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Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado

O capitalismo é um sistema global e invasivo. E nenhuma


contestação assente numa temática sectorial, localizada ou
num grupo de ungidos, é suficiente para o extirpar

1 - O capitalismo é um sistema global e invasivo

2 – Como combater os grandes auxiliares da gestão capitalista

a) – Áreas para articulação na luta anticapitalista

b) - Elementos para enformar uma rede anticapitalista

Desde há alguns anos atrás o tema do decrescimento tem surgido com maior frequência
como tema determinante nos meios de militância ambiental. Sem contestar a sua
relevância entendemos que existe um pendor para considerar o decrescimento como a
chave para obviar à deriva neoliberal e autoritária, no âmbito da qual o capitalismo coloca
em causa não só a Humanidade como a própria sustentabilidade do planeta, como suporte
de vida.

Parece-nos que essa leitura é muito parcial, quiçá ingénua e carecida de uma abordagem
integradora dos problemas que o capitalismo vem colocando, dia a dia com mais
perigosidade. E, sendo parcial, poderá vir a ser integrada na estratégia do capital, como
aconteceu com a abordagem ecológica em geral ou a do “crescimento sustentável”.

A defesa do decrescimento deve juntar-se a outras vertentes centrais do capitalismo e do


seu modelo político, a democracia de mercado ou, isoladamente, não produzirá os devidos
frutos; isto é, à libertação da Humanidade face à tirania do capital. Colocar a questão do
decrescimento é necessário mas não é suficiente; e, como abordagem parcelar arrisca a
sua integração na lógica do capital, sempre disposto a ceder em alguma coisa para que
tudo se mantenha na mesma, para prosseguir na busca da sua perpetuidade.

1 - O capitalismo é um sistema global e invasivo

No seio dos meios capitalistas de topo, dos que contam em termos globais – as
transnacionais e o sistema financeiro - a grande questão é a maximização da taxa de lucro,
a qual garantirá uma acrescida acumulação de capital. E aqueles utilizam como seus
principais elementos políticos de gestão – os estados-nação, as respetivas classes
políticas nacionais e as burocracias pluriestatais (como a que empesta a UE). Dito de um
modo mais popular e sintético, é preciso acrescer indefinidamente o PIB.

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Nem a Humanidade, as suas necessidades ou, os recursos do planeta são infinitos. Daí
logo se levanta uma questão lógica; a de que o crescimento infinito do PIB é um disparate
economicista que se coaduna apenas com a necessidade, a gula, essa sim, teoricamente
infinita, de acumulação de capital.

Nesse sentido, as classes políticas e, nomeadamente, os governos, nos seus jogos florais
com as oposições, com os media e seus plumitivos de serviço, todos se digladiam
constantemente sobre o crescimento do PIB, imputando responsabilidades à população,
exigindo sacrifícios no trabalho e na dimensão dos rendimentos, impondo austeridades e
digladiando-se em torno das habituais divergências de décimas nas percentagens de
crescimento do PIB, possível ou desejado. Em regra, qualquer previsão é, por natureza
imprecisa e rapidamente revista, como é bem visível para quem tenha a paciência de
acompanhar as revisões levadas a cabo durante o ano pelo caridoso FMI.

Em termos materiais, essas discussões têm pouco significado real; constituem show-off no
seio da classe política, para mostrar serviço e entreter a plebe, à semelhança das
discussões em torno das valias desportivas dos clubes de futebol; um show-off levado a
cabo para a intoxicação e captura da população, mormente dos frequentadores de actos
eleitorais, dos introdutores de papel nas chamadas urnas… cujo nome evoca, de facto, que
o eleitor nesse acto se fina, se prostra perante o mandarim ou conjunto de mandarins a
quem, estupidamente, entregou o direito de decisão sobre si e a sua vida.

