Sei sulla pagina 1di 14

UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO

relato de pesquisa
ESCOLARIZADA DE SURDOS À LUZ DA
COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO

Maria Margarete da Silva*


Gustavo Henrique de Araújo Freire**

RESUMO O presente artigo aborda a educação escolarizada de surdos à


luz da competência em informação, tomando como referencia
o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para pessoas
surdas. Apresenta no marco teórico uma abordagem dos
aspectos legais e pedagógicos do AEE, aqui tratado como lócus
do Atendimento Educacional Especializado. Aborda, ainda,
aspectos teóricos da competência em informação e de ações
de informação. Tem como objetivo analisar o AEE na Escola
Professora Adelina Almeida em Petrolina PE, na perspectiva do
desenvolvimento de Competência em informação para inclusão * Mestre em Gestão em Organizações
Aprendentes pela Universidade Federal
social de alunos surdos. A investigação do objeto de estudo da Paraíba, Brasil. Especialista em
teve como método a pesquisa-ação, de natureza aplicada, Metodologia do Ensino Superior pela
Universidade Federal de Pernambuco,
numa abordagem qualitativa, cujos resultados evidenciam ações Brasil. Gestora da Escola Professora
concretas voltadas para o desenvolvimento de competência Adelina Almeida em Petrolina,
Pernambuco, Brasil. 
em informação e propiciadoras de novas estratégias didáticas E-mail: maria.margsilvaufpb@gmail.com.
na condução do aprender sempre e em todas as dimensões da
vida. ** Doutor em Ciência da Informação
pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Brasil. Docente permanente
Palavras-chave: Atendimento Educacional Especializado. Inclusão escolar de doPrograma de Pós-Graduação em
Ciência da Informação da Universidade
surdos. Competência em informação. Ações de informação. Federal da Paraíba, Brasil.
Abordagem bilíngue. E-mail: ghafreire@gmail.com.

1 INTRODUÇÃO Professora Adelina Almeida, em Petrolina, onde


funciona a sala de recursos multifuncionais ou

O
sala de AEE, cujas atividades desenvolvidas
presente trabalho apresenta uma rede nesse espaço têm como fundamento legal e
conceitual acerca da competência em pedagógico a abordagem bilíngue que, mediada
informação e situa essa temática dentro pelas tecnologias, assume um caráter inovador
das ações de informação realizadas na educação no processo de criação, socialização e utilização
escolarizada de surdos, visando à aquisição da informação de forma competente.
de um embasamento teórico para verificar, no Para tratar das questões teóricas e práticas
campo empírico desta pesquisa, as competências relativas à competência, cruzamos diversas teias
informacionais desenvolvidas por alunos surdos, conceituais construídas por Perrenoud (2013),
inclusos no ensino regular, a partir de um olhar Sacristan (2007), Levy (1999), Ropé; Tanguy
para o Atendimento Educacional Especializado (1997), Bourdieu (1982), Le Boterf (1994), Jonnaert
(AEE), aqui apresentado como um dos objetivos (2010) Nascimento; Freire; Dias (2012), Castells
da Política Nacional de Educação Especial na (2003) e Silva Neto; Freire, (2014). Essa tessitura
Perspectiva Inclusiva. teórica trouxe sustentação à busca de evidências
Como lócus privilegiado para a da competência em informação na práxis dos
organização dos processos de ensino e sujeitos organizacionais, em seu movimento
aprendizagem de surdos, apresentamos a Escola cotidiano sem, contudo, desconsiderar

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017 161
Maria Margarete da Sila e Gustavo Henrique de Araújo Freire

as especificidades dos percursos por ela a organização pedagógica da sala de AEE supõe a
desenhados, os eixos comuns da discussão e utilização de muitas imagens ou outros subsídios
as fragilidades relacionadas a sua “definição”, que possam contribuir com a aprendizagem dos
“evidência” e “missão”, como anuncia Perrenoud conteúdos estudados em sala de aula. (BRASIL,
(2013). 2005, p. 1),
Buscamos, ainda, em Gonzalez de Gomez Contudo, as atividades a serem realizadas
(2003), Freire (2013, 2014), Collins e Kush (1999), na sala de AEE devem ter como fundamento legal
elementos para compreender a dinâmica das e pedagógico a abordagem bilíngue, garantida
ações de informação desenvolvidas no lócus do pelo Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005,
atendimento educacional especializado, à luz da que visa preparar alunos surdos para utilizar
competência em informação. tanto a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS),
Visando identificar os elementos teóricos aqui tratada como primeira língua (L1), quanto
materializados no terreno fértil do campo a segunda língua (L2), qual seja a língua dos
empírico da pesquisa, seguimos um caminho ouvintes da comunidade onde os surdos estão
metodológico iluminado pela pesquisa-ação, inseridos.
de natureza aplicada, que numa abordagem Todavia, estudos voltados para a área
qualitativa, possibilitou o alcance do objetivo da surdez têm demonstrado que a abordagem
da nossa pesquisa, qual seja ,analisar a educação baseada no bilinguismo tem apresentado
escolarizada de surdos, a partir do atendimento eficácia “em virtude de respeitar a língua
educacional especializado (AEE) na Escola natural e construir um ambiente propício para
Professora Adelina Almeida em Petrolina-PE, a aprendizagem escolar” (BRASIL, 2010, p. 7).
sob o viés da competência em informação para Com efeito, “o ambiente educacional bilíngue
inclusão social de alunos surdos. é importante e indispensável, já que respeita a
A definição desse objetivo foi decisiva estrutura da Libras e da Língua Portuguesa”,
para a construção do caminho metodológico e por entender que a negação do bilinguismo
para o desvelamento da realidade acerca da se constitui numa redução da autonomia dos
competência em informação, no cerne do surdos perante o mundo e, por conseguinte, na
Atendimento Educacional Especializado (AEE), minimização das possibilidades de construção de
na escola em que foi realizada a pesquisa. competência em informação para uma inclusão
efetiva na vida social e no trabalho. (DAMÁZIO,
2007, p. 37).
2 ATENDIMENTO EDUCACIONAL Dito de outra forma, a ausência do estudo
ESPECIALIZADO NA EDUCAÇÃO da Língua Portuguesa para alunos surdos,
ESCOLARIZADA DE SURDOS além de se constituir num descumprimento
da legislação em vigor, a nosso ver, limita as
O Atendimento Educacional Especializado possibilidades dos alunos surdos realizarem
(AEE) para surdos, orientado pela Política leitura e compreensão dos conhecimentos
Nacional de Educação Especial na Perspectiva acumulados ao longo dos tempos e reduz as
da Educação Inclusiva de 2008, tem como possibilidades apropriação das várias literaturas
local de oferta na escola, a sala de recursos disponíveis, majoritariamente, em Língua
multifuncionais, que consiste num espaço físico Portuguesa no caso do Brasil.
contendo mobiliários, materiais didáticos, A rigor, para que a pessoa surda tenha
recursos pedagógicos de acessibilidade e suas especificidades atendidas, conforme o
professores capacitados para ministrar aulas Manual de Orientação: Programa de Implantação
utilizando a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), da Sala de Recursos Multifuncionais (BRASIL,
como meio de comunicação e interlocução entre 2010), faz-se necessário que os profissionais
o professor, o conteúdo e o aluno surdo. do AEE construam um plano de atendimento
Considerando a pessoa surda como que contemple a diagnose das habilidades e
“aquela que, por ter perda auditiva, compreende necessidades específicas dos alunos surdos,
e interage com o mundo por meio de experiências cronograma de atendimento, recursos
visuais, manifestando sua cultura principalmente pedagógicos necessários, relação de professores,
pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras” intérpretes e instrutores que atendem na sala de

