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Estrutura das

Demonstrações Contábeis
Autores: Profa. Ma. Divane Alves da Silva
Prof. Me. Alexandre Saramelli
Colaboradores: Profa. Elisabeth Garcia Alexandre
Prof. Livaldo dos Santos
Professores conteudistas: Profa. Ma. Divane Alves da Silva /
Prof. Me. Alexandre Saramelli

Divane Alves da Silva

Nascida na cidade de São Paulo, é mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998); especialista em
Controladoria e Contabilidade Gerencial pela Faculdade Santana São Paulo (1992), especialista em Didática do Ensino Superior pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996), especialista em Ensino a Distância – EaD (2011), cursando Inovação e Gestão em EaD pela
USP/Ribeirão Preto (conclusão em 2014); graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis Tibiriçá
(1990); e em Filosofia – Bacharelado e Licenciatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009).

Possui dois livros editados sobre a área contábil, além de participações em congressos tanto na área contábil quanto na educacional,
inclusive em EaD.

Tem as seguintes funções empresariais na área técnica: controller, contadora, auditora e consultora. Na área acadêmica, atuou como
coordenadora do curso de graduação em Ciências Contábeis na modalidade presencial em duas Universidades (Centro Universitário Ítalo
Brasileiro e Universidade Paulista – UNIP). Atualmente é coordenadora de curso de Ciências Contábeis na modalidade a distância na
Universidade Paulista – UNIP e professora de pós‑graduação em nível lato sensu nas Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade
Paulista – UNIP, Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU e em diversos cursos e disciplinas correlatas à formação.

Também atua ministrando curso in company.

Além disso, é autora de materiais para a modalidade da educação a distância, incluindo gravações de aulas.

Alexandre Saramelli

Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e mestre profissional
em Controladoria pela mesma universidade.

Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos e foi
consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP. Atualmente é professor adjunto na Universidade Paulista e
consultor empresarial.

Entusiasta de tecnologia da informação e ambientes altamente informatizados, é um incentivador da pesquisa, difusão e uso
eficiente e intensivo das modernas ferramentas de gestão, “transferência de conhecimento”, ensino a distância e audiovisual.

É autor de materiais para ensino a distância, redige livros didáticos e atividades de apoio educacional e instrucional, elabora
avaliações e grava aulas em estúdio audiovisual, além de ser radialista e apresentador de televisão com DRT.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S586e Silva, Divane Alves da.

Estrutura das demonstrações contábeis. / Divane Alves da Silva,


Alexandre Saramelli. – São Paulo: Editora Sol, 2014.
76 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-013/14, ISSN 1517-9230.

1. Contabilidade. 2. Demonstrações de lucros. 3. Relatórios anuais.


I. Título.

CDU 657

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla Torre


Vice-Reitora de Unidades Universitárias

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Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Virgínia Bilatto
Amanda Casale
Sumário
Estrutura das Demonstrações Contábeis

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 ARTE GRÁFICA E CONTABILIDADE............................................................................................................. 11
2 RELATÓRIOS ANUAIS...................................................................................................................................... 13
3 DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS (DLPA)....................................... 17
3.1 Objetivo..................................................................................................................................................... 18
3.2 Estrutura da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados (DLPA)........................ 18
3.3 Análise da estrutura da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados................ 19
3.3.1 Saldo inicial do período........................................................................................................................ 19
3.3.2 Ajustes de exercícios anteriores......................................................................................................... 19
3.3.3 Reversão de reservas.............................................................................................................................. 22
3.3.4 Destinação do lucro durante o exercício....................................................................................... 23
3.3.5 Lucro ou prejuízo do exercício........................................................................................................... 24
3.3.6 Destinações do lucro do exercício.................................................................................................... 25
3.3.7 Dividendos.................................................................................................................................................. 31
3.3.8 Um exemplo numérico da DLPA........................................................................................................ 35
4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO...................................................... 36
4.1 Operações que movimentam as contas patrimoniais............................................................ 36
4.1.1 Operações que provocam aumentos no patrimônio líquido................................................. 36
4.1.2 Operações que provocam reduções no patrimônio líquido................................................... 37
4.1.3 Operações que não alteram o patrimônio líquido..................................................................... 37
4.2 Forma e modelo de apresentação de DMPL............................................................................... 37

Unidade II
5 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC) - CONCEITO........................................................ 43
6 ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA............................................................. 44
6.1 Transações que não afetam o caixa............................................................................................... 46
6.2 Métodos de elaboração da demonstração dos fluxos de caixa (DFC).............................. 46
6.2.1 Método direto........................................................................................................................................... 47
6.2.2 Método indireto....................................................................................................................................... 53
7 RESOLUÇÃO DE UM EXERCÍCIO COMPLETO.......................................................................................... 55
8 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE (DRA).................................................................. 64
APRESENTAÇÃO

Ao iniciar a prática de ensino de Contabilidade, duas demonstrações contábeis são sempre enfatizadas:
o Balanço Patrimonial e a DRE (Demonstração do Resultado do Exercício). O motivo é que essas duas
demonstrações resumem e informam ao usuário da contabilidade a situação patrimonial, econômica e
financeira da empresa. Para os usuários da contabilidade, sobretudo os menos exigentes, apenas essas
duas demonstrações podem satisfazer todas as suas necessidades de informação. É possível realizar
análises das mais superficiais indo até as mais sofisticadas apenas com essas duas demonstrações.

Por algum momento dentro da prática de ensino, nós, professores, damos a entender que o Balanço
Patrimonial e a DRE, dados o seu significado e o esforço que consomem para sua obtenção, seriam o
objetivo final, o foco do trabalho do contador. No entanto, o que vemos no mercado é que tanto os
usuários internos como principalmente os usuários externos da contabilidade estão se tornando cada
vez mais exigentes na busca pela informação e solicitam demonstrações contábeis com mais detalhes,
mais sofisticadas. Estamos preparados para atender a essas exigências.

Nesta disciplina e neste livro‑texto iremos abordar, dentro dos objetivos do curso de Ciências
Contábeis e em um caminhar constante pelo conhecimento, algumas dessas demonstrações contábeis
mais “sofisticadas” ou com um teor informativo mais detalhado, mais especificamente as seguintes:

• DLPA (Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados).

• DMPL (Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido).

• DFC (Demonstração do Fluxo de Caixa).

• DRA (Demonstração dos Resultados Abrangentes).

Sabendo que o aluno estaria neste momento com a sensação de que o objetivo da contabilidade
seria construir o Balanço Patrimonial e a DRE, nossa proposta é que o assunto seja exposto não com
um tom de que essas demonstrações seriam “um trabalho a mais” ou que seriam “complementos” ou
ainda demonstrativos “adicionais”, mas frutos do mesmo trabalho que começou na escrituração de
cada fato contábil, passou pelo processo de partidas dobradas e resultou na elaboração do Balanço
Patrimonial. Ou seja, não há necessidade de “trabalhar a mais” para produzir essas demonstrações, mas
de entendê‑las em profundidade para que surjam naturalmente.

Da mesma forma que qualquer disciplina Contabilidade, dentro do curso de Ciências Contábeis, o objetivo
é desenvolver algumas competências, como: pensamento estratégico; visão sistêmica; orientação para
resultados; capacidade de identificar, analisar e solucionar problemas; e a orientação para o empreendedorismo.

Não há a preocupação de esgotar o assunto. Por exemplo, neste livro‑texto não iremos abordar
a DVA (Demonstração do Valor Adicionado) nem as Notas Explicativas, que serão estudadas em
outras disciplinas, mas este livro traz noções que serão imprescindíveis para as outras disciplinas, que
acrescentarão conhecimentos mais avançados em um ambiente multidisciplinar.
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Para tal, elaborou‑se um texto de fácil compreensão, relativamente curto, mas com um equilíbrio
entre teoria e prática. Por tratar‑se de uma estrutura formal, é imprescindível enfatizar ao aluno que o
tema que está estudando é baseado em leis e regulamentos, ou seja, que determinam em minúcias o
que devemos fazer. Nossa preocupação é fazer com que o aluno entenda que não é porque está escrito
na lei que devemos proceder de forma cerimonial, o objetivo é o de entender o porquê de a lei exigir
tais procedimentos.

O conteúdo a ser abordado aplica‑se sem distinção a empresas de qualquer porte e/ou ramo. Há
também o intuito de orientar o aluno em relação ao processo de convergência contábil internacional,
um grande esforço dos contadores e que está em pleno andamento. Há espaço também para lidar
com a cultura corporativa, os jargões próprios da área contábil/financeira e administrativa, ajudando o
estudante a se inserir no mercado de trabalho.