O PIB é um conceito criado durante a Grande Depressão dos anos 30 por Kuznets, numa
época em que o paradigma liberal cedeu lugar à lógica keynesiana e, dado como impreciso
e pouco rigoroso pelo seu próprio criador. De facto, o PIB deixa de fora grandes parcelas
de rendimentos, sob o título criminalizante de economia paralela (calculada, em Portugal,
em cerca de ¼ do tal PIB), seja ela constituída pela atividade de quantos procuram fugir, à
punção fiscal – cuja dimensão é muito superior à dos benefícios que promove; ou, pelos
frutos de manobras e negócios, mais ou menos escusos, como sejam os tráficos de
drogas, seres humanos… ou animados pelos governos, como produtos da corrupção.
Finalmente, como parte dos apuros recentes no seio da UE para aumentarem o volume do
PIB, este passou a incluir uma estimativa dos rendimentos da prostituição e a tomar como
investimento… a aquisição de equipamento militar!

O capitalismo nesta sua fase neoliberal vem tornando o sistema financeiro como o principal
contribuinte para a acumulação; isso significa que grande parte da “produção” resulta da
especulação, da entrega pelos bancos centrais de dinheiro para ser lançado no “mercado
financeiro”, investido em ações, obrigações ou em produtos derivados, que incorporam
títulos de crédito e outros, num aglomerado imenso e em cadeia em que ninguém tem a
noção de quais serão os devedores originais e suas respetivas solvabilidades. Trata-se de
um jogo no escuro que, quando corre mal, tem impactos imensos e imprevisíveis perante
os quais se reconhece, hoje, não haver capacidade de intervenção dos bancos centrais,
dada a previsível crise que eclodirá dentro de poucos anos, arrastando o setor imobiliário,
os bancos comuns, as empresas de produção de bens e serviços e tornando impagáveis
as cascatas de dívida aceite por pessoas e empresas, lançados no desemprego os
primeiros e, na falência as segundas.

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À primeira vista, o eclodir da próxima crise financeira, tratando-se de uma jogo de
realidade virtual, afeta o sacrossanto PIB, promove o seu decrescimento mas este, só por
si não livrará a Humanidade das sequelas reais, na vida de grande parte dos humanos;
sejam o desemprego, os despejos, a pobreza, a falência dos sistemas de saúde e de
assistência social, as migrações massivas, a guerra e que certamente promoverão uma
maior predação dos recursos do planeta. Esses problemas contarão com a colaboração
das classes políticas, defensoras do capitalismo, que saberão reprimir adequadamente as
populações afetadas pois, para as forças armadas, as polícias e os tribunais – a área
repressiva de cada estado-nação – haverá sempre fundos.

O decrescimento oriundo de uma grande crise do capitalismo e dos sistemas políticos não
é um decrescimento que os seres humanos aplaudirão. Ninguém pretende que o
decrescimento seja materializado por guerras, escombros, pobreza, fome e repressão,
excepto alguns sectores marginais do capital, com vocação necrófaga.

O grande objetivo da Humanidade será o bem-estar de todos os seus elementos, a


satisfação das necessidades que só coletivamente possam ser satisfeitas – tranquilidade,
alimento, saúde, habitação, educação – tendo em conta os recursos do planeta, mormente
os não renováveis mas também a racionalidade na produção daqueles que são
susceptíveis de reprodução. Porém, hoje, muitos seres humanos vivem em permanente
contaminação pelo consumismo, ancorado na assunção de dívida, pela captura por parte
dos capitalistas dos seus rendimentos futuros; numa escravatura. Para além da compulsão
consumista e dos encargos com a dívida pessoal, há que juntar a cada indivíduo a dívida
que o “seu” Estado contrai para impulsionar o sistema financeiro global e apoiar os
capitalistas da paróquia nacional.

Para o efeito, cada Estado coloca-se acima e por cima dos indivíduos para garantir essa
escravatura, apontando para a solução individualizada de todos os problemas, a
compressão do tempo disponível, bem ao contrário das consignas de há cem anos,
quando os trabalhadores exigiam oito horas de trabalho, oito de descanso e oito de
convivência, cultura e gestão dos afetos. Hoje, os males do capitalismo conduzem a
programas de austeridade, a precariedade banaliza-se em nome da flexibilidade, perante a
ineficácia dos sindicatos ou dos partidos que se intitulam de esquerda, bem inseridos na
esfera do poder; as horas de trabalho aumentam, incluindo aí os enormes tempos de
transporte; tal como aumentam os custos de educação e saúde que os governos
gradualmente privatizam, se não de jure, de facto; para além da carga fiscal que incide
sobre o trabalho e o consumo, poupando benevolamente os capitalistas.

