Sei sulla pagina 1di 20
Serge Moscovici 150.135 A PSICANALISE, SUA IMAGEM E SEU PUBLICO ‘Tradugo de Sonia Fuhrmann hk 559993 U.F.M.G, - BIBLIOTECA UNIVERSITARIA On 182761307 NAO DANIFIQUE ESTA ETIQUETA y EDITORA VOZES Petrépolis 1 REPRESENTAGAO SOCIAL: UM CONCEITO PERDIDO 1.1 Miniaturas de comportamento, c6pias da realidade e formas de conhecimento “As representagdes sociais séo entidades quase tangivels; cit- cculam, se cruzam e se cristalizam continuamente através da fala, do gecto, do encontro no universo cotidiano. A maioria das rela- ‘q0e8 sociais efetuadas, objetos produzidos e consumidos, comu- nicagées trocadas esto impregnaadas delas. Como sabemos, cor- respondem, por um lado, a substéncta simbolica que entra na ela- boragao, e, por outro lado, & prética que produz tal substan coma a eiéncia ou os mitos cortespondem a uma pratica cient ca ou mitica ‘No entanto, se a realidade das representagdes sociais ¢ facil- mente apreendida, 0 conceito nao o é. S40 muitas as razées para isso, Razes em grande parte historicas, por isso é preciso deixar ‘aos historiadores a tarefa de descobri-las. As razdes nao histéricas se reduzem a uma tinica: a posigéo “mista”, no cruzamento de uma série de conceitos sociolégicos e de uma série de conceitos psicolégicos. # nesse cruzamento que temos de nos situar. De al: guma forma, a perspectiva é professoral, mas é também uma for- ma de colocar em evidéncia 0 glorioso passado do conceito, de atualizé-lo e compreender a especificidade. Voltemos atrés, mais precisamente em Durkheim. Em sua reflexdo, as representagdes sociais constituiam uma classe mui- to geral de fenémenos psiquicos ¢ sociais compreendendo 0 que chamamos de ciéncia, ideologia, mito etc. Elas diferencia vam 0 aspecto individual do aspecto social, e paralelamente a vertente perceptiva da vertente intelectual do funcionamento coletivo: “um homem que nao pensaria por conceitos néo seria ‘um homem; pois nao seria um ser social, reduzido que estaria somente ao aspecto perceptivo individual, ele seria indiferencia- do e animal"’. “Pensar conceitualmente nao é s6 isolar © agrupar juntas as caracteristicas comuns a certos objetos; é subsumit over riavel no permanente, o individual no social" Se, nesses textos, Durkheim queria simplesmente dizer que @ vida social ¢ a condigéo de todo pensamento organizado e vam- bém a reciproca -, sua atitude nao provoca objegoes. No entanto, na medida em que ele nao aborda de frente, nem explica os modes de organizagéo do pensamento, mesmo sendo eles socais, 8 no- Gao de representagao perde sua clareza. Talvez devéssemos a isso © abandono da nogéo: os antropélogos se voltaram para o estudo dos mitos, os socidlogos para 0 estudo das ciéncias, os inguistas ypara 0 estudo da lingua e sua cimenséo seméntica etc. A fim de dar-lhe uma significagao determinada, é indispensavel fazer com que deixe seu papel de categoria geral, relacionada ao conjunto das producdes ao mesmo tempo intelectuais e sociais. Pensamos ‘que, por esse vies, seré possivel determiné-la, destacé-la da car deia dos termos similares. ‘Trata-se de uma forma do mito, ¢ poderiamos confundit, hole ‘em dia, mito e representagoes sociais? Na verdade, o exemplo Gos mitos, das regulagdes que efetuam no comportamento 6 Nat comunicagées has sociedades ditas primitivas, sua manele de conceituar uma experiéncia concreta sao a8 mutes analogias com fenémenos proprios & no: pidas ai se misturaram. Frequent neira de rebaixar as opinioes e as atitudes atribuic: Glas pessoas — a8 pessoas simples — que néo Chegaram ao grau de racionalidade © consciéncia daselites, que, osclarecidas, batizam e criam essas mitologias ou escrevem s0- pre elas, a : 912, 4, DURKHEIM, §. Les formes elémentaires de la vie religieuse. Paris: Alean, 1 p. 626. ‘2. Wid. p. 821 ‘Taj teansposigéo nunca se impde e a diferenga parece cunda’, Nossa sociedade diversificada, na qual os indiviuee ‘glos0s, artisticos e modos de controle do amb {te menos suieitos Cipressdes: a experiéncia cienifica, por exemplo, Bnquanto mito constitui, para 0’ ‘homem dito primitivo, uma ciéncia total, uma "f- ‘a se reflete a pratica e a percepgao da nature- vza das relagoes socials; para o homem dito modemo, a naturezs ve sslagées socials s6 6 una das vias de apreensao do mundo crete, circunsorita em seus fundamentos e consequéncias. Se Ge grupos ou os individuos recorrem a la ~ nao consistindo om Ss. seen pabiiraria ~ € pata trar proveito de algumas das méltiplas ppossibilidades que séo oferecidas a cada um. Assim, a5 popula- ges de origem espanhola do sudoeste dos Estados Unidos possi. Wim pelo menos quatro tegistros para classificar as doenas: a) 0 Gorhecimento popular medieval sobre a dor, b) a cultura das tribos merindias; 6) amedicina popular inglesa nas zonas urbanas @ T= vais, d)a clencia médica. Conforme a gravidade da afecgao, ait: agdo econdmica, esses grupos emp! pata noe aa regam wm ou utro dos regis- os para procurar o tratamento. Observa-se, assim, citcuns "$9, assim, circunstanct- as socialmente definidas, nas quais se deixam guiar pelas repre- ssentagées coletivas ou pelas informagé 190es cientificas, Ao optarem ‘Por uma ou outra orientagdo, 0s grupas, nesse caso como em ou- ‘tos, so conscientes dos motivos aos quais obedeceram, ‘Compreende-se a partir dai que os tragos de representagbes, tanto sociais quanto intelectuais, formados nas sociedades nas quais a ciéncia, a técnica ea flosofia esto presentes, sofrem sua {nfluéncia e se formam no seu prolongamento e opostos aelas. Ve- ‘emos mais adiante quais s4o esses tracos. Enquanto isso, identi- ficar mito e representagdo social, transfer as propriedades psi «quicas e soctolégicas do primeiro para o segundo sem mais, signi- fica contentar-se com metéforas ¢ aproximacoes falaciosas, onde 6 necessério, ao contrario, crcunscrever 0 lado essencial da reall- dade. Frequentemente cémoda essa aproximagto tem po tivo depreciar nosso "senso comum”, mostrando seu ca {erio, irracional e, no limite, errado; nem por iss0 0 mito é eleva- do ao seu verdadeiro valor. Nao nos alonguemos mais. Temos as- sim de encarar a representagao social tanto em sua textura psi- ‘col6gica auténoma como algo que faz parte de nossa sociedade, de nossa cultura ‘Trata-se de uma dimensio ou de um subproduto da ciéncia? Durkheim parece ter acreditado nisso, jé que tratou a ciéncia, as- sim como a religiéo, como caso particular. Bscrevia': “O valor que atribuimos a ciéncia depende em suma da ideia que fazemos cole- tivamente de sua natureza e de seu papel na vida; isto 6, ela ex- tessa um estado de opinido. De fato, tudo na vida social, a propria ciéncia, repousa sobre a opinido.” Certamente, Mas, a parte dessa opinigo na estrutura e desenvolvimento das teorias cientificas 6 cada vez mais reduzida. As vezes, ela veloriza mais uma ciéncia que outra, a biologia que a fsica, apsicandlise que aetologia,eaté ‘mesmo decide 0s investimentos de ordem financeira e politica; nisso consiste seu papel, ou quase. Por outro lado, 0 que sobra é decidido com a ajuda das experiéncias, calculos,invengdes teori- cas. As representagdes sociais, quanto a elas, decorrem, pelas ob servagées, pelas andlises e empréstimos de nopGes e de lingua- gens é esquerda e direita, das ciéncias e das filosofas etiram as conclusdes que se impdem, Muitas formulas que encontram epli- 4 0p.» 628 rT cages em biologia - a luta pela vida, por exemplo - ou em cién Gras socials os exemplos neste caso seram incontaves ~ esten- deram as conclusdes dando-lhes um carter marcante. No entan- 1o, elas permanecem marginais ao nticieo duro de cada ciéncia. As ‘mesmas observagSes se aplicam a outros conceitos da série: