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PALACE
Obra teatral quase operística em quatro atos
Texto de Marco Antonio de la Parra
Tradução de Antonio Carlos Brunet
PERSONAGENS
ADMINISTRADOR
ADA
ANA
BOY
EVA
JANE
MANDRAKE
TARZAN
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PRIMEIRO ATO
CENA 1
AS TRES (Cantando)
ADMINISTRADOR - Como?
CENA 2
5
ANA – É ele?
EVA - Quem?
ADA – O tal.
ANA – Juraria que vi passar uma sombra. (Trovões.).
ADA – Sshiiiiiiiitt!
ANA – Não quis falar comigo. Não era a mim, quem procurava.
Disse um nome que não entendi.
ANA – Não era ele quem passou. Era diferente. Este era velho, e o
outro, jovem.
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ANA – Sim.
EVA – Não.
ADMINISTRADOR - Como?
ADMINISTRADOR – De quê?
ADA – De que pode ser que algo ou alguém tenha passado, e nós
não tenhamos nos dado conta.
Cena 3
EVA – Quem mais virá se meter numa cidade como esta? Que faz
um hotel gigantesco, com tantos quartos vazios? De onde saiu
este dinheiro, estes gerentes sorridentes, estas amantes de luxo?
ANA – Quietas!
ADA – Silêncio, Ana.
ANA - Vem?
EVA – O fantasma?
ANA – Não é.
Cena 4
TARZAN – Bom: vocês já me tratam por tu. Entendem por que fui
deposto? Fui mais gracioso que humilhante; mais amável que
cruel; mais divertido que insultante. Faltaram-me com o respeito e
fizeram-se democráticos. Se alguma vez tiverem ânsia de poder,
não vacilem em consultar-me. Conheço todos os erros possíveis.
Tenho os melhores conselhos. Primeiro: não falem jamais com a
criadagem.
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Cena 5
ANA – Escutem-no.
BOY – Pai... pai...
EVA – É um sussurro.
SEGUNDO ATO
Cena 1
TARZAN – Por favor, Jane, pelo menos aqui não te alucines... Não
havia nada além de um par de jornalistas de meia-tigela.
JANE – Tarzi!
TARZAN - Eu?
JANE – Não sei! Não gosto de recordar isso! Além do quê, eu não
lia nem os títulos, até o fim. Acreditava que nos veríamos,
famosos, frente a uma biblioteca, na capa da Time Magazine...
Nunca saímos na capa da Time... Nem da Newsweek... Nem da
People, sequer... Racistas! Ai, negros malditos!... Nem pude trazer
os meus sapatos...
TARZAN – Jane...
Cena 2
Entra a camareira.
ADA - Como?
ADA – Senhora...
TARZAN – Lady, por favor!
JANE – Não. Não sabes fazê-lo! Amanhã falarei com este jovem, e
lhe contarei que tipo de adivinhas tem a seu serviço.
JANE – Corrigir-te-ás?
JANE – Tragicamente!
ADA – Tragicamente.
ADA – Não sei tanto detalhe. Uma bala o trespassa... Sua alma
vaga, sem descanso, desde então.
JANE – Isto soa melhor! Podes ir... (Sai Ada.) Outro Valium... O
sonho!... Nem os bons presságios me acalmam... Nem comprar...
Só uma coroa tiraria esta dor de cabeça, esta insônia, esta tristeza
da alma... Aí vou, sonho, dize-me que não existo: que sou feliz,
que serei rainha para sempre... (Dorme.).
Cena 3
MANDRAKE - Sério?
Cena 4
ANA – Salve!
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EVA – Uma figura que pronunciava o teu nome, senhor, que com
solene andar, caminhava devagar e majestosamente. Eu não
acreditava e as acompanhei, e pude vê-lo. Compreendi as
palavras: pai, pai! Deste então, estas mãos não param de tremer.
EVA – Sim, senhor, mas não nos deu resposta. Quando o sol da
manhã colou-se pelos cristais, pareceu sentir o chamado de
partida, e desvaneceu-se ante nossos olhos.
TARZAN – Sangrava?
EVA – Palidíssimo!
Cena 5
TARZAN - Deveria?
MANDRAKE – Não.
que... Oh, Deus dos homens-gorilas: não existe piedade para mim!
Por isto, sua alma vagueia atrás dos meus passos, e, hoje, há de
me encontrar aqui, desarmado...
TARZAN – E farás renascer seu amor por mim? Farás com que,
de novo, ela me aceite, me considere, me respeite?
Que bem faz sentir-se, outra vez, esperança!... Deus proteja aos
que a perdem!
MANDRAKE – Claro que sim, como não, claro que sim! (À parte.)
Será o caminho da felicidade, por suposto, porém a minha... Que
ele apodreça em sua loucura, que se empanturre em sua tristeza,
que o sucumba sua derrota! Que fique com os seus fantasmas! Eu
terei uma mulher de carne e osso, e uma coroa de verdade... (Sai,
entre a tormenta. Tudo escurece. Antes de sair, encontra-se
com as camareiras, na penumbra.).
