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Demonstrações Contábeis
Autores: Profa. Ma. Divane Alves da Silva
Prof. Me. Alexandre Saramelli
Colaboradores: Profa. Elisabeth Garcia Alexandre
Prof. Livaldo dos Santos
Professores conteudistas: Profa. Ma. Divane Alves da Silva /
Prof. Me. Alexandre Saramelli
Nascida na cidade de São Paulo, é mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998); especialista em
Controladoria e Contabilidade Gerencial pela Faculdade Santana São Paulo (1992), especialista em Didática do Ensino Superior pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996), especialista em Ensino a Distância – EaD (2011), cursando Inovação e Gestão em EaD pela
USP/Ribeirão Preto (conclusão em 2014); graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis Tibiriçá
(1990); e em Filosofia – Bacharelado e Licenciatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009).
Possui dois livros editados sobre a área contábil, além de participações em congressos tanto na área contábil quanto na educacional,
inclusive em EaD.
Tem as seguintes funções empresariais na área técnica: controller, contadora, auditora e consultora. Na área acadêmica, atuou como
coordenadora do curso de graduação em Ciências Contábeis na modalidade presencial em duas Universidades (Centro Universitário Ítalo
Brasileiro e Universidade Paulista – UNIP). Atualmente é coordenadora de curso de Ciências Contábeis na modalidade a distância na
Universidade Paulista – UNIP e professora de pós‑graduação em nível lato sensu nas Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade
Paulista – UNIP, Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU e em diversos cursos e disciplinas correlatas à formação.
Além disso, é autora de materiais para a modalidade da educação a distância, incluindo gravações de aulas.
Alexandre Saramelli
Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e mestre profissional
em Controladoria pela mesma universidade.
Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos e foi
consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP. Atualmente é professor adjunto na Universidade Paulista e
consultor empresarial.
Entusiasta de tecnologia da informação e ambientes altamente informatizados, é um incentivador da pesquisa, difusão e uso
eficiente e intensivo das modernas ferramentas de gestão, “transferência de conhecimento”, ensino a distância e audiovisual.
É autor de materiais para ensino a distância, redige livros didáticos e atividades de apoio educacional e instrucional, elabora
avaliações e grava aulas em estúdio audiovisual, além de ser radialista e apresentador de televisão com DRT.
CDU 657
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Virgínia Bilatto
Amanda Casale
Sumário
Estrutura das Demonstrações Contábeis
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 ARTE GRÁFICA E CONTABILIDADE............................................................................................................. 11
2 RELATÓRIOS ANUAIS...................................................................................................................................... 13
3 DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS (DLPA)....................................... 17
3.1 Objetivo..................................................................................................................................................... 18
3.2 Estrutura da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados (DLPA)........................ 18
3.3 Análise da estrutura da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados................ 19
3.3.1 Saldo inicial do período........................................................................................................................ 19
3.3.2 Ajustes de exercícios anteriores......................................................................................................... 19
3.3.3 Reversão de reservas.............................................................................................................................. 22
3.3.4 Destinação do lucro durante o exercício....................................................................................... 23
3.3.5 Lucro ou prejuízo do exercício........................................................................................................... 24
3.3.6 Destinações do lucro do exercício.................................................................................................... 25
3.3.7 Dividendos.................................................................................................................................................. 31
3.3.8 Um exemplo numérico da DLPA........................................................................................................ 35
4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO...................................................... 36
4.1 Operações que movimentam as contas patrimoniais............................................................ 36
4.1.1 Operações que provocam aumentos no patrimônio líquido................................................. 36
4.1.2 Operações que provocam reduções no patrimônio líquido................................................... 37
4.1.3 Operações que não alteram o patrimônio líquido..................................................................... 37
4.2 Forma e modelo de apresentação de DMPL............................................................................... 37
Unidade II
5 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC) - CONCEITO........................................................ 43
6 ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA............................................................. 44
6.1 Transações que não afetam o caixa............................................................................................... 46
6.2 Métodos de elaboração da demonstração dos fluxos de caixa (DFC).............................. 46
6.2.1 Método direto........................................................................................................................................... 47
6.2.2 Método indireto....................................................................................................................................... 53
7 RESOLUÇÃO DE UM EXERCÍCIO COMPLETO.......................................................................................... 55
8 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE (DRA).................................................................. 64
APRESENTAÇÃO
Ao iniciar a prática de ensino de Contabilidade, duas demonstrações contábeis são sempre enfatizadas:
o Balanço Patrimonial e a DRE (Demonstração do Resultado do Exercício). O motivo é que essas duas
demonstrações resumem e informam ao usuário da contabilidade a situação patrimonial, econômica e
financeira da empresa. Para os usuários da contabilidade, sobretudo os menos exigentes, apenas essas
duas demonstrações podem satisfazer todas as suas necessidades de informação. É possível realizar
análises das mais superficiais indo até as mais sofisticadas apenas com essas duas demonstrações.
