Estes estudos de Roosevelt Silveira se
compunham de quatro livros. Nesta segunda
Primeira Edição - 2001
Segunda Edição - 2001
Todos os direitos reservados pela
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, É proibida a reprodução parcial ou
total sem a permissão escrita dos
editores.
Capa: Rafael Guimarães
Redação, pesquisa, argumentações e
revisão: Roosevelt Silveira
Conferência teológica: Pr . Jorge Linhares
Endereço de Roosevelt Silveira
Caixa postal 47-0091 29560-
000 Guaçuí (ES)
edição, corrigida, os mesmos temas foram
ampliados, passando a formar seis volumes,
os quais foram redigidos de forma a ser lidos
separadamente. Entretanto o capítulo de um
poderá, às vezes, ser complementado ou mais
bem compreendido com a leitura de outros
existentes nos demais. São eles:
• A Mãe de Jesus. Capítulos: A Mãe de Je-
sus, Os Irmãos de Jesus e a Irmã de Maria
de Nazaré.
• O Sacrifício da Missa Capítulos: Os Sa-
cramentos, O Sacrifício da Missa, O Celi-
bato Sacerdotal e A Confissão Auricular.
• As Imagens. Capítulos: Os Dez Manda-
mentos, As Imagens, Os Sacrifícios a Ído-
los, A Salvação pela Graça Mediante a Fé. •
As Tradições. Capítulos: As Tradições e Os
Santos.
• A Pedra Fundamental da Igreja Capí-
tulos: A Pedra Fundamental da Igreja, A
Infalibilidade Papal, O Purgatório, O
Limbo e Os Pecados Capitais.
• O Rosário. Capítulos: O Rosário, As Inovações na
Igreja e os Reformadores, O Catolicismo e As
Mentiras Permitidas, As Semelhanças do Catolicismo
com o Espiritismo e O Catolicismo em Relação aos
Vícios e aos Bailes.
 ÍNDICE

Introdução........ ..................................7

1. Os Sacramentos ................................. 9

2. O Sacrifício da Missa
................................................................1
7
3. O Celibato Sacerdotal............... tf1

4. A Confissão Auricular
............................................................... 7
1
Conclusão .........................................78

Oração ...............................................ffi

Bibliografia Consultada............. 81

"Cristo, tendo-se oferecido uma vez para
sempre para tirar os pecados de muitos,
aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o
aguardam para a salvação"(Hb 9.28).
"Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo
14.6).
"Eú vim como luz para o mundo, a fim de
que todo aquele que crê em mim não
permaneça nas trevas"(Jo 12.46).
INTRODUCÁO
,
As Sagradas Escrituras devem ser o
manual orientador de nossa vida. Pro-
curamos chamar a atenção, em nossos
escritos, para a supremacia das suas
mensagens. Muitos dos que se dizem
cristãos se confrontarem sua crença com a
Bíblia descobrirão que firmam sua fé em
fábulas (2 Tm 4.4; 2 Pe 1.16), em lendas e
em superstições.
Isso acontece com a maior parte dos
católicos leigos. Na boa-fé, julgam estar
obedecendo à Palavra de Deus, mas, por
quase a desconhecerem, na maior parte
das vezes estão seguindo tradições orais
contrárias a ela.
Devemos levar em conta que um do-
cumento escrito será sempre superior a
ensinos verbais.
Nós nos dedicamos a estudar o cato-
licismo, comparando-o com o protestan-
tismo. Sabemos que são poucos os leigos
que conhecem o mínimo necessário sobre
o assunto.
Nosso objetivo não é magoar nem
ofen-
 der esses nossos amigos, mas prestar-lhes
esclarecimentos e chamar sua atenção para
as Escrituras, as quais nos encaminham
para a única Verdade, que é Cristo, a nós
prometido para derrotar o maligno (Gn
3.15) e nos resgatar. Ele veio, morreu na
cruz, saiu dela vitorioso, e nos é
apresentado como o vencedor (Ap 12.11).
Elas giram todas em torno dele, tendo-o à
frente, por ser nosso único Senhor,
Salvador, Advogado e Rei. Ele é manso e
humilde de coração, bom, puro e meigo.
Transmitimos as nossas explicações
com amor fraternal. Contudo muitos po-
dem achar-nos rígidos demais. Alguns têm
por costume dizer que cada um deve
respeitar a religião e o pensamento do
próximo. Prestar esclarecimentos não é
desrespeitar ninguém. O errado seria ver
alguém no engano e deixá-lo contin uar
nele por receio de ofendê-lo. A função do
cristão é ser pescador de homens, fazer
discípulos. Ninguém consegue isso
ficando calado.
Aos não-evangélicos que lerem este
livro pedimos fazê-lo sem a intenção
preconcebida de crítica negativa ou de
recriminação. Busquem conhecer pontos
de vista divergentes dos seus. Depois da
leitura, acompanhada do exame bíblico, aí
sim, tirem sua conclusão.
..,
8
Capítulo 1
Os SACRAMENTOS
Algumas denominações evangélicas
dizem que sacramentos e ordenanças são a
mesma coisa. Outras discordam,
argumentando não ter Jesus deixado
nenhum sacramento - sinal visível de uma
graça invisível-, mas sim duas ordenanças.
As que sustentam não haver diferença
alegam vir os sacramentos do Antigo
Testamento, sendo santos sinais e selos
do pacto da graça, imediatamente
instituídos por Deus para representar
Cristo e seus benefícios, e confirmar o
nosso interesse nele, bem como para
fazer uma diferença visível entre os que
pertencem à Igreja e o restante do mundo,
e solenemente comprometê-los no serviço
de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra
1 e, vindo Jesus, ele instituiu apenas dois .
1_ A Confissão de Fé, p. 137.
 .. Seja como for, todos os protestantes
concordam que são dois e não sete. Isso
porque na Bíblia constam apenas duas
práticas ordenadas por Cristo: a Ceia e o
Batismo. Ele não estabeleceu outras, ou
seja" não disse: casem-se, crismem-se, etc.
E verdade que o cristão deve se casar e
não se amasiar, porém isso não significa
uma determinação dele para tal ato.
A Igrej a Romana afirma existir sete
sacramentos, a saber:
• Batismo
• Confirmação ou crisma
• Eucaristia ou Santa Ceia
• Penitência ou confissão
• Extrema-unção
• Ordem sacerdotal
• Matrimônio.
Considera ela o matrimônio um sacra-
mento, todavia o proíbe aos padres. Obri-
ga-os a quebrar, então, uma das exigên-
cias atribuídas ao Mestre. Alegam, para
isso, existir o sacramento da ordem sa-
cerdotal. Assim, admitem a impossibili-
dade de ser os sete cumpridos por quais-
quer pessoas, sejam leigas ou não. As
determinações de Deus (ou de Cristo) não
podem entrar em choque umas com as
outras. Participar da Ceia e ser batizado
são deveres de todos os cristãos, pois
existe o preceito. Como Cristo poderia
exigir, simultaneamente, casem - se e não
se casem? Responderão:
10
O celibato é uma exceção, para quem re-
solver se dedicar à causa de Deus. Per-
guntaremos onde, na Bíblia, existe a im-
posição de os vocacionados para o sacer-
dócio serem celibatários? Isso o homem
inventou. E qualquer acréscimo aos ensi-
nos de Deus é condenado por ele. Se essa
ordenança existisse, os sacerdotes do
Antigo e do Novo Testamento, em
suaquase totalidade, a teriam
desobedecido. Também os pastores da
igreja edificada por Cristo teriam feito o
mesmo. Ainda que não houvesse conflito
entre esses dois supostos sacramentos,
quem ficasse solteiro, sem a intenção de
seguir a carreira religiosa, estaria sendo
desobediente, descumprindo o do
matrimônio.
São Jerônimo cometeu um erro na tradução
da Vulgata (Bíblia em latim). Devido a isso, a
Igreja Romana baseouse, por muito tempo, no
seguinte versículo para considerar o
matrimônio um sacramento:
"Eis por que deixará o homem a seu pai e a
sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tor-
narão os dois uma só carne. Grande é este
mistério, mas eu me refiro a Cristo e à Igreja"
(Ef 5.31 ,32).
Ele traduzira: Grande é este sacramen-
to, quando, no original, a palavra é mys-
terion (mistério). O erro de tradução foi
corrigido, mas o sacramento católico
permaneceu.
11

Não entendemos como passaram a ter a
extrema-unção entre os sacramentos, se
esta foi oficializada em 528 depois de
Cristo. Um senhor argumentou conosco
que sua prática é bíblica. Acontece que ela
seria uma preparação do moribundo para a
morte, enquanto o trecho exibido por ele
é, ao contrário, destinado a resta-
belecimento: "Está alguém entre vós
doente? Chame os presbíteros da igreja,
e estes façam oração sobre ele, ungindo-o
com óleo, em nome do Senhor. E a oração
dafé salvará o enfermo e o levantará"
(Tg 5.14-15).
Na verdade o número de sete sacra-
mentos foi decretado no Concílio de Flo-
rença em 1439. O Concílio de Trento
(1545-1563) assim se expressou:
"Se alguém declarar que os sacramentos da
Nova Lei não foram instituídos por Jesus
Cristo, nosso Senhor; ou que eles são mais, ou
menos, do que sete ... ou mesmo que qualquer
um destes sete não é verdadeira e
apropriadamente um sacramento, que seja
anátema", que seja excomungado. 2
Não costumamos tocar neste assunto,
mas, embora diga que não o faça, a Igreja
Católica cobra para ministrar
sacramentos. Eis o argumento de um
padre:
« ••• já que mencionamos a esmola
para
sustentação
2_ do culto,
BOETTNER, Loraine. aproveitemos
Catolicismo Romano, p.para nos
154,155.
1'2
referirmos a uma afirmação grosseira dos
protestantes, que se resume nestas palavras:
(Os Padres vendem os Sacramentos, pois, se
tem de pagar para ser batizado, casado, etc. '
Antes de tudo, devemos notar que os
Sacerdotes têm de obter de alguma parte o
dinheiro necessário para a manutenção do
culto e sua própria manutenção, assim como
para as obras de imprescindível beneficência,
que absorvem grandes somas.
São Lucas, no capítulo 1 O, versículo 7, de
seu Evangelho, recolhe as palavras ditas por
Jesus aos 72 discípulos que enviara a pregar:
(O operário é digno de seu salário'. E na
Primeira Epístola a Timóteo, capítulo 5, versí-
culo 18, São Paulo recorda essa frase de Jesus
e uma similar do Deuteronômio, capítulo 25,
versículo 4. É, portanto, completamente
(bíblico' que os Sacerdotes recebam ofertas em
metálico ou em espécie para sua honesta
sustentação e para a manutenção do culto e
das obras de beneficência.
Se os governos pagassem esses gastos ou se as
esmolas espontâneas dos fiéis fossem
quantiosas, a Igreja não estabeleceria
provavelmente tabelas de estipêndios para
receber algum dinheiro; porém o orçamento do
os culto, nas nações católicas em que ainda se
conserva, costuma ser muito reduzido e as
esmolas espontâneas ... também o são.
Ademais; aprenda-o bem de memória o
apologista católico, o Sacerdote não vende
13

