Vivemos sonhando com o mundo novo: o mundo do Bom Pastor, onde a
violência ceda o lugar à paz, à justiça, à fraternidade. Para que o sonho se realize, o Bom Pastor é a última esperança. A penúltima são as mães, depositárias do amor infinito de Deus. Quando vejo a violência praticada nas ruas contra pessoas indefesas, eu digo: “Será que não têm mãe, esses violentos? Antes de puxar o gatilho ou arremessar a faca, por que não pensam na aflição das mães dos violentados?” E quando vejo a violência legalizada dos homens do governo a impor cargas pesadas às costas do pobre, do trabalhador, do assalariado, eu digo: “Será que não têm mãe, esses senhores? Ao aprontarem pacotes econômicos tão desumanos, por que não pensam em como ficariam as senhoras mães deles, se elas não tivessem pão para dar a seus filho?” Hoje, antes de fazermos um discurso patético e comovente em homenagem às nossas mães, preferimos lançar a elas um grande desafio: o que é que elas podem fazer para deter a escalada da violência? Nossos jovens estão se metendo num caminho de violência. Mas nós, os adultos, não temos nem um pouco de razão para censurá-los, uma vez que somos mais violentos do que eles. Porque, enquanto eles se agitam e gritam nas praças de punho fechado, nós pais, homens de governo e homens de Igreja, baixamos leis e decretos insuportáveis. Enquanto eles quebram vidraças e incendeiam carros, nós fazemos massacre dos valores cristãos, da fé e dos mandamentos. Debaixo da cruz, estava a Mãe para receber o último suspiro do Inocente violentado. Com sua coragem e seu perdão, com suas lágrimas de amor, as mães dos violentos e dos violentados de hoje conseguirão derrotar a violência. Pe. Virgílio, SSP, Jornal O Domingo. São Paulo, Ed. Pia Sociedade de São Paulo, ano LII, n° 24, 13/05/1984.