Por algum momento dentro da prática de ensino, nós, professores, damos a entender que o Balanço
Patrimonial e a DRE, dados o seu significado e o esforço que consomem para sua obtenção, seriam o
objetivo final, o foco do trabalho do contador. No entanto, o que vemos no mercado é que tanto os
usuários internos como principalmente os usuários externos da contabilidade estão se tornando cada
vez mais exigentes na busca pela informação e solicitam demonstrações contábeis com mais detalhes,
mais sofisticadas. Estamos preparados para atender a essas exigências.
Nesta disciplina e neste livro‑texto iremos abordar, dentro dos objetivos do curso de Ciências
Contábeis e em um caminhar constante pelo conhecimento, algumas dessas demonstrações contábeis
mais “sofisticadas” ou com um teor informativo mais detalhado, mais especificamente as seguintes:
Sabendo que o aluno estaria neste momento com a sensação de que o objetivo da contabilidade
seria construir o Balanço Patrimonial e a DRE, nossa proposta é que o assunto seja exposto não com
um tom de que essas demonstrações seriam “um trabalho a mais” ou que seriam “complementos” ou
ainda demonstrativos “adicionais”, mas frutos do mesmo trabalho que começou na escrituração de
cada fato contábil, passou pelo processo de partidas dobradas e resultou na elaboração do Balanço
Patrimonial. Ou seja, não há necessidade de “trabalhar a mais” para produzir essas demonstrações, mas
de entendê‑las em profundidade para que surjam naturalmente.
Da mesma forma que qualquer disciplina Contabilidade, dentro do curso de Ciências Contábeis, o objetivo
é desenvolver algumas competências, como: pensamento estratégico; visão sistêmica; orientação para
resultados; capacidade de identificar, analisar e solucionar problemas; e a orientação para o empreendedorismo.
Não há a preocupação de esgotar o assunto. Por exemplo, neste livro‑texto não iremos abordar
a DVA (Demonstração do Valor Adicionado) nem as Notas Explicativas, que serão estudadas em
outras disciplinas, mas este livro traz noções que serão imprescindíveis para as outras disciplinas, que
acrescentarão conhecimentos mais avançados em um ambiente multidisciplinar.
7
Para tal, elaborou‑se um texto de fácil compreensão, relativamente curto, mas com um equilíbrio
entre teoria e prática. Por tratar‑se de uma estrutura formal, é imprescindível enfatizar ao aluno que o
tema que está estudando é baseado em leis e regulamentos, ou seja, que determinam em minúcias o
que devemos fazer. Nossa preocupação é fazer com que o aluno entenda que não é porque está escrito
na lei que devemos proceder de forma cerimonial, o objetivo é o de entender o porquê de a lei exigir
tais procedimentos.
O conteúdo a ser abordado aplica‑se sem distinção a empresas de qualquer porte e/ou ramo. Há
também o intuito de orientar o aluno em relação ao processo de convergência contábil internacional,
um grande esforço dos contadores e que está em pleno andamento. Há espaço também para lidar
com a cultura corporativa, os jargões próprios da área contábil/financeira e administrativa, ajudando o
estudante a se inserir no mercado de trabalho.
Como tema transversal, em um esforço para que o aluno não observe apenas os aspectos
técnicos envolvidos com as demonstrações contábeis (um hábito ainda muito comum que as Normas
Internacionais de Contabilidade pretendem mudar), houve uma preocupação em adicionar comentários
sobre a elaboração dos relatórios anuais, sobre a relação com investidores e artes gráficas aplicadas
a relatórios anuais, por meio dos quais o aluno poderá entender o ponto de vista dos investidores e
usuários das demonstrações contábeis.
INTRODUÇÃO
Nesta disciplina, iremos estudar em profundidade algumas outras demonstrações contábeis, entre
elas as seguintes:
Não pense que é um desafio difícil. Ao contrário, se você entendeu bem como se apura um Balanço
e uma DRE, o trabalho agora é apenas o de continuidade. Com o BP e a DRE, é possível demonstrar
um conjunto muito rico de informações, mas é necessário preparar informações mais detalhadas, que
ajudarão ainda mais o usuário da contabilidade a entender os fatos da empresa que ele tem interesse.
Você já estudou também que, no mesmo momento em que o contador finaliza seu trabalho, inicia‑se
outro trabalho pelos usuários da contabilidade que irão passar a ler e interpretar as demonstrações
contábeis. No passado (na maioria dos casos, embora haja brilhantes exceções), era comum o contador
dar por encerrado o seu trabalho no momento da finalização ou publicação das demonstrações contábeis
e não se importar com o que a sociedade faria com essas demonstrações. Atualmente, com as Normas
Internacionais de Contabilidade, entende‑se que é imprescindível que os contadores conheçam como
os usuários interpretam e quais suas expectativas e necessidades para que as demonstrações contábeis
como um todo fiquem ainda mais informativas.
É importante, neste estudo, que você tenha contato com as leis e regulamentos, em especial as leis nº
6.404/76, 11.638/07 e 11.941/09, as Normas Contábeis publicadas pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos
Contábeis), normas e regulamentos publicados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e outras
entidades, ou seja, você terá contato com a legislação e o arcabouço jurídico, o que, para muitos,
especialmente para quem não gosta muito do cipoal de legislações, deixa o estudo um tanto enfadonho,
chato, “engessado”.
