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O autor
A OPERAÇÃO CASSANGE
(...)
OPERAÇÕES DA 4a CCE
"(.-.) Dei ordem de fogo às duas metralhadoras e à bazuca, que já havia mandado
preparar com uma granada explosiva. O tiroteio foi infernal, ouvindo-se tiros por todos
os lados, mesmo dos homens do pelotão que se encontravam a proteger o flanco. As
primeiras linhas dos revoltosos começaram a cair, sempre cantando e dizendo "agora
podemos abrir fogo" e ouviram-se alguns tiros. A bazuca abriu no meio deles uma
grande clareira e, sob continuação da intensa metralha, o grupo foi caindo sempre a
cantar, verificando-se já algumas tentativas de fuga. Ordenei alto ao fogo, sendo
necessário gritar e apitar intensamente, no que fui ajudado pelo senhor alferes
Condesso, que se encontrava ao meu lado. Após tudo serenado, verifiquei que os
homens se encontravam lívidos e que alguns haviam até disparado para o ar, sendo
necessário andar a acalmá-los e a encorajá-los. O balanço total das baixas foi de um
morto e quatro feridos no nosso pessoal e de 71 mortos e 41 feridos entre os indígenas
revoltados (...)". (cf. relatório de 6 de Fevereiro do comando da companhia) A
companhia dirigiu-se depois para Cunda-Ria-Baza de onde partiu para patrulhamentos a
várias sanzalas amotinadas.
"(...) Esta sanzala, a primeira da região baixa, mostrava-se mais hostil, como aliás todas
as outras que iríamos encontrar. Nela fomos recebidos com cânticos, mas bastaram
umas granadas de mão ofensivas e umas coronhadas para a desarmar, Não se
verificaram incidentes graves.
Exigi a apresentação, no dia seguinte, do respectivo soba, também nesta região (...)".
(cf. relatório de 7 de Fevereiro do comando da companhia) "(...) Como esta sanzala se
encontrava ainda bastante afastada da estrada e como a noite se aproximava
rapidamente e se ouviam nela igualmente os mesmos cânticos, ordenei um tiro de
bazuca com granada explosiva para perto, ao mesmo tempo que pedia ao avião outra
demonstração de força. Depois de uma rajada de metralhadora executada pelo avião e
terem parado os cânticos, prossegui viagem. Não houve qualquer ferido. (...)". (idem)
Nesta situação, estas populações estão condenadas a morrer à fome dentro em breve
(...)". (idem) No dia 8, ocorreu o que podia ter sido um verdadeiro massacre, quando a
4a CCE foi ameaçada por uma gigantesca concentração de nativos, mas a amotinação
foi esvaziada com apenas baixas ligeiras. Por representar o modo de actuação das forças
em operações na Baixa do Cassange transcreve-se na íntegra o relatório do capitão
Morais elaborado a meio dos acontecimentos: "(...) A cerca de 300 metros da sanzala
levantou-se um enorme alarido para os lados da sanzala, que se transformou em coro de
cânticos à Maria.
Ordenei que os pelotões formassem em linha e continuei o avanço com o capim pela
cintura e em terreno alagado. A cerca de 100 metros mandei parar o avanço, porque,
agora com o campo de observação desimpedido do capim, verifiquei que junto à casa do
soba estavam reunidos cerca de 10.000 indígenas, homens, mulheres e crianças,
encontrando-se os homens armados. Com a ajuda do intérprete, senhor Frade, que me
acompanhava, soube que estavam a fazer uma jura de guerra perante o soba e se
preparavam para nos atacar.
Ordenei a um sargento que voltasse atrás e que num jeepão viesse pedir reforços de
mais um pelotão e a secção de morteiros. Entretanto, o intérprete procurava parlamentar
com o soba, mas quem lhe respondia, à frente do bando, era o feiticeiro.
Chegados à entrada da sanzala, o senhor Frade, que se encontrava a meu lado, subiu a
um poste e chamou novamente o soba a fim de parlamentar, mas o feiticeiro interpunha-
se sempre. Então o senhor Frade pediu uma das nossas espingardas e, apontando
cuidadosamente, abateu o feiticeiro. Imediatamente outro indígena o substituiu, que vim
mais tarde a saber ser o filho do soba, futuro substituto do pai. Outro guia, que também
me acompanhava, senhor Leonel, pediu uma espingarda a um soldado, apontou com
cuidado e abateu esse indígena com um tiro numa coxa.
