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JONATHAN EDWARDS E A NATUREZA DO VERDADEIRO AMOR

INTRODUÇÃO
O amor não salva, mas ninguém entrará no céu sem ele: “Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte”[1]. Sabemos que a justificação
do pecador perante Deus dá-se pela graça deste mediante a fé somente. Se o amor fosse a base da nossa
salvação estaríamos sem esperança. Ninguém ama perfeitamente. Por que não sabemos amar? Porque
somos uma raça de seres que se desconectaram da Fonte da vida. Seres que foram feitos para reinar sobre
este planeta a mando do Criador, mas que hoje perderam a noção de quem são. Queremos de alguma
forma reinar. Queremos ter valor pessoal. Sentirmo-nos amados e apreciados. E tudo leva a crer que
nascemos para nos sentirmos contentes com o que somos. Concordo com John Piper quando ele diz“o
anelo para ser feliz é uma experiência humana universal, e é bom e não pecaminoso”.[2] E faz parte de
qualquer definição de felicidade o estar satisfeito consigo próprio. O anelo por sentir-se valioso é algo
intrínseco à nossa natureza. Porém, longe do único que serve de base para a construção do nosso senso de
valor pessoal, o Deus que nos ama incondicionalmente, o que nos resta é sairmos do nosso modo em
busca de algo que nos faça crer que temos valor.
O ponto onde quero chegar é que é natural que não saibamos amar. Não podemos dar o que não temos.
Não estamos satisfeitos com o que temos. Por isso precisamos de explorar. O próximo se constitui em
nossa condição de seres caídos na nossa base de auto-aceitação. Como carecemos de aplauso. Milhares
compram o que não precisam a fim de agradarem a quem não gostam para obterem um mínimo senso de
valor pessoal. Por isso exploramos. E como todos vivemos a mesmíssima experiência estamos sempre nos
magoando. Sim, o que ocorre é que milhares estào vivendo por déficit. Falta-lhes algo e estes tratam de
encontrá-lo das mais diversas formas. As vezes até mesmo supostamente amando seu semelhante. Como
diz Henri Nouwen:
Eu tenho tanto medo de não ser amado, de ser culpado, posto de lado, superado, ignorado, perseguido e
morto, que estou constantemente criando estratégias para me defender e consequentemente garantir o
amor que acho que preciso e mereço. Assim fazendo, me distancio da casa de meu Pai e escolho habitar
um país distante.[3]

E Deus neste contexto onde fica? Deus acaba se tornando naquele a quem odiamos por o julgarmos nosso
adversário. Por isto não o amamos também. É isto o que vemos no Éden. Nossos pais acreditando na
serpente e tendo Deus como arbitrário. É fato que o catecismo de Heidelberg estava certo quando
respondeu a seguinte questão: Você pode guardar esta lei (lei de Deus) perfeitamente? Qual a resposta?
“Não, não posso, porque por natureza sou inclinado a odiar a Deus e a meu próximo”.[4]
O Filho de Deus veio ao mundo para salvar uma raça que desaprendeu a amar. Este é o grande pecado
que o Senhor Jesus quer tratar na vida de todos nós. A perda da capacidade de amar. E pela Sua graça
podemos ser perdoados do nosso egoísmo e na força do amor que Ele revela por nós e da percepção da
excelência do amor cristão voltarmos a amar também.
Sem amor ninguém haverá de entrar no reino dos céus. Isto porque embora ele não nos salve o amor é o
maior sinal de que nascemos de novo. É inconcebível uma criatura nascida de novo espiritualmente e que
não ame.
O meu propósito nesta monografia é falar sobre o amor em sua dupla direção. O amor que devemos ter
pelo próximo e por Deus. Para tal recorrerei ao que o pregador norte-americano Jonathan Edwards (1703-
1758) falou sobre a virtude cristà do amor. Por que falar sobre a virtude do amor através da obra de
Edwards? Infelizmente o grande pregador americano ficou mais conhecido pelo que falou sobre o inferno
num dos seus sermões (Pecadores nas Mãos de um Deus Irado) do que sobre o muito que falou sobre o
amor. Edwards falou bastante sobre o amor. E o muito sobre o que falou era fruto do seu profundo
conhecimento da natureza humana e das Escrituras. Tratava-se de alguém que tanto conhecia as
manifestações falsas do amor como também o verdadeiro amor conforme revelado nas páginas das
Escrituras Sagradas. Fora tudo isto Edwards foi um amante a vida toda. Amava sua esposa, cujo
relacionamento com ela chamava de “união incomum”; amava a igreja que durante tanto tempo
pastoreou, a igreja congregacional de Northampton, a ponto de ser dito:
...pelo bem deles ele estava sempre escrevendo, planejando, trabalhando; por eles derramara milhares de
ferventes orações; e eles eram queridos para ele acima de qualquer outra gente abaixo do céu [5]