Por outro lado, o binómio consumismo-dívida captura não somente o rendimento presente
e o futuro, como gera um comportamento compulsivo de aquisição constante, de
substituição pelo mais moderno, pelo modelo na moda e que em breve, ficando subjetiva e
comercialmente obsoleto, será colocado como desperdício, no lixo, nos recipientes de
reciclagem ou num canto da despensa. Essa compulsão é uma doença, um desequilíbrio
que se manifesta numa constante insatisfação, só satisfeita no próximo acto de consumo…
que logo passa à situação de um dejá vu. E tem, naturalmente, sequelas financeiras uma
vez que parte do rendimento (ou uma nova dívida bancária) é destinado à aquisição do

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novo objeto. A moda, introduzida pela asfixiante publicidade, torna-se um acicate para o
consumo, para a compulsão, para a dependência, para a escravidão.

O capitalismo, na sua busca por matérias-primas não recua perante os impactos


ambientais, sobre a terra, o ar e os meios aquáticos, a geração de conflitos armados, a
deslocação de populações e de uma constante drenagem de mercadorias para destinos
incluídos numa malha cada vez mais densa; tal como acontece no âmbito da massificação
do turismo e das viagens profissionais (202157 aviões voaram no dia 29/6/2018).

Perante esta incompleta panóplia de danos e procedimentos, polarizar a ação apenas em


torno do decrescimento é muito insuficiente. Essa insuficiência é a mãe de uma muito
provável ineficácia e de desalento para muitos dos que se dediquem a essa causa, tal
como aconteceu com os movimentos ambientalistas e os partidos ecologistas que pairam
por aí. Por exemplo, os Verdes alemães, no tempo do seu chefe Joshka Fisher, apoiaram
a guerra da NATO contra a Sérvia, cedendo, portanto aos interesses estratégicos da
Alemanha. Em Portugal, um partido (?) dito Os Verdes é conhecido por melancia, pois tem
a casca verde, sendo vermelho por dentro; e não se lhe reconhece qualquer relevância, no
passado ou no futuro. Há alguns anos, uma conhecida associação ambientalista
recomendava à plebe a poupança energética inerente… ao apagar das luzes da árvore de
natal ao sair de casa. E o PAN parece estar muito orgulhoso por se poder ter o cão a
sacudir a água da chuva dentro do restaurante…

2 – Como combater os grandes auxiliares da gestão capitalista

Sendo o capitalismo um sistema global, complexo, invasivo e com meios humanos,


técnicos e financeiros de enorme dimensão, há a considerar duas questões:

 Definição de algumas das áreas da luta anticapitalista que convém articular,


federar, em atuações comuns e solidárias, aumentando assim a eficácia e a
visibilidade dessa luta;

 Definição dos elementos que deverão enformar a rede anticapitalista a qual,


incorporará, forçosamente a luta pelo decrescimento.

a) - Áreas para articulação na luta anticapitalista

i) Um empecilho chamado estado-nação1

O estado-nação é um espaço objetivamente ultrapassado em tempo de capitalismo


globalizado; o que é ocultado pelas classes políticas que têm ali o seu quintal de atuação,
mesmo que em delegação dos grandes poderes globais. Nasceu como suporte da
ascensão e engrandecimento do capitalismo, como transformação de senhorios feudais

1
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/11/o-futuro-precario-do-estado-nacao-1.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/12/o-futuro-precario-do-estado-nacao-2.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-3.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-4.html
http://www.slideshare.net/durgarrai/o-capitalismo-predatrio-e-a-estupidez-patritica-1

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em entidades bem definidas, com fronteiras, um aparelho de estado centralizado para gerir
a população e garantir mansos trabalhadores para os capitalistas locais e, para garantir
soldados motivados através do patriotismo inculcado na escola e mais baratos do que o
recrutamento de mercenários, como consta nas descrições de Aljubarrota ou Alcácer
Quibir.

O capitalismo globalizado, em torno das transnacionais, do capital financeiro e da


economia do crime, criou e serve-se de instrumentos globais de gestão dos seus
interesses – secundarizando o papel da grande maioria dos estados-nação – como são o
FMI/BM, a OCDE, a OMC, a ASEAN, a OMS, a NATO, o G7, o G20 … e a própria UE.

