistas” (𝑝 < 1), então o ponto
(A) estará abaixo do ponto (D).
51
6.2.2. Tamanho
𝛼+𝑝 𝛽+𝑓 𝛼𝛽 + 𝛼𝑓 + 𝛽𝑝 + 𝑓𝑝
𝐴1 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑡â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 𝑒𝑚 𝑣𝑜𝑙𝑡𝑎: ( )( )=
𝐶+𝑃 𝑆+𝐹 (𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝑓 𝑝
2 (𝑆 + 𝐹 ) (𝐶 + 𝑃)
𝐴2 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑖𝑠 𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑣𝑒𝑡𝑜𝑟 𝑤
̅=
2
𝑓𝑝
=
(𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝛽 𝛼
2 (𝑆 + 𝐹 ) (𝐶 + 𝑃 )
𝐴3 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑖𝑠 𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑣𝑒𝑡𝑜𝑟 𝑧̅ =
2
𝛼𝛽
=
(𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝛼𝛽+𝛼𝑓+𝛽𝑝+𝑓𝑝−𝛼𝛽−𝑓𝑝 𝜶𝒇+𝜷𝒑
Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑄𝑢𝑎𝑑𝑟𝑖𝑙á𝑡𝑒𝑟𝑜 = 𝐴1 − 𝐴2 − 𝐴3 = (𝑆+𝐹)(𝐶+𝑃)
= (𝑺+𝑭)(𝑪+𝑷)
52
6.2.3. Posição
𝐼𝑦 𝑇
(𝑥)(1 − 𝑦) = =
𝐺 𝑇+𝐴
𝑮𝑻
𝒚=
𝑰(𝑻 + 𝑨)
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇
1−𝑦 =
𝐼(𝑇 + 𝐴)
(𝑥)((𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇)) 𝑇
=
𝐼(𝑇 + 𝐴) (𝑇 + 𝐴)
𝑰𝑻
𝒙=
𝑰(𝑻 + 𝑨) − 𝑮𝑻
Podemos perceber que o ponto exato que uma sociedade ocupa é a interseção, no
𝐺 𝐴
tabuleiro, entre as curvas ( 𝐼 ) e (𝑇 ). Portanto, nesse jogo, inexiste a possibilidade de
haver dois equilíbrios de Nash, pois, dadas duas determinadas curvas, elas apenas se
interceptam em um ponto do Tabuleiro.
53
𝐺𝑇
𝑦=
𝐼(𝑇 + 𝐴)
𝐺𝑇
1>
𝐼(𝑇 + 𝐴)
𝑰 𝑻
>
𝑮 𝑻+𝑨
𝐼
A sensação de injustiça privada (𝐺) é sempre, invariavelmente, maior que o
𝑇
nível de corrupção (x)(1 – y) = (𝑇+𝐴).
𝐼𝑇
𝑥=
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇
𝐼𝑇
1>
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇
𝐼𝑇 + 𝐴𝐼 − 𝐺𝑇 > 𝐼𝑇
𝐴𝐼 > 𝐺𝑇
𝑨 𝑮
>
𝑻 𝑰
𝐴
A Responsabilidade Cidadã (𝑇 )é sempre, necessariamente, maior que a
𝐺
Sensação de Impunidade Privada ( 𝐼 ). Caso contrário, as curvas não se interceptam no
Tabuleiro.
Por fim, saliente-se que, cateris paribus, isto é, mantendo cada uma das curvas
constante, temos que: (i) um aumento da impunidade privada acarreta em aumento de
(x) e de (y); e (ii) um aumento da responsabilidade cidadã implica em diminuição de (x)
e de (y); conforme demonstrado pela figura abaixo.
54
Figura 36. Responsabilidade Cidadã e Impunidade Privada
𝐴
Observamos que a sensação de dever cidadão ( )será sempre, em qualquer
𝑇
𝐺
sociedade, maior que a sensação de impunidade privada( 𝐼 ). Através dessas duas
variáveis, conseguimos, também, encontrar a probabilidade de corrupção passiva (x).
