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O estudo de caso

3. Programas de Educação para a Sexualidade

A Internet e a Educação para a Sexualidade 30


O estudo de caso

“A sexualidade é uma energia que nos motiva


a procurar o amor, contacto, ternura,
intimidade, que se integra no modo como nos
sentimos, movemos, tocamos e somos
tocados; é ser sensual e ao mesmo tempo
sexual, ela influencia pensamentos,
sentimentos, acções e interacções com os
outros e, por isso, influencia também a nossa
saúde física e mental.”
(OMS)

− Quais são as características dos programas de Educação para a


Sexualidade portugueses e estrangeiros?
− Quais são as características dos programas de Educação para a
Sexualidade mais eficazes?
− Quais são os resultados da integração de programas de Educação para a
Sexualidade na Internet?

3.1. Os programas portugueses de Educação para a Sexualidade

Nas últimas décadas o desenvolvimento físico e sexual dos adolescentes


modificou-se acentuadamente, os jovens estão a atingir a puberdade muito mais
cedo do que as gerações anteriores. Talvez por essa razão, entre outras, têm,
também, os seus relacionamentos sexuais mais cedo, sabendo-se que, entre os
15 e os 19 anos, 60% são já sexualmente activos e 13% do grupo com 14 anos e
menos, já tiveram relacionamentos sexuais completos (Lemos, 2002).
Sendo essa a vontade de pais e educadores, a Educação para a
Sexualidade tornou-se obrigatória nas escolas do ensino público (Decreto-Lei nº
259/2000, de 17 de Outubro), no entanto «a investigação na área das Ciências
Sociais, nomeadamente da Psicologia, parece não ter produzido ainda
conhecimento suficiente sobre estas questões e especificamente sobre o papel
mediador das atitudes nos comportamentos sexualizados do quotidiano.» (Roque,
2001).

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Ainda relativamente ao quadro legal e normativo existente, o primeiro


documento legal sobre a Educação Sexual nas Escolas saiu com a Lei 3/84,
publicada em 24 de Março de 1984. No seu artigo 1º define o papel do Estado
Português nesta matéria: «O Estado garante o direito à Educação Sexual como
componente do direito fundamental à Educação.». O nº 2 do artigo 2º deste
documento especifica ainda que «Os programas escolares incluirão, de acordo
com os diferentes níveis de ensino, conhecimentos científicos sobre anatomia,
fisiologia, genética e sexualidade humanas, devendo contribuir para a superação
das discriminações em razão do sexo e da divisão tradicional das funções entre
homem e mulher.».
Em 1986 foi aprovada a Lei de Bases do Sistema Educativo que,
fundamentalmente atribui ao sistema educativo a responsabilidade de incluir nos
curricula e nos quotidianos escolares a abordagem de temas ligados à vida, aos
problemas quotidianos e ao processo de crescimento pessoal e social das
crianças e jovens, entre os quais, os temas relacionados com a Educação Sexual
(Marques et al, 1999).
A Lei de Bases da Saúde, publicada em Agosto de 1990, realça, na Base
II, que «a promoção da saúde e a prevenção da doença fazem parte das
prioridades no planeamento das actividades do Estado» e indica, ainda, as
crianças e os adolescentes como exemplos de «grupos sujeitos a maiores
riscos», para os quais «são tomadas medidas especiais»; por seu turno, na Base
VI, refere-se que «todos os departamentos, especialmente os que actuam nas
áreas específicas da segurança e bem-estar social, da educação, do emprego, do
desporto, (…) devem ser envolvidos na promoção da saúde».
Através da Resolução do Conselho de Ministros nº 124/98, de Outubro de
1998, foi aprovado o Relatório Interministerial para a Elaboração de um Plano de
Acção em Educação Sexual e Planeamento Familiar, que consubstancia algumas
medidas concretas com vista ao cumprimento dos princípios consignados na Lei
3/84, assim como a de «(…) identificar as acções já em curso, com o objectivo de
as potenciar e desenvolver, numa perspectiva de articulação e cooperação
intersectorial, bem como definir todas aquelas que permitam melhor alcançar os
objectivos em causa» (Resolução do Conselho de Ministros nº 124/98, de 1 de
Outubro de 1998; D. R. nº 243, de 21/10/98). Neste documento, a Educação
Sexual é entendida como «(…) uma componente essencial da Educação e da