e sobretudo amava o seu Deus a quem ele via como absolutamente excelente:
Desde de que eu vim para Northampton, eu tenho tido frequentemente doce complascência em Deus, em
vista das sua gloriosas perfeições, e da excelência de Jesus Cristo. Deus tem parecido para mim um ser
glorioso e amável, principalmente por causa da sua santidade. A santidade de Deus tem sempre parecido
para mim o mais amável dos seus atributos.[6]

A minha abordagem sobre o que Edwards falou sobre o amor seguirá os seguinte passos: primeiro,
demonstrarei porque para Edwards o amor é a principal evidência de novo nascimento, e em segundo
lugar, falarei sobre a natureza do verdadeiro amor à luz de uma das suas principais obras, “A Natureza da
Verdadeira Virtude”.

I- AMOR: A PRINCIPAL EVIDÊNCIA DE QUE NASCEMOS DE NOVO.

A Verdadeira Fé é Operosa
Não somos salvos por Deus mediante uma fé que não seja operosa. A fé verdadeira é frutífera. Na
teologia de Edwards justificação e santificação jamais são separadas. E quando fala sobre santificação,
Edwards não fala tão somente de uma santificação imputada tal como a justificação. Ele fala sobre uma
santificação real, experimental e viva:
Não há lugar deixado para ninguém dizer que eles tem fé que justifica e que eles não precisam se
preocupar com obras e assim dar a si próprios a liberdade para pecar porque eles não estão sob a lei, mas
sob a graça; para estes apenas esta é fé que justifica, contudo não há fé que justifique a não ser uma fé
operosa.[7]

Num sermão sobre Hebreus 12:14 afirma: “Ninguém jamais será admitido a contemplar Cristo a não ser
pessoas santas”.[8]
São muitas as razões que Edwards apresenta pelas quais é inimaginável uma salvação sem real
santificação. Há, porém, duas que são tão óbvias, mas que passam paradoxalmente tão despercebidas por
nós que vale a pena ressaltá-las. É fato fora de controvérsia que a verdadeira fé é fruto da obra de
regeneração. A verdadeira fé tem suas raízes no solo de um coração regenerado. Isto porque o homem
conforme é por natureza encontra-se em estado de total incapacidade de por si mesmo voltar-se em
arrependimento e fé para Deus. Não há fé salvadora sem regeneração. Como atesta A. A. Hodge:
A regeneração é ato de Deus; a conversão é ato nosso. A regeneração é a implantação de um princípio
concedido pela graça; a conversão é o exercício deste princípio. A regeneração nunca é matéria de
consciência direta de quem é regenerado; a conversão o é para o convertido.[9]