Os cânticos redobraram e mandei então fazer um tiro de bazuca para a frente do grupo,
mas as três granadas não funcionaram, pelo que desisti. Pegando eu próprio numa
metralhadora ligeira, de um cabo que se encontrava a meu lado, em posição de tiro e
marchando, executei uma rajada por cima do grupo. Começaram a dizer que as nossas
armas "só deitavam água", o que me levou a concluir que água para eles é "nada".
Acabei por despejar esse carregador com tiros para o tecto da casa do soba.
Levantaram-se gritos que traduzidos pelo intérprete diziam que iam atacar. Metendo
novo carregador na metralhadora, fiz fogo directo sobre o grupo dispersando-se o
mesmo aos gritos. Uma nuvem de indígenas armados fugiu na direcção de este e o
grupo mais pequeno na direcção do norte. Tendo mandado avançar os dois pelotões em
linha, revistando as palhotas, aproximei-me do centro da sanzala. Verifiquei então que
cerca de 300 mulheres, muitas crianças e velhos se encontravam reunidos por detrás da
casa do soba, acompanhados por uns 100 homens que não tiveram tempo de fugir,
quase todos eles armados.
Comigo seguiram os sobas e sobetas amarrados. O balanço das baixas foi de 4 mortos e
4 feridos. Mandei tratar dos feridos e fazer comida para o pessoal aprisionado. Tendo
falado aos prisioneiros, por intermédio do intérprete, concordaram que haviam sido
enganados e que os culpados tinham sido os maholos. Fiz seguir vários emissários para
as sanzalas dos sobas principais da região, ordenando-lhes a sua presença imediata e
entrega das armas levando como amostra um cartucho completo de espingarda, dizendo-
lhes que a Maria não transformava aquele ferro em água.
Informaram que a situação por aquelas bandas era insustentável. A tropa seguiu para
Marimba e, perante as atitudes usuais por parte dos amotinados, foram disparados
alguns tiros de metralhadora, o que os obrigou a dispersar. Ao aproximarem-se do rio
sucedeu que a sanzala que domina a margem, até então desabitada, encheu-se de uma
multidão que, entrincheirada na paliçada de canas que a rodeava, a desafiou esgrimindo
trabucos e catanas. Naquela direcção foram disparadas algumas rajadas de uma
metralhadora pesada, enquanto um morteiro ligeiro de 60 executava tiros para as suas
imediações. Não houve vítimas e, pouco depois, tudo recaía na calma, enquanto
prosseguia a construção de uma jangada.
No dia 17, já a companhia atingira Tembo Aluma, onde as sanzalas estavam desabitadas
e o edifício da administração arrombado e saqueado. Perseguindo o bando, as tropas
aproximaram-se da fronteira e na região das Quedas Guilherme, ao chegarem perto de
uma sanzala, depararam com um grande grupo de nativos armados. Foram aconselhados
a entregarem-se, explicando-se-lhes que seriam bem recebidos. Perante a recusa foi
disparada uma granada de bazuca sobre uma palhota próxima que, com surpresa,
explodiu violentamente. Era um esconderijo de pólvora, armas e munições que,
incendiando as outras palhotas, provocou a debandada do grupo. A 4- CCE ao atingir
Tembo Aluma cumprira a sua missão.
Á medida que ia resolvendo a agitação que se lhe deparava, da forma que se descreveu,
verificava-se que os povos mais pacíficos voltavam à sua vida normal e a região podia
considerar-se pacificada. Só os maholos não se aproximavam e fugiam para o Congo
sem voltarem a criar problemas. Os agitadores falharam os seus propósitos e a 4a CCE
havia conseguido o que à partida parecia impossível - pacificar a região em 12 dias.