162 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017
Um olhar sobre a educação escolarizada de surdos à luz da competência em informação

AEE, os obstáculos que interferem no processo Maximizando esse entendimento Moran


de aprendizagem e de inclusão e o modo (2013), atesta que os professores devem incentivar
organizacional de avaliação da aprendizagem, a busca e a pesquisa na internet, aumentando
para verificar pontualmente a contribuição do a complexidade das atividades à medida que
Atendimento Educacional Especializado para eles demonstrarem avanços a partir dos níveis
o aluno surdo matriculado na escola regular mais simples. Importante, ainda, é o professor
(DAMÁZIO, 2007). incentivar seus alunos a saberem fazer perguntas,
A partir desse plano, que visa priorizar questionamentos importantes, construir
potencializar o planejamento, a execução, critérios de escolhas de sites e páginas a serem
o monitoramento e a avaliação das ações a consultadas, a fazer comparações entre textos
serem desenvolvidas na sala de AEE, e em diversos para perceber ideias semelhantes e
conformidade com o decreto 5.626/ 2005, o aluno divergentes a partir de visões diferentes.
surdo tem direito a três momentos didáticos na Importante considerar, ainda, que as ações
escola, tais como: o atendimento educacional a serem desenvolvidas na educação escolarizada
especializado em Libras, aqui referendado em todo processo educativo que envolve os
como o atendimento de complementação surdos, à luz da competência em informação,
e suplementação da aprendizagem a ser deve estar pautada na Proposta Pedagógica da
realizado, preferencialmente, na sala de AEE; Escola, tendo como lócus de desenvolvimento a
o Atendimento Educacional Especializado de sala de recursos multifuncionais, de onde se pode
Libras oferecido àqueles que não têm, ainda, o visualizar o tamanho do impacto que as ações
domínio da Libras; e o Atendimento Educacional ali desenvolvidas provocarão e se provocarão
Especializado da Língua Portuguesa, no caso na educação, numa lógica de construção de
do Brasil. competências em informação que proporcionem
Com efeito, as tecnologias digitais, em uma real igualdade de oportunidades e
especial, a internet, podem ser integradas às enriquecimento para todos.
ações do AEE de forma inovadora em atividades
de pesquisa e de comunicação que integrem
professores e alunos surdos em atividades 3 A REDE CONCEITUAL DA
voltadas para o envolvimento entre grupos COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
dentro e fora da escola, seja através de redes
sociais ou ainda para publicação de atividades, Nos últimos anos, o termo competência
eventos em paginas de web, vídeos, blog. Ou, tem entrado na pauta das discussões
ainda, na complementação das aprendizagens e empresariais e acadêmicas sob vários enfoques
na criação de novas possibilidades de interação, e à luz de várias concepções teóricas, inclusive
de construção de conhecimento e por que com base no senso comum. Em contrapartida,
não dizer, na construção de competência em há uma discussão histórica da necessidade de se
informação, já que construir competências para o enfrentamento da
vida desde a escola.
[...] o aprendizado baseado na Contudo ressaltamos que construir
Internet não é apenas uma questão
competência, sobretudo competência em
de competência tecnológica: um novo
tipo de educação exigido tanto para informação, carece da inclusão desse campo
se trabalhar com a internet quando conceitual nas discussões atuais, na realidade
para se desenvolver a capacidade de vivida e no contexto onde se insere, visando o
aprendizado numa economia e numa entendimento de como desenvolvê-la na práxis
sociedade baseada nela. A questão
dos sujeitos organizacionais em seu movimento
crítica é mudar do aprendizado para o
aprendizado-de aprender, uma vez que cotidiano, o que sugere uma tecitura dos fios
a maior parte da informação está on- dessa trama visando à construção de pistas para
line e o que é realmente necessário é a o seu desvelamento.
habilidade para decidir o que procurar, Destarte, o entendimento do campo
como obter isso, como processá-lo e
semântico da competência traz certas fragilidades
como usá-lo para a tarefa especifica
que provocou a busca da informação como aponta por Perrenoud (2013). A primeira
(CASTELLS, 2003, p. 201). delas diz respeito à definição, à forma vaga e

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017 163
Maria Margarete da Sila e Gustavo Henrique de Araújo Freire