ideo- logia, visio de mundo etc., que tendem a qualiicar globalmente ‘um conjunto de atividacies intelectuais e praticas. Do ponto de vis- ta quennos interessa aqui, tal exercicio, enfadonho em principio, ¢ ‘nit, O resultado seria idéntico ao obtido por comparagdo das re presentagdes sociais do mito e da ciéncia, ou seja, que elas const tuem uma organizagdo psicolégica, uma forma de conhecimento particular de nossa Sociedade e trredutivel a qualquer outra, Poderiamos perguntar por que nesta altura recorremos a uma ‘ogo jé antiga. Uma vez que nao lhe foi concedida a posi¢ao do- minante, a de trago distintivo do social, de categoria englobando todas as formas de pensamento, para acomodé-la numa posicao ‘mais modesta de forma especifica entre outras, ela é recuperada ‘com outras nogées psicossociologicas equivalentes. Assim, asn0- (QGes de opinido (atitude, preconceito etc.) e de imagem parecem ‘muito proximas. Telvez isso se verfique num sentido muito restri- to, mas é falso num sentido fundamental. Vejamos em detalhe a razio disso. Sabe-se que a opinido é, por um lado, uma férmula socialmen: te valorizada a qual um sujeito adere e, por outro lado, uma toma dda de posigéo sobre um problema controverso [discutido] da socie- dade. Quando convidamos os sujeitos a responder questao “A psicanalise pode ter influéncia salutar sobre as condutas crim: nais?” As respostas - 69% “sim”, 23% “nao”, 8% “sem tesposta’ — nos indicam o que uma determinada coletividade pensa da aplica- ¢40 mencionada. Nada é dito de seu contexto, nem dos critérios| de julgamento [opinido], nem dos conceitos que o subentendem. ‘Armaioria dos estudos descreveu a opiniéo como sendo pouco es- tavel, levando em consideragao pontos especificos [particulares} finalmente ele se mostra um momento da formacao das atitudes e dos esteredtipos. Seu carater parcial, parcelado, é admitido por to- dos. Mais geralmente a nogdo de opinido implica: + uma reagdo dos individuos a um objeto que & dado do exte- ‘or, acabado, independentemente do ator social, de sua in- tengo ou de seus pontos de vista; 43 «uma ligagdo direta com 0 comportamento; ojulgamento [opi- 1ido) recai sobre o abjeto ou o estimulo e constitu, de cert for- ‘ma, um antincio, um duplo interiorizado da ago fubura. Nese sentido, uma opiniao, enquanto atitude, é considerada ‘unicamente do lado da resposta e enquanto “prepatagéo da agéo", @ considerada comportamento em miniatura, Por essa ra- ire uma virtude predicativa, pois deduz-se o que osu- Jeito vai fazer conforme o que diz, nido, ao menos no que diz respeito aos pressupostos de base. Foi usado para designar uma organizago mais complexa ou mais coe- Tente de opinides ou avaliagSes. Em um livro extremamente inte- ressante, Boulding insiste na criagdo de uma ciéncia, “eikonics", dedicada as imagens. Essa proposigao indica uma lacuna eviden. te da psicologia social que deveria ocupar-se do estudo delas, Observamos também a marca de renovagao do interesse pelos fe- ‘némenos simb6licos e de oerta insatisfagdo com respeito a manei- a como foram abordados. Othando de perto, somos obrigados a cconstatar que as ideias &s quais recomemos néo sao muito satisfa- torias. A imagem 6 concebida como um reflexo interno da reali- dade externa, cSpia conforme no pensamento daquilo que se en- contra fora dele, assim, é reprodugéo passiva do dado imediato. Escreve-se: “O individuo leva na memoria uma colegdo de ima- gens do mundo em seus diferentes aspectos, Essas imagens s40 ‘construgdes combinatorias, andlogas as experiéncias visuais; em diversos graus, sto independentes, ao mesmo tempo no sentido de induzir ou prever as estruturas das imagens-fontes basean- do-se na estrutura das outras, e no sentido em que a modifiagao de certas imagens cria um desequilibrio resultando numa tendén- cia a modificar outras imagens" Podemos supor, que essas imagens so espécies de "sensa- ‘ges mentais", impressdes que 0s objetos ou as pessoas deixam em nosso cérebro. Ao mesmo tempo, elas mantém vivos os tragos do passado, ocupam os espacos de nossa memoria para prote- ¢gé-los contra a tempestade cerebral da mudanga ereforcam osen- timento de continuidade do ambiente e das experiéncias individu- ais e coletivas. Podemos, pata tanto, lembré-los, revivificé-los na ‘memoria, da mesma forma que comemoramos uma data impor- ‘ante, evocamos uma paisagem ou lembramos umn encomtro ocot- = rido tempos atrda, Blas sempre exeoutam uma fitragem ¢ res ‘tam dessa fltagem de informages adquiridas ou tecebidas pelo sujeltorelativas & satisfacdo que provoca ow é coeréncia que lhe & necesséria. Observa-se assim como a imagem é determinada pe- Jos fins e que sua fungdo principal 6a selegéo daquilo que vem do Interior, mas, sobretudo, do exterior: "As imagens tém o papel de «um anteparo seletivo que serve para receber novas mensagens @ comandam frequentemente a percepgio e a interpretagéo da- quelas mensagens que nao so intelramente ignoradas, rejeita- das ou recalcadas' (Quando falamos de representagdes sociais, em geral partimos de outras premissas. Primeiramente, consideramos que ndo existe reoorte entre 0 universo exterior e 0 do individuo (ou do grupo), que o sujeito ¢ 0 objeto néo sio totalmente heterogéneos em se campo comum. O objeto esta inscrito num contexto ativo, move- igo, pois ¢ parcialmente concebido pela pessoa ou pela coletivi- dade como prolongamento de seu comportamento e, para eles, 86 existe como funcéo dos meios e dos métados que permite co- nhec®-lo: Por exemplo, a definicao da psicanalise, ou do papel da ‘Psicandlise, depende da atitude em relagao a ela ou ao psicanalis- ‘ae da experiéncia particular do autor da definigao. Desconhecer papel criador de objetos, de acontecimentos, de nossa capacida- de representativa, equivale a acreditar que nao existe relagdo en- ‘te nosso "reservatorio” de imagens e nossa capacidade de combi- ‘né-las, de retirar delas combinagves novas e surpreendentes. Ora, (08 autores que sb vem nessas imagens cbpias fiis do real, pare- ‘com negar ao género humano a capacidade, no entanto bem evi- dente, ¢ da qual aarte, ofolclore, o senso comurn dio conta a cada dia. Mas 0 sujeito se constitui ao mesmo tempo; pois, conforme organiza ou aceita o teal, se situa no universo social e material. HA comunhao de génese e de cumplicidade entre sua propria defini- 0 € a definicao do que nio é ele, assim, a definigao do que é no ssujeito ou outro sujeito. Assim, quando o sujeito exprime opinido sobre o objeto, deve- ‘mos supor que ele jé tem tepresentado alguma coisa do objeto, que o estimulo a resposta séo formados juntos. Em suma, a res- posta nao é uma teagdo ao estimulo, mas, até certo ponto, sua ori- ‘gem, O estimulo é determinado pela resposta. O que isso significa « ‘praticamente? Normalmente, se um individuo exprime uma atitu- de negativa em relagéo & psicandlise ~ e diz que ela é uma ideclo- 6 Gia ~ interpretamos essa atitude jamento ‘como um posicion a laedo uma cinta, umainatutio ete Nenana oc 10s que a psicanzlise esta confinada no campo da ideolo. ado", néo 86 porque guia os comportamentos, mas sobtens Porque remodela e reconstitu! os elementos do ambtente np or] Comportamento deve acontecer. Ela possibita dar sentido ao SLPortamento,intogrélo numa rede de rlagoes na qual esi {ede ao objeto, fomecendo, ao mesmo tempo, as noes, a e0- ‘Bas ©0 fund de observagées que tomam estas elagbes poss. (Os pontos de vista dos inaividuos e dos grupos so, em segui- da, encarados tanto polo crétr de comunicagdo com pelo ca ter de expressio, De fato, as imagens, as opiniSes so normalmen- te definidas, estudadas, pensadas, unicamente por traduzirem @ ‘Posteo ea escala de valor