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Documento de salvaguardas
socioambientais
Outubro de 2006
O documento das salvaguardas para este projeto foi elaborado entre novembro de 2005 e julho
de 2006 pelo consultor Thadeu Melo (melo.thadeu@gmail.com). Em agosto de 2006 o
documento foi disponibilizado nos nas páginas de rosto dos endereços eletrônicos do MMA e do
Funbio onde foi acessado mais de 1400 vezes.
As alterações necessárias no documento foram feitas em outubro de 2006, quando o documento
foi finalizado. Esta nova versão será novamente disponibilizada tanto no sítio do MMA quanto
do Funbio.
As instituições envolvidas na elaboração do documento foram representadas pelas seguintes
pessoas:
2
ÍNDICE
SUMÁRIO EXECUTIVO 4
1. INTRODUÇÃO 5
1.1. Descrição do Projeto 6
1.1.1. Objetivo de Desenvolvimento do Projeto e Indicadores 6
1.1.2. Componentes do Projeto 7
2. AVALIAÇÃO SOCIAL 12
2.1. Impactos Positivos 12
2.2. Potenciais Impactos Negativos 13
3. ANÁLISE SOCIAL 15
3.1. Caracterização social 15
3.1.1. Perfil socioeconômico 15
3.1.2. Composição étnica 16
3.1.3. Panorama socioambiental 16
3.1.4. Uso social da biodiversidade 17
3.1.4.1. Comunidades tradicionais 18
3.1.4.2. Povos indígenas 20
3.1.4.3. Empresas 21
3.1.4.4. Representantes de governo 23
3.1.4.5. Terceiro setor 25
3.1.4.6. Comunidade científica 27
4. AVALIAÇÃO AMBIENTAL 30
4.1. Impactos Positivos 31
4.2. Potenciais Impactos Negativos 32
5. ANÁLISE AMBIENTAL 34
5.1. Panorama ambiental 34
5.1.1. Biomas brasileiros 34
5.1.2. Biodiversidade 44
5.1.3. Temas ambientais relevantes no Brasil 49
5.2. Panorama Setorial 51
6. ANÁLISE DOS IMPACTOS DO PROJETO 62
6.1. Políticas de Salvaguardas Acionadas 62
7. PLANO DE MITIGAÇÃO DE IMPACTOS 68
7.1. Marco de Filtragem Ambiental 68
7.2. Suprimento de Bens e Serviços 68
7.3. Marco Legal 69
ANEXOS
1- Potenciais impactos ambientais e planos de mitigação 74
2- Plano de manejo integrado de pragas 78
3- Marco de Filtragem 88
3
Sumário Executivo
O Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade tem como
objetivo estimular a priorização da biodiversidade nos processos de tomada de decisão de setores
públicos e privados no Brasil, em escala nacional. Os executores da iniciativa são o Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), que estarão
empenhados junto a diversos outros parceiros ao longo de seis anos (2006-2012) para que os
resultados esperados sejam atingidos.
O Projeto foi avaliado preliminarmente pela equipe do Banco Mundial face às políticas de
salvaguardas ambientais definidas pela instituição, tendo sido enquadrado na Categoria B:
operação de risco ambiental moderado. Isso significa que a equipe do Banco identificou que o
Projeto poderia vir a causar impactos e possuir riscos sociais e ambientais negativos, sobretudo
localmente e em curto prazo, para os quais há medidas de mitigação eficazes disponíveis
prontamente e que em geral não causam impacto negativo irreversível.
O presente documento consiste na análise detalhada dos grupos potencialmente afetados pelo
projeto, e dos impactos sociais e ambientais das atividades previstas para o Projeto, estando
orientado à identificação de potenciais impactos negativos e à definição das medidas de
mitigação cabíveis, bem como dos responsáveis por sua implementação e dos custos estimados
para sua realização.
4
1. Introdução
Uma década depois de estabelecer os mecanismos oficiais para implementar a Convenção da
Diversidade Biológica - CDB, o Brasil pode encarar o desafio de tratar a biodiversidade nacional
de forma unificada e transversal. Nesta nova etapa da organização do setor de biodiversidade,
serão superadas as fronteiras dos territórios sob gestão ecológica e convertidas em sustentáveis
as paisagens sob controle de setores econômicos que geram impactos ambientais negativos em
larga escala.
Este ambicioso Projeto será executado em parceria entre o Ministério do Meio Ambiente
(MMA) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Para sua implementação, também
foram estabelecidas parcerias estratégicas com o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Ministério da
Saúde (MS), o Ministério da Ciência & Tecnologia (MCT), a Fundação Oswaldo Cruz, o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Jardim
Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a
Rede Brasileira de Jardins Botânicos e com organizações não-governamentais. Outros setores,
tais como a energia, a mineração e os transportes, também foram incluídos nas discussões
preliminares, e espera-se que se juntem ao Projeto em seus estágios iniciais de implementação.
5
1.1. Descrição do Projeto2
O Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade foi desenhado
para integrar e potencializar as iniciativas em curso no país3, devendo ser realizado ao longo de
seis anos. O Projeto está diretamente relacionado com a Prioridade Estratégica 2 (BD 2) do GEF
(Transversalidade da biodiversidade em paisagens e setores produtivos) e com a BD 4 (Geração
e Disseminação das Melhores Práticas para Lidar com Temas Atuais e Emergentes sobre
Biodiversidade). O Projeto está de acordo com o Programa Operacional 1 (OP1) do GEF
(Ecossistemas Áridos e Semi-áridos), OP2 (Ecossistemas Costeiros, Marinhos e Águas
Continentais), OP3 (Ecossistemas Florestais), OP4 (Ecossistemas de Montanhas), OP12
(Abordagem Integrada de Manejo de Ecossistemas), OP13 (Conservação e Uso Sustentável de
Diversidade Biológica Importante para a Agricultura) e OP15 (Manejo Sustentado de Solos).
O Projeto será financiado com US$ 22 milhões do Fundo Mundial para o Meio Ambiente
(GEF) além de US$ 75 milhões de contrapartida, tanto de fontes governamentais quanto do setor
privado.
Três indicadores (que serão refinados durante um futuro workshop de alto nível) irão mensurar
o progresso deste objetivo:
• Progresso para o atendimento da metas de 2010 da CDB obtido pelo Brasil (Veja o anexo 22
do Project Appraisal Document – PAD) apoiado em políticas específicas de uso e conservação
da biodiversidade, sendo mapeado por uma estratégia de monitoramento dos indicadores
selecionados
• Pelo menos uma unidade de paisagem produtiva em cada bioma para a conservação e uso
sustentável integrados de componentes da biodiversidade implementada nas áreas prioritárias do
PROBIO no sexto ano do Projeto.
Três resultados intermediários são esperados do Projeto, e estes devem contribuir para o
alcance do objetivo de desenvolvimento do mesmo. Estes resultados estão relacionados com os
três componentes técnicos do Projeto e são:
2
Extraído do Project Appraisal Document – PAD, original em Inglês.
3
A Lista 1 apresenta um levantamento dos programas do Plano Plurianual do governo federal com potencial
transversalidade com a biodiversidade.
6
• Rede das principais instituições brasileiras que trabalham com temas relacionados com
biodiversidade consolidada e coordenada e produzindo informação relevante para o
desenvolvimento e implementação de políticas de transversalidade da biodiversidade.
Inicialmente, o Projeto está trabalhando com ministérios, ONGs e outras instituições, cobrindo
os setores da agricultura, saúde, ciência e tecnologia, meio ambiente, florestas, recursos
pesqueiros e recursos hídricos. Uma vez que os subprojetos desenvolvidos no Componente 2
estiverem selecionados, esta lista poderá ser expandida. É esperado que as instituições que
representam os setores de transportes, minas e energia tornem-se parceiros do Projeto durante a
implementação do mesmo. O principal critério para a seleção de subprojetos será o impacto da
atividade proposta na biodiversidade e os indicadores dos subprojetos deverão refletir este
enfoque.
O Objetivo Ambiental Global do Projeto é que, caso este Projeto tenha sucesso, ele irá
contribuir para a redução da atual taxa de perda de biodiversidade, como uma contribuição do
Brasil para o atendimento dos objetivos e metas de 2010 da CDB. Veja Anexo 3 do “Project
Appraisal Document” – PAD para mais informações sobre os objetivos, indicadores e planos de
monitoramento do Projeto.
O Projeto proposto tem quarto componentes, descritos abaixo. Detalhes adicionais sobre os
componentes, incluindo exemplos de atividades elegíveis para financiamento em cada
componente e por fonte de financiamento, podem ser encontrados nos Anexos 4 e 5 do “Project
Appraisal Document” – PAD.
7
interessados relevantes – o único meio de fazer diferença na escala em que este Projeto estará
trabalhando.
Esta idéia será testada em campo por meio de projetos-piloto. Pelo menos um Projeto-piloto
será estabelecido em cada bioma. O Projeto irá apoiar a elaboração de planos setoriais
(agricultura, energia, saúde, etc.) incorporando o manejo da biodiversidade. Ele irá perseguir
estratégias para incorporar o objetivo de conservação e uso sustentável da biodiversidade em
políticas, programas, projetos e planos de desenvolvimento entre diferentes setores e níveis de
governo. Este componente irá trabalhar com os setores de saúde, agricultura, bem como com
setores que utilizam ou que têm grande impacto sobre a biodiversidade. Os setores adicionais a
serem incorporados ao Projeto serão selecionados baseando-se em análises sobre o atual e o
potencial impacto sobre a biodiversidade, potencial de transversalidade da conservação da
biodiversidade, disponibilidade de recursos financeiros e compromisso com o Projeto.
Uma estratégia de priorização de biodiversidade foi desenvolvida pelo Funbio com base em
análises sócio-econômicas e ambientais do território, com ênfase na identificação e qualificação
das atividades produtivas e suas relações com a biodiversidade regional e fontes de recursos
naturais. Adicionalmente, é dada atenção à identificação de setores econômicos líderes, agentes,
agregação de valor a cadeias produtivas, aglomerações, arranjos produtivos ou produtos que
possam atender ao propósito de “direcionar” e “liderar” o processo de priorização da
biodiversidade na região. Como parte desta estratégia estão prestes a ser inaugurados alguns
subprojetos originários de propostas já recebidas por outro edital do Funbio, enquanto que este
Projeto irá induzir a seleção de novos subprojetos. Estes subprojetos visam verificar as
possibilidades de sucesso da estratégia acima por meio de chamadas de propostas de consórcios
de agências ambientais, de desenvolvimento e de investimento para que o apoio aos subprojetos-
piloto selecionados com objetivos, estrutura conceitual, metodologias, planos de trabalhos,
arranjos e instrumentos institucionais e financeiros, bem como o planejamento conceitual de todo
o território possa ser posto em prática, ser testado e avaliado. Os subprojetos irão variar entre
centenas a milhares de quilômetros quadrados, com valores entre US$ 2 e US$ 3 milhões cada, e
serão desenvolvidos de forma coordenada e com a participação de setores públicos relevantes.
Finalmente, este componente procurará promover estratégias e políticas do setor privado que
suportem a conservação da biodiversidade. Isto será alcançado por meio de trabalho junto a
grupos produtivos, associações, cooperativas, câmaras de comércio e grandes firmas e em
coordenação com as iniciativas existentes e com objetivos similares. Este foco em políticas e
estratégias permitirá que este componente tenha um impacto mais amplo do que projetos individuais
8
poderiam ter. As iniciativas implementadas neste componente serão apoiadas por uma Base de
Conhecimento a ser criada para promover a transversalidade em paisagens regionais e em setores
produtivos privados. Essa Base avaliará o potencial de transversalidade da biodiversidade em paisagens
por meio da análise da importância da biodiversidade e das estruturas produtivas locais, bem como
estimular os incentivos econômicos para promover a transversalidade no setor privado e mobilizar e
disseminar inovações tecnológicas e as melhores práticas. Este componente será implementado por
meio de três subcomponentes: i) Subprojetos territoriais de transversalidade; ii) Melhores práticas e
inovações de produção e de gerenciamento; e iii) Coordenação e gerenciamento do Fundo de
Oportunidades. Essas atividades serão realizadas em coordenação e com a participação das agências
públicas relevantes.
Uma das tarefas primárias será estabelecer um Instituto Virtual Brasileiro de Biodiversidade.
Mais do que uma nova instituição, o Instituto servirá como um “centro de informações”
permitindo às instituições participantes partilhar informações, colaborar nos trabalhos e criar
sinergias. Este Instituto mobilizará capacidades entre as várias organizações envolvidas na
conservação, uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade, e facilitará a
implementação das políticas e ações. É esperado que o Instituto desempenhe um considerável
papel em apoiar a consolidação do complexo e diverso setor de biodiversidade no Brasil.
Também se espera que o Instituto se torne auto-suficiente ao juntar as capacidades das entidades
participantes para prover serviços relacionados à biodiversidade para projetos e programas que
estejam sendo implementados por outros setores no Brasil. O Projeto suportará também a criação
do Centro Brasileiro para Monitoramento e Prognósticos da Biodiversidade. O Centro, que fará
parte da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, fornecerá as informações sobre o
monitoramento e os prognósticos voltados para as iniciativas governamentais de conservação da
biodiversidade, e será usado, em parte, para gerar os dados de monitoramento da biodiversidade
em nível nacional. Fornecerá também informações para o Instituto Virtual Brasileiro de
Biodiversidade.
9
ameaçada, restauração da diversidade genética e das variedades locais e a conservação e a
restauração de ecossistemas raros e/ou ameaçados.
Uma atenção especial será dada na capacitação dentro das instituições que ainda não tenham
previamente trabalhado com o tema biodiversidade, de modo a criar as bases para apoiar as
atividades de transversalidade.
10
subcomponentes: i) Administração, monitoramento e avaliação do Projeto, e ii) Estratégias de
disseminação e de comunicação.
O processo de avaliação deste Projeto foi realizado para verificar os potenciais impactos
sociais e ambientais do Projeto, tendo resultado em uma Avaliação Social e uma Avaliação
Ambiental que é acompanhada do Anexo 1_ Potenciais Impactos Ambientais e Planos de
Mitigação, do Anexo 2_Plano de Manejo de Pragas e do Anexo 3_Marco de Filtragem
Ambiental, que consiste em um roteiro para a futura avaliação dos impactos de subprojetos com
detalhes específicos a serem definidos.
11
2. AVALIAÇÃO SOCIAL
Além da mudança na forma como a biodiversidade é tratada no Brasil, com impactos positivos
sobre a qualidade de vida da sociedade, espera-se também a implementação de políticas para a
repartição eqüitativa dos benefícios do uso dos componentes da biodiversidade. Este é o aspecto
do escopo da CDB menos desenvolvido nas experiências em curso em âmbito nacional e
internacional.
Manutenção dos bens e serviços oriundos da diversidade biológica para apoiar o bem-estar
humano
Objetivo 8. Manter a capacidade de ecossistemas de fornecer bens e serviços e apoiar modos de
vida
Meta 8.1: Capacidade de ecossistemas de fornecer bens e serviços mantida
Meta 8.2: Manutenção dos recursos biológicos que ancoram modos de vidas sustentáveis,
segurança alimentar local e cuidados com a saúde, especialmente para populações carentes
4
A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB é um dos principais resultados da Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – CNUMAD (Rio 92), realizada no Rio de Janeiro, em junho de
1992. É uma das mais importantes convenções ambientais e funciona como um guarda-chuva legal/político para
diversas convenções e acordos ambientais mais específicos. A CDB é o principal fórum mundial na definição do
marco legal e político para temas e questões relacionadas à biodiversidade. 168 países assinaram a CDB e 188 países
já a ratificaram, tendo estes últimos se tornado parte da Convenção.
5
Acordou-se em 2002, durante a 6ª Conferência das Partes da CDB (COP 6) em “atingir até 2010 uma significativa
redução na atual taxa de perda de biodiversidade na escala global, regional e nacional, como uma contribuição para a
diminuição da pobreza e para o benefício de toda vida na Terra”. Tal decisão foi referendada na Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), em Johanesburgo. (ver http://2010.biodiv.org/2010/target.shtml)
12
Proteção dos conhecimentos, inovações e práticas tradicionais
Objetivo 9. Manter a diversidade sócio-cultural de povos indígenas e comunidades locais
Meta 9.1: Proteger conhecimentos, inovações e práticas tradicionais
Meta 9.2: Proteger os direitos dos povos indígenas e comunidades locais sobre seus
conhecimentos, inovações e práticas tradicionais, incluindo seus direitos à repartição de
benefícios
Garantia da repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos do uso dos recursos genéticos
Objetivo 10. Garantir a repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos do uso dos recursos
genéticos
Meta 10.1: Todas as transferências de recursos genéticos estarem de acordo com a CDB, com o
Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos de Plantas para a Alimentação e Agricultura e
outros acordos Internacionais
Meta 10.2: Os benefícios oriundos do comércio ou de outras utilizações de recursos genéticos
repartidos com os países provedores dos recursos
13
direto são mais caras do que as usadas no plantio convencional, o que limita sua
utilização a produtores mais tecnificados e capitalizados. Neste caso, a promoção do
associativismo entre os produtores poderia diminuir este impacto.
• Atraso na saída de meios de transporte devido à implementação do “Plano Executivo
dos Modelos de atuação da Vigilância Ambiental em Saúde de: água, solo,
contaminantes ambientais e substâncias químicas, desastres naturais e acidentes com
produtos perigosos incluindo a variável de biodiversidade”, demandando treinamento
dos fiscais para evitar as demoras de vistorias. Assim, planejamento prévio para agilizar
coleta de amostras em meios de transporte, com equipe exclusiva capacitada para este
fim evitaria estes transtornos.
14
3. ANÁLISE SOCIAL
Como esse projeto é de caráter nacional, e sem definição geográfica para a maioria das
atividades, a análise social tem um âmbito nacional, enfocando-se nos principais grupos ativos
ligados aos temas incluídos no projeto ou por estes impactados. Ressalte-se que as atividades
previstas pelos parceiros no escopo do Projeto não possuem potencial impacto sobre povos
indígenas nem promovem reassentamento involuntário, não tendo sido acionadas tais políticas de
salvaguardas. Embora não tenha ativado as políticas de salvaguarda sociais do Banco Mundial, o
documento também apresenta um plano para mitigar possíveis impactos negativos como medida
de melhorar e fortalecer o projeto.
3.1. Caracterização
O Brasil obtém cerca de 60% de seu suprimento de energia a partir de fontes renováveis, como
hidrelétricas e etanol. Também cerca de 64% do petróleo que consome são produzidos
internamente. O Brasil é o maior exportador de ferro, assim como um dos maiores exportadores
de aço do mundo. Outros insumos produzidos no Brasil incluem petroquímicos, alumínio, metais
não-ferrosos, fertilizantes e cimento. Importantes produtos manufaturados incluem veículos,
aeronaves, equipamentos elétricos e eletrônicos, têxteis, artigos de vestuário e calçados. Os
Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Suíça, Japão, Reino Unido, França, Argentina, México e
Canadá são os maiores parceiros comerciais do Brasil.
