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Desde há alguns anos atrás o tema do decrescimento tem surgido com maior frequência
como tema determinante nos meios de militância ambiental. Sem contestar a sua
relevância entendemos que existe um pendor para considerar o decrescimento como a
chave para obviar à deriva neoliberal e autoritária, no âmbito da qual o capitalismo coloca
em causa não só a Humanidade como a própria sustentabilidade do planeta, como suporte
de vida.
Parece-nos que essa leitura é muito parcial, quiçá ingénua e carecida de uma abordagem
integradora dos problemas que o capitalismo vem colocando, dia a dia com mais
perigosidade. E, sendo parcial, poderá vir a ser integrada na estratégia do capital, como
aconteceu com a abordagem ecológica em geral ou a do “crescimento sustentável”.
No seio dos meios capitalistas de topo, dos que contam em termos globais – as
transnacionais e o sistema financeiro - a grande questão é a maximização da taxa de lucro,
a qual garantirá uma acrescida acumulação de capital. E aqueles utilizam como seus
principais elementos políticos de gestão – os estados-nação, as respetivas classes
políticas nacionais e as burocracias pluriestatais (como a que empesta a UE). Dito de um
modo mais popular e sintético, é preciso acrescer indefinidamente o PIB.
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Nem a Humanidade, as suas necessidades ou, os recursos do planeta são infinitos. Daí
logo se levanta uma questão lógica; a de que o crescimento infinito do PIB é um disparate
economicista que se coaduna apenas com a necessidade, a gula, essa sim, teoricamente
infinita, de acumulação de capital.
Nesse sentido, as classes políticas e, nomeadamente, os governos, nos seus jogos florais
com as oposições, com os media e seus plumitivos de serviço, todos se digladiam
constantemente sobre o crescimento do PIB, imputando responsabilidades à população,
exigindo sacrifícios no trabalho e na dimensão dos rendimentos, impondo austeridades e
digladiando-se em torno das habituais divergências de décimas nas percentagens de
crescimento do PIB, possível ou desejado. Em regra, qualquer previsão é, por natureza
imprecisa e rapidamente revista, como é bem visível para quem tenha a paciência de
acompanhar as revisões levadas a cabo durante o ano pelo caridoso FMI.
Em termos materiais, essas discussões têm pouco significado real; constituem show-off no
seio da classe política, para mostrar serviço e entreter a plebe, à semelhança das
discussões em torno das valias desportivas dos clubes de futebol; um show-off levado a
cabo para a intoxicação e captura da população, mormente dos frequentadores de actos
eleitorais, dos introdutores de papel nas chamadas urnas… cujo nome evoca, de facto, que
o eleitor nesse acto se fina, se prostra perante o mandarim ou conjunto de mandarins a
quem, estupidamente, entregou o direito de decisão sobre si e a sua vida.
O PIB é um conceito criado durante a Grande Depressão dos anos 30 por Kuznets, numa
época em que o paradigma liberal cedeu lugar à lógica keynesiana e, dado como impreciso
e pouco rigoroso pelo seu próprio criador. De facto, o PIB deixa de fora grandes parcelas
de rendimentos, sob o título criminalizante de economia paralela (calculada, em Portugal,
em cerca de ¼ do tal PIB), seja ela constituída pela atividade de quantos procuram fugir, à
punção fiscal – cuja dimensão é muito superior à dos benefícios que promove; ou, pelos
frutos de manobras e negócios, mais ou menos escusos, como sejam os tráficos de
drogas, seres humanos… ou animados pelos governos, como produtos da corrupção.
Finalmente, como parte dos apuros recentes no seio da UE para aumentarem o volume do
PIB, este passou a incluir uma estimativa dos rendimentos da prostituição e a tomar como
investimento… a aquisição de equipamento militar!
