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A NOVA FACE DO MOVIMENTO OPERARIO NA PRIMEIRA REPUBLICA ** EMILIA VIOTTI DA COSTA* N&o hd campo mais controverso na historiografia brasileira de nossos dias do que a histérla do movimento operérie. Além dos deba- tes que brotam naturalmente de querelas académicas, em consequén- cia da crescente competigao nos meios universitérios, existem outros, mais significativos que derivam dos conflitos ideoldgicos e politicos do momento. Estes sio particularmente intensos no Brasil de hoje, quando a reabertura recoloca o problema da participacao politica dos operérios, dando margem a um renovado debate entre as varias fac- ces da esquerda brasileira que disputam, entre si, a lderanca do movimento operario. Comunistas, trotskistas, socialistas, democrata-cristfios, sindicalis- tas, populistas, neo-anarquistas, e todos os outros grupos politicos que se possa imaginar, reescrevem a histéria do movimento operdrio a partir de sua perspectiva. Nas suas interpretacées do passado ecoam as lutas do presente. Mais do que o estudo do passado a historia é, dentro desse contexto, instrumento da agéo presente, pretexto para justificar praticas politicas contemporaneas. Nem mesmo os histo- Yiadores que se definem em termos estritamente profissionais conse- guem escapar a essa contingéncia. Quem nao estiver consciente do viés nfio teré condigdes para avaliar adequadamente a historiografia A preocupacao com questdes politicas nao € nova e nem mesmo peculiar & histéria do movimento operario (se bem que seja talvez mais intensa neste campo do que em outros). O que é novo na his- toriografia em questao 6 a maior preocupacao dos historiadores em ancorarem suas conclusdes em bases empiricas mais sdlidas. Esta ‘tendéncia resulta, em parte, das exigéncias académicas que tém levado a uma crescente profissionalizagiéo do historiador e, em parte, da mul- tipticagSio de arquivos e centros de pesquisa dedicados ao estudo da classe operdria © suas lutas, Haja, visto o arquivo Edgard Lenenroth na Universidade de Campinas e a Fundacio Giangiacomo Feltrinelli, para citar apenas dois dos que tém sido mais utilizados nos iltimos tempos. © acesso a novos documentos tem contribufdo, tanto quanto © debate politico dos tltimos anos, para a revisio das imagens tradi- cionais da classe operdria e da sua participacao politica na Primeira Repitblica, Para isso também tem contribuide a influéncia de alguns pesquisadores estrangeiros cujas obras sugeriram qfestdes novas e propuseram novos tipos de abordagem. Nao é por acaso que a partir dos estudos de E, P. Thompson, Michelle Perrot, Stefano Merli, Cor- R. bras, Hist, S80 Paulo, 2 (4): 217-252, set. 1982 218 nelius Castoriadis, Juan Martinez-Alier, os pesquisadores brasileiros estejam prestando maior atenc&o A cultura operdria, as condigdes de trabalho nas fabrieas e ao impacto das transformagées tecnoldgicas no movimento operario. Pouco a pouco vemos surgir uma literatura que enriquece a nossa visio dando-nos um quadro cada vez mais complexo e variegado Tnfelizmente muitas dessas novas pesquisas permanecem ignoradas do publico, perdidas em teses de mestrado e doutoramento gue jamais chegam a ser publicadas — um dos absurdos da vida académica bra- sileira, Recentemente, no entanto, vieram & luz duas colecdes de documentos que, pela sta riqueza de informaées, constituem impor- tante contribuicio para a revisio que esta em curso. A primeira é a colecdo publicada por Edgard Carone, sob o titulo: Movimento Ope- rério no Brasil, 1877-1944 (1), a segunda. os dois volumes editados por Paulo Sérglo Pinheito e Michael Hall: A classe operdria no Brasil, 1889-1930. (2) A leitura dessas obras que juntas contém mais de mil paginas de documentos, leva-nos a por em questéo algumas das afirmagoes cor- rentes na literatura sobre o movimento operdrio. O que se segue Go algumas das reflexdes que nos vieram A mente ao percorrer aque- Jas paginas. Ao divulgé-las esperamos nao s6 apontar algumas la- cunas como indicar novos caminhos de investigacao. O movimento operdrio no Brasil no periodo que val de 1889 a 1930 € em geral descrito como tendo sido dominado pelos anarquistas, imigrantes, na sua maioria italianos ou espanhéis que, fugindo a per- seguigdes politicas na Europa, refugiaram-se no Brasil trazendo con- sigo sua experiéncla politica. Seriam eles os responsaveis