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promoção para a saúde», sendo por isso assumido como necessário reforçar a
concretização e aplicação das leis vigentes, através da articulação das
intervenções dos vários ministérios.
Em Agosto de 1999, foi publicada a Lei 120/99, que reforça as «garantias
do direito à saúde reprodutiva». Através desta, preconiza-se que nos
estabelecimentos de ensino básico e secundário seja implementado «um
programa para a promoção da saúde e da sexualidade humana, no qual será
proporcionada adequada informação sobre a sexualidade humana, o aparelho
reprodutivo e a fisiologia da reprodução, SIDA e outras doenças sexualmente
transmissíveis, os métodos contraceptivos e o planeamento da família, as
relações interpessoais, a partilha de responsabilidades e a igualdade entre os
géneros». Neste documento, aponta-se para formas de abordagem interdisciplinar
dos temas citados, para a colaboração estreita com os serviços e profissionais da
saúde, com os organismos representativos dos estudantes e dos encarregados
de educação; preconiza-se, ainda, que nos planos de formação dos docentes
constem «acções específicas sobre a Educação Sexual e Reprodutiva» (Marques
et al, 2000).
Numerosas escolas e agentes das comunidades educativas têm
desenvolvido actividades pontuais relacionadas com a EPS e, nomeadamente, as
actividades de prevenção do VIH/SIDA têm proporcionado, em muitos pontos do
país, espaços de tratamento do tema da sexualidade em iniciativas diversas. O
desenvolvimento de iniciativas e acções no âmbito da EPS tem dependido,
essencialmente, até ao momento, da motivação individual de professores, de
algumas iniciativas de escolas, de organismos e profissionais de saúde e de
organizações não governamentais, assim como de actividades desenvolvidas
pelos programas de algumas estruturas centrais do Ministério da Educação (APF,
2004).
Um pouco por todas as escolas secundárias do país, vão sendo
implementados programas de EPS da responsabilidade da própria escola e,
normalmente, complementados com o apoio das entidades de saúde locais. As
acções de EPS de carácter extracurricular têm sido as mais seguidas pelas
escolas, em detrimento das acções implementadas a nível disciplinar e
interdisciplinar (PES; APF; DGS, 1999).

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Em 2000 foi posto em prática o projecto experimental «Educação Sexual e


Promoção da Saúde nas Escolas» do qual se redigiram as «Orientações técnicas
sobre Educação Sexual em meio escolar». Neste documento, alerta-se para a
pouca eficácia das acções de EPS apenas como actividades extracurriculares
«pelo seu carácter esporádico, irregular e menos responsabilizador da Escola
como um todo». São, também, apresentadas as «etapas essenciais para a
organização e desenvolvimento de projectos e actividades de Educação Sexual
em cada escola», as quais mencionamos a seguir, dada a sua importância para a
planificação do estudo de caso realizado (v. Cap. 4):

1ª Etapa — identificação e constituição da Equipa Responsável


2ª Etapa — elaboração das linhas gerais do projecto, explicitando os objectivos, as
estratégias, os processos de avaliação de resultados e processos, assim como os
modos da sua integração no Projecto Educativo de Escola
3ª Etapa — comunicação do projecto à escola e identificação dos professores
interessados em participar no projecto
4ª Etapa — procura e identificação dos apoios indispensáveis (formação, materiais,
serviços para encaminhamento de casos específicos, outros agentes exteriores à
escola que possam apoiar a realização de actividades concretas, como por exemplo
os Centros de Saúde, organizações não governamentais e os recursos disponíveis no
Sistema Educativo)
5ª Etapa — comunicação dos princípios e conteúdos do projecto aos pais e
encarregados de educação e identificação de possíveis actividades a eles dirigidas
6ª Etapa — formação inicial dos professores que desejam envolver-se
7ª Etapa — desenvolvimento de trabalhos de projecto com cada professor, na base da
identificação dos momentos curriculares em que seja possível a abordagem de temas
relacionados com a sexualidade
8ª Etapa — identificação de momentos inter-disciplinares e/ou extra-curriculares para
a abordagem conjunta dos mesmos temas (exemplos: Dia Mundial da SIDA, Dia dos
Namorados, Dia Internacional da Mulher, Dia Internacional da Saúde, Dia do Pai, Dia
da Mãe, dia Mundial da Juventude, Dia da Criança, etc.)
9ª Etapa — realização das actividades
10ª Etapa — avaliação e preparação do próximo ano lectivo.
Fonte: Marques et al, 1999

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No âmbito do protocolo celebrado, em Outubro de 2000, entre o Ministério


da Educação e a APF e que visa a «promoção da educação sexual nas escolas»,
foram realizadas, nos anos lectivos seguintes, diversas acções, das quais
destacamos aquelas que tiveram os jovens como público alvo (Tabela 4).