Cena 6
ADA – Tão só ter piedade por ti! Tão só ver-te pela última vez os
olhos sãos!
EVA – Não é verdade: já estão contaminados!
Cena 7
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TERCEIRO ATO
Cena 1
Cena 2
JANE - Quem?
MANDRAKE – Teria que lhe pedir - para sermos iguais - que você
não existisse: que seu corpo fosse roído pelos ratos e sua pele
entregue aos cães. Cale sua beleza, e calarás meu desejo...
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Cena 3
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TARZAN – Este edifício tem olhos que vêem o que não deveriam
ver. Devo cuidar-me. Talvez a presença desta camareira tenha
espantado a aparição de Boy... (Trovões. A luz volta a piscar).
fala algo, ou morra de uma vez por todas! (Rompe a chorar.) Boy,
meu filhinho, eu também gostaria de fugir contigo para as savanas:
eram tão lindos aqueles dias. Quem nos separou? Por que não
estive contigo, por que não fui contigo? Eras como eu: selvagem,
rebelde, solto, e eu não te segui. Maldito império! Maldito
império!... Uma só palavra tua, Boy, uma só palavra, e poderei
andar sem cair aos pedaços, respirar sem que me queimem os
brônquios, ser quase humano! Deixa-me pelo menos, saber que
me querias. Tu me sorrias quando criança. Claro é que eu não
soube te compreender. Se existe um Deus que me perdoe: que
fale! Eu te dava presentes, todos os presentes do mundo. Nada
mais que... que... Bom, não haverá castigo suficiente! Ai, eu não
quero te ver nunca mais, não queria dizer nunca mais o teu nome.
Vai-te de mim! Vai-te!... Não, não te vás nunca: sei o que me
espera. Vem, olha como a minha alma sangra. Vem, deixa-me,
pelo menos, sentir como são os fantasmas mais amados, mais
temidos.
BOY – Tu não saberás, tal como eu, o que fazer para te defender.
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Cena 4
JANE – A nós?
JANE - Louco?
JANE – E então?...
JANE – Mas...
JANE - Separada?...
JANE – Viúva!...
JANE – Mandry!
JANE – É impossível!
JANE – E então?
JANE – Mandry...
ASTRÊS (Ao público) – Que não digam que não lhes avisamos!
QUARTO ATO
Cena 1
das fontes do poder... (Ada acaricia-o.) Quem está aí? Boy? Não,
tu não poderias me tocar... Jane? Mandrake falou contigo?
Voltaste a me querer, a perdoar tanto, a ponto de ser minha guia, a
companheira de um cego? Assim, tão humilde ficaste, assim, terna
e solidária? Jane? Não, tu não és Jane. Mas tua mão é amável... E
não me pertence... Existiam antes estas mãos? Existia este amor,
ou está reservado, exclusivamente, àqueles que conhecem o
sofrimento? Tu és o anjo dos cegos? Tu és Deus? Tu és a Virgem
de que tanto Jane falava?
ADA – Ada.
TARZAN – De quê?
ADA – Não.
TARZAN – Logo virá Jane. Será, talvez, ela? Meu bom amigo
Mandrake irá trazê-la. É o alívio de um cego, encontrar o carinho
que nunca teve, à hora das sombras? Podes dizer-me em que
lugar nós estamos? (Ada afasta-se e desaparece, com as outras
camareiras.) Fada? Fada? Ai! Como todas as mulheres: vais-te
após te tornar necessária!... Droga fatal a doçura: é sempre
insuficiente! Aqui, sinto de novo minha desgraça... Nem sequer a
tormenta é tão forte... O dilúvio não lavou minha desdita. Olhem ao
rei cego!... Olhem!... (A luz retorna.) Não! Vejo! Nem sequer estou
cego... Ridículo: nem sequer cego! Nada mais patético do que a
desgraça a olhos vistos... (Encolhe-se, quase dormindo, em
posição fetal.) Fecharei meus olhos, então... Não é a desgraça
causa suficiente para arrancarem-se os olhos com as mãos? Oh,
luz, que seja este o último dia em que te vejo - quem veio ao
mundo engendrado por pais mortos; que contraiu relações com a
mulher que não devia, e quem matou a quem lhe estava proibido.
Infeliz de mim! Onde estou com minha desgraça? Onde me jogou
o demônio dos homens? Como me dilaceram as pontadas da dor e
as lembranças dos meus crimes!
Cena 2
JANE – Cale-se...
MANDRAKE - Quando?
JANE – Agora.
JANE – Temos que nos lavar, agora! Temos que nos lavar! (Olha
as mãos, obsessiva.) Mesmo assim as manchas permanecem.
(Faz gestos de quem está lavando as mãos.) Mesmo assim me
ficam manchas...
ADMINISTRADOR - Amor?
MANDRAKE – Jane!
JANE – Lavo o corpo que amei. O corpo que amei ficará como
novo, inteiro, são, limpo, limpo, limpo...
ANA – Por que tanto sangue, tantos corpos? Por que tanto cheiro
a gritos e pólvora e desgraça?
ADA – A solidão é cruel! Veja o que tem feito; o que fez com eles!
FIM