Na elaboração deste livro‑texto, seguiram‑se orientações do Conselho Federal de Contabilidade e


da Fundação Brasileira de Contabilidade (Proposta Nacional de Conteúdo para os Cursos de Graduação
em Ciências Contábeis), do Ministério da Educação (Resolução CNE/CES 10/2004 e Parecer CNE/CES
269/2004). Além disso, foram seguidas as orientações da ONU – Organização das Nações Unidas, da
UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development, da IASB – International Accounting
Standards Board (com as Normas Internacionais de Contabilidade) e da IFAC – International Federation
of Accountants (com as Normas Internacionais de Educação Contábil).

Como tema transversal, em um esforço para que o aluno não observe apenas os aspectos
técnicos envolvidos com as demonstrações contábeis (um hábito ainda muito comum que as Normas
Internacionais de Contabilidade pretendem mudar), houve uma preocupação em adicionar comentários
sobre a elaboração dos relatórios anuais, sobre a relação com investidores e artes gráficas aplicadas
a relatórios anuais, por meio dos quais o aluno poderá entender o ponto de vista dos investidores e
usuários das demonstrações contábeis.

INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a).

Já estudamos em outras disciplinas o Balanço Patrimonial e a DRE (Demonstração do Resultado


do Exercício), mas essas duas demonstrações, que em alguns momentos dão um trabalhão para serem
elaboradas (o saldo do Ativo e Passivo + Patrimônio Líquido e o resultado lucro ou prejuízo têm que
bater também com a DRE, o que não é nada fácil), não são as únicas demonstrações que a moderna
contabilidade prepara para os usuários. Longe disso!

Nesta disciplina, iremos estudar em profundidade algumas outras demonstrações contábeis, entre
elas as seguintes:

• DLPA (Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados).

• DMPL (Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido).


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• DFC (Demonstração do Fluxo de Caixa).

• DRA (Demonstração dos Resultados Abrangentes).

Não pense que é um desafio difícil. Ao contrário, se você entendeu bem como se apura um Balanço
e uma DRE, o trabalho agora é apenas o de continuidade. Com o BP e a DRE, é possível demonstrar
um conjunto muito rico de informações, mas é necessário preparar informações mais detalhadas, que
ajudarão ainda mais o usuário da contabilidade a entender os fatos da empresa que ele tem interesse.

Você já estudou também que, no mesmo momento em que o contador finaliza seu trabalho, inicia‑se
outro trabalho pelos usuários da contabilidade que irão passar a ler e interpretar as demonstrações
contábeis. No passado (na maioria dos casos, embora haja brilhantes exceções), era comum o contador
dar por encerrado o seu trabalho no momento da finalização ou publicação das demonstrações contábeis
e não se importar com o que a sociedade faria com essas demonstrações. Atualmente, com as Normas
Internacionais de Contabilidade, entende‑se que é imprescindível que os contadores conheçam como
os usuários interpretam e quais suas expectativas e necessidades para que as demonstrações contábeis
como um todo fiquem ainda mais informativas.

É importante, neste estudo, que você tenha contato com as leis e regulamentos, em especial as leis nº
6.404/76, 11.638/07 e 11.941/09, as Normas Contábeis publicadas pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos
Contábeis), normas e regulamentos publicados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e outras
entidades, ou seja, você terá contato com a legislação e o arcabouço jurídico, o que, para muitos,
especialmente para quem não gosta muito do cipoal de legislações, deixa o estudo um tanto enfadonho,
chato, “engessado”.

A intenção não é essa. Pense da seguinte forma: imagine quanta confusão já ocorreu no passado no
mercado de capitais e na sociedade em geral por conta de erros e más interpretações das demonstrações
contábeis. Muita gente já teve sérios prejuízos e abalos em suas vidas. Portanto, preparar demonstrações
contábeis nos formatos estabelecidos por lei (e conhecer bem essas leis) é uma obrigação de qualquer
contador para levar tranquilidade a todos os envolvidos.

Dá para ver então, como é importante esse trabalho. Não dá para mudar quase nada nas
demonstrações contábeis. É necessário seguir à risca o que foi estabelecido, um trabalho que não dá
margem para a sua criatividade e inventividade. Mas não e preocupe, as Normas Internacionais de
Contabilidade incentivam você a expor sua criatividade, seu talento pessoal e inventividade. Você
irá saber, irá estudar como fazer isso, mas, por ora, vamos entender a estrutura das demonstrações
contábeis.

Mais uma disciplina por meio da qual você terá contato com uma base de conhecimento que te
ajudará a formar habilidades para conhecer a contabilidade e agir com sucesso no ambiente profissional.

Bom (e entusiasmado) estudo!

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Exemplo de aplicação

Para esta disciplina, tente se colocar no lugar de um investidor. Imagine que você tem uns 100
milhões de reais (ou dólares, ou euros, deixe sua imaginação agir) e que recebeu uma ordem de investir
esse dinheiro onde achar melhor, ou que é o seu próprio dinheiro. Qual é o maior medo de quem tem
uma fortuna dessas em mãos? Eu respondo: claro que é perder o dinheiro, investir mal. O que você
gostaria de saber? Que cuidados procuraria ter? Quais perguntas você faria?

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ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Unidade I
1 ARTE GRÁFICA E CONTABILIDADE

Há empresas que, ao publicarem suas demonstrações contábeis ao público, o fazem, de acordo


a lei nº 6.404/76, em jornais de grande circulação, como o caso das Demonstrações Contábeis e
Financeiras do Grêmio Foot‑ball Clube, tradicional time de futebol querido por todos os brasileiros
e que publicou as suas demonstrações no Jornal do Comércio em 29 e 30 de Abril e 01 de Maio
de 2011. Como normalmente ocorre nessas publicações de grande circulação, o tratamento gráfico
é extremamente sintético, com letras minúsculas e espaço reduzidíssimo. Esse tipo de tratamento
gráfico dificulta a atratividade das pessoas em geral pelas demonstrações contábeis e torna‑se um
ato importante, mas cerimonial.

Exemplo de aplicação

As demonstrações contábeis de times de futebol brasileiros (e mesmo de outros países) são muito
interessantes para estudo. Escolha um time (não precisa ser seu time de coração, claro) e analise suas
demonstrações contábeis.

No entanto, algumas empresas e profissionais de marketing , publicidade e mesmo


administradores e contadores observaram que as demonstrações contábeis e financeiras, longe
de serem um ato cerimonial destinado a especialistas que não se importariam muito com
qualidade gráfica, são um excelente meio de comunicação. Por sinal, o único meio a partir do
qual é possível mostrar em detalhes a cultura institucional, a governança corporativa, suas
crenças, as demonstrações contábeis e financeiras em si e também analisar, junto com o leitor,
os números.

Então, muitas empresas costumam atender à sua obrigação legal de publicar suas demonstrações
contábeis, mas também publicam os chamados “relatórios anuais” e “relatórios de sustentabilidade”
com melhor qualidade gráfica, um tratamento artístico de alta qualidade (em alguns casos) e versões
em línguas estrangeiras. Um exemplo, entre vários de empresas que se preocupam em preparar
relatórios anuais (ou de sustentabilidade) é o Hospital Sírio Libanês, que, em sua versão de 2011,
coincidindo com seus 90 anos de atuação, produziu um conteúdo artístico gráfico simples, mas de
altíssima qualidade.

Na internet, é possível publicar, a um custo acessível, demonstrações contábeis e financeiras com


boa qualidade e boa arte gráfica para a maioria das empresas. Algumas dessas empresas surpreendem
e empregam tecnologia de ponta, como sites interativos e “realidade aumentada”, que permitem
interações muito criativas. A empresa internacional GE (presente no Brasil já há várias décadas), por

11
Unidade I

exemplo, surpreendeu por ter disponibilizado todas as suas demonstrações contábeis e financeiras em
120 anos de história.

Saiba mais

Você poderá consultar o site da GE com 120 anos de relatórios anuais


em:

<http://visualization.geblogs.com/visualization/
annual/?site=crispgreen.com#120‑years‑of‑innovating‑for‑the‑future>.
Acesso em: 22 out. 2013.