doindividuo ou da coletividade. Na rea- lidade,trata-se somente de uma parte retirada da substéncia sim- bélica elaborada polos individuos ou coletividades que, trocando suas maneiras de ver, tendem ase inluenciar e a se remodelar 1e- tprocamente. Os preconceites racais ou socias, por exemplo, aparentemente nurica esto isolados, s4o retirados de um fundo de sistomas, de raciocinias de linguagens, que dizem respeito & natureza biol6gicae social do homem e suas relagdes com o min- do. Esses sistemas sio intercambidveis, comunicados entre as ge- agdes @ as classes © as que sao objeto desses preconceitos 580 mais ou menos obrigadas a entrar no molde preparado e a ele so conformar. De maneira que, retomando a formula de Hegel, se tudo o que é racionalé real, é porque trabalhamos 0 "real" a mu ‘her, onegro, o pobre etc. - para que se confomme ao “racional” ‘A prépria enquete, meio de observagéo, executa um recorte anélogo. A pessoa que tesponde ao questionério faz mais do que escolher uma categoria de esposta; ela transmite uma mensagem espeaitica. Expressa 0 desejo de ver as coisas evoluirem num ou noutro sentido; procura a aprovagao ou espera que sua resposta Ihe traga uma satisfagdo de ordem intelectual ou pessoal. Essa pessoa 6 perfeitamente consciente que, diante de outro pesquisa- dor ou em outras cizcunsténcias, sua mensagem seria diferente Tal variaco néo indica, de sua parte, uma falta de autenticidade (ou uma atitude maquiavélica destinada a esconder a opinido “ver- 46 [ dadeira’. $6 0 processo comumn de interagio é questionado, o que salionta alguns aspectos do problema discutido ou dirige o empre {0 do cbdigo adaptado ao relacionamento efémero que ocorre nessa ocasiao. No fluxo de relagdes entre grupos e pessoas, esse é processo que mobiliza e da sentido as representagdes. “O pro- bloma da consciéncia, escreve Heider, da abertura para o mun- do ou, como quiserem, da representago, recebe uma significagao particular se considerarmos as relagdes a interagdo entre pes: ‘50as.” Os conceitos de imagem, de opinido, de atitude nao cons\- dram essas ligagdes nem a ebertura que as acompanha. Os gru- ‘pos ado vistos de maneira estética, ndo tanto como criadores @ co- ‘municadores, mas como utilizadores e selecionadores da informa (40 que circula na sociedade. Ao contrério, as representagdes s0- Giais sfo conjuntos dinémicos, seu estatuto sendo o da produg4o de comportamentos e de relagdes com o ambiente, da agdo que ‘modifica uns e outros, e ndo a reprodugdo de comportamentos ou relagées, como reagdo a um dado estimulo extero. Em resumo, discernimos sistemas que possuem uma légica e linguagem particular, uma estrutura de implicagdes que influen- ciam tanto 08 valores quanto 08 conceitos. Um estilo de discurso que Ihes & proprio. Nao os consideramos como “opinides sobre” ‘ou como “imagens”, mas como “teotias”, como “ciéncias coleti- vas” sui generis, destinadas a interpretagao e a formacéo Elas vo além do que é imediatamente dado na ciéncia ou na fi- losofia, além da classificagéo dada dos fatos e acontecimentos. Pode-se observar af um corpo de temas ou de principios que pos- ‘sui unidade e se aplica a zonas de existéncia e de atividades preci- sas: a medicina, a psicologia, a fisica, a politica etc. O que é rece- bido, inclusive nessas zonas, é submetido ao trabalho de transtor- maga, de evolugdo, para se tornar conhecimento que a maloria de nés emprega na vida cotidiana, Quando isso ocorre, o universo fica povoado de seres, o comportamento fica carregado de signifi cages, 08 conceltos so realcados ou se concretizam (se objeti- vam, como dizer), entiquecendo a estrutura do que para cada um Garealidade, Ao mesmo tempo, so propostas formasnas quais as, transagdes comuns da sociedade encontram expressio €, re00- nhegamos, as transagdes sto regidas por essas formas - simbéli- cas, evidentemente — e as forgas que af se cristalizam se tornam disponiveis. Compreende-se a causa. Elas determinam 0 campo das comunicagées possiveis, dos valores ou idelas presentes nas 47 visdes de mundo compartilhadas ou admitidas. Por essas caracte- risticas - a especificidade e a criatividade da vida coletiva ~ as 1e- presentagdes sociais diferem das nogdes socioldgicas e psicol6- gicas com as quais séo comparadas e dos fenémenos que Ihes correspondem. 1.2 As filosofias da experiéncia indireta 1.2.1 A sociedade dos ciontistas amadores Todo conheoimento, é obvio, pressupée uma prética, uma atmosfera que Ihe é propria e que lhe dé compo e, sem diva, um papel particular do sujeito conhecedor. Cada um de nds preenche diferentemente esse papel quando se trata de exercer trabalho na arte, na técnica, na cléncia ou quando se tata da formagao das re- presentagdes socias. Nesse caso, cada pessoa parte das observa ges e, sobretudo dos depoimentos que se acumulam a respel- to dos acontecimentos correntes: olangamento de um satélte, 0 amincio de uma descoberta médica, 0 discurso de um persona- ggem importante, uma experiéncia vivida contada por um amigo, um Livro ido et. Amaioria das observagdes ¢ depoimentosé fetta por quem in- ventaiou, organizou, aprendeu conforme seus proprios interes ses, Joralistas, cientistas,técnicos, homens politicos nos fomne- ‘cem continuamente explicagbes de decisbes polticas ou de ope- ragdes militares, de experiéncias cientificas ou de invengéestéc- nicas, Essas expicaydes~ artigos, livros, coneréncias ec. ~ esto muito distantes de nds porque, a bem dizer, ¢impossivel hes apreender alinguagem, teproduair o contetido,confronté-las com informagées e experiéncias mais crets e conformes a nosso am- biente imediato. Juntas parecem pertencer a um “mundo do dis- curs0" construdo sobre materia cudadosamente controlados a partir de regras explicitas das quais somos o objeto, com nossos problemas, nosso futuro e, em definttivo, tudo o que existe. Mas seas expicandes so, 20 mesino tempo, muito préximas porque nos dizem respeto; as observagées interferem em nossas préprias ‘observagbes e as linguagens ou nogdes, elaboradas a partir de fatos que desconhecemos e permaneoem desconhecidos, fxam ‘nosso ola, diigem nossos questionamentos.O que vemos ¢set- 48 timos, de certa forma, esté repleto de invisivel ede coisas que sto provisoriamente inacessiveis aos nossos sentidos. Como os ge- hes e os atomos que circulam por nossas imagens, palavras ¢ pensamentos. Certas coisas existem, certos acontecimentos ocorrem, disso ‘estamos oertos; frequentemente nos faltam critérios necessérios ‘para comprovar essa existéncia material. O individuo que procura ‘sabe que ele est lé e 0 encontra. Todavia, sem um satélite no céw st {ndicios precisos e sem ter consciéneia, toma por satéllte uma es- trela que brilha, um avido que se desioca a grande altitude ou ou- t10s objets meteoroligicos ou éptioas. Caso pense em outros se res vivendo em outros planetas, perceberd eventualmente um vel- colo espacial que aterrisa na Terra, como nossos vefculos aterris- sam na Lua. Tomar esses desejos por realidades é uma maneira de tomar reais suas visdes. Da mesma forma, a pessoa que, depois da psicandlise, conhece a importéncia dos “complexos”, os constata eos encontra constantemente. Num caso como no outro, basea- rmo-nos na realidade presumida e, entéo, julgamos necessério re- constitui-la, torné-la familiar. A passagem da demonstragao para a observacao, do fato relatado a hipdtese concreta sobre o objeto visado, breve, a transformagao de um conhecimento indireto em conhecimento direto é 0 tinico meio de se apropriar do universo extemo. Extemo em duplo sentido. O que ndo nos pertence - mas subentende-se que pertenga 20 especilista-@ 0 que esta fora dos limites do