Acções realizadas Pessoas abrangidas


Tipo de acção
2000/1 2001/2 2002/3 2003/4 2000/1 2001/2 2002/3 2003/4

Acções p/ professores 194 122 65 48 4483 2489 1600 1063


Encontros de intercâmbio 3 6 5 1 312 950 314 160
Acções para pais e EE 40 49 37 39 1131 1592 1051 1119
Consultoria técnica a escolas 90 138 112 80 - - - -
Acções p/ não docentes 30 32 24 24 469 614 437 452
Reuniões c/ centros formação 29 29 7 4 - - - -
Comunicações apresentadas 21 41 14 16 - - - -
Acções para jovens 150 117 98 94 5000 3510 3581 3769
Acções com a CCPES 4 1 5 - 75 26 5 -
Total 561 535 367 306 11470 9181 6988 6563

Total 2000-2004 1769 34202

Tabela 4 – Acções de EPS realizadas pela APF entre 01/11/00 e 31/07/04 (adaptado de APF,
2004)

Dado o elevado número de acções de sensibilização para jovens que a


APF dinamiza e apoia nas escolas de todo o país, procuramos informações sobre
os objectivos e estratégias implementadas nessas acções. Como se pode ver na
Tabela 5, o “debate” surge várias vezes, sendo tanto um objectivo (capacidade de
debater atitudes, opiniões e valores) como uma estratégia da acção (debates “pró
e contra”, debates de filmes e pequenos vídeos apresentados); é também de
assinalar que praticamente todas as estratégias apresentadas na Tabela 5,
implicam e incentivam a comunicação entre os intervenientes bem como o
trabalho em pequenos grupos.
Há escolas que, para além da implementação de programas de EPS como
os que já foram referidos, criaram gabinetes de atendimento e aconselhamento na
área da Sexualidade ou da Saúde, com a colaboração de técnicos das entidades

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de saúde locais, psicólogos e/ou professores com formação adequada (Marques


et al, 1999).

Dependem do tema específico, mas poderão ser:

Transmitir informação temática pertinente


OBJECTIVOS Debater atitudes, opiniões e valores
Dar informação sobre os recursos existentes
Identificar as necessidades de educação sexual dos jovens
Nº PARTICIPANTES Em geral uma turma, no máximo duas
Poderá haver uma única sessão ou um conjunto articulado de
sessões
DURAÇÃO
Cada sessão terá cerca de 2h
Definidos a partir do pedido concreto que foi feito, no caso de
CONTEÚDOS ESSENCIAIS haver um tema específico pedido
Definidos a partir de uma “caixa de perguntas”
Dependem da duração da acção mas poderão ser:

Apresentação e debate de pequenos vídeos


Apresentação e debate de um filme
Trabalho em pequenos grupos
ESTRATÉGIAS Jogos
Dramatizações
Debates “Pró e contra”
Tempestade de ideias
Utilização de músicas e poesias
DOCUMENTAÇÃO DE APOIO Materiais da APF e de outras instituições
Tabela 5 – Características das acções de sensibilização para jovens realizadas no âmbito do
protocolo estabelecido entre o Ministério da Educação e a APF (APF, 2004)

3.2. Os programas americanos e europeus de Educação para a


Sexualidade

Nos Estados Unidos há, actualmente, três correntes de EPS (Bay-Cheng,


2001):
− A “abstinence-only” que preconiza a abstinência absoluta até ao
casamento; nos programas de EPS os métodos contraceptivos e de
“sexo seguro” apenas são abordados do ponto de vista das suas falhas;

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é uma corrente que reflecte um forte movimento conservador na


sociedade americana, de raízes políticas.
− A “abstinence-plus”, com uma visão centrada na abstinência, em que os
programas de EPS apresentam essa escolha como sendo a melhor
mas não a única, e incluem alguma informação sobre contraceptivos e
“sexo seguro”.
− A “comprehensive sexuality education” cujos programas de EPS
disponibilizam uma informação completa sobre contracepção e “sexo
seguro”, de acordo com ideais mais liberais da sociedade.

A maioria das escolas americanas aplica programas integrados nas


correntes “abstinence-plus” e “abstinence-only” e as escolas que implementam
programas de “comprehensive sexuality education” acabam por ser a minoria.
Não existe coordenação entre os meios de comunicação social e as medidas de
EPS implementadas, os jovens crescem divididos entre duas realidades; segundo
uma estudante americana, «Por um lado, os media promovem mensagens
sexuais que apresentam o acto sexual livre de riscos, cheio de glamour e
excitante. Por outro lado, o governo promove uma política nacional única, de
abstinência-até-ao-casamento. Ambas são mensagens não realistas, que deixam
os adolescentes presos no meio e sem preparação para as situações com que se
deparam.»