Além disso, a GE disponibilizou tais sites interativos, a partir dos quais o internauta pode conhecer
detalhes sobre como as demonstrações financeiras foram elaboradas, normas, tutoriais etc. Esse
procedimento, que já é relativamente comum nos Estados Unidos, está se tornando cada vez mais
comum também no Brasil.

No ano de 2012, a empresa Austria Solar, especializada em energia solar, ganhou o Grande Prêmio
de Design para o The Solar Annual Report – o relatório anual solar impresso com uma tinta especial
visível apenas sob raios solares, que se torna papel branco quando está na sombra. Uma ideia, que torna
a leitura mais interessante, usa tecnologia gráfica de ponta e se adere perfeitamente com a proposta de
negócio da empresa.

Observe que, cada vez mais, a publicação de informações sobre a empresa na internet e nos relatórios
anuais está sendo valorizada. É evidente que a informação pode ser mostrada com tecnologia e de
forma a deixá‑la mais interessante, mas é imprescindível que essa informação tenha qualidade. Mas o
que pode ser considerado um “relatório anual”? Por que é tão importante? Estudaremos isso na próxima
unidade.

Observação

Ao longo deste livro usamos duas expressões: relatórios contábeis


e financeiros. Entendem‑se, a exemplo de Hernandez Perez Júnior
(2013), os relatórios contábeis como os que efetivamente emanam
da contabilidade, e os financeiros como os que usam dados não
contábeis. Mas há confusão no uso desses termos mesmo na
legislação.

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ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

2 RELATÓRIOS ANUAIS

O relatório anual é para a companhia aberta um dos mais importantes


instrumentos de relações com investidores. Entretanto, é algo mais geral que
isso: trata‑se de um canal de comunicação institucional extremamente eficaz
tanto para empresas quanto para instituições sem fins lucrativos. (Roberto
Castello Branco, presidente do IBRI, apud LAURETTI, 2003, última capa).

Segundo Padovese (2003, p. 83), a controladoria (contabilidade) não tem a função de exercer função
de relações com investidores (e com usuários externos da contabilidade em geral), normalmente as
empresas mantêm equipes de RI (Relações com Investidores) para atender às necessidades e desejos
de investidores (e interessados em geral, como a imprensa que é atendida pela área de RP – Relações
Públicas). Mas sua responsabilidade é clara em:

[...] fornecer o painel de informações para que a pessoa investida nessa


função exerça‑a adequadamente, com informações de cunhos operacional,
econômico‑financeiro e patrimonial geradas pelo sistema de informação da
controladoria.

Nesse sentido, Padovese (2003 p. 83) comenta que:

[...] os demonstrativos contábeis básicos apresentam uma quantidade de


informações de extrema relevância para os investidores, por serem seguras e
de qualidade, bem como apresentam‑se naturalmente com caráter preditivo,
característica intrínseca da informação contábil.

Lembrete

O que Padovese (2003, p. 83) denomina de “demonstrativos contábeis


básicos” são os exigidos nas leis, como o Balanço Patrimonial, a DRE e os
que iremos estudar neste livro.

Vemos aqui que existe por parte da sociedade uma confiança no trabalho do contador, que, acima
de quaisquer interesses comerciais da empresa, mostra a situação de forma neutra, correta, confiável.
Essa certeza é confirmada pelo Conselho Fiscal e pelo parecer de auditoria, que conferem ainda mais
credibilidade na qualidade das demonstrações contábeis ao mercado.

Observação

Imaginemos que uma empresa está envolvida em uma disputa


comercial com concorrentes. O presidente da empresa, ao conversar com
a imprensa, poderá até vir a declarar informalmente algum dado ou citar
13
Unidade I

alguma intenção de negócio da empresa que seja um blefe e que depois


possa vir a não ser confirmado1. Mas no relatório da administração, que é
parte integrante do relatório anual, ou seja, das demonstrações contábeis e
financeiras, a empresa deve citar a verdade. Portanto, o relatório anual é a
“hora da verdade”, quando a empresa pode ter seu desempenho analisado
com dados confiáveis.

Padovese (2003, p. 83), no entanto, lamenta o fato de que grande parte das demonstrações
contábeis e financeiras da empresa (o que denominou de demonstrativos contábeis básicos) traz
informações sobre o passado e não sobre o futuro, o que é importante para os investidores. Assim,
essas informações seriam fornecidas em outros elementos do relatório anual, em específico no
relatório da administração.

Lauretti (2003, p. 7) define relatório anual como: “na essência, uma prestação de contas, servindo
como veículo por excelência para que as organizações cumpram dois dos requisitos básicos de uma boa
governança corporativa, a transparência (disclosure) e o dever de prestar contas (accountability)”.

Observação

Os requisitos básicos ou “pilares” de uma boa governança corporativa


são:

• Transparência (disclosure).

• Equidade (fairness).

• Dever de prestar contas (accountability).

• Ética (ethics).

Muito da cultura de governança corporativa está presente atualmente


nas Normas Internacionais de Contabilidade.

Lauretti (2003, p. 7) comenta ainda que, do ponto de vista estritamente legal, é:

[...] o conjunto dos documentos citados no artigo 133 da Lei das Sociedades
por Ações (nº 6.404/76), a saber:

• Relatório da administração sobre os negócios sociais e os principais


fatos administrativos do exercício findo.

1
Nem sempre. Existe uma legislação sobre esse aspecto editada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e
períodos de “segredo”, quando a empresa é proibida de divulgar qualquer informação, mesmo que seja informal.
14
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

• A cópia das demonstrações financeiras.

• O parecer dos auditores independentes, se houver.

• O parecer do conselho fiscal, inclusive votos dissentes, se houver.

Lauretti (2003, p. 7) afirma que as sociedades por ações “são obrigadas a disponibilizar esses
documentos para seus acionistas, no prazo de até três meses do encerramento do exercício social,
e publicá‑los em jornal da sede da empresa e no Diário Oficial do Estado”. Esse autor comenta
que os relatórios anuais em formato de livro (ou atualmente na internet) não são obrigatórios,
sendo que no Brasil copiou‑se uma prática generalizada nos mercados do Norte (basicamente
EUA e Europa).

Lembrete

Atualmente, após a entrada das Normas Internacionais, também


as empresas “Ltdas.” de grande porte são obrigadas a publicar o
relatório anual (disponibilizar amplamente esses documentos para
acionistas).

Observando erros cometidos no passado, Lauretti (2003 p, 47–50) formou alguns aspectos que
devem‑se evitar nos relatórios anuais. São os seguintes:

• Os relatórios mudos (relatórios que nada dizem), por exemplo:

Senhores acionistas,

Na forma da lei e do estatuto social, vimos apresentar‑lhes as demonstrações


financeiras relativas ao exercício encerrado em 31.12.2001, acompanhadas
do parecer dos auditores independentes. Ficamos à sua disposição para os
esclarecimentos que julgarem necessários.

A Administração (LAURETTI, 2003, p, 48).

• Modismos das teorias de administração.

• Análises de conjuntura sem correlação com o restante do relatório anual.

• Omissão de comentários sobre aspectos relevantes das demonstrações financeiras.

• Window dressing (em inglês, “enfeitando a janela”, quando a empresa dá demasiada


ênfase a aspectos positivos para dar a impressão de que os resultados são melhores do que
realmente são).
15
Unidade I

Observação
É importante não confundir com a expressão inglesa book cooking –
cozinhar os livros ou o equivalente à nossa expressão “maquilar o balanço”
– porque essas expressões representam fraude contábil, trata‑se de crime.

• Caráter predominante retrospectivo do relatório anual (não dão oportunidade para analisar
aspectos referentes ao futuro da empresa).

• Livros luxuosos, mas pouco criativos (excesso de elementos gráficos, uso de papéis caros, capa
dura com letras douradas etc).

• Procura de “bodes expiatórios” (a empresa busca situações do cotidiano ou da conjuntura para


justificar problemas, erros, omissões).

Saiba mais

É importante que você leia o Pronunciamento Conceitual Básico do


CPC, que traz características qualitativas das demonstrações contábeis
que visam justamente evitar essas situações a evitar nos relatórios anuais
listados por Lauretti (2003, p. 47‑50) e por outros autores:

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento


conceitual básico: R1. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/CPC00_
R1.pdf>. Acesso em: 21 out. 2013.
Com base em Mahoney (1997), Padovese (2003, p. 86) comenta que “a finalidade das relações com
investidores é ajudar a empresa a alcançar o seu valor justo”.