campo de nossa aco. ‘Mas ao se tornar intemo, e porque se torna interno, o saber pe- netra no “mundo da conversagao”, as trocas verbais ocorrendo ha algum tempo. Uma frase, um enigma, uma teoria, apreendidos no ai, agugam a curiosidade, fixam a atengao. Fragmentos de didlo- 0s, leturas descontinues, expressées cuvidas em outros lugares voltam ao pensamento dos interlocutores, se misturam as expres- ‘sGes jé conhecidas; as lembrancas jorram, as experiéncias co- rmung.asabsorver, Po essas trocas verbais ndo 6 as informapbes ‘sdo transmitidas, mas cada um adquire uma competéncia enciclo- pédica sobre o que é objeto da discussao. A medida que a conver- sagdo coletiva progride, o luxo se regulariza, as expresses tor- nam-se mais precisas. As atitudes se organizam, os valores sio colocados, a sociedade se habilita por novas frases e visdes; cada tmestomando ado paratansmitrosaboremantorum ugarne—) circulo de atengao em torno daqueles que “esto por dentro”, cada ‘um procurando se documentar aqui ¢ ali para permanecer “no cit- culo”. Alexandre Moszkowiski, homem de letras e critico berl- nonse, descreve a entrada da relatividade no “mundo da conver- Sago do piiblico’, isto é, fora do circulo cientifico. “A conversagio das pessoas cultas girava em tomo desse polo e ndo podia dele se afastar; quando se distanciava um pouco, logo voltava ao mesmo tema, levada pela necessidade ou pela circunstancia, Conseguia aquele que, entre os jornais, publicasse mais artigos, curtos ou. longos, técnicos ot no, e néo importava o autor, bastando que ttratasse da teoria de Einstein. Em todos os cantos e recantos, ram organizadas sessées de iniciago, que ocomriam a noite; uni- versidades itinerantes se formaram nas quais os professores fa- ‘iam com que o piblico se esquecesse dos infortinios das tés di- ‘mensdes da vida cotidiana para conduzi-lo aos Champs Blysées das quatro dimensées. As mulheres se esqueciam das preocupa- (Ges domésticas para discutir os sistemas de coordenadas ou 0 princfpio da simultaneidade e os elétrons de carga negativa. To- das as questBes contempordneas haviam edqulrido um centro fxo a partir do qual 0s fios podiam ser puxados. A relatividade tor- nou-se a senha suprema.” Exagerando um pouco, cada um de nés pode dizer que fot tes- temunha, em determinada geragéo, de ocasi6es nas quais a fala e © interesse puiblico foram manifestados em escala e interesse se- melhantes. Voltaremos a falar sobre o significado dessa conversa- ‘gdo no funcionamento da sociedade. No momento, era necessério indicar esse lugar no qual a pessoa, ou 0 grupo, se aproxima e inte rioriza os temas ¢ objetos de seu mundo, e o faz. como tum clinico que acumula varios indicios, comunica e verifica com 0 doente para, em seguida, opinar sobre a doenga. Ele recorre &s andlises secundariamente; acredita no que 0 doente relata, nos casos que vivenciou e estudou, nos casos relatados pelos colegas, e tira as conclustes que lhe parecem validas. Por uma espécie de habito que é como uma segunda natureza ele percebe, pelos sintomas € descrigées, uma ordem que nao tem meios de reproduzir pela ex- periéncia, nem quer demonstrar por formulas e estatisticas. Essa pritica de organizar as relagdes entre regites dispares da reflexdo sobre 0 real pertence mais ao arquivista que ao clinic Ele trabalha com textos impressos; retine, recorta e combina em fungéo de um cédigo de andlise e de classificagao materializados ‘numa sequéncia de registros, Néo julga se ¢ verdadetto, qual a ‘qualidade dos textos aos quais aplica seu codigo e que coloca nos arquivos; nao sofrendo assim, as mesmas imposigées do especia- lista que registra e analisa minuciosamente o que é para saber valor do conteiido, se corresponde as normas cientificas, técnicas ou artisticas e se pode ser utilizado. Livre para construir, 0 arqui vista, da mesma forma, pode associar nogdes, dados e artigos per- tencentes aos mais diversos dominios e escolas. As tinicas barre ass quais se depara ado 0s custos e as técnicas de gerenciamen- to das informagdes. A tentagdo para o enciclopedismo e o sistema \inico é grande, Cada um, como "homem comum” - fora de sua profissdo -, se comporta da mesma maneira diante desses “docu- ‘mentos" que so os artigos de jomal, um acidente na rua, uma dis: ‘cusséono café ouno clube, um livrolido, uma teportagem televisi- va etc. Resume, recorta, classifica e softe as mesmas tentagdes que as do arquivista: colocar todos num mesmo universo. Nada nos impée a prudéncia do especialista, nada nos probe de juntar 8 diferentes elementos que nos foram transmitidos, de inclut-los. o conhecimento, mas sim “estar informado’ ou ficar fora do circulo coletivo. Desse trabalho, mil vezes comega- do, repetido e deslocado de um ponto a outro da esfera, os aconte- cimentos e surpresas que captam a atengao fazer suigit nossas representacdes socials. Os membros da sociedade sao transfor- mados numa espécie de “cientistas amadores”, como os “curio sos" e “virtuosos” que, nos séculos passados, povoaram as acade- mias, sociedades filoséficas, universidades populares, cada um deles procurando manter contato com as ideias que estéo no are responder as perguntas que os atormentam. Nenhuma nogao vem. com o modo de usar, nenhuma experiéncia apresenta-se com 0 método, e quando as recebe, o individuo as usa como bem enten- de, O importante é poder integré-los num esquema coerente do real ou passar para uma linguagem que permita falar daquilo que 0 ‘mundo fala. O duplo movimento de familiarizagéo com 0 teal, en: contrando sentido ou uma ordem por meio do que é dito, ¢ do ge- renciamento dos étomos de conhecimento dissociados do contex- to logico normal, tem nisso tudo um papel capital. Corresponde a ‘uma preocupacao constante: preencher as lacunas, suprimir as distancias entre, por um lado, o que conhecemos e, por outro, 0 51 um procurando se documentar aqui e ali para permanecer “no cit- culo”. Alexandre Moszkowiski, homem de letras e critico berli- nense, descreve a entrada da relatividade no “mundo da conver- ‘sag&0 do pitblico”, isto 6, fora do circulo cientifico. “A conversagéo das pessoas cultas girava em torno desse polo e no podia dele se afastar; quando se distanciava um pouco, logo voltava ao mesmo tema, levada pela necessidade ou pela circunstancia. Conseguia aquele que, entre os jomais, publicasse mais artigos, curtos ou Jongos, técnicos ou no, e ndo importava o autor, bastando que ‘tatasse da teoria de Einstein. Em todos os cantos e eram organizadas sessdes de iniciagao, que ocorriam a noi versidades itinerantes se formaram nas quais os profess ziam com que o piblico se esquecesse dos infortiinios das trés di- mensées da vida cotidiana para conduzi-lo aos Champs Elysées das quatro dimensées. As mulheres se esqueciam das preocupa- g6es domésticas para discutir os sistemas de coordenadas ou 0 principio da simultaneidade e os elétrons de carga negativa. To- das as questes contempordneas haviam adquirido um centro fixo a partir do qual os fios podiam ser puxados. A relatividade tor- nou-se a senha suprema.” Exagerando um pouco, cada um de nés pode dizer que foi tes- temunha, em determinada geragao, de ocasides nas quais a fala e 0 interesse piiblico foram manifestados em escala e interesse se- melhantes. Voltaremos a falar sobre 0 significado dessa conversa- ¢4o no funcionamento da sociedade. No momento, era necessario indicar esse lugar no qual a pessoa, ou 0 grupo, se aproxima e inte- rioriza os temas e objetos de seu mundo, e o faz como um clinico que acumula varios indicios, comunica e verifica com 0 doente ‘para, em seguida, opinar sobre a doenga. Ele recorre as andlises secundariamente; acredita no