O capitalismo nesta sua fase neoliberal vem tornando o sistema financeiro como o principal
contribuinte para a acumulação; isso significa que grande parte da “produção” resulta da
especulação, da entrega pelos bancos centrais de dinheiro para ser lançado no “mercado
financeiro”, investido em ações, obrigações ou em produtos derivados, que incorporam
títulos de crédito e outros, num aglomerado imenso e em cadeia em que ninguém tem a
noção de quais serão os devedores originais e suas respetivas solvabilidades. Trata-se de
um jogo no escuro que, quando corre mal, tem impactos imensos e imprevisíveis perante
os quais se reconhece, hoje, não haver capacidade de intervenção dos bancos centrais,
dada a previsível crise que eclodirá dentro de poucos anos, arrastando o setor imobiliário,
os bancos comuns, as empresas de produção de bens e serviços e tornando impagáveis
as cascatas de dívida aceite por pessoas e empresas, lançados no desemprego os
primeiros e, na falência as segundas.
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À primeira vista, o eclodir da próxima crise financeira, tratando-se de uma jogo de
realidade virtual, afeta o sacrossanto PIB, promove o seu decrescimento mas este, só por
si não livrará a Humanidade das sequelas reais, na vida de grande parte dos humanos;
sejam o desemprego, os despejos, a pobreza, a falência dos sistemas de saúde e de
assistência social, as migrações massivas, a guerra e que certamente promoverão uma
maior predação dos recursos do planeta. Esses problemas contarão com a colaboração
das classes políticas, defensoras do capitalismo, que saberão reprimir adequadamente as
populações afetadas pois, para as forças armadas, as polícias e os tribunais – a área
repressiva de cada estado-nação – haverá sempre fundos.
O decrescimento oriundo de uma grande crise do capitalismo e dos sistemas políticos não
é um decrescimento que os seres humanos aplaudirão. Ninguém pretende que o
decrescimento seja materializado por guerras, escombros, pobreza, fome e repressão,
excepto alguns sectores marginais do capital, com vocação necrófaga.
Para o efeito, cada Estado coloca-se acima e por cima dos indivíduos para garantir essa
escravatura, apontando para a solução individualizada de todos os problemas, a
compressão do tempo disponível, bem ao contrário das consignas de há cem anos,
quando os trabalhadores exigiam oito horas de trabalho, oito de descanso e oito de
convivência, cultura e gestão dos afetos. Hoje, os males do capitalismo conduzem a
programas de austeridade, a precariedade banaliza-se em nome da flexibilidade, perante a
ineficácia dos sindicatos ou dos partidos que se intitulam de esquerda, bem inseridos na
esfera do poder; as horas de trabalho aumentam, incluindo aí os enormes tempos de
transporte; tal como aumentam os custos de educação e saúde que os governos
gradualmente privatizam, se não de jure, de facto; para além da carga fiscal que incide
sobre o trabalho e o consumo, poupando benevolamente os capitalistas.
Por outro lado, o binómio consumismo-dívida captura não somente o rendimento presente
e o futuro, como gera um comportamento compulsivo de aquisição constante, de
substituição pelo mais moderno, pelo modelo na moda e que em breve, ficando subjetiva e
comercialmente obsoleto, será colocado como desperdício, no lixo, nos recipientes de
reciclagem ou num canto da despensa. Essa compulsão é uma doença, um desequilíbrio
que se manifesta numa constante insatisfação, só satisfeita no próximo acto de consumo…
que logo passa à situação de um dejá vu. E tem, naturalmente, sequelas financeiras uma
vez que parte do rendimento (ou uma nova dívida bancária) é destinado à aquisição do
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novo objeto. A moda, introduzida pela asfixiante publicidade, torna-se um acicate para o
consumo, para a compulsão, para a dependência, para a escravidão.
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https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/11/o-futuro-precario-do-estado-nacao-1.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/12/o-futuro-precario-do-estado-nacao-2.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-3.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-4.html
http://www.slideshare.net/durgarrai/o-capitalismo-predatrio-e-a-estupidez-patritica-1
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em entidades bem definidas, com fronteiras, um aparelho de estado centralizado para gerir
a população e garantir mansos trabalhadores para os capitalistas locais e, para garantir
soldados motivados através do patriotismo inculcado na escola e mais baratos do que o
recrutamento de mercenários, como consta nas descrições de Aljubarrota ou Alcácer
Quibir.