E porquê Mahoney (1997) afirma isso? Padovese (2003), Lauretti (2003) e Mahoney (1997) reforçam
o entendimento de que são importantes elementos de arte gráfica que ajudem a melhor entender
e analisar as demonstrações contábeis e financeiras, mas que a qualidade dessas demonstrações é
imprescindível. É o que nos diz Padovese (2003, p. 86):

A informação é o ingrediente‑chave do processo de avaliação. É a qualidade da


informação que faz a diferença entre uma boa ou má decisão de investimento.
Os investidores bem sucedidos reúnem as melhores informações possíveis,
conversam com os administradores empresariais e aplicam seus conhecimentos,
discernimentos e intuições na formulação de julgamentos sobre como as empresas
deverão se comportar no futuro. Logo, o foco das relações com os investidores é
o desenvolvimento de um sistema de informações coerente, estruturado, voltado
para o futuro, que evite julgamentos enviesados, prejudiciais ao futuro da empresa.
16
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Sendo assim, considerando todos esses aspectos estudados e devidamente conscientes sobre a
importância das “demonstrações contábeis e financeiras básicas, convido‑o(a) a observar, de acordo
com os aspectos da lei, como elaborar a Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados – DLPA.

3 DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS (DLPA)

A demonstração de lucros e prejuízos acumulados (DLPA) é uma demonstração contábil obrigatória e deve
ser elaborada conforme estabelecem as leis nº 6.404/76 e nº 11.638/07, artigos 176 e 186, e de acordo com os
princípios fundamentais da contabilidade, em especial o da entidade, que afirma a autonomia patrimonial.

Assim sendo, a legislação estabelece:

Seção II

Disposições gerais

Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração
mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com
clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício:

I – Balanço Patrimonial;

II – demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados;

III – demonstração do resultado do exercício;

IV – demonstração dos fluxos de caixa (redação dada pela lei nº 11.638, de 2007);

V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado (incluído pela lei nº 11.638, de 2007).

Seção IV

Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados

Art. 186. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados discriminará:

I – o saldo do início do período, os ajustes de exercício anteriores e a correção monetária


do saldo inicial;

II – as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício;

III – as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao


capital e o saldo ao fim do período.

17
Unidade I

Parágrafo 1º. Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os


decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da retificação de erro imputável
a determinado exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a fatos subsequentes.

Parágrafo 2º. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá indicar o


montante do dividendo por ação do capital social e poderá ser incluída na demonstração
das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela companhia.

3.1 Objetivo

A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados tem como fim tornar evidentes a movimentação
da conta lucros ou prejuízos acumulados ocorrida no período.

A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados objetiva, portanto, apresentar os elementos que


provocaram modificações para mais ou menos no saldo da conta lucros ou prejuízos acumulados.

Inicia a DLPA o saldo dessa conta no início do exercício, saldo este obtido no Balanço Patrimonial e, por
meio de ajustes, acréscimos e subtrações, chega-se ao saldo final, que aparece no Balanço Patrimonial.

3.2 Estrutura da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados (DLPA)

O artigo 186 da Lei das Sociedades Anônimas estabeleceu as informações que devem ser evidenciadas
na DLPA. Partindo-se desse diploma legal, podemos demonstrar a DLPA da seguinte forma:

Tabela 1

Estrutura da demonstração de lucros e prejuízos acumulados (DLPA)


Valor
Saldo inicial de lucro (prejuízo) acumulado em 31/12/20X6
(+) Ajustes de exercícios anteriores
(=) Saldo ajustado
(+) Reversão de reservas:
• reservas para contingências
• reservas de lucros a realizar
(-) Destinação durante o exercício:
• dividendos intermediários
• capitalização de lucros acumulados
+ Lucro (prejuízo) líquido do exercício
(=) Saldo à disposição da assembleia
(-) Destinações:
• reservas de lucros
• dividendos obrigatórios
(=) Saldo final do período em 31/12/20X7
Dividendos por ações

18
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

3.3 Análise da estrutura da demonstração de lucros ou prejuízos


acumulados

3.3.1 Saldo inicial do período

A estrutura da DLPA é iniciada com o saldo da conta lucros ou prejuízos acumulados, constante do
Balanço Patrimonial anterior.

3.3.2 Ajustes de exercícios anteriores

Nossa legislação estabelece que o lucro líquido do exercício não deve ser influenciado por valores
oriundos de outros exercícios. O princípio contábil da competência e a convenção da consistência
respaldam nossa legislação.

A Lei das Sociedades Anônimas estabelece que:

(...) como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os


decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou de retificação
de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser
atribuídos a fatos subsequentes.

Pelo exposto, existem basicamente duas situações que podem originar ajustes de exercícios anteriores:
mudança de critério contábil e retificação de erro de exercício anterior.

I. Mudança de critério contábil

• avaliação de estoque: passa de PEPS para MPM;

• regime de contabilidade: passa de regime de caixa para o regime de competência;

• avaliação e investimentos: passa do método de custo para o de equivalência patrimonial.

II. Retificação de erro de exercício anterior

• erro no cálculo do valor da depreciação;

• erro no cálculo do imposto de renda ou falha na interpretação da legislação.

Exemplificando alguns casos de mudança de critério contábil, temos:

• Exemplo de avaliação de estoque

Se considerarmos que a empresa resolveu alterar o seu critério de avaliação de estoque do período
de X7 para X8, passando de PEPS para MPM, temos que o critério PEPS é o que fornece o maior lucro, em
19
Unidade I

períodos normais de preços crescentes. Sendo assim, é o método que apresenta menor CMV e o maior
estoque final para o exercício de X7.

$ 150 $ 180 $ 300


$ 150 $ 180 $ 300

$ 210

Figura 1 – Alteração do critério de avaliação de estoques PEPS


(o Primeiro que Entra é o Primeiro que Sai) para MPM (Média Ponderada Móvel)

Esse estoque final passou a ser o estoque inicial de X8, obtido com base no método PEPS. Com a
alteração no critério de avaliação para MPM, para que não haja distorção na comparação entre estoque
inicial e estoque final de X8, a empresa deve proceder ao ajuste de seu estoque para o novo método
MPM, reduzindo-o, uma vez que o método da média ponderada móvel (MPM) teria calculado um valor
menor para o estoque final de X7, e este será o valor de X8.

Assim, para promover tal redução no estoque, a empresa deve efetuar o lançamento diretamente à
conta lucros ou prejuízos acumulados (LPA), para não modificar o resultado do exercício de X8. Supondo-
se que a diferença no cálculo dos métodos tenha dado 200, teríamos o seguinte lançamento:

D – LPA 200
C – Estoques 200

• Exemplo de mudança de regime contábil

Outro exemplo de mudança de critério que afeta a apuração do resultado é a alteração do registro
do imposto de renda (IR) do regime de caixa para o regime de competência.

• Lucro no exercício de X0 = 300  30% x 300 = 90 (no regime de caixa, o valor de 90 será lançado
à despesa no ano de seu pagamento, ou seja, X1).

• Lucro no exercício de X1 = 800  30% x 800 = 240.

Admitindo-se que no encerramento do exercício de X1 haja mudança do regime de caixa


para o regime de competência, teríamos o lançamento de 240 como despesa de X1. Observe
que, nesse caso, o resultado de X1 recebeu o débito do IR de X0 90, e o de X1 240, estando, pois,
afetado pela mudança de critério contábil. Para adequar esta situação à lei das S.A., deveríamos
proceder a um lançamento contábil, retirando o valor de 90 (referente a X0) da conta de despesas

20
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

e debitando-se diretamente à conta de lucros ou prejuízos acumulados (LPA) como ajuste de


exercícios anteriores.

D – LPA – 90
C – Caixa – 90

Período de X0
$ 90

$ 90

Período de X1

LPA

90

Figura 2 – Ajuste de exercício anterior

• Exemplo de erro na depreciação

Se considerarmos que o contador da empresa tinha calculado a depreciação do exercício de X1 no


valor de 280, sendo que o valor correto é 200, logo, no exercício de X1, foi contabilizado a mais 80.

Assim sendo, temos a demonstração do resultado do exercício do ano de X1 a seguir:

Tabela 2

DRE X1 (depreciação errada) DRE X1 (depreciação certa)


Vendas 800 Vendas 800
CMV (200) CMV (200)
= LB 600 = LB 600
Desp. vendas (50) Desp. vendas (50)
Desp. financeira (30) Desp. financeira (30)
Depreciação (280) Depreciação (200)
Lucro exercício 240 Lucro exercício 320

O lucro de 240 está diminuído de 80, pois o valor da depreciação foi considerado 280 e não o
correto, 200. O lucro acumulado no balanço de X2 está deduzido em 80 e seria impossível retificar
nossa contabilidade na data do erro. Portanto, o caminho é retificar o saldo da conta lucros ou prejuízos
acumulados na próxima DLPA, X2, deduzindo o excesso.