Assim, a essa lógica global, há que opor em alternativa, estratégias e planos concertados,
de caráter global ou regional, despidas de preconceitos ou hegemonismos de conteúdo
nacionalista; sem prejuízo do desenvolvimento de lutas de caráter mais localizado - como
tem sido a oposição à prospeção e exploração de hidrocarbonetos no Algarve – as quais
não deverão prescindir dos apoios e solidariedades vindos de outras áreas geográficas ou
sectoriais.

ii) – O poder tentacular dos estados e o papel das classes políticas

Os aparelhos de estado, com os seus governos, parlamentos, polícias, tribunais, leis e


classes políticas constituem os zeladores da boa ordem do capital no âmbito do estado-
nação, sabendo-se que este tem um grau de autonomia política condicionado pela sua
inserção geopolítica.

Havendo no seio de cada estado-nação onde vigore a democracia de mercado várias


estirpes de partidos, uns serão verdadeiros mandatários do capital, outros, da ala esquerda
do sistema político, apresentam algumas reticências e alternativas que, obviamente não
colocam em causa a ordem capitalista; apenas constituem formulações táticas para um
maior quinhão de lugares no parlamento ou no financiamento público.

O combate ao capitalismo exige uma oposição total e determinada contra as instituições


económicas e políticas do estado-nação.

Sempre considerámos ingénuo e lastimável a deslocação de grupos de ativistas à AR para


procurarem sensibilizar os deputados sobre as suas causas e cujos resultados são
forçosamente parcos. Uma experiência que conhecemos de perto ocorreu numa audiência
na AR perante uma comissão qualquer. O seu presidente, um deputado (que se veio a
revelar corrupto) folheava papéis sem prestar qualquer atenção ao assunto com que o
procuravam sensibilizar; e, os outros deputados pertencentes à mesma comissão… nem
sequer se dignaram a estar presentes.

O Estado, como gestor do capital, não é um defensor das causas alheias ou nefastas aos
capitalistas. E, os membros dos partidos, mormente os seus chefes e militantes de primeira
linha, são verdadeiros técnicos na manipulação e não são bem-vindos às movimentações
de contestação popular e alternativa; mesmo – como é mais comum – quando são
provenientes dos partidos de “esquerda”. As práticas desviantes e de objetiva sabotagem,
na paróquia lusitana são imensas e tiveram efeitos nefastos que contribuíram para o actual

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estado de abulia que ali se vive, como aliás no resto da Europa; e que chegaram ao ponto
da denúncia e da colaboração com a polícia2. Em suma, jamais deverão ter papéis de
relevo no combate ao decrescimento, como em todas as outras formas de combate ao
mundo do capital; são dispensáveis os cavalos de Tróia.

iii) – A intensa pressão sobre os recursos do planeta

Os recursos do planeta são limitados e, no caso dos minerais, nomeadamente os mais


raros, hoje utilizados em baterias e écrans, que são objeto de acerbas disputas, sobretudo
com a procura chinesa dirigida aos mesmos. No caso dos hidrocarbonetos, para além da já
tradicional libertação de gases como produto da sua combustão, a fraturação hidráulica
instalou-se com danos desastrosos sobre os níveis freáticos e a estabilidade dos solos. A
industrialização da agricultura exige a desmatação de imensas áreas, com prejuízo para os
seus habitantes, desalojados e refugiados em áreas menos adequadas à sua reprodução
enquanto comunidades (Bornéu, Brasil, por exemplo). A seca avança no Sahel e outras
partes de África, contribuindo para as guerras no Mali ou na Nigéria e empurra milhões de
pessoas para os subúrbios insalubres das grandes cidades africanas. Os mares mostram a
sua infestação com lixos vulgares, descargas de poluentes com efeitos devastadores sobre
a flora e a fauna, contaminando ainda as populações consumidoras de peixe; a que se
acresce a produção aquícola em que os animais são alimentados com rações e produzem
imensos detritos orgânicos pejados de antibióticos. Na Antártida e no Ártico a massa
gelada vai derretendo com o aumento da temperatura provocando o aumento do nível das
águas marinhas com a inerente ameaça das zonas ribeirinhas, para além das alterações
nas correntes; e na Sibéria assiste-se a fundas alterações no permafrost. As enormes
conurbações geram capacetes de gases tóxicos que impedem a circulação do ar, já
dificultada pela densidade e a altitude dos edifícios, entre os quais se concentram os gases
da circulação automóvel, bastas vezes entupida. Finalmente, em Portugal, a desertificação
de grande parte do território, acompanhada do plantio de eucalipto e a não limpeza dos
matos, promove incêndios devastadores como em Pedrógão Grande ou Monchique,
perante a incapacidade ou inoperância dos governos. Para culminar, um indivíduo tão
ignorante e arrogante, como Trump, decide que não há problema de alterações climáticas.