incerta como o termo competência se apresenta e a atuação dos sujeitos nas suas atividades
a cada ator que a procura, tornando difícil cotidianas (BOURDIEU apud PERRENOUD,
saber de que competência se está falando ou se 2013, p. 45). Enriquecendo essa trilha teórica, Le
quer desenvolver, já que cada ator define a sua Boterf (1994), citado por Perrenoud (2013, p. 45)
maneira, a partir de um referencial próprio afirma que
ou de uma situação apresentada. A segunda,
refere-se à fragilidade empírica no que diz [...] a competência não é um estado,
e sim um processo, um saber agir. O
respeito à confirmação da evidência. E, a terceira
operador competente é aquele que é
fragilidade, diz respeito à missão da escola. capaz de mobilizar e colocar em prática,
Ao apontar a missão da escola como uma de modo eficaz, as diferentes funções de
fragilidade Perrenoud (2013) questiona se é um sistema no qual intervêm recursos
missão da escola preparar para a continuidade tão diversos quanto às operações
de raciocínio, os conhecimentos, as
dos estudos ou desenvolver competências
atividades da memória, as avaliações, as
visando à preparação para a vida. Ou, ainda, capacidades relacionais ou os esquemas
como alerta Sacristan (2007) se essa missão se comportamentais.
presta ao desenvolvimento de ações de “concreta
utilidade produtiva” que possibilite aos sujeitos Ampliando Le Boterf, Jonnaert (2010)
a preparação para uma vida real (SACRISTAN, explica que competência é percebida em
2007, p. 55). Enriquecendo essa discussão, Levy processo, na ação e, portanto, não é algo que
(1999, p. 157), afirma que “os percursos e perfis se pode prever. Contudo, ela está relacionada
de competências são todos singulares”, exigindo, a uma situação ou grupo de situações e ao
conforme (ROPÉ; TANGUY, 1997) que se leve em campo da experiência, e tem como elemento de
consideração as situações concretas, o contexto maior destaque, a presença de uma pessoa na
e os indivíduos, pois não é possível dar uma coordenação e atuação.
definição a essas noções de maneira separada dos Diante disso, torna-se um equívoco olhar
sujeitos e das tarefas nas quais a competência se a competência por um único viés, já que ela
materializa. potencializa a resolução de problemas a partir de
Buscando o entendimento de como diferentes campos conceituais e faz referência a
se percebe e se constrói essa competência é diferentes problemas e situações, no entanto para
preciso considerar que, para ser competente efeito da nossa pesquisa, é importante destacar
em informação, de acordo com a American as competências em informação propostas por
Library Association (1989), citada por Amadeo Perrenoud (2000, p. 12), quais sejam:
(2012, p.15) “uma pessoa deve ser capaz de
reconhecer quando a informação é necessária [...] organizar e dirigir situações de
e ter a habilidade para localizar, avaliar e aprendizagem; administrar a progressão
das aprendizagens; conceber e fazer
usar efetivamente essa informação”. Nesse evoluir os dispositivos de diferenciação;
entendimento, Bourdieu (1982), citado por envolver os alunos em sua aprendizagem
Ropé e Tanguy (1997), sugere prudência ao e em seu trabalho; trabalhar em equipe;
analisar o espaço que as palavras ocupam participar da administração da escola;
nos discursos e na construção dos desígnios informar e envolver os pais; utilizar
novas tecnologias; enfrentar os deveres
sociais, evitando pronunciamentos do tipo: e os dilemas éticos da profissão;
aquele aluno é muito competente ou aquele administrar sua própria formação
aluno não tem competência, já que o conceito contínua.
de competência se insere em diferentes campos
conceituais e pode fazer referência a diferentes Contudo, numa leitura de Perrenoud
problemáticas dependendo do contexto social, (2013, p. 45), há um consenso na definição de
econômico, educacional e em função da atividade competência como sendo “o poder de agir
a ser desenvolvida por um sujeito que se diz com eficácia em uma situação, mobilizando
competente. e combinando, em tempo real e de modo
Diante do exposto, torna- se “impossível pertinente, os recursos intelectuais e emocionais”,
propor uma visão única de competência”, o que sem perder de vista as categorias apresentadas
exige considerar a singularidades dos perfis por Sacristan (2007), quais sejam o uso do

164 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017
Um olhar sobre a educação escolarizada de surdos à luz da competência em informação

conhecimento, da informação e da tecnologia das tecnologias digitais no ensino”, que, a


de forma interativa, sem as quais teremos nosso ver, conduzem ao aprendizado contínuo
consequências sociais graves. Nesse viés, Castells e ao desenvolvimento de competências em
(2003, p. 211) aponta que: informação (SILVA NETO; FREIRE, 2014, p. 47).
Identificar, ainda, quais competências es-
[...] se há um consenso acerca das tão sendo trabalhadas na escola e que ações es-
consequências sociais do maior acesso
tão sendo desenvolvidas, a fim de possibilitar a
à informação é que a educação e o
aprendizado permanente tornam –se preparação para a vida, pois “nada nos diz qual
recursos essenciais para o desempenho seria o uso que os alunos fariam dos saberes e
no trabalho e o desenvolvimento competências disciplinares fora de sua vida esco-
pessoal. Embora aprendizado seja lar e depois da sua escolaridade numa vida que,
mais amplo que educação, as escolas
evidentemente, não é disciplinar” (AUDIGIER,
ainda tem muito a fazer com relação
ao processo de aprendizado [...] mas 2010, apud PERRENOUD, 2013, p. 65).
a internet e a tecnologia educacional Nesse sentido a sociedade da informação,
em geral só são vantajosas quando os sugere através de uma prática interdisciplinar,
professores se mostram preparados. que a escola vislumbre a construção de ações de
informação que potencializem novas formas e
Isso nos faz supor que um dos grandes fontes de acesso, utilização, análise e avaliação
desafios da escola é desenvolver competências da informação, com vistas ao atendimento
para a construção de uma “sociedade na qual das exigências atuais do mundo acadêmico e
todos os indivíduos ou grupos sociais sejam profissional, que hoje assume novos contornos
capazes de criar, utilizar e acessar informação e exige o desenvolvimento de competência em
e conhecimento de modo eficiente” e, por informação.
conseguinte, uma sociedade que potencialize
indivíduos competentes em informação
(NASCIMENTO; FREIRE; DIAS, 2012, p. 174). 4 AÇÕES DE INFORMAÇÃO
Em contrapartida, a escola carece de ter um
olhar para esse novo desenho da sociedade Levando em consideração que tratar de
que é a sociedade da informação, aqui tratada ação de informação requer um estudo do que seja
como aquela que convive com uma evolução esse fenômeno e das formas pelas quais se mani-
tecnológica sem precedentes, marcada pela festa nas organizações, buscamos um caminho a
atividade acelerada da comunicação em rede, partir de Gonzalez de Gomez (2003b, p. 34) que
que além de potencializar a criatividade na define a ação de informação como sendo
pesquisa e na investigação, pressupõe um [...] um conjunto de estratos
profundo restabelecimento de todas as relações heterogêneos e articulados identificados
que envolvem o processo de ensinar e aprender. como: a) de informação(semântico-
Esse pressuposto nos põe diante de um di- pragmática), estrato polimórfico que
se define nos inúmeros setores da
lema que é o de investigar se a escola está con- produção social sob a forma de ações
siderando essa nova arquitetura da sociedade da narrativas; b) de meta-informação,
informação e se, de forma efetiva, está potenciali- estrato regulatório definido nos
zando nos sujeitos envolvidos a necessária com- espaços institucionais do Estado,
petência em informação, já que diferentemente do campo científico, da educação
formal, da legislação e de contratos;
do pedreiro, que ganha competência na área da c) de infraestrutura de informação,
construção civil no exército prático, a competên- estrato mimeomórfico dos objetos de
cia do futuro trabalhador se constrói essencial- informação, definido na indústria e nos
mente na escola, “antes de ser testada no mer- mercados das tecnologias, das máquinas
cado de trabalho” (STROOBANTS apud ROPÉ; e dos produtos mediante ações técnico
e econômicas, normas técnicas modelos.
TANGUY, 1997, p. 159).
Esse entendimento nos coloca diante Maximizando esse entendimento,
de outro desafio, que é “identificar as formas apresentamos através da figura a seguir, os
adequadas de formação de professores para estratos, domínios e modalidades das ações de
que os mesmos possam fazer uso adequado informação,

