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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Noguti, Valéria
FEA - USP
Rua Marechal Floriano Peixoto, 66 - Araras - São Paulo - Brasil
Tel: (19) 544-6776
E-mail: valerian@zaz.com.br
Roberto Sbragia
FEA - USP
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Resumo: Este artigo trata do gerenciamento de projetos em empresas de grande porte, com foco nas
estruturas organizacionais utilizadas nos projetos de lançamento de novos produtos. É um estudo de
caso em uma empresa multinacional do ramo de alimentos industrializados.
A empresa enfrenta falta de flexibilidade e agilidade para lançar novos produtos rapidamente no
mercado, estando pressionada pela concorrência. Verificou-se inadequação da estrutura funcional
vigente para a coordenação de projetos desse tipo. A empresa tentou implementar então uma estrutura
matricial peso-leve, mas não foi bem sucedida, tanto pela falta de poder dos gerentes alocados nos
projetos-piloto, como pelo contraponto da nova estrutura em relação à cultura da empresa.
Indica-se como alternativa uma estrutura matricial peso-pesado, pois tratam-se de projetos que exigem
envolvimento de diversas áreas da empresa, implicam em grande investimento e precisam de gerentes
capazes de concluí-los nos prazos e custos adequados. A empresa necessita de foco para gerar
flexibilidade e rapidez na execução dos projetos.
Além da alteração da estrutura organizacional, precisam ser alterados os processos de delegação,
comunicação e gerenciamento de projetos. A mudança cultural é fundamental para o sucesso da
implantação.
ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM EMPRESAS DE GRANDE PORTE:
UM ESTUDO DE CASO
1. INTRODUÇÃO
Este artigo trata do gerenciamento de projetos em empresas de grande porte, com foco na
análise da estrutura organizacional. Trata-se de um estudo de caso em uma empresa multinacional do
ramo de alimentos industrializados. Um ambiente estável de negócios, aliado a um baixo nível de
concorrência interna e externa e vantajosas margens de lucro, marcaram fortemente a forma como a
empresa opera no Brasil, resultando em uma linha de produtos bastante tradicional e pouca ênfase na
inovação.
Por um lado, a empresa possui experiência na gestão de projetos que exigem pouca interação
entre diferentes áreas. Tais projetos têm atingido satisfatoriamente bem seus objetivos. Entretanto, face
às circunstâncias que se apresentaram à empresa ao longo dos anos, esta não desenvolveu as
habilidades necessárias para trabalhar em projetos de lançamento de novos produtos com a eficiência e
a eficácia impostas atualmente pelo mercado. Tais projetos, de natureza multidisciplinar, envolvem
elevado nível de interface entre diversas áreas. Estes projetos têm sido desenvolvidos em períodos
extensos, quando comparados com a concorrência, tendo sido muito comum a extrapolação dos custos
e, principalmente, dos prazos pré-estabelecidos. Esta situação tem causado conflitos entre as diversas
áreas funcionais envolvidas nos projetos e atitude de constante busca aos possíveis culpados.
Desta forma, o sucesso dos projetos inovativos de produtos configura-se como um dos fatores
críticos na manutenção da posição de liderança da empresa em um novo ambiente de negócios, cada
vez mais competitivo. O objetivo deste trabalho é analisar o gerenciamento de projetos na empresa no
mercado brasileiro, em particular as estruturas organizacionais utilizadas nos projetos de lançamento de
novos produtos.
A empresa analisada neste estudo é atualmente uma das maiores empresas produtoras de
alimentos do Brasil e do mundo, atuando nas áreas de produtos lácteos, dietéticos, culinários, cereais,
chocolates, biscoitos, cafés, águas minerais, e outros. Comercializa seus produtos em mais de 100
países, possuindo aproximadamente 500 unidades fabris distribuídas em 74 países. Apresenta
faturamento global anual da ordem de US$ 50 bilhões, sendo apenas 2% deste total relativo às suas
operações em seu país de origem.
Para o escopo deste trabalho serão tomadas como referência as operações brasileiras desta
companhia. A filosofia mundial de descentralização e flexibilidade, aliada a oportunidades de negócios
e necessidade de crescimento, fizeram com que a companhia estabelecesse operações no mercado
brasileiro há mais de 75 anos. No Brasil, os negócios representaram para a empresa até o final de 1998
o seu quarto maior mercado em termos de faturamento, contribuindo com uma receita anual de US$
3,6 bilhões, estando atrás somente de mercados como Estados Unidos, Alemanha e França. Devido à
forte desvalorização cambial sofrida pela moeda brasileira no início de 1999, projeta-se que os
negócios da empresa no Brasil passem a representar o quinto ou sexto mercado dentro do grupo.