Pois bem, a obra de regeneração trata-se de uma ação imediata da graça que transforma inteiramente a
natureza do pecador. De tal forma que garante, não apenas possibilita, o nascimento de todas as viturdes
que conjuntamente compõe o conjunto harmonioso descrito em Gálatas capítulo cinco versículos vinte e
dois e vinte e três: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão e domínio próprio...”. Isto levou Jonathan Edwards a consideração de que a
santificação consiste em boas obras as quais tem que ser universais. Ou seja, abrangendo todas as áreas da
vida. Diz Edwards: “A verdadeira confiança em Cristo nunca é infundida sem as demais graças com
ela”.[10] Somos justificados pela graça de Deus mediante a fé somente, mas não mediante uma fé que
está sozinha. Quando a fé salvadora se manifesta as demais virtudes cristãs se manifestam também com
ela. Neste sentido deve-se falar sobre uma fé que precisa de ser justificada. Somos justificados pela graça
mediante a fé. Mas, por que espécie de fé? Por uma fé que precisa de ser justificada pelas obras. Qual a
razão disso? Entre tantas o fato de que a regeneração, pela qual somos levados a crer produz não apenas
fé, mas o caráter de Cristo completo em alguma medida.
A outra razão pela qual é inconcebível uma salvação que não venha acompanhada de real santificação na
opinião de Edwards é a seguinte: “As graças estão tão relacionadas umas às outras que uma inclui e infere
a outra”.[11] O que ele quer dizer com isto? Que é impossível um homem ter uma das virtudes cristãs e
não ter as outras. Elas estão de tal modo interligadas que uma leva as demais e se retro-alimentam
mutuamente. A fé salvadora, por exemplo, só pode ser a fé que ama. Senão em nada esta difere da fé que
o livro de Tiago revela que os demônios tem. Os demônios crêem num certo sentido tal qual o crente.
Mas, qual a diferença entre ambos? A diferença consiste nos fato de que a fé dos crentes vem sempre
acompanhada de amor. O demônios crêem e os crentes crêem. Contudo, o que os demônios crêem não os
comove. Já os Filhos de Deus crêem e amam.
O Amor Cristão: A Principal Obra da Fé
O ponto onde chegamos é justamente aquele em que Tiago nos seu livro no capítulo dois versículo
dezessete chegou: “A fé sem obras é morta”. Uma pergunta precisamos de responder: se a fé sem obras é
morta quais as principais obras da fé? Este ponto é fundamental. Qual a resposta de Edwards? A resposta
que Edwards vai dar é que embora sejam muitas as obras da fé, todas, sejam quais forem, tem sua origem
numa coisa: o amor. É bem verdade que muito ele tem a falar sobre este amor. Especialmente ao
diferenciá-lo do amor dos não regenerados. Antes, porém, de falarmos da natureza do verdadeiro amor é
fundamental que ressaltemos o fato de que sem ele ninguém pode se considerar salvo.
Para Edwards a vida no Espírito consiste em amor. Isto é amplamente demonstrando numa obra
extraordinária entitulada Charity and its Fruits (Caridade e seus Frutos), que trata-se de uma exposição do
locus classicus do tema, o capítulo treze da primeira carta de Paulo aos Coríntios. Em dezesseis capítulos
Edwards fala sobre o amor como a síntese de todas as virtudes cristãs e das suas principais características.
No primeiro capítulo Jonathan Edwards defende a idéia de que o amor é o resumo de todas as virtudes.
Ele na introdução apresenta o fato insofismável de que este amor no Novo Testamento é insistido por
Cristo e pelos apóstolos mais do que qualquer outra virtude.[12] Esta vem a ser a virtude que distingue o
cristão do homem natural: “Toda a virtude que é salvadora, e que distingue o cristão dos outros, é
resumida em amor cristão”.[13] Ele destaca o fato que no texto de Coríntios Paulo apresenta obras que
raramente são vistas entre os homens naturais, como dar o corpo para ser queimado ou oferecer dinheiro
aos pobres. Que obras impressionantes! Onde encontramos algo deste tipo na história da humanidade?
Mas, o grande apóstolo admoesta-nos que mesmo obras tão espantosas como estas podem ser
consideradas nada aos olhos de Deus se não vierem acompanhadas de amor. O verdadeiro amor é a
virtude que qualifica todas as demais. Sem ele as demais não podem ser consideradas como tais por
estarem destituídas de excelência. Aqui ele começa a falar sobre algo que vamos retomar mais tarde: a
natureza da verdadeira virtude. O que faz uma boa obra ser boa?