A intenção não é essa. Pense da seguinte forma: imagine quanta confusão já ocorreu no passado no
mercado de capitais e na sociedade em geral por conta de erros e más interpretações das demonstrações
contábeis. Muita gente já teve sérios prejuízos e abalos em suas vidas. Portanto, preparar demonstrações
contábeis nos formatos estabelecidos por lei (e conhecer bem essas leis) é uma obrigação de qualquer
contador para levar tranquilidade a todos os envolvidos.
Dá para ver então, como é importante esse trabalho. Não dá para mudar quase nada nas
demonstrações contábeis. É necessário seguir à risca o que foi estabelecido, um trabalho que não dá
margem para a sua criatividade e inventividade. Mas não e preocupe, as Normas Internacionais de
Contabilidade incentivam você a expor sua criatividade, seu talento pessoal e inventividade. Você
irá saber, irá estudar como fazer isso, mas, por ora, vamos entender a estrutura das demonstrações
contábeis.
Mais uma disciplina por meio da qual você terá contato com uma base de conhecimento que te
ajudará a formar habilidades para conhecer a contabilidade e agir com sucesso no ambiente profissional.
9
Exemplo de aplicação
Para esta disciplina, tente se colocar no lugar de um investidor. Imagine que você tem uns 100
milhões de reais (ou dólares, ou euros, deixe sua imaginação agir) e que recebeu uma ordem de investir
esse dinheiro onde achar melhor, ou que é o seu próprio dinheiro. Qual é o maior medo de quem tem
uma fortuna dessas em mãos? Eu respondo: claro que é perder o dinheiro, investir mal. O que você
gostaria de saber? Que cuidados procuraria ter? Quais perguntas você faria?
10
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
Unidade I
1 ARTE GRÁFICA E CONTABILIDADE
Exemplo de aplicação
As demonstrações contábeis de times de futebol brasileiros (e mesmo de outros países) são muito
interessantes para estudo. Escolha um time (não precisa ser seu time de coração, claro) e analise suas
demonstrações contábeis.
Então, muitas empresas costumam atender à sua obrigação legal de publicar suas demonstrações
contábeis, mas também publicam os chamados “relatórios anuais” e “relatórios de sustentabilidade”
com melhor qualidade gráfica, um tratamento artístico de alta qualidade (em alguns casos) e versões
em línguas estrangeiras. Um exemplo, entre vários de empresas que se preocupam em preparar
relatórios anuais (ou de sustentabilidade) é o Hospital Sírio Libanês, que, em sua versão de 2011,
coincidindo com seus 90 anos de atuação, produziu um conteúdo artístico gráfico simples, mas de
altíssima qualidade.
11
Unidade I
exemplo, surpreendeu por ter disponibilizado todas as suas demonstrações contábeis e financeiras em
120 anos de história.
Saiba mais
<http://visualization.geblogs.com/visualization/
annual/?site=crispgreen.com#120‑years‑of‑innovating‑for‑the‑future>.
Acesso em: 22 out. 2013.
Além disso, a GE disponibilizou tais sites interativos, a partir dos quais o internauta pode conhecer
detalhes sobre como as demonstrações financeiras foram elaboradas, normas, tutoriais etc. Esse
procedimento, que já é relativamente comum nos Estados Unidos, está se tornando cada vez mais
comum também no Brasil.
No ano de 2012, a empresa Austria Solar, especializada em energia solar, ganhou o Grande Prêmio
de Design para o The Solar Annual Report – o relatório anual solar impresso com uma tinta especial
visível apenas sob raios solares, que se torna papel branco quando está na sombra. Uma ideia, que torna
a leitura mais interessante, usa tecnologia gráfica de ponta e se adere perfeitamente com a proposta de
negócio da empresa.
Observe que, cada vez mais, a publicação de informações sobre a empresa na internet e nos relatórios
anuais está sendo valorizada. É evidente que a informação pode ser mostrada com tecnologia e de
forma a deixá‑la mais interessante, mas é imprescindível que essa informação tenha qualidade. Mas o
que pode ser considerado um “relatório anual”? Por que é tão importante? Estudaremos isso na próxima
unidade.
Observação
12
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
2 RELATÓRIOS ANUAIS
Segundo Padovese (2003, p. 83), a controladoria (contabilidade) não tem a função de exercer função
de relações com investidores (e com usuários externos da contabilidade em geral), normalmente as
empresas mantêm equipes de RI (Relações com Investidores) para atender às necessidades e desejos
de investidores (e interessados em geral, como a imprensa que é atendida pela área de RP – Relações
Públicas). Mas sua responsabilidade é clara em:
Lembrete
Vemos aqui que existe por parte da sociedade uma confiança no trabalho do contador, que, acima
de quaisquer interesses comerciais da empresa, mostra a situação de forma neutra, correta, confiável.
Essa certeza é confirmada pelo Conselho Fiscal e pelo parecer de auditoria, que conferem ainda mais
credibilidade na qualidade das demonstrações contábeis ao mercado.