Ao entrar na última década do século XX, o Brasil já estava entre as 10 maiores economias do
mundo. As exportações representam 10% de seu PIB; a indústria soma cerca de 34%, um padrão
encontrado em alguns países desenvolvidos. Em 1999, a força de trabalho estimada no Brasil foi
de 70 milhões de pessoas. O setor de serviços responde por 39% da força de trabalho, a
15
agricultura por 5,4% e a indústria por 24%. O comércio emprega 19,4% da força de trabalho do
país, enquanto a construção civil absorve cerca de 6% desse total6.
Delimita-se basicamente três origens para a formação do povo brasileiro. Aos habitantes
originais (indígenas) foram somadas sucessivas ondas de europeus (principalmente portugueses)
e africanos (a maioria da costa oeste, ao sul do Saara).
No século XVI, a área que hoje é o Brasil foi habitada por centenas de tribos indígenas de etnias
diversas, que falavam línguas diferentes e com culturas distintas. Grupos de língua Tupi-
Guarani, que viviam na região costeira e arredores, em muitas situações estabeleceram
casamentos com os colonizadores portugueses. Por outro lado, muitas tribos que falavam outras
línguas (Gê, Aruaq e Karib) e viviam no interior demoraram a estabelecer contato com os
"estrangeiros". Atualmente, chega a 200 o número etnias, e a 180 a quantidade de línguas faladas
no Brasil.
Atualmente, os povos indígenas do Brasil vivem num total de 850.000 km2, equivalentes a 12%
do território brasileiro, terras reservadas à população indígena pelo Governo Federal. Nessas
áreas estão aptos a preservar seu estilo de vida.
Em meados do século XVI, africanos pertencentes ao grupo étnico Bantu e sudaneses da Nação
Yoruba (o que é hoje a Nigéria e o Benin) foram trazidos para o Brasil para trabalhar como
escravos na indústria da cana-de-açúcar e, mais tarde, nas minas de ouro e diamantes e nas
plantações de café. O processo de integração iniciado entre europeus e índios rapidamente
englobou os escravos negros.
A mistura étnica ocorreu desde o descobrimento do Brasil, no final do século XV, recebendo um
número cada vez maior de imigrantes do mundo inteiro. Portugal permaneceu a mais importante
fonte de imigração para o Brasil, seguido da Itália e do Líbano. Na primeira metade do século
XX, como conseqüência da Segunda Guerra Mundial e pressão econômica, considerável
contingente de imigrantes veio do Japão e, pela boa receptividade social, estabeleceu-se uma
tendência à imigração japonesa. Por volta de 1969, 274.312 japoneses haviam vindo para o
Brasil. Hoje, vive no Brasil o maior contingente de descendentes de japoneses que se encontra
fora do Japão.
Com cerca de 180 milhões de habitantes, o Brasil é o sexto país mais populoso do mundo, atrás
apenas de China, Índia, EUA, Indonésia e Rússia. Sua taxa média de ocupação é de 19,2
habitantes por km², porém a distribuição não é regular. A grande maioria se concentra na faixa
litorânea, a até 100 km da costa. Certas regiões do interior apresentam taxas com menos de 1
habitante por km². Projetos políticos tentam mudar este quadro criando novos centros
populacionais, como a Zona Franca de Manaus e o estado do Tocantins, fomentando a
6
Fonte: Site da Embaixada do Brasil em Ottawa, disponível em, acessado em 21/06/2006
http://www.brasembottawa.org/prt/brasil_en_resumo/economia.html
7
Fonte: Site da Embaixada do Brasil em Ottawa, disponível em
http://www.brasembottawa.org/prt/brasil_en_resumo/populacao.html, acessado em 21/06/2006
16
construção de rodovias, como a Transamazônica, unindo áreas afastadas, gerando impactos
sociais e ambientais significativos.
Os grupos sociais a serem envolvidos no Projeto estão preferencialmente ligados aos setores
produtivos, tanto industrial quanto agropecuário, comunidades tradicionais, populações rurais e
urbanas e um contingente significativo de agentes públicos nas três esferas de governo, incluindo
diversos pesquisadores. A dimensão da iniciativa, entretanto, não permite a projeção do
completo alcance desses grupos pelas atividades do Projeto, sendo previsível sua inclusão apenas
por amostras representativas nas diferentes atividades e subprojetos.
O Brasil contemporâneo foi configurado ao longo da história por diferentes fases de exploração
de seus recursos naturais pela sociedade. O país se fez a partir da extração de espécies como o
pau-brasil (Caesalpinia echinata) e a borracha da seringueira (Hevea brasiliensis), ou da
exploração mais recentemente intensa do mogno (Swietenia macrophylla). Sua elite enriqueceu
também às custas da extração do ouro, da prata e de minérios de classe internacional cada vez
mais prospectados. A exploração social, de indígenas nativos e escravos trazidos da África
também contribuiu para a formação do país. A nação também se construiu pela ocupação do solo
por lavouras exóticas como a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), do sudeste asiático, o
café, (Coffea arabica), da África, a soja (Glycine max) e a laranja (Citrus sinensis), da China,
monoculturas que, apesar de ocuparem grandes extensões contínuas de terra e serem
responsáveis por parcela significativa do PIB nacional, não podem ser comparadas à diversidade
do patrimônio genético existente no território brasileiro. Este patrimônio genético é explorado de
forma cada vez mais ampla, consubstanciando-se em produtos de alto valor agregado,
especialmente em princípios ativos, como os utilizados em indústrias farmacêuticas, cosméticas,
de alimentos e bebidas.
17
A perspectiva de utilização sustentável dos recursos genéticos disponíveis no país é bastante
promissora. O terceiro Relatório Nacional sobre a implementação da Convenção da Diversidade
Biológica aponta as dificuldades que o país vem enfrentando no processo de adaptação aos
princípios da convenção. Dentre as dificuldades, o relatório do governo federal destaca: falta de
vontade política para implementação da CDB; participação pública e envolvimento de atores
sociais limitados; tratamento transversal da biodiversidade por outros setores da sociedade
limitado; falta de medidas preventivas e pró-ativas, causando políticas reativas; instituições
enfraquecidas causam a falta de capacidade de agir; falta de recursos humanos; falta de
transferência de tecnologia e expertise; falta de capacidades em pesquisa científica adequadas
para apoiar todos os objetivos; falta de conhecimento e de documentação acerca da perda da
biodiversidade e dos bens e serviços providos por ela; conhecimentos científicos e tradicionais
não são completamente utilizados; disseminação de informação nos níveis nacional e
internacional não é suficiente; falta de educação e conscientização pública em todos os níveis;
falta de recursos financeiros; falta de sinergias nos níveis nacional e internacional; falta de
cooperação horizontal entre atores sociais; falta de parcerias efetivas; falta de engajamento da
comunidade científica; falta de políticas e leis apropriadas; falta de capacidades por parte das
comunidades locais.
A despeito dos impactos promovidos pelas populações tradicionais nos ambientes naturais, sua
importância para a conservação da biodiversidade continua inegável. Prova de que seu modo de
vida é menos impactante do que o modo urbano é o fato de que as próprias comunidades
tradicionais correm risco de extinção, sofrendo constante pressão para transformar seus hábitos
de consumo e modo de vida em geral. Esta pressão se manifesta seja para tornar essas
populações fornecedoras de recursos naturais numa escala que demanda práticas predatórias,
geralmente ilegais, como alternativa para a obtenção de renda - e porque existe um mercado que
acolhe e promove essas práticas -, seja forçando sua mudança para as periferias das cidades em
busca de emprego (para a mesma necessidade de renda), perdendo totalmente aquelas
características singulares e abrindo espaço para que as terras que ocupam sejam tomadas pelo
modelo predatório.
O que se pode observar com apoio da tecnologia das imagens de satélite é que, onde as práticas
das populações tradicionais mantém-se conforme critérios que as identificam enquanto tais –
com uma identidade, uma memória, uma história partilhada e um território - é notável como sua
relação com o meio ambiente causa impactos pouco representativos. Há extensa literatura no
campo da antropologia e da ecologia social que atesta a contribuição dessas populações para a
existência da diversidade das paisagens e, por conseguinte, da biodiversidade.
8
Fonte: UNESP/ Dr. José Goldemberg - Secretário do Meio Ambiente (Projeto de Preservação da Mata Atlântica
no Estado de São Paulo), disponível em
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html&conteudo=./snuc/artigos/popuimpacto.ht
ml, acessado em 14/3/2006. e ESTERCI, Neide, in Almanaque Brasil Socioambiental, São Paulo: ISA, 2004, pp.
178-182.
18
QUADRO 1: Populações tradicionais
Praieiros - Moradores da faixa litorânea compreendida entre o Piauí e o Amapá, também são
chamados de pescadores artesanais, mas possuem características socioculturais que os
diferenciam de outras comunidades, como caiçaras ou jangadeiros. Dependem da pesca, mas
complementam a renda com trabalhos agrícolas, extrativismo e turismo.
Babaçueiros - Populações extrativistas que vivem da coleta do babaçu e da utilização dessa
palmeira. Encontram-se espalhados por uma área de cerca de 200 mil quilômetros quadrados,
basicamente entre os estados do Piauí e do Maranhão.
Sertanejos ou vaqueiros - Ocupam a orla descontínua do Agreste, avançando até as caatingas
e atingindo o cerrado. Desenvolvem uma economia pastoril, associada à produção açucareira,
voltada ao fornecimento de carne, couro e bois de serviço.
Jangadeiros - São os pescadores que habitam a faixa costeira situada entre o sul da Bahia e o
Ceará. Recebem esse nome por utilizar a jangada para desenvolver sua atividade no mar.
Pescadores artesanais - Estão espalhados pelo litoral do país e dependem basicamente da
pesca, ainda que exerçam outras atividades econômicas, como o extrativismo vegetal, o
artesanato e a pequena agricultura.
Caiçaras - Comunidades formadas pela mescla etno-cultural de indígenas, colonizadores
portugueses e, em menor grau, escravos africanos. Sua forma de vida baseia-se na agricultura
itinerante, na pequena pesca, no extrativismo vegetal e no artesanato. Ocupam o litoral norte
catarinense e a costa de Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Açorianos - Descendentes de imigrantes portugueses provenientes principalmente das ilhas
dos Açores e da Madeira. Vivem da pesca e da agricultura no litoral do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina.
Campeiros - População de gaúchos descendentes dos índios guaranis e dos colonizadores
portugueses e espanhóis. Vivem nos pampas e nas coxilhas do Rio Grande do Sul,
desenvolvendo a pecuária extensiva.
Caipiras ou sitiantes - São as comunidades, em grande parte de meeiros e parceiros, que
sobrevivem em nichos entre as monoculturas do sudeste e do centro-oeste, desenvolvendo
atividades agropecuárias em pequenas propriedades, destinadas à subsistência familiar e ao
mercado.
Varjeiros ou ribeirinhos não-amazônicos - Denominação de populações que vivem às
margens de rios e várzeas, sobretudo do São Francisco, mas que se aplica também a ribeirinhos
de outros rios, como o Paraná. Além da pesca, pecuária e artesanato em cerâmica, combinam
atividades agrícolas, principalmente o plantio do arroz, com extrativismo da mata - de onde
retiram mel, ervas medicinais e madeira para fabricação das embarcações.
Quilombolas - Descendentes de escravos negros que sobrevivem em enclaves comunitários,
muitas vezes antigas fazendas deixadas por outros proprietários. Desenvolvem atividades
vinculadas à pequena agricultura, artesanato, extrativismo e pesca, que variam de acordo com a
região em que estão situados.
Pantaneiros - Habitantes do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul cuja subsistência se baseia
em atividades agropastoris em fazendas ou pequenas propriedades à beira dos rios.
19
3.1.4.2. Povos indígenas9 e 10
O estudo desenvolveu um modelo que permite visualizar qual seria o desmatamento esperado
dentro dos territórios indígenas caso eles mantivessem o mesmo padrão de desenvolvimento da
região. A diferença entre o cenário com e sem Terras Indígenas gera um saldo positivo de 3,5
milhões de hectares de florestas protegidas. Os padrões do estudo consideram os elementos que
mais contribuem para o desmatamento tais como: presença de estrada asfaltada e de terra, acesso
fluvial, densidade populacional e desmatamento consolidado.
A proteção da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais existentes nas Terras
Indígenas têm importância estratégica para os projetos de futuro dos Povos Indígenas no Brasil.
Embora frágeis e pouco expressivos, os programas governamentais vêm incorporando em suas
linhas de atuação temas que incluem a interface entre os direitos indígenas e as políticas
ambientais, mesmo porque, segundo a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, 85% das terras
indígenas sofrem algum tipo de interferência pelas mãos de terceiros e apresentam níveis
consideráveis de degradação em função da exploração ilegal de recursos naturais nessas áreas e
implementação de empreendimentos sem qualquer planejamento ambiental em seu entorno.
Estudos sobre o impacto de povos indígenas sobre a biodiversidade têm mostrado que, quando
ocorrem, são causados por indígenas e não-indígenas, com anuência de indígenas, em suas áreas
protegidas, incluindo caça e/ou pesca não-sustentável e corte de madeira-de-lei.
Cerca de 0,2% da população brasileira é indígena, sendo que a maioria das etnias (147 de um
total aproximado de 216) não se compõe por mais de mil indivíduos. A partir dos anos 70 nota-se
um crescimento da população indígena ao mesmo tempo em que outras estão ameaçadas de
extinção. As informações que existem sobre os índios no Brasil ainda estão relativamente
dispersas e são insuficientes para dar conta da sócio-diversidade já estimada. A Fundação
9
Fonte: UNESP/ Dr. José Goldemberg - Secretário do Meio Ambiente (Projeto de Preservação da Mata Atlântica
no Estado de São Paulo), disponível em
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html&conteudo=./snuc/artigos/popuimpacto.ht
ml, acessado em 14/3/2006 e RICARDO, Beto, in Almanaque Brasil Socioambiental, São Paulo: ISA, 2004, pp.
183-185.
10
Nota: A análise feita durante a preparação do projeto verificou que o projeto não terá nenhum impacto sobre os
povos indígenas no Brasil, muito embora, sua descrição tenha sido feita no documento para prover um perfil
completo da sociedade brasileira.
20
Nacional do Índio atesta que ainda existem no país em torno de 30 povos que se mantêm
isolados - ou voluntariamente arredios - ao contato com a sociedade nacional. A falta de
informação segura e as dificuldades inerentes aos estudos dessa natureza (sabe-se que hoje, no
Brasil, fala-se em torno de 180 línguas diferentes) podem explicar a responsabilização que recai
sobre os índios no que diz respeito aos impactos negativos que exercem sobre a fauna e a flora
devido seus hábitos e tradições. Destaca-se, neste contexto, que, se por um lado a Amazônia é
responsável por abrigar 20% das etnias que são autorizadas a usufruir legalmente de 12% do
território brasileiro, nas regiões sul, nordeste, sudeste e leste uma expressiva parcela da
população indígena vive confinada em micro territórios, em situação de pobreza e sem
alternativas promissoras de superação de problemas de saúde relacionados a alcoolismo e
subnutrição, justamente porque as fontes naturais de alimentação das quais dependiam foram
eliminadas pela população majoritária não-indígena.
3.1.4.3. Empresas
A adesão à causa da biodiversidade pelo empresariado tem como objetivo, por exemplo, lidar
com os seguintes riscos emergentes:
21
• Boicote por parte dos consumidores e anti-campanhas promovidas por Ongs
ambientalistas;
• Multas, sinistros por danos ambientais a terceiros e futuras responsabilidades
ambientais;
• Baixo desempenho e valor nos mercados financeiros; e
• Baixa moral de seus colaboradores e redução de sua produtividade.
Razões particulares a cada setor também motivam a atenção das empresas ao uso sustentável
da biodiversidade. Para a indústria florestal, que depende de recursos renováveis, a questão
centra-se na gestão ou manejo florestal sustentável, ou seja, no reflorestamento, na conservação
dos habitats originais, no manejo da erosão genética, e na gestão total de um ciclo natural
sustentável.
De modo geral, pode-se dizer que o governo federal vem empreendendo diversos esforços para
fazer as empresas perceberem seu papel na conservação da biodiversidade O relatório do
encontro Empresas e as Metas de 2010 – Desafios da Biodiversidade12, realizado em Londres em
11
As Empresas & a Biodiversidade – Um manual de orientação para ações corporativas, Copyright © 2002,
Earthwatch Institute (Europe), International Union for conservation of Nature and Natural Resources, World
Business Council for Sustainable Development., disponível em
http://biodiversityeconomics.org/document.rm?id=744, acessado em 14/3/2006.
12
O encontro foi organizado pelo Secretariado da Convenção da Diversidade Biológica, pelo Ministério da
Agricultura do Reino Unido (Department for Environment, Food and Rural Affairs), pelo Ministério do Meio
Ambiente do Brasil, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e por outros parceiros. Seu
22
janeiro de 2005, indica a necessidade de inclusão das seguintes empresas ou grupos no debate
sobre negócios e biodiversidade:
O Estado possui um papel insubstituível na conservação dos bens de interesse público que
compõem os recursos naturais de uma nação. Sua legitimidade para intervir nos processos
socioeconômicos e políticos em curso, sua capacidade de articulação, validação e fiscalização de
tarefas relacionadas à questão ambiental, além do poder de compra inerente ao Estado, faz do
setor governamental um importante instrumento para a promoção do desenvolvimento
sustentável.
(a) investir em ciência e tecnologia voltada para ampliar a base de conhecimentos sobre os
recursos genéticos e biológicos e sobre suas possibilidades de aproveitamento econômico e
social;
(b) investir em melhorias na qualidade de vida das populações locais e povos indígenas,
tornando-as parceiras da proteção e valorização dos recursos naturais que as cercam; e
objetivo foi desenvolver idéias que possam facilitar a implementação da CDB ou apoiar o cumprimento de seus
objetivos, através do envolvimento da biodiversidade na agenda das empresas, bem como estimular o alcance das
metas de 2010 quanto à redução da perda de biodiversidade. Relatório disponível em
http://biodiv.org/doc/meetings/biodiv/b2010-02/official/b2010-02-03-en.pdf, acessado em 14/3/2006.
23
(c) reconhecer a importância e oferecer condições para que esses conhecimentos “tradicionais”
sejam não apenas protegidos, mas para que também continuem a ser gerados e multiplicados13;
(d) promover o uso sustentável da biodiversidade nativa como forma preferencial ao uso dos
recursos genéticos exóticos.
Nos últimos anos, entretanto, algumas iniciativas governamentais tentam agregar critérios e
atributos ambientais, além dos critérios de preço e técnica, aos procedimentos de contratação e
aquisição de produtos e serviços pelo poder público, como instrumento de política com a
finalidade favorecer a melhoria da qualidade ambiental, a conservação de recursos naturais e
induzir mudanças nos sistemas de produção e consumo de produtos e serviços.