A Virtude do Amor e a Obra do Espírito Santo


O amor é inevitável na vida daquele que recebeu o Espírito Santo: “O Espírito de Deus é um Espírito de
amor, e quando Aquele entra na alma, o amor entra também com ele”.[14] É impensável alguém se dizer
habitado pelo Espírito de Deus e não amar. Que consequencias esta pneumatologia tem para uma igreja
que julga que os dons espetaculares são o grande sinal da chegada de um avivamento sobre uma
congregação? Edwards diria: “Se o espírito que está trabalhando entre os homens opera como um espírito
de amor a Deus e aos homens, este é um sinal seguro de que é o Espírito de Deus”.[15]Veja que outra
afirmação comovente:
O espírito que incita a amar..., e faz os atributos de Deus conforme revelados no evangelho, e manifesta
em Cristo objetos deleitáveis de contemplação; e faz a alma desejar Deus e Cristo e buscar sua presença e
comunhão, conhecendo a eles, e em conformidade com eles, e viver tanto para agradá-lo quanto para
honrá-lo; o espírito que apaga contendas entre os homens, e dá o espírito de paz e boa vontade, e incita
atos exteriores de bondade, e anseio pela salvação das almas, e causa deleite naqueles que parecem ser
filhos de Deus, e seguidores de Cristo; eu digo, que quando o espírito opera desta maneira entre as
pessoas, há a mais alta espécie de evidência da influência de um verdadeiro e divino espírito.[16]

Por causa da doutrina do Espírito Santo ele é levado a afirmar que todo verdadeiro amor cristão é um e o
mesmo em seu princípio. Ou seja, tudo emerge de uma mesma operação que qualifica as mais variadas
expressões deste amor como também garante o surgimento das mesmas de forma harmoniosa, já que a
origem de todas é uma só: o Espírito de Deus.
Ele (o amor cristão) pode ser variado nas suas formas e objetos, e pode ser exercido tanto perante Deus
quanto os homens, mas é o mesmo princípio no coração que é o fundamento de todo exercício de um
verdadeiro amor cristão, quaisquer que possam ser seus objetos. [17]

Isto nos leva à consideração do fato que o verdadeiro crente tem simetria em seu caráter. Ele não é uma
monstruosidade, um ser disforme e desproporcional. As virtudes cristãs, por terem uma única origem, se
manifestam harmoniosamente pela operação daquele que implanta um princípio novo na alma. Este
princípio vem a ser a fonte de toda a beleza da vida espiritual de um crente regenerado.

O Verdadeiro Amor é Universal


Edwards apresenta um outro motivo pelo qual este princípio de amor implantado levará o que o possui a
manifestar em sua vida as mais diferentes expressões deste mesmo amor: “O amor por Deus inclinará um
homem a honrá-lo, cultuá-lo e adorá-lo, e de coração reconhecer sua grandeza, glória e domínio. E isto o
inclinará para todos os atos de obediência a Deus”.[18] O que o grande pregador americano está dizendo
é que não se ama verdadeiramente quando se ama pela metade.
Conforme já vimos este amor é o grande qualificador de tudo o que fazemos. É o que dá beleza aos
nossos gestos. O que nos distingue do homem natural: “Se não há amor, nada que é feito pode ser feito
espontânea e livremente, mas tudo tem que ser forçado”.[19] A verdadeira espiritualidade, portanto, é
marcada por um senso de inevitabilidade. O salvo acaba não encontrando mais uma outra maneira de
viver. Algo o impulsiona na direção da santidade. Os mandamentos não lhes são mais penosos. Ele é
levado a exclamar: “Oh! Quanto amo a sua lei”. Agora entendemos por que as Escrituras resumem tudo
ao amor. Quem ama manifesta obediência integral.

