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O texto descreve a visão de Foucault sobre as heterotopias, espaços reais que se contrapõem aos demais espaços da sociedade. Foucault analisa como as heterotopias assumem diferentes formas ao longo do tempo e da cultura, podendo ser de crise ou desvio. Ele estabelece seis princípios sobre as heterotopias, incluindo como elas podem justapor espaços incompatíveis e estão ligadas ao tempo.
O texto descreve a visão de Foucault sobre as heterotopias, espaços reais que se contrapõem aos demais espaços da sociedade. Foucault analisa como as heterotopias assumem diferentes formas ao longo do tempo e da cultura, podendo ser de crise ou desvio. Ele estabelece seis princípios sobre as heterotopias, incluindo como elas podem justapor espaços incompatíveis e estão ligadas ao tempo.
O texto descreve a visão de Foucault sobre as heterotopias, espaços reais que se contrapõem aos demais espaços da sociedade. Foucault analisa como as heterotopias assumem diferentes formas ao longo do tempo e da cultura, podendo ser de crise ou desvio. Ele estabelece seis princípios sobre as heterotopias, incluindo como elas podem justapor espaços incompatíveis e estão ligadas ao tempo.
O autor discorreu inicialmente sobre a forma como a sociedade se configurou desde
a Idade Média até os tempos atuais no que concerne ao tempo e espaço. Ele objetivou trazer um novo olhar para a forma que vemos esta configuração, um olhar para fora e voltado para às heterotopias, outros espaços da sociedade que trazem características que ele descreveu de forma sistemática ao longo do texto. Na Idade Média, os espaços eram hierarquizados e divididos entre lugares sagrados e lugares profanos, entre lugares protegidos e entre lugares abertos. Com a redescoberta de Galileu do heliocentrismo, a Terra deixou de ser ponto central de localização para se tornar um espaço aberto, um espaço em constante movimento. A partir disto, a extensão tomou o lugar do espaço e hoje, foi substituída pelo posicionamento. O espaço tomou uma preocupação maior do que tempo. E, apesar da dessacralização do tempo no século XIX, o espaço ainda se encontra um pouco sacralizado sob oposições das quais não ousamos questionar como entre o espaço privado e público, entre a família e o social, entre a cultura e o útil e entre o lazer e o trabalho. As descrições de que não vivemos em um espaço homogêneo e vazio e sim em um espaço carregado de qualidades e de fantasmas da nossa percepção primeira carregam um ponto de vista voltado ao espaço de dentro. Foucault quis se focar nesta obra no espaço de fora, que nos atrai para fora de nós mesmos. Ao invés de se focar em posicionamentos de passagem como trens e ruas ou posicionamentos transitórios como cinemas, cafés e praias ou ainda posicionamentos de repouso como quartos, Foucault pretende se focar naqueles que estão relacionados à todos os posicionamentos e que neutralizam, suspendem ou invertem estes. O primeiro tipo de posicionamento citado são as utopias. Elas tem a característica de estarem em lugar nenhum, elas não estão em um lugar real. Por outro lado, há as heterotopias, lugares reais que se contraposicionam aos outros, que os invertem, contestam e representam. O espelho seria simultaneamente uma utopia e uma heterotopia. Ao mesmo tempo em que a sua imagem é irreal, coloca o outro onde ele não está e o mostra ausente onde ele está, o espelho realmente existe, é um objeto real e, a partir da visão que ele proporciona, o próprio indivíduo pode se ver e se tornar presente onde ele realmente está. Isto seria a utopia do espelho. Foucault, apesar de não se dispor a criar uma ciência que estude as heterotopias, decidiu por fazer uma descrição sistemática com o objetivo de fazer uma leitura destes outros espaços, chamada heterotopologia. O primeiro princípio desta descrição é que não há culturas no mundo que não se constituam de heterotopias, mas que as formas que estas assumem em cada cultura são variadas e que talvez não haja uma que seja universal. Elas podem assumir dois tipos que são as heterotopias de crise e heterotopias de desvio. As heterotopias de crise seriam das sociedades “primitivas” e representam lugares sagrados, privilegiados ou proibidos que são designados às pessoas que a sociedade julga estarem em estado de crise, como adolescentes, mulheres menstruadas e no resguardo e velhos. Este tipo de heterotopia tem desaparecido cada vez mais, como aconteceu com os colégios do século