É no norte da Europa que os programas e as intervenções a nível da saúde


sexual dos adolescentes têm apresentado maior taxa de sucesso, facto
comprovado pelas mais baixas taxas de gravidezes na adolescência, DST’s e
aborto do mundo ocidental (Lottes, 2002). Não se identificam isoladamente
organismos responsáveis pela implementação de programas de EPS, mas antes
um conjunto de entidades de diversas áreas (saúde, educação, media, segurança
social, …) que colaboram entre si em prol dum mesmo objectivo. Assim, os
programas de EPS surgem em contextos variados e não apenas no contexto
escolar. Segue-se uma breve análise das políticas de Educação para a Saúde e
EPS de alguns países europeus (Lottes, 2002; Berne e Huberman, 1999 ).

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Holanda:
• Não existe um currículo específico para a EPS assim como não
há nenhum manual escolar sobre EPS.
• Desde 1993 que os exames nacionais incluem questões sobre
sexualidade;
• 9 em cada 10 jovens holandeses afirma ter tido EPS na escola.
• O sistema educativo concentra a EPS nos níveis de ensino
equivalentes ao 3º ciclo e secundário, podendo iniciar-se na pré-
escola.
• Em qualquer disciplina o professor pode abordar temas sobre
sexualidade, mas é nas disciplinas de biologia, saúde, política
social e religião que isso mais acontece.
• Os programas de EPS têm como objectivos incentivar a
discussão sobre temas relacionados com a sexualidade e
encorajar os adolescentes a falar sobre esse e outros assuntos
do seu interesse; a filosofia não é ensinar, mas sim falar, sobre
sexualidade.
• Os programas de EPS baseiam-se em metodologias que
implicam interacção como o role-playing, simulação, etc., até
mesmo em suporte digital (CD interactivo).
• O governo apoia/financia programas televisivos de informação na
área da sexualidade, bem como uma revista que é enviada a
todos os jovens.
• Os pais têm um papel importante na EPS: cerca de 80% dos
adolescentes holandeses afirma ter falado sobre sexualidade
com os pais.
• Existe uma rede de clínicas destinada ao apoio a jovens na área
da saúde sexual.
• As campanhas dos mass media desempenham um papel
importante na EPS graças à sua coordenação com os sectores
da educação e da saúde.

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Alemanha:
• A EPS não faz parte do currículo nacional, não é tratada como
uma disciplina específica.
• Cabe aos professores e dirigentes escolares a implementação
dos programas de EPS que acharem adequados.
• É usual que os professores convidem elementos de organizações
responsáveis pela saúde sexual e reprodutiva para conduzirem
palestras dirigidas aos alunos.
• As estratégias dos programas de EPS baseiam-se no diálogo,
dando especial atenção à vertente relacional; assim, temos como
metodologias mais utilizadas: a discussão à volta de um tema
principal, o role-playing e a resolução de conflitos e a valorização
da experiência pessoal.
• Foi criado um CD (Love Line) que permite o acesso a
informação, jogos interactivos e a discussão e outras interacções
sobre sexualidade.
• O programa de EPS mais popular (“Educação Sexual Holística e
Prevenção da SIDA”) resultou da colaboração entre professores,
pais, alunos, sexólogos, professores arte dramática e
administrativos e tem um carácter interdisciplinar, abrangendo
todos os níveis entre o 7º e o 12º ano de escolaridade.

Dinamarca:
• A EPS é obrigatória nas escolas dinamarquesas.
• Os alunos com 14 anos ou mais participam em visitas
organizadas para conhecerem clínicas de planeamento familiar e
os métodos contraceptivos disponíveis.
• Aos 16 anos os jovens recebem o seu próprio cartão de saúde
que lhes concede o direito à escolha de médico e a serviços de
saúde gratuitos e confidenciais.

Finlândia:
• A EPS é obrigatória nas escolas finlandesas.

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• O acesso aos serviços de saúde sexual é fácil e de baixo custo.


• O governo financia várias iniciativas na área da saúde sexual,
incluindo a avaliação de programas e a realização de
pesquisas/estudos sobre os serviços de saúde sexual e os
resultados das medidas implementadas.