Não entendemos como passaram a ter a
extrema-unção entre os sacramentos, se
esta foi oficializada em 528 depois de
Cristo. Um senhor argumentou conosco
que sua prática é bíblica. Acontece que ela
seria uma preparação do moribundo para a
morte, enquanto o trecho exibido por ele é,
ao contrário, destinado a restabelecimento:
"Está alguém entre vós doente? Chame os
presbíteros da igreja, e estes façam oração
sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome
do Senhor. E a oração dafé salvará o
enfermo e o levantará" (Tg 5.14-15).
Na verdade o número de sete sacra-
mentos foi decretado no Concílio de Flo-
rença em 1439. O Concílio de Trento
(1545-1563) assim se expressou:
"Se alguém declarar que os sacramentos da
Nova Lei não foram instituídos por Jesus
Cristo, nosso Senhor; ou que eles são mais, ou
menos, do que sete ... ou mesmo que qualquer
um destes sete não é verdadeira e
apropriadamente um sacramento, que seja
anátema", que seja excomungado. 2
Não costumamos tocar neste assunto,
mas, embora diga que não o faça, a Igreja
Católica cobra para ministrar os
sacramentos. Eis o argumento de um
padre:
(( ... já que mencionamos a esmola para
sustentação do culto, aproveitemos para nos
2_ BOETTNER, Loraine. Catolicismo Romano, p. 154,155.
1'2
referirmos a uma afirmação grosseira dos
protestantes, que se resume nestas palavras:
(Os Padres vendem os Sacramentos, pois, se
tem de pagar para ser batizado, casado, etc. '
Antes de tudo, devemos notar que os
Sacerdotes têm de obter de alguma parte o
dinheiro necessário para a manutenção do
culto e sua própria manutenção, assim como
para as obras de imprescindível beneficência,
que absorvem grandes somas.
São Lucas, no capítulo 10, versículo 7, de
seu Evangelho, recolhe as palavras ditas por
Jesus aos 72 discípulos que enviara apregar:
(O operário é digno de seu salário '. E na
Primeira Epístola a Timóteo, capítulo 5, versí-
culo 18, São Paulo recorda essa frase de Jesus
e uma similar do Deuteronômio, capítulo 25,
versículo 4. É, portanto, completamente
(bíblico' que os Sacerdotes recebam ofertas em
metálico ou em espécie para sua honesta
sustentação e para a manutenção do culto e
das obras de beneficência.
Se os governos pagassem esses gastos ou se as
esmolas espontâneas dos fiéis fossem quantiosas, a
Igreja não estabeleceria provavelmente tabelas de
estipêndios para receber algum dinheiro; porém o
orçamento do culto, nas nações católicas em que ainda
se conserva, costuma ser muito reduzido e as esmolas
espontâneas ... também o são.
Ademais; aprenda-o bem de memória o
apologista católico, o Sacerdote não vende
13
os Sacramentos; costuma cobrar-se um tanto por
ocasião da administração de certos Sacramentos e
isto é feito a título de esmola, não a título de
operação de compra e venda. Repetimos: Não se
vendem os Sacramentos. Recebe-se, sim, um tanto
a título de esmola para a honesta sustentação do
clero e manutenção do culto e das obras de
beneficência. "3
Esmola, está no dicionário, é o que se
dá aos necessitados, por caridade ou
filantropia; óbolo, espórtula; auxílio,
amparo, socorro; beneficio; donativo em
dinheiro, que se faz ao padre durante a
celebração da missa. Os textos bíblicos
citados referemse a salário. Um
empregado, trabalhando com dignidade,
não percebe esmolas do patrão. Um
ministro de Deus também não pela
assistência prestada à igreja e aos fiéis. O
costume católico talvez venha de tradição,
pois houve uma época em que as cidades
passaram a adotar caixas de esmolas para
ajudar aos pobres.
"Ora, ao que trabalha, o salário não é
considerado como favor (nem esmola ou
oferta), e sim como dívida" (Rm 4:4).
(( .digno é o trabalhador do seu salá-
rio ... " (Lc 10:7).
"Devem ser considerados merecedores de
dobrados honorários os presbíteros
pe Fernando. Protestantismo e Bfblia,
3_ CARBALHO,
p.154,155.
14
(pastores, bispos) que presidem bem, com
especialidade os que se afadigam na
palavra e no ensino" (1 Tm 5.17).
Oferta é outra coisa.
Se o orçamento do culto, no romanismo,
costuma ser reduzido e as esmolas
espontâneas também - não conhecemos
esmolas obrigatórias -, significa que os
católicos não abriram o coração nem o
bolso para a causa de Deus, talvez porque
não sejam bem orientados pela sua igreja
quanto aos dízimos. É uma lástima
deixarem de entregar a Deus a parte dele e
promoverem jogos, leilões e quermesses a
fim de angariar dinheiro e complementar o
orçamento, ocasião em que não poucos se
embebedam. Um sacerdote poderá corrigir
quem estiver causando escândalos, se o
comércio da bebida foi autorizado por ele?
Segundo MI 3.8, quem não é dizimista é
ladrão. (*)
Cobrar-se um tanto ou estabelecer-se
tabela de remuneração (estipêndio) para que
sej am administrados certos sacramentos, a
título de esmola, e depois se dizer que nada é
cobrado é cair em contradição. Esmola não
pode ser estipulada nem exigida. A causa de
Deus não precisa disso, pois é humilhação.
Os protestantes não são mantidos pelo
governo dos Estados Unidos como alguns
(0) _ Sobre os dízimos, consultar o capo 6 do livro AS IMA-
GENS.
15
católicos - por desconhecimento, por
aprenderem com pessoas de má-fé -
costumam dizer. Se há denominações rece
bedoras de algum donativo de igrejas de
lá, e é bem possível que sim, não vemos
nenhum mal nisso. Nada de mais alguma,
ao iniciar as suas atividades ou ao estar em
dificuldade financeira, receber apoio de
irmãos daquele País. Seria errado o Capítulo 2
Vaticano ajudar uma Igreja sua na
Etiópia? O ruim não é o dinheiro que entra
em nosso País e sim o que possa dele sair.
A Igrej a Católica não manda dinheiro o SACRIFÍCIO DA
nosso para Roma? E ela, até algumas
décadas atrás, não era sustentada pelo MISSA
Estado?
Há muitos anos, ao passar por um
templo católico em uma cidade, no Es- Se perguntarmos quem gostaria de
pírito Santo, deparamo-nos com uma renovar a crucificação de Cristo, de par-
tabuleta, na porta de entrada, onde estava ticipar da sua repetição, e algum católico
escrito: "Tabela de Preços -- Batizado, disser que não, ele deverá ser alertado de
tanto; Casamento, tanto", etc. Ficamos que vem tomando parte de sua renovação
chocados. Coitadas das pessoas tímidas e, sem estar conscientizado.
ao mesmo tempo, pobres: sentir-seão Poucos sabem o que é a missa. Esse
envergonhadas, humilhadas por ter de vocábulo, não-bíblico, significa mistério.
pedir que não lhes seja cobrado o batizado E o mistério seria Jesus transformar-se
dos filhos, por exemplo, quando isso não . numa hóstia e no vinho. Sua finalidade é a
lhes deveria custar nada. repetição do sacrificio de Jesus na cruz,
porém de modo incruento (sem derrama-
mento de sangue). Além de repetir (re-
novar), serve para representar (no sentido
de apresentar de novo), prolongar e per-
petuar o sacrificio da cruz. Trata-se de
um
16
ritual de sacrifício instituído no ano 394
depois de Cristo, substituindo o culto cristão
original. A celebração também é utilizada
para retirar almas padecentes no purgatório.
Era celebrada em latim. Os fiéis ficavam
sem nada entender do que era dito pelo
padre. Nada aprendiam. Algumas igrej as
tradicionais prosseguem adotando esse
método.
Vamos documentar o que estamos
afirmando. Diz o catolicismo:
a} "Na eucaristia, de modo admirável, se
renova o supremo Sacrifício do Calvário"
(Papa Leão XIII) .
b} ((É preciso que sempre recordemos que
toda a virtude da expiação depende do único
Sacrifício Cruento de Cristo, que, sem
interrupção de tempo, se renova de modo
incruento em nossos altares" (Papa Pio XI).
c} "Não é vão que todo o Cristo esteja sob cada
uma das espécies, pois este fato serve para representar
a Paixão de Cristo, na qual o Sangue se separou do
corpo" (Santo Tomás de Aquino).
d} "Poder-se-á chamar a celebração deste
sacramento como representativa da Paixão de
Cristo, por ser uma verdadeira imolação" (Santo
Tomás de Aquino).
e) ((O sacrifício eucarístico representa e
renova (repraesentat et innova~ todos os dias o
da Cruz" (Papa Pio XII) .
f} (( ... perpetuar o Sacrifício da Cruz pelos
séculos afora" (Papa Paulo VI).
18
g) "Pelo sacrifício eucarístico prossegue
(continua) o Sacrifício da Cruz, porquanto é
determinação diviníssima do Redentor que o
Sacrificio consumado uma vez na Cruz se
tomasse perpétuo e permanente na igreja; e
que a razão desta perenidade (eternidade) se
encontra na sagrada eucaristia, a qual oferece,
não a simples semelhança ou memória, porém
a mesma realidade verdadeira (rei veritatem
ipsam), embora em forma ou espécie diferente"
(Papa Leão XIII). 1
Se algo precisa ser repetido é porque não
foi suficiente ou o foi por um só período.
Renovamos, por exemplo, nossas refeições
pelo fato de uma só não ser o bastante para
manter o nosso organismo a vida toda. O
