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MORSE, R. M. “Desenvolvimento urbano da américa espanhola colonial” p.

57-98 In:
BETHELL, L. (org) História da América Latina: América Latina colonial, volume II. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
Lucas Brito Santana Da Silva

A ideia urbana

- Por longos anos se ignorou o estudo da cidade na américa, anterior ou posterior à


conquista espanhola. A eclosão dos estudos sobre esse objeto adveio das querelas
sobre a forma física da cidade na américa espanhola, que era a forma do tabuleiro de
xadrez; mas esses estudos foram além dos “precedentes formais para o desenho e
começou a reconstituir o processo institucional e cultural” (p. 58-9).

- Três hipóteses são apresentadas para explicar o designer urbano da américa


espanhola: um, a forma em xadrez ou grade da cidade serviu ao projeto de dominação
dos espanhóis, pois tornava possível uma maior racionalização do território apropriado
a partir da estrutura burocrática montada; além disso, tal modelo, em seus desenhos
e algumas concretizações, remontava a fontes clássicas. Dois, a ignorância sobre
arquitetura urbana dos primeiros conquistadores e colonizadores gerou uma
paisagem urbana desordenada, por apenas atender às demandas imediatas dos
objetivos espanhóis. Já as cidades em modelo de grade eram construídas apenas
quando as condições o permitiam, visto sua própria pragmaticidade. Além disso, os
centros administrativos dos espanhóis, ainda que não em modelo de grade, talvez
tenham sofrido influência das grandes cidades dos próprios nativos, das quais
algumas foram substituídas pelas construções espanholas. Três, o urbanismo
implantado pelos espanhóis na América não tinha por finalidade principal o sucesso
administrativo, antes a estrutura urbana deveria refletir a ordem econômica, social e
político tal qual a estrutura e organização da sociedade espanhola1 (p. 59-60).

- Para Morse, estas hipóteses se tomadas isoladamente não dão conta do fenômeno
urbano na américa hispânica, uma perspectiva dialética sobre o urbanismo na américa
anterior à colonização e o urbanismo europeu se faz necessária. Assim, os
referenciais para a construção urbana que habitam o ideário espanhol-europeu vão
desde a cidade-estado grega, da municipalidade romana, da oposição entre cidade
de deus e cidade terrena de Agostinho, a uma imaginária cidade áurea ou uma cidade
terrenamente pobre mas rica espiritualmente. Tal ideário era mais presente nos

1Esta também é a hipótese principal apresentada por Suzana Bleil de Souza. Esta autora sustenta que
o modelo em xadrez da cidade na américa espanhola encarnava a hierarquia nas mesmas dimensões
apontadas por Morse, cujo centro, a praça central e seus edifícios ao redor, representava o cume dessa
hierarquia. Aliás, na américa espanhola a estrutura urbana teria conseguido refletir as diferenciações
sociais em um nível que não teria sido alcançado na própria Espanha (SOUZA, 1996).
juristas, teólogos e missionários, o que não impediu que fossem absorvidos pelos que
animaram diretamente a construção das cidades. Quanto à identidade das cidades, o
autor diz que era uma “identidade corporativa baseada num sistema de império”, onde
as hierarquias tanto entre cidades, entre as cidades e aldeias, e entre os indivíduos
que as habitavam forma a matriz identitária. A manutenção desse sistema ficava a
cargo dos homens importantes, ficando pouco às pessoas “comuns” (p. 60-3).

A estratégia urbana

- Na primeira década de colonização, o desenvolvimento urbano se dá a esmo e


desastrosamente, mas com a designação de Nicolás de Ovando como governador de
São Domingo colônia o cenário muda; sua incumbência é fundar novas colônias que
“levassem em conta as características naturais e a distribuição da população”. Além
disso, esse governador foi ordenado a assentar cristãos e nativos em localidades
diferentes, os primeiros às “villas” e os segundos aos “pueblos”. Ovando conseguiu
construir uma “infraestrutura para uma economia regional integrada”, mas ainda assim
o seu projeto falhou, tendo por causas como a construção de estradas falhas, a
inadvertida abolição da exação, e outras que resultaram no declínio populacional dos
nativos, por fim a estrutura urbana que desenvolveu foi desabitada.