𝐴 1 − (𝑥)(1 − 𝑦)
𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑠𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐶𝑖𝑑𝑎𝑑ã = =
𝑇 (𝑥)(1 − 𝑦)
𝐺 𝑦
𝑆𝑒𝑛𝑠𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝐼𝑚𝑝𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑃𝑟𝑖𝑣𝑎𝑑𝑎 = =
𝐼 (𝑥)(1 − 𝑦)
1 − (𝑥)(1 − 𝑦) 𝑦 1 − 𝑥 − 𝑦 + 𝑥𝑦 (1 − 𝑥)(1 − 𝑦)
− → →
(𝑥)(1 − 𝑦) (𝑥)(1 − 𝑦) (𝑥)(1 − 𝑦) (𝑥)(1 − 𝑦)
𝟏−𝒙 𝑨 𝑮
= −
𝒙 𝑻 𝑰
Também é digno de nota que, para qualquer ator privado, na maior parte do
gráfico, a tentação para cometer corrupção ativa é maior do que o risco (G > I), e, ao
mesmo tempo, o risco de não exercer o controle externo é maior do que a tentação (A >
55
T). Caso o risco de cometer corrupção ativa seja maior que a tentação (I > G), então
pode ser que os riscos e tentações para não exercer a corrupção sejam iguais, maiores ou
menores que as tentações, mas essa sociedade inevitavelmente estará nas áreas C5, C6,
ou C7 do Tabuleiro, todas fora do “triângulo bom”. Ademais, inexiste a possibilidade de
que a tentação para cometer corrupção ativa seja maior que o risco (G > I) e, ao mesmo
tempo, a tentação para não exercer controle seja maior que o risco (T > A). Assim,
conclui-se que, na maior parte das vezes, os atores privados são “hipócritas” porque
“preferem” cometer a corrupção e se mobilizar contra ela (ou não cometê-la e não se
mobilizar). Caso eles “prefiram” não cometer a corrupção e se mobilizar contra ela,
então com certeza a probabilidade de investigação será menor do que a probabilidade do
crime (y < x), e haverá impunidade certa nessa sociedade.
𝐼 𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧 𝐺 𝐶
𝑥 = 𝐺 . 𝑃−𝑝𝑤+𝛼𝑧 onde (x < 1) e ( 𝐼 = 𝑃)
𝐶 𝐶+𝑝𝑤−𝛼𝑧 𝜶 𝒘
𝑃
> 𝑃−𝑝𝑤+𝛼𝑧→(𝐶𝑃 − 𝐶𝑝𝑤 + 𝐶𝛼𝑧) > (𝐶𝑃 + 𝑃𝑝𝑤 − 𝑃𝛼𝑧)→(𝐶 + 𝑃)𝛼𝑧 = (𝐶 + 𝑃)𝑝𝑤→𝒑 > 𝒛
56
geral, essa relação só é positiva quando a curva de impunidade privada é alta, em sua
primeira fase, ou seja, grosso modo, no triângulo bom.
57
6.4.4. O Tabuleiro Auxiliar
𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧 1 𝑺−𝑭
(x = ½) = 2 → 𝒇𝒘 + 𝜷𝒛 =
𝑆+𝐹 𝟐
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧 1 𝑷−𝑪+𝟐𝒑
(y = ½) = 2 → 𝒑𝒘 − 𝜶𝒛 =
𝐶+𝑃 𝟐
(y = x) 𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧
𝑆+𝐹
=
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧
𝐶+𝑃
→ 𝑷𝑺 − 𝑪𝑭 + 𝒑(𝑺 + 𝑭) = (𝑺 + 𝑭)(𝒑𝒘 − 𝜶𝒛) + (𝑪 + 𝑷)(𝒇𝒘 + 𝜷𝒛)
(y = 1– x) 𝐹+𝑓𝑤+𝛽𝑧
𝑆+𝐹
=
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧
𝐶+𝑃
→ (𝑪 + 𝑷)(𝒇𝒘 + 𝜷𝒛) + (𝑺 + 𝑭)(𝜶𝒛 − 𝒑𝒘) = 𝑪𝑺 − 𝑭𝑷 − 𝒑(𝑺 + 𝑭)
58
Figura 38. Sociedades-Modelo
59
demonstrado pela figura abaixo, restam o caso C2 e um pedaço do caso C7, conforme
demonstrado, em cor cinza, na figura abaixo.