sacrifício de Cristo teve um valor infinito,
não devendo, de maneira nenhuma, ser
renovado, pois foi único. Renová-lo é
classificá-lo de insuficiente. Diz a Bíblia:
"Porque Cristo não entrou num santuário
feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no
mesmo céu ... nem ainda para se oferecer a si
mesmo muitas vezes, como o sacerdote
1_ a) Leão XIII. Encíclica Mirae Caritatis; b) Pio XI.
Encfclica Miserentissimus Redemptor; c) AQUlNO,
Tomás de. Summa Theologiae, P. lII, q. 76, art. 2.º, ad
1; d}AQUlNO, Tomás de. SUmIDa Theologiae, Pars.
lII, q. 83, art. 1,º, inrespondeo; e} Pio XII. Encfclica
Mediador Dei - Acta Apostolicis Sedis; 1) Paulo VI.
Encfclica Mysterium Fidei, § 4.º,0 g} Leão XIII.
Encfclica Charitatis Stadium. Apud REIS, Aníbal
Pereira. A Missa, p. 177,178.
19
cada ano entra no Santo dos Santos, com
sangue alheio. Ora, neste caso, seria ne-
cessário que ele tivesse sofrido muitas vezes,
desde a fundação do mundo; agora, porém,
ao se cumprirem os tempos, se manifestou
uma vez por todas, para aniquilar, pelo
sacrificio de si mesmo, o pecado. E como aos
homens está ordenado morrerem uma só vez,
vindo depois disso o juizo, assim também
Cristo, tendo-se oferecido uma vez para
sempre para tirar os pecados de muitos,
aparecerá uma segunda vez, sem pecado, aos
que o esperam para salvação" (Hb 9.24-28).
" ... Sacrificios e ofertas não quiseste, nem
holocaustos (ofertas totalmente queimadas) e
oblações (ofertas inanimadas, em contraste
com o sacrificio de um ser vivo) pelo pecado,
nem com isto te deleitaste [não tiveste prazer]
(coisas que se oferecem segundo a leI), então,
acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó
Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para
estabelecer o segundo. Nessa vontade é que
temos sido santificados, mediante a oferta do
corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.
Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após
dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer
muitas vezes os mesmos sacrificios, que
nuncajamais podem remover pecados; Jesus,
porém, tendo oferecido, para sempre, um
único sacrifício pelos pecados, assentou-se à
destra de Deus ... Porque, com uma única
oferta, aperfeiçoou
20
para sempre quantos estão sendo santifi-
cados ... " (Hb 10.8-14).
". .. havendo Cristo ressuscitado dos
mortos,já não morre; a morte não terá mais
dominio sobre ele ... " (Rm 6.9).
Os evangélicos não adoram o pão nem o
vinho como sendo o corpo e o sangue de
Jesus. Acreditam estar ele presente ao ato
em espírito, pois onde estivermos reunidos
em seu nome ali ele estará.
A Igreja Católica não admite essa in-
terpretação. Eis o que ensina:
"Verdadeiramente esses pontos devem ser
esclarecidos pelos sacerdotes (padres), não
somente que o corpo de Cristo, mas ainda
que tudo quanto pertença ao Corpo, como
ossos, nervos, Cristo todo, inteiro, está real-
mente contido neste sacramento. "2
" ... no santíssimo sacramento da eucaris-
tia estão verdadeira, real e substancialmente
o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de
Nosso Senhor Jesus Cristo" (Papa Pio
IX). 3
"O augusto Sacrifício do altar não é, pois,
uma pura e simples comemoração da Paixão
e Morte de Cristo, mas um verdadeiro e pro-
priamente dito sacrifício" (Papa Pio XII). 4
Santo Tomás de Aquino chega a dizer
2.Cath. Cone. Trid., Pars lI, ses. XXIX,
apudREIS, Aníbal Pereira. lb., p. 30.
3_ Cath. Concilio Trid Pars lI, ses. XXIX, apudREIS, Aníbal
Pereira. lb., p. 30.
4_ Pio IX. Bula In Nobis, apudREIS, Aníbal Pereira. lb.,
p.30.
21
que ((A Eucaristia é um sacramento perfeito
da Paixão do Senhor Jesus, por conter o
próprio Cristo padecente. " 5
Mas as Sagradas Escrituras, como vi-
mos, esclarecem:
"Ora, neste caso, seria necessário que ele
tivesse sofrido muitas vezes desde a fun-
dação do mundo; agora, porém, ao se cum-
prirem os tempos, se manifestou uma vez
por todas, para aniquilar, pelo sacrifício
de si mesmo, o pecado" (Hb 9 .. 26).
Mesmo assim, esta foi a decisão do
Concílio Ecumênico de Trento:
"Se alguém negar que esteja contido no
santíssimo sacramento da eucaristia verda-
deira, real e substancialmente o corpo e o
sangue juntos à alma e divindade de nosso
Senhor Jesus Cristo, e, portanto, todo o Cristo,
mas disser de outro modo que ele está nele
(sacramento) como símbolo, ou emfigura, ou em
virtude: seja anátema. ,9
Dizem ser a missa a repetição do sa-
crifício de Cristo, sem derramamento de
sangue. A Bíblia esclarece que sem der-
ramamento de sangue não há remissão (Hb
9.22), somos justificados pelo sangue e
seremos por ele salvos da ira (Rm 5.9). Se
ele não é derramado, não poderiam afirmar
que o vinho da eucaristia é sangue
5_ Tomás de Aquino. Summa Theologiae, III, q. 73, art. 5.º, ad.
2, apudREIS, Aníbal Pereira. Ib., p. 177.
Ses. XIII, cn.L, D.883, spud
6.
REIS,Aníbal Pereira, ib., p.
9,30.
22
real, mas simbólico. E o sacrifício também.
Por outro lado, se o vinho de fato se
convertesse em sangue, estaria havendo seu
derramamento na missa e ela deixaria de ser
incruenta. Essa controvérsia é difícil de ser
resolvida pelo catolicismo.
O primeiro sacrifício incruento foi o de
Caim (Gn 4.3), o qual não foi aceito porque
o ofertante era desobediente e do maligno ...
e as suas obras eram más ( 1 Jo 3.12).
Pelafé, Abel ofereceu aDeus mais excelente
sacrifício do que Caim; pelo qual obteve
testemunho de ser justo, tendo a aprovação
de Deus quanto às suas ofertas (Hb 11.4; 1
Jo 3.12). No de Abel houve sangue (Gn 4.4)
e ele foi ofereceu o melhor, as primícias. A
Bíblia descreve sacrifícios (ofertas, dons)
com o oferecimento de manjares, bolos, etc.,
mas estes eram acompanhados de sangue,
condição exigida do sumo sacerdote (Hb
9.7).
Um autor católico dá este esclarecimento:
((O sacrifício da Missa está baseado no
sacrifício da Cruz: é a mesma vítima sob
uma outra forma. Pode-se considerar a
imolação cruenta do Calvário como um
modelo, a santa Missa como uma cópia
rigorosamente exata. Ora, um mesmo
modelo pode dar lugar a inumeráveis
cópias ... "7
Um outro, de Roma, esclarece:
7 _ ANDRÉ, P," Emmanuel. O Sacrificio Eucarfstico, p. 31,32.
"Se as Missas são numericamente mui-
23
tas, um só e irrepetiuel, porém, permanece
o Sacrifício da Cruz, por elas continuado
em todo o tempo e lugar. Por isso,
multiplica-se o 'sinal' (= Sacramento), não a
Realidade significada, ou seja, o Mistério da
Morte expiadora e redentora de Cristo; como é
certo que, ao multiplicarem-se as 'hóstias consa-
gradas', a Substância do Corpo de Cristo
conserva-se numericamente idêntica, imul-
tiplicada e imultiplicável, onde quer que se
celebre o sacrifício eucaristico.í':
A Bíblia não deixa a mínima possibilidade
de dedicarmos a Deus sacrifício
eucarístico como continuação do consu-
mado na cruz. Quando ela esclarece ser o
de Cristo irrepetível, ela o faz de modo
geral, não abrindo exceção para qualquer
outro tipo que se crie. Ajustificativa de
não se multiplicar uma realidade
significada parece-nos contraditória. Teria
de ser uma coisa ou outra: ou real ou
significada. O papa Leão XIII diz ser
realidade verdadeira:
"Pelo sacrifício eucarístico prossegue o
Sacrifício da Cruz, porquanto é determinação
diviníssima do Redentor que o Sacrifício
consumado uma vez na Cruz se tomasse
perpétuo e permanente na igreja; e que a razão
desta perenidade (eternidade) se encontra na
sagrada eucaristia, a qual o ferece, não a
simples semelhança ou memó-
P" Enrico. Eucaristia - Defesa Contra a Falta de Fé
8_ ZOFFOLI,
e a Traição, p.9.
24
ria, porém a mesma realidade verdadeira (rei
veritatem ipsam), embora em forma ou espécie
diferente. "9
Consideram uma cópia como sendo um
acontecimento verdadeiro. O fato de
adorarem a hóstia configura a idolatria.
Quando se adorava uma imagem qual-
quer, isso era condenado. No caso da
missa é mais grave, pois garantem ser a
hóstia mais que uma simples imagem.
Afirmam tratar-se do Deus filho em carne,
osso e espírito. Mas que cópia seria essa?
O leitor comece a imaginar Cristo
passando pelas humilhações, pelos
sofrimentos até ser pregado numa cruz,
onde o seu sangue é derramado e, depois,
compare a cena com o ritual católico.
Poderia ser uma reprodução exata do
acontecido? E cópia nunca é o documento
original, nunca é o verdadeiro.
O catolicismo defende a transubstan-
ciação, que seria a transformação do pão
e do vinho no corpo e no sangue de Cristo
após a consagração pelo padre. Se isso
ocorresse, o lógico seria haver a transa-
cidentação, passando a hóstia a ter o gos-
to de carne e o vinho o de sangue. A água
transformada em vinho pelo Mestre
passou a ter o sabor da bebida. E da
melhor (Jo 2.10).
Jesus, de fato, disse: Isto é o meu
corpo
9_ Encfclica Charitatis Stedium, spud REIS, Aníbal Pereira.
Ih., p. 177,178.
25

