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RESENHA CRÍTICA DO TEXTO PRECONCEITOS NO COTIDIANO ESCOLAR:

ENSINO E MEDICALIZAÇÃO

Cecília Collares – psicóloga e professora responsável por amplas pesquisas na


área da Educação e Saúde – e Maria Aparecida Moysés – médica com
especialização em pediatria – refletem, através do texto “Preconceitos no
cotidiano escolar – ensino e medicalização”, sobre uma triste realidade das
escolas brasileiras, a qual nomeiam de tirocínio diagnóstico. Tal termo remete
à prática/habilidade – de cunho dito “infalível” – que qualifica professores
para diagnosticarem alunos aptos ou inaptos a aprender dentro das escolas.
Esta história, contada a partir do exemplo de um aluno (Reginaldo),
“infelizmente, não é um caso raro isolado. Ele apenas é uma entre milhões de
crianças das quais retiramos a individualidade, o rosto, às quais se imprime,
na escola, a mesma repetitiva história” (p. 25).
As autoras seguem revelando um sistema escolar débil e enferrujado,
entremeado por preconceitos/juízos prévios que pairam sobre as figuras do
aluno e de seus pais (apontados sempre como responsáveis pelo fracasso na
escola). O discurso dos educadores professa um sistema escolar de excelência
– eficaz apenas para crianças de vida artificial e idealizada –, que se mostra
difícil (quase impossível) de ser ministrado no ensino da criança concreta.
Para mascarar tal conjuntura, joga-se a culpa nos alunos (clientela inapta), o
que caracteriza o processo de biologização, ato de “transformar questões
sociais em biológicas” (p. 27). O processo é permeado pelo respaldo que
correntes científicas, tidas como verdades absolutas (“dogma de fé”), possam
pretensamente oferecer. Assim, a sociedade parece se isentar da
culpabilidade, ao depositar a culpa naquela que é, na verdade, a vítima:
minimiza-se o conflito (diálogo, questionamentos, “levantes”), abarcando a
problemática no senso-comum, para que a sociedade absorva as “verdades”
com resignação silenciosa. Na escola não é diferente: o foco é desviado de
uma possível discussão político-pedagógica para a “patologização do processo
ensino-aprendizagem” (p. 28), onde as causas e soluções para o (falido)
modelo de educação recaem sobre a Medicina, eximindo-o de qualquer culpa.
Collares e Moysés salientam a “capacidade preditiva e seu caráter auto-
realizador (‘profecia auto-realizadora’)” (p. 56), em relação aos alunos
identificados pelos educadores como fadados ao fracasso. Desta forma, muito
mais do que escolher quais alunos terão acesso ao ensino – e influenciar
diretamente na relação professor-aluno – “legitima-se a sua exclusão futura
do rol de cidadãos” (p. 59). E soluções para a problemática parecem não
interessar, pois os cursos compactados (imediatistas e emergenciais), a
utilização da ciência como embasamento para solver as falhas da escola
pública brasileira e a redução dos problemas de ordem político-pedagógica a
simples questões técnicas – ou seja, “receitas de bolo”, métodos – resultam
em cursos de reciclagem (do lixo na pedagogia do sistema escolar, diga-se de
passagem) que propõem resoluções imediatas sem reflexões para a promoção
de uma melhora consistente e substancial no campo pedagógico. Assim, não
há chance de o educador buscar o aperfeiçoamento e adequação de sua
prática em consonância com aquilo para o qual os referenciais teóricos
apontam, uma vez que os métodos sufocam qualquer reação neste sentido.
A pesquisa empreendida pelas autoras indica, ainda, a íntima relação traçada
entre problemas de saúde e fracasso escolar, amplamente aceita entre os
profissionais da educação e saúde, onde se recorre aos serviços de saúde para,
literalmente, sanar tal malogro. Vige o processo de medicalização,
normatizante e padronizante do comportamento social, onde o que foge do
“normal” é rotulado como doença, problema biológico, individual. Este
quadro é tido como empecilho/limitação à aprendizagem,
descontextualizando a situação do aluno ao desconsiderar fatores como
condição e histórico de vida, família e sociedade. Há uma inversão das
relações de causa-efeito, e preconceito e senso-comum são obstáculos
sistematicamente impostos para camuflar as raízes dos problemas sociais.
A identificação (rotulação) do aluno que requer cuidados médicos é
vulgarizada. O educador se encontra em posição de tomar tal decisão, uma
vez que os serviços de saúde são fonte formadora de professores. Isto mostra
a inadequada formação de tais profissionais, que embasam sua prática no bom
senso e na experiência – leia-se capacitadores do tirocínio diagnóstico.
As autoras ainda apontam a relação preconceituosa entre desnutrição e
fracasso escolar. Mesmo reconhecendo as conseqüências negativas de uma
desnutrição de grave intensidade, no início da vida (até 6 meses de vida pós-
natal) e de longa extensão temporal, nenhuma pesquisa se mostrou conclusivo
no que tange a traçar a correlação entre a desnutrição e o comprometimento
do raciocínio, uma vez que parece imensurável o potencial do ser humano.
Neste caso, a ciência não serve de respaldo para o discurso do fracasso
escolar como decorrência da desnutrição; porém, mesmo assim este discurso
parece dominar o cotidiano escolar, tornando nebulosa a visão dos
profissionais da educação para mudanças e evoluções neste sistema. Mais uma
vez, desconsidera-se a realidade social dos alunos e de suas famílias para
imperar a visão biológica e “o status social atribuído ao médico” (p. 100) e ao
restante dos profissionais da Saúde. Culpa-se a vítima – ignorante e relapsa –,
cujo único comportamento socialmente aceitável é o de resignar-se e aceitar
com conformismo silencioso a todos os juízos prévios que lhe são
atribuídos/impostos. Segundo Colares e Moysés, “a escola legitima essa
exclusão” (p. 260).
A partir da leitura prévia do texto, recomendo-o como forma de se atentar
para a realidade escolar brasileira, falha e estagnada, impregnada por
paradigmas preconceituosos. Portanto, o texto permite uma reflexão ao leitor
de onde devem incidir as mudanças que podem elevar o sistema de ensino a
um patamar ilibado, com professores capacitados e desprovidos de juízos
antecipados e torpes pela ação do senso-comum.

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