Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
artigo
CLASS DIVISIONS AND RELATIVE POVERTY IN BRAZIL
* Doutor em sociologia e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF /Juiz de Fora/MG/BR).
As investigações que realiza sobre classe social, raça, gênero, renda e saúde no Brasil têm sido publicadas
nos principais periódicos de Ciências Sociais do país. josealcidesf@yahoo.com.br.
191
favorecer mais ou desfavorecer menos os 1. Pobreza relativa, exclusão social e con-
grupos em maior desvantagem. A noção de trole de ativos
chances relativas oferece o benefício de cap-
tar, numa perspectiva comparativa entre os Embora a noção de pobreza seja um tan-
grupos, a realidade resultante da razão entre to intuitiva, existe muito debate sobre o
as oportunidades negativas de ser pobre (fa- conceito e sua forma de mensuração. Pobre-
tores incrementadores de risco) e as oportu- za diz respeito a um estado de falta de recur-
nidades positivas de não ser pobre (fatores sos que leva a um padrão de vida insuficien-
minimizadores e protetivos). te ou baixo. O nível insuficiente pode ser
Num contraponto à noção de pobreza considerado em termos de um mínimo de
como um padrão fixo de necessidades bási- necessidades humanas de sobrevivência ou
cas, o conceito de pobreza relativa norteia de padrões relativos de bem-estar em uma
o estudo por incorporar e revelar a dimen- sociedade. A adoção de uma linha de pobre-
são de comparação entre os grupos e as in- za absoluta baseia-se numa quantidade mí-
terdependências – entre os padrões para vi- nima de recursos que cada pessoa possui,
ver e os meios para desenvolver atividades sem relação com as situações e experiências
na sociedade. Agrega-se à análise da po- das demais pessoas, como se os padrões de
breza relativa de renda a dimensão de acú- vida não estivessem inter-relacionados. A
mulo de recursos, visando incorporar na re- dicotomia absoluto/relativo, no entanto,
presentação da privação relativa influên- tende a se mostrar problemática quando en-
cias diferenciadas dos fluxos de renda e tra em questão a mensuração do conceito,
suas flutuações. A abordagem da pobreza pois não há como fugir do julgamento das
na perspectiva de classe social leva em con- necessidades e da influência do contexto em
ta que este fenômeno envolve processos que se vive (PLATT, 2006). A noção e a men-
mais extensivos, associados aos mecanis- suração da pobreza absoluta como um pa-
mos institucionalizados de distribuição dos drão pré-determinado de “necessidades bá-
recursos valiosos, cujas consequências não sicas” têm sido aplicadas particularmente
se circunscrevem a um grupo estritamente em países periféricos ou em desenvolvimen-
diferenciado da maioria. Os processos sub- to, mas existe certo ceticismo a respeito da
jacentes à pobreza impactam em diversos capacidade de um limiar fixo de bem-estar
grupos e repercutem em várias direções; ao capturar a complexidade da pobreza. Nos
mesmo tempo, são socialmente seletivos na países desenvolvidos, têm sido preferidas
estruturação dos riscos de pobreza e afetam medidas relativas de pobreza que captam as
com mais força os membros mais vulnerá- diferenças de condições de vida entre o po-
veis das classes mais expostas ou menos bre e a maioria da sociedade, em um contex-
protegidas dos fatores de empobrecimento to nacional e histórico concreto. Medidas re-
(LAYTE; WHELAN, 2002; GOLDTHORPE, lativas são inseridas em um ambiente social,
2010). Essas orientações representam uma refletem os padrões prevalentes de necessi-
contribuição sociológica relevante para o dades, e mostram-se mais pertinentes para a
entendimento das desvantagens e dos ris- investigação sociológica das causas e ten-
cos de pobreza que estão conectados às di- dências da pobreza (BRADY, 2003). Na lite-
mensões institucionais e relacionais da es- ratura econômica, continua a circular a re-
trutura social. jeição da noção de pobreza relativa sob o ar-
Nota: * Presença de um ou outro tipo de pobreza. ** Presença cumulativa dos dois tipos de pobreza. As proporções es-
timadas são estatisticamente significativas ao nível de 0,01 ou mais. A mediana foi baseada na renda das categorias de
classe e não do conjunto da população.