Observação
Padovese (2003, p. 83), no entanto, lamenta o fato de que grande parte das demonstrações
contábeis e financeiras da empresa (o que denominou de demonstrativos contábeis básicos) traz
informações sobre o passado e não sobre o futuro, o que é importante para os investidores. Assim,
essas informações seriam fornecidas em outros elementos do relatório anual, em específico no
relatório da administração.
Lauretti (2003, p. 7) define relatório anual como: “na essência, uma prestação de contas, servindo
como veículo por excelência para que as organizações cumpram dois dos requisitos básicos de uma boa
governança corporativa, a transparência (disclosure) e o dever de prestar contas (accountability)”.
Observação
• Transparência (disclosure).
• Equidade (fairness).
• Ética (ethics).
[...] o conjunto dos documentos citados no artigo 133 da Lei das Sociedades
por Ações (nº 6.404/76), a saber:
1
Nem sempre. Existe uma legislação sobre esse aspecto editada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e
períodos de “segredo”, quando a empresa é proibida de divulgar qualquer informação, mesmo que seja informal.
14
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
Lauretti (2003, p. 7) afirma que as sociedades por ações “são obrigadas a disponibilizar esses
documentos para seus acionistas, no prazo de até três meses do encerramento do exercício social,
e publicá‑los em jornal da sede da empresa e no Diário Oficial do Estado”. Esse autor comenta
que os relatórios anuais em formato de livro (ou atualmente na internet) não são obrigatórios,
sendo que no Brasil copiou‑se uma prática generalizada nos mercados do Norte (basicamente
EUA e Europa).
Lembrete
Observando erros cometidos no passado, Lauretti (2003 p, 47–50) formou alguns aspectos que
devem‑se evitar nos relatórios anuais. São os seguintes:
Senhores acionistas,
Observação
É importante não confundir com a expressão inglesa book cooking –
cozinhar os livros ou o equivalente à nossa expressão “maquilar o balanço”
– porque essas expressões representam fraude contábil, trata‑se de crime.
• Caráter predominante retrospectivo do relatório anual (não dão oportunidade para analisar
aspectos referentes ao futuro da empresa).
• Livros luxuosos, mas pouco criativos (excesso de elementos gráficos, uso de papéis caros, capa
dura com letras douradas etc).
Saiba mais
E porquê Mahoney (1997) afirma isso? Padovese (2003), Lauretti (2003) e Mahoney (1997) reforçam
o entendimento de que são importantes elementos de arte gráfica que ajudem a melhor entender
e analisar as demonstrações contábeis e financeiras, mas que a qualidade dessas demonstrações é
imprescindível. É o que nos diz Padovese (2003, p. 86):
Sendo assim, considerando todos esses aspectos estudados e devidamente conscientes sobre a
importância das “demonstrações contábeis e financeiras básicas, convido‑o(a) a observar, de acordo
com os aspectos da lei, como elaborar a Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados – DLPA.
A demonstração de lucros e prejuízos acumulados (DLPA) é uma demonstração contábil obrigatória e deve
ser elaborada conforme estabelecem as leis nº 6.404/76 e nº 11.638/07, artigos 176 e 186, e de acordo com os
princípios fundamentais da contabilidade, em especial o da entidade, que afirma a autonomia patrimonial.
Seção II
Disposições gerais
Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração
mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com
clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício:
I – Balanço Patrimonial;
IV – demonstração dos fluxos de caixa (redação dada pela lei nº 11.638, de 2007);
V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado (incluído pela lei nº 11.638, de 2007).
Seção IV
17
Unidade I
3.1 Objetivo
A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados tem como fim tornar evidentes a movimentação
da conta lucros ou prejuízos acumulados ocorrida no período.
Inicia a DLPA o saldo dessa conta no início do exercício, saldo este obtido no Balanço Patrimonial e, por
meio de ajustes, acréscimos e subtrações, chega-se ao saldo final, que aparece no Balanço Patrimonial.
O artigo 186 da Lei das Sociedades Anônimas estabeleceu as informações que devem ser evidenciadas
na DLPA. Partindo-se desse diploma legal, podemos demonstrar a DLPA da seguinte forma:
Tabela 1
18
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
A estrutura da DLPA é iniciada com o saldo da conta lucros ou prejuízos acumulados, constante do
Balanço Patrimonial anterior.
Nossa legislação estabelece que o lucro líquido do exercício não deve ser influenciado por valores
oriundos de outros exercícios. O princípio contábil da competência e a convenção da consistência
respaldam nossa legislação.
Pelo exposto, existem basicamente duas situações que podem originar ajustes de exercícios anteriores:
mudança de critério contábil e retificação de erro de exercício anterior.
Se considerarmos que a empresa resolveu alterar o seu critério de avaliação de estoque do período
de X7 para X8, passando de PEPS para MPM, temos que o critério PEPS é o que fornece o maior lucro, em
19
Unidade I
períodos normais de preços crescentes. Sendo assim, é o método que apresenta menor CMV e o maior
estoque final para o exercício de X7.
$ 210
Esse estoque final passou a ser o estoque inicial de X8, obtido com base no método PEPS. Com a
alteração no critério de avaliação para MPM, para que não haja distorção na comparação entre estoque
inicial e estoque final de X8, a empresa deve proceder ao ajuste de seu estoque para o novo método
MPM, reduzindo-o, uma vez que o método da média ponderada móvel (MPM) teria calculado um valor
menor para o estoque final de X7, e este será o valor de X8.