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017 165
Maria Margarete da Sila e Gustavo Henrique de Araújo Freire

Figura 1 - Estratos, domínios e modalidades das ações de informação.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016), baseados em Freire (2014).

Contudo, para orienta a percepção das numa outra ação de informação, de


evidências dessas ações, Freire (2013, p. 76), modo que – ainda quando de autonomia
ancorada em Gonzalez de Gomez (2003b), relativa – dela obtém a direção e fins).
apresenta três modalidades de manifestação da
Nesse ínterim, ação de mediação,
ação de informação, a saber: mediação, formação
conforme Gonzalez de Gomez (2003a, p. 77), visa
e relacional que, dependendo do contexto
orientar outra ação dos sujeitos, aqui tratados
em que ocorrem, podem se revelar de formas
como funcionais, cuja prática é definida no
variadas.
contexto de sua atuação, no interior das várias
Reforçando esse entendimento, González
atividades sociais vislumbrando a transformação
de Gómez (2003b, p.36), apoiada nas categorias
do mundo social ou natural. Já a modalidade
de Collins e Kush (1999), apresenta as
formativa, produzida por “sujeitos heurísticos”
possibilidades de manifestação das informações
ou “experimentadores”, visa transformar
através da
o conhecimento para, assim, transformar o
[...] a) ação de informação de mundo, referendada pelas transformações dos
mediação(quando a ação de informação “modos culturais de agir e de fazer, nas artes, na
fica atrelada aos fins e orientação de política, na ciência, na indústria e no trabalho,
uma outra ação); b) ação de informação iniciando um novo domínio informacional”, que
formativa(aquela que é orientada à
informação não como meio mas como assume um caráter de finalização e não de meio
sua finalização); c) ação de informação (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2003b, p. 36).
relacional (quando uma ação de Por sua vez, a modalidade relacional,
informação tem como finalidade intervir enquanto meta-informação desenvolvida por

166 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017
Um olhar sobre a educação escolarizada de surdos à luz da competência em informação

sujeitos sociais articuladores, diz respeito a a resolução de problemas reais da comunidade


informação que procura intervenção em outra campo de pesquisa, nesse caso, a Escola
ação “para dela obter direção e fins, ampliando Professora Adelina Almeida (EPAA), localizada
seu espaço de realização” e sugerindo uma na Avenida Monsenhor Ângelo Sampaio, S/N,
intervenção nas organizações. Ação que assume no Bairro Areia Branca, Petrolina-PE.
materialização nas organizações através de Essa instituição iniciou suas atividades
resultados de pesquisas sistematizadas em em 1969 e, considerando o dedicado trabalho
dissertações, por exemplo, (GONZÁLEZ DE com a “inclusão de alunos com deficiência
GÓMEZ, 2003b, p. 37). intelectual em salas de ensino regular”, em
Ainda, na perspectiva de Gonzalez 1990 foi reconhecida, pela comunidade do Vale
de Gomez (2003b), para uma melhor do São Francisco, como Escola de Referencia
conceitualização, sugerimos pensar a ação de em Educação Especial (ARAUJO, 2015, p.
informação a partir de uma relação estreita com 31). E, embora o Atendimento Educacional
a “ação social como forma de vida” que, por Especializado (AEE) estivesse legalmente
conseguinte, apresenta singularidades que a faz garantido desde a promulgação da Constituição
diferente de outros modos de ação e “formas de Federal de 1988, somente em 1992 teve início, na
vida”. Escola esse o serviço para alunos com deficiência
Isso posto, podemos dizer que esse modelo auditiva matriculados no ensino regular, mesmo
teórico de ações de informação aqui apresentado de forma itinerante.
se encontra materializado nas ações das escolas Todavia, o AEE, na EPAA, somente se
a partir de aulas expositivas e dialogadas, efetivou na sala de recursos multifuncionais
momentos de formação de professores, palestras a partir de 2008, quando a Escola recebeu
envolvendo a comunidade escolar, oficinas, do Ministério de Educação e Cultura (MEC)
seminários, entre outras ações, numa relação materiais como: computadores acessíveis, data
dialética com os seus atores representados pela show, computadores convencionais, televisão,
comunidade escolar (pais, alunos, professores, impressora Braille e vários materiais de apoio
gestores, coordenadores, analistas educacionais). didático (livros e jogos diversos em Braille e em
Todavia, conforme Freire (2014, p. 138), Libras).
há que se considerar que na essência dessa Hoje, na condição de Escola Polo de Ensino
abordagem, a arquitetura da “comunicação em Médio, continua com expressivas ações voltadas
rede mediada pela Internet adquire inestimável para a inclusão de pessoas com deficiência
valor no que concerne ao atendimento de onde se constata, consolidado na proposta
necessidades informacionais dos sujeitos sociais” pedagógica da Escola, um plano de formação
envolvidos, na formulação de sugestões, na continuada, coordenado e desenvolvido
construção de propostas de ações de informação, pelos próprios professores, juntamente com a
bem como na potencialização de competência coordenação pedagógica e a equipe gestora. Esse
em informação. plano atende as necessidades da comunidade
interna e externa através de formação, tanto
5 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO no tocante aos referenciais teóricos que
orientam o desenvolvimento de competências
NO LÓCUS DO AEE: A TRILHA informacionais para surdos, como na construção
METODOLÓGICA E O CAMPO DA da proficiência em Libras.
PESQUISA Durante a pesquisa foi identificado na sala
de atendimento educacional especializado, um
Para construir a trilha metodológica painel com a relação dos alunos matriculados
em busca de evidências da competência em no AEE e com seus respectivos horários de
informação na educação escolarizada de atendimento, especificando, também, o professor
surdos buscamos inspiração em Brasileiro responsável pelo atendimento e um cronograma
(2013), que nos direcionou para um caminho de formação em Libras para pais, professores e
metodológico baseado na pesquisa-ação, de alunos ouvintes.
natureza aplicada, numa abordagem qualitativa, Vale ressaltar que o processo de inclusão
visando potencializar os resultados obtidos para de alunos especiais em classes regulares somente