De acordo com uma pesquisa realizada por Traill (1997) sobre a indústria alimentícia européia,
as grandes empresas estão adotando uma mistura de busca à eficiência (minimização de custos) e
estratégias de diferenciação de produto para fazer frente às circunstâncias de mudança nos mercados e
na competição. Assim, verifica-se que a estratégia mundial da empresa analisada segue a mesma linha
do setor de alimentos em geral.
O mercado alimentício brasileiro pós Plano Real passou por uma concentração da produção,
através da expansão de empresas estrangeiras via fusões, aquisições e parcerias. Empresas que
sobreviveram às turbulências dos últimos anos e novas empresas, que surgiram no processo de
concentração, fizeram investimentos pesados em produtividade (para compensar a estabilidade ou
recuo dos preços) e crescimento das linhas de produtos para ampliar a receita com aumento de volume
de vendas. Neste cenário, o faturamento da companhia analisada aumentou em 50% de 1994 a 1997,
sendo que sua margem de lucro subiu logo após o Plano Real, mas tem diminuído de forma gradativa
com o aumento da concorrência.
As equipes funcionais costumam ser encontradas nas empresas maiores e mais maduras. As
pessoas são agrupadas por disciplina, cada qual trabalhando sob a direção de gerentes especializados.
Geralmente, a responsabilidade pelo projeto é passada seqüencialmente de cada função para sua
sucessora, embora isso normalmente não ocorra de forma harmoniosa.
Os pontos fortes mais relevantes desse tipo de organização são: alinhamento entre
responsabilidade e autoridade; coerência entre a avaliação do projeto/recompensas pelo trabalho e
decisões sobre carreiras; conhecimento especializado torna-se profundo e é utilizado em vários
projetos.
Seus principais pontos fracos são: limitada coordenação e integração; ninguém diretamente
envolvido nos detalhes do projeto é responsável pelos resultados do mesmo; tendência dos
especialistas projetarem componentes ótimos por parâmetros técnicos ao invés de por características do
sistema como um todo ou especificações ditadas pelo mercado.
Neste tipo de estrutura, pessoas de diversas áreas funcionais são formalmente alocadas e
dedicadas à equipe de projeto. O líder de projeto tem controle total sobre os recursos, tornando-se o
único avaliador da contribuição feita por membros das equipes. Esses times não precisam seguir
práticas e procedimentos existentes; podem estabelecer incentivos e recompensas, bem como normas
de comportamento. Como equipe, são completamente responsáveis pelos resultados do projeto.
Seu ponto forte fundamental é o foco, por isso costumam desenvolver novos produtos e
processos rápida e eficientemente. A integração multifuncional é particularmente eficaz, em parte
devido à possibilidade de atrair e selecionar participantes para a equipe mais livremente que em outras
estruturas.
Como desvantagem, essas equipes utilizam muito pouco de outros projetos, tendendo a
expandir os limites da definição de seu projeto e reprojetar completamente o produto e seus
componentes, ao invés de utilizar materiais, modelos e relacionamentos existentes. Suas soluções
tendem a ser únicas, dificultando a integração do produto e processo resultantes com a organização ao
término do projeto. Geralmente isto provoca a criação de novas unidades de negócio ou alta
rotatividade de profissionais. A menos que sejam estabelecidas regras claras no início, é difícil que os
gerentes de projeto façam correções no meio do caminho ou exerçam influência forte sem destruir o
time.
2.2.3. ESTRUTURA MATRICIAL PESO-LEVE
As vantagens e desvantagens desse tipo de estrutura são as mesmas já descritas para a estrutura
funcional, acrescentando o fato de haver pelo menos uma pessoa garantindo que tarefas individuais
sejam cumpridas no prazo e que todos estejam cientes de assuntos multifuncionais e do que ocorre nas
demais áreas do projeto. Assim, melhora-se a comunicação e a coordenação.
A desvantagem é a falta de poder do gerente de projeto, que pode muitas vezes ser ignorado e
até hostilizado, situação que potencialmente pode levar o projeto a fracassar.