Atualmente, o governo federal possui 237 mil fornecedores de bens e serviços cadastrados no
Siasg, todos sujeitos aos critérios estipulados pelo governo (cf. Tabela 1). Com a inclusão de
critérios socioambientais nos processos licitatórios, o governo federal poderia facilmente
promover o desenvolvimento social e ambientalmente sustentável; estimular a inclusão social e o
desenvolvimento local e regional; induzir o desenvolvimento de inovações tecnológicas
ambientalmente amigáveis; re-orientar processos e cadeias produtivas, valorizando os segmentos
que incorporem tecnologias e conhecimentos seguros.
13
Extraído do documento “Interesse global no saber local: geopolítica da biodiversidade”, de Sarita Albagli,
disponível em http://www.museu-goeldi.br/NPI/docs/resumos/Palestra%20Sarita.PDF, acessado em 27/03/2006.
24
A sensibilização ambiental do poder público tem um expressivo potencial impacto positivo na
orientação de hábitos e costumes sociais que efetivamente reduzam a pressão sobre os recursos
naturais.
A emergência do Terceiro Setor no Brasil é um fenômeno das últimas três décadas. Estima-se
que existam cerca de 120 mil instituições no setor, empregando aproximadamente 1,5 milhão de
pessoas em todo o país, trabalhando em causas de interesse público, como: assistência social,
educação, saúde, esportes e lazer, meio ambiente, geração de emprego e renda, artes e cultura,
ciência e tecnologia, comunicação, segurança pública, etc.
Neste contexto, a solidariedade, sempre presente nas relações interpessoais, nas redes de
vizinhança e ajuda mútua, inspirando a ação de movimentos voltados para a melhoria da vida
comunitária, defesa de direitos e luta pela democracia. É deste encontro da solidariedade com a
cidadania que vão surgir e se multiplicar as organizações não-governamentais de caráter público.
Atualmente o fórum conta com os seguintes grupos de trabalho (GTs): GT Agenda 21, GT
Água, GT Comércio e Meio Ambiente, GT Energia, GT Florestas, GT Mudanças Climáticas, GT
Sociobiodiversidade, GT Turismo Sustentável, GT Direito Ambiental, GT Juventude e GT
Educação Ambiental - estes últimos criados no XVIII Encontro Nacional do FBOMS, em
dezembro de 2004. Em 2005 foi criado o GT Químicos, resultado de uma articulação com a rede
Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA).
25
Quadro 2: Propostas do Fórum Brasileiro de Organizações Não-governamentais e
Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS)14
14
Disponível em http://www.fboms.org.br/doc/publ/revista_FBOMS2002.pdf, acessado em 16/3/2006.
26
(cont. quadro 2: Propostas do FBOMS)
F. Transferência de tecnologia – O Brasil deverá ter uma firme posição que garanta a
transferência de tecnologia dos países mais ricos aos que estão em desenvolvimento, sendo que
deverão ser contempladas as prioridades destes últimos e não deverá ser aceita a imposição do
tipo ou natureza da tecnologia a ser transferida. A biodiversidade não pode ser considerada como
uma moeda de troca, compensando falta de interesse ou recurso dos governos para investir em
ciência e em tecnologia.
G. Política Nacional de Biodiversidade – A Política Nacional de Biodiversidade, em fase final
de elaboração, deve ser orientadora das ações de conservação e uso da biodiversidade para os
diversos setores que atuam em áreas com interfaces com a questão ambiental. Recursos
orçamentários devem ser garantidos para sua implementação equilibrada.
H. Participação social – Somente o envolvimento e a participação da sociedade podem
assegurar a implementação da Convenção ou de qualquer outra política pública. Assim, é
essencial, como parte desse processo, que as posições brasileiras nas reuniões da CDB sejam
debatidas, divulgadas e explicadas para a sociedade, e que as diversas instâncias de
implementação interna da CDB sejam transparentes e participativas.
I. Relação da CDB com outros acordos internacionais – A Convenção tem perdido força, ao
longo desses 10 anos, frente a outros acordos internacionais e, principalmente, no âmbito das
negociações da Organização Mundial do Comércio - OMC. É importante buscar contrabalançar
tal situação, ampliando o diálogo entre os diversos acordos internacionais e procurando
estabelecer instrumentos que fortaleçam a CBD.
J. Valores e princípios de sustentabilidade subjacentes à conservação e uso da
biodiversidade – Os princípios da Agenda 21 de participação democrática, transparência e
prestação de contas à sociedade devem ser aplicados também com relação à implementação da
CDB. O princípio da precaução deve ser sempre lembrado e utilizado quando necessário e ainda,
o uso e conservação da biodiversidade inclui aspectos imateriais que não podem ser
monetarizados.
O setor acadêmico brasileiro apresenta forte relação com a biodiversidade. Não apenas as
ciências biológicas, mas as humanas e as exatas também absorvem conhecimento das pesquisas
de campo sobre os componentes da diversidade socioambiental. É justamente através do
conhecimento adquirido nessas pesquisas que o setor contribui para a conservação da
biodiversidade e colabora com o desenvolvimento sustentável do país, demonstrando a
viabilidade da utilização prática da megadiversidade nacional.
Entre os movimentos mais recentes do setor acadêmico brasileiro, pode-se destacar o aumento
do número de pesquisas relacionadas à biotecnologia, tanto no âmbito da iniciativa privada
quanto por estímulo dos governos federal e estaduais.
A maioria das ações empreendidas atualmente no país é apoiada pelo Programa Biotecnologia,
iniciativa do governo federal, executada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, com o objetivo
de promover o desenvolvimento da biotecnologia no país (cf. Quadro 3). Sua ação vem
envolvendo todos os segmentos da biotecnologia em todas as regiões do país, no sentido de
apoiar projetos e atividades voltados ao uso sustentável da biodiversidade, que visam o
aproveitamento de oportunidades regionais e locais, de modo a diversificar/ampliar a base de
27
inovação, tornar a biotecnologia mais competitiva e/ou gerar produtos/processos/serviços de
modo sustentável, e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade brasileira.
1. Projeto Rede Genoma Nacional – tem como objetivo ampliar a competência, em âmbito
nacional, nas atividades de pesquisa genômicas. Envolve 25 laboratórios de biologia molecular,
distribuídos em todas as regiões geográficas do país, e conta com o apoio do Laboratório
Nacional de Computação Científica em Bioinformática – LNCC. O Projeto Rede Genoma
Nacional que já possibilitou o seqüenciamento dos genomas: i) bactéria Chromobacterium
violaceum – microrganismo de vida livre que apresenta características de interesse para as áreas
ambiental, industrial e de saúde humana. ii) Mycoplasma synoviae; iii) pesquisa de genomas
funcionais e comparativos de interesses diversos, destacando-se o estudo do genoma
comparativo entre as bactérias Mycoplasma synoviae e Mycoplasma hiopneumoniae.
2. Projetos em Rede dos Genomas Regionais – destinados a apoiar a implantação de redes
regionais para realizar estudos de genomas de organismos de interesse social, econômico e
regional. Atualmente, estão organizadas dez redes de pesquisa que estudam o genoma estrutural
e funcional de organismos de interesse das áreas de saúde e agricultura: Rede do Centro-Oeste,
Rede Genoma do Estado de Minas Gerais, Rede Genoma do Nordeste (ProGene), Programa de
Implantação do Instituto de Biologia Molecular do Paraná, Programa Genoma do Estado do
Paraná (GenoPar), Programa de Implantação da Rede Genoma do Estado do Rio de Janeiro
(RioGEne), Rede Genômica do Estado da Bahia, Rede Amazônia Legal de Pesquisas Genômicas
(REALGENE), Programa de Investigação de Genomas Sul (PIGS) e Rede Genoma do Mato
Grosso do Sul (ANAPLASMA).
3. Projeto Rede Nacional de Proteoma – Tem como finalidade fomentar as bases para o
desenvolvimento de uma rede nacional de laboratórios de pesquisa voltados para o estudo do
proteoma, focado na identificação de moléculas bioativas e marcadores biológicos que possam
ser utilizados para a produção de novas drogas terapêuticas ou novos instrumentos de
diagnóstico clínico. A potencialidade de nossa biodiversidade pode ser abordada por estudos
proteômicos de secreções e venenos de nossa variada fauna, na busca de produtos naturais
bioativos com potencialidade em aplicações medicinais ou biotecnológicas. Estão sendo
implementadas as Redes Estaduais de Pesquisa em Proteoma em 12 Estados. Além disto, e já
foram realizados vários cursos de capacitação em técnicas avançadas em proteômica com a
finalidade de subsidiar o funcionamento das Redes Estaduais.
4. Centro Brasileiro – Argentino de Biotecnologia (CBAB) – cuja missão é promover a
integração para o desenvolvimento científico e tecnológico em atividades comuns aos dois
países. Desde a sua criação o CBAB já ministrou cerca de 100 cursos de curta duração em nível
de pós-graduação, além de organizar simpósios e workshops nos quais foram atendidos cerca de
3.000 brasileiros e argentinos, além de participantes de outros países latino-americanos.
5. Participação das atividades do Centro Internacional de Engenharia Genética e Biotecnologia
(ICGEB) – tem como objetivo fomentar projetos biotecnológicos e promover cursos de
treinamento de curta e longa duração e eventos destinados a fortalecer a base científica dos
países signatários. Entre os temas abordados, estão: dinâmica e evolução do genoma; avaliação
de risco de organismos transgênicos; e bioinformática aplicada a biotecnologia e biodiversidade.
Contratação de estudos em biotecnologia – com o objetivo de realizar o mapeamento das
potencialidades e obstáculos ao desenvolvimento da biotecnologia.
28
6. Apoio ao Projeto Sistema de Informação de Coleções de Interesse Biotecnológico (SICol) –
tem como objetivo disseminar informações sobre os Centros de Recursos Biológicos do Brasil e
estruturar um sistema de informação que sirva de elemento integrador às diversas e diferenciadas
coleções de interesse biotecnológico, econômico e de aplicações industriais. O principal
resultado é o desenvolvimento do Catálogo Virtual que no momento contempla dados das
seguintes coleções: Banco de Germoplasma de Bacillus spp. para controle biológico; Coleção de
Culturas de Bactérias Diazotróficas; Coleção Brasileira de Microrganismos do Ambiente e
Indústria; Coleção de Culturas de Fitopatógenos e Agentes de Controle Biológico de
Fitopatógenos; Coleção de Culturas de Fungos Entomopatogênicos; Coleção de Culturas de
Fitobactérias do Laboratório de Bacteriologia Vegetal; Coleção de Culturas Oswaldo Cruz do
Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde; Coleção de Culturas de Fungos do
Instituto Oswaldo Cruz e Coleção de Culturas do Gênero Bacillus e Gêneros Correlatos. O SICol
também mantém informações atualizadas sobre o número de espécimes (culturas) que cada
coleção mantém nesta base de dados (mais informações: www.sicol.cria.org.br); publicação do
documento “Sistema de Avaliação da Conformidade de Material Biológico”.
7. Acompanhamento e participação de atividades relacionadas à biossegurança de organismos
geneticamente modificados (OGMs). Biossegurança de organismos geneticamente modificados
(OGMs) – Participação nas decisões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio); colaboração efetiva na elaboração das proposições da delegação brasileira para a
regulamentação do Protocolo de Cartagena; apresentação de proposta ao GEF para a
coordenação do projeto “Building Capacity for Effective Participation in the Biosafety Clearing
House (BCH) of the Cartagena Protocol”; acompanhamento e sugestões na elaboração do Projeto
de Lei de Biossegurança, que tramitava no Congresso Nacional; apoio à Rede de Biossegurança
da Embrapa
Diversos outros ramos da ciência estão aprofundando cada vez mais os estudos em torno da
biodiversidade. Entre as ações das instituições de pesquisa, pode-se destacar ainda as seguintes
linhas de ação mais específicas:
Os projetos de pesquisa desenvolvidos no âmbito dos três grandes projetos supracitados são
realizados em unidades de conservação brasileiras. Entre eles, destacam-se os estudos no Parna
do Itatiaia (levantamento florístico, estudo anatômico e de biologia reprodutiva); na Rebio de
Poço das Antas (efeitos da fragmentação de habitats), biodiversidade e conhecimento tradicional
de comunidades rurais, na Rebio União (efeitos da fragmentação e dinâmica florestal), na
Barragem de Saracuruna (estudo florístico e anatômico) e na Reserva Biológica de Tinguá
(estudo florístico e do efeito de borda sobre a estrutura da comunidade de árvores). O Projeto
Revegetação atua na Reserva Biológica de Poços das Antas com a avaliação dos indicadores
ecológicos, edáficos e nos plantios com espécies arbóreas nativas (monitoramento da
regeneração natural). O Projeto Cisma realiza o desenvolvimento da Base Cartográfica
Georeferenciada do PMA (BaseGeo). Dentre os produtos gerados destacam-se inúmeras
publicações científicas e de divulgação nos mais diversos meios de comunicação. Além disso,
29
também é substancial a participação dos integrantes do Programa Mata Atlântica em vários
fóruns de discussão acerca de temas relacionados à Mata Atlântica.
O Museu Paraense Emílio Goeldi pode ser citado como outra instituição de referência dedicada
ao estudo da biodiversidade. As atividades realizadas no sentido da disseminação do
conhecimento incluem, por exemplo, o Treinamento Especial sobre Coleta e Identificação de
Plantas, com o objetivo de qualificar pessoal para realização de inventários biológicos, incluindo
profissionais de nível superior, técnicos e comunitários. Os alunos realizam coleta,
processamento e anotação de dados sobre plantas e o ambiente. Também recebem instruções
sobre como implantar parcelas permanentes de inventário e conhecem as formas de orientação
através de GPS e bússola. O módulo de identificação botânica engloba a caracterização
morfológica de raízes e tronco e a arquitetura das copas das árvores. Até técnicas de rapel são
passadas para os participantes, a fim de capacitá-los para coletar ramos, frutos e sementes nas
copas das árvores15.
15
Disponível em http://www.museu-goeldi.br/biodiversidade/not_0007_07.asp, acessado em 14/3/2006.
30
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA – é vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento e foi criada em 26 de abril de 1973. Sua missão é
viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do espaço rural, com foco no
agronegócio, por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em
benefício dos diversos segmentos da sociedade brasileira. A Embrapa atua por intermédio de 37
Centros de Pesquisa, três Serviços e 11 Unidades Centrais, estando presente em quase todos os
Estados da Federação, nas mais diferentes condições ecológicas. Para chegar a ser uma das
maiores instituições de pesquisa do mundo tropical, a Empresa investiu, sobretudo, no
treinamento de recursos humanos, possuindo, hoje, 8.619 empregados, dos quais 2.221 são
pesquisadores, 45% com mestrado e 53% com doutorado. Está sob a sua coordenação o Sistema
Nacional de Pesquisa Agropecuária-SNPA, constituído por instituições públicas federais,
estaduais, universidades, empresas privadas e fundações, que, de forma cooperada, executam
pesquisas nas diferentes áreas geográficas e campos do conhecimento científico.
4. AVALIAÇÃO AMBIENTAL
Além da mudança na forma como a biodiversidade é tratada no Brasil, espera-se que o Instituto
Virtual da Biodiversidade, um dos resultados do Projeto, perenize e multiplique a abordagem
ecológica territorializada, servindo como referência para outras iniciativas semelhantes de
16
A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB é um dos principais resultados da Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – CNUMAD (Rio 92), realizada no Rio de Janeiro, em junho de
1992. É uma das mais importantes convenções ambientais e funciona como um guarda-chuva legal/político para
diversas convenções e acordos ambientais mais específicos. A CDB é o principal fórum mundial na definição do
marco legal e político para temas e questões relacionadas à biodiversidade. 168 países assinaram a CDB e 188 países
já a ratificaram, tendo estes últimos se tornado parte da Convenção.
17
Acordou-se em 2002, durante a 6ª Conferência das Partes da CDB (COP 6) em “atingir até 2010 uma significativa
redução na atual taxa de perda de biodiversidade na escala global, regional e nacional, como uma contribuição para a
diminuição da pobreza e para o benefício de toda vida na Terra”. Tal decisão foi referendada na Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), em Johanesburgo. (ver http://2010.biodiv.org/2010/target.shtml)
31
priorização da biodiversidade e tornando-se um fórum agregador de idéias e discussões sobre a
conservação e uso sustentável da biodiversidade brasileira.
A ação combinada das diversas atividades previstas para os seis anos do Projeto deverá
provocar os seguintes impactos globais positivos no setor de biodiversidade no Brasil:
18
Os principais objetivos da PNB são: promover a integração de políticas nacionais do governo e da sociedade;
estimular a cooperação interinstitucional e internacional para a melhoria da implementação das ações de gestão da
biodiversidade; conhecer, conservar e valorizar a diversidade biológica brasileira; proteger áreas naturais relevantes;
promover o uso sustentável da biodiversidade; e, respeitar, preservar e incentivar o uso do conhecimento, das
inovações e das práticas das comunidades tradicionais.
32
• Promoção do uso sustentável dos recursos genéticos e a promoção de sua valoração por
pelo uso.
Uma avaliação detalhada ds lista de potenciais impactos indica que pela adoção do princípio
básico do próprio Projeto, com a biodiversidade no centro de todas as tomadas de decisões, tanto
nas atividades programáticas quanto não-programáticas, leva a uma diminuição significativa do
potencial de ocorrência dos mesmos. Assim, uma vez que os parceiros estão comprometidos em
perseguir a implementação da Convenção da Diversidade Biológica e promover sinergias com as
demais convenções das quais o Brasil é signatário, o risco de que o potencial desses impactos se
realize é muito baixo.
Essa probabilidade, entretanto, não reduziu o nível de exigência desta análise, que ressalta a
importância da observância das medidas de mitigação descritas na Matriz de Impactos anexada a
este documento (Anexo1). Segue uma lista dos potenciais impactos negativos ao meio ambiente,
considerados os mais prováveis, pela implementação de algumas atividades previstas no Projeto:
33
5. ANÁLISE AMBIENTAL
5.1. Panorama ambiental
A dimensão territorial brasileira impõe desafios relativos à ocupação, ao uso e manejo do seu
imenso e diversificado espaço. A questão se agrava devido aos extensos territórios inabitados,
aos intensos contrastes socioeconômicos e agroecológicos entre as regiões geográficas, à
dinâmica acelerada do uso das terras, ao avanço da fronteira agrícola, ao avanço do arco de
desmatamento, à baixa capacidade de promoção da observância das legislações ambientais, às
deficiências na infra-estrutura de transportes e comunicação e à carência de recursos humanos
adequadamente preparados.
Todas estas problemáticas compõem um cenário de grande complexidade a ser gerenciado pelo
planejamento territorial no Brasil, onde o elenco de alternativas de ocupação e uso é muito
variado. A pluralidade de atividades antrópicas é amplificada pelas distintas configurações dos
sistemas de produção adotadas, traduzindo-se em diferentes níveis de sustentabilidade e, em
grande parte das situações, em muitos impactos ambientais.