e Isto é o meu sangue. Ele, porém, estava
presente, inteiro, vivo, exibindo nas mãos o
pão e o vinho. Todos viam que estes não
eram a sua carne nem o seu sangue, e muito
menos uma outra alma sua, exceto no
aspecto simbólico, pois, do contrário, ali
estariam dois Cristos. Devemos notar que,
nessa época, ele não havia sido crucificado.
Assim sendo, ainda não havia derramado o
seu sangue por nós.
Se os sacerdotes - disse um ex-padre _, a
qualquer dia, a qualquer hora, ao consagrar a
hóstia esta se transformasse no autêntico
Cristo, em corpo, alma e espírito, seriam
eles portadores de um poder sem medida: o
de mudar uma bolacha no Filho de Deus.
Teria de ser simples demais para qualquer
deles impor as mãos sobre os enfermos e
estes serem curados (Mc 16.18), ressuscitar
mortos, limpar leprosos, expulsar demônios
(Mt 10.8). E quais frases teriam copiado de
Cristo para efetuar a transubstanciação?
Como não houve essa mudança de
substância, nenhuma será encontrada. O que
Jesus fazia era abençoar e agradecer a Deus
o alimento que lhes era dado.
Os que acreditam ser o vinho e a hóstia
consagrados o próprio Cristo, alegam ter ele
dito: Isto é e não: Isto representa o meu
corpo ... nem representa o meu sangue. O
verbo ser (sou, és, é, somos, sois, são, etc.)
tem, muitas vezes, o significado
26
representativo. Ainda hoje, ao olharmos
para caricaturas, esculturas ou objetos de
arte que nos simbolizem, dizemos:
Este sou eu e este é meu pai. Podemos até
mesmo, narrando, por exemplo, um acidente,
para esclarecer melhor aos ouvintes mostrar
uma laranja e um lápis e dizermos: Isto é a
minha cabeça e isto é o meu braço direito.
Pedro assim se expressou:
"Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os
construtores, a qual se tomou a pedra
angular" (At 4.11).
Ele não disse: Este Jesus representa. ..
Mas o sentido foi esse.
Para confirmar que se trata de simbo-
lismo, vejamos o que mais Jesus disse:
"Eú sou aporta ... Eu sou o caminho ...
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o
agricultor" (Jo 10.9; 14.6; 15.1).
O uso do verbo ser, nesses casos, não
significa que ao vermos uma pedra, um pé
de uva, uma porta, uma estrada estejamos
vendo Cristo.
Jesus, referindo-se a si, disse carne, mas
também disse pão e corpo:
((Quem comer arniri . ha
carne ... Quem come
este pão viverá para sempre"(Jo 6.54,58),
"Tornai e comei, isto é o meu corpo ...
"(M t
26.26).
Disse sangue:
(( ... isto é o meu sangue, o sangue da
[nova)
aliança, derramado em favor de muitos, para
27
remissão de pecados. "Porém explicou, a
seguir, tratar-se de vinho: "E digo-vos que,
desde agora, não beberei deste fruto da vide
até aquele dia em que o beba, de novo,
convosco no reino de meu Pai" (Mt
26.28,29).
Sua mensagem real era esta:
"A minha comida é fazer a vontade da-
quele que me enviou, e realizar a sua obra"
(Jo 4.34).
Até nós mesmos somos um pão:
"Porque nós, embora muitos, somos uni-
camente um pão, um só corpo; porque todos
participamos de um único pão" (1 Co 10
.17).
Por esse versículo, você, caro amigo,
se julga uma hóstia?
Os adeptos da transubstanciação vêem
uma prova irrefu tável dela nesta expli-
cação:
"Eu sou o pão da vida. Vossos pais, no
deserto, comeram o maná e morreram. Este é
o pão que desceu do céu, para que não
pereça quem dele comer. Eu sou o pão.. viv?
descido do céu. Quem comer deste pao VIverá
eternamente. O pão que eu darei é a minha
carne para a vida do mundo ... Em verdade,
em verdade, vos digo: se não comerdes a
carne do Filho do homem e não beberdes o
seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem
a vida eterna e eu o ressuscitarei no último
dia. Pois a minha carne é verdadeiramente
comida e o meu sangue
28
é verdadeiramente uma bebida. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em mim, e eu nele. Assim
como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo
pelo Pai, também aquele que de mim se
alimenta viverá por mim" (Jo 6.48-57,
Bíblia de Jerusalém) .
Pensam isso por ler o texto fora de. seu
contexto. Nessa tradução católica vemos
Jesus dizer: "quem come a minha carne",
usando o verbo no tempo presente, mos-
trando já existir quem se nutria de suas
instruções quando ele ainda nem havia
instituído a Ceia. Se pesquisassem outros
versículos anteriores e posteriores veriam
que ele explicou aos discípulos haver
falado no sentido espiritual:
(( ... o espírito é que vivifica, a carne para
nada serve; as palavras que vos disse são espírito
e vida" (Jo 6.63).
Ele havia dito:
(( ... o que vem a mim jamais terá fome; e o
que crê em mim, jamais terá sede"(Jo 6.35).
Com esse propósito falara à samaritana
ao lhe oferecer a água da vida (Jo 4. 14).
Ela, de maneira semelhante ao
catolicismo, não entendeu o sentido fi-
gurado, pois pediu:
a ••. Senhor, dá-me dessa água para que eu
não mais tenha sede, nem precise vir aqui
buscá-la" (v. 15).
Só quem come e bebe dele permanece
nele. Não fosse isso simbólico, o
29
catolicismo estaria confessando não estar
em Cristo, por não beber do vinho da Ceia,
à exceção do clero. A alegação de ser
desnecessário tomá-lo porque todo corpo
(no caso, hóstia) tem de ter sangue é
contrária ao ensinamento de Jesus, é
acusá-lo de ter ensinado errado. O vinho
simboliza o sangue que, ao ser derramado
em nosso benefício, ficou separado do
corpo. Se só um dos elementos fosse o
suficiente, por que o padre ingere ambos?
Ele o faz, enquanto o fiel fica com sua
Ceia incompleta. Ninguém está autorizado
a tomar o vinho de outrem. O cristão deve
exigir seu direito de bebê-lo, e não apenas
de sugálo de hóstia porventura nele
molhada.
A Ceia não foi instituída para ser adorada.
Isso comprovamos quando os apóstolos
estavam vivos e as instruções a respeito de
como participar do ato eram recentes. Na
primeira epístola aos coríntios (11.20-34)
vemos os cristãos ser advertidos porque,
quando se reuniam para a Ceia do Senhor,
tomavam uma outra, no local, e se
embriagavam, uns se excedendo no comer
(gula) e os demais passando fome. Era
costume, entre eles, participarem, antes,
das chamadas Festas daAmizade(Jd 12),
quando se banqueteavam sem recato. O
apóstolo Paulo, por isso, exortou a quem
tivesse fome a comer antecipadamente em
30
casa. A advertência foi sobre como agiam
e não pela falta de adoração nem de
rituais. O nome ceia significa uma refeição
noturna (quase umjantar). Refeição não
poderia ser feita com hóstia, mesmo
havendo a alegação de esta representar o
pão ázimo, ou asmo, o qual era empregado
para a celebração da Páscoa judaica. Jesus,
ao repartir o pão, disse para o comermos
(Mt 26.26). No entanto, havia uma
tradição de que não se devia manducar a
hóstia. Manducar é comer, mastigar. Se
não fosse manducada, estaria sendo
sugada, chupada. O Mestre não ensinou
isso . Inconcebível que, havendo a
determinação de o pão ser comido, o povo
fosse colocando um pedaço após o outro
na língua, sem mastigá-los e sem sequer
deixar que se encostassem aos dentes, até
se enfastiarem. Quantas horas gastariam
nisso? Embora sem moderação,
participavam do vinho, em submissão à
vontade de Jesus. Segundo consta, a partir
de 1980 foi facultado ao católico mastigar
a hóstia, mas muitos, pelo costume, têm
receio de fazê-lo.
Os padres vêm dizendo que a Igreja
Católica deixa de servir o vinho pela di-
ficuldade encontrada, por haver grande
número de gente reunida. Isso não é a
realidade, pois a missa é tida como in-
cruenta, e, embora o uso da hóstia venha,
no catolicismo, do ano 1200 depois de
Cristo, o costume de a repartir sem
31
o vinho vem desde 1414. Em igrejas pe-
quenas, pequeníssimas, também a servem
sozinha, inclusive quando vão à casa de
algum fiel dar-lhe a comunhão (não
concordamos com essa expressão: dar a
comunhão ou comer a comunhão). Os
protestantes, até em reuniões onde
compareçam milhares de pessoas, o q~e é
costume acontecer, servem a Cela
completa: pão e vinho. A quantidade de
comungantes não justifica a desobediência
à ordenança de Cristo.
Não fossem simbólicas suas palavras,
Jesus seria, literalmente, um pão ambulante
descido do céu, moldado em forma de
homem. Não possuiria carne, sangue nem
ossos, pois disse: "Eu sou o pão que
desceu do céu" (Jo 6.41). Assim como os
israelitas - para memória de que viveram
no deserto depois de libertados da
escravidão no Egito (Lv 23.42,43; Ne
8.14) - habitavam em tendas durante a
festa dos tabernáculos, a Ceia é celebrada
para manter viva em nós a lembrança de
nosso Senhor:
"Fazei isto em memória de mim" (Lc
22.19; 1 Co 11.24).
Ou seja: "Façam isto para que se
lembrem de mim." Memória, lembrança,
temos da pessoa ausente. Se ele estivesse
presente, em corpo, na hóstia, Paulo não
teria dito:
"Porque todas as vezes que comerdes
este pão e beberdes este cálice anunciais a
morte do Senhor, até que ele venha" (1 Co
11.26).
32
Por esse versículo, vemos que o após-
tolo, de cultura indiscutível, entendeu não
estarem comendo carne nem bebendo
sangue, e sim pão e vinho.
Cristo não disse que apareceria todos
os dias em missas. Tendo-se oferecido
uma única vez para todo o sempre,
aparecerá em corpo pela sequnâa vez (Hb
9.28), arrebatará os seus e participará
conosco do gozo celestial:
((E digo-vos que, desde agora, não be-
berei deste fruto da vide até aquele dia em
que o beba, de novo, convosco no reino de
meu Pai" (Mt 26:29).
Ele determinou o pão. Os egípcios, em
seu culto não-cristão, é que usavam uma
hóstia delgada e de forma redonda. 10
Manifestaram-se no passado, contra-
riamente à transubstanciação, nomes de
destaque do catolicismo. Disse Rubano
Mauro, 788-857, abade de Fulda, depois
arcebispo de Moguncia: « ••• heresia grave
supor que na Eucaristia estava presente
a carne nascida de Maria!" Com o que
Santo Agostinho concorda: "Por que
preparas os dentes e o estômago?-
Confiar em Cristo é comer o Pão Vivo;
não se pode engolir Aquele que subiu
vivo para o Céu."l1
10_ WILKSON.Los Egípcios, tom. V; p. 353, apudREIS,
Aníbal Pereira. Ib., p. 158.
11_ MAURO, Rubano. Epist. ad. Heribaldum; AGOSTINHO.
Tratado sobre João e Sermões 131-1, apud
Documentário - O Estado do Vaticano, p. 10.
33