O gerente de projeto peso-pesado tem acesso e responsabilidade diretos pelo trabalho de todos
os envolvidos no projeto, normalmente sendo gerente senior na organização. Forma-se um grupo de
pessoas que fica dedicado ao projeto e alocado fisicamente com o líder do projeto. Contudo, a
responsabilidade pelo desenvolvimento de carreira no longo prazo continua com o gerente funcional,
uma vez que a alocação nos projetos não é permanente.
Equipes peso-pesado têm vários pontos fortes, entre eles: são focadas no produto ou processo,
com vistas às necessidades dos clientes; têm liderança independente; reúnem habilidades abrangentes e
multifuncionais; têm missão clara e geram comprometimento; são integradas.
Como pontos fracos das equipes peso-pesado, pode-se destacar: criação de conflito potencial
com a organização funcional; questionamento dos funcionários sobre a influência e controle do gerente
de projeto; falta de profundidade do conhecimento técnico.
P R E S ID Ê N C IA
TÉ C N IC A F IN A N Ç A S L O G ÍS TIC A RH U N ID . N E G Ó C IO S
F Á B R IC A S
Em um caso apresentado por Mizuta & Toledo (1999) sobre o processo de desenvolvimento de
produtos em uma multinacional do setor alimentício, a empresa analisada agrupa os especialistas por
categoria de produto. Formam-se equipes de especialistas em centros de desenvolvimento, sendo que
cada projeto requer uma equipe formada pelo especialista do produto (líder do projeto) e por alguns
especialistas de outras categorias, com função auxiliar no projeto. Assim, possibilita-se a troca de
informações e de conhecimentos entre os especialistas e seus respectivos projetos e facilita-se a
resolução de problemas. Este formato organizacional foi classificado pelos autores como forma
distribuída porque os centros de desenvolvimento executam os projetos e transferem o resultado para
as unidades fabris.
Uma diferença entre os dois casos é que, no primeiro, existem centros de desenvolvimento
dedicados no Brasil. Já no segundo caso, não existem centros de desenvolvimento com essa função no
país. Tais centros no segundo caso são estruturas que concentram desenvolvimentos de ponta no
mercado alimentício mundial e geralmente dão suporte sob a forma de instalações, plantas-piloto e
especialistas para desenvolvimentos que abranjam mercados locais. Em sua maioria, estes projetos
locais representam adaptações de produtos fabricados em outros países ou imitações de inovações
lançadas por concorrentes.
Assim, os centros de desenvolvimento descritos por Mizuta & Toledo (1999) - primeiro caso -
assemelham-se aos centros mundiais do caso aqui estudado - segundo caso -, mas englobam todos os
tipos de desenvolvimento. A presença da estrutura local na forma de centro de desenvolvimento facilita
a alocação de pessoal cujo foco seja projetos. Como no caso analisado não existem centros no Brasil e
os projetos são desenvolvidos dentro de departamentos de produto, responsáveis tanto pela parte
operacional quanto pelo desenvolvimento, existe conflito e problemas de prioridade entre as atividades
a serem executadas.
2.4. COMUNICAÇÃO, DELEGAÇÃO E AUTONOMIA
Neste contexto, o prazo médio para o desenvolvimento dos projetos de lançamento de novos
produtos tem sido de 8 meses, podendo chegar a mais de 1 ano quando estão envolvidos investimentos
em novos equipamentos ou novas linhas de produção. Este prazo tem-se mostrado relativamente longo
frente ao prazo de desenvolvimento dos concorrentes.
Nas organizações hierárquicas, poder e privilégio tendem a assegurar que o tipo de pessoa que
surge como líder pratica o exercício do poder a distância e toma decisões unilaterais. Este não é o tipo
de líderes necessários para organizações flexíveis nem para liderar times multifuncionais. O acesso
restrito à informação fortalece o poder e a dominância dos altos líderes, criando um tipo de sistema de
castas que isola as pessoas que não estão em posição de liderança, ao invés de envolvê-las no processo.
Pela imposição de uma cultura de exclusão, que dita quem, por força do cargo, não será convidado para
uma reunião, quem tem direito a determinadas informações, ou quem pode se comunicar com quem, as
pessoas nas posições de liderança têm sua situação fortalecida. Migrar para uma cultura de equipe pode
ser pessoalmente improdutivo para estes líderes, que são as pessoas que precisam patrocinar a atividade
de mudança de cultura organizacional (Helgesen, apud Bishop, 1999). Conclui-se que a alta
administração acaba por manter a cultura inalterada por conflito de interesses, ou seja, não é de seu
interesse perder poder.