Amor Cristão é o que Distingue a Fé Salvadora da Fé Especulativa


O amor é o que distingue a fé especulativa da fé prática e salvadora. O que é a fé especulativa?
A fé especulativa consiste apenas no assentimento do entendimento., mas na fé salvadora salvadora há
também o consentimento do coração; e a fé que é apenas a da especie anterior, não é melhor do que a dos
demônios, pois eles tem fé até onde pode existir sem amor, acreditando enquanto tremem.[20]

Grandes referências de espiritualidade são quebradas neste ponto. Há pessoas que estão satisfeitas por
terem alcançado o nível dos demônios. Sua fé as faz tremer, mas não as faz amar. Estas conhecem
teologia, mas não conhecem a Deus. Uma igreja confessional deve dar atenção a este fato. Por que?
Obviamente não sou contra as confições de fé. Julgo-as bastante necessárias. Elas nos ajudam a separar o
essencial do secundário, saber quem é quem na Babel teológica dos dias atuais, facilitam a edificação,
entre tantos outros benefícios mais. O perigo é que muitas destas igrejas se dão por satisfeitas quando
seus membros são capazes de subscrever estas confissões, vindo assim a considerá-los salvos. Mas, para
Edwards, conforme vimos, há uma diferença abissal entre conhecer teologia e conhecer a Deus, entre ter
uma fé especulativa e uma que atua pelo amor.

A Virtude do Amor e a Percepção da Beleza de Deus no Evangelho


Na mensagem introdutória de Charity and Its Fruits, já na parte da aplicação do sermão, ele destaca o fato
de que a própria mensagem do evangelho nos incita amar: “A obra da redenção a qual o evangelho faz
conhecida, acima de todas as coisas dispõe motivos para amar; pois aquela obra foi a mais gloriosa e
maravilhosa exibição de amor que jamais foi vista ou ouvida”.[21] Mais uma vez o amor é apresentado
como inevitável. Agora por causa da mensagem do evangelho. Quem é levado a conhecer o conteúdo das
boas novas inevitavelmente se transforma num amante. Este evangelho nos fala do amor do Pai pelo Filho
e da pronta obediência do Filho ao Pai. Que maravilhosa revelação de amor temos no evangelho. Tanto o
amor de Deus por nós quanto do amor que há entre as pessoas da Trindade. O Pai revela o seu amor ao
entregar uma povo ao Filho a fim de que este desse a vida por ele. O Filho revela o seu amor tanto pelo
Pai quanto pela igreja. O amor pelo Pai é revelado na vida do Filho através da ampla obediência que foi
consumada na cruz, fruto da decisão de fazer do cumprimento da vontade do Pai a comida da vida:
“Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua
obra”.[22] Já o amor pela igreja foi revelado de modo tão glorioso que um dos apóstolos foi levado a
dizer: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos, logo todos
morreram”.[23] Para Edwards, certas afeições aparecem necessariamente na vida de quem conheceu com
a mente e o coração a mensagem do evangelho

Deus: A Fonte do Amor


O amor é chave para entendermos a vida. Existimos porque Deus é amor. Sendo Ele bem-aventurança
eterna em si mesmo por que haveria de nos criar, a não ser pelo fato de deste seu transbordamento de
felicidade ele decidir criar seres que compartilhem deste mesmo gozo? Como diz John Gerstner:
Se Deus fosse infinito sem ser bom, talves Ele pudesse não ser feliz. Se Ele fosse bom sem ser infinito,
quase certamente Ele não poderia ser feliz. Mas a bem-aventurança de Deus é que Ele é o que que quer
ser. Ele é infinitamente santo e santamente infinito. [24]

Nesta mesma obra John Gerstner menciona o ponto de vista de Edwards sobre este assunto majestoso:
Edwards argumenta que se Deus se deleita em contemplar a beleza, Ele deve ser infinitamente feliz
porque Ele contempla a si mesmo. Ele é de fato a fonte de toda a felicidade. Embora a maneira da
felicidade de Deus seja essencialmente incompreensivel, a Bïblia indica que ela consiste em amor. A
Trindade tem um eterno prazer em cada outro.[25]