D – Depreciação acumulada – 80
C – Lucros ou prejuízos acumulados – 80
21
Unidade I

$ 280 $ 200

Figura 3 – Diferença encontrada por erro no valor de depreciação

• Exemplo de erro no valor do imposto de renda

A retificação de um erro imputável a exercício anterior pode ter como origem um erro no cálculo
da provisão para imposto de renda. Tal erro foi encontrado quando da preparação da declaração do
imposto de renda, no exercício seguinte, e a diferença apurada deve ser lançada diretamente na conta
lucros ou prejuízos acumulados (a débito ou crédito, dependendo do erro).

Caso, em X5, a empresa tenha provisionado para este imposto 300 a mais do que deveria, ela deve
providenciar o ajuste em X6, sem afetar o resultado do exercício X5.

O procedimento correto é a redução da obrigação do imposto a pagar, tendo como contrapartida o


lançamento direto à conta de lucros ou prejuízos acumulados (LPA):

D – Provisão para imposto de renda – 300


C – Lucros ou prejuízos acumulados – 300

3.3.3 Reversão de reservas

Quanto às reversões, é importante dizer que só se reverte aquilo que tenha sido retirado, ou seja,
fundamentalmente, as reservas que são revertidas para a conta de lucros ou prejuízos acumulados são
aquelas que nesta conta tiveram origem, ou seja, são reservas de lucros.

Assim, as reservas constituídas em exercícios anteriores para uma determinada finalidade e que não
foram utilizadas, ou, como no caso da reserva de lucros a realizar, foram realizadas, serão revertidas a
crédito da conta lucros ou prejuízos acumulados.

Temos então que as principais reservas constituídas e passíveis de reservas são:

• reservas para contingências;

• reservas de lucros a realizar.

22
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Cada uma dessas reversões deve aparecer destacadamente na demonstração de lucros ou prejuízos
acumulados. Se, por exemplo, tiverem uma reversão da reserva de lucros a realizar no valor de cem pela
sua realização, teremos o seguinte lançamento:

D – Reserva de lucros a realizar – 100


C – LPA – 100

80 –
70 –
60 –
50 –
40 –
30 –
20 –
10 –

Figura 4 – As reservas são mantidas em um nível interessante para a empresa,


se houver excesso de reserva que não foi utilizada são revertidas a crédito da conta
de lucros ou prejuízos acumulados. É uma analogia com um silo, em que
não interessa para a empresa ter mais “estoque” do que a capacidade desse silo.

3.3.4 Destinação do lucro durante o exercício

Observação

Até o ano de 2007, no Brasil, utilizava-se a expressão “lucros acumulados”,


sendo que se entendia (de forma geral) que os lucros poderiam ser mantidos
de exercício para exercício. Após as Normas Internacionais de Contabilidade,
não existem mais “lucros acumulados”, apenas “prejuízos acumulados”.
Entende-se que, se a empresa obteve lucro, deve dar uma destinação.

Neste item, são registrados os valores dos lucros, destinados ou transferidos no decorrer do exercício
social. Temos, então, algumas possibilidades:

1) parcelas transferidas para “reservas”;

2) dividendos antecipados;

3) parcelas dos lucros incorporados ao capital social.


23
Unidade I

Se, por exemplo, foram utilizados quatrocentos do saldo da conta LPA para aumento de capital,
teremos:

D – LPA 400
C – Capital social 400

3.3.5 Lucro ou prejuízo do exercício

Corresponde ao lucro ou prejuízo líquido final constante na demonstração do resultado do exercício.

O valor do lucro ou prejuízo corresponde ao saldo final da conta intitulada resultado do exercício;
é uma conta transitória que é aberta por ocasião do exercício social, para receber os saldos de todas as
contas de resultado (receitas; custos e despesas).

Apurado o resultado, o saldo dessa conta é transferido para lucros ou prejuízos acumulados, de
forma que a conta de apuração de resultado fica zerada; o saldo desta conta transitória pode ser credor
(lucros) ou devedor (prejuízo). Temos, então, duas situações distintas, a saber:

a) Resultado credor (lucros):

D – Resultado do exercício
C – LPA

b) Resultado devedor (prejuízo):

D – LPA
C – Resultado do exercício

Figura 5 – Quando houver lucros, devem ter uma destinação e não


permanecer em uma conta de “lucros acumulados” como se fazia no passado

24
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

3.3.6 Destinações do lucro do exercício

Compreendem a formação ou os reforços das chamadas reservas de lucros. Observe que pode
haver transferências de parcelas de lucro para a constituição ou reforço de reservas de acordo com as
disposições estatutárias e com a proposta da administração para a destinação do lucro, a que deverá ser
contabilizada pressupondo a sua aprovação pela Assembleia Geral.

Após essa aprovação, a contabilização das reservas de lucros é efetuada a débito na conta lucros
acumulados e a crédito da conta reserva de lucro que estamos constituindo.

D – Lucros
C – Reservas de lucros

As reservas de lucro que abordaremos são:

1- reserva legal;

2- reservas estatutárias;

3- reservas para contingências;

4- reserva de incentivos fiscais;

5- retenção de lucros;

6- reservas de lucros a realizar.

3.3.6.1 Reserva legal

Objetiva manter a integralidade de capital social, e só pode ser usada para compensar prejuízos ou
aumentar o capital.

O artigo 193 da legislação societária determina:

Do lucro líquido do exercício, 5% (cinco por cento) serão aplicados, antes de qualquer
outra destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá a 20% (vinte por cento)
do capital social.

Parágrafo 1º. A companhia poderá deixar de constituir a reserva legal no


exercício em que o saldo dessa reserva acrescido do montante das reservas de
capital de que trata o parágrafo 1º do art. 182, exceder de 30% (trinta por cento)
do capital social.

25
Unidade I

Resumindo, para a constituição da reserva legal, temos dois limites a observar:

a) limite obrigatório: o saldo da conta reserva legal não deve ultrapassar 20% do capital social realizado;

b) limite facultativo: a reserva legal poderá deixar de ser constituída no período em que seu saldo,
somado ao das reservas de capital, ultrapassar 30% do valor do capital social realizado.

Exemplo

Qual valor a ser constituído da reserva legal da empresa apresentou os seguintes dados no período
de X7?

Lucro líquido – 400


Capital social – 600
Reserva legal – 70
Reservas de capital – 100

Resolução

Base de cálculo = 400


Valor da reserva legal: 5% X 400 = 20
Limite obrigatório: 20% de 600 = 120

O novo saldo da conta reserva legal, caso fossem destinados os 20, ficaria em 70 + 20 = 90 (menor
que 120).

Logo, quanto ao limite obrigatório, a constituição da reserva legal deveria ser total, ou seja, de vinte.

Limite facultativo: 30% de 600 = 180.


Soma dos saldos existentes antes da destinação: (RL + RC) = 70 + 100 = 170.

Assim, quanto ao limite facultativo, a empresa poderia constituir somente dez, que é o valor suficiente
para que a soma das reservas legal e de capital atinjam o valor limite (180 – 170 = 10).

Conclusão: nesse exemplo, a empresa poderia constituir qualquer valor de reserva legal, entre dez e
vinte. Caso optasse por destinar os dez, o lançamento seria:

D – Lucros 20
C – Reserva legal 20

3.3.6.2 Reservas estatutárias

As reservas estatutárias são reservas facultativas, porém, uma vez previstas no Estatuto, obrigam a
empresa a constituí-los.
26
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

O artigo 194 da Lei das Sociedades Anônimas estabelece que:

O estatuto poderá criar reservas desde que, para cada uma:

I- indique, de modo preciso e completo, a sua finalidade;

II- fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão
destinados à sua constituição;

III- estabeleça o limite máximo de reserva.

Exemplo

O estatuto de uma empresa prevê que 1% do lucro líquido será destinado à formação de reservas
estatutárias, para futuro aumento de capital. O lucro líquido do exercício foi de quinhentos. Logo, a
contabilização seria:

D – Lucros acumulados 5
C – Reservas estatutárias 5.