Visando solucionar os problemas trazidos pela estrutura funcional, a empresa decidiu-se então
pela implementação de uma estrutura matricial do tipo peso-leve para o gerenciamento de projetos de
lançamento de novos produtos na organização.
Na configuração idealizada pela empresa, o líder de projeto fica responsável por coordenar o
trabalho e interesses de quatro grupos, conforme a Figura 2. O gerente de projeto nesta estrutura, na
verdade, não se caracteriza como gerente peso-leve. Suas atribuições restringem-se a apoiar o líder de
projeto e direcionar o desenvolvimento conforme os objetivos do mesmo e as condições ambientais,
caracterizando-se como "patrocinador" do projeto junto à direção da empresa (sponsor). O papel de
coordenação que caracteriza o gerente peso-leve fica com o líder de projeto, que se responsabiliza
também pelo cumprimento de cronogramas e acompanhamento das atividades relativas ao trabalho.
Nesta estrutura, os líderes são selecionados entre os funcionários do Departamento de Marketing,
responsável pelo lançamento do novo produto. A responsabilidade e autoridade referentes aos recursos,
inclusive pessoas, mantêm-se integralmente sob as áreas funcionais.
Gerente de Projeto
Diretor Unidade Negócio
Equipe
multifuncional
Engenharia
Embalagens
Marketing
Produção
Fábrica
A equipe peso-leve é formada neste caso por profissionais das áreas funcionais, que ficam
alocados nas próprias áreas e dedicam até cerca de 30% de seu tempo às atividades do projeto. O
próprio líder do projeto dedica 50% de seu tempo ao mesmo. A coordenação estabelece-se através de
reuniões semanais com todos os membros da equipe multifuncional e com os elementos do grupo de
suporte necessários para a discussão de assuntos relevantes de sua especialidade. Nestas reuniões deve
acontecer resolução de problemas, verificação do progresso por área, atualização do cronograma e
alocação de atividades. A cada fase do projeto acontece uma sessão com o grupo de validação antes de
o projeto prosseguir para a etapa seguinte, a fim de evitar retrabalhos por problemas não resolvidos no
momento apropriado.
Estas modificações foram testadas em dois projetos-piloto, em que esperava-se obter maior
agilidade no desenvolvimento e produtos e processos melhores, pois, conforme comentado
anteriormente, responsabiliza uma pessoa pela consecução dos objetivos do projeto. Dado o tamanho
da empresa e sua estratégia de produção em grandes volumes, mesmo os projetos de menor porte, alvos
desta tentativa de mudança estrutural, podem ser considerados bastante complexos. Esta complexidade
não pôde ser gerida por pessoas sem a autonomia necessária.
• Existência de dois ou mais setores críticos que requerem dualidade de foco, implicando em
balanço de poder, dualidade de comando e tomadas de decisões simultâneas - foco no
esforço humano indivisível em duas ou mais tarefas organizacionais essenciais
simultâneas;
• Necessidade de performance em tarefas complexas, com alto grau de incerteza e
interdependentes, implicando em capacidade de lidar com informações múltiplas - ser
humano lidando com múltiplas informações e com o comprometimento da organização
para com respostas balanceadas e razoáveis;
• Pressão por economia de escala, implicando no uso dos recursos humanos de forma
compartilhada e flexível - rápida realocação dos recursos humanos em diversos projetos,
produtos, serviços, clientes ou mercados.
A estrutura matricial peso-leve descrita foi testada em dois projetos-piloto de lançamento de
produtos, envolvendo investimentos de pequeno porte (abaixo de R$1 milhão). Ambos os projetos
foram abortados por problemas de viabilidade econômica do novo produto. Entretanto, em
conformidade com pesquisa de Maximiano (1996), várias dificuldades foram identificadas na operação
da estrutura matricial nesta empresa: a) tradição da empresa com a estrutura funcional; b) inexperiência
do gerente de projetos em liderança e sua pouca influência na empresa; c) inexperiência da equipe de
projetos em trabalho em equipe multidisciplinar d) falta da delegação necessária para os membros da
equipe tomarem decisões; e) disputa de prestígio entre os gerentes funcionais e o gerente de projeto; f)
tendência da equipe a dar mais importância aos gerentes funcionais. A nova estrutura entrou em
choque com a cultura organizacional vigente na empresa.