Caso a impunidade privada seja menor que 2 (dois), (2𝐼 > 𝐺 > 𝐼), devemos
garantir que a probabilidade de controle interno seja maior que a probabilidade de
corrupção passiva (y > x), o que ocorrerá quando a sensação de injustiça privada for
menor do que a probabilidade de que o controlador interno não exerça o controle.
𝐺𝑇 𝐼𝑇
>
𝐴𝐼 + 𝐼𝑇 𝐴𝐼 + 𝐼𝑇 − 𝐺𝑇
𝐴𝐼+𝑇𝐼−𝐺𝑇 𝐼 𝑰
𝐺(𝐴𝐼 + 𝑇𝐼 − 𝐺𝑇) > 𝐼²(𝐴 + 𝑇) → (1 − 𝑦) = 𝐴𝐼+𝑇𝐼
> 𝐺 →𝟏−𝒚>𝑮
Caso a impunidade privada seja maior que 2 (dois), (𝐺 > 2𝐼), devemos garantir
que a probabilidade de controle interno seja menor que a probabilidade de que o
corruptor não pratique a corrupção passiva (1 – x > y), o que ocorrerá quando a razão
𝐴 𝐺
entre a ética cidadã (𝑇 ) e a sensação de impunidade privada ( 𝐼 ) – que será sempre um
número maior que 1 (um), configurando a relação entre riscos e tentações dos atores
𝐴𝐼
privados (𝐺𝑇) – obedecer à seguinte inequação:
𝐴𝐼 − 𝐺𝑇 𝐺𝑇
>
𝐴𝐼 + 𝐼𝑇 − 𝐺𝑇 𝐴𝐼 + 𝑇𝐼
60
𝐴²𝐼² + 𝐴𝐼²𝑇 − 2𝐴𝐺𝐼𝑇 > 2𝐺𝐼𝑇² − 𝐺²𝑇²
𝑨𝑰 𝑻(𝟐𝑰 − 𝑮)
>
𝑮𝑻 𝑰(𝑨 + 𝑻) − 𝟐𝑮𝑻
61
Figura 40. Sociedades Ideais
𝐴 𝐺
𝐹 𝐶 𝛼 𝛽 ( ) ( )
Sociedade ( ) ( ) ( ) ( ) 𝑇 𝐼 Quadrilátero Tabuleiro Auxiliar
𝑆 𝑃 𝑝 𝑓
A B C A B C
II = 3 = 1 =1 =1 =7 = 63 = 8,14 =4 = 56 = 1,14
1
III = 3 = =∞ =∞ = 4,33 = 15 = 532,33 = 1,33 = 12 = 133,33
3
A principal característica em comum entre as três sociedades acima é a de que a
sensação de dever disciplinar dos controladores internos é alta, condição para que a
probabilidade máxima de corrupção passiva (𝑥𝑚𝑎𝑥 ) seja baixa. A principal diferença
entre as três sociedades é a sensação de impunidade pública, que pode ir de um valor
médio-alto a um valor médio-baixo.
Na primeira sociedade, a sensação de impunidade pública tende a ser mais alta,
posicionando o ponto (A) do quadrilátero no caso C1. Nessa sociedade, os corruptores
passivos são mais coletivistas e os controladores internos são mais individualistas e,
portanto, o vetor 𝑤 ̅ é menor e mais elástico, enquanto o vetor 𝑧̅ é maior e mais
inelástico. Portanto, a probabilidade de corrupção ativa (w) aumenta a sensação de
dever cidadão e de impunidade privada, enquanto a probabilidade de controle externo
(z) as diminui. Nesse caso, a pressão democrática pode levar a sociedade de C1 a C8.