que o doente relata, nos casos que vivenciou e estudou, nos casos relatados pelos colegas, e tira as conclusdes que Ihe parecem validas. Por uma espécie de habito que é como uma segunda natureza ele percebe, pelos sintomas e descrigdes, uma ordem que nao tem meios de reproduzir pela ex- periéncia, nem quer demonstrar por férmulas e estatisticas Essa pratica de organizar as relagdes entre regides dispares da reflexdo sobre 0 real pertence mais ao arquivista que ao clinico. Ele trabalhia com textos impressos; reine, recorta e combina em fungo de um cbdigo de andlise e de classificagéo materializados numa sequéncia de registros. Nao julga se é verdadelro, qual a qualidade dos textos aos quais aplica seu cédigo e que coloca nos arquivos; néo softendo assim, as mesmas imposigoes do especia- lista que registra e analisa minuclosamente 0 que lé para saber 0 vvalor do contetido, se corresponde as normas cientificas, técnicas ou artisticas se pode ser utlizado. Livre para construlf, o arqul- vista, da mesma forma, pode associar nogoes, dados e artigos per ‘tencentes aos mais diversos dominios e escolas. As tinicas bartei- ras as quais se depara so os custos e as técnicas de gerenciamen- todas informages. A tentagdo para o enciclopedismo e o sistema linico 6 grande. Cada um, como "homem comum” - fora de sua profisséo -, se comporta da mesma maneira diante desses “docu- ‘mentos” que s40 os artigos de jomal, um acidente na rua, uma dis- ccussiono café ou no clube, um livrolido, uma reportagem televisi- vva etc, Resume, recorta, classifica e sofre as mesmas tentagdes que as do arquivista: colocar todos num mesmo universo. Nada nos impée a prudéncia do especialista, nada nos proibe de juntar 08 diferentes elementos que nos foram transmitidos, de inclui- ‘ou exclui-los de uma classe “légica” conforme as regras $0 cientificas e préticas que dispomos. O objetivo néo é desenvol co conhecimento, mas sim “estar informado", "no ser ignorante” ou ficar fora do circulo coletivo, Desse trabalho, mil vezes comera- do, repetido e destocado de um ponto a outro da esfera, 0s aconte- cimentos e surpresas que captam a atengo fazem surgir nossas representagdes sociais. Os membros da sociedade s4o tans! ‘mados numa espécie de “cientistas amadores”, como os “curio- sos” ¢ "virtuosos" que, nos séculos passados, povoaram as acade- mias, sociedades filoséficas, universidades populares, cada um deles procurando manter contato com as ideias que esto no ar € responder as perguntas que os atormentam. Nenhuma nogéo vem ‘com 0 modo de usar, nenhuma experiéncia apresenta-se com 0 ‘método, e quando as recebe, o individuo as usa como bem enten- de. 0 importante é poder integré-los num esquema coerente do real ou passar para uma linguagem que permita falar daquilo que o mundo fala. O duplo movimento de familiarizagdo com o real, en contrando sentido ou uma ordem por meio do que ¢ dito, e do ge renciamento dos dtomos de conhecimento dissociados do contex- to légico normal, tem nisso tudo um papel capital. Corresponde a ‘uma preocupagdo constante: preencher as lacunas, suprimir as disténcias entre, por um lado, o que conhecemos e, por outro, 51 que observamos e completar as “casas vazias" de um saber por “casas cheias” de outro. O saber da ciéncia pelo saber religioso, 0 de uma disciplina pelos preconceitos daqueles que a exercem.)Ao mesmo tempo, desvinculadas de seus contextos, conceitos e mo- Gelos se ramificam e proliferam com surpreendente fecundidade e Grande liberdade, tendo como tinico limite a fascinagdo que exer- Cem e a ansiedade que provocam quando questionam o que se tenta deixar fora de qualquer diivida. Da mesma forma que num jogo no qual conhecemos e experimentamos os fenémenos mate- als, coletivos, antes de verificar a existéncia real e de “verdadei- Tamente” coloca-los em pratica, nos arriscamos a fazer esbogos @ rascunhos, nos livramos a manobras intelectuais e repetigdes que Mostram o espetaculo do mundo como mundo do espetculo. Cer- ‘tamente os “cientistas amadores” (e todos somos amadores num. dominio ou outro) habitam o mundo da conversagao, com habitos de arquivistas - uma pontinha de autodidatas, uma pontinha de enciclopedistas — permanecem frequentemente prisioneiros dos jeias feitas, dialéticas emprestadas do mundo do discurso — 0 famoso jargao to detestado e tao necessatio~e0 que resta é nos inclinarmos. No entanto, revelam que os individuos, no dia a dia, ndo so unicamente mquinas passivas que obedecem a maquinas, registrando mensagens e reagindo aos estimulos exter- nos, no que uma psicologia suméria, reduzida ds opinides e ima- gens, tende a transformé-los. Ao contrario, possuem 0 frescor da imaginago e o desejo de dar sentido & sociedade e ao universo. 1.2.2 O reconhecimento do ausente e do estranho Desse modo, pode-se dizer, s4o constituidas as “ciéncias” ou “filosofias" da experiéncia indireta ou da observagao. Qual é a es- pecificidade do modo de pensamento em operagio? A psicologia classica, que deu muita atengo aos fenémenos de representagao, nos fornece titeis indicagdes iniciais. Ela os concebeu como pro- ‘cessos de mediagao entre conceito e percepgao. Ao lado dessas instancias psiquicas, uma de ordem puramente intelectual e outa ‘com predominancia sensorial, as representagoes constituem uma terceira, com propriedades mistas. Propriedades cue pormiter «que ocora a passager, do cbjeto peroebido distancia, da ostera ssensorio-motora para a esfera cognitiva, para a tomada de cot noi das dimensdes, formas etc. Fazer a tepresentagio de algu- ‘ma coisa e tet consciéncia de alguma coisa é quase 0 mesmo. 82. Heider escreve: “O processo perceptivo, até agora, coloca em ago os estimulos situados & distancia e a mediacao que leva aos estimulos préximos, No interior do organismo ha entao um pro- cesso de construgao da percepgao que conduz a algum aconteci- mento que corresponde a tomada de consciéncia do objeto, da realidade enquanto percebida. Os termos representagao do obje- to em imagem foram empregados para descrever essa tomada de consciéncia’. A transferéncia do exterior para 0 interior, o transporte do lo- cal longinquo para 0 préximo so operagées essenciais desse tra- bbalho cognitivo especifico. Mas ndo estamos limitados a essa ma- neira de ver. A representacéo, como pensamos, nao é a instancia intermediaria, mas um processo que, de alguma forma, torna 0 conceito e a percepgao intercambiaveis pelo fato de se engendra- tem reciprocamente. Assim, o objeto do conceito pode ser tomado ‘como objeto da percepgao, o contetido do conceito pode ser “per- cebido" . Por exemplo, nés “vemos” o inconsciente como fazendo arte do aparelho psiquico, ou entéo “vemos” que a pessoa “sofre de um complexo". Algumas condutas, em lugar de serem descri- ‘tas como condutas de timidez, so encaradas, a partir do que ve- ‘mos, como manifestagdes evidentes de um “complexo de timi- dea" que concebemos sem ver e que se localiza no individuo. Constatamos que a representacao exprime primelramente ‘uma relacdo com o objeto e que tem papel na génese dessa ‘G40, que em seu aspecto perceptive envoive a presenga do ot outro, opensamento concei do conceito, a presenga do ol ; do ponto de vista da percepgao; sua ausancia ou inexisté uma impossibilidade. A representagéo mantém essa oposi desenvolve a partir dela: re-presenta a consciéncia um ser, uma qualidade; isto ¢, os apresenta outra vez, os atualiza néo obstante a auséncia e até mesmo a néo existéncia eventual. Ao mesmo tempo, ela nos afasta suficientemente do contexto material para que 0 conceito intervenha e os modele a sua maneia. Assim, por ‘um lado, a representagao segue os passos do pensamento