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017 167
Maria Margarete da Sila e Gustavo Henrique de Araújo Freire

se efetivou com mais intensidade a partir de principiante, diálogos informais com os surdos.
2008, com o advento da Política Nacional de Já nas atividades diárias, em sala de aula,
Educação Especial na Perspectiva Inclusiva. E, continuam subsidiados por um intérprete de
embora houvesse resistência por parte dos pais Libras que traduz, simultaneamente, o conteúdo
e responsáveis pela inclusão dos alunos especiais oficial trabalhado em sala de aula.
em classes regulares, o processo de inclusão na Com relação ao corpo discente, no cenário
EPAA foi se intensificando em cumprimento a atual, a Escola Professora Adelina Almeida
essa Política e, por conseguinte, AEE foi sendo (EPAA) funciona em três turnos e conta com
consolidado na Proposta Pedagógica da Escola e um quantitativo de 938 alunos matriculados.
nas ações concretas vivenciadas por professores e Desses, 23 (%) são alunos deficientes intelectuais
alunos surdos. matriculados no Ensino Fundamental Inicial
E, embora todas as ações direcionadas para Especial (EFAIESP); 446 encontram-se
o AEE envolvam os funcionários da EPAA, de um matriculados no Ensino Fundamental Final
modo geral, o trabalho para o desenvolvimento (EFAF9); 438 no Ensino Médio (ENME); e 31 no
das competências informacionais dos alunos Programa Travessia Médio.
surdos está diretamente relacionado aos docentes Conforme distribuídos no gráfico a seguir,
das salas regulares nas quais os surdos estão do total de alunos, em atendimento ao aspecto
inclusos; aos intérpretes que atuam diariamente transversal da educação especial em todos os
nas salas de aulas regulares traduzindo para níveis e modalidades de ensino, cinquenta e um
Libras os conteúdos apresentados em Língua alunos são surdos inclusos no Ensino Regular e
Portuguesa; e aos instrutores surdos que no Programa Travessia Médio.
desenvolvem o ensino de Libras, promovendo o
enriquecimento do vocabulário científico através
Gráfico 2 - Matrícula geral da EPAA x alunos surdos
do trabalho com sinais desconhecidos pelos
alunos surdos.
Apesar das evidências de que todos os
funcionários da escola pesquisada se relacionam
e se comunicam com os surdos, mesmo que de
forma limitada por não dominarem a Libras,
dos 95 funcionários da escola, são 54 que têm
envolvimento direto nas atividades pedagógicas
com surdos, conforme mostra o gráfico a seguir.

Fonte: Portal do SIEPE (2015).


Gráfico 1 - Profissionais que atendem
diretamente aos surdos.
40 Como se pode observar, a turma do
35
35 EFAIESP é constituída de 23 alunos que,
30 conforme dados da pesquisa, apresentam
25 acentuada deficiência intelectual. Em função
20
disso, segundo os professores de AEE, não seria
15 10
10 6
pertinente matricular surdos nessa turma, pois
5 3 assim poderia inviabilizar a educação bilíngue.
0 No entendimento dos professores da
Docentes do Docentes do Interpretes Insrutores instituição estudada, a educação de surdos
Ensino AEE para de Libras Surdos
Regular surdos no Ensino Fundamental Inicial – em função
do estudo da Libras como primeira língua –
Fonte: Dados da pesquisa.
deve se dar em classe especial, e não de forma
inclusa, uma vez que numa classe regular
Vale ressaltar que dos 35 professores ou numa sala especial constituída de alunos
do ensino regular, apenas quatro participam com deficiência intelectual, auditiva, visual,
de cursos de Libras e desenvolvem, de forma por exemplo, ou de alunos sem deficiência, a

168 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017
Um olhar sobre a educação escolarizada de surdos à luz da competência em informação

língua materna empregada seria o português e, uma revisão de conteúdos curriculares estudados
consequentemente, todo ensino estaria pautado para que o aluno surdo possa tirar eventuais
nessa língua. dúvidas ainda não sanadas, momento em que
Ademais, na compreensão dos professores os professores do AEE se utilizam de diversos
de AEE, essa educação bilíngue nos primeiros recursos visuais, dominó, quebra-cabeça, jogo
anos do ensino fundamental, deve ocorrer numa da memória e, em escala bem menor, os jogos
sala somente de surdos, já que eles ainda não on-line. E, e quando o conceito ou o conteúdo é
têm o domínio da língua materna (Libras) e muito abstrato, recorrem a outros recursos, como
necessitam de um tempo pedagógico maior com o teatro e a dramatização.
seus pares para se apropriarem da linguagem As tarefas propostas para casa são
de sinais, que na concepção dos professores, realizadas, na sua maioria, na sala de AEE
esse posicionamento não contraria os princípios onde os alunos, juntamente com o professor,
inclusivos da Política Nacional de Educação proficiente em Libras, realizam pesquisas
Especial na Perspectiva Inclusiva, pelo contrário utilizando livros e, com mais frequência,
fortalece-a, uma vez que prepara os alunos a ferramenta de busca Google. Também,
surdos do EFAIESP no aprendizado de Libras juntamente com os professores de AEE, os alunos
para uma inclusão mais fortalecida no EFAF9. organizam os materiais a serem apresentados em
Entretanto, como detalhado no quadro sala a partir da utilização de programas de edição
1, mesmo constando nos documentos legais e de texto, como o Word, PowerPoint e, com bem
pedagógicos, a educação bilíngue ainda não está menos frequência, o Excel.
garantida na escola pesquisada, pois embora a Entre os artefatos de informação utilizados
legislação assegure direito a atendimentos de pela comunidade da Escola, evidencia-se o uso
Libras, em Libras e de Língua Portuguesa como expressivo do data show e uma predominância do
segunda língua, apenas dois desses momentos uso do celular para pesquisa e disseminação da
didático-pedagógicos são oferecidos aos alunos informação e troca de mensagens para informar
surdos matriculados na Escola. eventuais mudanças no cronograma do plano
de ação e para informes de modo geral. Essas
Quadro 1 - Atendimento educacional são ferramentas importantes, pois, considerando
especializado para alunos surdos na EPAA. que os surdos são muito visuais, esses artefatos
facilitam a aprendizagem, a comunicação, a
a) Em Libras: realizado por busca e a disseminação da informação.
professor ouvinte e proficiente No tocante a Língua Portuguesa (L2),
AEE para em Libras para traduzir/explicar embora, ainda, não tenha encontrado espaço
surdos na os conteúdos curriculares oficiais de desenvolvimento na Escola Professora
EPAA usando a Linguagem Brasileira de Adelina Almeida (EPAA) na sua totalidade, a
Sinais (Libras), potencializando, comunidade escolar entende que ela representa
ainda, reforçar aprendizagens de a possibilidade de desenvolvimento de uma
conteúdos já ensinados na sala competência, ainda não adquira pela maioria dos
de aula regular. surdos, que é compreender essa língua nos níveis
b) De Libras: Ensino de Libras morfológico, sintático e semântico-pragmático
realizado por instrutor surdo e, assim, apropriar-se de um conhecimento já
e proficiente em Libras. adquirido naturalmente pelos ouvintes, que
Esse trabalho favorece o é o reconhecimento da estrutura da Língua
conhecimento de termos Portuguesa.
científicos e fornece a base E, mesmo sabendo da existência de livros
conceitual dessa língua. escritos na Linguagem Brasileira de Sinais,
Fonte: Dados da pesquisa.
constatamos que a grande maioria dos mateiras
didáticos da EPPA se encontra em Língua
Esse Atendimento Educacional Portuguesa. Em consequência disso, e pelo fato
Especializado em Libras, que ocorre na sala de dos surdos não terem o domínio da L2, dos 51
AEE, visa reforçar ideias essenciais trabalhadas surdos apenas um procurou a biblioteca para
no cotidiano da sala regular e se presta a oferecer leituras. E, conforme a bibliotecária, os surdos,