Poucas ou nenhumas destas evidências têm uma resolução no seio de qualquer estado-
nação e nem sequer é fácil que as várias classes políticas se congracem para obviar a
estes problemas, cada vez mais complicados, à medida que o tempo decorre.

2
Sobre os sistemas políticos na Europa, o papel das classes políticas ou as manobras da “esquerda”, veja-se:

http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/06/social-democracia-afunda-se-ou-renova.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/06/social-democracia-afunda-se-ou-renova_17.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/pensara-esquerda-sem-vacas-sagradas.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/02/o-grande-problema-chama-se-capitalismo.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/10/a-despolitizacao-o-controlo-social-e-as.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/a-uma-democracia-de-controlo-podera.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/amiseria-da-esquerda-que-anda-por-ai.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/10/o-que-e-uma-esquerda-pilares-para-sua.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/03/entre-roteiros-e-manifestos-uma-classe.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/09/em-epoca-de-vindima-abunda-vinho.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/11/os-movimentos-sociais-e-as-vigarices.html

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Somente a constituição de redes de coletivos, afetados ou não diretamente por algum dos
problemas referidos, dentro da escala geográfica adequada, podem constituir ações
susceptíveis de desafiar os poderes e inverter os processos; quiçá obrigando os governos
a agir. Recordamos, por exemplo nas ações mediáticas de desobediência e de desafio dos
poderes, como aconteceu, em tempos, a propósito dos aeroportos de Frankfurt ou das
Landes; ou do corte de eucaliptos, anos atrás numa aldeia trasmontana.

iv) – Contra o consumismo e a dívida

O consumismo, como dissemos atrás é um distúrbio do comportamento que se reproduz


por indução da publicidade e por mimetismo, para se estar na moda, de se pretender ser
um elemento promotor da modernidade.

Para o fomentar de forma continuada, as empresas dominantes constroem de modo


constante e criativo a pulsão consumidora, capturando as mentes, levando-as a comprar
compulsivamente mais e mais bens, a utilizar mais e mais serviços, como se vê nos
últimos anos nas caras concentradas e absorvidas por jogos no telemóvel.

Consumir é um acto facilitado ao máximo desde que se tenha dinheiro ou se desenvolvam


passos para o adquirir através do crédito; e o sistema financeiro não se faz rogado, uma
vez que, com as devidas garantias – hipotecas ou fianças – pode captar as pessoas para
uma vida inteira de pagamentos prestacionais, onde se incluem juros, naturalmente. Nessa
compulsão, muita gente passa à categoria de sobre-endividado, dividida entre a ânsia face
ao próximo acto de consumo e a preocupação com o pagamento das prestações da dívida.
E, as coisas tornam-se particularmente graves, perante a facilidade com que surgem os
despedimentos e a precariedade dos parcos subsídios de desemprego, tornando as
prestações da divida impagáveis.

Está aberto o caminho que o sistema financeiro mais gosta; a dependência perante tais
volumes de crédito que tornem o pagamento das prestações como uma renda vitalícia, a
transitar para os herdeiros. Para as empresas a situação não é muito distinta. E, daí que o
sistema financeiro, através do crédito, condicione ou controle a vida das famílias e das
empresas.

Quanto à dívida pública, o processo é mais fácil do ponto de vista do sistema financeiro e o
reembolso garantido uma vez que os Estados não vão à falência… enquanto houver uma
população para espoliar. E, existindo uma classe política, ancorada ou pressionada por
instituições globais (UE, FMI, por exemplo) haverá uma acrescida punção fiscal, a redução
da disponibilidade de serviços, privatizações e austeridade.