Suécia:
• A EPS é obrigatória nas escolas suecas desde 1955.
• Os jovens recorrem simultaneamente aos serviços de saúde
primários, aos programas de distribuição de preservativos e aos
serviços especiais para jovens.
• A EPS rege-se pelos princípios da democracia, tolerância e
igualdade.

3.3. Resultados dos programas de Educação para a Sexualidade

Qualquer acção inovadora de Educação para a Sexualidade pode e deve


beneficiar da experiência e dos resultados obtidos com outras acções já
implementadas. Assim, procuramos identificar as características dos programas
de EPS com resultados mais positivos e as metodologias aplicadas nesses casos.

3.3.1. Programas mais eficazes


Um estudo de avaliação da eficácia de vários programas de prevenção da
gravidez na adolescência (Card, 1999) reuniu as características principais dos 30
programas com resultados mais positivos:
− focam-se claramente na redução de um ou mais comportamentos
sexuais que conduzem a uma gravidez não desejada ou a uma DST;
− integram objectivos comportamentais, métodos de ensino e materiais
apropriados à idade, experiência sexual e cultura dos adolescentes;
− baseiam-se em estratégias que provaram ser eficazes noutras áreas
problemáticas da saúde;

A Internet e a Educação para a Sexualidade 40


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− duram o tempo suficiente para permitir que os participantes completem


actividades importantes;
− disponibilizam informação essencial e rigorosa sobre os riscos de
relações sexuais sem protecção e métodos para as evitar;
− usam uma diversidade de metodologias de ensino criadas para envolver
os participantes;
− incluem actividades que abordam pressões sociais relacionadas com a
sexualidade;
− implementam modelos que desenvolvem a capacidade de
comunicação, negociação e recusa;
− seleccionam adultos ou colegas adolescentes que acreditem no
programa e dão-lhes formação específica.

No que diz respeito às metodologias utilizadas nesses programas,


predominaram as seguintes:
− discussões de grupo (25 programas);
− palestras (21 programas);
− representação de papéis – role playing (20 programas);
− vídeos (14 programas).

Segundo as linhas orientadoras dos Ministérios da Educação e da Saúde


portugueses relativamente às metodologias a adoptar nos programas de EPS,
«As metodologias activas e participativas (…) são, sem dúvida, as mais
adequadas ao estabelecimento das relações interpessoais desejáveis para o
desenrolar da Educação Sexual, (…), e para o desenvolvimento das
competências que aquela pretende promover nos seus participantes.» (Marques
et al, 1999). Entende-se como “metodologias activas e participativas” todas
aquelas que se expressam na utilização de um vasto conjunto de técnicas (Frade
et al, 1996):
• Trabalho em pequenos grupos – consiste em dividir os participantes em
grupos de 3 a 5 elementos, pedindo a todos os grupos a execução de uma
tarefa ou trabalho, ou dividindo várias tarefas entre eles; esta técnica pode ser

A Internet e a Educação para a Sexualidade 41


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complementada por uma apresentação e discussão dos resultados de cada


grupo, no grupo mais alargado.
• Brainstorming ou tempestade de ideias
• Utilização de histórias e casos inventados ou reais
• Jogos de clarificação de valores – consiste em promover o debate entre
posições diferentes (podendo ou não chegar-se a consenso), através da
utilização de pequenas frases que sejam opinativas e polémicas.
• Role-play ou dramatização – consiste na simulação de pequenos casos ou
histórias em que intervém o número de personagens que se quiser; deve ser
complementada com debate em pequeno ou grande grupo.
• Caixa de perguntas – consiste na recolha prévia e anónima de perguntas,
sobre temas de interesse dos participantes.
Assim, deve dar-se especial importância ao papel predominantemente
activo e participativo dos alunos, em todas as fases do projecto, partindo sempre
das concepções prévias que esses alunos têm relativamente ao(s) tema(s)
abordado(s) (Marques et al, 1999).
«Partir dos conhecimentos individuais e do grupo (certos ou errados),
utilizar esses e novos conhecimentos, problematizar e resolver situações, utilizar
o humor e o jogo ou trabalhar em pequenos grupos são as metodologias mais
eficazes nesta área.» (Frade et al, 1996).

3.4. A Educação para a Sexualidade na Internet

Em qualquer aplicação informática existe uma interface que permite o


controlo e a comunicação com essa aplicação por parte do utilizador. Qualquer
interface obriga a uma aprendizagem, logo, cabe a quem planeia a aplicação
informática facilitar essa aprendizagem, tornando a interface agradável para o
utilizador.
Segundo Cotton e Oliver (1997), quando se trata de um site da Internet, a
sua interface tem que obedecer a requisitos específicos, tendo em conta:
− O objectivo, que vai definir a importância relativa de cada um dos
elementos da aplicação (informação, funcionalidade, estética e
interactividade).