Assim, a essa lógica global, há que opor em alternativa, estratégias e planos concertados,
de caráter global ou regional, despidas de preconceitos ou hegemonismos de conteúdo
nacionalista; sem prejuízo do desenvolvimento de lutas de caráter mais localizado - como
tem sido a oposição à prospeção e exploração de hidrocarbonetos no Algarve – as quais
não deverão prescindir dos apoios e solidariedades vindos de outras áreas geográficas ou
sectoriais.
O Estado, como gestor do capital, não é um defensor das causas alheias ou nefastas aos
capitalistas. E, os membros dos partidos, mormente os seus chefes e militantes de primeira
linha, são verdadeiros técnicos na manipulação e não são bem-vindos às movimentações
de contestação popular e alternativa; mesmo – como é mais comum – quando são
provenientes dos partidos de “esquerda”. As práticas desviantes e de objetiva sabotagem,
na paróquia lusitana são imensas e tiveram efeitos nefastos que contribuíram para o actual
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estado de abulia que ali se vive, como aliás no resto da Europa; e que chegaram ao ponto
da denúncia e da colaboração com a polícia2. Em suma, jamais deverão ter papéis de
relevo no combate ao decrescimento, como em todas as outras formas de combate ao
mundo do capital; são dispensáveis os cavalos de Tróia.
Poucas ou nenhumas destas evidências têm uma resolução no seio de qualquer estado-
nação e nem sequer é fácil que as várias classes políticas se congracem para obviar a
estes problemas, cada vez mais complicados, à medida que o tempo decorre.
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Sobre os sistemas políticos na Europa, o papel das classes políticas ou as manobras da “esquerda”, veja-se:
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/06/social-democracia-afunda-se-ou-renova.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/06/social-democracia-afunda-se-ou-renova_17.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/pensara-esquerda-sem-vacas-sagradas.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/02/o-grande-problema-chama-se-capitalismo.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/10/a-despolitizacao-o-controlo-social-e-as.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/a-uma-democracia-de-controlo-podera.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/amiseria-da-esquerda-que-anda-por-ai.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/10/o-que-e-uma-esquerda-pilares-para-sua.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/03/entre-roteiros-e-manifestos-uma-classe.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/09/em-epoca-de-vindima-abunda-vinho.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/11/os-movimentos-sociais-e-as-vigarices.html
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Somente a constituição de redes de coletivos, afetados ou não diretamente por algum dos
problemas referidos, dentro da escala geográfica adequada, podem constituir ações
susceptíveis de desafiar os poderes e inverter os processos; quiçá obrigando os governos
a agir. Recordamos, por exemplo nas ações mediáticas de desobediência e de desafio dos
poderes, como aconteceu, em tempos, a propósito dos aeroportos de Frankfurt ou das
Landes; ou do corte de eucaliptos, anos atrás numa aldeia trasmontana.
Está aberto o caminho que o sistema financeiro mais gosta; a dependência perante tais
volumes de crédito que tornem o pagamento das prestações como uma renda vitalícia, a
transitar para os herdeiros. Para as empresas a situação não é muito distinta. E, daí que o
sistema financeiro, através do crédito, condicione ou controle a vida das famílias e das
empresas.
Quanto à dívida pública, o processo é mais fácil do ponto de vista do sistema financeiro e o
reembolso garantido uma vez que os Estados não vão à falência… enquanto houver uma
população para espoliar. E, existindo uma classe política, ancorada ou pressionada por
instituições globais (UE, FMI, por exemplo) haverá uma acrescida punção fiscal, a redução
da disponibilidade de serviços, privatizações e austeridade.
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http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/12/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura_14.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/11/a-divida-como-troca.html
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países e famílias; que a sua existência é um instrumento essencial para a reprodução do
capital, com a preciosa ajuda dos bancos centrais, a questão da dívida é um elemento
estrutural, de caráter político e que compete a uma cidadania informada e atuante colocá-
la com um conteúdo político, como uma via de perpetuação da acumulação capitalista. E,
portanto é não globalmente reestruturável ou reduzível como é propagado pelos governos
e classes políticas em geral4, que pretendem apresentar a dívida como uma transação
comercial e jamais como um instrumento de dominação e reprodução do capital que só
politicamente pode e deve ser encarado.