Ingenuidade supor que, quanto mais se
come o corpo de Cristo através da hóstia,
mais o ser humano se purifica, mais tem
Cristo em si. O corpo dele, logo após a
crucificação, estava sem vida, não-
glorificado. Nós, os cristãos, somos o
templo, santuário do Espírito Santo (1 Co
3.16; 6.19), de um Deus vivo que habita
em nós. O católico; ao comungar todos ou
quase todos os dias com o fim de receber
Jesus, talvez nem note que, agindo assim,
estará confessando que seu corpo não é um
templo ou está este desabitado. Ele ingere
Cristo hoje e Cristo se retira em seguida.
Precisa engoli-lo amanhã outra vez, mas
ele se vai de novo. E assim continua.
"Não compreendeis que tudo o que entra
pela boca desce para o ventre, e depois é
lançado em lugar escuso?" (M t 15. 1 7).
O que santifica o homem não é o que
passa pelo seu estômago, intestinos e é
lançado na latrina ou em qualquer outro
lugar escondido, mas o que fica em seu
coração, transformando-o. Comer e beber
de Jesus é alimentar-se das suas palavras;
é crer nele, é mudar de vida, passando a
obedecer-lhe e viver os seus
mandamentos.
Jesus, em espírito, está em toda par-
te. Em corpo, tanto antes de ser crucifi-
cado quanto depois de ressurreto, nunca
apareceu em mais de um lugar ao
34
mesmo tempo. Entretanto, dizem estar ele
presente, em corpo, nos milhões de
hóstias distribuídas em igual horário pela
face da Terra.
Dentre as diferenças da Ceia católica e
da bíblica destacam-se:
1. Os padres servem apenas a hóstia
aos fiéis. A distribuição do vinho é uma
ordem de Cristo: "Bebei dele todos" (Mt
26.27). Os pastores distribuem o pão e
um cálice de vinho.
2. O padre se diz o mediador entre
Deus e os homens. A Bíblia é clara a
respeito: a ••• há um só Deus e um sô
mediador entre Deus e os homens,
Jesus Cristo, homem" (1 Tm 2.5).
3. O padre se diz o sacrificador de
Cristo. As Escrituras Sagradas têm os
ministros do evangelho como despensei-
ros e embaixadores (1 Co 4.1; 2 Co 5.20).
Participar da Ceia do Senhor não deve
ser um ato impensado:
(( ... aquele que comer o pão ou beber o
cálice do Senhor, indignamente, será réu do
corpo e do sangue do Senhor. Examine-se,
pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do
pão, e beba do cálice; pois quem come e
bebe sem discernir o corpo, come e bebe ju-
ízoparasi"(l Co 11.27-29).
Mais uma vez Paulo não diz corpo nem
sangue. Ele recebera, por revelação, ins-
truções diretas de Cristo e sabia não
existir a transubstanciação.
35
 Esse texto não quer dizer, como alegam
alguns católicos, que na Ceia do Senhor
pode ser servido só o vinho - se assim o
fosse, deixaria de ser uma ceia _ ou
somente o pão. A conjunção ou do verso
27 mostra apenas que entre um e outro
podemos ter agido, até em pensamen to, de
forma indigna.
Não tomamos a Ceia para ser purifi-
cados depois, através do Cristo-hóstia em
nosso ventre. Ao participar dela devemos
ter, antes, suplicado o perdão de Deus, ou
seja, termo-nos purificado com
antecedência para não sermos conside-
rados indignos e nos condenarmos.
Constata-se, nesse versículo, que nosso
exame não cabe a um padre, por confissão,
mas a nós mesmos.
A liturgia do catolicismo procura seguir o
Antigo Testamento, a lei, tentando copiar
os rituais antes praticados, com as mesmas
vestes sacerdotais, os utensílios, os gestos,
etc. Por isso, não concordam que os
protestantes não tenham altar feito por
mãos humanas. Porém o sacrifício de
Cristo foi numa cruz e não num bonito
altar, com toalhas e flores. E os pagãos,
inclusive os seguidores de Baal, também
adotavam altares (1 Rs 18.26). Jesus veio
para salvar-nos, dar-nos vida em
abundância, para pagar a pena pelos nossos
pecados; veio, como o Autor da salvação,
para cumprir a lei em nosso lugar
36
já que não o conseguiríamos, e esta exigia
sacrifício pelos pecados, prescrevia sangue
(Hb 5.9; 9.22), porque onde há testamento, é
necessário que intervenha a morte do
testador, pois um testamento só é confir-
mado no caso de mortos, visto que de manei-
ra nenhuma tem força de lei enquanto vive o
testador (Hb 9.16,17). Cumprida de maneira
integral com a sua crucificação, quando
bradou: "Está consumado" - no original,
Tetélestai, ou seja, "está pago" - (Jo 19.30),
ele simplificou tudo. Nossa lei passa a ser a
da fé (Rm 3.27). Não mais necessitamos de
sacrifícios. Estes faziam parte do
cerimonialismo abolido. Aceitando Cristo
como nosso único Salvador, somos
perdoados. Deus se esquece de nossas
transgressões:
« ••• de nenhum modo me lembrarei dos
seus pecados, e das suas iniqüidades,
para sempre. Ora, onde há remissão
(libertação, resgate) destes já não há
oferta (não há sacrifício) pelo pecado"
(Hb 10.17,18).
No passado, Arão, obedecendo ao
povo, fez sacrifício a um bezerro de ouro.
A intenção desse sacerdote não foi fazêlo
ao deus egípcio Ápis, mas ao Deus
verdadeiro. Ele edificou um altar diante
dele - do bezerro -, e, apregoando, disse:
Amanhã será festa ao SENHOR (Êx 32.5).
Pelos originais, esse SENHOR é Yahweh, é o
Eu Sou o Que Sou, ou seja, o Deus verdadeiro
de Israel. Os idólatras sempre
37
quiseram ter diante de si uma imagem,
sempre tiveram a tendência de mudar a
glória do Deus incorruptível em
semelhança de imagens de homem
corruptível, bem como de aves,
quadrúpedes e répteis(Rm 1.23).
O padre, após pronunciar as palavras:
"Santificai estas oferendas para que se tornem o
Corpo e o Sangue de Nosso Senhor': diz: "Eis o
mistério dafé"e, exibindo uma hóstia aos fiéis,
explica: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo." A partir desse momento ela
deve ser adorada, pois acreditam ter-se
transformado no Cristo verdadeiro, em corpo,
alma e divindade. Após ser oferecido e pedido a
Deus Pai receber o sacrifício (não se trata de
uma privação, uma renúncia, nem do ato de o
comungante se sacrificar em alguma coisa,
como nos alegou uma senhora católica, mas de
um novo e legítimo sacrificio, ou seja, uma nova
crucificação do Deus Filho), o sacerdote manda
que o comam.
A carta aos hebreus (10.6) diz não ter
Deus se deleitado, não ter tido prazer com
ofertas pelo pecado. Quem está cometendo
maior idolatria: os que simbolizaram Deus
em forma de bezerro e o adoraram ou os
que afirmam ser Cristo uma hóstia e a
adoram, chamando-a de Santíssimo? A
hóstia de trigo é corruptível, sujeita a
estragar, enquanto o ouro, se passado pelo
fogo, pode se tornar mais puro.
38
Duvidamos de que Jesus, quando es-
tabeleceu a Ceia, estivesse trajando as
conhecidas vestimentas sacerdotais,
compostas de inúmeras peças, e seria
impossível tivesse construído um altar na
casa conseguida por empréstimo para o
ato. Deve estar em nosso coração o seu
altar, pois somos templos do Espírito
Santo (1 Co 6.19). É outro o sacrifício por
ele desejado:
"Portanto, ofereçamos por ele (Cristo) a
Deus sacrificio de louvor, isto é, o fruto dos
lábios que confessam o seu nome. E não vos
esqueçais da beneficência (fazer o bem,
caridade) e comunicação, porque, com tais
sacrifícios, Deus se agrada"(Hb 13.15,16).
Insistir em imolações, em ofertas de
sacrificios, é permanecer debaixo da lei.
Paulo nos dá este valioso esclarecimento:
"Não anulo a graça de Deus; pois se a justiça
é mediante a lei, segue-se que Cristo morreu em
vão"(G12.21).
O catolicismo continua a levar tão ao pé
da letra seus rituais e a transubstanciação
que chega a determinar:
"Se, por descuido, alguma parte do sangue
de Cristo cair na terra ou sobre o tampo do
altar, o lugar sobre que cair deve ser lambido
com a língua e, depois, raspado, e as raspas
devem ser queimadas e as cinzas lançadas na
piscina. " 12
12_ Missal ROl1111I1o. Capo De Deiectibus, apudREIS, Aníbal
Pereira. A Misse, p. 117.
39
"Se uma aranha ou uma mosca ou um outro
animal cair no cálice antes da consagração,
lance-se o vinho em lugar apropriado, e
ponha-se outro vinho no cálice. Se, porém,
algum inseto cair no cálice depois da
consagração, e o sacerdote celebrante sentir
náuseas, tire-se o inseto e lave-se com vinho,
e, acabada a missa, queime-se o inseto e suas
cinzas sejam lançadas na piscina. Se,
contudo, o sacerdote não sentir náuseas, nem
temer qualquer perigo, engulao junto com o
sangue. " 13
"Se o padre ou qualquer fiel vomitar de-
pois da comunhão, e no vômito aparecer a
hóstia consagrada, deverá o sacerdote en-
goliro vômito. Mas, no caso de sentir muita
repugnância para semelhante ação, deverá
separar o corpo de Cristo do restante do
vômito, até que se corrompa totalmente e,
., .." 14
depois, o âepositarà na piscina.
Portanto, consagrada a hóstia pelo padre,
passam a tê-la como o corpo verdadeiro e
visível de Cristo, porém ela se corrompe,
ou seja, apodrece, ~ envolvida por mofo,
exala mau cheiro. E oportuno o bservar que
o corpo de Jesus não se corrompeu, não
experimentou a corrupção com a morte.
Em caso de acidente posterior à
consagração, se alguma se perder ou for
levada pelo vento, caindo num monte de
lixo, barro ou esgoto, é considerada
13_ Id., ib., p. 116.
14_ n; ib., p. 116,117.
40
Cristo ali até que se corrompa. Se um fiel,
ao recebê-la, deixar cair uma migalha que
seja, esta é tida como Cristo completo, e,
caso nada percebam, pensam que ele fi-
cará no chão e será pisoteado ou se em-
poeirando. Acreditando nisso os próprios
católicos deveriam declarar a falsidade de
um milagre divulgado por padres através
da televisão e de livros de que, em
algumas cidades, a hóstia se transformou,
den tro do cálice, em um pedacinho de
carne para confirmar aos descrentes que a
transubstanciação é real. Pelos seus
dogmas, se um prodígio desses aconte-
cesse ela teria de se transformar em Cristo
inteiro e em tudo quanto pertence ao seu
Corpo, como ossos, nervos. Quanto ao
sangue exibido no recipiente nem deveria
estar ali, já que a missa é incruenta.
Se um animal comer a hóstia, terá
Cristo inteiro dentro de si. Ele, se fosse
comido por homens ou animais, teria de
ser lançado fora do organismo, em forma
de fezes. Os teólogos católicos tentaram
resolver esse problema de diversas formas.
Uma delas é a de que, iniciada a
decomposição, cessa a eucaristia. As
opiniões foram contraditórias, não se
tendo chegado a um consenso. Seria fácil,
se observassem o que a Bíblia diz:
"Sendo, pois, (Davi) profeta e sabendo
que Deus lhe haviajurado que um dos seus
descendentes se assentaria no seu trono,
41
prevendo isto, referiu-se à ressurreição de
Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o
seu corpo experimentou corrupção ... Por isso,
também diz em outro Salmo: Não permitirás
que o teu Santo veja corrupção. Porque, na
verdade, tendo Davi servido à sua própria
geração, conforme o desígnio de Deus,
adormeceu (morreu), foi para junto de seus
pais e viu corrupção. Porém aquele a quem
Deus ressuscitou não viu corrupção" (At
2.30,31; 13.35-37).
Já argumentaram conosco que isso tudo
a que nos referimos foi retificado no
Concílio do Vaticano lI. Se tivesse havido
correção, a igreja teria de concordar que
houve erro, contrariando sua afirmação de
que nunca erra em questões de fé. Mas para
esses transcreveremos o que esclarece um
padre italiano sobre a missa em livro
publicado em Roma e depois traduzido no
Brasil:
((Éfalso que o VaticanoIItenha 'supera-
do' a doutrina e abolido as prescrições do
Concílio de Trento ... " 15
Quer o católico queira, quer não, quer
acredite, quer não, ele participa de um
ritual cujo objetivo é a repetição do sa-
crifício de Cristo. Se, por levá-lo à cru-
cificação, o povo judeu foi recriminado e a
Igreja Romana o perseguiu e puniu por
isso, como poderemos querer parti-
15_ ZOFFOLI, p'e Enrico. Eucaristia - Defesa Contra a Falta
de Fé e a Traição, p. 9.
42
cipar das inumeráveis repetições do sa-
crifício dele, até com dores? Os que assim
o querem, estão crucificando para si
mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à
ignomínia, à desonra, à infâmia (Hb 6.6).
Um ex-padre, após sua conversão para
evangélico, confessa:
"Cria em Jesus Cristo! Não porém no Jesus
Cristo revelado nas Escrituras Sagradas, único
e Exclusivo Salvador, cujo sacrifício é Todo-
Eficaz e, por conseguinte, Todo-Suficiente (Hb
10.10,12,14). Ora, na conceituação do dogma
católico, a missa, e por isso é chamada 'o santo
sacrifício da missa', cobiça renovar ou repetir
o Sacrifício da Cruz. Se tudo quanto precisa de
renovação ou repetição é por causa de sua
insuficiência, a missa acusa de insuficiência o
Sacrifício de Cristo ... A conclusão é de clareza
ofuscante! Crendo eu na missa, que valor
poderia ter minha fé em Cristo?" 16
Este estudo poderá causar espanto a
quem disso não sabia, àqueles que par-
ticipavam do ato ou concordavam com ele
sem haver pesquisado a respeito. Mas se o
coração desses ansiar pela verdade, por
certo consultarão a Bíblia e a encontrarão.
Porém, quando já houve a lavagem
cerebral, o caso é sério. Só mesmo o poder
do Espírito Santo para clarear a mente
embotada.
Aníbal Pereira. O Padre Cria em Jesus, mas não
16_ REIS,
era Salvo, p. 29,30.
43
Certa vez conversávamos com uma
senhora católica, com seus setenta anos de
idade, acostumada a esclarecer que nasceu
b vai morrer no catolicismo, e surgiu o
assunto da missa. Quando lhe expusemos
o seu significado pelo catolicismo, ela não
aceitou a nossa explicação. Disse estarmos
errados. Entusiasmada porque, após
insistentes pedidos nossos, lera pela
primeira vez o Novo Testamento,
manifestou certeza absoluta de ser tudo
simbólico no ritual, por assim estar escrito
na Bíblia e por ser impossível o corpo de
Cristo estar numa hóstia em muitos lugares
ao mesmo tempo. Continuou, eufórica,
contradizendo-nos e defendendo o seu
ponto de vista até uma outra senhora,
também católica, informá-la de que, no
catolicismo, era tudo ao contrário de seu
pensamento, pois o simbolismo é
defendido pelos protestantes. Aí aconteceu
o mais interessante. Ela nos olhou com
espanto, e, sorrindo decepcionada, disse:
"Se é assim na minha igreja, então eu
acredito ser a hóstia o corpo de Jesus. "
Já lemos um livro onde um padre en-
sina seus fiéis a agir assim. O que sua
igreja determinar é isso mesmo, sem
discussão. O caso dessa senhora não é
tanto de idolatria à hóstia, mas à Igreja
Católica Apostólica Romana. O que ela
pensou ao longo de uma existência, com-
44
provou pelas Sagradas Escrituras e de-
fendeu com paixão, caiu por terra sem
discordância nenhuma de um minuto para
outro para dar lugar ao que dita o
Vaticano. Este é seu ídolo.
A maioria dos dogmas e dou trinas da
Igreja Romana foi criada numa época em
que ela dominava. Seu domínio extra-
polava a área da religião. Aceitavam-se as
imposições por medo dos castigos,
inclusive a fogueira. O anatematizado,
que não era condenado ao fogo, recebia
dura pena: ninguém podia dirigir-lhe a
palavra, comprar-lhe nem lhe vender
nada, nem se podia chegar a uma de-
terminada distância dele. E não há como
se justificar hoje essa atitude, sustentando
ter sido engano ou arbitrariedade da igreja
naquela época, pois as decisões do
papado continuam sendo consideradas
infalíveis. Se confessarem o desacerto,
terão de admitir que o papa é e sempre foi
falho. Essa ameaça de punição, não mais
posta em prática, continua em vigor.
O povo, no início, estranha certas de-
cisões, mas, por receio de negá-las ou por
comodismo, ainda mais se não examinar a
Bíblia, acaba se acostumando com elas no
decorrer dos anos. Os seus filhos, netos,
bisnetos, que nasceram as ouvindo, têm-
nas por certas, irretocáveis.
Em conversa com católicos, temos
45
constatado sua descrença ou total des-
conhecimento com relação ao significado
de sua eucaristia. Não sabem o que isso
lhes poderia acarretar no passado.