A Internet e a Educação para a Sexualidade 42


O estudo de caso

− As características do público-alvo, que são essenciais para determinar


vários aspectos da interface, não só em relação à ergonomia que deve
ser adequada ao utilizador, mas também em relação ao tipo de
linguagem utilizada (símbolos, ícones, etc.) e à estrutura do site; deve-
se ter em conta os hábitos de navegação do público-alvo.
− A estrutura do conteúdo, que condiciona a navegabilidade e a eficácia
na procura de informação e que deve ser coerente ao longo de todo o
site.

3.4.1. Sites portugueses dedicados à EPS


Verificámos que, em Portugal, o número de sites exclusivamente dedicados
à EPS e dirigidos a um público-alvo adolescente é muito reduzido. A divulgação
desses sites através dos meios de comunicação social (incluindo outros sites
dirigidos a jovens) é escassa ou mesmo inexistente. Deste modo, resta a
divulgação feita por professores, amigos ou familiares e, por fim, a pesquisa por
palavras-chave nos motores de busca disponíveis. Esta última opção torna-se
atractiva uma vez que permite privacidade, mas apresenta alguns riscos,
nomeadamente quanto ao conteúdo dos sites que são apresentados quando se
faz uma pesquisa utilizando termos relacionados com a sexualidade.
Na Tabela 6 encontram-se as características principais de oito sites
portugueses dedicados à EPS, analisadas com base nos requisitos essenciais da
interface, segundo Cotton e Oliver (1997), e com base no seu conteúdo,
possibilidade de comunicação bi-direccional e metodologias propostas.
Desta breve análise percebe-se que a principal função destes sites é
disponibilizar informação. Não se encontram ferramentas ou actividades que
apelem ao trabalho de grupo e colaboração, não há interactividade e as
possibilidades de comunicação são, na maioria dos casos, limitadas ou mesmo
inexistentes. Parece-nos, portanto, que a utilização destes sites no âmbito de uma
acção de EPS só é viável se forem utilizados como um recurso mais, a adicionar
a outros como livros, folhetos informativos, vídeos, etc.. Apenas o webquest
Sexualidade/Sexualidades se pode considerar uma acção de EPS, uma vez que
consiste numa «actividade de pesquisa orientada em que toda ou a maior parte
da informação com que os alunos interagem provém de recursos na Internet»

A Internet e a Educação para a Sexualidade 43


O estudo de caso

(Dodge, 1995) e permite a implementação de metodologias utilizadas nos


programas de EPS tradicionais (como, neste exemplo, o role-playing).
Em nenhum dos casos se encontram componentes multimédia (som,
imagens em movimento, filmes, …).
Site
Ferramentas de
(entidade Interface Conteúdo Metodologias
comunicação
responsável)
• Não adequado
a um público-
• E-mail • Exposição
alvo jovem
(“perguntas ao escrita da
• Design
médico”) informação
simples,
1 • Informação de • Livro de visitas • Pergunta/res-
SEXUALIDADES sóbrio, pouco
(equipa apelativo carácter • Newsletter posta
técnico muito • Fórum (o • Discussão/de-
multidisciplinar) • Estrutura de
variada registo bate
portal
obrigatório • Sugestões
• Permite
implica perda • Pesquisa no
pesquisa
de anonimato) próprio site
• Existe mapa do
site
• Adequado a
• Aspectos
um público-
alvo jovem morfo-
fisiológicos da • Pergunta/res-
• Design
sexualidade posta
feminino,
SEXUALIDADES
2
• Alguns • FAQ’s
dinâmico, • E-mail
(Areal Editores) aspectos • Glossário
atractivo
afectivos e • Pesquisa no
• Boa
comportamen- próprio site
legibilidade
tais da
• Páginas muito
sexualidade
extensas
• Adequado a
um público- • Comportamen-
alvo jovem tos e
• Exposição
• Design preocupações
EDUCAÇÃO escrita da
3 apelativo, dos
SEXUAL • E-mail informação
dinâmico adolescentes
(Texto Editora) • Pergunta/res-
• Legibilidade • Mitos
posta
razoável • Lista de links
• Navegação um úteis
pouco confusa