19
MMA (2002). Políticas Públicas e Biodiversidade no Brasil.
20
Bioma é conceituado como um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de
vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história
compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria.
34
MAPA 1: Divisão dos Biomas Brasileiros21
Amazônia
O bioma Amazônia corresponde a quase 50% do território nacional, com uma superfície de
aproximadamente 4 milhões de km2, representando 78% da cobertura vegetal do país e
abrangendo nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins e Maranhão. Além de rica fauna e flora, a Amazônia possui também ampla
diversidade de substrato geológico, solos, climas e a maior bacia hidrográfica do mundo. A
21
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169&id_pagina=1
35
Amazônia é assim considerada o maior "banco genético" natural do planeta, detendo cerca de 1/3
do estoque genético global22.
22
http://www.inpa.gov.br/frameamazonia.html e http://www2.ibama.gov.br/ecossis/index0.htm
23
http://www.integracao.gov.br/desenvolvimentoregional/programas_e_acoes/index.shtml
36
TABELA 1: Quadro Geral dos Principais Impactos Ambientais na Região Amazônica24
24
Baseado nas informações do endereço eletrônico: http://www.sivam.gov.br/TECNO/impam2.htm
37
Cerrado25
A área nuclear ou “core” do Cerrado está distribuída, principalmente, pelo Planalto Central
Brasileiro, nos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, parte de Minas
Gerais, Bahia e Distrito Federal, abrangendo 196.776.853 ha. Há outras áreas de Cerrado,
chamadas periféricas ou ecótonos, que são transições com os biomas Amazônia, Mata Atlântica e
Caatinga.
Os Cerrados são, assim, reconhecidos devido às suas diversas formações ecossistêmicas. Sob o
ponto de vista fisionômico temos: o cerradão, o cerrado típico, o campo cerrado, o campo sujo de
cerrado, e o campo limpo que apresentam altura e biomassa vegetal em ordem decrescente. O
cerradão é a única formação florestal.
O Cerrado típico é constituído por árvores relativamente baixas (até vinte metros), esparsas,
disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e uma vegetação baixa constituída, em geral, por
gramíneas. Assim, o Cerrado contém basicamente dois estratos: um superior, formado por
árvores e arbustos dotados de raízes profundas que lhes permitem atingir o lençol freático,
situado entre 15 a 20 metros; e um inferior, composto por um tapete de gramíneas de aspecto
rasteiro, com raízes pouco profundas, no qual a intensidade luminosa que as atinge é alta, em
relação ao espaçamento. Na época seca, este tapete rasteiro parece palha, favorecendo,
sobremaneira, a propagação de incêndios.
A típica vegetação que ocorre no Cerrado possui seus troncos tortuosos, de baixo porte, ramos
retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. Os estudos efetuados consideram que a vegetação
nativa do Cerrado não apresenta essa característica pela falta de água – pois, ali se encontra uma
grande e densa rede hídrica – mas sim, devido a outros fatores edáficos (de solo), como o
desequilíbrio no teor de micronutrientes, a exemplo do alumínio.
O Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo em biodiversidade com
a presença de diversos ecossistemas, riquíssima flora com mais de 10.000 espécies de plantas,
com 4.400 endêmicas (exclusivas) dessa área. A fauna apresenta 837 espécies de aves; 67
gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espécies de
anfíbios, das quais 45 endêmicas; 120 espécies de répteis, das quais 45 endêmicas; apenas no
Distrito Federal, há 90 espécies de cupins, mil espécies de borboletas e 500 espécies de abelhas e
vespas.
Até a década de 1950, os Cerrados mantiveram-se quase inalterados. A partir da década de
1960, com a interiorização da capital e a abertura de uma nova rede rodoviária, largos
ecossistemas deram lugar à pecuária e à agricultura extensiva, como a soja, arroz e ao trigo. Tais
mudanças se apoiaram, sobretudo, na implantação de novas infra-estruturas viárias e energéticas,
bem como na descoberta de novas vocações desses solos regionais, permitindo novas atividades
agrárias rentáveis, em detrimento de uma biodiversidade até então pouco alterada.
Durante as décadas de 1970 e 1980 houve um rápido deslocamento da fronteira agrícola, com
base em desmatamentos, queimadas, uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, que resultou em
cerca de 40%-60% do Cerrado “modificado”. Algumas dessas áreas apresentam voçorocas,
assoreamentos e depreciação dos ecossistemas. O mapeamento dos remanescentes do Cerrado,
apoiado pelo MMA com base em imagens de 2002, revelou que restam entre 40% a 60% de
remanescentes, dependendo se as áreas campestres usadas como pastagens são consideradas
como áreas remanescentes ou não.
25
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38
A partir da década de 1990, governos e diversos setores organizados da sociedade debatem
como conservar o Cerrado, com a finalidade de buscar tecnologias embasadas no uso adequado
dos recursos hídricos, na extração de produtos vegetais nativos, nos criadouros de animais
silvestres, no ecoturismo, na agricultura sustentável e outras iniciativas que possibilitem um
modelo de desenvolvimento sustentável e justo.
Pantanal26
A CIMA - Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento-SI/PR, 1991, define o Pantanal mato-grossense como “a
maior planície de inundação contínua do planeta”. Sua localização geográfica é de particular
relevância, uma vez que representa o elo de ligação entre o Cerrado, no Brasil Central, o Chaco,
na Bolívia, e a região Amazônica, ao Norte, identificando-se, aproximadamente, com a bacia do
alto Paraguai.
O Pantanal funciona como um grande reservatório, provocando uma defasagem de até cinco
meses entre as vazões de entrada e saída. O regime de verão determina enchentes entre
novembro e março no norte e entre maio e agosto no sul, neste caso sob a influência reguladora
do Pantanal.
Os solos, de modo geral, apresentam limitações à lavoura. Nas planícies pantaneiras
sobressaem solos inférteis (lateritas) em áreas úmidas (hidromórficas) e planossolos, além de
várias outras classes, todos alagáveis, em maior ou menor grau, e de baixa fertilidade. Nos
planaltos, embora predominem também solos com diversas limitações à agricultura, sobretudo à
fertilidade, topografia ou escassez de água, existem situações favoráveis.
Como área de transição, a região do Pantanal ostenta um mosaico de ecossistemas terrestres,
com afinidades, sobretudo com os Cerrados e, em parte, com a floresta Amazônica, além de
ecossistemas aquáticos e semi-aquáticos, interdependentes em maior ou menor grau. Os planaltos
e as terras altas da bacia superior são formados por áreas escarpadas e testemunhos de planaltos
erodidos, conhecidos localmente como serras. São cobertos por vegetações predominantemente
abertas, tais como campos limpos, campos sujos, cerrados e cerradões, determinadas,
principalmente, por fatores de solo (edáficos) e climáticos e, também, por florestas úmidas,
prolongamentos do ecossistema amazônico.
A planície inundável que forma o Pantanal, propriamente dito, representa uma das mais
importantes áreas úmidas da América do Sul. Nesse espaço podem ser reconhecidas planícies de
baixa, média e alta inundação, destacando-se os ambientes de inundação fluvial generalizada e
prolongada. Esses ambientes, periodicamente inundados, apresentam alta produtividade
biológica, grande densidade e diversidade de fauna.
A ocupação da região, de acordo com pesquisas arqueológicas, se deu há, aproximadamente,
dez mil anos por grupos indígenas. A adequação de atividades econômicas ao Pantanal surgiu do
processo de conquista e aniquilamento dos índios Guatós e Guaicurus por sertanistas. Foi
possível implantar a pecuária na planície inundável, que se tornaria a única economia estável e
permanente até os nossos dias. Dentro de um enfoque macroeconômico, a planície representou,
no passado, um grande papel no abastecimento de carne para outros estados do país.
Uma série de atividades de impacto direto sobre o Pantanal pode ser observada, como garimpo
de ouro e diamantes, caça, pesca, turismo e agropecuária não sustentável, construção de rodovias
e hidrelétricas. Convém frisar a importância das atividades extensivas nos planaltos circundantes
como uma das principais fontes de impactos ambientais negativos sobre o Pantanal.
26
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39
O processo de expansão da fronteira, ocorrido principalmente após 1970, foi a causa
fundamental do crescimento demográfico do Centro-Oeste brasileiro. A região da planície
pantaneira, com sua estrutura fundiária de grandes propriedades voltadas para a pecuária em suas
áreas alagadiças, não se incorporou ao processo de crescimento populacional. Não houve
aumento significativo em número ou população das cidades pantaneiras. No planalto, contudo, o
padrão de crescimento urbano foi acelerado. Como todas as cidades surgidas ou expandidas
nessa época, as de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não tinham e nem têm infra-estrutura
adequada para minimizar o impacto ambiental do crescimento acelerado, causado,
principalmente, pelo lançamento de esgotos domésticos ou industriais nos cursos d’água da
bacia. Esse tipo de poluição repercute diretamente na planície pantaneira, que recebe os
sedimentos e resíduos das terras altas.
O mesmo processo de expansão da fronteira foi responsável pelo aproveitamento dos cerrados
para a agropecuária, o que causou o desmatamento de vastas áreas do planalto para a
implantação de lavouras de soja e arroz, além de pastagens. O manejo agrícola inadequado
nessas lavouras resultou, entre outros fatores, em erosão de solos e no aumento significativo de
carga de partículas sedimentáveis de vários rios. Além disso, agrava-se o problema de
contaminação dos diversos rios com pesticidas e fertilizantes.
A presença de ouro e diamantes na baixada cuiabana e nas nascentes dos rios Paraguai e São
Lourenço vem atraindo milhares de garimpeiros, cuja atividade causa o assoreamento e
compromete a produtividade biológica de córregos e rios, além de contaminá-los com mercúrio.
Mata Atlântica27
Em termos gerais, a Mata Atlântica pode ser vista como um mosaico diversificado de
ecossistemas, apresentando estruturas e composições florísticas diferenciadas, em função de
diferenças de solo, relevo e características climáticas existentes na ampla área de ocorrência
desse bioma no Brasil.
Atualmente, restam cerca de 7,3% de sua cobertura florestal original, tendo sido inclusive
identificada como a quinta área mais ameaçada e rica em espécies endêmicas do mundo. Na
Mata Atlântica existem 1.361 espécies da fauna brasileira, com 261 espécies de mamíferos, 620
de aves, 200 de répteis e 280 de anfíbios, sendo que 567 espécies só ocorrem nesse bioma.
Possui, ainda, cerca de 20 mil espécies de plantas vasculares, das quais 8 mil delas também só
ocorrem na Mata Atlântica. Várias espécies da fauna são bem conhecidas pela população, tais
como os mico-leões e muriquis, espécies de primatas dos gêneros Leontopithecus e Brachyteles,
respectivamente. Vale lembrar que, no sul da Bahia, foi identificada, recentemente, a maior
diversidade botânica do mundo para plantas lenhosas, ou seja, foram registradas 454 espécies em
um único hectare.
A exploração da Mata Atlântica vem ocorrendo desde a chegada dos portugueses ao Brasil,
cujo interesse primordial era a exploração do pau-brasil. O processo de desmatamento prosseguiu
durante os ciclos da cana-de-açúcar, do ouro, da produção de carvão vegetal, da extração de
madeira, da plantação de cafezais e pastagens, da produção de papel e celulose, do
estabelecimento de assentamentos de colonos, da construção de rodovias e barragens, e de um
amplo e intensivo processo de urbanização, com o surgimento das maiores capitais do país, como
São Paulo, Rio de Janeiro, e de diversas cidades menores e povoados.
A sua área atual encontra-se altamente reduzida e fragmentada com seus remanescentes
florestais localizados, principalmente, em áreas de difícil acesso. A preservação desses
27
ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/tematicos/mapas_murais
40
remanescentes vem garantindo a contenção de encostas, propiciando oportunidades para desfrute
de exuberantes paisagens e desenvolvimento de atividades voltadas ao ecoturismo, além de servir
de abrigo para várias populações tradicionais, incluindo nações indígenas. Além disso, nela estão
localizados mananciais hídricos essenciais para abastecimento de cerca de 70% da população
brasileira, que nela habitam.
A conservação da Mata Atlântica tem sido buscada por setores do governo, da sociedade civil
organizada, instituições acadêmicas e setor privado. Vários estudos e iniciativas têm sido
desenvolvidos nos últimos anos, gerando um acervo de conhecimento e experiência significativo.
Vale ressaltar, também, a existência de um amplo arcabouço legal para a proteção do bioma.
Principais agressões à Mata Atlântica:
Está sendo derrubada para:
• Extração de madeira;
• Moradia, construção de cidades;
• Agricultura;
• Industrialização, e conseqüentemente poluição;
• Construção de rodovias.
Além de derrubada, sofre:
• Pesca predatória em seus rios;
• Turismo desordenado;
• Comércio ilegal de plantas e animais nativos;
• Exportação ilegal de material genético;
• Fragmentação das áreas preservadas.
A Avaliação e Ações Prioritárias para Conservação dos Biomas Floresta Atlântica e Campos
Sulinos (ou Pampa) determinou os níveis de pressão antrópica decorrentes das atividades
humanas mediante a superposição dos dados provenientes do Índice de Pressão Antrópica (IPA)
com o mapa de remanescentes da Mata Atlântica. O IPA consiste em uma metodologia do tipo
estoque-fluxo, baseada em dados municipais sobre densidade e crescimento da população urbana
e rural, grãos (arroz, milho, feijão, soja e trigo) e bovinos. Os dados em questão existem para
todos os municípios, oferecendo uma visão geral e cobertura sistemática de todos os municípios.
A partir das áreas evidenciadas pelo IPA foi realizada uma regionalização na qual as áreas foram
delineadas agregando conjuntos de municípios com pressão alta ou muito alta. Como resultado
final, foram definidas 34 áreas, divididas em dois grupos distintos: I) áreas de pressão alta
(extrema), que correspondem às proximidades de regiões metropolitanas, algumas cidades de
médio porte, como São José dos Campos, Juiz de Fora e Dourados, ao longo da BR-101 no
Nordeste e pontos dispersos no interior de São Paulo, oeste do Paraná e Santa Catarina; e II)
áreas de pressão antrópica média-alta, com pressões específicas e que merecem atenções
especiais. Tais áreas encontram-se no vale do Jequitinhonha e oeste da Bahia, vale do médio
Paraíba, vale do Ribeira e litoral de São Paulo. As especificidades incluem hidrovias,
silvicultura, extração de madeira, produção de carvão vegetal com espécies nativas, tráfico de
animais silvestres, barragens, assentamentos, migração pendular, especulação imobiliária e
estagnação de atividades sustentáveis (cacau), entre outras. (Relatório do grupo temático de
socioeconomia - Workshop do Subprojeto "Avaliação e Ações Prioritárias para Conservação dos
Biomas Floresta Atlântica e Campos Sulinos". 1999).
41
Pampa28
O Pampa foi denominado de “Campos sulinos” pelo estudo de prioridades para a conservação
e o uso sustentável da biodiversidade da Mata Atlântica e dos Campos Sulinos do MMA/Probio,
elaborado pela Conservação Internacional, Fundação SOS Mata Atlântica, Fundação
Biodiversitas, Instituto de Pesquisas Ecológicas, Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São
Paulo e SEMAD/Instituto Estadual de Florestas-MG.
Os campos, em geral, parecem ser formações edáficas (do próprio solo) e não climáticas. A
pressão do pastoreio e a prática do fogo não permitem o estabelecimento da vegetação arbustiva,
como se verifica em vários trechos da área de distribuição dos Campos do Sul.
A região geomorfológica do planalto de Campanha, a maior extensão de campos do Rio
Grande do Sul, é a porção mais avançada para oeste e para o sul do domínio morfoestrutural das
bacias e coberturas sedimentares. Nas áreas de contato com o arenito botucatu, ocorrem os solos
podzólicos vermelho-escuros, principalmente a sudoeste de Quaraí e a sul e sudeste de Alegrete,
onde se constata o fenômeno da desertificação. São solos, em geral, de baixa fertilidade natural e
bastante suscetíveis à erosão.
À primeira vista, a vegetação campestre mostra uma aparente uniformidade, apresentando nos
topos mais planos um tapete herbáceo baixo – de 60 cm a 1 m -, ralo e pobre em espécies, que se
torna mais denso e rico nas encostas, predominando gramíneas, compostas e leguminosas; os
gêneros mais comuns são: Stipa, Piptochaetium, Aristida, Melica, Briza. Sete gêneros de cactos e
bromeliáceas apresentam espécies endêmicas da região. A mata aluvial apresenta inúmeras
espécies arbóreas de interesse comercial.
Na Área de Proteção Ambiental do Rio Ibirapuitã, inserida neste bioma, ocorrem formações
campestres e florestais de clima temperado, distintas de outras formações existentes no Brasil.
Além disso, abriga 11 espécies de mamíferos raros ou ameaçados de extinção, ratos d’água,
cervídeos e lobos, e 22 espécies de aves nesta mesma situação. Pelo menos uma espécie de peixe,
cará (Gymnogeophagus sp., Família Cichlidae) é endêmica da bacia do rio Ibirapuitã.
Caatinga29
O bioma Caatinga é o principal ecossistema existente na Região Nordeste, estendendo-se pelo
domínio de climas semi-áridos, numa área de 73.683.649 ha, 6,83% do território nacional; ocupa
10 estados: Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas,
Maranhão e Minas Gerais. O termo Caatinga é originário do tupi-guarani e significa mata branca.
É um bioma único pois, apesar de estar localizado em área de clima semi-árido, apresenta grande
variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. A ocorrência de secas
estacionais e periódicas estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação sem folhas.
A folhagem das plantas volta a brotar e fica verde nos curtos períodos de chuvas.
A Caatinga é dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas – formações
vegetais secas, que compõem uma paisagem cálida e espinhosa – com estratos compostos por
gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de altura), caducifólias
(folhas que caem), com grande quantidade de plantas espinhosas (exemplo: leguminosas),
entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas.
28
ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/tematicos/mapas_murais
29
ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/tematicos/mapas_murais
42
Levantamentos sobre a fauna do domínio da Caatinga revelam a existência de 40 espécies de
lagartos, sete espécies de anfisbenídeos (espécies de lagartos sem pés), 45 espécies de serpentes,
quatro de quelônios, uma de Crocodylia, 44 anfíbios anuros e uma de Gymnophiona.
A Caatinga tem sido ocupada desde os tempos do Brasil-Colônia com o regime de sesmarias e
sistema de capitanias hereditárias, por meio de doações de terras, criando-se condições para a
concentração fundiária. De acordo com o IBGE, 27 milhões de pessoas vivem atualmente no
polígono das secas. A extração de madeira, a monocultura da cana-de-açúcar e a pecuária nas
grandes propriedades (latifúndios) deram origem à exploração econômica. Na região da
Caatinga, ainda é praticada a agricultura de sequeiro.