A terceira sociedade é o inverso da primeira. A sensação de impunidade pública
tende a ser baixa, posicionando o ponto (A) no caso C8. Nessa sociedade, os corruptores
passivos são mais individualistas e os controladores internos são mais coletivistas, de
forma que o vetor 𝑤 ̅ é maior e mais inelástico, enquanto o vetor 𝑧̅ é menor e mais
elástico. Tanto a probabilidade de corrupção ativa (w) quanto de controle externo (z)
aumentam a sensação de dever cidadão e a sensação de impunidade privada.
A sociedade intermediária representa a sensação de impunidade pública justa (C
= P), posicionando o ponto (A) na fronteira entre os casos C1 e C8. Nesse caso, os
jogadores essenciais não são nem individualistas nem coletivistas, de modo que ambos
levam em consideração igualmente a pressão de cada jogador auxiliar. Contudo, isso
não significa que os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅ são elásticos, pois ambos são inelásticos, indicando
que ambos os jogadores auxiliares afetam mais o corruptor passivo do que o controlador
interno. Nessa sociedade, ambos os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅ aumentam a sensação de dever
cidadão, mas a probabilidade de corrupção ativa (w) aumenta a sensação de impunidade
privada, enquanto a probabilidade de controle externo (z) a diminui. A sociedade estará
no caso C8 quando (z > w).
Em suma, caso haja uma sensação de impunidade pública alta, é melhor que os
agentes públicos sejam mais individualistas, isto é, que a pressão “ética” seja maior que
a pressão “democrática”. Caso contrário, é melhor que os que os agentes públicos sejam
mais coletivistas, ou seja, que a pressão “democrática” seja maior que a pressão ética
para ambos. Caso a sensação de impunidade pública seja média, então o coletivismo ou
individualismo dos agentes públicos deixa de ser de grande relevância, pois certamente,
nessa sociedade, o nível de corrupção é baixo e ela provavelmente estará posicionada no
triângulo “bom” (desde que a responsabilidade policial-disciplinar seja alta)
7. Considerações Finais
63
um papel em situações específicas, não são “essenciais” para configurar uma situação
de corrupção política. Essa relação pode ser esquematizada afirmando-se que existe,
para todos os jogadores, uma tentação e um risco, associados a uma de suas ações
(“praticar corrupção” e “não exercer controle”, respectivamente). Essas tentações e
riscos se traduzem na ordem de preferências dos jogadores que terão, sempre, casos
mais e menos preferidos (para o corruptor passivo, Q4 e Q2 e, para o controlador
interno Q3 e Q4, respectivamente). Essas simples afirmações trazem três importantes
desdobramentos éticos.
O primeiro é de que a corrupção é um fenômeno inesgotável, e que, em termos
de probabilidade, ele não pode ser extinto. A política pública deve, portanto, focar na
diminuição de (x) e/ou aumento de (y) e será demagógico perseguir o “fim da
corrupção”. O segundo é de que a corrupção é um fenômeno cíclico, e que, para
combatê-la, é preciso, primeiramente, analisar em qual dos quatro “momentos” do jogo
uma sociedade está. O terceiro é de que, em equilíbrio, as probabilidades de ação de
um jogador estão em função dos payoffs do outro jogador. Isso implica que alterar
os incentivos dos corruptores passivos teria o efeito de alterar a probabilidade de
equilíbrio de que eles sejam investigados e, para influenciar a probabilidade de que eles
ajam, seria necessário alterar os incentivos de seus controladores. Corolários práticos
dessa conclusão é de que existe um trade-off entre a sensação de impunidade e a
impunidade real e um trade-off entre a sensação de dever disciplinar e a
desonestidade dos agentes públicos.
Nesse sentido, foi considerado também que inexiste possibilidade das ordens de
preferência dos jogadores serem obtidas no “tabuleiro”, de modo que é preciso fazer um
trade-off entre (Q1 – Q4) e entre (Q2 – Q3). Em outras palavras, significa que, no jogo
da corrupção, deve-se trocar simultaneamente, a probabilidade de investigar
pessoas inocentes pela probabilidade de não investigar pessoas culpadas; e a
probabilidade de investigar pessoas culpadas pela probabilidade de não investigar
pessoas inocentes. Ademais, pela transitividade de preferências dos jogadores, afirma-
se que nenhum deles prefere Q2 a Q3.