1
www.sexualidades.com
2
sexualidades.arealeditores.pt
3
www.educacao.te.pt

A Internet e a Educação para a Sexualidade 44


O estudo de caso

Site
Ferramentas de
(entidade Interface Conteúdo Metodologias
comunicação
responsável)
• Design
• Aspectos
simples, pouco
morfo-
atractivo
fisiológicos da
SEM TABUS
4
• Navegação • Exposição
adolescência
(Escola EB 2, 3 fácil e intuitiva, escrita da
de Mondim de • Desenvolvi- Não disponíveis
com hipertexto informação
mento
Basto) • Boa • Glossário
psicossocial
legibilidade
dos
• Linguagem
adolescentes
pouco coerente
• Adequado a
um público
• Exposição
jovem
• Design sóbrio, • Informação escrita da
muito informação
apelativo e
diversificada • Pergunta/res-
SEXUALIDADE dinâmico • E-mail
5 • Aspectos posta
JUVENIL • Boa • Fóruns (o
(Instituto comportamen- • FAQ’s
legibilidade anonimato é
tais dos • Discussão/de-
Português da • Mapa do site sempre
adolescentes bate
Juventude) • Permite possível)
• Aconselha- • Sugestões
pesquisa
mento e • Sondagens
• Navegação
orientação • Pesquisa no
intuitiva
próprio site
• Linguagem
adequada
• Ausência total
de imagens
• Design
institucional,
SAÚDE E sóbrio,
SEXUALIDADE coerente,
JUVENIL
6 • Saúde sexual • Exposição
pouco
(Instituto apelativo • Comportamen- Não disponíveis escrita da
tos sexuais informação
Português da • Linguagem
Juventude) adequada
• Navegação
intuitiva
• Legibilidade
razoável
• Design original,
• Orientações e
simples, sóbrio
links úteis para
SEXUALIDADE/ • Boa • Webquest
7 a realização
SEXUALIDADES legibilidade • Pesquisa
das tarefas Não disponíveis
(Universidade de • Navegação orientada
propostas
Évora) intuitiva • Role-playing
• Remete para
• Linguagem
outros sites
adequada

4
www.eb23-mondim-basto.rcts.pt/sem-tabus.html
5
www.sexualidadejuvenil.pt
6
juventude.gov.pt/Portal/OutrosTemas/SaudeSexualidadeJuvenil/
7
www.minerva.uevora.pt/aventuras/sexualidade/

A Internet e a Educação para a Sexualidade 45


O estudo de caso

Site
Ferramentas de
(entidade Interface Conteúdo Metodologias
comunicação
responsável)
• Design
feminino,
pouco
EDUCAÇÃO • Morfo-fisiologia • Exposição
8 dinâmico
SEXUAL do sistema escrita da
• Navegação
(Escola reprodutor • E-mail informação
intuitiva
Secundária de • Contracepção • Pergunta/res-
• Estrutura e
Tondela) • DST’s posta
linguagem
pouco
coerentes
Tabela 6 – Principais características de sites portugueses de EPS

É importante assinalar o facto de alguns destes sites resultarem da


iniciativa de grupos de pessoas empenhadas e interessadas em promover a EPS,
sem qualquer fim lucrativo ou apoio institucional.

3.4.2. Sites americanos e europeus dedicados à EPS


Após uma pesquisa de sites de EPS de origem americana e europeia,
seleccionámos alguns e efectuámos uma análise com base nos mesmos critérios
indicados para os sites portugueses (Tabela 7) (Cotton e Oliver, 1997; Barak e
Fisher, 2001). A selecção baseou-se apenas na origem dos sites, para que
fossem de diferentes países, e no seu objectivo principal que deveria ser a EPS
dos adolescentes.
Verificou-se a existência de ferramentas multimédia em alguns dos
exemplos encontrados (nem todos descritos na Tabela 7), não deixando dúvidas
quanto ao dinamismo e ao vasto leque de metodologias que essas ferramentas
permitem implementar. Deste modo, torna-se possível implementar uma acção de
EPS tendo como base única e exclusivamente um site da Internet.
A possibilidade de participar em chats também está presente em alguns
dos exemplos analisados, destacando-se das outras ferramentas de comunicação
pela sua natureza síncrona. Estes chats podem ser um incentivo à participação
dada a preferência que os adolescentes parecem ter por esta funcionalidade
quando procuram informação sobre sexualidade (Subrahmanyam, Greenfield e
Tynes, 2004).