concel- tual j& que a condigao de seu surgimento & 0 apagamento do obje- ‘toou da entidade concreta; mas, por outro lado, esse apagamento do permanece total e, a exemplo da atividade perce deve recuperar esse objeto ou essa entidade e os torna “tal ". Do conceito, é retido o poder de organizer, de agrupar e de 3ua auséncia. Do ponto de 53 1 psicoldgicos habituais - rubor, voz baixa, Hemedeira etc. -, mas também se aorescentam indicios de ordem Sietva = Med, hestagéo, condutes de ear - vistas como po- ‘ir experiéncias da infancia e ter origem na 1 a dos desejos de natureza sexual. ss — Representar uma coisa, um estado, nao é s6 desdobré-lo, re- eti-lo ou reproduzi-lo, reconstitui-lo, retocé-lo, modificar-Ihe 0 texto. A comunicagao que se estabelece entre 0 conceito e a per- cepgéio, um penetrando 0 outro, transformam a substancia con- creta comum, criando a impressdo de “realismo" e de materialida- de das abstracdes, uma vez que podemos agir com elas, assim como de abstracao das materialidades, pois exprimem uma ordem precisa. Uma vez fixadas, as constelagées intelectuais nos fazem esquecer que sao nossa obra, que tém um comego e terdo um fim, cuja existéncia no exterior leva a marca da passagem pelo interior do psiquismo individual e social. Kélher pergunta: “O que chama- mos fatos objetivos da natureza? Qual a melhor maneira de chegar a0 conhecimento objetivo nesse sentido? Por outro lado, que in- fluéncias sé suscetiveis de frear nosso desenvolvimento nesse dominio? Desde 0 século XVI, aos poucos, tais questdes introdu- ziram uma série definida de valores que, hoje, predomina de tal forma que, bem além do circulo dos cientistas propriamente ditos, oponto de vista das pessoas cultas é totalmente dominado por es- es ideais particulares. As palavras e as ages dos pais inculcam nos filhos de nossa civilizagéo uma atitude ponderada em relagao ‘ao mundo real. Hé muito tempo que as convicgées sobre as quais se funda a cultura cientifica perderam o cardter de enunciados for- mulados teoricamente, aos poucos se tomaram aspectos do mun- do tal qual o percebemos; hoje o mundo parece conforme ao que nossos ancestrais aprenderam a falar”®. ‘5. KOLHER, W. “Poychological remarks on some questions of anthropology”. American ‘Joumal of Psychology, 60, 1997, p. 278 54 As representagées individuais ou sociais fazem com que 0 mundo seja 0 que pensamos que é ou deva ser. Mostram-nos, a cada instante, que algo ausente se acrescenta e algo presente se modifica, mas 0 jogo dessa dialética possui uma significagdo mai- or. Nao 6 86 0 fato de algo ausente nos atingir, desencadeando todo trabalho do pensamento e do grupo, mas primeito, porque ¢ estranho e, em seguida, porque esté fora do universo habitual. De fato, o distanciamento implica a surpresa que nos toma e a tenséo que a caracteriza. A psicandlise falando da inffncia, do sonho, do inconsciente, ndo s6 penetra num dominio ignorado da vida hu- mana adulta, mas também langa uma luz que provoca admiragao e choca. As descobertas cientificas ou técnicas surpreendem [agi- tam]. A tenséo & qual aludimos revela constantemente sua ori- gem, a saber, a existéncia de incongruéncia, de incompatibilidade entre as possibilidades linguisticas e intelectuais para dominar as partes doreal as quais 0 contetido (estranho porque ignorado, igno- tado porque estranho) se refere. De modo geral, faltam-nos ne- cessariamente informagées, palavras, nogdes para a compreen- so ou descrigao de fendmenos que surgem em certos setores de nosso ambiente. Temos outras proibidas de serem empregadas para definir ou indicar a presenga de fendmenos ou comportamen- tos que se encontram escondidos. Por outro lado, ha setores para os quais hd abundancia de informagées e de palavras, onde é per- mitido usar e abusar de tudo e de qualquer coisa. Os grupos, tanto quanto os individuos, experimentam ao mesmo tempo a abundén- cia e a pemtitia de saberes e de linguagens que nao tém meios de associat as realidades, e realidades és quais nao encontram ou nao devem associar saberes e linguagens. A elipse, de um lado, e 0 verbalismo, de outro, expressam esse desequilibrio. Quando um objeto exterior entra em nosso campo de atengo, que se trate de foguetes ou de relatividade, o desequilibrio cresce, pois entre cheio da elipse e 0 vazio do verbalismo, o contraste aumenta. Para reduzir conjuntamente tensao e desequilibrio, é necessario que 0 contetido estranho se desloque para o interior de um contetido de nosso universo. Mais exatamente, ¢ preciso tomar 0 insdlito fami- liar, mudar o universo mantendo-o como nosso universo; o que So 6 possivel se fizermos passat, como em vasos comunicantes, lin- guagens e saberes dos locais onde abundam para regides onde so raros e vice-versa, e assim fazer com que a elipse se torne ta- garela e a verborragia, eliptica. Isso néo assusta, pois da mesma 55 forma que nos quadros surrealistas os membros procuram pelo corpo e © corpo procura pelos érgéos, 08 conceitos sem peroep- ‘¢40, as peroepedes sem conceita, as palavras sem contetido e 0s Contetidos sem palavras se procuram, se deslocam ee trocam em sociedades diferenciadas e que se movem. Ai agem as representa- (90es e disso resultam. Tomemos um exemplo. As nogées de inconsciente, de com- pplexo, de libido, no momento em que entram na esfera do indivi- duo ou do grupo, causam espantoe chocam. Espantam na medida em que designam entidades independentes, sem relagdo com a experiéncia imediata, e chocam porque se relacionam com uma ‘egiéo proibida para a reflexao e a conversa: a vida sexual. A rigor, no mundo particular de cada um, podemos fazer correspondet uma estrutura intelectual de recepcéo ~ a dualidade alma/corpo, raciona/irracional etc., permite que isso seja feito -, mas néo um suporte material, como 6 0 caso de uma nogao fisica, psicolégica, uimnica que possuem. Compreendemos 0 que é 0 inconsciente, 0 complexo, a libido sem poder apreender o que um ou outro é. Por outro lado, a relagéo entre o psicanalista e o “psicanalisado" ~ 0 diva, a associagao livre encontra af seu papel - 0 modus operandi caracteristico dessa relagéo, a transferéncia e seus efeitos, ndo dispée, na opiniao publica, de uma estrutura intelectual de recep- (¢40, pois um “médico sem medicina” é uma coisa paradoxal. Ora balho da representagao é o de atenuar essas estranhezas, de intro- duzi-las no espago comum, provocando 0 encontro de visdes, de expresses separadas e dispares que, num sentido, se procuram. Esse trabalho 6 duplo. Por um lado, a representago separa conceitos e percepgées, normalmente associados, torna insdlito o familiar. Assim, por meio da ideia de libido, a sexualidade se des- obra em atividade psicoldgica localizada e desejo geral: necesst- dades contingentes entre outras necessidades, ela alcanga o pata- mar de necessidade primordial, quase metafisica. No ato de “fazer ‘amor se concentra e se exprime quase que a personalidade intet- ra. Ao menos alguns pensam assim. Ou entéo, pata dar sentido ao que ocorre entre o psicanalista e o psicanalisado, evocamosacon- fissdo. A relagdo de “confessor” para "confessado” ¢ retirada do contexto religioso que a funda e do ritual ao qual o crente é sensi- vel. Em seguida, € recclocada a ideia que se tem da transferéncia, e assimilamos as regras da confissao & regra da "livre associagao” 6 mnsequentemente, o que era inacessivel toma-se acessivel: inte- Sorel ooncreto. A psicandlise é uma confiss4o como se diz Inversamente, a confissdo toma-se um caso particular do trata- mento analitico. Como o psicanalista, o padre da @ pessoa a possi- bilidade de se expressar, de falar do que a preocupa, e, por isso mesmo, de se libertar