XIX e a tradição de viagem de núpcias para as mulheres onde a sua defloração acontecia em trens ou hotéis que representam a posição de lugar nenhum. As heterotopias de crise vem sendo substituídas pelas heterotopias de desvio. Elas são lugares reservados para aqueles indivíduos que se encontram desviados do que a sociedade considera normal. Seriam as clínicas psiquiátricas e as prisões. As casas de repouso estariam no limiar entre as heterotopias de crise e de desvio já que estas acolhem pessoas na velhice, que é considerada uma fase de crise e que são ociosas, o que é considerado um desvio. O segundo princípio é que a sociedade pode fazer uma heterotopia já existente funcionar de uma maneira muito diferente de antes como ocorre com o cemitério. Este é um lugar diferenciado se comparado à outros espaços culturais e que tem uma ligação com todos os indivíduos. Até o fim do século XIX o cemitério era localizado no ponto central da cidade, lado a lado com a igreja e apenas alguns túmulos eram individuais sendo que o restante das pessoas perdiam a sua individualidade ao morrer. De forma curiosa, a partir do momento que a sociedade foi se tornando mais “ateia” que surgiu o culto aos mortos. A existência terrena tornou-se tudo o que alguém poderia ter e recebeu mais atenção, ganhando túmulos individuais. Por outro lado, os cemitérios se deslocaram do centro da cidade para o seu limite exterior em função do pareamento da morte com a doença, como se a proximidade dos mortos com os vivos atraísse a própria morte. Os cemitérios passaram de lugar sagrado e imortal para uma morada sombria. O terceiro princípio é que as heterotopias podem justapor vários espaços e posicionamentos incompatíveis em um só lugar real. É o que acontece com os teatros e cinemas. O teatro coloca vários lugares dentro de um só espaço e o cinema coloca três dimensões dentro de duas. Há também o jardim persa que era um espaço sagrado que representava as quatro partes do mundo e tinha um centro onde ficava o jato d’água e representava o umbigo do mundo. O jardim se constituía de uma pequena parte do mundo que representava a sua totalidade. O quarto princípio é que as heterotopias estão frequentemente ligadas ao tempo, as heterocronias. Elas entram em funcionamento quando há uma ruptura com o tempo tradicional. Nos museus e bibliotecas o tempo se acumula incessantemente, há uma necessidade de se acumular em um só espaço todos os tempos e épocas. Eles são heterotopias próprias do século XIX. Do contrário, há as heterotopias ligadas ao que é passageiro como as festas, feiras e cidades de veraneio. Elas remontam a algo passageiro, algo que não se eternizará. O quinto princípio é que as heterotopias trazem um sistema de abertura e fechamento, um sistema que isola e deixa penetrável. Ou se entra obrigado como nas prisões ou se passa por ritos e purificações físicos ou espirituais para entrar como nas instituições religiosas e casas de banho. Há outros lugares em que todo mundo pode entrar mas ao entrar é excluído como nos quartos das grandes fazendas que existiam no Brasil onde qualquer viajante podia entrar mas nunca tinha acesso ao núcleo da família que ali habitava. Outro exemplo poderia ser os quartos de motéis americanos que abrigam a sexualidade e a escondem. O último traço das heterotopias é que elas tem uma função relacionada ao espaço restante. Ou elas criam um espaço ilusório que por si denuncia qualquer outro espaço real como ilusório, como os bordéis, ou criam um outro espaço real e perfeito que contrasta com todos os outros espaços desorganizados e confusos. Foucault denomina estes espaços como heterotopia de compensação. As colônias de jesuítas poderiam ser um exemplo de colônias maravilhosas e organizadas onde todos tinham o horário para trabalhar, para acordar e dormir. Eram regulamentadas pelo sino ao invés de apito e contrastavam com todo o resto. O autor conclui o texto observando a importância do barco para a civilização do século XVI. Este era para esta sociedade um pedaço de espaço flutuante que não tinha lugar, era fechado e ao mesmo tempo lançado pelo infinito e passava desde o bordel até a colônia, sendo instrumento não apenas de desenvolvimento econômico como também de imaginação. Era a heterotopia por excelência. Nas civilizações sem os barcos, os sonhos se esgotam.
The Art of Invisibility The World's Most Famous Hacker Teaches You How To Be Safe in The Age of Big Brother and Big Data by Kevin D. Mitnick, Robert Vamosi (PT)