Assim, para promover tal redução no estoque, a empresa deve efetuar o lançamento diretamente à
conta lucros ou prejuízos acumulados (LPA), para não modificar o resultado do exercício de X8. Supondo-
se que a diferença no cálculo dos métodos tenha dado 200, teríamos o seguinte lançamento:
D – LPA 200
C – Estoques 200
Outro exemplo de mudança de critério que afeta a apuração do resultado é a alteração do registro
do imposto de renda (IR) do regime de caixa para o regime de competência.
• Lucro no exercício de X0 = 300 30% x 300 = 90 (no regime de caixa, o valor de 90 será lançado
à despesa no ano de seu pagamento, ou seja, X1).
20
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
D – LPA – 90
C – Caixa – 90
Período de X0
$ 90
$ 90
Período de X1
LPA
90
Tabela 2
O lucro de 240 está diminuído de 80, pois o valor da depreciação foi considerado 280 e não o
correto, 200. O lucro acumulado no balanço de X2 está deduzido em 80 e seria impossível retificar
nossa contabilidade na data do erro. Portanto, o caminho é retificar o saldo da conta lucros ou prejuízos
acumulados na próxima DLPA, X2, deduzindo o excesso.
D – Depreciação acumulada – 80
C – Lucros ou prejuízos acumulados – 80
21
Unidade I
$ 280 $ 200
A retificação de um erro imputável a exercício anterior pode ter como origem um erro no cálculo
da provisão para imposto de renda. Tal erro foi encontrado quando da preparação da declaração do
imposto de renda, no exercício seguinte, e a diferença apurada deve ser lançada diretamente na conta
lucros ou prejuízos acumulados (a débito ou crédito, dependendo do erro).
Caso, em X5, a empresa tenha provisionado para este imposto 300 a mais do que deveria, ela deve
providenciar o ajuste em X6, sem afetar o resultado do exercício X5.
Quanto às reversões, é importante dizer que só se reverte aquilo que tenha sido retirado, ou seja,
fundamentalmente, as reservas que são revertidas para a conta de lucros ou prejuízos acumulados são
aquelas que nesta conta tiveram origem, ou seja, são reservas de lucros.
Assim, as reservas constituídas em exercícios anteriores para uma determinada finalidade e que não
foram utilizadas, ou, como no caso da reserva de lucros a realizar, foram realizadas, serão revertidas a
crédito da conta lucros ou prejuízos acumulados.
22
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
Cada uma dessas reversões deve aparecer destacadamente na demonstração de lucros ou prejuízos
acumulados. Se, por exemplo, tiverem uma reversão da reserva de lucros a realizar no valor de cem pela
sua realização, teremos o seguinte lançamento:
80 –
70 –
60 –
50 –
40 –
30 –
20 –
10 –
Observação
Neste item, são registrados os valores dos lucros, destinados ou transferidos no decorrer do exercício
social. Temos, então, algumas possibilidades:
2) dividendos antecipados;
Se, por exemplo, foram utilizados quatrocentos do saldo da conta LPA para aumento de capital,
teremos:
D – LPA 400
C – Capital social 400
O valor do lucro ou prejuízo corresponde ao saldo final da conta intitulada resultado do exercício;
é uma conta transitória que é aberta por ocasião do exercício social, para receber os saldos de todas as
contas de resultado (receitas; custos e despesas).
Apurado o resultado, o saldo dessa conta é transferido para lucros ou prejuízos acumulados, de
forma que a conta de apuração de resultado fica zerada; o saldo desta conta transitória pode ser credor
(lucros) ou devedor (prejuízo). Temos, então, duas situações distintas, a saber:
D – Resultado do exercício
C – LPA
D – LPA
C – Resultado do exercício
24
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
Compreendem a formação ou os reforços das chamadas reservas de lucros. Observe que pode
haver transferências de parcelas de lucro para a constituição ou reforço de reservas de acordo com as
disposições estatutárias e com a proposta da administração para a destinação do lucro, a que deverá ser
contabilizada pressupondo a sua aprovação pela Assembleia Geral.
Após essa aprovação, a contabilização das reservas de lucros é efetuada a débito na conta lucros
acumulados e a crédito da conta reserva de lucro que estamos constituindo.
D – Lucros
C – Reservas de lucros
1- reserva legal;
2- reservas estatutárias;
5- retenção de lucros;
Objetiva manter a integralidade de capital social, e só pode ser usada para compensar prejuízos ou
aumentar o capital.
Do lucro líquido do exercício, 5% (cinco por cento) serão aplicados, antes de qualquer
outra destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá a 20% (vinte por cento)
do capital social.
25
Unidade I
a) limite obrigatório: o saldo da conta reserva legal não deve ultrapassar 20% do capital social realizado;
b) limite facultativo: a reserva legal poderá deixar de ser constituída no período em que seu saldo,
somado ao das reservas de capital, ultrapassar 30% do valor do capital social realizado.
Exemplo
Qual valor a ser constituído da reserva legal da empresa apresentou os seguintes dados no período
de X7?