Os ecossistemas do bioma Caatinga encontram-se bastante alterados, com a substituição de
espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as queimadas são ainda
práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruir a cobertura
vegetal, prejudica a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o
equilíbrio do clima e do solo. Aproximadamente 80% dos ecossistemas originais já foram
antropizados.
Sistemas Costeiros30
Embora o Mapa dos Biomas do IBGE de 2004 não inclua o mapeamento das formações
costeiras as mesmas estão aqui apresentadas devido a forte pressão sofrida por estas áreas.
A costa brasileira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância ambiental. Ao longo
do litoral brasileiro podem ser encontrados manguezais, restingas, dunas, praias, ilhas, costões
rochosos, baías, brejos, falésias, estuários, recifes de corais e outros ambientes importantes do
ponto de vista ecológico, todos apresentando diferentes espécies animais e vegetais e outros. Isso
se deve, basicamente, às diferenças climáticas e geológicas da costa brasileira. Além do mais, é
na zona costeira que se localizam as maiores presenças residuais de Mata Atlântica. Ali a
vegetação possui uma biodiversidade superior no que diz respeito à variedade de espécies
vegetais. Também os manguezais, de expressiva ocorrência na zona costeira, cumprem funções
essenciais na reprodução biótica da vida marinha. Enfim, os espaços litorâneos possuem riquezas
significativas de recursos naturais e ambientais, mas a intensidade de um processo de ocupação
desordenado vem colocando em risco todos os ecossistemas presentes na costa litorânea do
Brasil.
O litoral amazônico vai da foz do rio Oiapoque ao delta do rio Parnaíba. Apresenta grande
extensão de manguezais exuberantes, assim como matas de várzeas de marés, campos de dunas e
praias. Apresenta uma rica biodiversidade em espécies de crustáceos, peixes e aves.
O litoral nordestino começa na foz do rio Parnaíba e vai até o Recôncavo Baiano. É marcado
por recifes calcíferos e areníticos, além de dunas que, quando perdem a cobertura vegetal que as
fixam, movem-se com a ação do vento. Há ainda nessa área manguezais, restingas e matas. Nas
águas do litoral nordestino vivem o peixe-boi marinho e as tartarugas, ambos ameaçados de
extinção.
O litoral sudeste segue do Recôncavo Baiano até São Paulo. É a área mais densamente
povoada e industrializada do país. Suas áreas características são as falésias, os recifes e as praias
de areias monazíticas (mineral de cor marrom-escura). É dominada pela Serra do Mar e tem a
costa muito recortada, com várias baías e pequenas enseadas. O ecossistema mais importante
30
http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/
43
dessa área é a mata de restinga. Essa parte do litoral é habitada pela preguiça-de-coleira e pelo
mico-leão-dourado (espécies ameaçadas de extinção).
O litoral sul começa no Paraná e termina no Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Com muitos
banhados e manguezais, o ecossistema da região é riquíssimo em aves, mas há também outras
espécies: ratão-do-banhado, lontras (também ameaçados de extinção), capivaras.
A densidade demográfica média da zona costeira brasileira fica em torno de 87 hab./km2, cinco
vezes superior à média nacional que é de 17 hab./km2. Pela densidade demográfica nota-se que a
formação territorial foi estruturada a partir da costa, tendo o litoral como centro difusor de
frentes povoadoras, ainda em movimento na atualidade. Hoje, metade da população brasileira
reside numa faixa de até duzentos quilômetros do mar, o que equivale a um efetivo de mais de 70
milhões de habitantes, cuja forma de vida impacta diretamente os ecossistemas litorâneos. Dada
a magnitude das carências de serviços urbanos básicos, tais áreas vão constituir-se nos principais
espaços críticos para o planejamento ambiental da zona costeira do Brasil. Não há dúvida em
defini-las como as maiores fontes de contaminação do meio marinho no território brasileiro.
Além do mais, as grandes cidades litorâneas abrigam um grande número de complexos
industriais dos setores de maior impacto sobre o meio ambiente (química, petroquímica,
celulose).
Enfim, observa-se que a zona costeira apresenta situações que necessitam tanto de ações
preventivas como corretivas para o seu planejamento e gestão, a fim de atingir padrões de
sustentabilidade para estes ecossistemas.
5.1.2. Biodiversidade31
A variedade de biomas reflete a riqueza da flora e fauna brasileiras, tornando-as as mais
diversas do mundo. Muitas das espécies brasileiras são endêmicas. O Brasil é o país com a maior
biodiversidade do mundo, contando com um número estimado de mais de 20% do número total
de espécies do planeta. Diversas espécies de plantas de importância econômica mundial são
originárias do Brasil, destacando-se dentre elas o abacaxi, o amendoim, a castanha do Brasil
(também conhecida como castanha do Pará), a mandioca, o caju e a carnaúba.
O Brasil abriga o maior número de primatas com 55 espécies, o que corresponde a 24% do
total mundial; de anfíbios com 516 espécies; e de animais vertebrados com 3.010 espécies de
vertebrados vulneráveis, ou em perigo de extinção. O país conta também com a mais diversa
flora do mundo, número superior a 55 mil espécies descritas, o que corresponde a 22% do total
mundial. Possui por exemplo, a maior riqueza de espécies de palmeiras (390 espécies) e de
orquídeas (2.300 espécies). Possui também 3.000 espécies de peixes de água doce totalizando
três vezes mais que qualquer outro país do mundo.
O Brasil é agraciado não só com a maior riqueza de espécies, mas, também, com a mais alta
taxa de endemismo. Uma em cada onze espécies de mamíferos existentes no mundo é encontrada
no Brasil (522 espécies), juntamente com uma em cada seis espécies de aves (1.622), uma em
cada quinze espécies de répteis (468), e uma em cada oito espécies de anfíbios (516). Muitas
dessas são exclusivas para o Brasil, com 68 espécies endêmicas de mamíferos, 191 espécies
endêmicas de aves, 172 espécies endêmicas de répteis e 294 espécies endêmicas de anfíbios. Esta
riqueza de espécies corresponde a, pelo menos, 10% dos anfíbios e mamíferos e 17% das aves
descritas em todo o planeta.
31
http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/biodiv/brasil.html
44
A composição total da biodiversidade brasileira não é conhecida e talvez nunca venha a ser, tal
a sua magnitude e complexidade. Sabendo-se, entretanto, que para a maioria dos seres vivos o
número de espécies no território nacional, na plataforma continental e nas águas jurisdicionais
brasileiras é elevado, é fácil inferir que o número de espécies, tanto terrestres quanto marinhas,
ainda não identificadas, pode alcançar valores da ordem de dezena de milhões no Brasil.
Apesar da riqueza de espécies nativas, a maior parte das atividades econômicas do país está
baseada em espécies exóticas. A agricultura está baseada na cana-de-açúcar proveniente da Nova
Guiné, no café da Etiópia, no arroz das Filipinas, na soja e na laranja da China, no cacau do
México e no trigo da Ásia Menor. A silvicultura nacional depende de eucaliptos da Austrália e de
pinheiros da América Central. A pecuária depende de bovinos da Índia, de eqüinos da Ásia
Central e de capins Africanos. A piscicultura depende de carpas da China e de tilápias da África
Oriental, e a apicultura está baseada em variedades da abelha-europa provenientes da Europa e
da África Tropical.
É esperado que o país intensifique a implementação de programas de pesquisa na busca de um
melhor aproveitamento da biodiversidade brasileira e continue a ter acesso aos recursos
genéticos exóticos, também essenciais para o melhoramento da agricultura, pecuária, silvicultura
e piscicultura nacionais.
Essa necessidade está ligada à importância que a biodiversidade ostenta na economia do país.
Somente o setor da agroindústria responde por cerca de 40% do PIB brasileiro, (calculado em
US$ 866 bilhões no ano de 1997), o setor florestal por 4% do PIB e o setor pesqueiro por 1% do
PIB. Produtos da biodiversidade respondem por 31% das exportações brasileiras, especialmente
commodities como café, soja e laranja. As atividades de extrativismo florestal e pesqueiro
empregam mais de três milhões de pessoas. A biomassa vegetal, contando o álcool da cana-de-
açúcar e a lenha e o carvão derivados de florestas nativas e plantadas, responde por 30% da
matriz energética nacional e em determinadas regiões, como o Nordeste, atendem a mais da
metade da demanda energética industrial e residencial. Grande parte da população brasileira
utiliza-se de plantas medicinais na solução de problemas corriqueiros de saúde. A diversidade
biológica constitui, portanto, uma das características de recursos ambientais, fornecendo
produtos para exploração e consumo e prestando serviços de uso indireto. É importante, portanto,
a disseminação da prática da valoração da diversidade biológica. A redução da diversidade
biológica compromete a sustentabilidade do meio ambiente e a disponibilidade permanente dos
recursos ambientais.
Valoração da biodiversidade
A Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB reconhece que a biodiversidade possui
valores econômicos, sociais e ambientais. Logo no primeiro parágrafo do texto esse
reconhecimento é explicitado: “Consciente do valor intrínseco da diversidade biológica e dos
valores ecológico, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético da
diversidade biológica e de seus componentes”.
45
Assim, a CDB busca demonstrar, como estratégia de proteção à biodiversidade, que a
conservação e o uso sustentável da biodiversidade têm valor econômico e que a utilização de
critérios econômicos é relevante na sua implementação, ou seja, apregoa ser imprescindível o
reconhecimento do valor econômico da biodiversidade por aqueles que participam de sua gestão.
Fauna Ameaçada
A exploração desordenada do território brasileiro é uma das principais causas de extinção de
espécies. O desmatamento e degradação dos ambientes naturais, o avanço da fronteira agrícola, a
caça de subsistência e a caça predatória, a venda de produtos e animais procedentes da caça,
apanha ou captura ilegais (tráfico) na natureza e a introdução de espécies exóticas em território
nacional são fatores que participam de forma efetiva do processo de extinção. Este processo vem
crescendo nas últimas duas décadas à medida que a população cresce.
Uma forma de se perceber os efeitos da exploração desordenada das aéreas nativas sobre a
fauna residente é o acréscimo significativo do número de espécies na lista oficial33 de fauna
silvestre ameaçada de extinção. Essa lista foi revisada, pelo Ministério do Meio Ambiente e
Ibama, em parceria com a Fundação Biodiversitas e a Sociedade Brasileira de Zoologia, com o
apoio da Conservação Internacional do Brasil e do Instituto Terra Brasilis, e aponta novos
caminhos.
Com ela é possível decidir quais espécies e ecossistemas devem ser prioritariamente protegidos
e conservados e aqueles que poderiam ser utilizados dentro de princípios sustentáveis. Proteger e
utilizar racionalmente os recursos faunísticos são ações de manejo que demandam conhecimento,
técnica, controle e monitoramento.
Para se ter uma idéia da atual situação da fauna brasileira, do total de 633 táxons apontados na
Lista, 624 estão classificados em uma das três categorias de ameaça (criticamente em perigo, em
perigo e vulnerável) adotadas para a avaliação e 9 em uma das duas categorias de extinção. Os
vertebrados somam 67% do total de espécies indicadas sendo que, entre estes, estão cerca de
13% das espécies brasileiras de mamíferos. O bioma Mata Atlântica é o que apresenta maior
número de espécies ameaçadas ou extintas, com 383 táxons, seguido pelo Cerrado (112),
Marinho (92), Campos Sulinos (60), Amazônia (58), Caatinga (43) e Pantanal (30). Isso significa
que, em conjunto, Mata Atlântica e Cerrado respondem por mais de 78% das espécies da lista, ou
seja, 495 táxons.
32
Para saber mais sobre os esforços de valoração da biodiversidade brasileira, acesse o documento Valoração
Econômica da Biodiversidade - Estudos de Caso no Brasil
(http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/valbiod.pdf)
33
Anexo à Instrução Normativa n° 3, de 27 de maio de 2003, do Ministério do Meio Ambiente Lista das Espécies da
Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (http://www.ibama.gov.br/fauna/downloads/lista%20spp.pdf).
46
A Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros (DIFAP) do Ibama incluiu entre as atividades a
serem desenvolvidas sob sua responsabilidade no Projeto Nacional de Ações Integradas Público-
Privadas para Biodiversidade a revisão da lista de espécies da fauna brasileira ameaçada de
extinção, bem como estímulo à elaboração de pelo menos cinco listas estaduais de espécies
ameaçadas.
Flora Ameaçada
Atualmente, 107 espécies de plantas são reconhecidas oficialmente como ameaçadas de
extinção no Brasil. Entretanto, a atual lista 34 de espécies da flora brasileira ameaçadas de
extinção, publicada em 1992 (Portaria Nº 37-N, de 3 de abril de 1.992), já não mais reflete a
realidade. (O Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade prevê
como uma de suas atividades a revisão da lista, bem como o estímulo à produção de listas
regionais.) Além da Diretoria de Florestas do Ibama, deverão ser envolvidos nesse processo a
Fundação Biodiversitas, a Sociedade Brasileira de Botânica, o Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, a Rede Brasileira de Jardins Botânicos e a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte.
Neste processo, a coordenação dos trabalhos deverá contar com o apoio da comunidade científica
brasileira.
A compilação a seguir apresenta de forma sumária uma relação de temas ambientais relevantes
para o equacionamento da questão ambiental brasileira:
34
Portaria do Ibama Nº 37-N, de 3 de abril de 1992, que torna pública a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira
Ameaçada de Extinção (http://www.ibama.gov.br/flora/extincao.htm).
35
Adaptado do documento “Temas Ambientais Mais Relevantes para o Brasil num Futuro Próximo” (Primeira
Versão), de Enéas Salati e Ângelo Augusto dos Santos.
47
pela falta de implementação da lei como: o desmatamento, o uso inadequado do solo e dos
recursos hídricos, a poluição atmosférica e a conservação da biodiversidade.
Os remanescentes da Mata Atlântica estão sob constante ameaça tendo em vista as atividades
no seu entorno. O seu destino dependerá fortemente da capacidade de gerenciamento dos órgãos
de meio ambiente.
A vegetação ciliar corresponde àquela associada aos cursos e reservatórios de água,
independente de sua área ou região de ocorrência, de sua composição florística e localização
(Ab’Saber, 2000). Neste sentido, desempenha funções de grande importância, podendo-se citar:
melhoria da qualidade de água; estabilização das margens dos rios, evitando erosão e
assoreamento; propicia um ambiente adequado para a fauna e melhora a qualidade de vida do
homem, dentre outras. As matas ciliares são importantes agentes de proteção ambiental para
flora e fauna associadas, tanto aquática como terrestre, bem como, uma proteção direta aos
recursos hídricos em relação à poluição difusa nas bacias hidrográficas.A perda das matas
ciliares é um problema extensivo a todo território nacional.
Por outro lado o manejo florestal propicia uma aliança concreta entre os aspectos econômicos,
sócio-culturais e ambientais do desenvolvimento. Ora, um processo inclusivo de tais dimensões e
dos diversos atores envolvidos em sua concepção e aplicação, tem o condão de potencializar o
uso de nossas florestas na perspectiva da eqüidade e sustentabilidade. Só nesse âmbito que se
pode pensar na adaptação e uso do solo de modo a promover sua recuperação pois, em muitas
regiões, o desenvolvimento rural pretérito já levou à degradação de vários componentes de
ecossistemas importantes. Dentre tantos se destaque, por exemplo, os recursos hídricos, que são
essenciais em programas de manejo florestal. Programas consistentes de Manejo Florestal vêm
sendo implementados em várias partes do mundo com o objetivo principal de proteger o setor
florestal, propiciando sua exploração em bases sustentáveis. Tais programas são em algumas
instâncias promovidos por organizações nacionais e internacionais, governamentais e não-
governamentais, associações e comunidades diversas e por empresas florestais privadas, na
busca de práticas alternativas de desenvolvimento sustentável.
48
A publicação “Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade:
caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao
longo do século XXI / José A. Marengo (org.)– Brasília: MMA, 2006” que se encontra no prelo e
apresenta os resultados deste subprojeto mostra, entre outras, as seguintes conclusões:
1) Amazônia – Se o avanço da fronteira agrícola e da indústria madeireira for mantido nos
níveis atuais, a cobertura florestal vai diminuir dos atuais 5,3 milhões de km2 (85% da área
original) para 3,2 milhões de km2 em 2050 (53% da cobertura original). O aquecimento global
vai aumentar as temperaturas na região amazônica, e pode deixar o clima mais seco, provocando
a savanização da floresta. O aquecimento observado pode chegar até 8ºC no cenário pessimista
A2.
2) Semi-árido – As temperaturas podem aumentar de 2ºC a 5ºC no Nordeste, até o final do
século XXI. A Caatinga será substituída por uma vegetação mais árida. O desmatamento da
Amazônia pode deixar o semi-árido mais seco. Com o aquecimento a evaporação aumenta e a
disponibilidade hídrica diminui.
3) Zona Costeira – O aumento do nível do mar vai trazer grandes prejuízos ao litoral.
Construções à beira-mar vão desaparecer, portos serão destruídos, e populações terão que ser
remanejadas. Sistemas de esgoto precários entrarão em colapso. Novos furacões poderão atingir
a costa do Brasil.
4) Nordeste e bacia do Prata – Ainda que a chuva tendesse a aumentar no futuro, as elevadas
temperaturas do ar simuladas pelos modelos poderiam, de alguma forma, comprometer a
disponibilidade de água para agricultura, consumo ou geração de energia devido a um acréscimo
previsto na evaporação ou evapotranspiração. A extensão de uma estação seca, em algumas
regiões do Brasil, poderia afetar o balanço hidrológico regional e assim comprometer atividades
humanas, ainda que haja alguma previsão de aumento de chuva no futuro.
49
A escassez e o manejo dos recursos hídricos no semi-árido brasileiro é um problema sazonal.
Ao longo do ano, o Nordeste semi-árido tem condições ideais quanto à oferta de energia solar e
temperatura para o desenvolvimento de uma agricultura intensiva. O fator limitante é a oferta de
água. É importante levar em conta o manejo dos recursos hídricos no semi-árido brasileiro
evitando-se o aumento da salinização das águas da região, se não forem deixados exutórios
adequados para o escoamento das águas mais salinizadas.
50
Os impactos ambientais diretos de hidroelétricas são bem conhecidos, no entanto muitas vezes
os impactos indiretos são muitos maiores, especialmente na região Amazônica onde
empreendimentos como a hidroelétrica de Tucuruí acelerou o desmatamento no seu entorno.
Segundo Nodari & Guerra, 200036, a liberação de plantas transgênicas, ou de seus produtos
derivados, para o cultivo e o consumo humano e animal têm atraído a atenção das pessoas e isto
vem sendo um dos temas predominantes nas discussões científicas, éticas, econômicas e políticas
na atualidade.
A maioria da comunidade científica não é contra o uso dessa tecnologia que permite a
reprogramação genética de plantas, animais e microrganismos, mas a quantidade de informações
dúbias, muitas das quais sem sustentação científica, contribui para gerar insegurança nos
consumidores (Nodari & Guerra, 2000).