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017 169
Maria Margarete da Sila e Gustavo Henrique de Araújo Freire

por serem muito visuais e também por não terem tratar dos aspectos políticos e pedagógicos do
o domínio satisfatório da estrutura da Língua Atendimento Educacional Especializado (AEE)
Portuguesa, leem, preferencialmente, gibis e como no estudo dos conteúdos de formação geral
livros escritos em quadrinhos, utilizando-se das para o ensino, a partir do Pacto Nacional pelo
imagens para complementar a compreensão e o Fortalecimento do Ensino Médio e , ainda, as
sentido do texto. ações de informação, realizadas pela educadora
Essa limitação na leitura em Língua de apoio e pela professora de AEE, a exemplo
Portuguesa, a nosso ver, traz algumas da formação de professores (palestras, oficinas,
implicações no tocante à construção da atividades de ensino em si e, de forma mais
competência em informação, já que a maioria ampla, aulas de Libras), sistematizadas num
dos materiais didáticos da Escola e os conteúdos dispositivo de informação denominado Plano
de diversos sites de busca são disponibilizados de AEE, que estabelece uma sintonia com as
exclusivamente em Língua Portuguesa, o demandas da comunidade escolar, em especial,
que, a nosso ver, representa uma lacuna no dos alunos surdos.
desenvolvimento da competência em informação. Já a modalidade de ação formativa, foi
Contudo, o conjunto, formado pela práxis visualizada nas atividades de ensino em si,
dos professores e alunos surdos da EPAA, a através das disciplinas do currículo, do ensino
base legal, a realidade contextual, os conteúdos de Libras (que ocorre no contraturno mediado
curriculares e os recursos pedagógicos utilizados pelo professor instrutor) e do ensino em Libras
vão, mesmo com algumas fragilidades, dando (que ocorre na sala de aula regular, mediado
materialidade à Política Nacional de Educação por um intérprete de Libras e também na sala
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e de Atendimento Educacional Especializado
ganhando visibilidade na Escola, contribuindo, ou sala multifuncional) e, ainda, através da
assim, para que os alunos surdos possam oferta, à comunidade interna e externa, de
construir competência em informação. curso voltado para a proficiência em Libras,
nos níveis básico, intermediário e avançado,
com uma carga-horária total de 40 horas. Essa
5.1 Um olhar empirico sobre a ação de
modalidade como parte integrante do estrato
informação mimeomórfico da infraestrutura da informação,
faz referência, também, as atividades de inovação
As ações de informação evidenciadas e aos materiais de apoio, a exemplo da tecnologia
no espaço do Regime de Informação da Escola assistiva.
Professora Adelina Almeida (EPAA), através Por sua vez, a relacional, que assume o
desta pesquisa-ação, tiveram como âncora os caráter de meta-informação e a materialização
construtos teóricos de Freire (2013), que, baseada na escola-campo-de-pesquisa, através de
em González de Gómez (2003b), nortearam oficinas e de relatórios de pesquisa realizados
a nossa trilha para a identificação das três por pesquisadores da Região do Vale do
modalidades de ações aqui abordadas. São Francisco, cujo trabalho tem propiciado
A primeira delas, ação de mediação intervenções de melhoria nas ações desenvolvidas
que se apresenta através dos momentos de na EPAA. Foi evidenciada, também, através do
formação de professores, os quais são realizados projeto A inclusão começa em mim. Um trabalho
semanalmente durante as aulas-atividades, relevante que está sendo desenvolvido no AEE,
através das palestras e projetos realizados em com a parceria da Universidade Federal do Vale
parceria com as universidades da Região, a do São Francisco (UNIVASF) e visa discutir os
exemplo da Universidade Federal do Vale do limites e as possibilidades que têm os professores
São Francisco (UNIVASF), da Universidade para o desenvolvimento do trabalho de inclusão.
de Pernambuco (UPE – Campus Petrolina) e da Essa modalidade de ação, enquanto estrato
Universidade Estadual da Bahia (UNEB – Campus inserido no domínio regulatório e definido nos
Juazeiro). espaços institucionais do Estado, do Campo
Essa ação também se faz presente através Científico, da Educação Formal, da Legislação
de oficinas realizadas por professoras formadoras e dos Contratos, também se manifestam no
da própria escola, tanto em estudos mensais para Atendimento Educacional Especializado (AEE),