Para Edwards quem conhece a beleza deste Deus pela obra de iluminação do Espírito no coração é levado
a viver uma profunda experiência de amor. O amor para o crente tem como ponto de referência a
experiência eterna das pessoas da Trindade. O crente não vê o amor em termos de meras reações
químicas. Ou tão somente manifestação instintivas que a raça humana tratou de embelezar chamando de
moralmente formosas enquanto nada mais são do que respostas inevitáveis à vida de um ser que precisa
preservar sua espécie para sobreviver. Não, o crente vê o amor como algo eterno, originado em um Deus
que criou os homens à sua imagem e sememlhança. O amor trata-se de algo intrínseco à vida. O Criador
tem amado por toda a eternidade. Como muito bem declara Francis Schaeffer:
Uma das coisas que sabemos sobre a Trindade é que Ela existia antes da criação de todo o resto e que
havia amor entre as pessoas da Trindade antes da fundação do mundo. Assim sendo, a existência do amor
como o conhecemos não tem sua origem no acaso, porém sua origem está naquele que sempre
existiu.[26]

II- A NATUREZA DO VERDADEIRO AMOR.

O Surgimento de um Livro Chave Sobre Filosofia Moral


Após sua saída de Northampton Edwards foi para Stockbridge trabalhar numa igreja pequena composta
por índios e brancos. Foi nesta cidade que ele escreveu o livro entitulado The Nature of True Virtue (A
Natureza da Verdadeira Virtude). Neste livro ele lida com a seguinte questão: “Qual o fim principal do
homem?”. Sua resposta foi a seguinte, “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para
sempre”. O historiador Walker diz que este livro contribuiu poderosamente para o início do movimento
missionário da Nova Inglaterra. Trata-se de um pequeno livro que exerceu enorme influência sobre a vida
de muitos como, por exemplo, Richard Niebuhr que considera este livro o quarto numa lista de dez livros
que de modo definitivo deram forma à sua vocação.[27]
Neste livro em conexão a apresentação do grande propósito para o qual o homem foi criado, Edwards
trata de estabelecer uma diferenciação entre a natureza da verdadeira virtude e a falsa. Esta é uma questão
fundamental. Isto porque claramente a fé cristã não se preocupa somente com exterioridades, mas
sobretudo com a motivação. Certas obras que para nós são consideradas “boas” são aos olhos de Deus
vícios esplêndidos. Há pecados que claramente se manifestam aos nossos olhos, enquanto há outros que
só aquele cujos olhos são como chama de fogo que a tudo perscrutam pode discernir. Os fariseus eram
tidos em alta estima pelo povo de Israel, contudo eram detestáveis para Cristo:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!porque limpasi o exterior do copo e do prato, mas estes por
dentro estão cheios de rapina e intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo, para que
também o seu exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque sois semelhantes aos
sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos mortos, e de
tôda imundícia. Aasim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais
cheios de hipocrisia e de iniquidade.[28]

Saber quais motivações caracterizam a verdeira virtude é uma exigência que a Palavra de Deus nos
impõe. Lutero no seu famoso comentário aos Gálatas fala sobre a diferença da obra do “demônio preto”
para a obra do “demônio branco” indicando porque o segundo é pior do que o primeiro:
Este demônio branco, o qual força os homens a cometer pecados espirituais que eles podem vender por
justiça, é muito mais perigoso do que o demônio preto o qual os força a cometer apenas pecados carnais,
os quais o mundo reconhece como pecados.[29]

Muitas vezes por trás das nossas melhores obras encontra-se um coração que está a barganhar com Deus e
em busca dos aplausos do homem. Dissecar este coração pecador não é tarefa fácil. Podemos mascarar de
tal modo nossas reais motivações que ficamos completamente alheios ao que pode estar de fato nos
motivando a fazer o que fazemos. Qual a natureza do verdadeiro amor sem o qual nossas melhores obras
são pecado aos olhos de Deus?

A Beleza Moral
Edwards aborda o tema da natureza da verdadeira virtude à partir do conceito de beleza. Para ele a virtude
é a beleza daquelas qualidades e atos da mente que são de natureza moral.[30] A fonte da virtude é o
coração. Assim perguntar qual a natureza da verdadeira virtude é o mesmo que inquirir qual o hábito,
disposição ou exercício do coração é verdadeiramente bonito?[31] Tudo para Edwards tem seu ponto de
partida numa das perspectivas pelas quais podemos ver a questão da verdadeira virtude: a perspectiva da
beleza. Que ação moral do homem pode ser considerada bela aos olhos de Deus? Neste sentido penso que
não precisamos gastar muito tempo para provar que fazer o bem para a glória de Deus é algo diferente de
fazer o bem para nos promovermos.