8
www.esec-tondela.rcts.pt/sexualidade/inicio.htm

A Internet e a Educação para a Sexualidade 46


O estudo de caso

Apenas um dos sites analisados inclui o humor como forma de abordar


determinados temas e questões levantadas pelos adolescentes.
Quanto às outras metodologias encontradas, não são mais do que uma
adaptação para a Internet do que se pode encontrar em livros ou outros suportes
tradicionais de informação sobre sexualidade.

Site
Ferramentas de
(entidade Interface Conteúdo Metodologias
comunicação
responsável)
• Não adequado
a um público-
alvo
adolescente
• Navegação um • Informação
pouco confusa técnica e • E-mail • Pergunta/res-
SEXUAL HEALTH
9
• Boa pormenorizada • Fórum posta
(Sexual Health legibilidade sobre saúde (ambas implicam • Exposição
Network, USA) • Permite sexual e perda de escrita da
pesquisa comportamen- anonimato) informação
• Linguagem tos sexuais
técnica
• Muita
publicidade
externa
• Adequado a
um público-
• Jogos
alvo jovem
interactivos
• Inclui imagens,
• Informação • Humor
gráficos e
diversa na área • Filmes
várias
da sexualidade • Glossário
ferramentas
• Sexualidade na interactivo
multimédia
adolescência • Rádio on-line
TEEN WIRE
10
• Design muito
• Saúde sexual • Diário fictício
(Planned dinâmico, um • E-mail
• Relacionamen- de uma
Parenthood pouco confuso • Chats
tos adolescente
Federation of • Legibilidade • Fórum
America) razoável • Contracepção • Hipertexto
• Linguagem • Conteúdos • Quizz’s
adequada disponíveis em • Debates/co-
2 línguas mentários
• Permite
(inglês e assíncronos
pesquisa
• Navegação
espanhol) • Debates/con-
confusa versas
síncronos
• Hipertexto
presente

9
www.sexualhealth.com
10
www.teenwire.com

A Internet e a Educação para a Sexualidade 47


O estudo de caso

Site
Ferramentas de
(entidade Interface Conteúdo Metodologias
comunicação
responsável)

• Navegação
• Pergunta/res-
fácil e intuitiva
posta
• Design
11 • Sentimentos e • Conversa
I WANNA KNOW simples, sóbrio
comportamen- síncrona on-
(American Social • Linguagem • E-mail
tos sexuais line (chats)
Health adequada • Chats
• DST’s • Glossário
Association) • Boa
• Puberdade • Exposição
legibilidade
escrita da
• Existe mapa do
informação
site

• Adequado a
um público-
alvo jovem
• Design
• Jogos
dinâmico,
(palavras-
original • Aspectos
cruzadas)
CJASM
12
• Navegação fisiológicos da
• Pergunta/res-
(Centro Joven de confusa sexualidade
• e-mail posta
Anticoncepción y • Legibilidade, • DST’s
• Livro de visitas • Consulta em
Sexualidad de por vezes, • Gravidez não
linha
Madrid) fraca desejada
• Sugestões/co-
• Com • Contracepção
mentários
animações
• Questionários
• Permite
pesquisa
• Existe mapa do
site
• Adequado a
um público-
alvo jovem • Glossário
• Design sóbrio • Quizz’s
• História da Não disponíveis
PILADO
13 e dinâmico, por
contracepção (existe um • Exposição
vezes feminino escrita da
(Organon, • Contracepção pequeno serviço
• Boa informação sob
França)
legibilidade • Prevenção de de postais
electrónicos) a forma de
DST’s
• Navegação pergunta/res-
intuitiva posta
• Existe mapa do
site

11
www.iwannaknow.org
12
www.bandin.com/cjas/
13
www.pilado.com

A Internet e a Educação para a Sexualidade 48


O estudo de caso

Site
Ferramentas de
(entidade Interface Conteúdo Metodologias
comunicação
responsável)
• Adequado a
• Exposição
um público-
escrita da
alvo jovem • Contracepção
informação
• Boa e gravidez
• Página de • Sugestões/opi-
R U THINKING legibilidade • Legislação
14 sugestões niões
ABOUT IT? • Design sóbrio, • DST’s
• Remete para • Análise de
(Teenage dinâmico • Transforma-
Pregnancy Unit, • Linguagem contacto casos reais
ções físicas na
UK) telefónico ou • Jogo (não
adequada adolescência
outros sites disponível no
• Permite • Relacionamen-
momento da
pesquisa tos
consulta)
• Navegação
intuitiva
Tabela 7 – Principais características de sites estrangeiros de EPS

14
www.ruthinking.co.uk

A Internet e a Educação para a Sexualidade 49

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