Foi chamada de triângulo “bom” do tabuleiro a chance de que (1 – x > y > x).
Ou seja, idealmente, a probabilidade de que um agente público não seja corrupto deve
ser maior do que a probabilidade de ele ser investigado, que deve ser maior que a
probabilidade de ele ser corrupto. Quanto menor o valor de (x), maior a chance de ele
satisfazer essas condições. Ressalte-se que, para (y = ½), qualquer (x < ½) satisfaz as
condições. Para tanto, é preciso que a sensação de dever disciplinar seja alta, mas não
existe condição ideal para a sensação de impunidade pública. A divisão entre elas,
entretanto, deve ser um número maior que 1 (um).
Em seguida, acrescentamos o primeiro ator privado ao Jogo da Corrupção, que
pode exercer a corrupção ativa ou não. Definimos que ele tem um duplo risco, pois pode
ser punido, caso seja corrupto, sendo o corruptor passivo corrupto ou não. Ademais, ele
retira utilidade do agente público corrupto quando decide não ser corrupto, e retira
utilidade do agente público controlador quando é corrupto. Nesses moldes, forma-se um
vetor 𝑤̅ em que a prática da corrupção ativa diminui a prática da corrupção
64
passiva e aumenta o exercício do controle interno. Essa é uma das consequências
mais contra-intuitivas do Jogo, pois vai de encontro às teorias apresentadas no capítulo
1, que afirmam haver, na relação dos corruptores ativos, incentivos para corrupção
sistêmica e perpétua. Com um vetor podemos analisar a influência do ator privado
sobre os agentes públicos através de sua elasticidade, intensidade e posição.
Em seguida, analisamos a relação do ator privado na condição de controlador
externo. Nesse caso, ele tem uma tripla tentação para não exercer o controle quando a
corrupção não ocorre. Os agentes públicos, corruptor e controlador, perdem utilidade
quando o controlador externo exerce o seu poder e eles são corruptos ou não
investigam, respectivamente. Nessas condições, existe um vetor 𝑧̅, que move uma
sociedade na direção (Q2 → Q3), ou seja, o controle externo ambivalente diminui as
chances de que os agentes púbicos sejam corruptos, mas também as chances de que
eles sejam investigados. Para diminuir a corrupção (x) mais do que o controle (y), seria
necessário que o controle externo afetasse com mais intensidade os controladores
internos do que os corruptores passivos, ou seja, mais elástico.
Pudemos concluir, ademais, que, tudo o mais constante, as probabilidades de
ação dos atores privados (w e z) são inversamente proporcionais ao seu poder de
pressão sobre os jogadores essenciais (𝜶; 𝜷; 𝒇 𝒆 𝒑).Os vetores 𝑤 ̅ e 𝑧̅, combinados,
formam uma figura necessariamente quadrilátera que terá um formato, em função da
elasticidade dos vetores, e u tamanho, em função da sua intensidade. Não existem
condições ideais de formato, e uma sociedade se posicionará no triângulo “bom”, mas,
em termos de área, o máximo que uma sociedade pode ter sem deixar de ocupá-lo é
25% do total do Tabuleiro. O formato e tamanho do quadrilátero serão dados,
fundamentalmente, pelo coletivismo ou individualismo dos agentes públicos, isto é, se
eles levam em consideração a ação de um ator privado mais que o outro.
Portanto, para alguém que esteja interessado tão somente na probabilidade
de ocorrência da corrupção, o formato do quadrilátero é irrelevante. Foi imaginada
a figura de um “quinto jogador”, representado por um investidor estrangeiro, e um
tabuleiro auxiliar, que “deforma” uma sociedade para facilitar a visualização da sua área
e posição. Ainda assim, a variável mais fundamental, para ele é o nível de corrupção
(x)(1-y) no equilíbrio do jogo, isto é, no ponto exato que uma sociedade ocupa dentro
do quadrilátero.