Nos métodos convencionais de melhoramento genético, novas combinações genéticas são
obtidas por meio de cruzamentos sexuais entre plantas que apresentam as características
desejadas. Neste caso, o que ocorre é a substituição de um alelo por outro. Com a transgenia,
insere-se uma seqüência quimérica geralmente composta por genes de resistência a antibióticos,
promotores fortes e genes de interesse, oriundos de diferentes espécies. Ou seja, plantas
transgênicas (ou organismos geneticamente modificados) são plantas que têm inserida, em seu
genoma, uma seqüência de DNA manipulado em laboratório por técnicas moleculares ou
biotecnológicas. Essas seqüências de DNA, que diferenciam as variedades transgênicas e as
demais, merecem ser cientificamente estudadas quanto aos seus efeitos sobre a saúde humana e
possíveis danos ao meio ambiente.
Ainda segundo Nodari & Guerra, 2000, entre os possíveis riscos ambientais, podem ser
mencionados os efeitos diretos sobre os seres vivos, o solo e a água, e os efeitos indiretos, via
transferência vertical e horizontal. A ameaça à diversidade biológica decorre, então, das
propriedades do transgene ou de sua transferência e expressão em outras espécies. A priori, não
se podem desprezar os vários efeitos potenciais indesejáveis provocados pela adição de um novo
genótipo em uma comunidade, como o deslocamento ou a eliminação de espécies não
domesticadas, a exposição de espécies a novos patógenos ou agentes tóxicos, a poluição
genética, a erosão da diversidade genética e a interrupção da reciclagem de nutrientes e de
energia.
Em 2002, a área global de culturas transgênicas foi de 60 milhões de hectares, utilizadas por
cerca de 6 milhões de agricultores em 16 países. A chegada dos OGM no agronégocio brasileiro
foi contundente a partir de 2004.
36
NODARI, Rubens Onofre; GUERRA, Miguel Pedro. Implications of transgenics for environmental and
agricultural sustainability. Hist. cienc. saude-Manguinhos., Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, 2000. Disponible en:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702000000300016&lng=es&nrm=iso>. Acceso
el: 19 Oct 2006. doi: 10.1590/S0104-59702000000300016
37
MMA (2002). Políticas Públicas e Biodiversidade no Brasil. MMA. Biodiversidade e Espaços Territoriais
Protegidos. Relatório Nacional.
51
Agropecuária
Existem no Brasil 4,8 milhões de estabelecimentos rurais, dos quais 85% são familiares, com
áreas menores que 100 hectares, representando cerca de 38% do valor bruto da produção
agropecuária e empregando 76% do pessoal ocupado na agricultura. O setor agrícola tem muitas
interfaces com o meio ambiente, uma vez que tradicionalmente o ecossistema nativo é
modificado para atender às exigências da produção. Aí se incluem a retirada da cobertura vegetal
nativa, nem sempre dentro dos limites de uso que a legislação permite, a introdução de espécies,
a mudança nos fluxos de água e nutrientes e o uso de substâncias químicas com potencial
poluente. Essas ações têm um grande impacto na biodiversidade e na condição dos recursos
naturais locais. Por fim, é importante lembrar que os impactos da introdução das várias culturas
podem estender-se por diversas regiões, fragmentando os ecossistemas nativos38.
A agricultura dos países em desenvolvimento tem enfrentando sérias dificuldades por causa da
erosão. No Brasil, o fenômeno tem sido registrado em praticamente todos os estados.
Anualmente, o País perde aproximadamente 500 milhões de toneladas de solo em virtude da
erosão. Isso corresponde à retirada de uma camada de 15 centímetros de solo das regiões Sudeste
e Centro-Oeste e mais o Estado do Paraná” (Thomazine, 2003)39.
O longo histórico de conversão da cobertura florestal da terra em áreas agropastoris que se deu
no Sudeste brasileiro resultou em uma paisagem onde a cobertura vegetal natural se encontra
reduzida a fragmentos com diversos tamanhos e padrões espaciais. A fragmentação da cobertura
vegetal causa diversos efeitos deletérios às populações biológicas que dependem deste hábitat,
como subdivisão de populações, aumento da taxa de endogamia e conseqüente erosão genética,
menor resistência a distúrbios e, risco de extinção local. (Maia Santos, 2002)40.
Embasada em um número reduzido de espécies vegetais cultivadas em grandes extensões de
terra, e em poucas variedades dentro dessas espécies, a agricultura moderna tende a
homogeneizar a paisagem, simplificando desse modo os processos naturais e favorecendo a
diminuição da diversidade genética da vida selvagem e doméstica.
Por sua vez, a expansão da fronteira agrícola tem eliminado ecossistemas naturais, com perda
de biodiversidade e alteração do funcionamento dos ciclos globais biológicos, geológicos e
químicos.
A biodiversidade é essencial para a produção agrícola da mesma forma que a agricultura o é
para a conservação da biodiversidade.
A biodiversidade possibilita o funcionamento equilibrado dos sistemas de produção agrícola.
Um meio ambiente diversificado oferece proteção aos agroecossistemas contra perturbações
naturais ou provocadas pelo homem (pragas e doenças de plantas e animais, clima desfavorável,
etc), possibilitando a sua reação no sentido de retornar à situação de equilíbrio.
Da mesma forma, a biodiversidade oferece serviços e insumos para a agricultura, com
oportunidades para o aumento da produtividade e da qualidade ambiental. Por exemplo, a
38
MMA (2002). Políticas Públicas e Biodiversidade no Brasil. MMA. Biodiversidade e Espaços Territoriais
Protegidos. Relatório Nacional.
39
Atividade e comunidade microbianas de solo submetido à erosão simulada e em recuperação, Autor: Gustavo
Rodrigo Thomazine, Orientador: Adriana Parada Dias Silveira. Co-Orientador: Wanderley Dias da Silveira. Data da
defesa: 12/02/2003. Unicamp
40
Análise da paisagem de um corredor ecológico na Serrada Mantiqueira / J. S. Maia Santos - São José dos
Campos:INPE, 2002.
52
biodiversidade é importante como reservatório de organismos responsáveis pelo combate
biológico de pragas e doenças agrícolas.
Um problema mais recente observado, o empobrecimento das pastagens, está associado ao
manejo inadequado e à falta de investimento em programas de recuperação de pastagens, que,
assim como as culturas, exigem cuidados e manutenção.
Cabe observar que o gráfico abaixo mostra a grande abrangência da cadeia da pecuária de
corte. A importância social da atividade é refletida na manutenção do emprego e da renda em boa
parte do país. Viabilizar através de políticas públicas a convivência entre a biodiversidade e esta
atividade promove o desenvolvimento sustentável nas regiões mais longínquas do país, através
de seu desenvolvimento local e regional.
53
Recursos pesqueiros
Cerca de 80% dos recursos pesqueiros costeiro-marítimos encontram-se
sobreexplotados ou próximos de tais níveis. O excesso de esforço de pesca tem sido
apontado como a causa mais visível de tal situação. Nos ambientes aquáticos
continentais, observações e relatos de grupos de pescadores revelam considerável perda
da produtividade pesqueira. Isso se deve ao barramento dos principais rios para usos
múltiplos, ao desmatamento das margens e cabeceiras, ao assoreamento de lagos e
lagoas e à poluição, tanto química quanto orgânica.
Na raiz de tais problemas encontra-se um sistema de gestão do acesso e uso dos
recursos pesqueiros que desconsidera saberes, conhecimentos, projetos de vida e
objetivos dos diversos grupos sociais pesqueiros. As normas de acesso e uso desses
recursos são geradas com pouca participação dos usuários. Isso faz com que eles se
sintam pouco comprometidos com os níveis de sustentabilidade dos recursos. Contudo,
nos últimos anos houve avanço político no trato desse tema com a criação da Secretaria
Especial de Aqüicultura e Pesca, o que possibilitará maior integração entre o governo
federal e a comunidade de pescadores na construção de políticas públicas.
Recursos florestais
55
A publicação de Lima41 procura analisar crítica e cientificamente o eucalipto e seus
impactos ambientais, com o intuito de fornecer fundamentação consistente à discussão,
afastando mitos e lendas que a circundam.
Principais impactos ambientais causados pela atividade de reflorestamento com
monocultora de eucalipto podem ser resumidos nas preocupações referentes ao consumo
de água, à demanda de nutrientes e aos efeitos alelopáticos da espécie.42
Os impactos ambientais adversos estão presentes em muitos dos projetos de
reflorestamento feitos na fase inicial dos incentivos fiscais no Brasil. Todavia, os efeitos
ecológicos podem ser minimizados, ou seja, eles podem estar ao alcance do controle do
profissional florestal, através da adoção de práticas ambientalmente sadias de manejo
florestal, conforme os preceitos do manejo florestal sustentável. Estes efeitos ecológicos
envolvem principalmente questões relativas aos problemas de destruição de
ecossistemas, manutenção da biodiversidade, degradação de microbacias, diminuição do
capital de nutrientes do solo, desfiguração da paisagem, etc. Este problema ambiental,
decorrente de reflorestamentos com monoculturas, e todos os possíveis desdobramentos,
não pode mais ser desconsiderado em qualquer projeto florestal.43
Transportes
A implantação da infra-estrutura de transportes no Brasil deixou enorme passivo
ambiental em degradação dos solos, da cobertura vegetal, da água e do ar. Isso ocorre
porque a implantação e a gestão da infra-estrutura de transportes, composta por
rodovias, ferrovias, hidrovias e portos, sempre se pautaram por parâmetros técnicos e
requisitos econômicos. Prova disso é a ênfase dada à pavimentação de estradas de
rodagem e à produção de veículos de passeio, em detrimento das estradas de ferro e
meios de transporte coletivo. Somente a partir dos anos 1980 é que começam a ser
adotados padrões de qualidade e de conservação ambiental.
O histórico de implantação dos projetos de infra-estrutura de transportes reflete a falta
de planejamento regional integrado. Isso se verifica na dificuldade do escoamento da
produção e nos custos para a mobilidade das pessoas. A falta de integração entre meios
de transporte, considerando as diferentes modalidades (rodoviário, ferroviário e
hidroviário) evidencia o problema. Outra constatação é a ausência de normas e de
critérios socioambientais para o licenciamento dos projetos.
A aplicação de grandes volumes de recursos na melhoria da malha viária, sem foco
específico no transporte público de passageiros, além de socialmente perversa, tende a
aumentar a carga de poluição causada pelo trânsito de veículos individuais. Essa lógica
prejudica diretamente a saúde e a qualidade de vida da população, especialmente das
pessoas com menor renda.
Água de lastro
Estima-se que pelo menos 7 mil espécies aquáticas são transportadas, diariamente,
entre diferentes regiões do mundo por meio da água de lastro dos navios. O problema
motivou a Marinha a elaborar uma Norma de Autoridade Marítima (Normam),
41
LIMA, W. P. Impacto Ambiental do Eucalipto. 2. ed. São Paulo: EDUSP (Editora da Universidade de
São Paulo), 1993. 301 p.
42
Lima, W. de P. Indicadores hidrológicos do manejo sustentável de plantações de eucalipto. In
Conferência IUFRO sobre Silvicultura e Melhoramento de Eucaliptos. Acessado em 06 de novembro de
2006 no endereço eletrônico: http://bosques.cnpf.embrapa.br/node_embrapa/uploads/znkdqetnph.pdf
43
Idem citação anterior.
56
determinando que todos os navios que se destinarem aos portos brasileiros troquem a
água de lastro, ao menos, a 200 milhas da costa e a 200 metros de profundidade. A
decisão foi tomada no seminário sobre a Convenção de Água de Lastro e os Desafios
para Proteger o País das Espécies Aquáticas Invasoras, promovido pelo Ministério do
Meio Ambiente e pela Transpetro, em novembro de 2004. No encontro, que reuniu
técnicos e pesquisadores dos Ministérios do Meio Ambiente, Transportes, Saúde e
Ciência e Tecnologia, além de representantes da indústria náutica, foi aprovada a
elaboração de uma agenda de trabalho definindo um plano de ação para gerenciar o
controle da água de lastro nas zonas portuárias.
Energia
O desenvolvimento da infra-estrutura energética no país tem se pautado por critérios
técnicos e por pressões da demanda em vez de considerar o planejamento integrado do
território. Impactos negativos gerados pelo uso de energia não renovável, como o
petróleo e seus derivados, envolvem desde a poluição do ar e acidentes no transporte,
até o impacto direto sobre populações das regiões produtoras. Essas comunidades vêem
seus territórios, pontos turísticos e históricos destruídos por incêndios, derramamentos,
contaminação de solos, rios e lençóis subterrâneos.
Cerca de 30 milhões de brasileiros vivem sem o mínimo de energia necessário a uma
razoável qualidade de vida. Dependem de fontes energéticas caras, sujas e pouco
confiáveis, como lampiões a querosene, velas e lenha. Isso gera diversas conseqüências
negativas para a saúde e o desenvolvimento humano.
No que se refere à oferta interna de eletricidade, o país é abastecido em sua maioria
(77,1%) por hidrelétricas, sendo que apenas 3,9% do total oferecido são provenientes de
fontes renováveis de energia, como biomassa, eólica e outras não convencionais. Essa
relação é extremamente desproporcional, principalmente se considerados os últimos
estudos sobre os impactos de médio e longo prazo dos lagos artificiais que armazenam
água para movimentar as turbinas das hidrelétricas. Em algumas partes do mundo, há
movimentos para desativar lagos artificiais que se sobrepuseram a monumentos naturais
e patrimônios culturais. A utilização de tecnologias alternativas para a geração de
energia elétrica é uma oportunidade para o Brasil aproveitar a diversidade de fontes
disponíveis e as pesquisas desenvolvidas sobre o tema no país.
Ao se manter prioritária no Brasil, a energia hidrelétrica tem imenso potencial para
impactar negativamente a Amazônia e o Cerrado, uma vez que 70% do potencial
hidrelétrico a se aproveitar são encontrados nesses biomas. O Plano Nacional de
Energia 2030 demonstra tendência para manter sobreposta a importância da geração
hidrelétrica à conservação da biodiversidade. Por outro lado, o Plano indica estudos
sobre energia eólica, solar, de biomassa de madeira e das ondas marítimas.
A Bioeletricidade, energia elétrica cogerada a partir da biomassa (madeira, cana-de-
açúcar) com previsibilidade, sustentabilidade e qualidade, tem grande potencial no país
devido à abundância de biomassa e biocombustíveis. O Brasil possui condições
geográficas favoráveis (dimensões continentais, características do solo, clima,
insolação, regime de chuvas, etc.). O país conta com tecnologia desenvolvida para o
etanol e o biodiesel, e também sabe realizar cogeração a partir do bagaço de cana.
57
Mineração44
O subsolo brasileiro possui importantes depósitos minerais. Parte dessas reservas são
consideradas expressivas quando relacionadas mundialmente. O Brasil produz cerca de
70 substâncias, sendo 21 do grupo de minerais metálicos, 45 dos não-metálicos e quatro
dos energéticos. Em termos de participação no mercado mundial em 2000, ressalta-se a
posição do nióbio (92%), minério de ferro (20%, segundo maior produtor mundial),
tantalita (22%), manganês (19%), alumínio e amianto (11%), grafita (19%), magnesita
(9%), caulim (8%) e, ainda, rochas ornamentais, talco e vermiculita, com cerca de 5%.
O perfil do setor mineral brasileiro é composto por 95% de pequenas e médias
minerações. Dados de 1999 demonstram que as minas no Brasil estão distribuídas
regionalmente com 4% no norte, 8% no centro-oeste, 13% no nordeste, 21% no sul e
54% no sudeste. Estima-se que em 1992 existiam em torno de 16.528 pequenas
empresas, com produção mineral de US$ 1,98 bilhões, em geral atuando em regiões
metropolitanas na extração de material para construção civil.
No Brasil, os principais problemas oriundos da mineração podem ser englobados em
quatro categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, e subsidência do
terreno. Em geral, a mineração provoca um conjunto de impactos relacionados a
alterações ambientais, conflitos de uso do solo, depreciação de imóveis circunvizinhos,
geração de áreas degradadas e transtornos ao tráfego urbano.
Devido à magnitude dos impactos ambientais que a atividade mineradora mal
conduzida pode gerar, os subprojetos de priorização da biodiversidade que
eventualmente vierem a ser realizados em territórios que abrigam atividades
mineradoras deverão tratar da sensibilização do setor, especialmente pela aplicação de
medidas de incentivo à adoção de práticas sustentáveis.
Os impactos ambientais da mineração, principalmente sobre os recursos hídricos,
variam conforme o tipo de lavra e a tecnologia utilizada. Existem basicamente quatro
tipos de lavras: dragagem, subterrânea, céu aberto e mista.
Dragagem. Implica em impactos como a alteração da morfologia dos leitos dos corpos
d’água, tornando-os mais turvos e assoreados, lançamento de rejeitos e estéreis nos
recursos hídricos, desmatamento de matas ciliares para a instalação da estrutura física
do empreendimento (tornando as margens suscetíveis à erosão), perda da potabilidade
da água, poluição química, entre outros impactos.
Subterrânea. Nesse tipo de explotação, o contato com o meio externo é menor,
diminuindo a magnitude de impactos decorrentes da poluição visual, desmatamentos e
poluição do ar. Na explotação subterrânea, o estéril pode ser transportado para o
subsolo, onde será acondicionado (backfill). Nesse caso, porém, caso o
acondicionamento seja feito de forma inadequada, haverá risco de vazamento de
materiais estéreis para os lençóis d’água subterrâneos, gerando assim uma forma de
contaminação de difícil reversão. Via de regra, são característicos da explotação
subterrânea impactos sobre os recursos hídricos, como incremento da turbidez,
lançamento de sólidos sedimentáveis e sólidos dissolvidos e, em alguns casos,
modificações de pH, incremento de metais, sulfetos, arsênio, dependendo da
mineralogia. Tais impactos são principalmente derivados do arraste de partículas finas
das áreas de acesso por água pluvial, solubilização do estéril pelo contato com o sistema
ar/água.
44
Mineração e Meio Ambiente no Brasil, relatório do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE
http://www.cgee.org.br/arquivos/estudo011_02.pdf
58
Céu Aberto. Contato permanente de cargas poluidoras com o ar, água e solo, sendo
assim possível a formação de vários tipos de impactos ambientais, principalmente em
termos de poluição do ar em virtude do arraste eólico e por água pluvial de partículas
finas das áreas decapeadas (mina, estradas, depósito de estéril e pátios) e também o
contato do ambiente, principalmente os recursos hídricos, com produtos químicos e
rejeitos da mineração. As alterações de parâmetros de qualidade ambiental dos recursos
hídricos características da explotação a céu aberto são o incremento da turbidez, sólidos
sedimentáveis, pH e outros compostos, dependendo de mineralogia.
Mista. Corresponde a uma combinação das explotações subterrânea e a céu aberto.