Resolução
O novo saldo da conta reserva legal, caso fossem destinados os 20, ficaria em 70 + 20 = 90 (menor
que 120).
Logo, quanto ao limite obrigatório, a constituição da reserva legal deveria ser total, ou seja, de vinte.
Assim, quanto ao limite facultativo, a empresa poderia constituir somente dez, que é o valor suficiente
para que a soma das reservas legal e de capital atinjam o valor limite (180 – 170 = 10).
Conclusão: nesse exemplo, a empresa poderia constituir qualquer valor de reserva legal, entre dez e
vinte. Caso optasse por destinar os dez, o lançamento seria:
D – Lucros 20
C – Reserva legal 20
As reservas estatutárias são reservas facultativas, porém, uma vez previstas no Estatuto, obrigam a
empresa a constituí-los.
26
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
II- fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão
destinados à sua constituição;
Exemplo
O estatuto de uma empresa prevê que 1% do lucro líquido será destinado à formação de reservas
estatutárias, para futuro aumento de capital. O lucro líquido do exercício foi de quinhentos. Logo, a
contabilização seria:
D – Lucros acumulados 5
C – Reservas estatutárias 5.
Devemos observar que a constituição das reservas estatutárias não pode restringir o pagamento
do dividendo obrigatório, conforme disposto no artigo 198 da lei, bem como seu saldo não poderá
ultrapassar o capital social, segundo o disposto no artigo 199.
Sua constituição objetiva compensar, num período futuro, a diminuição do lucro proveniente de
perda provável, cujo valor possa ser estimado, mas não constitui obrigação.
A base legal à constituição dessa reserva é o artigo 195 da Lei das Sociedades Anônimas:
A Assembleia Geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, destinar parte do
lucro líquido à formação de reserva com a finalidade de compensar, em exercícios futuros,
a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado.
Parágrafo 1º. A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda
prevista e justificar, com as razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva.
Parágrafo 2º. A reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões
que justificarem a sua constituição ou em que ocorrer a perda.
Um exemplo de um fato que pode produzir incerteza passível de constituição de uma reserva para
contingência é o caso de a empresa “X” ter dado aval a outra empresa, a “Y”, e pairar dúvidas quanto à
capacidade da empresa avalizada de honrar o compromisso firmado.
27
Unidade I
Diante da possibilidade de a empresa avalista “X” ter que honrar o aval dado, em substituição ao
devedor original “Y”, efetua-se a reserva para contingência.
O aval dado corresponde a uma redução de 12% do lucro. Poderíamos equalizar os lucros em dois anos,
formando (deduzindo) 6% de reserva. Se imaginarmos que no período X0 houve um lucro de 5.000:
Admitindo-se que, na ocasião do pagamento, a empresa “X” pague o compromisso da empresa “Y”, cumprindo,
assim, o aval dado, haveria a reversão da reserva para contingência. Então, os trezentos serão adicionados aos
lucros acumulados no exercício do pagamento, compensando, assim, a diminuição do lucro pela perda prevista.
Observa-se que, se não houvesse o pagamento pelo aval concedido, a correção ocorreria da mesma forma.
Verificamos que esse procedimento evita distribuir dividendos “altos” num período quando temos
perspectivas de diminuição do lucro por perdas extraordinárias no período seguinte.
Tabela 3
X0 X1
Lucro líquido 5.000 4.400 (Lucro 5.000 deduzido da perda 600)
Reserva pela contingência (300) + 300 (Reversão de reserva para
Base de cálculo para 4.700 4.700 contingências)
dividendo
% dos dividendos x30% x30%
Dividendos em X0 1.410 1.410 Dividendo em X1
Observe que, se não houvesse a reserva para contingências, em X0, haveria 1.500 de dividendo (30%
de 5.000), enquanto em X1, 1.320 (3% de 4.400).
Com a criação da reserva para contingência, houve uma equalização dos dividendos em X0 e X1 no
valor de 1.410.
D – Lucros 300
C – Reservas para contingências 300
Essa reserva foi instituída pela lei nº 11.638, de 2007, e tem base legal para sua constituição o artigo
195-A, que diz:
Art. 195-A. A Assembleia Geral poderá, por proposta dos órgãos de administração,
destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações
ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de
cálculo do dividendo obrigatório.
Se imaginarmos que a empresa “X” recebeu a título de subversões governamentais para investimentos
a importância de quinhentos, a contabilização deste fato seria:
D – Lucros 500
C – Reserva de incentivos fiscais 500
Essa reserva é também denominada por renomados autores de “reserva de bens para expansão” ou,
ainda, “reserva para investimentos ou reserva orçamentária”. A constituição dessa reserva é baseada no
artigo 196 da lei societária:
Art. 196. A Assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos da administração,
deliberar reter parcela do lucro líquido do exercício prevista em orçamento de capital por
ela previamente aprovado.
Parágrafo 2º. O orçamento poderá ser aprovado pela Assembleia Geral ordinária que
deliberar sobre o balanço do exercício e revisado anualmente, quando tiver duração superior
a um exercício social.