Há pois, um campo enorme de educação cívica e de mobilização contra a dívida, seja


particular seja, sobretudo, a pública. De facto, sendo a dívida um instrumento de captura3
por parte do sistema financeiro; que a sua constituição é generalizada a quase todos os

3
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/12/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura_14.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/11/a-divida-como-troca.html

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países e famílias; que a sua existência é um instrumento essencial para a reprodução do
capital, com a preciosa ajuda dos bancos centrais, a questão da dívida é um elemento
estrutural, de caráter político e que compete a uma cidadania informada e atuante colocá-
la com um conteúdo político, como uma via de perpetuação da acumulação capitalista. E,
portanto é não globalmente reestruturável ou reduzível como é propagado pelos governos
e classes políticas em geral4, que pretendem apresentar a dívida como uma transação
comercial e jamais como um instrumento de dominação e reprodução do capital que só
politicamente pode e deve ser encarado.

A dívida global, em 2017 era $ 215 000 000 000 000, correspondentes a 325% do PIB
mundial, algo que jamais poderá ser pago mas cuja remuneração exige uma enorme
pressão sobre os povos e a produção de perigosos expedientes para a continuidade da
acumulação de capital, como os produtos derivados cujo montante, no ano passado era de
$ 544 biliões… 822% do mesmo PIB!

Falar das espirais de dívida é apontar ao sistema financeiro e às classes políticas, aos
famosos reguladores. Pretende-se anular a especulação financeira e tornar o investimento
dirigido apenas a algo dedicado ao bem-estar dos humanos e do planeta no seu todo; e
dependente das decisões e das poupanças das várias comunidades humanas, de maior ou
menor abrangência territorial.

v) – O militarismo e a guerra

Como se sabe, a guerra é uma forma de fazer política, com outros meios que não o debate
político. A guerra sempre foi algo de destruidor, de vidas e bens e, no seguimento das
guerras que acompanharam a colonização por parte dos europeus, surgiram as guerras
imperiais entre capitalismos nacionais rivais. Hoje, com a globalização do capital, as
guerras tendem a ser localizadas ou praticadas no seio da assimetria – forças armadas
poderosas e bem munidas de meios e tecnologias contra grupos armados (por definição
terroristas na gíria mediática ou das classes políticas); e mais escassamente sob a forma
de invasões declaradas, como a dos EUA e seus subalternos ocidentais, no Iraque.

A profusão de armas, a sua incorporação de tecnologia, torna-as mais caras, mais


destrutivas e fonte de grandes negócios, enormes lucros que, na lógica capitalista são
parcialmente gastos na pesquisa de novas formas de destruição ou áreas de atuação,
como a criação do “Corpo do Espaço”5 pelos EUA, com o qual se pretende acrescentar
uma nova área como arena de guerra. A presença recente de Trump na Arábia Saudita,
munido de catálogos de armas para venda, simboliza a habitual relação entre as classes
políticas e os negócios de armas. Cameron, pelo contrário, foi surpreendido pela guerra na

4
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/11/reestruturar-divida-publica-nada.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/05/a-iac-mandou-toalha-ao-chao.html
5
O custo deste delírio que tanto agradará à indústria militar e aos generais mais idiotas será de $ 13000
M durante cinco anos
https://www.sfchronicle.com/news/politics/article/Air-Force-Space-Force-Would-Cost-13-Billion-
13236410.php?utm_campaign=email-premium&utm_source=CMS%20Sharing%20Button&utm_medium=social

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Líbia, quando se aprestava a vender armas a Kadhafi… provavelmente afetando o
crescimento do PIB inglês nesse ano…

Na Europa, a criação da UE foi um instrumento de diluição das rivalidades entre as várias


potências, após um vasto historial de guerras; que contudo, se verificaram na ex-
Jugoslávia, num processo de partilha de influências e através da NATO. Por outro lado, na
maioria dos casos, os países europeus são pequenos, isoladamente sem defesa possível
numa guerra moderna; e é muito duvidoso que os europeus se entusiasmem com guerras.