Espalhou depois os seus pelotões pelas povoações da área onde estivera em operações
aguardando o evoluir da situação, enquanto executava patrulhamentos e fazia acção
psico-social sobre as populações nativas, impondo aos sobas a obrigação de entregar os
agitadores e os feiticeiros. No dia 17 de Fevereiro o major Rebocho Vaz elaborou para o
Comando Militar de Angola a seguinte apreciação (Plano de Operações nº 3 - Operação
Cassange):
É de realçar a ajuda prestada por civis, utilizados como pisteiros e conselheiros nas
relações com os indígenas, em especial a do sr. Frade, de Malange. Actualmente julga-
se que ainda é necessário manter, por um período razoável, uma ocupação na zona
pacificada com a finalidade de mostrar aos indígenas que as Forças Armadas estão
atentas e dar aos europeus a confiança necessária para retomarem as suas actividades
comerciais. Também servirá para mostrar aos povos gingas que o Estado está pronto a
protegê-los contra a influência perniciosa dos maholos que, antes da pacificação,
chegou a atingir graves aspectos (obrigaram alguns sobas gingas a aderir).
OPERAÇÕES DA 3a CCE
Faltava agora percorrer a faixa a leste de Milando, ou seja, o sector a norte da linha
Cassange-Iongo-Cuango até Luremo e Catxinga. Uma vez que se previa que a 5a CCE
demoraria pouco tempo a chegar a Malange, o mesmo documento operacional
expressava que ela deveria ir efectuar a segurança de Malange e libertar a 3a CCE para
operar naquela região.
A 3a CCE não estivera até então completamente inactiva. Por se preverem alterações da
ordem na região de Cuango, o administrador de Canhungula solicitou ao destacamento
de Camaxilo (norte da Lunda) que ali se deslocasse uma patrulha. No dia 9 de
Fevereiro, durante o deslocamento e já próximo de Cuango, a força deparou com cerca
de 300 a 400 nativos amotinados que haviam cortado a estrada e várias pontes. Tendo
sido intimados a reparar imediatamente os estragos, pois as pontes eram necessárias
para a passagem das viaturas, recusaram sempre com o mesmo argumento de Maria,
deram sinais de querer iniciar um ataque e dispararam um tiro apontando ao
administrador.
No alvoroço que se gerou, as tropas dispararam primeiro para o ar e fizeram, depois, tiro
ajustado e intencional, resultando a morte de 8 amotinados e muitos feridos, num total
de 50 baixas. No dia 11, chegaram ao Cuango notícias de que as populações já haviam
iniciado a reparação da estrada e das pontes e, no dia 12, todas elas estavam já
reconstruídas, como o administrador confirmou. Uma informação posterior da
Autoridade Administrativa referia também que, depois do sucedido em Cuango, os
nativos de Luremo, com algumas excepções na fronteira, apareceram todos a fazer as
suas lavras. Na zona de acção desta companhia tudo se passava igualmente da forma
habitual - a pacificação era rápida mas só ocorria depois de os revoltosos sentirem na
pele o efeito das balas das forças portuguesas.
"(...) Operação 'Limão' (região de Cuango): deparei com 200 indígenas sentados no
chão em atitude de oração, com o soba maior e sobetas. Não se mexeram; mandei
chamar o soba maior e os sobetas, os quais vieram logo. Disse-lhes para entregarem
todas as armas, o que fizeram a seguir: 130 catanas, 74 azagaias, 19 espingardas e
alguns punhais (...).
Tudo se transformou numa alegre reunião de brancos e pretos, numa verdadeira e franca
confraternização. Não houve um único tiro disparado. Expliquei-lhes também que
deviam recomeçar o trabalho do algodão, o que prometeram fazer imediatamente. (...)".
screve: "(...) Marimba: 1 pelotão com secções destacadas em Forte República e Tembo
Aluma. longa: 1 pelotão com secções destacadas em Milando e Xamuteba.
AS BAIXAS
Deve ter-se, contudo, em atenção que as armas gentílicas podiam ser tão mortíferas
como qualquer outra e que centenas de amotinados, armados apenas com canhangulos e
catanas, podiam causar muitas baixas entre os militares. Poderá, no entanto, ter havido
excessos provocados pelo nervosismo em que as tropas estavam a operar e pelas
condições absolutamente novas em que as operações decorriam. Foi na Baixa do
Cassange que o Exército Português disparou pela primeira vez, em situação real, desde
a I Guerra Mundial.