170 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017
Um olhar sobre a educação escolarizada de surdos à luz da competência em informação

através do exposto nas nas políticas educacionais Convém ressaltar que, à medida que os
e nas bases legais que o regulamentam. atores sociais participam e atuam nas ações de
Todavia no escopo da Escola Professora informação (relacional, mediação ou formativa)
Adelina Almeida (EPAA), e considerando o no Regime de Informação da EPAA, percebem-
Atendimento Educacional Especializado (AEE) se algumas lacunas na comunicação, em
para pessoas com deficiência auditiva, o conjunto especial na comunicação entre os professores de
dessas ações de informação, aqui tratadas como AEE e os professores dos vários componentes
“estratos heterogêneos articulados”, se manifesta curriculares da Escola. Esse descompasso na
em aulas expositivas e dialogadas, nos momentos comunicação, na visão dos docentes do AEE,
de formação de professores, nas palestras tem se dado em função da concepção que muitos
envolvendo a comunidade escolar, oficinas, professores do ensino regular têm do AEE e
seminários e projetos diversos. (GONZÁLEZ do seu entendimento acerca das formas pelas
DE GÓMEZ, 2003b). Com efeito, esse modelo quais o aluno surdo aprende e constrói sua
teórico de ações de informação, apresentado competência em informação, uma concepção
por González de Gómez, (2003b), encontra-se que, em alguns aspectos, difere do entendimento
materializado no cotidiano da Escola Professora dos professores do AEE. Isso, na visão dos
Adelina Almeida (EPAA), através de seus professores de AEE, interfere no atendimento
atores – aqui representados pela comunidade educacional especializado e no direcionamento e
da EPAA (pais, alunos, professores, gestores, aplicabilidade da Política Nacional de Educação
coordenadores, analistas, instrutores e interpretes Especial numa Perspectiva da Educação
de Libras). Inclusiva, constituindo num obstáculo à
Nesse sentido, inspirados em Freire construção de competência em informação como
(2014), apresentamos, através da figura 1, mostra a figura 2.
os estratos e as especificações das ações de
informação desenvolvidas pelos atores sociais
da Escola professora Adelina Almeida (EPAA). Figura 2 - Barreiras no desenvolvimento de
A nosso ver, esse desenho evidencia o resultado competência em informação
da nossa pesquisa, identificado a partir de
fontes de informações diversas, caminhando
pela trilha metodológica traçada para o seu
desenvolvimento, cujos resultados vão se
conformando para o desvelamento da construção
de competência em informação pelos atores
envolvidos.

Figura 1 - Ações de Informação na EPAA

Estrato Polimórfico Estrato


Ação de mediação: Mimeomórfico
palestras, formação, Ação formativa:
Formação através do atividades de ensino
Pacto Nacional pelo em si assumidas
Ensino Médio. EPAA pelos vários
Ações de
componentes
Informação
curriculares
Fonte: Elaboração da autora (2016).

Estrato Regulatório Contudo, mesmo com algumas


Ação Relacional:
pesquisa - dissertação
fragilidades, podemos observar que as ações de
informação desenvolvidas nas organizações, a
Fonte: Adaptado de Freire (2014) baseado em Gonzalez de partir dos estratos articulados se traduzem em
Gómez (2003). envergadura informacional que, compartilhada

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017 171
Maria Margarete da Sila e Gustavo Henrique de Araújo Freire

por todos os atores sociais, passam a se configurar continuadas, cursos de proficiência em Libras,
em uma forma de vida desses atores, para além criação dos espaços de debate para discutir
da formação de um espaço de construção do formas de melhor administrar a inclusão social
conhecimento, da cultura e da busca permanente dos alunos, e ações de ensino em si. Essas ações
de subsídios para o desenvolvimento de de informação, desenvolvidas pelos atores
competência em informação, na perspectiva da sociais da EPAA, constituem possibilidades
inclusão social. de promoção e desenvolvimento das
“competências necessárias para a socialização
da informação” e para a construção de
7 CONSIDERAÇOES FINAIS competências em informação (FREIRE, 2012,
p.11).
Essa pesquisa-ação teve como propósito Torna-se pertinente ressaltar que
investigar o espaço que ocupa o Atendimento as tecnologias digitais de informação e
Educacional Especializado (AEE) na Escola comunicação também encontram espaço no
Professora Adelina Almeida em Petrolina- Regime de Informação da EPAA. Assim,
PE, na perspectiva do desenvolvimento de durante a nossa pesquisa, evidenciamos que,
competências em informação para inclusão em razão da deficiência auditiva dos alunos
social de alunos surdos. Um caminho trilhado a matriculados na escola campo de pesquisa, um
partir de um quadro teórico-metodológico que recurso tecnológico, bastante utilizado pelos
nos confiou reflexões pertinentes à construção professores e alunos para o estabelecimento de
do nosso entendimento sobre a competência em uma comunicação rápida e efetiva, tem sido
informação e a identificação dos elementos a ela as mensagens de texto, enviadas através de
relacionados. celular e e-mail, sendo a forma de comunicação
A identificação desses elementos dominante, utilizada, inclusive, pelos surdos na
certamente não seria visível para nós sem as comunicação entre seus pares.
contribuições teóricas dos gigantes aqui citados, De modo que, tendo em vista o nosso
em cujos ombros nos apoiamos. Foi, ainda, a interesse prático e a nossa “finalidade
partir desses modelos teóricos-metodológicos intencional de alteração da situação pesquisada”
que constatamos a importância de cruzar vários (SEVERINO, 2007, p. 120), as observações e
olhares na busca do entendimento do que seja análises dos dados coletados possibilitaram a
competência em informação, para escolher quais identificação de elementos de competência em
caminhos trilhar para encontrar evidências que informacional e também de algumas lacunas.
comprovem o desenvolvimento das competências Todavia, foram essas lacunas que potencializam,
em informação para os sujeitos envolvidos da na comunidade escolar, a construção de novos
EPAA, em especial, aos professores de AEE e esforços, novas leituras e ações na direção da
alunos surdos. competência informacional.
Todavia, do ponto de vista do nosso Essa observância fortalece o entendimento
trabalho de pesquisa, foi um encontro teórico- de que as ações de informação desenvolvidas
prático, que suscitou a identificação das ações na EPAA, realizadas através do AEE, passem
de informação desenvolvidas pelos atores a se configurar numa forma de vida desses
sociais que fazem parte da escola campo atores para além da formação de um espaço
de pesquisa, permitindo algumas reflexões profissional, na direção da construção do
conclusivas que, para nós, se constituem em conhecimento, da cultura surda e da busca
resultados da caça às evidências dos elementos permanente de subsídios para o desenvolvimento
da competência informacional para inclusão de competências em informação para a inclusão
social de alunos surdos, na escola-campo-da- social.
pesquisa. Sem deixar de reconhecer que que
Entre essas reflexões, destacamos a esta pesquisa não se encerra em si mesma e
relevância dada à informação na escola, a partir que, por conseguinte, ao revelar seu aspecto
da identificação de ações concretas voltadas inconcluso suscita novos olhares desveladores da
para o desenvolvimento de competências realidade dinâmica da hegemonia do regime de
em informações a exemplo das formações informação, na sociedade contemporânea.