Observe que, em linhas gerais, o orçamento de capital, citado na lei, é aquele que prevê
o quanto a sociedade irá destinar para aplicação em imobilização, novos investimentos,
expansões, etc.
Tal qual ocorre com as reservas estatutárias, essa reserva também não pode ser constituída em
detrimento da distribuição de dividendos, e o seu limite não pode ultrapassar o capital social, aplicando‑se
a ela o disposto nos artigos 198 e 199 da Lei das Sociedades Anônimas.
29
Unidade I
Se considerarem que a empresa “X” apurou um lucro líquido de 6.000 e que se a Assembleia Geral
deliberou que 590 deste lucro servirão para a constituição de uma reserva de investimento para a
ampliação de sua fábrica, teremos o seguinte lançamento:
D – Lucros 590
C – Reserva de retenção de lucros (investimentos) 590
O lucro do exercício é a base para a distribuição de resultados aos acionistas. Porém, considerando o
regime de competência e as vendas a longo prazo, é possível que uma parcela de lucro se refira a ganhos
ainda não realizados financeiramente; caso contrário, enfraqueceria a situação financeira da empresa.
Art. 197. No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos termos
do estatuto ou do art. 202, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido do exercício, a
Assembleia Geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar o excesso à
constituição de reservas de lucros a realizar.
Parágrafo 1º. Para efeitos deste artigo, considera-se realizada a parcela do lucro líquido
do exercício que exceder da soma dos seguintes valores:
Parágrafo 2º. A reserva de lucros a realizar somente poderá ser utilizada para pagamento do
dividendo obrigatório e, para efeito do inciso III do art. 202, serão considerados como integrantes da
reserva os lucros a realizar de cada exercício que foram os primeiros a serem realizados em dinheiro.
Exemplo
Imagine os dados de uma empresa a seguir relacionados e calcule qual valor poderia ser destinado
à reserva de lucros a realizar.
30
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
Resolução
Lucros a realizar = 20 + 15 = 35
Lucros realizados = 60 – 35 = 25
Lembramos que a empresa pode constituir reserva de lucro a realizar no valor de cinco. Nesse caso,
o valor do dividendo passa a ser de apenas 25.
D – Lucros 5
C – Reserva de lucros a realizar 5
Quando ocorrer a realização financeira dos lucros a realizar, o lançamento de reversão será:
3.3.7 Dividendos
Os dividendos constituem a parte dos lucros que se destina aos acionistas da empresa.
Os dividendos devem ser contabilizados no próprio exercício, o que significa um débito na conta
lucros ou prejuízos acumulados (LPA), e um crédito a dividendos propostos, até a aprovação da Assembleia
Geral, quando deverá ser transferido para a conta dividendos a pagar. Dessa forma, teremos os seguintes
lançamentos contábeis:
b. Com a aprovação da Assembleia Geral, o dividendo proposto passa a ser obrigação da empresa.
Nesse caso, o lançamento será:
D – Dividendos propostos
C – Dividendos a pagar
D – Dividendos a pagar
C – Banco conta movimento
31
Unidade I
Quanto à sua base legal, os dividendos encontram respaldo nos artigos 201 e 202 da Lei das
Sociedades Anônimas:
Seção III
Dividendos
Origem
Art. 201. A companhia somente pode pagar dividendos à conta de lucro líquido do
exercício, de lucros acumulados e de reserva de lucros; e à conta de reserva de capital, no
caso das ações preferenciais de que trata o § 5º do art. 17.
Parágrafo 2º. Os acionistas não são obrigados a restituir os dividendos que em boa‑fé
tenham recebido. Presume‑se a má-fé quando os dividendos forem distribuídos sem o
levantamento do balanço ou em desacordo com os resultados deste.
Dividendo obrigatório
Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada
exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância
determinada de acordo com as seguintes normas (Redação dada pela lei nº 10.303, de 2001):
a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e (incluída pela Lei
nº 10.303, de 2001);
acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização (redação dada pela lei
nº 10.303, de 2001).
Parágrafo 2º. Quando o estatuto for omisso e a Assembleia Geral deliberar alterá-lo para
introduzir norma sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25%
(vinte e cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos do inciso do deste artigo
(Redação dada pela lei nº 10.303, de 2001).
Parágrafo 3º. A Assembleia Geral pode, desde que não haja oposição de qualquer
acionista presente, deliberar a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório, nos termos
deste artigo, ou retenção de todo o lucro líquido, nas seguintes sociedades (redação dada
pela lei nº 10.303, de 2001):
Parágrafo 4º. O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em
que os órgãos da administração informarem à Assembleia Geral ordinária ser ele incompatível
com a situação financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá dar
parecer sobre essa informação e, na companhia aberta, seus administradores encaminharão
à Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização da Assembleia
Geral, exposição justificativa da informação transmitida à Assembleia.
Parágrafo 5º. Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º serão
registrados como reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios
subsequentes, deverão ser pagos como dividendo assim que o permitir a situação financeira
da companhia.
Parágrafo 6º. Os lucros não destinados nos termos dos arts. 193 a 197 deverão ser
distribuídos como dividendos (incluídos pela lei nº 10.303, de 2001).