Segundo Clark & Wheelwright (1992), com a estrutura matricial peso-pesado, o conflito entre
o desenvolvimento de projetos e as demais atribuições das áreas funcionais é reduzido, pois os
membros de cada projeto serão avaliados em função de sua participação nos mesmos e por um líder
destacado exclusivamente para que os projetos sejam executados. Nesta estrutura, os projetos deixam
de ser tratados de forma secundária ou complementar, permitindo agilizar o processo de
desenvolvimento colocando produtos novos no mercado em prazos curtos para não incorrer em perda
de mercado.
Ainda segundo os autores, a participação direta e conjunta de funcionários das várias áreas
necessárias ao desenvolvimento do projeto reduz também o período de desenvolvimento, pois o
número de problemas de implementação é diminuído ao observar critérios multifuncionais durante os
trabalhos. Quando se reduz problemas de implementação, os custos com correções de projeto são
reduzidos. Adicionalmente, com a eliminação do distanciamento entre áreas presentes nas estruturas
anteriores, os conflitos são mais facilmente identificados e são resolvidos de forma consensual antes
que assumam dimensões negativas aos resultados, ampliando a visão de negócios dos envolvidos, a
busca pelos resultados finais do projeto e a capacidade de negociação, antes ausentes nos funcionários
técnicos. Clark & Wheelwright (1992) ainda afirmam que a presença do gerente junto ao grupo eleva a
importância dada ao projeto pelos membros da equipe. A dualidade de comando é balanceada,
estabelecendo acesso direto entre membros e gerente de projeto antes “filtrada” pela presença do
gerente funcional.
Por outro lado, somente a implementação de uma nova estrutura organizacional não garante
sucesso dos projetos, pois outros fatores influenciam o desempenho das atividades. Segundo Sbragia
(1978), "a estrutura organizacional fornece tão somente um esquema para a realização dos trabalhos,
não podendo garantir o sucesso de uma organização".
"A estrutura matricial é um balanço perfeito entre foco no projeto e excelência técnica. Esta
perfeição ignora que as pessoas são a organização. A estrutura pode facilitar ou inibir os esforços das
pessoas dentro dela. Uma abordagem holística na seleção de uma estrutura organizacional deve incluir
as pessoas, a cultura organizacional, influências ambientais e a natureza do trabalho" (Turner, Utley &
Westbrook, 1998).
Gerentes de projeto precisam ter autoridade para obter compromissos formais dos gerentes
funcionais, acompanhados de planos que possibilitem monitorar o progresso do trabalho. Para
acompanhar o trabalho, os gerentes de projeto precisam ter autoridade para exigir dos gerentes
funcionais, ou subordinados, relatórios de progresso. Gerentes funcionais e de projetos devem
compartilhar a responsabilidade por ajustar cronogramas e realocar recursos (Pitagorsky, 1998).
3.4. CONCLUSÕES
Na indústria alimentícia, as pequenas e médias empresas têm vantagens de baixo risco e baixos
custos fixos em relação às grandes empresas. Contudo, o alto grau de orientação para o mercado
exigindo pesquisas e testes, propaganda de lançamento e outros gastos com o mercado podem
determinar custos fixos relevantes, particularmente se a maioria dos elementos do composto de
marketing exigir grandes investimentos e tiver grandes economias de escala (Galizzi & Venturini, apud
Grunert et al., 1997).
A empresa apresentada é de grande porte e os projetos tornam-se viáveis para grandes volumes
produzidos, quando acontece distribuição dos custos por alta quantidade de produtos fabricados. Estes
projetos envolvem investimentos elevados, mesmo nos casos de alterações simples nos produtos. Além
disso, o número de produtos lançados precisa ser grande para competir tanto com pequenas quanto com
grandes empresas. Por isto, o processo de desenvolvimento precisa ser tratado de forma focada e os
investimentos nos projetos precisam ser muito bem planejados e controlados, pois impactam o
resultado da empresa por longos períodos. Portanto, todas as pessoas envolvidas em tais tipos de
projeto precisam estar conscientes dos resultados a serem atingidos e, principalmente, precisam estar
comprometidas com estes resultados a fim de evitar o consumo de recursos em ativos fixos que não
serão adequadamente utilizados.