O equilíbrio do jogo da corrupção pode ser encontrado exclusivamente a partir
das variáveis dos atores privados. A sensação de dever cidadão e a sensação de
impunidade privada são inversamente proporcionais ao nível de corrupção. Uma
regra velada, mas absoluta, é de que a sensação de dever cidadão é sempre maior que
a sensação de impunidade privada. Para que uma sociedade esteja no triângulo
“bom”, a sensação de dever cidadão dever ser alta, a sensação de impunidade privada
deve ser média-alta.
Note-se, ademais, que existem fortes incentivos para uma espécie de
“hipocrisia natural” dos atores privados, pois na maior parte do tabuleiro eles têm
incentivos ou para praticar ambas as coisas (corrupção ativa e controle externo) ou
nenhuma delas. Os casos que representam exceções a essa regra são necessariamente
65
casos onde (Q4 > Q1). Uma vez que as relações tentação-risco desses jogadores não são
variáveis autônomas, para qualquer ponto do tabuleiro existe uma única relação entre
esses payoffs e o controlador externo apresenta uma “tentação tripla”, enquanto o
corruptor ativo apresenta um “risco em dobro”.
A figura abaixo busca sintetizar as informações sobre das principais variáveis do
Jogo da Corrupção. As probabilidades de ação (x), (y), (w) e (z), são consideradas
variáveis output, ou seja, são os valores que se buscam encontrar. As demais variáveis
dizem respeito à posição, formato, tamanho e equilíbrio de um quadrilátero no tabuleiro
da corrupção. Idealmente, o equilíbrio deve estar nos casos C1 ou C8, o que implica em
condições em termos de posição e tamanho, mas não de formato.
66
Figura 42. Variáveis Input (payoffs)
𝐹 𝐶 𝑆
Posição > >
𝑆 𝑃 𝐹
Formato
𝛼 Relação Fatores Ético- Arrasta o vértice (D) para abaixo
Coletivismo do Corruptor ( )
𝑝 Democrático do vértice (A)
𝐴
Pode ser diretamente ou >3
𝐴 Relação Risco-Tentação de não 𝑇
Responsabilidade Cidadã inversamente proporcional a (z)
𝑇 exercer controle externo
e (w)
Equilíbrio
𝐺
>1
𝐼
Sensação de Impunidade 𝐺 Relação Tentação-Risco de Diretamente proporcional a (z) e
Privada 𝐼 praticar corrupção ativa (w) * Condições necessárias, mas insuficientes
67
Referências
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Berlin, Klinigin-Luke-Sk. 24-26, D-1000 Berlin 33.
Brasil, (2006). Decreto nº 5.687/06 (Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção – Mérida).
Dixit, A. and Skeath, S. (2004) Games of Strategy. W.W. Norton ISBN 0393924998,
978039324992
Lianju, Sun & Luyan, Peng (2011). Game Theory Analysis of the Bribery Behavior. International
Journal of Business and Social Science Vol. 2 No. 8; May 2011 104
Shepsle, Kenneth (2010). Analyzing Politics: rationality, behavior and institutions. Editora
Paperback.
Silva, Marcos F. (1999). The Political Economy of Corruption Brazil. RAE - Revista de
Administração de Empresas • Jul./Set. 1999 São Paulo, v. 39 • n. 3 • p. 26-41.
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Anexos
Poder
Controle Cidadão
Externo Poder da
Sociedade
Corrupção Mídia
Ativa
Corrupção
Passiva Poder
Estado
Controle Disciplinar
Interno Poder de
Polícia
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Ações Payoffs Arrependimentos
Caso
Passivo Interno Passivo Interno Passivo Interno
1 Corrup Control –P 0 Sim 0
2 Corrup Não C –F Não Sim
3 Corrup Corrup C C Não Não
4 Não Control 0 0 Não Sim
5 Não Não 0 S Sim Não
6 Não Corrup 0 S–p Sim 0
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nenhum dos jogadores. Contudo, caso as condições acima sejam falsas, então os
arrependimentos que estão em negrito trocarão de lugar, e não haverá resultado de
equilíbrio em estratégias puras. Podemos concluir, destarte, que o controlador externo
pode quebrar o ciclo vicioso da corrupção perpétua, desde que seu poder de pressão
sobre os agentes públicos corruptos (𝛼) ultrapasse a tentação para que eles sejam
corruptos (C).