LAYTE, R.; WHELAN, C. Cumulative disadvantage SANTOS, J. A. F. Esquema de classe para abordar a
or individualisation? A comparative analysis of desigualdade de saúde no Brasil. In: ROSENBERG, F.
poverty risk and incidence. European Societies, v. (Org.). Classes sociais, território e saúde: questões me-
4, n. 2, p. 209-233, 2002. todológicas e políticas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2014.
p. 39-59. Disponível em: <http://www.forumitaborai.
LISTER, R. Poverty. Cambridge: Polity, 2004.
fiocruz.br/node/974>. Acesso em: 14.10.2016.
MORILLAS, J.R. Assets, earnings mobility and the
SEN, A. Social exclusion: concept, applications,
black/white gap. Social Science Research, v. 36, n.
and scrutiny. Social Development Papers, n. 1,
2, p. 808-833, 2007.
Asian Development Bank, 2000.
NOLAN, B.; WHELAN, C. Loading the dice? A
SHAPIRO, T.; MELVIN, O. Black wealth/white
study of cumulative disadvantage. Dublin: Oak
wealth: a new perspective on racial inequality.
Tree Press, 1999.
New York: Routledge, 1995.
NOLAN, B.; WHELAN, C. Poverty and deprivation
SOARES, S. S. D. Metodologias para estabelecer a
in Europe. Oxford: Oxford University Press, 2011.
linha de pobreza: objetivas, subjetivas, relativas e
NOLAN, B.; MARX, I. Economic inequality, pov- relacionais. Texto para Discussão, n. 1381. Brasí-
erty and social exclusion. In: SALVERDA, W.; lia: IPEA, p. 1-49, 2009.
SMEEDING, T.M.; NOLAN, B. The Oxford hand-
TILLY, C. Durable inequality. Berkeley: University
book of economic inequality. Oxford: Oxford Uni-
of California Press, 1998.
versity Press, 2011, p. 315-341.
TILLY, C. Poverty and the politics of exclusion. In:
OLIVER, M.; GRANT, D.M. The persistence of pov-
NARAYAN, D.; PETESCH, P. Moving out of pov-
erty in a changing world. In: BLAU, J.R. (org.). The
erty: cross-disciplinary perspectives on mobility.
Blackwell companion to sociology. Oxford: Bla-
Washington: The World Bank, 2007, p. 45-76.
ckwell, 2000, p. 161-77.
TOWNSEND, P. Poverty in the United Kingdom.
OSÓRIO, R.G. et al. Perfil da pobreza no Brasil e
London: Allen Lane and Penguin Books, 1979.
sua evolução no período 2004-2009. Texto para
Discussão, n. 1647. Brasília: IPEA, p. 1-50, 2011. WATSON, D.; WHELAN, C.; MAITRE, B. Class and
Poverty: cross-sectional and dynamic analysis of in-
PLATT, L. Poverty. In: PAYNE, G. (Org.). Social
come poverty and lifestyle deprivation. In: ROSE, D.;
divisions. 2. ed. New York: Palgrave Macmillan,
HARRISON, E. Social class in Europe: an introduc-
2006. p. 275-304.
tion to the European Socio-economic Classification.
ROCHA, S. Pobreza no Brasil: afinal, de que se London: Routledge, 2010, p. 191-215.
trata? Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006.
WILSON, W.J. Social theory and the concept “un-
ROEMER, J. Free to lose: an introduction to Marx- derclass”. In: GRUSKY, D.; KANBUR, R. (Orgs.).
ist economic philosophy. Cambridge: Harvard Uni- Poverty and inequality. California: Stanford Uni-
versity Press, 1988. versity Press, 2006, p. 103-16.
SANTOS, J. A. F. Uma classificação socioeconômi- WRIGHT, E. O. Foundations of a neo-marxist class
ca para o Brasil. São Paulo, Revista Brasileira de analysis. In: WRIGHT, E. O. (org.). Approaches to
Ciências Sociais, v. 20, n. 58, p. 27-45, 2005. class analysis. Cambridge: Cambridge University
Press, 2005, p. 4-28.
Tabela A-1 - Chances Relativas (Odds ratio-OR), com Intervalos de Confiança (IC) de 99%, de estar em Po-
breza Relativa de Renda (indivíduos). Brasil, 1992, 2002 e 2011.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Pobreza relativa. Classe social. Estrutura Relative poverty. Social class. social struc-
social. Renda e recursos. Sociedade brasi- ture. Income and resources. Brazilian so-
leira. ciety.