O maior problema é a NATO, a grande máquina de guerra, totalmente dominada pelos


estrategas do Pentágono e que utiliza uma muito improvável ameaça russa para
demonstrar objetivos, que na realidade se cingem à permanência de tropa dos EUA, em
vários países europeus, ao aproveitar da proximidade europeia face ao Médio Oriente e à
África (o Africom tem sede… em Estugarda); em suma, à presença militar na margem
oriental do Atlântico, sabendo-se que na margem ocidental, os EUA não permitem tropas
que não com a sua bandeira. A menoridade política na UE contribui para a estratégia
global dos decadentes EUA, que dividem a Europa e empurram a Rússia para a
constituição de um grande bloco euro-asiático, onde a China prepondera e que terá como
adversário principal os países da NATO.

Na maioria dos países, terminadas as guerras de conquista colonial no caso dos europeus,
as forças armadas têm pouca utilidade e escassa utilização. Primeiro, porque a sua
manutenção em termos operacionais é demasiado cara e daí que em geral as forças
armadas sejam apenas um repositório de gente desocupada ou inutilmente ocupada, que
se mantém por tradição e como resquício do tempo de afirmação dos estados-nação, para
orgulho dos patriotas.

O surgimento da ideia do regresso ao serviço militar obrigatório em Portugal constitui um


gasto inútil, sem efeitos reais sobre a operacionalidade das forças armadas que, hoje se
reduz ao envio de meios para o Báltico… para dissuadir uma invasão russa, claro está,
inseridos na lógica imperial da NATO. Por outro lado, não nos parece que uma presença
nas fileiras seja um contributo para algo que não o acirrar o nacionalismo e o patriotismo,
os “valores” da autoridade e da hierarquia, costumeiras plataformas que apontam para o
racismo e o fascismo.

A extinção da NATO e a emancipação estratégica da Europa, passa pela renúncia


expressa à guerra, ancorada na transformação das FA’s em forças integradas na proteção
civil, na vigilância das águas territoriais e dos seus recursos. A indústria de armamento
pode dar bons lucros mas não traz saúde nem segurança ao planeta ou à vida.

vi) – Factores organizativos e psicológicos – autoridade, hierarquia, democracia de


mercado

O combate ao capitalismo, nas suas diversas vertentes e componentes, deverá


contemplar, entre outros objetivos, os já referidos estados-nação, os aparelhos de estado,
as classes políticas, a destruição ambiental, o consumismo e a dívida, o militarismo e a
demente dependência face crescimento.

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O grande objetivo desse combate deverá ser a prossecução da satisfação das
necessidades da população humana – alimentação, saúde, paz, educação, habitação –
enquanto agregado de comunidades e de forma cooperativa e solidária, tendo em conta o
essencial respeito por um ambiente saudável, uma gestão racional dos recursos
necessários à vida humana, animal e vegetal; isto é, procurando a minimização da pegada
humana.

Esse combate representa ou deve representar o combate da Humanidade contra o


capitalismo, os seus promotores e beneficiários; mas esse combate não pode reproduzir
táticas ultrapassadas e pouco eficazes, como contestações localizadas e individualizadas,
restritas ao quadro de um estado-nação; não pode reproduzir oportunismos ou
infantilidades como o entendimento de que as mudanças podem acontecer no quadro de
um capitalismo “progressista” ou benevolente; nem considerar que as instituições políticas,
elitistas e excludentes das multidões de prejudicados e feridos pela existência do
capitalismo sejam fontes de soluções; nem que essa mudança - que mais será uma
revolução - possa ocorrer com a reprodução do quadro ideológico do relacionamento
social, baseado na autoridade, na hierarquia e na tomada de decisão concentrada em
elites ou grupos de ungidos, como no quadro das atuais democracias musculadas ou de
mercado.

A autoridade, hoje, manifesta-se nas nossas vidas em quase todas as situações - através
do Estado e da sua burocracia, protagonizada pelos governos; nas empresas, através dos
seus donos, acionistas e chefes menores; na família, onde o patriarcado continua a impor-
se; na escola e, nas formas mais agudas, nos quartéis e nas prisões.

