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O QUE PODE O

PENSAMENTO?

LUIZ FUGANTI
Título:
O que pode o pensamento?

Autor:
Luiz Fuganti

Foto:
Bruno Bernardi

Editor:
Clarice Lima

Atendimento ao leitor:
fuganti@escolanomade.org

Site:
www.luizfuganti.com

Copyright © 2018 Todos os direitos reservados

Escola Nômade de Filosofia


SOBRE O AUTOR |
Eu, que saí de casa muito jovem, impulsionado pela sede de viver, fugindo
de um meio tão pobre intelectualmente que, acredite, nem sequer um livro ou
mesmo um gibi tinha em casa, fui ler meu primeiro livro de filosofia já na
faculdade quando um amigo me indicou Deleuze aos 20 anos.

Eu não conseguia compreender uma linha com a consciência, mas algo de


tão provocativo e perturbador se passava comigo que me impedia de
abandonar aquela leitura.

Passava dias debruçado sobre as primeiras páginas do livro.

Relia e relia para tentar me apropriar de cada enunciado como se estivesse


garimpando pensamentos como pedras preciosas.

E ia me esforçando ao máximo para que eles se tornassem em mim


acontecimentos vivos, isto é, sentia que idéias dessa natureza podiam ser
também forças de mudar o destino.

Queria produzir em mim um novo corpo e revolucionar a maneira de pensar.


Para isso precisei não apenas me debruçar sobre os livros, mas também
fazer longos e solitários passeios pelas praias na época desertas de
Florianópolis.

Mas qual o motivo de eu estar contando isso a você? É apenas para ilustrar
o quanto é difícil iniciar um processo e se por fazendo, criando realidade.

Para mim sempre foi difícil e continua sendo. Não é tranquilamente que atinjo
a concentração suficiente para ler Nietzsche e fruir da leitura.

Esse tipo de leitura não é como ler jornal, ver notícias ou rolar o feed das
redes sociais. É preciso ser uma vaca e saber ruminar, como diz Nietzsche
inclusive. Para ninguém o pensamento sem obstruções é algo dado ou fácil.

Para ultrapassar as dificuldades é preciso persistência, mas também é


importante saber desde o início que é um caminho sem ponto de chegada, é
uma via que não tem limite, não tem parada.

Existem muitos oásis no percurso, mas é preciso ter gosto pelo


desconhecido e vontade de penetrar em zonas até então impensáveis.

E para isso é preciso começar! Nem que vc precise de tanto tempo quanto
eu, de tantas semanas relendo o início de um mesmo capítulo, que seja! O
importante é se por fazendo e insistir.

Forte Abraço,
Luiz Fuganti
O que pode o pensamento? |

Você já se perguntou o que pode o pensamento?


A potência do pensamento é algo ainda tão pouco explorado pelo homem -
apesar de todo esse fenômeno humano sobre o planeta Terra, esse
desenvolvimento tecnológico, científico.

Mas se a gente pensar direito, pensar bem, isso é tão pouco explorado
quanto aquilo que já dizia Spinoza, provocando a gente: nós nem sequer
sabemos o que pode um corpo. Quando Spinoza dizia assim: "a gente
tagarela sobre a consciência e as virtudes da consciência, e tudo que a
consciência pode, mas nem sequer a gente sabe o que pode o corpo".

Na verdade, também, a gente sabe muito pouco do que pode o pensamento.


Mas, de novo, isso nos coloca a questão: como vamos saber disso? Só
podemos saber disso nos pondo a pensar. E, nos pondo a pensar, nós
encontramos, por um lado, uma dificuldade de entender, de apreender o que
pensa em nós, o que nos faz pensar.

Será simplesmente a busca da verdade?


Será simplesmente uma vontade, um livre arbítrio, um gosto, um desejo?
Ou, muitas vezes, nós somos simplesmente coagidos, obrigados, forçados a
pensar?
Por quê?
Por que que nós, de alguma maneira, nos colocamos suspensos diante do
acaso e do destino e nos questionamos, problematizamos?

Que força é essa que emerge em nós e que problematiza a existência diante
de nós mesmos? Como se um testemunho da nossa vida se apresentasse
na forma de um deus problematizador em nós.

Que vontade é essa de problematizar?


Daonde vem essa necessidade de apreender as realidades, as forças que
nos atravessam e a maneira pela qual nos atravessam, nos tocam, nos
afetam, e da qual fruímos e nos tornamos capazes de recolocar o problema
da existência, nos tornamos capazes de nos tornar seres criadores das
próprias condições da nossa existência? Será que não mora aí a questão do
que nos faz pensar e ao mesmo tempo o que poderia o pensamento?