Conforme a regra contida no artigo 202, a interpretação a ser dada à palavra lucro deve ser a de
lucro ajustado. Assim, deve-se calcular o dividendo sobre o lucro ajustado, que é sempre a sua base de
cálculo.
Exemplo
Calcular o valor a ser destinado para dividendo obrigatório e para reserva de lucro a realizar, caso a
empresa resolva constituir essa reserva, sabendo que o estatuto é omisso quanto ao percentual de lucro
do dividendo obrigatório.
Resolução
34
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
Observar que a reserva estatutária não foi considerada para o cálculo do lucro ajustado, pois,
conforme o disposto no artigo 198 da lei, essa reserva não pode prejudicar a distribuição do dividendo,
devendo, portanto, ser constituída após o cálculo do dividendo.
Agora vamos considerar o inciso II do art. 197, que diz que o pagamento dos dividendos poderá ser
limitado ao montante do lucro líquido já realizado, desde que a diferença seja registrada como reserva
de lucros a realizar.
Assim, caso a Assembleia opte pela constituição da reserva de lucros a realizar, teríamos:
Dessa forma, o valor a ser distribuído, como dividendo obrigatório, seria de 230, que corresponde à
parcela do lucro do exercício já realizado. Caso a Assembleia não aprovasse a destinação para a reserva
de lucros a realizar, então o dividendo a ser distribuído seria de 530.
Reversão de reservas:
35
Unidade I
A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados poderá ser substituída pela demonstração das
mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela empresa, de acordo com o parágrafo 2º
do artigo 186 da Lei das Sociedades Anônimas.
Essa demonstração (DMPL) tem grande importância, pois apresenta não só a movimentação da conta
lucros ou prejuízos acumulados, como de todas as outras contas de capital e reservas que compõem o
patrimônio líquido.
As contas do patrimônio líquido não são movimentadas com frequência. Por outro lado,
podemos diferenciar as operações no patrimônio líquido em dois grandes grupos, segundo os
efeitos provocados.
36
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
• Por dividendos;
São operações que contabilmente movimentam contas apenas dentro do patrimônio líquido:
Saiba mais
Correção monetária
Aumentos de capital:
Reversões de reservas:
de contingências;
de lucros a realizar.
Proposta da administração de
destinação do lucro:
Exercício findo em 31 de dezembro de 20X6
Resumo
Agora que você já conhece a DLPA e a DMPL, que tal estudarmos outras
duas demonstrações muito importantes, a DFC e a DRA?
Vamos lá!
39
Unidade I
Exercícios
Questão 1. (Enade, 2006) A Estelar Aérea S.A., uma das mais importantes empresas na vida
empresarial recente do Brasil, viveu, durante o ano de 2006, um processo de insolvência, como se pode
observar pelos seguintes grupos de contas em seu balanço de 31 de dezembro de 2005:
Em R$ milhões
Ativo Circulante.....................................................1.310
Realizável em Longo Prazo..................................788
Ativo Permanente....................................................238
Passivo Circulante................................................. 2.111
Exigível em Longo Prazo................................... 8.146
O Patrimônio Líquido da Estelar Aérea S.A, em 31 de dezembro de 2005, em R$ milhões era de:
A) 12.593
B) 7.921
C) 2.336
D) − 2.336
E) – 7.921
Justificativa geral: o quadro apresentado a seguir mostra o Balanço Patrimonial da Estelar Aérea
S.A., montado a partir dos valores informados na questão, ressaltando o desconhecimento do valor do
Patrimônio Líquido:
40
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: trata-se da soma de todos os valores, sem a divisão entre ativo e passivo.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: o valor está numericamente correto, mas encontra-se na forma positiva, quando o
correto seria a forma negativa. O erro está no cálculo das contas do Passivo – Ativo, com a apuração
de um Patrimônio Liquido positivo, como se a empresa estivesse com patrimônio suficiente para fazer
frente a todas as suas obrigações, e com sobra. O resultado apresentado por essa empresa é exatamente
o contrário: ela está com “Passivo a descoberto”.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: esse valor é o total do ativo. Não foram descontadas as contas conhecidas do passivo
e, portanto, o número está errado.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: esse valor é o total do ativo, tomado como número negativo, e não tem sentido.
E) Alternativa correta.
Questão 2. (Enade, 2006) Considere, no quadro a seguir, os saldos finais das contas patrimoniais da
Cia. Colibri, em 31.12.2005:
41
Unidade I
Caixa R$ 1000,00
Capital social R$ 1000,00
Contas a pagar até 90 dias R$ 1000,00
Contas a receber até 360 dias R$ 2000,00
Depreciação acumulada R$ 500,00
Financiamentos em longo prazo R$ 1200,00
Imobilizado R$ 2000,00
Lucro R$ 700,00
Provisão para crédito de liquidação duvidosa R$ 300,00
Salários a pagar R$ 300,00
A) R$ 2800,00 e R$ 3600,00
B) R$ 4200,00 e R$ 1700,00
C) R$ 4200,00 e R$ 2800,00
D) R$ 4300,00 e R$ 1200,00
E) R$ 5000,00 e R$ 1000,00
42