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16 N N N N 0 𝑆 0 𝑇1 + 𝑇2 S N N N
𝑆 𝐼𝑞 𝑇1 + 𝑇2 − 𝑤(𝑇2 + 𝑅2)
𝑥= = =
𝑆 + 𝐹 𝐺(1 − 𝑞) 𝑇1 + 𝑅1
𝐶−𝑞(𝑃+𝐶)−𝑝(1−𝑤) 𝐶−𝑦(𝐴+𝐶)−𝑝(1−𝑤)
𝑦= →𝑞 =
𝐴+𝐶(1−𝑞) 𝑃+𝐶(1−𝑦)
D – O Poder da Mídia
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A distinção entre os dois controladores externos pode ser exemplificada pela
diferença entre um cidadão comum e um jornalista político. Enquanto o cidadão
obedece à lógica do controlador externo exposta no projeto, isto é, ele tem uma tentação
e um risco associado a não se mobilizar, vamos considerar que o “jornalista” ganha
utilidade quando a corrupção acontece e ele consegue denunciá-la (como um “furo de
reportagem”). Sua tentação será representada por (D). Ele perde utilidade quando
denuncia a corrupção e ela não ocorre (como uma reportagem falsa), representado por
(–N). Ao contrário do cidadão, o jornalista apresenta um risco triplo, e não uma tentação
tripla.
A probabilidade de ação do jornalista será chamada de (k) e vamos considerar
que a mídia também provoca fatores de desconto adicionais, comparáveis a alfa e beta.
Nesse caso, teríamos a seguinte matriz e equações de equilíbrio:
𝑆 − 𝛽𝑘
𝑥=
𝑆+𝐹
𝐶 − 𝛼𝑘
𝑦=
𝐶+𝑃
𝐷 (𝑦)(1 − 𝑥)
=
𝑁 (𝑥)(1 − 𝑦)
O vetor (k) tem a mesma direção e características que o vetor (z). Contudo, a
terceira equação de equilíbrio traz a relação tentação-risco para o jornalista denunciar a
corrupção (tentação para denunciar quando acontece e risco de denunciar quando não
acontece). Podemos chamar essa relação de sensação de dever jornalístico. Ela é a
representação matemática exata do trade-off (Q1 – Q4), observado no capítulo 3.
Quanto maior for a ética jornalística, maiores serão as chances de investigação da
corrupção (y) e menores serão as chances de corrupção passiva (x). Destarte, quanto
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mais ética jornalística, maior a chance de se investigarem pessoas inocentes (Q1), e
quanto menor, maiores serão as chances de que a corrupção de fato ocorra (Q4).
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momento em que a operação se iniciou acabou sendo prejudicado pelos seus
desdobramentos.
É de se pensar que, apesar das diferenças, as operações anticorrupção nos dois
países teriam aumentado as chances de que a corrupção fosse investigada (y) e, com
isso, diminuído as chances de que a corrupção ocorresse. Contudo, se observarmos o
índice de Percepção da Corrupção, publicado anualmente pela Transparência
Internacional para centenas de países, podemos verificar que não foi isso que ocorreu. O
índice relaciona pesquisas de opinião com milhares de agentes públicos e atores
privados e estabelece um ranking anual de países, conforme a percepção da própria
população sobre a corrupção. Desde a década de noventa, quando o ranking teve início,
Brasil e China têm, ambos, se posicionado medianos, embora o Brasil tenha,
historicamente, se posicionado um pouco acima da China (em termos rudimentares,
podemos dizer que, segundo o índice, o Brasil é tradicionalmente um pouco “menos
corrupto” do que a China). Essa situação mudou drasticamente desde 2012, quando as
operações começaram. A figura abaixo demonstra as posições relativas dos dois países
no ranking entre 2012 e 2017.
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as distinções culturais ou institucionais dos países que explicam os comportamentos
diferentes, mas trata-se de uma forma matemática de abordar o fenômeno. O capítulo
seguinte busca compilar os principais desdobramentos éticos do modelo apresentado
neste projeto.
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