172 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017
Um olhar sobre a educação escolarizada de surdos à luz da competência em informação

Artigo recebido em 8/01/2016 e aceito para publicação em 18/02/2017

A LOOK OVER SCHOOL EDUCATION OF DEAF


IN THE LIGHT OF INFORMATION LITERACY

ABSTRACT This article is about the school education of the deaf in the light of information literacy, taking as
reference the Customer Specialized Education (AEE) for deaf people. It presents the theoretical
framework approach the legal and pedagogical aspects of the ESA, here treated as locus of Educational
Service Specialist. Approaches, theoretical aspects of information literacy and information actions. It
aims to analyze the ESA School Professor Adelina Almeida in Petrolina PE, from the perspective of
competence development in information for social inclusion of deaf students. The investigation of
the object of study has the north to action research, applied nature, a qualitative approach, the
results show concrete actions for the development of competence in information and potentiating
new teaching strategies in driving learning always and in all dimensions of life.

Keywords: Educational Service Specialist. Deaf inclusion. Information competence. Share information. Bilingual
approach.

REFERÊNCIAS BRASILEIRO, A. M. M. Manual de Produção


de Textos Acadêmicos Científicos. São Paulo:
AMADEO, D. dos S. Necessidades Informacionais Editora Atlas AS, 2013.
dos alunos do curso de letras libras quanto à
realização de pesquisas acadêmicas: um olhar CASTELLS, M.A galáxia da Internet: reflexões
inicial ao desenvolvimento da Competência sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de
Informacional dos alunos surdos. Florianópolis: Janeiro: Zahar, 2003.
2012. Disponível em: <http://portal.febab.org.
DAMÁZIO, M. F M. Atendimento Educacional
br/anais/article/viewFile/1417/1418>. Acesso
Especializado para Pessoas com Surdez.
em: jan. 2015.
Curitiba: Cromos, 2007.
ARAUJO, H. de. História de luta das pessoas
FREIRE, I. Sobre o Regime de Informação no
com deficiência em Petrolina. Petrolina:
Laboratório de Tecnologias Intelectuais – LTi.
Franciscana, 2015.
CID. R. Ci. Inf. e Doc. Ribeirão Preto, v. 4,
BRASIL, Decreto nº 5.626, de 22 de julho de n. 1, p. 70-86, jan./jun. 2013. Disponível em:
2005. Regulamentação da Lei nº 10.436, de 24 de <http://www.revistas.usp.br/incid/article/
abril de 2002, dispõe sobre a Língua Brasileira de view/59102>. Acesso em: jun. 2015.
Sinais – Libras, Brasília: MEC. 2005.
_______. Tecendo uma rede conceitual
_______. Manual de Orientação: Programa de na ciência da informação: tecnologias
Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais. intelectuais para competências em informação.
Brasília: MEC/Secretaria Executiva/ Secretaria Informação;Tecnologia (ITEC),Marília/João
de Educação Especial/SEESP, 2010. Pessoa, v. 1, n.1, pp. 130-144, 2014. Disponível
em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017 173
Maria Margarete da Sila e Gustavo Henrique de Araújo Freire

itec/article/download/19840/11017>. Acesso em: NASCIMENTO, S. G. V. do, FREIRE, G. H. de


jun. 2014. A. ; DIAS, G. A. A tecnologia da informação e a
gestão pública. MPGOA, João Pessoa, v.1, n.1,
FREIRE, G. H. A ; FREIRE, I. Ações para pp. 167-182, 2012.
competências em informação no ciberespaço:
Reflexões sobre a Contribuição da Metacognição. PERRENOUD. F. Dez Novas Competências para
Encontros: revista eletrônica de biblioteconomia ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
e ciência da informação.V. 17, n. esp.1, pp.1-23,
2012. Disponível em:<https://periódicos.ufsc. _______. Desenvolver competências ou ensinar
br/índex.php/eb/article/view//1518- 924.2012. saberes? AEscola que prepara para a vida. Porto
v17nesp1p1>. Acesso em: mar. 2015. Alegre: Penso, 2013.

GONZALEZ DE GOMEZ, M. N.As relações ROPÉ, F. ; TANGUY, L. Saberes e competências:


entre ciência, Estado e sociedade: um domínio O uso de tais noções na escola. Campinas SP:
de visibilidade para as questões da informação. Papirus, 1997.
Ciência da Informação. Brasília, v. 32, n. 1, pp.
60-76, 2003a. SACRISTÁN, J. G.A Educação que ainda é
possível: ensaio sobre uma cultura para a
_______. Escopo e abrangência da ciência educação. Porto Alegre: Artmed, 2007.
da informação e a pós – graduação na área:
anotações para uma reflexão. Transformação. SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho
Campinas, v. 15., n 1, pp. 31-43, 2003b. Científico. São Paulo: Cortez, 2007.

JONNAERT, P. Currículo e Competências. Porto SILVA NETO. C. E da ; FREIRE.G.H. de


Alegre: Artmed,2010. A.Competência em Informação: relato de
experiência. Racin, João pessoa, v. 2, n. 2, pp.
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência. Rio de 44-63, 2014.Disponível em: <racin.arquivologiauepb.
Janeiro: Ed. 34, 1993. com.br/edicoes/v2_n2/racin_v2_n2_artigo03.pdf>.
Acesso em: mai. 2015.
MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem
inovadores com apoio das tecnologias. STROOBANTS, M. A visibilidade das
MASETTO, M. T.; MORAN, J. M ; BEHRENS, M. competências. In: ROPÉ, F. ; TANGUY, L. (orgs).
A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Saberes e competências: O uso de tais noções na
Campinas: Papirus, 2013. escola. Campinas: Papirus, 1997.

174 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.27, n.1, p. 161-174, jan./abr. 2017

Potrebbero piacerti anche