Em contraposição a essa falha, a unidade municipal obterá sucesso em


experiências coloniais conduzidas a partir das Antilhas; ainda que não tenha tardado
a se perceber as limitações quanto à conexão entre as unidades municipais que
estavam sendo desenvolvidas, sem contar os empecilhos burocráticos colocados pela
coroa (p. 63-4).

- Durante o século XVI foram se instaurando figuras jurídicas nas cidades, como os
delegados. E ainda que a Coroa espanhola tivesse reticências ao poder que um
aparato estatal pudesse ter na colônia, os delegados tiveram maior destaque nas
relações com a própria coroa, reparações, do que em conluios contra esta; além das
funções judiciárias a serem exercidas na própria cidade (p. 65).

- Como exemplo dos processos de fundação de vilas, Morse apresenta um manual de


caudillo feito para fundadores de vilas. Essa fundação passa por um ritual que passa
pelo juramento aos reis espanhóis, à legitimação por juízes, à tentativa de negociação
pacífica com os índios, ao fomento do apego desses à vila, e, parte fundamental, aos
desígnios que o cabildo do caudillo. As vilas passavam a ter funções e prerrogativas,
como proteção eclesiástica e real aos seus empreendimentos, apropriação de
territórios e cooptação de mão de obra às demandas das atividades desenvolvidas
pelos colonizadores (p. 66-7).

- Para o autor, o processo de colonização é indissociável do processo de urbanização,


é o primeiro, quando obtido sucesso, que alimenta o segundo; sem a colonização não
há conquista efetiva. E na américa espanhola a fundação de centros urbanos foi bem-
sucedida ao ponto de muitos deles terem se tornado capitais e perdurarem até hoje.
Entre fins do século XVI e meados do XVII, com o explicita queda da população
indígena, são os centros urbanos e administrativos de algum porte os que mais
crescem, que se estabeleciam como “esquemas de cidades” (p. 69-70).
- As concessões de terras foram feitas, principalmente quando os espanhóis
começaram a se imiscuir na américa, a partir das capitulações e da firmação de
acordos para posse de terras devolutas e, mais tarde, por leilão. As duas primeiras
representaram certa ameaça para o poder da coroa sobre as terras da colônia, ao
ponto de entrarem em desacordo aos interesses reais2. Quanto à ultima, muitos
problemas se deram pela ausência de sistema eficaz de fiscalização, que pudesse
fazer as rendas das exações ir às mãos dois; algo sentido nitidamente quando os
cofres da coroa se viram comprometidos (p. 74).

As vilas e os índios

- A proposta inicial de desenvolvimento urbano na américa espanhola colonial visava


a fundação de duas repúblicas, um de índios e outra de espanhóis. Entretanto, se
enquanto proposta isso significava que os índios, formando uma república, poderiam
se antepor aos espanhóis como minimamente iguais a nível político, na prática tal
proposta debandou num processo de “destribalização” dos indígenas, que serviu à
dominação espanhola através da designação de uma unidade urbana. Se intentou, e
conseguiu-se com relativo sucesso, a implementação da estrutura urbana espanhola
na América, transferindo-se as formas de unidade urbana e instituições que as
gerenciavam. Diante da dizimação da população nativa, seja pela cruz, pela espada
ou pela fome, como poetiza Pablo Neruda, ou pelas doenças, o processo de