As hierarquias segmentam os humanos e materializam relações de poder de uns sobre os


outros; e ancoram-se na autoridade que, por hábito, se apresenta como um princípio
fundador nas relações humanas, firmemente apresentado (e aceite) como algo de
biológico, contido nos genes.

Designamos os actuais regimes políticos presentes na maior parte dos estados-nação por
democracias de mercado, por mais que os meios políticos digam que a democracia
(subentenda-se a sua degenerescência, de mercado) é o pior dos regimes políticos, se se
excluírem todos os outros, numa já gasta formulação de Churchill.

1. Na realidade, a designação de democracia de mercado emana do facto de se


estabelecer uma concorrência entre gangs partidários para a posse da autoridade
estatal/autárquica e last but not least, para o controlo do pote. Em tudo idêntica à
concorrência entre marcas de cerveja ou canais de televisão, na captação de
audiência. Tal como nestes casos, os consumidores não decidem sobre a
qualidade dos produtos, também nas eleições, a escolha é feita sobre os partidos
em concorrência, não havendo cabimento à formulação das propostas
apresentadas, por parte dos consumidores/eleitores;

2. Estes regimes tornam os membros da classe política como verdadeiros ungidos


pelos deuses, apresentados e que se apresentam eles próprios, como um escol de
gente de gabarito superior à população em geral, como sacrificados lutadores pelo
bem-estar do povo;
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3. Ao povo compete escolher como seus representantes gente integrada naquele
escol, com a inelegibilidade de facto de quantos não pertencem a partidos políticos,
sobretudo os de maior dimensão, uma vez que os de menor gabarito ficam
relegados ao papel de animadores das feiras eleitorais;

4. As decisões da classe política não são passíveis de anulação ou alteração por


parte do eleitorado; nem este pode diretamente colocar questões à votação mas,
quanto muito, sensibilizar os membros da classe política para essas questões, com
o seu acolhimento dependente da exclusiva e soberana vontade dos mandarins;

5. Nas designadas eleições, as propostas são elaboradas pela classe política, com a
divina e exclusiva missão de interpretar os desígnios populares… desde que não
coloquem em causa a manutenção do regime; este, em regra, petrificado em
constituições que fixam autoridades, hierarquias, oligarquias, limitações e ameaças;

6. A administração pública, teórica executora das medidas conducentes à satisfação


das necessidades coletivas, de caráter nacional ou autárquico, está domesticada,
privatizada pelo governo de turno, que a infestará de elementos da casta ou dóceis
imbecis, estabelecendo uma hierarquia, em regra ineficaz, ineficiente e atravessada
por compadrios e actos corruptos de utilização de dinheiros públicos para
benefícios privados;

b) Elementos para enformar uma rede anticapitalista

Qualquer alternativa ao capitalismo, passa pela recusa da democracia de mercado e, no


contexto da organização da contestação com a paciente e pedagógica construção de
coletivos, na base, com uma verdadeira democracia, sem lideranças, hierarquias, com as
tomadas de decisão no seio de cada coletivo.

Assim, considera-se essencial:

 A constituição de grupos, locais, regionais, sectoriais ou temáticos, de contestação


do sistema capitalista e das suas instituições;

 A constituição de redes rizomáticas, articuladas, de grupos solidários, para além


dos planos nacionais e, forçosamente, numa perspetiva global de actuação;

 A total recusa de posições nacionalistas, racistas, sexistas, patriarcais ou


discriminatórias por qualquer outro motivo;

 A recusa da colaboração ou da conciliação com as instituições do capitalismo, seus


governos e classes políticas;

 A prática de ações mediáticas ou mediatizadas de esclarecimento, de propaganda


e desobediência civil;

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 Os grupos são abertos à participação de todos mas, deverão excluir dirigentes e
membros proeminentes da classe política, como forma de obviar às suas práticas
de manipulação, diversão ou sabotagem;

 Internamente esses grupos deverão funcionar na base da decisão coletiva, tanto


quanto possível com caráter presencial, consensualizada, sem fórmulas autoritárias
e hierárquicas;

 Quando necessária uma representação do grupo, a escolha compete ao grupo, é


temporária, rotativa e terminada a qualquer momento por decisão do próprio grupo.

Este e outros textos em:

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