A tradicional estrutura funcional utilizada para gestão dos negócios na empresa, bastante
adequada para o cenário estável no qual a empresa estava inserida, atualmente mostra-se incompatível
com a nova necessidade estratégica, principalmente em relação à inovação através do lançamento
rápido de produtos, dentro de prazos e custos previamente estabelecidos. As características principais
encontradas na empresa estudada são: a) elevado prazo para desenvolvimento e lançamento de novos
produtos; b) falta de coordenação de projetos multifuncionais; c) baixo envolvimento de áreas
importantes para o desenvolvimento de projetos; d) elevado número de conflitos e de caça aos
culpados; e) estouro de prazos e custos de projetos; f) concorrentes chegando ao mercado de forma
mais rápida e eficaz.
Por outro lado, a tentativa de implantação de uma estrutura matricial tipo peso-leve não obteve
sucesso. A tradição da empresa na utilização da estrutura organizacional funcional e sua cultura de
extremo respeito ao sistema hierárquico tradicional constituem-se em elementos dificultadores da
operação de uma estrutura matricial. Neste contexto, a equipe de projetos tende a dar maior
importância ao gerente funcional, seu superior hierárquico e pessoa com poder de recompensar e
promover. Assim, há potencialização da disputa de poder entre os gerentes funcionais e os gerentes de
projetos, estes últimos nomeados entre indivíduos de menor grau de senioridade na empresa.
Adicionalmente, a inabilidade tanto dos gerentes de projetos em lidar com equipes multifuncionais
quanto dos membros da equipe para se exporem mais e tomarem decisões por si mesmos dentro da
equipe do projeto também podem ter-se constituído em fatores condicionantes do insucesso da
implementação da estrutura matricial peso-leve.
Bishop (1999) afirma: "muitos pesquisadores confirmaram que não é possível implantar um
time multifuncional em uma organização hierárquica e simplesmente esperar que funcione". A
estrutura matricial peso-pesado proposta é uma alternativa à estrutura vigente e à tentativa de formação
de equipes peso-leve, mas deve ser implementada em conjunto com amplo programa de mudança
cultural. Sem a atualização da forma de trabalho e do comportamento das pessoas em relação aos
projetos, a proposta fica condenada ao fracasso. Neste sentido, é fundamental que a comunicação e as
relações entre os níveis hierárquicos sejam flexibilizadas, pois a troca constante e rápida de
conhecimento e idéias é um fator crítico, tanto para o bom inter-relacionamento dentro de equipes
multifuncionais, quanto para fazer com que produtos melhores cheguem mais adequadamente ao
mercado em termos de qualidade, preço, prazo, custos e serviços.
Esta abertura nas comunicações precisa ser apoiada e, na verdade, disparada pela alta
administração. Se a destruição de situações de poder ou status em função da restrição ou
gerenciamento de informações for vista como ameaça pelos gerentes, a modernização não vai
acontecer. A distribuição e acessibilidade ao conhecimento para quem dele precisa na organização é
primordial para alavancar o processo de desenvolvimento de novos produtos.
Por fim, há que se considerar que a estrutura a ser utilizada deve sempre ser dinâmica,
ajustando-se constantemente às necessidades do negócio. Apesar disso, é sabido que a mudança
cultural é um processo de longo prazo e que é necessário empregar esforços específicos para que a
mesma aconteça na direção desejada e de forma duradoura.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BISHOP, Suzanne K. Cross-functional project teams in functionally aligned organizations. Project Management
Journal, vol. 30, n.3, Sep 1999, pp. 6-12.
GRUNERT, Klaus G. et al. A framework for analysing innovation in the food sector. In: Product and
Process Innovation in the Food Industry. TRAILL, Bruce & GRUNERT, Klaus G. eds.
London: Blackie Academic & Professional, 1997.
MIZUTA, Cláudia Yuri & TOLEDO, José Carlos de. Caracterização do Processo de Desenvolvimento
de Produto Alimentar - um Estudo de Caso na Indústria de Biscoitos. São Carlos, 1999
(Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Engenharia de Produção)
TRAILL, Bruce. Structural changes in the European food industry: consequences for innovation. In:
Product and Process Innovation in the Food Industry. TRAILL, Bruce & GRUNERT, Klaus G.
eds. London: Blackie Academic & Professional, 1997.
TURNER, Susan G., UTLEY, Dawn R. & WESTBROOK, Jerry D. Project Managers and Functional
Managers: A Case Study of Job Satisfaction in a Matrix Organization. Project Management
Journal, vol. 29, n. 3, sept-1998, pp. 11-19.