Capítulo 3

o CELIBATO
SACERDOTAL

o celibato sacerdotal, isto é, não

poderem os sacerdotes se casar, não é
determinação bíblica. Eles se
casavam até ser proibidos de fazê-lo
pelo Papa Gregório VII, em 1074
d.C. Se essa fosse uma proibição
estabelecida por Jesus, ela teria
começado a vigorar quando ele aqui
estava ou logo após a sua
ressurreição. Sacerdotes existiam an-
tes dele. E nessa épocajá podiam con-
trair matrimônio.
Não querermos nos aprofundar no as-
sunto. Vamos citar, porém, no Antigo
Testamen to (cerca de um milênio e meio
antes de Cristo), logo no segundo livro da
Bíblia, o exemplo do sacerdote Arão, que
era casado. Seus filhos Nadabe, Abiú,
Eleazar e Itamar (Êx 28.1) também eram
46
sacerdotes. Pai e filhos não foram esco-
lhidos por homens, mas por Deus, para o
sacerdócio.
Em Lv 21.13,14 consta como os sumos
(principais) sacerdotes deveriam
selecionar a esposa. Deus achou inade-
quado ao homem permanecer sozinho:
((E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o
homem esteja só: far-lhe-ei uma adjutora que
esteja como diante dele"(Gn 2.18).
Citemos, agora, o Novo Testamento:
Isabel, prima de Maria, era casada com
um sacerdote: Zacarias (Lc 1.5).
Pedro, considerado o primeiro papa
pela Igreja Romana, também era casado.
Nosso Senhor curou a sogra dele (M t
8.14; Mc 1.30; Lc 4.38). Como essa Igreja
se diz semper idem (sempre a mesma), o
normal seria os participantes do seu clero
terem a liberdade de se casar. Ainda mais
que ela afirma ser o matrimônio um
sacramento de Cristo. Não poderia,
portanto, proibi-lo sob a alegação de
existir uma outra ordenança dele: a ordem
sacerdotal.
Alguns se baseiam na frase de Jesus
acerca dos eunucos, por causa do reino
dos céus, para afirmar que os padres não
devem se casar. Esse versículo não pode
ser analisado fora de seu contexto.
Leiamos alguns a mais:
"Eu, porém, vos digo: Quem repudiar sua
mulher, não sendo por causa de relações
48
sexuais ilícitas (prostituição), e se casar com
outra, comete adultério [e quem se casar com
a repudiada comete adultério). Disseram-lhe
os discípulos: Se essa é a condição do
homem relativamente à sua mulher, não
convém casar. Jesus, porém, lhes respondeu:
nem todos são aptos para receber este
conceito, mas apenas aqueles a quem é dado.
Porque há eunucos de nascença; há outros a
quem os homens fizeram tais; e há outros
que a si mesmos se fizeram eunucos por
causa do reino dos céus. Quem é apto para o
admitir, admita" (M t 19.9-12).
Trata-se de uma questão de dom, a
quem é dado, e não de uma obrigação.
Não casar por prescrição do Vaticano é
estar entre aqueles a quem os homens
fizeram tais, entre os vocacionados para o
matrimônio e impedidos de contraí-lo.
Não defendemos a obrigatoriedade do
casamento nem a necessidade dele para
todos. Alguns não recebem esse dom. Mas
enquanto Deus usou os verbos no
imperativo, em forma de ordem ("Sede
fecundos, multiplicai-vos e enchei a
terra"Gn 1.28), Jesus apenas mencionou a
existência de eunucos, costume desumano
criado pelos homens, o qual não é
recomendação bíblica, pois se trata de
mutilação. Esses indivíduos eram cas-
trados para o fim de prestar guarda aos
haréns, locais onde ficavam as diversas
mulheres dos príncipes e reis.
49
 Outros se fundamentam em Paulo.
Este não determinou o celibato:
"Quanto ao que me escreuestes, é bom que o
homem não toque mulher ... Quero que todos
os homens sejam tais como eu sou; no entanto,
cada um tem o seu próprio dom; um, na
verdade, de um modo; outro, de outro. E aos
solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se
permanecessem no estado em que também vivo.
Caso, porém, não se dominem, que se casem;
porque é melhor casar do que viver abrasado"
(1 Co 7.1,7 -9).
Supõe-se que o apóstolo fosse viúvo,
pois é bem certo que pertencia ao Sinédrio.
E uma das condições exigidas para tanto
era ser casado. Devemos destacar, a favor
desse ponto de vista, que ele era membro
do partido dos fariseus (Rm 11.1; Fp 3.5;
At 23.6) e tinha direito a voto quando iam
matar os cristãos (At 26.10), com o que se
descarta a idéia de que era um simples
soldado. Não houve determinação dele e
sim uma sugestão, um desejo, em vista da
angustiosa situação presente (v. 26), de os
solteiros e os viúvos não se casarem. Ele
abriu exceção a quem não conseguisse se
dominar e a quem tivesse o dom do
casamento. Esse conselho servia para
homens e mulheres. Ele não falava isso a
sacerdotes, mas a todos. E se todos os com
o dom houvessem entendido não poderem
se casar, e acatassem a sugestão, hoje não
haveria cristãos, pois estes não
50
teriam tido filhos para sucedê-los.
"Estás casado? não procures separarte;
estás livre de mulher? não procures casamento.
Mas, se te casares, com isto não pecas ... » (vv
27,28).
Paulo disse mais:
"Não vos priveis um ao outro, salvo talvez
. por mútuo consentimento, por algum tempo,
para vos dedicardes à oração e novamente vos
ajuntardes, para que Satanás não vos tente por
causa da incontinência" (1 Co 7.5).
Esse é o' conselho a uma vida sexual
normal e ativa, a fim de evitar a tentação.
O apóstolo era claro: dizia quando se
tratava de sugestão sua, de determinação
bíblica ou de revelação vinda de Jesus.
Quando partia dele, Paulo, esclarecia
tratar-se de concessão ou opinião (1 Co
7.6,25). Com respeito ao procedimento de
não se casar, não informou ser
mandamento do Senhor.
Vejamos mais:
"Para evitar fornicação, tenha cada homem
a sua mulher e cada mulher o seu marido" (1
Co 7.2).
Ou tro ensinamento bíblico:
"Diqno de honra entre todos seja o matri-
mônio, bem como o leito sem mácula; porque
Deus julgará os impuros e adúlteros" (Hb
13.4).
Muitos pensam que os apóstolos eram
solteiros ou, ao ser escolhidos por Jesus,
abandonaram a família a fim de
51
 segui-lo e de poderem, depois da res-
surreição, continuar exercendo o sacerdócio.
Enganam-se, principalmente por mal
interpretarem Me 10.28-30:
"Então Pedro começou a dizer-lhe: Eis que
nós tudo deixamos e te seguimos. Tornou Jesus:
Em verdade vos digo que ninguém há. que tenha
deixado casa) ou irmãos) ou irmãs, ou mãe) ou
pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e
por amor do Evangelho, que não receba) já no
presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs,
mães) filhos e campos, comperseguições ... "
As palavras de Jesus foram simbólicas,
representando a dedicação - colocá-lo em
primeiro plano, mesmo sob perseguições,
deixando tudo o mais para depois. Por isso
receberemos cem vezes mais em irmãos,
cem vezes mais em mães, cem vezes mais
em filhos, o que, em sentido literal (exato),
seria impossível. Poderá até haver uma
divisão familiar por causa de alguns
servirem a Cristo e outros não (Lc 12.53),
mas a separação de cônjuges nem foi aí
mencionada.
O celibato também não pode ser funda-
mentado em Ap 14.3-5, onde são mencio-
nados os que cantavam com um canto novo
diante do trono ... os que não se
macularam com mulheres, porque são
virgens. Virgindade e castidade não são
sinônimos de celibato. Trata-se de
passagem simbólica, sobre a qual a própria
Igreja Romana esclarece:
52
"Em. sentido metafórico, a luxúria designa
tradicionalmente a idolatria (cf Os 1,2+), aqui o
culto da Besta. "Os virgens são: ((íntegros e fiéis
(v. 5), rejeitaram a idolatria e podem ser
convidados às núpcias do Cordeiro (cf 19,9;
21,2; 2Cor 11,2)"(Bíblia de Jerusalém) .
Em 2 Co 11.2, Paulo dissipa possíveis
dúvidas:
"Porque zelo por vós com zelo de Deus;
visto que vos tenho preparado para vos apre-
sentar como virgem pura a um só esposo,
que é Cristo. "
Macular-se é sujar-se, desonrar-se,
enxovalhar-se. Sendo a união do casal
criada por Deus, abençoada pela igreja, o
homem casado se sujaria, se desonraria, se
enxovalharia com a esposa?
Cefas (Pedro) era um dos casados que
levavam sua mulher nas viagens missio-
nárias. Se ele a tivesse abandonado isso
seria um repúdio e entraria em contradição
com Cristo em Mt 5.32; 19.9.
"Não temos nós o direito de comer e beber?
Não temos o direito de levar conosco, nas
viagens, uma mulher cristã, como os outros
apóstolos e os irmãos do Senhor e Cefas?" (1
Co 9.4,5, Bíblia de Jerusalénú,
Algumas traduções trazem irmã cristã
nesse verso. É mais apropriado usarmos
esposa (mulher) irmã, pois no original gre-
go consta gune adelphê.
Explica o catolicismo:
53
téis, mais de uma por dia, e de possuir ou
tra amante, casada, alegou agir assim por
convulsão sexual. Nada lhe aconteceu, a
não ser a transferência para a igrej a de
outra localidade.
Numerosos casos se sucedem com os
celibatários: segundo reportagem tele-
visual de julho de 1997, a Igreja Católica
Apostólica Romana fora condenada
naquele mês, nos Estados Unidos, a pagar
vultosa indenização a vários coroinhas por
terem sido vítimas de grave atentado ao
pudor por parte de um padre, 3 tendo outra
emissora voltado ao assunto, em 1998,
para informar a condenação do sacerdote
à prisão perpétua, esclarecer o valor da
indenização (cento e dezenove milhões de
dólares) e o número de vítimas: pelo
menos onze menores. 4Um outro padre foi
condenado à prisão, na Inglaterra, por
escândalos vinculados a sexo. 5
"Santo Ulrico, bispo de Augsburgo, contou
que o papa Gregório VllI, 1 703, ordenou que
se esvaziasse um grande aquário num
Convento de Monjas em Roma e encontraram 6
mil esqueletos de recém-nascidos! Diante desse
horror, esse papa aboliu o Celibato mas seus
sucessores restabeleceram-no.
S_ Jornal de 25. 7.1997. Sistema Brasileiro de Televisão. 4_
Jornal Nacional de 2.4.1998. Rede Globo de Televisão.
5_ Jornal de 25.7.1997. Sistema Brasileiro de Televisão.
56
Noutro Convento em Niuberq, Austria,
desenterraram 20 potes com esqueletos de
bebês!
O papa Pio W redigiu uma Bula pedindo a
todas as mulheres violadas pelos padres que
apresentassem acusação; os casos foram tantos
só em Seuilla, na Espanha, que abandonaram os
processos. "6
Transcrevemos essas informações não
para denegrir padres e freiras, mas para
demonstrar aos nossos amigos católicos
não ser tão simples o celibato casto, como
aquele autor quis dar a entender. Existi-
ram escândalos sexuais até com papas. ( *)
Se os religiosos se casassem, e isso não
é pecado para ninguém, não ficariam tão
abrasados e esses problemas talvez pelo
menos diminuíssem.
O mais grave não é a freira, que coloca
uma aliança no dedo como compromisso
com Cristo, cair em pecado, pois se trata
de um ser humano comum, mas sim o
padre, pois ele é tido pela sua igreja como
o Alter Christus, ou seja, um outro Cristo
aqui na Terra. Pastores evangélicos
podem fracassar, mas eles não aceitariam
um título desses.
A justificativa de o celibato não ser um
sacrifício, mas o oferecimento a Deus do
melhor que um ser humano lhe pode
6_ CHINIQUI. Con versa de mesa DCCLXII, epud
Documentário - O Estado do Vaticano, p. 22.
(0) _ Vide capo 2 do livro A PEDRA FUNDAMENTAL DA IGREJA.
57
o~erecer não é correta. Deus distribui dons
para serem usados, caso contrário. não os
daria. Ele se revolta com quem enterra o
talento que lhe foi confiado (Mt 25.24-28)
por não saber, não querer ou ter medo de
administrá-lo.
Também não é válida a alegação de que
Cristo não se casou para servir de exempIo
aos padres. A finalidade de sua vinda ao
mundo não foi para crescer e se multi-
plicar, mas para morrer por nós. Deus não
nos dá nada para ser posto fora. Além dis-
so, se tivesse sido uma opção dele, con-
forme já ouvimos dizer, ela teria partido de
sua livre vontade e não da imposição do
sumo sacerdote nem de nenhum papa
(função ainda não existente).
Há quem alegue que o celibato não é
imposição católica. Mas é. Vejamos: Deus
dá a um homem a vocação de ser profes-
sor, mas também lhe dá o dom do casa-
mento. Se ele estivesse exercendo a pro-
fissão e uma lei humana dissesse que, para
continuar a fazê-lo, não poderia se casar,
estariam lhe tirando o direito ao
matrimônio. Por outro lado, se ele resol-
vesse se casar, estariam obrigando-o a
abandonar o magistério. Teria sempre de
enjeitar um dos presentes do Pai.
Hoje é fácil usar-se o pretexto de se
tratar de uma opção religiosa pelo padre.
No passado, aquele que resolvesse
abandonar a batina para contrair ma-
58
trimônio corria até risco de vida. Quem
assistiu à novela, com fundo histórico,
intitulada Xica da Silva deve se lembrar do
vigário que foi enclausurado entre
paredes, em um espaço mínimo e escuro,
apenas porque descobriram que estava
apaixonado por umajovem.
Mesmo se declarando contra o divórcio
por qualquer motivo, após a imposição do
celibato a Igreja Romana praticou ato
contrário aos seus ensinos e aos de Jesus:
em 1076 determinou que todos os
sacerdotes casados se divorciassem, o que
deve ter sido terrível para aqueles que
tinham esposa e filhos.
Dizem que o padre deve servocaciona-
do e, durante os longos anos de estudos, os
seminaristas têm tempo para meditar
quanto ao celibato. Umjovem pensa pos-
suir o dom com pouca idade, às vezes por
influência familiar. Isso ocorria amiúde na
época dos coronéis. Quando sai do se-
minário e é lançado ao mundo, vê seu
engano não com relação ao pendor religi-
oso, mas à castidade, pois esta nada tem a
ver com aquele. Fica sem noção do que
fazer, por vergonha ou medo de abandonar
a batina e enfrentar a vida.