Devemos observar que a constituição das reservas estatutárias não pode restringir o pagamento
do dividendo obrigatório, conforme disposto no artigo 198 da lei, bem como seu saldo não poderá
ultrapassar o capital social, segundo o disposto no artigo 199.

3.3.6.3 Reservas para contingências

Sua constituição objetiva compensar, num período futuro, a diminuição do lucro proveniente de
perda provável, cujo valor possa ser estimado, mas não constitui obrigação.

A base legal à constituição dessa reserva é o artigo 195 da Lei das Sociedades Anônimas:

A Assembleia Geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, destinar parte do
lucro líquido à formação de reserva com a finalidade de compensar, em exercícios futuros,
a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado.

Parágrafo 1º. A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda
prevista e justificar, com as razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva.

Parágrafo 2º. A reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões
que justificarem a sua constituição ou em que ocorrer a perda.

Um exemplo de um fato que pode produzir incerteza passível de constituição de uma reserva para
contingência é o caso de a empresa “X” ter dado aval a outra empresa, a “Y”, e pairar dúvidas quanto à
capacidade da empresa avalizada de honrar o compromisso firmado.
27
Unidade I

Diante da possibilidade de a empresa avalista “X” ter que honrar o aval dado, em substituição ao
devedor original “Y”, efetua-se a reserva para contingência.

O aval dado corresponde a uma redução de 12% do lucro. Poderíamos equalizar os lucros em dois anos,
formando (deduzindo) 6% de reserva. Se imaginarmos que no período X0 houve um lucro de 5.000:

Valor da perda estimada: 5.000 X 12% = 600


Valor da reserva para contingência: 5.000 X 6% = 300

Admitindo-se que, na ocasião do pagamento, a empresa “X” pague o compromisso da empresa “Y”, cumprindo,
assim, o aval dado, haveria a reversão da reserva para contingência. Então, os trezentos serão adicionados aos
lucros acumulados no exercício do pagamento, compensando, assim, a diminuição do lucro pela perda prevista.
Observa-se que, se não houvesse o pagamento pelo aval concedido, a correção ocorreria da mesma forma.

Verificamos que esse procedimento evita distribuir dividendos “altos” num período quando temos
perspectivas de diminuição do lucro por perdas extraordinárias no período seguinte.

A tabela a seguir demonstra a situação:

Tabela 3

X0 X1
Lucro líquido 5.000 4.400 (Lucro 5.000 deduzido da perda 600)
Reserva pela contingência (300) + 300 (Reversão de reserva para
Base de cálculo para 4.700 4.700 contingências)
dividendo
% dos dividendos x30% x30%
Dividendos em X0 1.410 1.410 Dividendo em X1

Observe que, se não houvesse a reserva para contingências, em X0, haveria 1.500 de dividendo (30%
de 5.000), enquanto em X1, 1.320 (3% de 4.400).

Com a criação da reserva para contingência, houve uma equalização dos dividendos em X0 e X1 no
valor de 1.410.

A contabilização seria feita da seguinte forma:

• Pela constituição de reserva:

D – Lucros 300
C – Reservas para contingências 300

• Pela reversão da reserva:

D – Reservas para contingências 300


C – Lucros ou prejuízos acumulados 300
28
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

3.3.6.4 Reserva de incentivos fiscais

Essa reserva foi instituída pela lei nº 11.638, de 2007, e tem base legal para sua constituição o artigo
195-A, que diz:

Art. 195-A. A Assembleia Geral poderá, por proposta dos órgãos de administração,
destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações
ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de
cálculo do dividendo obrigatório.

Se imaginarmos que a empresa “X” recebeu a título de subversões governamentais para investimentos
a importância de quinhentos, a contabilização deste fato seria:

D – Lucros 500
C – Reserva de incentivos fiscais 500

3.3.6.5 Retenção de lucros

Essa reserva é também denominada por renomados autores de “reserva de bens para expansão” ou,
ainda, “reserva para investimentos ou reserva orçamentária”. A constituição dessa reserva é baseada no
artigo 196 da lei societária:

Art. 196. A Assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos da administração,
deliberar reter parcela do lucro líquido do exercício prevista em orçamento de capital por
ela previamente aprovado.

Parágrafo 1º. O orçamento, submetido pelos órgãos da administração com a


justificação da retenção de lucros proposta, deverá compreender todas as fontes
de recursos e aplicações de capital, fixo ou circulante, e poderá ter a duração de
até 5 (cinco) exercícios, salvo no caso de execução, por prazo maior, de projeto de
investimento.

Parágrafo 2º. O orçamento poderá ser aprovado pela Assembleia Geral ordinária que
deliberar sobre o balanço do exercício e revisado anualmente, quando tiver duração superior
a um exercício social.

Observe que, em linhas gerais, o orçamento de capital, citado na lei, é aquele que prevê
o quanto a sociedade irá destinar para aplicação em imobilização, novos investimentos,
expansões, etc.

Tal qual ocorre com as reservas estatutárias, essa reserva também não pode ser constituída em
detrimento da distribuição de dividendos, e o seu limite não pode ultrapassar o capital social, aplicando‑se
a ela o disposto nos artigos 198 e 199 da Lei das Sociedades Anônimas.

29
Unidade I

Se considerarem que a empresa “X” apurou um lucro líquido de 6.000 e que se a Assembleia Geral
deliberou que 590 deste lucro servirão para a constituição de uma reserva de investimento para a
ampliação de sua fábrica, teremos o seguinte lançamento:

D – Lucros 590
C – Reserva de retenção de lucros (investimentos) 590

3.3.6.6 Reserva de lucro a realizar

O lucro do exercício é a base para a distribuição de resultados aos acionistas. Porém, considerando o
regime de competência e as vendas a longo prazo, é possível que uma parcela de lucro se refira a ganhos
ainda não realizados financeiramente; caso contrário, enfraqueceria a situação financeira da empresa.

O artigo 197 dá fundamento legal à constituição da reserva de lucros a realizar:

Art. 197. No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos termos
do estatuto ou do art. 202, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido do exercício, a
Assembleia Geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar o excesso à
constituição de reservas de lucros a realizar.

Parágrafo 1º. Para efeitos deste artigo, considera-se realizada a parcela do lucro líquido
do exercício que exceder da soma dos seguintes valores:

I – o resultado líquido positivo da equivalência patrimonial;

II – o lucro, rendimento ou ganho líquido em operações ou contabilização de ativo e


passivo pelo valor de mercado, cujo prazo de realização financeira ocorre após o término do
exercício social seguinte.

Parágrafo 2º. A reserva de lucros a realizar somente poderá ser utilizada para pagamento do
dividendo obrigatório e, para efeito do inciso III do art. 202, serão considerados como integrantes da
reserva os lucros a realizar de cada exercício que foram os primeiros a serem realizados em dinheiro.

Exemplo

Imagine os dados de uma empresa a seguir relacionados e calcule qual valor poderia ser destinado
à reserva de lucros a realizar.

• Valor apurado como dividendos obrigatórios = 30


• Lucro do exercício = 60
• Resultado positivo da equivalência patrimonial =15
• Lucro de longo prazo = 20

30
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Resolução

Lucros a realizar = 20 + 15 = 35
Lucros realizados = 60 – 35 = 25

Valor que pode ser destinado como reserva de lucros a realizar: 30 – 25 = 5.

Lembramos que a empresa pode constituir reserva de lucro a realizar no valor de cinco. Nesse caso,
o valor do dividendo passa a ser de apenas 25.

A contabilização dessa reserva quando de sua constituição será:

D – Lucros 5
C – Reserva de lucros a realizar 5

Quando ocorrer a realização financeira dos lucros a realizar, o lançamento de reversão será:

D – Reserva de lucros a realizar 5


C – Lucros ou prejuízos acumulados 5

3.3.7 Dividendos

Os dividendos constituem a parte dos lucros que se destina aos acionistas da empresa.