das preocupagdes. A dimensao sagrada se aproxima de tal forma que, com o passar do tempo, cede espaco a dimenséo profana, Dissociando a técnica psicanalitica de seu qua- dio te6rico, a confisséo de seu quadro religioso, a sexualidade de seu quadro de necessidade fisica, uma pessoa é convencida da va~ lidade da separagdo efetuada, Hla ndo esquece, no entanto seu ca- rater aproximativo. Ao menos a terapia se mostra compreensivel, a libido parece articulada a um substrato concreto e langamos um lhar objetivo sobre o que era corriqueito, principalmente sobre a confissio ¢ a sexualidade. Ai reside o poder criador da atividade representativa: partindo de um estoque de saberes e experiéncias, pode deslocé-los e combiné-los para integré-los aqui ou fazé-los se romper ali. Por outro lado, a representacao faz circular e reunir experién- clas, vocabularios, conceitos, condutas que se originam de fontes diferentes. Assim fazendo, reduz a variabilidade dos sistemas in- telectuais e préticos, e os aspectos separados do real. O inabitual se insinua no costumeiro, o extraordinario se tora frequente. Consequentemente, os elementos pertencentes a diferentes r¢- ides da atividade e do discurso sociais se modificam umas nas utras, servem como signos e/ou meios de interpretacao dos ou- ‘tos. Os esquemas e vocabulétio politicos se envolvem na classifi- cago ou na anélise dos fendmenos psiquicos; as concepgdes ou as linguagens psicolégicas descrevem ou explicam os processos politicos, ¢ assim por diante. As teorias e as significagdes particu. lates respectivas se juntam e passam de um dominio para 0 outro. No inicio, essas associagdes parecem arbitrérias, convencionais: mas, em breve se tomam orgdnicas e motivadas. Quem nio co. nhece 0s pares: psicandlise/Estados Unidos, psicandlise/conser. vantismo, psicanélise/subversdo etc., ao menos em nossa socie- dade? A redundancia resultante dessas associagdes exprime are Guplicacao incansével dos mesmos objetos, dos mesmos signos, em todos os lugares onde 6 possivel realizar uma feliz combinago © de percebé-la. Criatividade ¢ redundéncia das representagdes explicam a grande plasticidade e a no menor inércia, proprieda. 57 oo A \ des certamente contraditorias, mas contradigées inevitavels. So- mente nessa condigo o mundo mental e real se torna sempre ou- {to e ele mesmo, o estranho penetra nas fissuras do familiar eo fa- mailiar nas fissuras do estranho, Annogo de representagio ainda nos escapa, No entanto, dela ‘nos aproximamos de duas maneiras. Primelro, especificando-lhea natureza de processo psiquico capaz de tomar familiar, de situar e Ge tomar presente aquilo que, em nosso universo interior, se en- contra distanciado, aquilo que, de certa forma, est4 ausente. O re- sultado é uma “impressao" do objeto que se mantém durante 0 ‘tempo que for necessério, Ela desaparece no labirinto da meméria ou se afina num conceito quando perde a neceasidade ou a forga. Essa impresséo ~ ou figura - envolvida em cada operagzio mental, ‘como ponto do qual partimos e ao qual voltamos, da especificida- de @ forma de conhecimento que ai se opera ea distingue de qual- quer outra forma de conhecimento intelectual ou sensorial. Por isso, frequentemente se afirmou: qualquer representagdo é uma Tepresentagao de alguma coisa. Em seguida essa nogéo nos pareceu mais claramente pela constatagdo que, para penetrar no universo de um individuo ou de ‘um grupo, o objeto entra numa série de relactonamentos e articu- Tages com outros objetos que jé esto la e dos quais ela empresta as propriedades e aorescenta as suas prOprias. Ao se tomar indi- ‘vidual e familie, ¢ transformado e transforma como mostiou 0 ‘exemplo da terapia analitica e da confissio. De fato, ele deixa de ser como tal para se transformar em equivalente dos objetos (ou das nogdes) das quals depende pelas relagdes e ligagbes estabele- Cidas. Ou, o que quer dizer 0 mesmo, ele é representado na medi- dda exata em que ele se tornou um representante por sua vere que ‘se manifesta unicamente nesse papel. A fumaca que traduza exis- téncia do fogo e o nutco cadenciaco que marca o trabalho da brita- ) Data falsa ou sem resposta. + Em que situagéo vocé pensa que a psicandlise seria util- zada?, a) Nao adaptagao (neurose); >) Outros casos tomados separadamente; fracassos sent ‘mentais, distirbios infantis, conflitos conjugais. + Vocé sabe quem é o criador da psicandlise? a) S. Freud; ) Resposta falsa ou sem resposta. + Vooé se interessa pela psicandlise? a) Muito, bastante, moderadamente; 1b) Pouco, muito pouco, sem resposta. Os informantes que deram as respostas (a) conhecem melhor a psicandlise que os que responderam (b). Os primeiros pensam que o tratamento psicanalitico dura mais de um ano, veem a psi- canélise como umd teoria cientifica e como uma técnica, sabem quando surgiu, consideram que em geral se aplica nos casos de no adaptacao (ou neurose), demonstram algum interesse por ela e sabem que Freud foi seu criador. As pessoas menos informadas 63 pensam que o tratamento analitico ¢ relativamente rapido, de ma- neira superficial pensam que a psicandlise alguma coisa “em vias de se constituir”, néo sabem quando surgiu, pensam que seu dominio se restringe aos fracassos sentimentais ou aos distiirbios infantis; tem pouco interesse pela psicandlise e ignoram o nome de Freud. Considerando a ordem das questées, percebe-se que a que trata da duragao do tratamento é a mais importante, pois mui- ‘to poucas pessoas conseguem responder corretamente, enquanto que o nome do criador da psicandlise, sendo relativamente popu- Jar, é ignorado somente por quem tem realmente muito pouco co- nhecimento da psicandlise. A dimenséo que designamos por “campo de representagao” nos remete & ideia de imagem, de modelo soctal, com contetido concreto ¢ limitado das proposigdes que expressam um aspecto determinado do objeto da tepresentacao. As opinides podem in- cluir 0 conjunto representado, mas isso nao quer dizer que o con- junto seja ordenado e estruturado. A nogao de dimenséo nos obri- ga a imaginar que ha um campo de representagao, uma imagem, onde existe unidade hierarquizada dos elementos. A amplitude do campo, os pontos nos quais esta centrada variam, englobando tanto as opinides sobre a psicanalise como as assergoes sobre ela ua tipologia das pessoas que possivelmente recorrem a essa teo- ria espectfica, No mesmo subgrupo das classes médias, a representacdo ¢ centrada sobre as seguintes questées: + Na sua opinido, para fazer psicandlise é preciso ter persona- lidade: a) forte; b) isso néo tem importéncia; ©) fraca. + A imagem da psicandlise 6; a) completa e positiva; b) banal e negativa; ¢) sem imagem. 