O pensamento, ele busca a verdade?


Será a verdade a questão mais importante do pensamento? Não será, na
verdade, o que o pensamento pode?

Qual é a potência do pensamento?


O que pode o pensamento?

Será que a questão da saúde, a questão da potência, a questão do


crescimento, a questão de um corpo intenso e ativo, não são os motes e os
motores mais fundamentais e profundos do pensamento, do que a mera
busca superficial por uma verdade?
E aí nós percebemos o quê? Nós percebemos que, ao mesmo tempo, essa
potência do pensamento, ela tem uma espécie de paixão, o paradoxo do
pensamento ou a paixão do pensamento, uma espécie de contrassenso que
se apresenta, que nos impede de pensar ou que nos inviabiliza ou que
dificulta, que nos cria problema.

Qual é o problema maior para o pensamento?


A paralisia? A fixação? A acomodação?
O encontro com alguma forma que nos conforme, que nos conforte, que nos
recompense, que nos dê autoridade, que nos empodere?

Será isso? Isso seria, sim, a busca da verdade, mas sentimos que o
problema é mais grave e ao mesmo tempo também mais alegre, mais
interessante. Dá até para a gente se divertir muito mais com o pensamento,
porque o que obsta o pensamento implica também o desenvolvimento ou a
presença de uma força ativa em nós. Nós precisamos desenvolver essa
força ativa, uma força ativa que é capaz de tornar as nossas superfícies de
relação, as nossas relações lisas, as nossas relações fluidas, sem pré-
conceito, pré-figuração, pré-formação ou estados que implicam numa
reapresentação daquilo que vive imediatamente em nós.

Então essa força de resistência que nós desenvolvemos - vimos


desenvolvendo já nessa nossa série - que resiste à coação, que resiste à
sedução, que resiste ao mau uso dos afetos ou daquilo que nos acontece,
que resiste ao uso piedoso das dores, que resiste ao uso complacente dos
prazeres, essa força de resistência é uma força também de criação, é uma
força que bebe na plasticidade da vida, é uma força que bebe diretamente do
acontecimento que é viver.
Então, encontrar esse horizonte como afirmação própria de uma força que se
desenvolve e cresce em nós, na medida mesma que muitas vezes nos
encontramos com supostos alimentos que logo se revelam venenos, que nos
intoxicam, que nos impedem a digestão, que nos impedem inclusive que
expulsemos esses venenos de nós mesmos. E, numa tentativa desesperada,
muitas vezes essa intoxicação toma conta de todo nosso corpo, de toda
nossa alma, de todo nosso desejo e nos tiraniza como uma paixão que nos
impõem de fora: o que devemos fazer, sentir, perceber, pensar e responder
ao mundo.

O que faria frente a isso?

Só é possível fazer frente a isso na medida em que a gente encontra a


dimensão da fonte imediata da realidade e da autonomia, que alimenta a
força de resistência em nós, essa potência também de não se deixar ser
afetado por coações, por seduções ou por mau uso daquilo que nos
acontece.

E essa potência plástica, que também é uma força de esquecimento que


alisa as superfícies, que nos libera das mediações, é toda a necessidade de
saúde e de hierarquia no nosso corpo, sem as quais - sem essa saúde, sem
essa hierarquia - o nosso pensamento não se torna uma potência plena de
criar e de levar o corpo pra uma atividade plena, pra uma potência plena de
sentir, pra uma potência plena de criar.

Enfim, o pensamento pode, mas ao mesmo tempo é necessário que haja


relações entre as nossas próprias forças que nos constituem, de maneira tal
que as forças de criar em nós sejam dominantes em relação às forças de
conservação. Que não nos iludam as forças de conservação, porque a única
nobreza da força de conservação está em conservar a nossa capacidade de
criar.

Tudo que nos chega, que nós digerimos, deve iluminar, deve flamar, deve
incendiar, deve fazer acontecer a nossa vida.

Nós somos estrelas que brilham e o combustível dessa nossa estrela são os
acontecimentos da nossa vida. Por isso, devemos não jamais ressentir aquilo
que nos acontece, mas aproveitar e fazer de qualquer acontecimento, mau
ou bom, um combustível, uma matéria de criação, não só de novas
condições de existência, mas de novas maneiras de existir, de novos
mundos e de produção de si mesmo como uma fortaleza livre.

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