Os educandários religiosos, segundo fo-
mos informados por um ex-seminarista,
não fomecem aos desistentes, como de
fato não poderia deixar de ser, diplomas
dos inúmeros cursos freqüentados, mas
simples
59
certidões, sem validade para registro e
exercício legal de profissão diversa. Por
isso muitos continuam o curso, mesmo
descobrindo que não têm vocação.
Mesmo assim, calcula-se que o nú-
mero de padres casados, portanto afas-
tados de sua função sacerdotal, tenha sido
no mundo, em 1997, em torno cem mil e,
no Brasil, acima de três mil, podendo
chegar a quatro mil.
Obrigar-se um padre favorável ao ca-
samento (e há inúmeros) a ficar solteiro é
obrigá-lo a enjeitar um dom concedido por
Deus. É colaborar para sua desistência de
seguir o ministério ou para se tornar
adúltero. Àquele que quer ficar por
vocação, nada a reprovar.
Os bispos da Igreja Católica têm com-
portamento diferente do adotado pela
igreja primitiva inclusive com relação à
sua vida particular. Pela advertência de
Paulo (1 Tm 3.2-4), está claro que eles
não eram celibatários:
"É necessário ... que o bispo seja irrepreensiuel,
esposo de uma só mulher ... não dado ao vinho ... e
que governe bem a sua própria casa, criando os seus
filhos sob disciplina ... »
É comum ouvirmos a justificativa de
ser a Igrej a Católica a verdadeira por ser
a única a possuir sacerdotes. Baseiam-se
na carta aos hebreus. Se analisassem o
contexto histórico da época,
60
constatariam por que motivo nela é citado
várias vezes o sacerdócio humano. O
ensino destinava-se aos cristãos pro-
venientes do judaísmo, os quais naquela
época, após o ano 60, ainda eram alvo de
perseguições. Os hebreus continuavam
mantendo os rituais abolidos por Cristo e
os suntuosos cultos do Antigo
Testamento. Seus trabalhos religiosos
eram ministrados por sacerdotes.
O autor dessa carta mostra-lhes não ter
sido a perfeição mediante o sacerdócio
leuitico, pois, se assim o fosse, não
haveria necessidade de Cristo, o sumo
sacerdote, provindo de outra tribo (Judá).
Quando se muda o sacerdócio, há
também mudança de lei, ou sej a, acabava
o sacerdócio terreno da família de Levi,
começando o celestial, eterno e imutável
de Cristo, constituído não conforme a lei
de mandamento carnal (Hb 7. 11-16) mas
pela lei da fé (Rm 3.27).
A anterior ordenança havia sido
revogada por causa de sua fraqueza e
inutilidade, sendo introduzida esperança
superior, pela qual nos chegamos a Deus
(Hb 7. 18, 19) . Esperança, aí, tem o
sentido de esperar com certeza
(6.11;11.1). A lei (estamos agora sob a
graça) constituía sumos sacerdotes a
homens sujeitos à fraqueza, mas apalavra
dojuramento de Deus, que foi posterior à
lei, constitui o Filho, perfeito para sempre
(7.28). Os sacerdotes minis-
61
 travam em figura e sombra das coisas ce-
lestes (8.5), porque a lei tem sombra dos
bens vindouros, não a imagem real das
coisas (10.1), porém, agora, com efeito,
obteve Jesus ministério tanto mais
excelente quando é ele também mediador
da superior aliança instituída com base
em superior promessa. Porque, se aquela
primeira aliança tivesse sido sem
defeito, de maneira alguma estaria
sendo buscado lugar para segunda
(8.6,7).
A epístola alerta sobre o perigo de
quem está sob a lei e mostra o castigo
maior aos ofensores do Espírito da graça
(10.28-31). Por meio de Jesus - conclui -,
ofereçamos a Deus, sempre, sacrificio de
louvor, que é o fruto de lábios que
confessam o seu nome (13.15). Esse, por
ser um ato interior, mostra não mais
necessitarmos de sacerdotes.
Os judeus insistiram em continuar com
o sistema mosaico até a destruição de
Jerusalém no ano 70. Mesmo os con-
vertidos eram tardios em ouvir. Enquanto
deviam ser mestres, atendendo ao tempo
decorrido, tinham carência de quem os
ensinasse de novo até os princípios ele-
mentares, primários da doutrina, tornando-
se necessitados de leite e não de alimentos
sólidos, de ser tratados como crianças,
inexperientes na Palavra (Rm 6.7 -13).
A maior parte deles ainda hoj e não aceita
que Cristo seja o Messias.
62
O sacerdote era o regente espiritual de
sua nação. Ele intercedia pelo povo diante
de Deus, e oferecia os sacrifícios, até que
viesse Cristo, o qual, na qualidade de
sumo sacerdote ... se assentou à destra do
trono da Majestade nos céus, como
ministro do santuário e do verdadeiro
tabernáculo que o Senhor erigiu, não o
homem (Hb 8.1,2).
"Com. efeito, nos convinha um sumo sa-
cerdote, assim como este, santo, inculpável,
sem mácula, separado dos pecadores, e feito
mais alto do que os céus, que não tem
necessidade, como os sumos sacerdotes, de
oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro por
seus próprios pecados, depois pelos do povo
(são para esse fim os sacrifícios das missas);
porque fez isto uma vez por todas, quando a si
mesmo se ofereceu. Porque a lei constitui
sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraqueza,
mas a palavra do juramento, que foi posterior
à lei, constitui o filho, perfeito para sempre"
(Hb 7.26-28).
Com a vinda de Jesus, houve diversas
transposições do Antigo para o Novo
Testamen to. Ele, circuncidado em cum-
primento à lei, passou pelo batismo; em
lugar da Páscoa celebramos a Ceia do
Senhor; a própria lei, determinadora de
tudo isso deu lugar à graça. Isso também
aconteceu com os sacerdotes: nosso
último, o sumo sacerdote eterno, com o
seu sacrifício, o derradeiro, instituiu o
63
pastorado para a Igreja que edificara. Os
cristãos, de modo geral, passaram a ser
edificados casa espiritual para sacerdócio
santo, do Rei, a fim oferecerem sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por
intermédio de Cristo (1 Pe 1. 1; 2.5) - e
não novas crucificações supostamente
verdadeiras de Jesus -, e a fim também de
proclamarem as virtudes daquele que os
chamou das trevas para a sua maravi1hosa
luz (1 Pe 2.9). Quando ele entregou seu
espírito, o véu do santuário se rasgou em
duas partes, de alto a baixo (Mt 27.51).
Nesse lugar só entrava o sumo sacerdote
para fazer expiação pelo povo. Deus nos
estava concedendo o direito de entrar nós
mesmos no Santo dos Santos, isto é,
chegarmos a ele pelo sangue de Jesus,
pelo novo e vivo caminho que ele (Cristo)
nos consagrou pelo véu, isto é, pela
suacame(Hb 10.12).
((O cristianismo do primeiro século não
tinha sacerdotes. O Novo Testamento não
usa, em parte alguma, essa palavra para
descrever um líder do serviço cristão. O sa-
cerdócio judeu foi mudado; somos informa-
dos disto em Hebreus 7.12. Cristo é, agora, o
nosso (sacerdote para sempre, segundo a
ordem de Melquisedeque'(Hb 7.17). É
verdade que a versão de Douay, mas não a
da Confratemidade, usa a palavra (sacer-
dote' (numa conexão cristã), mas o grego
nunca usa apalavra 'hiereue'çsacerdotes,
64
nem o latim usa 'sacerdos' (sacerdote). Foi
bom que esse declarado erro de tradução da
Douay fosse corrigido na mais nova edição
católico-romana da Confratemidade. Os
sacerdotes cristãos são uma invenção cató-
lico-romana. "7
((E ele mesmo (Cristo) concedeu uns para
apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas, e outros para pastores e mes-
tres, com vistas ao aperfeiçoamento dos san-
tos para o desempenho do seu serviço, para
a edificação do corpo de Cristo" (Ef
4.11,12).
Dentre esses dons concedidos, não
mais se mencionou o de sacerdote como
específico de um dirigente religioso,
humano, para o povo de Deus. Outros
continuaram a manter essa função, des-
tacando-se os judeus. Até para o deus
Baal havia sacerdotes. Jesus recriminou-
os e, no versículo a seguir, criticou
inclusive seus trajes:
"Guardai-vos dos escribas que gostam de
andar com vestes talares e das saudações
nas praças" (Mc 12.38).
Escribas eram doutores da lei entre os
judeus, normalmente sacerdotes. E vestes
talares são roupas que descem até os
calcanhares, as tradicionais batinas.
O catolicismo preferiu, porém, conti-
7 _ HARRIS, R. Laird. Fundamental Protestant Doctrines.
II, p. 3, apud BOETTNER, Loraine. Catolicismo Romano,
p. 22,28.
65
 nuar adotando o costume da comunidade
judaica, utilizando sacerdote, mais
conhecido como padre e vigário. Sacer-
dote significa oferecedor de sacrifícios.
Padre, do latim pater, é pai (isso contraria
a ordem de Jesus em Mt 23.9). Vigário, do
latim vicariu, é o que faz as vezes de
outrem, contudo quem teve morte vicária
por nós foi Cristo.
Mas a Igreja Romana, ao adotar sa-
cerdote não quis seguir uma recomendação
expressa de Deus. Ele, reprovando o
costume pagão, exigiu, por volta de mil e
quinhentos anos antes de Cristo, que não
fosse usada a tonsura - rapagem, em
formato de círculo, no alto da cabeça.
Usaram-na por quase três mil e quinhentos
anos. Começaram a abandoná-la faz pouco
tempo. Alguns de seus religiosos ainda a
usam.
"Disee o SENHOR a Moisés: Fala aos sa-
cerdotes ... Não farão calva na sua cabeça ... "
(Lv 21.1,5).
Desobedeceram à ordem de Deus, mas
atenderam à do papa de que não mais
poderiam se casar. E passaram a ensinar
aos católicos a abstinência, a privação de
carne na sexta-feira santa, quando se
comemora a morte de Cristo. Permitiram-
lhes comer apenas peixe, sob a alegação
de ser ele símbolo do cristianismo. Isso -
inclusive o uso alegórico desse animal-
pode ser um cos-
66
tume antigo, porém não é bíblico. E não
existe nenhuma determinação de se comer
peixe.
Se Deus mandou comer carne de car-
neiro na páscoa judaica (Êx 12.1-12) e
Jesus, ao instituir a Ceia, a páscoa cristã,
disse para comermos, em sentido
simbólico, a sua carne, anunciando a sua
morte, está havendo uma inversão: fazem
o que foi proibido, e não fazem o que foi
mandado fazer.
"Ora, o Espírito afirma expressamente
que, nos últimos tempos, alguns apostatarão
dafé (abandonarão a fé), por obedecerem a
espíritos enganadores e a ensinos de de-
mônios, pela hipocrisia dos que falam
mentiras, e que têm cauterizada a própria
consciência, que proíbem o casamento,
exigem abstinência de alimentos, que Deus
criou para serem recebidos, com ações de
graças, pelos fiéis e por quantos conhecem
plenamente a verdade" (1 Tm 4. 1-5).
São muito superiores às do Antigo
Testamento as atribuições hoje conferidas
aos padres. Eis algumas:
((É Sacerdote do Altíssimo, Ministro de Deus,
Levita do Senhor, Alter Christus- um
outro Cristo ......... todo o poder lhe foi dado no
céu e na terra .......ele é um outro Cristo; Cristo
um outro ele. Identificam-se os seus ideais, as
aspirações e os seus poderes sobre Deus Padre
e sobre os homens, seus irmãos. Manda a Deus
que desça sobre o altar do
67
 Sacrificio; e Deus, obedecendo, desce ... É
quem .. se apresenta como intermediário en-
tre Deus e os homens ... duplo poder lhe é
conferido: um que exerce sobre o corpo e o
sangue de Jesus Cristo; outro que exerce so-
bre o seu corpo místico, que é a Igreja ... O
primeiro toma-o um sacrificador(de Cristo,
entende o catolicismo); o segundo, umpadre,
um doutor, um médico, um.juiz ... Na verdade
é um Deus quanto ao poder de perdoar
pecados ou de os reter; porque está nele o
poder de Jesus, o poder de Deus ... " 8
Segundo o catolicismo, o vigário gera
Cristo:
"Grande devoção professa o Sacerdote pela
Rainha do clero, Maria Santíssima. A vida da
Mãe de Jesus tem muitos pontos de contato
com a do Sacerdote. Ambos geram a Jesus e
dão Jesus ao mundo. Ambos o levam por
entre as gentes para abençoá-las, perdoar,
fazer o bem. "9
Por esse padre, o autor que fala em
gerar Cristo, verificamos ser o respeito do
catolicismo para com Maria muitíssimo
maior do que para com Deus e para com
Cristo. Ele fala naturalmente nestes, mas
quando vai se referir a ela, além de chamá-
la de Santíssima, pede-lhe autorização
para usar o seu nome. Jesus nunca foi
levado pela mãe por entre
8_ SANTINI, p'e Lidivino. A Santa Missa na Histôris e na
Mfstica, p. 22/28.
9_ CARBALHO, p'e Fernando. Op. cit., p. 185.
68
as gentes. Embora muitas pessoas o
acompanhassem, ela nem fazia parte
desse grupo.
Se temos por estranho o celibato dos
padres, muito mais o das freiras, ~s ': mãs
de caridade, as madres. Madreslgnlfica
mãe. Não nos deparamos, na Bíblia, com
alusão a elas nem à existência delas. As
Escrituras Sagradas reconhecem como
noiva ou esposa de Cristo, em s~~tido
alegórico, a sua Igreja. Uma religiasa
deixar que coloquem uma ahança em seu
dedo e lhe atribuírem um desses títulos é
algo temeroso, ainda ~ue seja ela
praticante de inúmeras carid.ades. Esse
anel de ouro no dedo é sinal de
compromisso, porém carnal, com re-
lações sexuais.
"Note-se bem: é excomungado o padre qu~
se casar. Voto de celibato não é voto de castidade.
O padre se submete à di~dplina ~o celibato. Ele não
faz voto de castidade. Sao duas coisas muito
distintas. O padre pode ter amantes e empreender
aventuras, como grande parte o faz ... Pode espalhar
filhos espúrios ... O papa não excomunga .". C:S
eclesiásticos reconhecem que essa lei e o cúmulo do farisaísmo e da hipocrisia. Mc:-s, se tentar
legalizar honestamente a sua sr~ação conjugal, incorre nas censuras P?ntifidas. Quem não
conhece fatos relattvos a aventuras amorosas de sacerdotes? O~ dotados de
caráter não suportam essa sttua-
69
ção e abandonam a farsa ... Os covardes,
os pusilânimes, medrosos de enfrentar a
vida cá fora, preferem acomodar-se numa
situação de dupla personalidade ... "(Pa-
lavras de um ex-padre). 10