64 ? ibuir para a edu- « Voo8 acredita que a psicandlise possa contribu para cago das criangas? a) sim; ) ndo, sem opinido. + De quais préticas seguintes a psicandlise parece mais $° aproximar? ) discusséo, contisséo; ») hipnotismo, sugesto, ocultisme, narcoandlise « Aatitude do psicanalista em relagdo ao analisado pode ser comparada a do: a) médico, amigo; b) espectador, parente. + Vooé acha que a psicandlise faz mal ou ajude a personalida- de do individuo que a ela se submete? a) ajuda; b) faz mal, depende, sem opiniao. Observa-se que o dominio da representagao evidenciado nes- sa populagao engloba, sobretudo, a imagem do analista e a do analisado, a agéo da psicandlisee a prética da qual mais se aproxi- ma. As questées padrao nao exprimem todo o contetido da repre- sentagdo como aquele que se encontra nas entrevistas e nas ques- ‘t6es abertas, permitem simplesmente constatar a existéncia de uma organizagao subjacente ao contetido. A atitude termina de explicitar a orientagao global em relago a0 objeto da representago social. As pessoas favoréveis a psicandlise, nesse mesmo grupo, além da tomada de posigao direta, + pensam que a psicandlise é aplicdvel em geral; + dizem que os artistas e os intelectuais (grupos percebidos ‘Positivamente) fazem mais andlise; + em ultimo caso, elas mesmas fariam anilise; + 840 favordveis é.sua utilizagao para. onienta¢ao profissional: enact @ fazer anélise de seus filhos ‘Se fosse neces- hope sam que, para fazer andlise, é preciso ter personali forte, ou que isso nao tem ‘importineta, " sae + acreditam que um tratam jento analitico melh quem a ele se submete, ora 0 estado de As pessoas destavoréveis respondem: * @ psicandlise s6 6 aplicével em casos bem circunscritos; * a8 pessoas ricas fazem psicandlise; + elas mesmas néo fariam | psicanélise; + @ utilizagao da psicandlise na orientagdo profissional deve ser feita com cautela; + néo permitiriam a psicanélise em seus filhos; + as pessoas fracas fazem psicandlise; + a psicandlise em nada ajuda. Entre esses dois extremos, hd atitudes intermediarias, As trés dimensées - informagdo, campo de representagéio ou imagem, atitude ~ da representacdo social da psicandlise nos fornece uma visdo de seu contetido e sentido. Podemos questionar legitimamente a utilidade dessa anélise dimensio- nal. O argumento da precisao, que devemos a anélise quantita- tiva, nao é fundamental. Pareceu-nos que o estudo compara Vo das representagdes sociais, absolutamente necessério para nossa disciplina, dependia da possibilidade de produzir con- tettdos suscetiveis de serem colocados sistematicamente em exemplos farao com que vejamos se 0 objetivo Coloquemos em paralelo o contetido das escalas de duas: ‘par- tes da amostra profissdes liberais: os “comunistas-esquerda" ¢ 0 “centro-direita”’ ‘As perguntas comuns, nas padronizagées dos dois grupos, sd0 as seguintes: + Se hé importdncia da psicandlise para crescer, a que fato- res seguintes voos atribui esse fato? Os valores positives (necessidades sociais, valor cientifico, consequencias da guerra) e os valores negativos (influéncia ameni- cana, publicidade) sdo os mesmos para as duas fragoes. + Para vooé, de quais préticas seguintes a psicandlise se apro- xima mais? As associacées relativamente positivas (discussao, confissa0) ou negativas (narcoanélise, sugestao) séo as mesmas nos dois grupos. + Vocé acha que o psicanalista se parece mais com 0 médico, lider espiritual, 0 psicdlogo ou 0 cientista? ‘As pessoas de esquerda aproximam o psicanalista do miédico @ do psicélogo Excetuando essas trés questies comuns, cada subgrupo amplia © contetido exprimindo sua visdo através de questies especificas, A fragéo de esquerda dé um lugar importante para os proble- mas que concernem a aplicago, principalmente politica, da psi- canélise: + Vooé acredita que a psicandlise possa ter influéncia positiva sobre as condutas criminais e delinquentes? + Entre a psicandlise e o fato de ter uma vida politica ativa ha compatibilidade ou incompatibilidade? A parte “centro-direita” se diferencia respondendo questdes sobre problemas mais “tecnicos”: + A psicandlise pode mudar a personalidade de alguém? + A posigao do analista em relagao a do analisado é a de médi- co, amigo, observado ou parente? + A psicanélise pode ser titil para fins politicos? As duas primeiras questdes mostram que essa parte da amos- tra é mais sensivel ao efeito da psicandlise e as repercussdes de transfeténcia da relagdo analitica. A significagéo das duas tltimas questées demanda analises mais detalhadas. O cardter unidimen- sional das escalas supde a existéncia de um conjunto de eritérios ou de quadros de referéncia para todas as questes entre as quais, existe conexdo. Os intelectuais de centro-direita pensam que 0s problemas sociais, ao mesmo tempo em que a acao politica, po- dem se situar no plano psicologico. As orientagdes podem diver- git, Mas © pertencimento dessas questdes a um mesmo universo faz parte de sua concepgao da sociedade. Para os intelectuais de esquerda, os problemas sociais sao de outra ordem - econémica: e Politica - e, nesse caso, essa ‘questo nao pode estar ligada a ou- tas, 0 que explica sua auséncia. A questo “A psicandlise pode ‘ser utlizada para fins politicos?” néo separa esse grupo, como se- para o de centro-direita. O esteredtipo da resposta “sim” a toma Pouco discriminativa ou especifica. Podemos nos perguntar sobre o sentido da questéo “politi- ca’ incluida na escela do subgrupo "comunisia-esquerda’. Essa questo nao conceme a aplicagao da psicandlise para fins politi- Cos, mas a relacao possivel entre a participagao da pessoa na vida Politica e 0 fato de ser analisado ou adotar o ponto de vista psica- nalitico. Ela é somente a forma nova de uma assergo frequente: a ppsicandlise fecha o individuo, o separa do grupo e, a0 isolé-lo, 0 ‘toma incapaz de levar uma vida politica ativa. Neste ponto, as opi- nioes divergem: alguns intelectuais néo consideram a hipstese de tal ruptura, enquanto outros a consideram um axioma. Mas a questo é importante para a ideologia de esquerda: por isso deu origem a numerosos debates. ‘A comparago que fizemos pode ser retomada para cada di- ‘mens&o e para o conjunto dos grupos estudados. Admitindo que a rTepresentacao social possua as trés dimensdes, podemos determi- ‘nar de antemao seu grau de estruturagdo em cada grupo. A tridi- mensionalidade se manifesta somente em quatro populagées: es- tudantes, profissdes liberais, classes médias (A), e alunos das es- colas técnicas. Por outro lado, os operarios assim como as clas- ses médias (B) possuem uma atitude estruturada, mas a informa- 40 e o campo de representagdo sao mais difusos. Observagoes, que confirmam o que era esperado por hipotese. A confirmagao ‘empirica nao surpreende, mas confirma e justifica o desenvolvi- mento seguido. 8 —_—_—— ai ita nos permite salientar que, em todo lugar, a peices soe drains tomadas de posigéo (atitudes) e, somente em parte, representagdes sociais coerentes. Nisso tam- bém néo hé nada de surpreendente. No entanto, dedu2-se que a atitude 6 a mais frequente das trés dimens6es e, talvez, genetica- mente seja a primeira. Consequentemente é razodvel concluir que nos informamos e representamos alguma coisa unicamente de- pois de ter tomado uma posigdo e em fungao desse posicionamen- to. Pesquisas recentes sobre a percepgao ¢ a opinido® concordam plenamente com essa conclusdo. A comparagao do contetido e do grau de coeréncia da infor- ‘ago, do campo de representacao e da atitude nos leva a abordar oltimo ponto que nos propusemos a estudar: a clivagem dos gru- os em fungao de sua representagdo social. A definicdo de um ‘tupo resulta do feixe de pressuposigdes que da peso preferencial acertontimero de critérios. Nessa enquete sobre a psicandlise, se- guimos uma pratica geral empregando tanto critérios socioecond- Iicos (classes médias, classe operaria) quanto critérlos profissio- nais (estudantes, profissGes liberais).Isolar critérios é bastante di- ficile a superposigo com o contetido cultural particular a certos gTupos e comum a outros toa a classificacao delicada, No entan- to alguns indicios nos permitem distingui-los em relagao a psica- nélise. A amostra “classe ‘operaria” se separa em dois subgrupos dos quais enumeramos alguns tragos: os sujeitos que nunca ouvi- ram falar de psicandlise e aqueles que ouviram falar. Esse ultimo subgrupo néo poderia ser considerado como um grupo homoge ‘eo em relagdo & representagéo da psicandlise em geral. Os opera ‘Hos formam um grupo que néo se define de maneira univoca em. Telacao a psicandlise. Ao contrério, os estudantes, a despeito da

Potrebbero piacerti anche