Os dividendos devem ser contabilizados no próprio exercício, o que significa um débito na conta
lucros ou prejuízos acumulados (LPA), e um crédito a dividendos propostos, até a aprovação da Assembleia
Geral, quando deverá ser transferido para a conta dividendos a pagar. Dessa forma, teremos os seguintes
lançamentos contábeis:

a. Pelo cálculo do dividendo proposto à Assembleia Geral:

D – Lucros ou prejuízos acumulados


C – Dividendos propostos

b. Com a aprovação da Assembleia Geral, o dividendo proposto passa a ser obrigação da empresa.
Nesse caso, o lançamento será:

D – Dividendos propostos
C – Dividendos a pagar

c. Quando do pagamento efetivo do dividendo:

D – Dividendos a pagar
C – Banco conta movimento
31
Unidade I

Quanto à sua base legal, os dividendos encontram respaldo nos artigos 201 e 202 da Lei das
Sociedades Anônimas:

Seção III

Dividendos

Origem

Art. 201. A companhia somente pode pagar dividendos à conta de lucro líquido do
exercício, de lucros acumulados e de reserva de lucros; e à conta de reserva de capital, no
caso das ações preferenciais de que trata o § 5º do art. 17.

Parágrafo 1º. A distribuição de dividendos com inobservância do disposto neste artigo


implica responsabilidade solidária dos administradores e fiscais, que deverão repor à caixa
social a importância distribuída, sem prejuízos da ação penal que no caso couber.

Parágrafo 2º. Os acionistas não são obrigados a restituir os dividendos que em boa‑fé
tenham recebido. Presume‑se a má-fé quando os dividendos forem distribuídos sem o
levantamento do balanço ou em desacordo com os resultados deste.

Dividendo obrigatório

Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada
exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância
determinada de acordo com as seguintes normas (Redação dada pela lei nº 10.303, de 2001):

I – metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores


(redação dada pela lei nº 10.303, de 2001):

a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e (incluída pela Lei
nº 10.303, de 2001);

b) importância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e


reversão da mesma reserva formada em exercícios anteriores (incluída pela lei nº 10.303,
de 2001);

II – o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado


ao montante do lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a diferença
seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197) (redação dada pela lei nº 10.303,
de 2001):

- os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se


não tiverem sido absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser
32
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização (redação dada pela lei
nº 10.303, de 2001).

Parágrafo 1º. O estatuto poderá estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro


ou do capital social, ou fixar outros critérios para determiná-lo, desde que sejam regulados
com precisão e minúcia e não sujeitem os acionistas minoritários ao arbítrio dos órgãos de
administração ou da maioria.

Parágrafo 2º. Quando o estatuto for omisso e a Assembleia Geral deliberar alterá-lo para
introduzir norma sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25%
(vinte e cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos do inciso do deste artigo
(Redação dada pela lei nº 10.303, de 2001).

Parágrafo 3º. A Assembleia Geral pode, desde que não haja oposição de qualquer
acionista presente, deliberar a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório, nos termos
deste artigo, ou retenção de todo o lucro líquido, nas seguintes sociedades (redação dada
pela lei nº 10.303, de 2001):

I – companhias abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não


conversíveis em ações (incluído pela lei nº 10.303, de 2001).

Parágrafo 4º. O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em
que os órgãos da administração informarem à Assembleia Geral ordinária ser ele incompatível
com a situação financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá dar
parecer sobre essa informação e, na companhia aberta, seus administradores encaminharão
à Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização da Assembleia
Geral, exposição justificativa da informação transmitida à Assembleia.

Parágrafo 5º. Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º serão
registrados como reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios
subsequentes, deverão ser pagos como dividendo assim que o permitir a situação financeira
da companhia.

Parágrafo 6º. Os lucros não destinados nos termos dos arts. 193 a 197 deverão ser
distribuídos como dividendos (incluídos pela lei nº 10.303, de 2001).

Conforme a regra contida no artigo 202, a interpretação a ser dada à palavra lucro deve ser a de
lucro ajustado. Assim, deve-se calcular o dividendo sobre o lucro ajustado, que é sempre a sua base de
cálculo.

Dessa forma, devemos observar, principalmente, se o estatuto estabelece o percentual do


dividendo. Em caso afirmativo, esse deverá ser o percentual aplicado sobre o lucro ajustado. Do
contrário, isto é, quando o estatuto for omisso, o percentual a ser aplicado sobre o lucro ajustado
é de 50%.
33
Unidade I

O lucro ajustado pode ser determinado da seguinte forma:

Lucro líquido do exercício


(-) Reserva legal
(-) Reserva para contingência
(+) Reversão de reserva para contingência
= Lucro ajustado.

Exemplo

Calcular o valor a ser destinado para dividendo obrigatório e para reserva de lucro a realizar, caso a
empresa resolva constituir essa reserva, sabendo que o estatuto é omisso quanto ao percentual de lucro
do dividendo obrigatório.

• Lucro líquido do exercício 800


• Reversão de reserva para contingência 300
• Reserva legal constituída 40
• Perda por equivalência patrimonial 30
• Ganho por equivalência patrimonial 450
• Lucro realizável a longo prazo 150

Resolução

1) Cálculo do resultado com a equivalência patrimonial:

Ganho com EP 450


Perda com EP (30)
= Resultado positivo EP 420

2) Cálculo dos lucros a realizar:

Resultado positivo EP 420


(+) Lucro realizável LP 150
= Lucros a realizar 570

3) Cálculo dos lucros já realizados:

Lucro líquido do exercício 800


(-) Lucro a realizar (570)
= Lucro já realizado 230

34
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

4) Cálculo do dividendo obrigatório:

Lucro líquido do exercício 800


(-) Reserva legal (40)
(+) Reversão da reserva da contingência 300
= Lucro líquido ajustado 1.060
Dividendo = 50% de 1.060  530

Observar que a reserva estatutária não foi considerada para o cálculo do lucro ajustado, pois,
conforme o disposto no artigo 198 da lei, essa reserva não pode prejudicar a distribuição do dividendo,
devendo, portanto, ser constituída após o cálculo do dividendo.

Agora vamos considerar o inciso II do art. 197, que diz que o pagamento dos dividendos poderá ser
limitado ao montante do lucro líquido já realizado, desde que a diferença seja registrada como reserva
de lucros a realizar.

Assim, caso a Assembleia opte pela constituição da reserva de lucros a realizar, teríamos:

Valor calculado para dividendos 530


(-) Lucro líquido já realizado (230)
= Valor para reserva de lucros a realizar 300

Dessa forma, o valor a ser distribuído, como dividendo obrigatório, seria de 230, que corresponde à
parcela do lucro do exercício já realizado. Caso a Assembleia não aprovasse a destinação para a reserva
de lucros a realizar, então o dividendo a ser distribuído seria de 530.

3.3.8 Um exemplo numérico da DLPA

Demonstração de lucros ou prejuízos acumulados para os exercícios findos em 31 de dezembro de


20X0 e X1:

Saldo em 31 de dezembro de 20X0 25.000


Ajustes de exercícios anteriores
Efeitos da mudança de critérios contábeis (3.000)
Retificação de erro de exercícios anteriores (1.000)
Parcela de lucro incorporada ao capital (9.000)

Reversão de reservas:

Para contingências 1.000


De lucros a realizar 2.000
Lucro líquido do exercício 20.000

35
Unidade I

Proposta da administração para destinação ou lucro

Reserva legal (1.000)


Reserva estatutária (2.000)
Reserva de lucros a realizar (3.000)
Reserva para contingência (8.000)
Dividendos a distribuir (5.000)
Saldo em 31 de dezembro de 20X1 16.000

4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados poderá ser substituída pela demonstração das
mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela empresa, de acordo com o parágrafo 2º
do artigo 186 da Lei das Sociedades Anônimas.

Essa demonstração (DMPL) tem grande importância, pois apresenta não só a movimentação da conta
lucros ou prejuízos acumulados, como de todas as outras contas de capital e reservas que compõem o
patrimônio líquido.

4.1 Operações que movimentam as contas patrimoniais

As contas do patrimônio líquido não são movimentadas com frequência. Por outro lado,
podemos diferenciar as operações no patrimônio líquido em dois grandes grupos, segundo os
efeitos provocados.

Itens que alteram o patrimônio líquido total

São operações que contabilmente movimentam contas do patrimônio, tendo em contrapartida


contas situadas fora do patrimônio líquido.

4.1.1 Operações que provocam aumentos no patrimônio líquido

• Por subscrição e integralização de capital;

• pelo lucro líquido do exercício;

• pelo ágio na subscrição de ações;

• por ajustes de exercícios anteriores;

• pela venda de ações próprias que estavam em tesouraria.

36
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

4.1.2 Operações que provocam reduções no patrimônio líquido

• Por dividendos;

• pelo prejuízo líquido do exercício;

• pela compra de ações próprias (ações em tesouraria);

• por ajustes de exercícios anteriores.