Ciência e Tecnologia
O Brasil é dotado de um expressivo parque científico e tecnológico, envolvendo
diversas instituições públicas e privadas com elevada capacidade de lidar com questões
relacionadas à biodiversidade. Entretanto, devem ser apoiados mais pesquisas e
desenvolvimento tecnológicos voltados para o desenvolvimento sustentável,
consignados na Agenda 21 e nos compromissos internacionais firmados pelo governo.
Comércio
A Pesquisa Anual de Comércio - PAC 45 , realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), estimava, em 2003, a existência de um total de
1.365.136 empresas com atividade principal em atividades do comércio no Brasil,
vinculadas ao comércio de veículos e peças, comércio por atacado e comércio varejista.
Estas empresas possuíam 1.426.988 estabelecimentos com receita de revenda de
mercadorias, auferiram R$ 675,6 bilhões de receita operacional líquida, ocuparam cerca
de 6.271 mil pessoas e pagaram R$ 38,8 bilhões em remunerações. Trata-se, portanto,
de um contingente expressivo da economia e da demografia nacional.
Indústria
A Pesquisa Industrial Anual - Empresa - PIA46, realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), estimava, em 2003, um total de 137.000 empresas em
funcionamento no país, responsáveis por quase 7 milhões de postos de trabalho. Os
setores de alta e de média alta intensidade tecnológica, numericamente minoritários,
eram responsáveis, em 2003, por 17,7% do total de empresas representadas na PIA e
empregam 25,8% do total de pessoas ocupadas, enquanto os de baixa e de média baixa
intensidade concentram a maior parte das empresas (cerca de 82%) e possuem a maior
proporção de pessoal ocupado (74%).
A abordagem a este setor pelo Projeto deverá levar em consideração que o maior
desafio para a política de meio ambiente relacionada à iniciativa privada é o de garantir,
simultaneamente, padrões crescentes de qualidade e de conservação ambiental e um
sistema eficiente de regulação que não implique incertezas, elevação do risco
empresarial e bloqueio de decisões de investimentos.
Mídia
O papel da mídia na sensibilização da população para a causa da biodiversidade e na
difusão de práticas sustentáveis de utilização dos recursos naturais é subutilizado no
Brasil. Sua função é recorrentemente contrária aos princípios da sustentabilidade,
45
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/comercioeservico/pac/2003/default.shtm
46
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pia/empresas/defaultempresa2003.shtm
59
estando a maioria dos veículos de comunicação orientados à difusão de práticas de
consumo insustentáveis e predatórios. A aproximação com os veículos de comunicação
e sua sensibilização para a necessidade da emissão de mensagens que estimulem o
engajamento de atores estratégicos nas iniciativas de conservação deve ser um dos focos
principais da atuação do Projeto.
Turismo
No Brasil o segmento de ecoturismo segmento é visto, tanto pelo governo, como pelos
estudiosos do tema, como uma alternativa econômica com perfil de sustentabilidade e
como meio para conservação dos recursos naturais e culturais, além de gerador de
benefícios às comunidades locais.
47
http://institucional.turismo.gov.br/Mintur/UserFiles/File/planoNacionalPortugues.pdf
60
6. ANÁLISE DOS IMPACTOS DO PROJETO
6.1. Políticas de Salvaguardas Acionadas
Os tópicos a seguir sumarizam a interface entre as atividades do Projeto e as políticas
operacionais para as quais o Banco Mundial estabelece salvaguardas ambientais. Além
de levar em conta as diretrizes do Banco, a análise também incorpora os marcos legais
que regulamentam em âmbito nacional a execução de atividades como as previstas pelos
parceiros do Projeto.
Do total de recursos previstos para desembolso pelo GEF, cerca de 30% serão
aplicados em atividades executadas fisicamente em meio natural, ou seja, atividades que
podem afetar diretamente o meio ambiente. Tais atividades incluem os projetos piloto
previstos no Componente 2 do Projeto, bem como as iniciativas de campo a serem
promovidas pelos ministérios e institutos envolvidos no Projeto. Algumas atividades
têm local geográfico definido para seu desenvolvimento (como os remanescentes do
bioma Mata Atlântica), que serão priorizados pelo MCT, estando sua execução
condicionada a processos seletivos a serem conduzidos pelas instituições parceiras ao
longo do Projeto.
Espera-se que o impacto ambiental de tais atividades seja altamente positivo, e que
elas contribuam para modificar a percepção do setor público e de setores econômicos
sobre a importância e os benefícios advindos da conservação da biodiversidade. Tal
estratégia atende um dos princípios da Lei nº 6.938, de 31/08/81, que estabelece a
Política Nacional do Meio Ambiente, posteriormente incorporados à Constituição
Federal, que em seu artigo 225, §1º, VI dispõe sobre a educação ambiental em todos os
níveis e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
61
manejo sustentável da biodiversidade nativa, em propriedades rurais e em comunidades
tradicionais e nas unidades de conservação integrantes do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação - SNUC, fortalecendo o sistema e proporcionando mudanças
positivas nas formas de gerenciamento das unidades de conservação.
A planilha de atividades previstas para o Projeto estima que 47% dos recursos doados
serão aplicados em atividades a serem realizadas fisicamente, em sua maioria, em
laboratórios e escritórios, as quais apresentam menor potencial de impacto direto sobre
o meio ambiente. Para assegurar a minimização do potencial impacto indireto de tais
atividades sobre o meio ambiente, é imprescindível a aplicação das diretrizes de
consumo sustentável nos processos de suprimentos para o Projeto. Muito embora não
exista legislação brasileira expressa sobre este tema, tais diretrizes já pautam algumas
políticas governamentais e o debate da sociedade civil.
62
A análise da planilha de atividades possibilita ainda identificar que os 23% dos
recursos do GEF restantes deverão ser aplicados em atividades híbridas, que envolvem
igualmente desempenho de campo e de gabinete. Inclui-se neste grupo os estudos
científicos de ecologia de populações de espécies, estudos sobre o uso sustentável dos
componentes do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado, estudos
de genética da conservação, estudos biogeográficos para o detalhamento de ecorregiões
aquáticas e outras atividades semelhantes.
Por se tratar de uma iniciativa que tem como objetivo elevar a biodiversidade a uma
condição de elemento prioritário nas operações dos setores público e privado no Brasil,
as instituições parceiras envolvidas no Projeto buscarão inserir os princípios da
sustentabilidade ambiental e da conservação da biodiversidade em seus próprios
procedimentos operacionais e administrativos. Para tanto, deverão considerar o disposto
no Decreto 4.339/2002, que institui a Política Nacional de Biodiversidade. O Decreto
define princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional, com a
participação dos governos federal, distrital, estaduais e municipais, além da sociedade
civil. Dentre outras coisas, a Política Nacional de Biodiversidade pressupõe um esforço
nacional integrado de conservação e utilização sustentável da diversidade biológica, de
forma complementar e harmônica, em planos, programas e políticas setoriais ou
intersetoriais pertinentes. Destaque-se também o Decreto 4.703/2003, que regulamenta
o Programa Nacional da Diversidade Biológica (Pronabio) e o funcionamento da
Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio) – que coordena o Pronabio, dispondo
sobre a elaboração e implementação da referida Política Nacional de Biodiversidade,
bem como sobre a promoção de parceria com a sociedade civil com vistas a conhecer e
conservar a diversidade biológica, usar seus componentes de forma sustentável e
garantir a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados dessa utilização.
Uma vez que todo o Projeto é concebido para ser sustentável, é mínima a expectativa
de que haja impactos negativos sobre o meio ambiente. Possíveis impactos derivados do
Projeto podem estar relacionados à eventual necessidade de construção de uma infra-
estrutura básica para alojar o Instituto Virtual de Biodiversidade e/ou o Centro de
Monitoramento e/ou Centro de Informação em Saúde Silvestre e/ou a criação e
reestruturação dos Centros de Conservação da Flora e bases já existentes e/ou
fortalecimento dos Centros Especializados em Fauna e Pesca e criação de novos Centros
Especializados e eventualmente alguma infra-estrutura nas áreas de implementação das
ações. Os potenciais impactos negativos previstos e as respectivas ações de mitigação
estão relacionados na Matriz de Potenciais Impactos Negativos, Anexo 2 desta
Avaliação Ambiental.
63
Além de atuar na implementação de iniciativas práticas e na elaboração de políticas
públicas, o Projeto tem potencial de impacto positivo em larga escala se conseguir
difundir melhores práticas de políticas de investimentos, considerando a biodiversidade.
A definição de critérios claros e didáticos para a aplicação de recursos de forma
sustentável poderia auxiliar a aumentar a conscientização desses grupos sobre os
componentes da biodiversidade e as políticas de salvaguarda.
Habitats Naturais
Há diversas atividades previstas no âmbito do Projeto que estão relacionadas a
habitats naturais, tanto aquáticos quanto terrestres. Entretanto, nenhuma delas prevê
conversão substancial ou degradação de habitats naturais, sendo todas sempre
relacionadas à conservação e/ou à recuperação de tais áreas. As atividades financiadas
com recursos do Projeto, realizadas in situ ou ex situ, estão diretamente submetidas aos
princípios da Convenção da Diversidade Biológica e da Política Nacional de
Biodiversidade (Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002), que institui princípios e
diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade, normatizando a
gestão da biodiversidade no Brasil.
Uma vez que é previsto que o Projeto trabalhe junto a setores produtivos de larga
escala e já consolidados em uma dada realidade regional, espera-se que o Projeto venha
a apoiar atividades ligadas a cadeias produtivas que ainda não levam em conta critérios
ambientais. Um dos objetivos do Projeto é justamente reduzir o impacto negativo dessas
atividades produtivas de larga escala sobre habitats naturais. No caso de as iniciativas
apoiadas no âmbito dos subprojetos de priorização territorial da biodiversidade, sob
apoio do Funbio (componente 2), apresentarem algum potencial de impacto sobre
habitats naturais, ainda que estes sejam menores que os apresentados antes da
aproximação do Projeto, serão adotados os princípios estabelecidos no Anexo 1 desta
Avaliação Ambiental.
Florestas
A avaliação da biodiversidade dos biomas brasileiros do Probio, que indicou 900
áreas prioritárias para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade no Brasil, é
um dos principais subsídios que o Projeto tem para direcionar suas atividades de campo,
sendo desejável que o Projeto atue nessas áreas, de modo a conservá-las e garantir o uso
sustentável da biodiversidade aí encontradas. Os subprojetos a serem desenvolvidos no
âmbito do componente 2 que eventualmente forem executados em áreas florestais terão
sua elaboração, implementação e monitoramento realizados de modo a assegurar que se
minimizem os impactos negativos sobre essas áreas florestais.
64
O projeto não financiará atividades florestais de caráter comercial. Para qualquer
atividade que envolva produção florestal será adotada a Política Florestal do Banco
Mundial. Dependendo do setor econômico em questão, as modalidades de suprimentos
responsáveis que puderem ser aplicadas o serão para evitar que as cadeias produtivas de
bens e serviços fornecidos para as atividades do Projeto gerem, ainda que de forma
indireta, impactos negativos sobre os remanescentes florestais.
A Lei 4.771, de 15/09/65, conhecida como Código Florestal, estabelece uma série de
medidas protetoras das florestas existentes no país, inclusive o reconhecimento de que
tais florestas são bens de interesse comum a todos os habitantes, merecedoras por isso
mesmo de proteção especial. Uma das formas de proteção às florestas é o
estabelecimento de limites máximos para o corte raso das áreas de florestas em
propriedades privadas, fixados de acordo com as características de cada região do país.
Controle de Pragas
Os recursos do Projeto, originários do GEF ou da contrapartida nacional que
eventualmente vierem a financiar a aquisição de defensivos agrícolas deverão ser
empregados sob a orientação do Plano de Manejo Integrado de Pragas (PMIP), Anexo 3
desta Avaliação Ambiental. Os parceiros do Projeto irão avaliar a conveniência do
envolvimento de produtores agrícolas que fazem uso de pesticidas em suas lavouras,
sempre levando em consideração os potenciais benefícios de tal envolvimento para se
atingir os objetivos do Projeto.
Vale lembrar que a Lei nº 8.171, de 17/01/91, que dispõe sobre a Política Agrícola
Brasileira, estabelece, como um dos seus objetivos, a proteção do meio ambiente com a
garantia do uso racional e o estímulo à recuperação dos recursos naturais, o que passa
pela disciplina no uso racional do solo, da água, da fauna e da flora, bem como pela
realização de zoneamentos agroecológicos que permitam estabelecer critérios para
disciplinar e ordenar o espaço das diversas atividades produtivas.
65
comercialização, manejo e o descarte destes poluentes de forma sustentável e
ambientalmente adequada. O Tratado pretende ainda a geração de um sistema de
regulamentação e avaliação que impeça a produção e a introdução no mercado de novos
pesticidas e produtos químicos industriais contendo POPs, por intermédio da adoção do
chamado princípio da substituição, que prega a necessidade de implementação de uma
alternativa sempre que uma atividade gerar ameaça de um dano sério e irreversível ao
meio ambiente ou à saúde.
Patrimônio Cultural
Não é esperado que o Projeto afete negativamente aspectos de propriedade cultural. A
articulação em nível territorial e alianças envolvendo turismo podem ajudar a proteger
importantes monumentos arqueológicos, históricos ou outros patrimônios culturais ou
locais de valor natural único. Na eventualidade de o Projeto apoiar iniciativas em áreas
que contenham recursos de propriedade cultural, serão aplicados os instrumentos
regulatórios existentes na Política de Salvaguarda sobre patrimônio Cultural do Banco
Mundial e legislação brasileira relativa ao Patrimônio Cultural.
66
7. PLANO DE MITIGAÇÃO DE IMPACTOS
As medidas de mitigação previstas para evitar a ocorrência de impactos ambientais
negativos durante a execução do Projeto estão descritas, para cada atividade que
apresenta potencial impacto, no Anexo 2 _Impactos Ambientais e Plano de Mitigação
desta Avaliação Ambiental. O documento relaciona todas as atividades com potencial
impacto negativo, discriminando as dimensões espaço-temporais dos impactos, sua
intensidade, abrangência, risco de ocorrência e potencial de persistência. Essas
informações orientam a determinação das medidas de mitigação cabíveis, o parceiro
responsável pela tomada da medida, o custo de sua consecução e a fonte orçamentária.
Anexo 3 desta avaliação ambiental apresenta as avaliações que deverão ser realizadas
previamente ao início de uma nova atividade ou de apoio a um novo subprojeto, para
verificação da adequação dos mesmos aos objetivos do Projeto e a este Plano de
Salvaguardas.
67
O ESRP será aplicado às operações do Projeto de modo a fortalecer a rede de
fornecedores que atendam a ou apliquem parâmetros ambientais em sua cadeia
produtiva, sempre que possível. As equipes envolvidas no Projeto, em especial as de
suprimentos, serão capacitadas para priorizar de forma permanente a demanda e
contratação de fornecedores e serviços de consultoria ambientalmente amigáveis.
Desde 1937, com a criação do primeiro Parque Nacional, em Itatiaia, RJ, o Brasil vem
adotando a estratégia mundialmente difundida para a conservação in situ da
biodiversidade, baseada na criação de "Unidades de Conservação" (UCs).
48
Extraído do documento “Políticas Públicas em Biodiversidade: Conservação e uso Sustentado no País
da Megadiversidade”, disponível em
http://www.hottopos.com/harvard1/politicas_publicas_em_biodiversi.htm, acessado em 17/03/2006.
68
Nas décadas de 60 e 70, verificou-se um grande avanço na criação de UCs e surgiram
as primeiras propostas para criação de um "sistema nacional de unidades de
conservação".
Já em 1987, o governo brasileiro, com apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), iniciou a negociação do Programa Nacional do Meio
Ambiente (PNMA), voltado para resolução de deficiências nas áreas de capacitação
institucional, conservação da biodiversidade e estratégias de desenvolvimento. O
PNMA, efetivado em 1991, foi a maior operação de crédito firmada com agências
multilaterais (Banco Mundial, BIRD e KFW) na área de meio ambiente no Brasil,
constituindo-se na principal fonte de financiamento de projetos neste período, com
recursos da ordem de US$ 127 milhões. O PNMA caracterizou-se como inovador ao
buscar a integração da questão ambiental no planejamento e desenvolvimento regional.
69
Existem ainda, iniciativas pontuais de diversos órgãos não-governamentais (ONGs),
agências financiadoras nacionais (CNPq, FINEP e BNDES) e órgãos estaduais de apoio
ao desenvolvimento científico e tecnológico (FAPESP, FAPERJ, FAPERS e FAP/DF
entre outros) direcionadas à promoção de estudos, formação de recursos humanos e
pesquisas em conservação e uso da biodiversidade.
· Lei No. 6.902/81: dispõe sobre a criação de estações ecológicas e áreas de proteção
ambiental;
· Lei No. 6.938/81: dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação;
· Lei No. 7.347/85: disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;
70
· Lei No. 7.754/89: estabelece medidas para proteção das florestas existentes nas
nascentes dos rios;
71
ANEXO 1
72
Projeto BioPrioridade - Matriz de Potenciais Impactos Ambientais Negativos
Responsável pela
Mitigação /Obs.**
Subcomponente
Persistência do
potencialmente
Sub-atividade
Sub-atividade
Categoria do
Componente
Extensão do
responsável
Medidas de
Orçamento
Orçamento
necessário
Instituição
Execução
negativos
Processo
Atividade
Impacto *
Impactos
Fonte de
Parceiro
Impacto
Impacto
Risco
Conversão de culturas, erosão e
esgotamento do solo
Desmatamento ou destruição da Proibir os seguintes procedimentos ou insumos agrícolas: Queimadas sistemáticas; Desmatamento ou destruição da
vegetação natural protetora de mananciais vegetação natural protetora de mananciais e beira de rios; Utilização de materiais orgânicos com potencial poluente ou
e beira de rios contaminante; Uso de implementos pesados que destruam a estrutura do solo; Uso de águas contaminadas por agrotóxicos,
Poluição e contaminação por materiais fertilizantes solúveis, esgoto e resíduos industriais; Utilização de adubos químicos de média e alta solubilidade e
1.2.1.1
Promoção e Desenvolvimento da
Negativo concentração; Usos de agrotóxicos; Produtos com propriedades corretivas, fertilizantes ou condicionadores do solo com C/ DA/
Agricultura Orgânica para a conservação MAPA B L T MAPA R$ 15.000,00 MAPA
Alteração da estrutura do solo Mitigável agentes potencialmente poluentes; Esterco, restos vegetais ou outro material contaminado por agrotóxico; Uso de qualquer EIA/ ME
da biodiversidade
agrotóxico e esterilizante de solo de natureza química; Uso de produtos inorgânicos sintéticos à base de metais persistentes
no ambiente (mercúrio, chumbo, arsênio e outros); Tratamento de sementes e mudas com agrotóxicos; Uso de organismos
Contaminação química geneticamente modificados/transgênicos; Uso de herbicidas químicos, derivados de petróleo e hormônios sintéticos;
Fumigantes sintéticos; Irradiações ionizantes; Reguladores de crescimento; Inibidores de brotamento; Indutores de maturação
Esterilização do solo
1
1.2
manejo
Orçamento necessário
Parceiro responsável
Extensão do Impacto
Fonte de Orçamento
Subcomponente
Sub-atividade
Sub-atividade
Componente
Atividade
Processo
Risco
Conversão de culturas, erosão e esgotamento do solo;
Desmatamento ou destruição da vegetação natural protetora
2.1.2.1
Aplicar critérios de seleção dos subprojetos e das atividades elegíveis para execução, replicados do Índice
2.1.2
2.1
Coordenação, administração, de procedimentos administrativos que não internalizam os serviços necessários à Administração, Monitoramento e Avaliação do Projeto (p. ex. material de escritório,
2.3.3
2.3
Negativo GEF e
monitoramento e avaliação do componente princípios éticos e ambientais do Projeto, em especial no A L T passagens). As atividades incluídas no Componente 2 do projeto estão sob responsabilidade do Funbio, Funbio C, S, EIA 500.000
Mitigável Contrapartida
do setor privado tocante à compra de materiais (consumo e geração de estando sujeitas à aplicação do Marco de Filtragem Ambiental elaborado para a seleção de subprojetos a
resíduos) e à contratação de serviços. serem apoiados, segundo o disposto no referido Marco, segundo o Plano de Controle de Pragas e também
segundo o Manual Operacional do Projeto.