A Beleza Moral Geral e Particular


O grande teólogo de Northampton estabelece uma diferenciação entre uma beleza moral geral e uma
particular. Por beleza particular Edwards entende aquela pela qual a coisa aparece bela quando
considerada apenas em relação com alguma coisa particular, dentro de uma esfera privada. Quando fala
sobre uma beleza geral ele fala daquela pelas quais as coisas aparecem belas quando vistas mais
perfeitamente, compreensivamente e universalmente, com respeito a todas as suas tendências, e suas
conexões com todas as coisas que com ela se mantém relacionadas. Ele ressalta que você pode ter o
primeiro sem o último como também contra este.
Como exemplo ele fala que umas poucas notas num certo tom, tomadas apenas por si mesmas, e em sua
relação com uma outra, podem ser harmoniosas; as quais, porém, quando consideradas com respeito a
todas as notas no tom, ou a inteira série de sons com as quais estão conectadas, podem ser bem
discordantes. Não vejo exemplo maior para o que está sendo falado do que a experiência de certos pais
que são capazes de amar seus filhos e quase nada mais. E as vezes em nome deste mesmo amor são
capazes de emitir um nota absolutamente discordante. Sabemos que o patriotismo de uma certa forma é
bom, mas o que dizer de governantes que por amor à pátria destróem outras nações? Edwards diria que
este amor particular não tem beleza e não faz parte da natureza da verdadeira virtude. A verdadeira
virtude tem a ver com a vida como um todo. Aquilo que Edwards tanto chamou de o Ser em geral (Deus
como a origem de todo o ser e a Sua criação):
A verdadeira virtude mais essencialmente consiste em benevolência para o Ser em geral. Ou talvez, para
falar mais acuradamente, ela é aquele consentimento, propensão e união do coração com o Ser em geral,
que é imediatamente exercitada numa boa vontade geral.[32]

Sem argumento é devastador e nele dá para encaixar a espiritualidade de Francisco de Assis no seu amor
pela natureza, a de um teólogo liberal na sua preocupação com a ação social, de um pregador pentecostal
em seu amor pelos perdidos e de um místico em seu amor por Deus:
Se todo ser inteligente está de algum modo relacionado com o Ser em geral, e é uma parte do sistema
universal de existência; e permanece em conexão com o todo; o que pode ser sua geral e verdadeira
beleza, senão sua união e consentimento com o grande todo?[33]

Amor Benevolente e Amor Complascente


Na teontologia de Edwards como também na sua ética a diferenciação entre estas espécies de amor ocupa
lugar de grande importância. Quanto a Deus Edwards tem a dizer que num certo sentido Deus ama a
todos e num certo sentido não ama a todos. O que ele quer dizer com isto? Ele quer dizer que Deus no seu
amor benevolente, que o leva a tratar todas as criaturas com bondade, independentemente de sua
excelência moral, ama a todos. Mas, quando este mesmo amor é visto através da perspectiva da
excelência moral das suas criaturas racionais ele não ama todos, porque no seu amor complascente Deus
somente ama aqueles nos quais pode se deleitar por estes serem possuídores das excelências morais do
seu Criador.
Edwards vai aplicar esta mesma distinção na sua ética. Ele diz que o amor benevolente pode nos leva a
tratar bondosamente alguém que não seja possuidor de beleza moral alguma. Benevolência não pressupõe
beleza no seu objeto. O que comumente é chamado de amor complascente, diz Edwards, pressupõe
beleza, porque ele não é outra coisa senão deleite na beleza. Complascência é o ser ou a pessoa ser amado
pela sua beleza. Este é o ponto em questão: a natureza do verdadeiro amor tem como base a excelência
moral daquele que é amado, ou o que o verdadeiro amor considera é tão somente a existência do ser?
Edwards responde da seguinte forma:
O primeiro objeto do amor virutoso é o Ser, simplesmente considerado; ou a verdadeira virtude
primariamente consiste, não em amor por quaisquer seres particulares, por causa da virtude deles ou
beleza, nem em gratidão, porque eles nos amam; mas numa propensão e união do coração ao ser
simplesmente considerado.[34]