4.1.3 Operações que não alteram o patrimônio líquido

São operações que contabilmente movimentam contas apenas dentro do patrimônio líquido:

• aumento de capital com utilização de reservas;

• formação de reservas com apropriação de lucros acumulados;

• reversões de reservas para a conta de lucros sem prejuízos acumulados;

• compensação de prejuízos com reservas.

4.2 Forma e modelo de apresentação de DMPL

A preparação da demonstração das mutações do patrimônio líquido é relativamente fácil, pois é a


simples transcrição, de forma ordenada, do movimento das contas.

A apresentação, normalmente, é feita em quadro demonstrativo de dupla entrada, representando as


contas nas colunas e as transações nas linhas.

O exemplo a seguir apresenta esse demonstrativo contábil.

Saiba mais

É muito importante, após estudar este capítulo, que se estude também


um exemplo real de DLPA e/ou DMPL no relatório anual de uma empresa.
Você poderá buscar qualquer empresa aberta de sua preferência no site
da Bolsa de Valores de São Paulo ou aceitar a minha indicação: estude as
demonstrações contábeis e financeiras da Embraer.

Disponível em: <http://ri.embraer.com.br/default.aspx?linguagem=pt>.


Acesso em: 21 out. 2013.
37
38
Ágio na Correção
Alienação Lucros Reserva de
Unidade I

Capital emissão monetária do Reservas para Reserva Lucros


de partes Estatutária para lucros a Total
realizado de capital não contingências legal acumulados
beneficiárias expansão realizar
ações capitalizado

Saldos em 31 de dezembro de 20x5

Ajustes de exercícios anteriores

Efeitos de mudança de critérios


contábeis
Retificações de erros de
exercícios anteriores

Correção monetária

Aumentos de capital:

com lucros e reservas;


por subscrição realizada.

Reversões de reservas:

de contingências;
de lucros a realizar.

Lucro líquido do exercício

Proposta da administração de
destinação do lucro:
Exercício findo em 31 de dezembro de 20X6

transferência para reservas;


reserva legal;
reserva estatutária;
reserva de lucros para expansão;
reserva de lucros a realizar;
dividendos a distribuir
(R$ por ação).

Saldos em 31 de dezembro de 20X6


Quadro 1 – Empresa Omega S. A. – Demonstração das mutações do patrimônio líquido
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Resumo

Já na introdução, você verificou que as demonstrações contábeis e


financeiras são muito importantes e que, em alguns momentos, não há
muito que alterar nelas, é importante que você conheça as leis e siga a
risca os procedimentos ditados. É claro que há espaço para expressar o seu
talento e a sua inventividade, mas também é necessário seguir a estrutura
para se fazer entendido e não gerar dúvidas e confusões que não são o
objetivo das demonstrações contábeis e financeiras.

Começamos o nosso estudo observando alguns casos bem inovadores de como


as empresas publicam ao mercado suas demonstrações financeiras e estudamos,
com a ajuda dos autores Padovese (2003), Lauretti (2003) e Mahoney (1997), as
consequências no mercado do ato de divulgar informações para as empresa. Há
um bordão na área de RI que ilustra bem isso: “a pior informação é aquela que
não existe”. Ou seja, por pior os dados que a empresa tenha a divulgar (e vamos
imaginar aqui que a situação está bem complicada), a melhor solução nunca será a
de esconder ou alterar os dados, dizer a verdade sempre é a melhor solução.

Passamos a estudar então a legislação, principalmente a lei nº 6.404/76 e


o que ela nos dita acerca da DLPA e a DMPL, em especial atividades de rotina,
como o reconhecimento de reservas, ou seja, valores destinados a finalidades
específicas, seu cálculo, destinações dos lucros, além da contabilização desses
fatos (registros contábeis de acordo com o método das partidas dobradas).

Estudamos também a “cereja do bolo” para grande parte dos investidores,


que são os dividendos. Existem basicamente dois tipos de investidores,
aqueles que compram ações na bolsa e especulam no mercado, aproveitando
(ou não) as flutuações do mercado e aqueles que não se preocupam tanto
com a baixa ou alta no valor das ações, mas que esperam sempre receber
dividendos. Para esses, o cálculo dos dividendos é muito sensível e qualquer
alteração poderá causar muito sofrimento. Por isso, a lei nº 6.404/76 é bem
rígida, chegando a ditar minúcias quanto aos procedimentos.

Enfatizamos que é importante que você leia relatórios anuais, analisando


em minúcias as demonstrações contábeis e financeiras de uma empresa
que tenha alguma preferência. Tenha isso como um hábito.

Agora que você já conhece a DLPA e a DMPL, que tal estudarmos outras
duas demonstrações muito importantes, a DFC e a DRA?

Vamos lá!

39
Unidade I

Exercícios

Questão 1. (Enade, 2006) A Estelar Aérea S.A., uma das mais importantes empresas na vida
empresarial recente do Brasil, viveu, durante o ano de 2006, um processo de insolvência, como se pode
observar pelos seguintes grupos de contas em seu balanço de 31 de dezembro de 2005:

Em R$ milhões

Ativo Circulante.....................................................1.310
Realizável em Longo Prazo..................................788
Ativo Permanente....................................................238
Passivo Circulante................................................. 2.111
Exigível em Longo Prazo................................... 8.146

O Patrimônio Líquido da Estelar Aérea S.A, em 31 de dezembro de 2005, em R$ milhões era de:

A) 12.593

B) 7.921

C) 2.336

D) − 2.336

E) – 7.921

Resposta correta: alternativa E.

Análise das alternativas

Justificativa geral: o quadro apresentado a seguir mostra o Balanço Patrimonial da Estelar Aérea
S.A., montado a partir dos valores informados na questão, ressaltando o desconhecimento do valor do
Patrimônio Líquido:

Balanço patrimonial padronizado, em 31 de dezembro de 2005


Empresa Estelar Aérea S. A. (Valores em milhões)
Ativo Circulante R$ 1.310 Passivo Circulante R$ 2.111
Realizável a Longo Prazo R$ 788 Exigível a Longo Prazo R$ 8.146
Ativo Permanente R$ 238 Patrimônio Líquido R$ x,xx
Total do Ativo R$ 2.336 Total do Passivo R$ 2.336

40
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

A partir desses dados é possível calcular o valor do Patrimônio Líquido:

Ativo = Passivo = R$ 2336,00


Passivo = Circulante + Exigível em Longo Prazo + Patrimônio Líquido

Sendo assim, de acordo com os dados da questão, chegamos ao seguinte resultado:

2336 = 2111 + 8146 + Patrimônio Líquido →

→Patrimônio Líquido = 2336 – 2111 - 8146 →

→Patrimônio Líquido = –7921

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: trata-se da soma de todos os valores, sem a divisão entre ativo e passivo.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o valor está numericamente correto, mas encontra-se na forma positiva, quando o
correto seria a forma negativa. O erro está no cálculo das contas do Passivo – Ativo, com a apuração
de um Patrimônio Liquido positivo, como se a empresa estivesse com patrimônio suficiente para fazer
frente a todas as suas obrigações, e com sobra. O resultado apresentado por essa empresa é exatamente
o contrário: ela está com “Passivo a descoberto”.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse valor é o total do ativo. Não foram descontadas as contas conhecidas do passivo
e, portanto, o número está errado.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse valor é o total do ativo, tomado como número negativo, e não tem sentido.

E) Alternativa correta.

Justificativa: esse valor é o valor correto, conforme calculado anteriomente.

Questão 2. (Enade, 2006) Considere, no quadro a seguir, os saldos finais das contas patrimoniais da
Cia. Colibri, em 31.12.2005:

41
Unidade I

Caixa R$ 1000,00
Capital social R$ 1000,00
Contas a pagar até 90 dias R$ 1000,00
Contas a receber até 360 dias R$ 2000,00
Depreciação acumulada R$ 500,00
Financiamentos em longo prazo R$ 1200,00
Imobilizado R$ 2000,00
Lucro R$ 700,00
Provisão para crédito de liquidação duvidosa R$ 300,00
Salários a pagar R$ 300,00

Os valores totais do ativo e do Patrimônio Líquido são, respectivamente:

A) R$ 2800,00 e R$ 3600,00

B) R$ 4200,00 e R$ 1700,00

C) R$ 4200,00 e R$ 2800,00

D) R$ 4300,00 e R$ 1200,00

E) R$ 5000,00 e R$ 1000,00

Resolução desta questão na plataforma.

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