A dívida global, em 2017 era $ 215 000 000 000 000, correspondentes a 325% do PIB
mundial, algo que jamais poderá ser pago mas cuja remuneração exige uma enorme
pressão sobre os povos e a produção de perigosos expedientes para a continuidade da
acumulação de capital, como os produtos derivados cujo montante, no ano passado era de
$ 544 biliões… 822% do mesmo PIB!
Falar das espirais de dívida é apontar ao sistema financeiro e às classes políticas, aos
famosos reguladores. Pretende-se anular a especulação financeira e tornar o investimento
dirigido apenas a algo dedicado ao bem-estar dos humanos e do planeta no seu todo; e
dependente das decisões e das poupanças das várias comunidades humanas, de maior ou
menor abrangência territorial.
v) – O militarismo e a guerra
Como se sabe, a guerra é uma forma de fazer política, com outros meios que não o debate
político. A guerra sempre foi algo de destruidor, de vidas e bens e, no seguimento das
guerras que acompanharam a colonização por parte dos europeus, surgiram as guerras
imperiais entre capitalismos nacionais rivais. Hoje, com a globalização do capital, as
guerras tendem a ser localizadas ou praticadas no seio da assimetria – forças armadas
poderosas e bem munidas de meios e tecnologias contra grupos armados (por definição
terroristas na gíria mediática ou das classes políticas); e mais escassamente sob a forma
de invasões declaradas, como a dos EUA e seus subalternos ocidentais, no Iraque.
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http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/11/reestruturar-divida-publica-nada.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/05/a-iac-mandou-toalha-ao-chao.html
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O custo deste delírio que tanto agradará à indústria militar e aos generais mais idiotas será de $ 13000
M durante cinco anos
https://www.sfchronicle.com/news/politics/article/Air-Force-Space-Force-Would-Cost-13-Billion-
13236410.php?utm_campaign=email-premium&utm_source=CMS%20Sharing%20Button&utm_medium=social
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Líbia, quando se aprestava a vender armas a Kadhafi… provavelmente afetando o
crescimento do PIB inglês nesse ano…
Na maioria dos países, terminadas as guerras de conquista colonial no caso dos europeus,
as forças armadas têm pouca utilidade e escassa utilização. Primeiro, porque a sua
manutenção em termos operacionais é demasiado cara e daí que em geral as forças
armadas sejam apenas um repositório de gente desocupada ou inutilmente ocupada, que
se mantém por tradição e como resquício do tempo de afirmação dos estados-nação, para
orgulho dos patriotas.
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O grande objetivo desse combate deverá ser a prossecução da satisfação das
necessidades da população humana – alimentação, saúde, paz, educação, habitação –
enquanto agregado de comunidades e de forma cooperativa e solidária, tendo em conta o
essencial respeito por um ambiente saudável, uma gestão racional dos recursos
necessários à vida humana, animal e vegetal; isto é, procurando a minimização da pegada
humana.
A autoridade, hoje, manifesta-se nas nossas vidas em quase todas as situações - através
do Estado e da sua burocracia, protagonizada pelos governos; nas empresas, através dos
seus donos, acionistas e chefes menores; na família, onde o patriarcado continua a impor-
se; na escola e, nas formas mais agudas, nos quartéis e nas prisões.
Designamos os actuais regimes políticos presentes na maior parte dos estados-nação por
democracias de mercado, por mais que os meios políticos digam que a democracia
(subentenda-se a sua degenerescência, de mercado) é o pior dos regimes políticos, se se
excluírem todos os outros, numa já gasta formulação de Churchill.
5. Nas designadas eleições, as propostas são elaboradas pela classe política, com a
divina e exclusiva missão de interpretar os desígnios populares… desde que não
coloquem em causa a manutenção do regime; este, em regra, petrificado em
constituições que fixam autoridades, hierarquias, oligarquias, limitações e ameaças;
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Os grupos são abertos à participação de todos mas, deverão excluir dirigentes e
membros proeminentes da classe política, como forma de obviar às suas práticas
de manipulação, diversão ou sabotagem;
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