Capítulo 4

A CONFISSÃO
AURICULAR

Confissão auricular é a feita ao ouvido do

padre, no confessionário. Foi estabelecida,
em definitivo, em 1215 depois de Cristo, no
4. o Concílio de Latrão, com sério castigo a
quem não a praticar pelo menos uma vez ao
ano.
A Deus devemos confessar os nossos
pecados. Não há necessidade de utilizarmos
sacerdotes ou pastores para tanto. A Bíblia
não registra confissões feitas nem aos
apóstolos. Em 1 Rs 8.23-53 está uma de
Salomão e no SI 51 (Bíblia de Jerusalém:
SI 50) a de arrependimento feita por Davi.
No SI 32.5 (Bíblia deJerusalém31.5),
encontramos outra de Davi a Deus:
"Corifee s ei-te o meu pecado e a minha
iniqüidade não mais ocultei. Disse: Confessarei
10_ REIS, Aníbal Pereira. Milagres e Cura Divina, p. 61.
ao SENHOR (Yahweh) as minhas

70
 transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do
meu pecado. "
Agora vamos ao Novo Testamento:
"Ora, a mensagem que da parte dele temos
ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é
luz, e não há nele treva nenhuma ... Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos
purificar de toda injustiça" (1 J o 1.5,9).
A confissão do publicano, na parábola
de Lc 18.9-14, foi feita no templo, porém
não a sacerdote. E o Senhor a aceitou:
"O publicano, estando de pé, longe, não ousava
nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no
peito, dizendo: 6 Deus, sê propício a mim,
pecador! Digo-vos que este desceu justificado
para sua casa ... "(vv 13,14).
As confissões narradas pela Bíblia são
feitas através de oração. E oração deve ser
dirigida a Deus. Como Jesus nos ensina a
orar?
"Tu, porém, quando orares, entra no teu
quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que
está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará ... Portanto, vós orareis assim:
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja
o teu nome ... "(Mt 6.6-9).
Tg 5. 16 aconselha:
"Confessai; pois, os vossos pecados uns aos
outros e orai uns pelos outros, para serdes
curados. Muito pode, pela eficácia, a súplica
do justo. "
Ou seja, devemos procurar ajuda
72
espiritual. Ele não determina confissão
secreta a sacerdotes. É uma conversa
informal de um irmão em Cristo, arre-
pendido, a outro ou a toda a igrej a, em
forma de testemunho, sobre os erros que
cometeu, como vemos descrito em At
19.18, quando muitos dos que creram vie-
ram confessando e denunciando pu~lica-
mente as suas próprias obras.
Sobre a confissão, lemos em Mt 3.6:
"Eram por ele (João Batista) batizados no rio
Jordão, confessando os seus pecados. " E em
Mc 1.5:
"Saíam a ter com ele (João Batista) toda a
província da Judéia e todos os habitantes de
Jerusalém; e confessando os seus pecados,
eram batizados por ele no rio Jordão. "
Esses textos não estão mostrando, como
supõe o catolicismo, o povo confessando
seus pecados a João Batista. Mesmo se
assim o fosse, não se pode afirmar que ele
exercia a função sacerdotal. Pelo menos
não se trajava de vestes talares (de batina),
nem portava paramentos, mas usava
roupas de pêlo de camelo e um cinto de
couro (Mt 3.4; Mc 1.6). É bem verdade
haver defensores de ter sido ele o mestre
dos essênios, seita samaritana que aplicava
o batismo, cujo grupo vivia em mosteiros
no deserto da Judéia e praticava a pobreza
e a renúncia, mas isso é hipótese não aceita
nem por católicos nem por protestantes. Se
a confissão
73
 fosse a ele, estaria escrito "confessando-
lhe os seus pecados". Podemos estar pe-
rante um pastor, sendo batizados, e con-
fessarmos a Deus as nossas faltas, em voz
audível ou não conforme j á demons-
tramos por At 19.18.
João Batista, para a igreja de sua época,
que se considerava a verdadeira, a de
Deus, talvez fosse o que foram e são os
protestantes para a Igreja Católica
Romana, ou seja, um revolucionário, fun-
dador de nova religião ou seita. Em lugar
de pregar a circuncisão, batizava; em vez
de oferecer sacrifícios para perdão de
pecados, chamava o povo ao arrepen-
dimento; não seguia os rituais exigidos,
etc. Os fariseus e os intérpretes da lei
acusaram-no de ter demônio (Lc 7.33).
Não é errado, mas até benéfico, um
cristão arrependido procurar o pastor para
extravasar seu coração, de maneira es-
pontânea - e não para cumprir ritualismo
religioso nem uma obrigação imposta -,
sem a burocracia de um confessionário,
onde o confessando e o padre ficam
escondidos um do outro. Isso sem o intuito
de conseguir perdão, pois este devemos
obter do ofendido e de Deus. Quando
queremos, com sinceridade, confessar
alguma coisa, fazemo-lo frente a frente,
olho no olho, e não às escondidas. Nada
impede um pastor também se confessar
com leigos ("confessai ... uns aos outros').
74
E já testemunhamos isso. O padre poderia
assim agir, se o quisesse. Condenamos,
isto sim, a igreja impor confissão aos fiéis
sob ameaça, como o fez no referido
Concílio, ato não revogado até hoj e:
"Todo fiel chegado à idade de discrição
terá de confessar todos os seus pecados pelo
menos uma vez por ano, a receber, com
respeito, a Páscoa, quando menos o sacra-
mento da eucaristia, senão, durante a vida,
ser-lhe-á negada a entrada na igreja; e,
quando morrer, não se lhe dará sepultura
cristã".'
. Levando-se em conta existir pecados
não só de ação, mas também de omissão e
de pensamento, será possível a um ser
humano, por mais inteligente que seja,
lembrar-se de todos os praticados durante
um ano, durante uma semana ou até
mesmo no decorrer de um dia? O
verdadeiro seguidor de Cristo pede perdão
a Deus a todo instante. Por que passar um
ano inteiro acumulando pecados para só
depois disso tentar o perdão deles através
de um ser humano também pecador? E
cometemos muitos erros pensando estar
agindo de forma correta: "Há caminho que
ao homem parece direito, mas ao cabo dá
em caminhos de morte" (Pv 14.12).
1 _ CAULY. História da Religião e da Igreja, apud SANTOS,
Adelson Damasceno. Catolicismo, Verdade ou Men-
tira?, p. 49.
75
 o catolicismo alega investigar,
primeiro' do confessando se está
arrependido, para lhe dar a
absolvição. Se alguém teve a
intrepidez, sem se arrepender, de
se ajoelhar perante seu confessor,
cumprindo um ritual, para lhe
confiar seus pecados, terá a
coragem de mentir e dizer-se
arrependido. O padre absolve-o,
uma vez que não tem o poder,
como Jesus, de esquadrinhar o
íntimo de quem quer que seja,
embora aceite o titulo de Alter
Christus - um outro Cristo.
Absolvido foi, absolvido teria de
estar.
Ouvimos um professor de teologia cató-
lica afirmar que Jesus, nos versos a seguir,
instituiu o sacramento da confissão:
"Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz
seja convosco! Assim como o Pai me enviou,
eu também vos envio. E, havendo dito isto,
soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo. Se de alguns perdoardes os
pecados, são-lhes perdoados; se lhos reti-
verdes, são retidos" (Jo 20.21-23).
Nosso Senhor nem mencionou a palavra
confissão. Além disso, sacramento é uma
ordenança, porém os verbos não estão no
imperativo e sim no condicional: "se ...
perdoardes; se lhos retiuerdes". Não se
deve ficar fazendo suposições nem in-
terpretar um texto fora do contexto. Ele
estava ensinando aos76 discípulos acerca do
perdão (v. 19). Não precisamos, para
perdoar a um irmão, ouvir dele, primeiro,
a sua confissão. O perdão voluntário faz
parte da vida dos cristãos. .
((E apedrejavam. Estêvão, que muocaua e
r , 't ,
dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espin o.
Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz:
Senhor, não lhes imputes este pecado! Com
estas palavras, adormeceu"(At 7.59,60).
Vemos, com tristeza, o povo ir perante
um sacerdote, confessar-lhe pecados, ser
absolvido por este, sair e repetir os mesmos
atos condenáveis, Esse é um dos perigos de
quem segue a Bíblia de forma errônea e
mecânica, in terpretando-a de acordo com a
conveniência própria. A ordem de Cristo é:
(~.,. vai: não peques mais" (Jo 8.11). A
intenção de mudança de comportamento
tem de preceder a confissão a Deus. O
pedido de perdão implica o propósito de não
repetir o pecado cometido e evitar outros:
Hoj e em dia a Igrej a Romana pratl~a
um tipo de confissão coletiva, não ma~s
havendo a obrigatoriedade do corifeaai-
onário. Entretanto é indispensável a pre-
sença de um padre ou, pelo menos, de um
diácono. Portanto, embora tendo havido
alteração, esse novo método também não é
bíblico.
77

CONCLUSÃO
A missa é considerada de suma im-
portância para a Igreja Católica Romana.
Sem ela e sem Maria o catolicismo,
podemos dizer, deixaria de existir. Mas o
interessante é os' católicos com quem
temos conversado participarem do ritual
desconhecendo-o quase por completo.
O povo passa a seguir dou trinas e dog-
mas pensando ser legítimos, quando, na
verdade, surgiram de interpretação errada
ou do paganismo. Seria simples chegar-se
a essa conclusão lendo-se as Escrituras.
Conhecendo-as, todos teriam a utilizam o rosário sem ter prestado
capacidade de saber onde houve acrés-
cimo ou omissão que contrarie os ensinos
a nós legados. A maior parte, tendo os
olhos obscurecidos pela idolatria, se
acomoda e aceita, sem discussão, a he-
rança religiosa de sua família. Querem
que tudo seja permitido para nada lhes
pesar a consciência nem lhes parecer
imoral. Chegam, para isso, a mudar o
nome do pecado. Hoje, por exemplo, os
jovens não praticam o adultério, pois fa-
zem programas, atitude considerada
normal e corriqueira para eles.
Os cristãos estão neste mundo para
conscientizar o próximo de seus erros,
darlhe exemplo de vida e mostrar-lhe o
caminho certo, da salvação. O CRENTE
não pode se acomodar, não pode ficar de
braços cruzados, concordando com as
atitudes da atualidade. Se não concorda
com determinados comportamentos,
também não pode ficar paralisado diante
das alterações introduzidas na Igreja de
Cristo.
A nossa espada de dois gumes é a Bí-
blia. Devemos empunhá-la e ter intrepi-
dez para mostrar quando determinadas
práticas estão em desacordo com ela.
Embora não sejajustificável, pois todos
deveriam conhecer as Escrituras, muitas
pessoas seguem determinados ensinos e
praticam alguns rituais na boa-fé. Quantas
atenção a ter Jesus condenado esse
método? Quantas não sabem se confessar
a Deus?
Esperamos que os assuntos tratados
neste volume tragam aos caros leitores
evangélicos subsídios a ser utilizados em
evangelização. E aos amigos católicos
sirvam de esclarecimento ou, pelo menos,
chamem sua atenção para a necessidade
de analisar com mais carinho a Palavra de
Deus.
79
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82
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