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1) O texto discute a prática de "tirocínio diagnóstico" na escola brasileira, onde professores diagnosticam prematuramente alunos como aptos ou inaptos ao aprendizado.
2) Isso é parte de um sistema escolar falho permeado por preconceitos que culpam os alunos e suas famílias pelo fracasso escolar.
3) O texto argumenta que isso desconsidera fatores sociais e individualiza problemas, medicalizando questões sociais para mascarar falhas no sistema educacional.
1) O texto discute a prática de "tirocínio diagnóstico" na escola brasileira, onde professores diagnosticam prematuramente alunos como aptos ou inaptos ao aprendizado.
2) Isso é parte de um sistema escolar falho permeado por preconceitos que culpam os alunos e suas famílias pelo fracasso escolar.
3) O texto argumenta que isso desconsidera fatores sociais e individualiza problemas, medicalizando questões sociais para mascarar falhas no sistema educacional.
1) O texto discute a prática de "tirocínio diagnóstico" na escola brasileira, onde professores diagnosticam prematuramente alunos como aptos ou inaptos ao aprendizado.
2) Isso é parte de um sistema escolar falho permeado por preconceitos que culpam os alunos e suas famílias pelo fracasso escolar.
3) O texto argumenta que isso desconsidera fatores sociais e individualiza problemas, medicalizando questões sociais para mascarar falhas no sistema educacional.
RESENHA CRÍTICA DO TEXTO PRECONCEITOS NO COTIDIANO ESCOLAR:
ENSINO E MEDICALIZAÇÃO
Cecília Collares – psicóloga e professora responsável por amplas pesquisas na
área da Educação e Saúde – e Maria Aparecida Moysés – médica com especialização em pediatria – refletem, através do texto “Preconceitos no cotidiano escolar – ensino e medicalização”, sobre uma triste realidade das escolas brasileiras, a qual nomeiam de tirocínio diagnóstico. Tal termo remete à prática/habilidade – de cunho dito “infalível” – que qualifica professores para diagnosticarem alunos aptos ou inaptos a aprender dentro das escolas. Esta história, contada a partir do exemplo de um aluno (Reginaldo), “infelizmente, não é um caso raro isolado. Ele apenas é uma entre milhões de crianças das quais retiramos a individualidade, o rosto, às quais se imprime, na escola, a mesma repetitiva história” (p. 25). As autoras seguem revelando um sistema escolar débil e enferrujado, entremeado por preconceitos/juízos prévios que pairam sobre as figuras do aluno e de seus pais (apontados sempre como responsáveis pelo fracasso na escola). O discurso dos educadores professa um sistema escolar de excelência – eficaz apenas para crianças de vida artificial e idealizada –, que se mostra difícil (quase impossível) de ser ministrado no ensino da criança concreta. Para mascarar tal conjuntura, joga-se a culpa nos alunos (clientela inapta), o que caracteriza o processo de biologização, ato de “transformar questões sociais em biológicas” (p. 27). O processo é permeado pelo respaldo que correntes científicas, tidas como verdades absolutas (“dogma de fé”), possam pretensamente oferecer. Assim, a sociedade parece se isentar da culpabilidade, ao depositar a culpa naquela que é, na verdade, a vítima: minimiza-se o conflito (diálogo, questionamentos, “levantes”), abarcando a problemática no senso-comum, para que a sociedade absorva as “verdades” com resignação silenciosa. Na escola não é diferente: o foco é desviado de uma possível discussão político-pedagógica para a “patologização do processo ensino-aprendizagem” (p. 28), onde as causas e soluções para o (falido) modelo de educação recaem sobre a Medicina, eximindo-o de qualquer culpa. Collares e Moysés salientam a “capacidade preditiva e seu caráter auto- realizador (‘profecia auto-realizadora’)” (p. 56), em relação aos alunos identificados pelos educadores como fadados ao fracasso. Desta forma, muito mais do que escolher quais alunos terão acesso ao ensino – e influenciar diretamente na relação professor-aluno – “legitima-se a sua exclusão futura do rol de cidadãos” (p. 59). E soluções para a problemática parecem não interessar, pois os cursos compactados (imediatistas e emergenciais), a utilização da ciência como embasamento para solver as falhas da escola pública brasileira e a redução dos problemas de ordem político-pedagógica a simples questões técnicas – ou seja, “receitas de bolo”, métodos – resultam em cursos de reciclagem (do lixo na pedagogia do sistema escolar, diga-se de passagem) que propõem resoluções imediatas sem reflexões para a promoção de uma melhora consistente e substancial no campo pedagógico. Assim, não há chance de o educador buscar o aperfeiçoamento e adequação de sua prática em consonância com aquilo para o qual os referenciais teóricos apontam, uma vez que os métodos sufocam qualquer reação neste sentido. A pesquisa empreendida pelas autoras indica, ainda, a íntima relação traçada entre problemas de saúde e fracasso escolar, amplamente aceita entre os profissionais da educação e saúde, onde se recorre aos serviços de saúde para, literalmente, sanar tal malogro. Vige o processo de medicalização, normatizante e padronizante do comportamento social, onde o que foge do “normal” é rotulado como doença, problema biológico, individual. Este quadro é tido como empecilho/limitação à aprendizagem, descontextualizando a situação do aluno ao desconsiderar fatores como condição e histórico de vida, família e sociedade. Há uma inversão das relações de causa-efeito, e preconceito e senso-comum são obstáculos sistematicamente impostos para camuflar as raízes dos problemas sociais. A identificação (rotulação) do aluno que requer cuidados médicos é vulgarizada. O educador se encontra em posição de tomar tal decisão, uma vez que os serviços de saúde são fonte formadora de professores. Isto mostra a inadequada formação de tais profissionais, que embasam sua prática no bom senso e na experiência – leia-se capacitadores do tirocínio diagnóstico. As autoras ainda apontam a relação preconceituosa entre desnutrição e fracasso escolar. Mesmo reconhecendo as conseqüências negativas de uma desnutrição de grave intensidade, no início da vida (até 6 meses de vida pós- natal) e de longa extensão temporal, nenhuma pesquisa se mostrou conclusivo no que tange a traçar a correlação entre a desnutrição e o comprometimento do raciocínio, uma vez que parece imensurável o potencial do ser humano. Neste caso, a ciência não serve de respaldo para o discurso do fracasso escolar como decorrência da desnutrição; porém, mesmo assim este discurso parece dominar o cotidiano escolar, tornando nebulosa a visão dos profissionais da educação para mudanças e evoluções neste sistema. Mais uma vez, desconsidera-se a realidade social dos alunos e de suas famílias para imperar a visão biológica e “o status social atribuído ao médico” (p. 100) e ao restante dos profissionais da Saúde. Culpa-se a vítima – ignorante e relapsa –, cujo único comportamento socialmente aceitável é o de resignar-se e aceitar com conformismo silencioso a todos os juízos prévios que lhe são atribuídos/impostos. Segundo Colares e Moysés, “a escola legitima essa exclusão” (p. 260). A partir da leitura prévia do texto, recomendo-o como forma de se atentar para a realidade escolar brasileira, falha e estagnada, impregnada por paradigmas preconceituosos. Portanto, o texto permite uma reflexão ao leitor de onde devem incidir as mudanças que podem elevar o sistema de ensino a um patamar ilibado, com professores capacitados e desprovidos de juízos antecipados e torpes pela ação do senso-comum.
Reflexão Crítica Dos Artigos "A Questão Das Dificuldades de Aprendizagem e o Atendimento Psicológico As Queixas Escolares" e "Ações de Psicólogos Escolares de João Pessoa Sobre Queixas Escolares"