2 Souza (1996) aponta que as capitulações foram de grande infortúnio para os reis espanhóis, ainda
que tenham sido elas a fomentar o desejo dos conquistadores, pois tornavam possível o exercício de
poder irrestrito nas terras conquistadas; eram ainda mais perigosos por serem concessões hereditárias,
como no caso de Colombo. As medidas para lidar com essas possíveis ameaças foi a liquidação da
hereditariedade e a suspensão de outras prerrogativas; assim aconteceu com Colombo, o que ressoou
mais tarde em processos por parte de seus descendentes, e também com Cortés, de forma mais
simples por esse ter tomado ações que não foram permitidas diretamente pelos reis espanhóis.
urbanização na américa espanhola é acelerado, tendo por objetivo a
congregação/relocalização das populações indígenas dispersas. Essa relocalização
dos indígenas não ocorreu sem resistência, e ao passo que terras iam sendo
abandonas começaram a aparecer as haciendas, que passaram a concentrar muitos
dos índios que estavam dispersos ou que suas tribos haviam sucumbido. Por fim, a
hacienda foi responsável pelo início de uma nova dinâmica produtiva e social na
colônia (p. 75-6).

- Principalmente no século XVII, ver-se a perca de identidades indígenas. A


miscigenação cultural e racial vai criando um cenário onde colonos e colonizadores
vão se tornando indistintos3, lembrando que ainda que tenham persistidos caracteres
da cultura nativa, alguns outros caracteres foram esmagados. Quando a situação da
diferenciação social e da indiferenciação étnico-racial chega ao limite, surgem outras
formas de diferenciação, como um sistema de castas. Apesar disso, ainda irão eclodir
conflitos. Estar-se diante de uma geração de indivíduos atravessados por um mal-
estar social e caracterizados por certa agressividade (p. 78-81).

- Para Morse, há um processo geral de identificação entre aqueles que se veem


“despossuídos”, não só de bens de produção mas também de bens culturais, e isso
significaria o fracasso do “antigo ideal eclesiástico e jurídico de “incorporação” social”
(p. 82).

As mudanças do fim do período colonial

- Ao fim do período colonial é destacado um aumento populacional, tendência que


vinha há algumas décadas, marcada pela recuperação da população indígena, ainda
que nada parecido com contingente anterior à conquista. A urbanização sofre um novo
ímpeto e começam-se políticas de reformas das cidades já existentes, assim como a
construção de outras; nesse ponto, vê-se atenção dos ainda presentes colonizadores
para o desenvolvimento de serviços público, desde escolas, hospitais, cemitérios à
casas da moeda, assim como um aumento da autonomia de alguns já grandes centros
urbanos. Isso mudava claramente a direção da política e estrutura administrativa
intentada anteriormente. Também é importante notar que a atenção de Espanha à

3 A autora Helen Osório aponta que essa perca de identidade chega ao ponto de uma desassociação
entre raça e cultura entre os próprios nativos e colonizadores. Como reflexo disso, ainda que os
indivíduos tivessem uma fisionomia que pudesse levar a associá-los as etnias indígenas, muitos já não
eram assim designados visto a adoção de modos de vida ou culturas espanhóis, e de outros povos que
foram introduzidos na américa (OSÓRIO, 1996).
colônia estava ligada as forças que esta última poderia mover em favor da primeira,
agora um “império moribundo”. Por fim, a economia também sofrerá significativas
mudanças, pois a dinâmica de produção, importação e exportação é alterada. Esta
última passa a ter destaque, o que pode servir para apontar um ponto de inflexão
neste momento da américa espanhola, visto as antigas políticas de limitação da
produção (91-6).

Referências

OSÓRIO, Hellen. Estruturas socioeconômicas coloniais. In: WASSERMAN, Claudia.


História da América Latina: cinco séculos. Porto Alegre, UFRGS Editora, 2003.

SOUZA, Suzana Bleil de. Política e administração na sociedade colonial hispânica. In:
WASSERMAN, Claudia. História da América Latina: cinco séculos. Porto Alegre,
UFRGS Editora, 2003.

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