É provável que o CBMB aproveite instalações já construída, evitando impactos de novas construção. Caso
haja a necessidade de novas construções as instalações acontecerão em área urbana e toda a operação
3.1.3.1
3.1.3
Criação e manutenção do Centro de Impactos secundários negativos advindos da instalação física Negativo cumprirá as leis, regulamentos, padrões e procedimentos de avaliação ambiental do país. Em nenhum
MMA B L T MMA EIA, ME 25000 MMA
Monitoramento da Biodiversidade do Centro Brasileiro de Monitoramento da Biodiversidade. mitigável momento será permitido o comprometimento de nascentes, degradação/ supressão de ambientes naturais,
aterros e descartes de lixo e poluentes em áreas inapropriadas. Utilização de critérios ambientais no
processo de licitação para a compra de bens e serviços
3.1.6.1 3.1.4.2
Localizacao do prédio em locais frágeis, contaminação de A construção será dentro do JBRJ, em área já utilizada e não será em áreas de mata ou de declive
3.1.4
Negativo
Centro de Conservação da Flora JBRJ solo e águas pela deposição imprópria dos materiais de MB L T acentuado. O JB elaborará um pequeno manual de construções de forma a capacitar o construtor sobre a JBRJ DA, EIA, C 25000 MMA
Mitigável
construção) deposição correta dos materiais de construção.
Implementação Física e consolidação do A construção de estrutura para o alojamento do programa no campus de Jacarepaguá da Fiocruz estará
Negativo DA, EIA,
Programa Institucional Biodiversidade & Contaminação por efluentes, translocação de patógenos. B L T submetida ao Plano Diretor que não permite desmatamento na área do campus e incentiva a utilização de Fiocruz 30000 Fiocruz, MS
Mitigável C, ME
Saúde alternativas de mínimo impacto socioambiental. A Fiocruz cumpre as normas de controle ambiental,
biossegurança e legislações estaduais e federais pertinentes.
3.1
Vacinar os pesquisadores e técnicos de laboratório; Exigir uso obrigatório de EPI; Providenciar termo de
Rede de Laboratórios de Referência em Fuga de patógenos; Biopirataria, contaminação de Negativo pelo serviço público; EPI-R$
MB L T responsabilidade sobre as regras de biossegurança; oferecer condições físicas para a manipulação de MS, Fiocruz C; ME Fiocruz, MS
Diagnóstico pesquisadores e técnicos Mitigável 3000,00/pesquisador ou técnico
patógenos de acordo com as categorias de risco; firmar Termo de confidencialidade pelos pesquisadores
durante trabalho de campo
Exigir as licenças de coleta de material biológico e acesso ao patrimônio genético de acordo com a IBAMA, CGEN,
3.1.6
Captura de indivíduos da fauna nativa com ou sem coleta Negativo DA, ME,
Fiocruz A L T legislação,expedidas pelos órgãos responsáveis (IBAMA - CGEN); e a licença de Comitê de Ética no Uso CEUA/ não se aplica não se aplica
para diagnóstico da espécie e seus patógenos Mitigável EIA
3 de animais (CEUA) FIOCRUZ
3.1.6.4
Uso de animais de laboratório para testes; Risco de contágio Vacinar os pesquisadores e técnicos de laboratório; Exigir uso obrigatório de EPI; Firmar Termo de
Desenvolvimento tecnológico em Negativo não se pelo serviço público; EPI -R$ MS, Fiocruz e
de pesquisadores e técnicos de laboratório in locu; MB L T responsabilidade sobre as regras de biossegurança; oferecer condições físicas para a manipulação de MS, Fiocruz
diagnóstico de patógenos da fauna nativa Mitigável aplica 3000,00/pesquisador ou técnico projeto
biopirataria. patógenos de acordo com as categorias de risco; firmar Termo de confidencialidade pelos pesquisadores
durante trabalho de campo
3.2.3.1
3.2.3
Exigir as licenças de coleta de material biológico e acesso ao patrimônio genético de acordo com a IBAMA, CGEN,
Captura de indivíduos da fauna nativa com ou sem coleta DA, ME,
A legislação,expedidas pelos órgãos responsáveis (IBAMA - CGEN); e a licença de Comitê de Ética no Uso CEUA/ não se aplica não se aplica
Projetos selecionados, por edital, para para diagnóstico da espécie e seus patógenos . EIA
de animais (CEUA) FIOCRUZ
3.2.6.2
Negativo
e Vulnerabilidade da saúde da fauna Fiocruz L T
Mitigável Vacinas disponíveis gratuitamente
brasileira em áreas de fronteira ecológica
Risco de contágio de patógenos entre animais coletados e Vacinar os pesquisadores e auxiliares de campo; exigir uso obrigatório de EPI; firmar Termo de pelo serviço público; EPI-R$ MS, Fiocruz e
nos biomas brasileiros MB MS, Fiocruz C
pesquisadores. responsabilidade sobre as regras de biossegurança 3000,00/pesquisador ou técnico projeto
74
durante trabalho de campo.
de procedimentos administrativos que não internalizam os A maior parte das tarefas aqui incluídas demanda atenção aos procedimentos licitatórios, de forma a
4.1.1
4
4.1
Negativo GEF e
Administração, monitoramento e avaliação MMA princípios éticos e ambientais do Projeto, em especial no A E P minimizar o potencial impacto indireto dos suprimentos de bens e serviços necessários à Administração, MMA C, S, EIA 500.000
Mitigável Contrapartida
tocante à compra de materiais (consumo e geração de Monitoramento e Avaliação do Projeto (p. ex. material de escritório, passagens).
resíduos) e à contratação de serviços.
Simbologia Descrição * Categoria
L Local Positivo
E Extensiva Negativo mitigável
Negativo não
P Permanente
mitigável
T Temporal Insignificante
A Alto
M Médio
MB Médio-baixo
B Baixo
N Nulo
DA Diagnostico Ambiental
S Socializacão
C Capacitação
EIA Avaliação de Impacto Ambiental
ME Monitoramento e Avaliação
75
ANEXO 2
Projeto
Projeto Nacional de Transversalização e Priorização da Biodiversidade
e Consolidação Institucional
76
INTRODUÇÃO
Abrangência e Objetivo
Estão condicionadas a este Plano de Manejo Integrado de Pragas todas as atividades
do “Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade” que
envolvam controle de pragas e parasitas que afetam tanto a agricultura e a aqüicultura
quanto a saúde pública. O projeto apóia uma estratégia que promove o uso de métodos
de controle biológicos ou ambientais e reduz o uso de pesticidas químicos sintéticos.
Todas as atividades e todos os subprojetos financiados pelo Projeto que contemplam as
questões de controle de pragas e parasitas estão submetidos aos regulamentos aqui
estabelecidos.
77
Gestão de Parasitas na Saúde Pública
O projeto poderá financiar atividades de controle fitossanitário de parasitas através
sobretudo de métodos ecológicos. Quando os métodos ecológicos, por si só, não forem
eficazes, o Projeto pode financiar o uso de pesticidas para o controle de vetores de
doenças, quando as atividades previstas assim o demandarem.
O Projeto exige que todos os pesticidas por ele financiados sejam fabricados,
embalados, rotulados, manuseados, armazenados, eliminados e aplicados de acordo com
padrões aceitáveis pela a Lei 7.802, em 11 de julho de 1989, regulamentada pelo
Decreto 4.074, de 04 de janeiro de 2002, que foi alterado pelo Decreto nº 5.549, de 22
de setembro de 2005.
Disposição de embalagens
A destinação de embalagens vazias e de sobras de agrotóxicos e afins deverá atender
às recomendações técnicas apresentadas na bula ou folheto complementar
Os usuários de agrotóxicos e afins deverão efetuar a devolução das embalagens
vazias, e respectivas tampas, aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos,
observadas as instruções constantes dos rótulos e das bulas, no prazo de até um ano,
contado da data de sua compra.
As embalagens rígidas, que contiverem formulações miscíveis ou dispersíveis em
água, deverão ser submetidas pelo usuário à operação de tríplice lavagem, ou tecnologia
equivalente, conforme orientação constante de seus rótulos, bulas ou folheto
complementar.
78
I. MANEJO ATUAL DE PRAGAS PELOS AGRICULTORES
49
Comunicação pessoal
79
transferidos para a sociedade. Qual seja, ainda não se aplica o conceito econômico
ambiental do poluidor-pagador aos sistemas de produção agrícola, e com isto, admite-se
a poluição/contaminação ambiental sem ônus econômico, ou outro tipo de penalidade.
Falta de informação validada sobre a eficiência das práticas MIP em vários
agroecossistemas; a assistência técnica privada, geralmente sob domínio ou associada às
indústrias fabricantes de agrotóxicos ou de quem comercializa estes produtos,
explicariam a baixa adoção ou pequeno interesse sobre o MIP, por parte de agricultores
e técnicos do setor público e privado, associados aos sistemas de produção de hortaliças.
80
II. METAS DO PLANO DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS
81
Fertilização
A fertilização adequada é fundamental para o pleno desenvolvimento das plantas, o
que lhes proporciona maior tolerância a pragas e doenças, deixando-se claro que
fertilização adequada não é adubação excessiva, mas sim o fornecimento de nutrientes
na formulação e dosagem corretas, devendo-se perceber a necessidade de construção da
fertilidade e a constante melhoria do perfil do solo.
Barreiras físicas
A utilização de barreiras é comprovadamente uma prática recomendada, apesar de
ainda ser muito pouco usada. É prática comum na olericutura somente entre produtores
orgânicos. O Projeto estimulará a adoção desta prática.
V. MANEJO CURATIVO
Outra prática viável é o plantio em bordadura de plantas iscas para sua posterior
destruição e, conseqüentemente, redução da incidência de pragas.
82
V.2. Pesticidas.
83
Tabela 3. Classes de pesticidas segundo o tipo de organismo que controlado
Classe Tipo de organismo alvo
Inseticida Insetos
Acaricida Ácaros e Carrapatos
Herbicida Ervas daninhas
Nematicida Nematóides
Rodendicida Roedores
Fungicida Fungos
Bactericida Bactérias
Molusquicida Moluscos (caramujos)
84
que apresentam irritação
reversível dentro de 72
(setenta e duas) horas nas
mucosas oculares dos animais
testados; formulações que
provocam irritação moderada
ou um escore igual ou superior
a 3 (três) e até 5 (cinco),
segundo o método de Draize e
Cols, na pele dos animais
testados; formulações que
possuem CL 50 inalatória,
para ratos, superior a 2 mg / l
de ar por uma hora de
exposição e até 20 mg / l de ar
por uma hora de exposição,
inclusive
formulações que não
apresentam de modo algum,
opacidade na córnea e aquelas
que apresentam irritação leve,
reversível dentro de 24 (vinte
e quatro) horas, nas mucosas
oculares dos animais testados;
formulações que provocam
IV Pouco tóxicos >2000 >500 >4000 >1000
irritação leve ou um escore
inferior a 3 (três), segundo o
método de Draize e Cols, na
pele dos animais testados;
formulações que possuem CL
50 inalatória, para ratos,
superior a 20 mg / l de ar por
hora de exposição
*Estado físico do ingrediente ou formulação classificada.
85
ANEXO 3
MARCO DE FILTRAGEM
86
Os possíveis impactos das atividades a ser financiadas pelo projeto foram definidos
durante a fase de preparação do mesmo e encontram-se descritos no Plano de Mitigação de
Impactos, incluído na avaliação ambiental. O Plano de Mitigação de Impactos contêm as
medidas de mitigação desses impactos, custos, e responsabilidades. Porém, o projeto também
prevê a definição de algumas atividades durante o período de implementação do mesmo. Para
avaliar o impacto ambiental potencial dessas atividades e assegurar que medidas adequadas de
mitigação estão previstas, é necessário ter um sistema para analisar as atividades propostas.
Este marco de filtragem ambiental servirá como sistema para analisar as atividades
propostas durante a implementação do projeto de acordo com sua relevância para os objetivos
do projeto e ao grau de potencial impacto ambiental, e para proposição de medidas de mitigação
para qualquer potencial impacto negativo identificado.
Responsabilidades
Para as atividades propostas para os Componentes 1 e 3, o Marco de Filtragem será
aplicado pela entidade responsável pela implementação da atividade. O Comitê Coordenador do
Projeto terá a responsabilidade final de supervisionar a aplicação do Marco de Filtragem
Ambiental e a implementação das medidas de mitigação identificadas.
Para os subprojetos financiados no âmbito do Componente 2 o FUNBIO será
responsável por aplicar o Marco de Filtragem aos subprojetos propostos, previamente a sua
aceitação e apoio financeiro, no desenho de medidas de mitigação apropriadas. O Comitê
Coordenador do Projeto também terá a responsabilidade última de monitorar a implementação
dessas medidas de mitigação.
CATEGORIAS DE RISCOS
87
Quadro 1. Categorias de Riscos segundo o local de implementação e tipo de
atividade proposta.
Estas categorias são indicativas. No caso de que seja proposta uma atividade que não
esteja contemplada no Quadro 1, ou que uma avaliação preliminar sugira que sua categorização
deveria se diferenciar da categoria indicada no Quadro 1, a entidade responsável pela aplicação
do Marco de Filtragem determinará a categoria de risco apresentada pela atividade, segundo o
impacto ambiental possível e a localização em que se pretende desenvolver a atividade. Para a
determinação da categoria se deverá levar em conta questões como:
1. A atividade terá impactos de maneira negativa ou positiva em uma área mais extensa do
que a área de implementação da ação?
2. Há impactos negativos que são irreversíveis?
3. É uma zona especialmente frágil?
4. As atividades causarão menor impacto ambiental negativo do que os causados por
atividades anteriores?
5. É tradicional a atividade proposta?
6. Existe propriedade cultural na área em que a atividade será desenvolvida?
7. Qual é a dificuldade de aplicar os mecanismos de mitigação?
8. A atividade proposta é permitida no plano de manejo da unidade de conservação (se é
relevante)?
88
Quadra 2. Ficha para completar para atividades de categoria I, II ou III.
Medidas de Mitigacão e Temas
Tipo de Impacto Descrição de Impactos
para Consideração
Descrever o hábitat afetado, seu
Haverá perda de hábitat natural (ex.: tamanho e sua importância local. O que foi considerado para evitar
derrubada de florestas) São as mudanças reversíveis ou ou minimizar a perda de hábitat?
irreversíveis?
Qual seria o impacto? Causado Descrever atividades de
Impactos sobre a qualidade da água?
por qual atividade? mitigação.
Ver também as Políticas de
A área contem um sítio de Qual é o sitio? Poderia ser
Salvaguarda de Patrimônio
propriedade cultural? afetado pela atividade?
Cultural do Banco Mundial
Ver também a Política de
Para que fim os pesticidas serão
É previsto o uso de pesticidas? Salvaguardas de Manejo de
utilizados?
Pragas do Banco Mundial
O que se considerou para evitar
Há um impacto social sobre
ou para minimizar o impacto?
membros da comunidade
Qual é o impacto? Ver também as Políticas de
(deslocamento físico ou
Salvaguardas de Reassentamento
econômico?)
do Banco Mundial.
Há alternativas com espécies
Quais são as espécies? As
A atividade contempla a introdução nativas? Caso represente um
mesmas apresentam perigo de
de espécies que não sejam nativas? perigo, quais são as medidas para
escapar ou de propagar-se?
controlar as espécies exóticas?
QUESTÕES GERAIS
A atividade impactará de
Descreva o impacto e sua
maneira negativa ou positiva Descreva as atividades de
importância. Isto contribuirá para
uma área mais extensa do que a mitigação.
a um impacto cumulativo?
área da ação?
É uma zona especialmente Há outras áreas onde se pode
Por que é frágil?
frágil? implementar a atividade?
As atividades causarão menor É possível que, por ter impactos
impacto ambiental negativo do negativos menores, a situação
que as causadas pelas atividades final nova será melhor que a
anteriores? situação previa?
A atividade é permitida no plano Indicar como a atividade é
de manejo da unidade de permitida (ou não), fazendo
conservação (se é relevante)? referência ao plano de manejo.
89
Processo a Avaliar as Atividades e Determinar Mecanismos de Mitigação
Atividade
Proposta
Categoria I, II,
o III -- Seguir
Visita Especial ao
Campo
No caso de atividades classificadas como Categoria II, as quais têm mais probabilidade
de causar impactos ambientais negativos, a entidade implementadora deveria completar a ficha
de impactos ambientais e, além se seguir as melhores práticas, identificar medidas de mitigação
adicionais necessárias.
Para atividades da Categoria III, deve-se completar a ficha com um cuidado especial
dado que a atividade tem uma probabilidade media a alta de ter um impacto ambiental negativo.
90
Nesse caso será necessária uma visita a campo para investigar melhor os riscos e desenhar um
plano de manejo especializado para a atividade. (Quando relevante esse plano deveria incluir o
Plano de Manejo Integrado de Pragas).
Monitoramento
A entidade responsável pela implementação da atividade monitorará a aplicação dos
mecanismos de mitigação pelo menos uma vez por ano (duas vezes por Categoria III). MMA e
FUNBIO serão responsáveis por monitorar uma amostra representativa de atividades para
assegurar a categorização correta do risco, o cumprimento com os mecanismos de mitigação
relevantes e o cumprimento com as Políticas de Salvaguardas. Em todo caso, os mecanismos de
mitigação e planos de manejo deverão estar de acordo com as Políticas de Salvaguardas do
Banco Mundial. MMA e FUNBIO também serão responsáveis por monitorar os impactos
cumulativos de todas as atividades implementadas pelo projeto. Para todas as atividades, os
custos associados com a implementação dos mecanismos de mitigação ou o plano de manejo
serão incluídos no orçamento da atividade.
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