Este amor pelo Ser em geral tem uma consequencia prática bastante séria. Como o verdadeiro amor tem
relação com o Ser em geral, deve-se procurar o bem de todo ser individual a não ser que seja concebido
como algo que não é consistente com o mais alto bem do Ser em geral. Se algum ser particular se opõe ao
Ser em geral, o consentimento e a aderência ao Ser em geral deverá induzir ao verdadeiro coração
virtuoso a fazer oposição a ele.[35] Pense nas consequencias deste conceito de amor para o exercício da
disciplina na igreja como também na aplicação da justiça por parte do estado. Será que aqui não
começamos a adentrar no porque da realidade de punição eterna? O conceito de amor de Jonathan
Edwards não era romântico.
O ponto acima está bastante claro. Amar não é gostar. Nem todos aqueles que possuem o verdadeiro amor
tem prazer no objeto do mesmo. Mas, o que dizer quando nos deparamos com aquele que se tornou mais
fácil de ser amado? Edwards não nega esta dimensão do verdadeiro amor. O amor que vem acompanhado
de deleite. Qual a causa deste objeto do amor ser amável?
Quando qualquer sob a influência da benevolência geral vê outro ser possuidor de benevolência da
mesma espécie de benevolência geral, isto vincula seu coração ao dele, e produz um amor maior por ele,
do que simplesmente por ele existir.[36]

Para Edwards esta excelência que o que é amado possui, além de torná-lo amável torna-o digno de ser
objeto de maior amor benevolente. Óbviamente, neste sentido, penso que Edwards diria que o verdadeiro
crente em especial deveria ser objeto desta benevolência mais do que ninguém. Por ele amar o Ser em
geral deve ser mais amado também.

CONCLUSÃO
Quais as conseqüencias práticas do conceito de amor de Jonathan Edwards? Primeiro, ficamos diante da
advertência que não há salvação sem amor. A salvação embora seja gratuita justamente pelo seu caráter
imerecido produz amor em quem de fato a experimentou. Quem não ama revela não ter conhecido o amor
Deus que está em Cristo. Uma igreja que desaprendeu a amar deve atentar para esta advertência e não
basear sua segurança de salvação numa fé incapaz de atuar pelo amor.
Em segundo lugar, precisamos resgatar o sentido mais profundo das expressões práticas do verdadeiro
amor. Este amor é universal. Amplo no seu alcance e nas suas manifestações. Abrange a criação como um
todo e expressa-se nas suas formas multi-variadas. Relaciona-se aos pássaros, árvores, mares, estrelas,
seres racionais e o Ser em geral. E assume a forma de benignidade, misericórdia, fidelidade, mansidão,
doçura, graça, benevolência e complascência. Por este amor relacionar-se não exclusivamente ao ser em
particular, mas ao Ser em geral isto nos levará a em nome deste mesmo amor nos opormos ao que não
amam ao Ser em geral e amarmos em especial os que amam o Ser em geral. O mundo deve ser objeto do
amor do crente, mas a igreja muito mais.
Em em terceiro e último lugar, todos deveríamos com santo temor meditar sobre a excêlencia deste que é
o fundamento do amor, o Deus Trino. Amamos a todos por amor a Ele. A Sua santa e insondável
experiência eterna de amor constitui-se na base do nosso amor. A filosofia moral cristã desconhece a
presença de virtude numa espécie de amor que não leve Deus em consideração. Gostaria de concluir com
Jonathan Edwards:
A primeira base das afeições graciosas é a natureza amável e transcendentemente excelente da natureza
divina das coisas conforme elas são por em si mesmas; e não em qualquer relação concebida que elas
carregam para o eu, ou o auto-interesse.[37]

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