pelas greves, organizacdes operarias e demonstracées de massa que agitaram a Pri- meira Repiblica. Divididos, no entanto, por conflitos étnicos, sepa- yados por barreiras linguisticas os anarquistas teriam sucumbido A severa Tepressio desencadeada contra eles pelas classes dominantes para as quais a “questao operaria” era uma “questdo de policia e nao de politica” Ameacatos de deportac&o, as vezes deportados, constantemente petseguidos pela policia, encarcerados, figurando nas listas negras que cireulavam de méo em mo entre os industrials, os lideres anarguistas tiveram sua acio cerceada. Em 1922, sob o impacto da Revalucio Russa alguns anarguistas criaram o Partido Comunista. A partir de entGo, a influéncia anarquiste. entraria em recesso e, segundo alguns autores, 0 proprio movimento operério perderia seu impeto. O golpe fal no movimento operario teria sido dado por Getiilio Vargas, 0 qual, depois de 1930 criaria uma estrutura.“corporativista”, “atrelan- do” © movimento operdrio ao Estado, ao mesmo tempo que reprimiria com violéncia as liderangas auténomas. Essas medidas coincidiram com uma profunda transformacdo na composicio da classe operéria, © que veio a facilitar esse process de “domesticacao” do movimento operario. Trabalhadores brasilciros substituiriam os imigrantes. 219 Vindos das zonas rurais, analfabetos e politicamente inexperientes, habituados @ relagdes paternalistas, esses trabalhadores nao tinham consciéncia de classe ¢ seriam presa facil das manipulacdes do estado populista. Essa é em poucas palavras e de forma bastante resumida e simplificada a imagem que prevalece na maioria dos estudos sobre © assunto. (3) Evidentemente é impossivel numa breve apresentacéo registrar as diferencas sutis entre os varios autores. Nem todos, por exemplo, se limitam a falar s6 nos anarquistas. Ha aqueles que se referem também aos sovialistas, aos catélicos ¢ aos sindicalistas, se bem que em geral, de forma bastante superficial, (4) Também, dependendo de suas ‘simpatias pessoais, os analistas dao explicacdes diferentes para o que eles avaliam como sendo “a fraqueza” ou “o fracasso” do movimento operério. Uns culpam aos comunistas, outros aos anar- quistas. Todos culpam a polfcia. Alguns, argumentam que os anar- quistas foram derrotados por causa de sua estratégia inadequada, de seu internacfonalismo, sua incapacidade de lidar com problemas na- cionais mais amplos. (5) Outros argumentam que o anarquismo teve sucesso enquanto predominaram os artesios, mas a parlir do mo- mento em que 0s operdrios passaram a predominar no movimento os anarquistas estavam condenados a perder a lideranea, devido ao seu carater pequeno-burgués. (6) Hé ainda aqueles que véem na repres- so a causa fundamental do “fracasso”” do movimento operario. As divergéncias entre os historiadores vio além da explicacdo do sucesso ou insucesso dos anarquistas. Eles também discordam na sua interpretacdo da politica operaria de Vargas. Para uns, Getiilio foi o intérprete dos industriais. (7) Segundo outros, os industrials, m 1930, ndo tinham um projeto do qual Vargas pudesse ser 0 exe- cutor, (8) Influenciados pela retériea populista alguns véem em Vargas 0 “pai dos pobres”. Para outros, no passou de um politico esperto, o primeiro a reconhecer que a questSo operdria era uma questo nao s6 de polfcia como também de politica. Levando em conta esas nuances pode-se dizer que o quadro ante- riormente tragado apresenta as linhas mestras da historiografia do movimento operrlo na Primeira Repiblica Algumas dessas nogées encontram plena confirmagio nas duas colegdes de documentos consultadas. Outras, no entanto, aparecem moditicadas. A repressdo, por exemplo, é amplamente documentade. Ha em ambas colegdes um sem ntimero de evidéncias que testemu- nham a incessante perseguicéo de que eram vitimas as organizagdes operarias e suas liderancas. A repressio, no entanto, parece ter sido muito mais sutil e sofisticada do que se tem, em geral, reconhecido. Nao se tratava apenas de proibir demonstragdes dperarias, despedir lideres, deportar ou encarcerar “‘trabalhadores indesejéveis”, invadir sindicatos, destruir a imprensa operdria. Ia-se ainda mals longe. Ja nessa época a burguesia respondia ao internacionalismo dos operdrios, internacionalizando a represséo, © governo italiano, por exemplo,

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