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RESUMO
Este artigo relata uma pesquisa sobre os processos de articulação entre a construção das práticas do psicólogo e
a Assistência Social. O estudo deu-se através das narrativas de vida e profissionais de psicólogos que efetivam
ou efetivaram saberes e práticas no campo da Assistência Social, a partir da década de 1990, na cidade de Porto
Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Como estratégia metodológica utilizou-se a coleta e análise de
narrativas tendo, como referencial teórico, o construcionismo. Dentre os resultados, destacam-se o descompasso
entre a formação e a prática profissional e a ideia de que a Política Pública de Assistência Social é uma travessia
pouco explorada para as demais políticas sociais.
Palavras-chave: narrativas; psicologia; assistência social.
ABSTRACT
This article reports a research on the processes of articulation between the construction of psychological practices
and social assistance. The study was carried out through life narratives and professionals of psychology that
work or have worked in the field of Social Assistance since the 1990s in the city of Porto Alegre, in the state of
Rio Grande do Sul, Brasil. The collection and analysis of these narratives was used as methodological strategy,
As a methodological strategy, the collection and analysis of narratives was used, have as referencial theoretician,
the social constructionist. Among the obtained results, the mismatch between the training and the professional
performance can be highlighted and finally, the idea that the public politics of social assistance is a poorly
explored crossing to the other social politics.
Keywords: narratives; psychology; social assistance.
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remete à consideração das construções históricas, 2.1 Instrumentos e procedimentos para a coleta
caracterizadas pelas dinâmicas dos movimentos das informações
políticos que marcam e transformam as relações
sociais (Gergen, 2009). Para tanto, o estudo articula Como instrumento foi utilizada a Entrevista
experiências narradas com aspectos da historiografia Narrativa, que se configura como uma forma de
brasileira, das décadas de oitenta e noventa do século entrevista não estruturada, de profundidade, com
XX, período no qual se ampliaram os espaços para características específicas. Emprega um tipo específico
inclusão de profissionais da Psicologia nas Políticas de comunicação cotidiana, o contar e escutar a história,
de Assistência no Brasil. para conseguir o objetivo (Jovchelovitch & Bauer,
2008). Foram realizadas individualmente, precedidas
O exame da temática aqui proposta se motivou de uma breve explicação e, após a assinatura do
e se justifica pela indicação de discrepâncias Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
entre as necessidades de inserção no campo da gravadas em áudio; depois de transcritas, foram
Assistência Social e o despreparo profissional para desgravadas. Realizados os procedimentos éticos,
enfrentar desafios relativos a esse campo (Scarparo conforme Resolução 196 do Conselho Nacional de
& Guareschi, 2007). A ampliação dos debates sobre Saúde (1996), a pesquisa teve autorização do Comitê
esse tema possibilitaria compreensões mais acuradas de Ética (CEP n° 10/05274) de afiliação das autoras.
dos processos de planejamento, gestão e avaliação Para preservar o anonimato e o sigilo de cada sujeito
das ações efetivadas. Nesse cenário, pretendemos participante, foram adotados nomes fictícios em suas
apreender, a partir das narrativas, as práticas do identificações, nomes das espécies mais frequentes de
psicólogo, considerando as trajetórias daqueles que árvores vistas na cidade de Porto Alegre1, tais como:
efetivaram ou efetivam sua atuação na Assistência plátano; palmeiras-da-califórnia; jacarandá; cinamomo
Social. e perna-de-moça.
Portanto, pretendemos contemplar,
concomitantemente, o conhecimento e a formalização 2.2 Procedimentos para a análise das informações
de registros acerca do tema, reflexões teóricas sobre as
A análise do material coletado buscou articular
práticas vivenciadas e oportunidades de ampliação da
a especificidade de cada experiência narrada com as
capacidade de vinculação entre a área e a diversidade
trajetórias coletivas identificadas. Em função disso,
das práticas no campo das Políticas Sociais Públicas,
escolhemos a perspectiva de Schutze, sistematizada
na cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio
por Jovchelovitch e Bauer (2008). A análise deu-se
Grande do Sul. Adotada tal perspectiva, esta pesquisa
através da transcrição detalhada do material verbal,
não teve o anseio de generalização dos dados, mas de
seguida de divisão do texto em material indexado e
propor a reflexão e a compreensão de possíveis fatores
não indexado. Posteriormente, fez-se uso de todos os
que estejam elencados no processo de construção das
componentes indexados para analisar o ordenamento
práticas do psicólogo na Assistência Social.
dos acontecimentos para cada indivíduo; em
seguida, as dimensões não-indexadas do texto foram
2. Método: a construção das informações investigadas como “análise do conhecimento”. Em
continuidade, foi feito o agrupamento e a comparação
O estudo caracterizou-se como uma pesquisa entre as trajetórias individuais e, por fim, as trajetórias
do tipo exploratória, a partir de uma abordagem individuais foram colocadas dentro do contexto em
qualitativa. Foram entrevistadas cinco profissionais que semelhanças foram estabelecidas. Esse processo
do sexo feminino que atuam ou atuaram na permitiu a identificação de trajetórias coletivas
Assistência Social, no município de Porto Alegre, (Jovchelovitch & Bauer, 2008). Posteriormente, foi
Rio Grande do Sul. Estas psicólogas, no período de efetivada a integração de todas as informações obtidas
realização das entrevistas, apresentavam em média no decorrer do processo de investigação. Assim, depois
quinze anos de exercício profissional, em diferentes que se efetivou a análise, de acordo com a descrição
serviços, dentre eles FESC (Fundação de Educação anterior, no próximo item, abordaremos os resultados
Social e Comunitária), SASE (Serviço de Apoio de forma mais detalhada.
Socioeducativo), FASC (Fundação de Assistência
Social e Cidadania). A escolha das participantes deu- 2.3 Resultados e discussão
se por conveniência, sendo recrutadas pela técnica
em cadeias, bola-de-neve ou snowball (Biernacki & A elaboração de resultados de uma investigação
Waldorf, 1981). comumente é percebida como umas das etapas
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Motta, R. F. & Scarparo, H. B. K. A Psicologia na assistência social: transitar, travessia.
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desafiador. “Eu estudei cinco anos de Psicanálise, eu as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para
comecei pela Psicanálise, pelo Lacan, depois eu fui os Cursos de Psicologia. Conforme os parâmetros
para o campo de saúde do trabalho e a Psicanálise, estabelecidos pelo Ministério da Educação (2004), a
acho que nunca deixou de me abandonar” (Palmeiras- proposta das DCNs promove uma diversificação na
da-Califórnia). formação do psicólogo, visando a prepará-lo para as
futuras demandas advindas do âmbito social. As novas
No entanto, vemos a presença de disciplinas
diretrizes devem proporcionar a todos os cursos uma
e temáticas referentes à prática do profissional nas
gama de pressupostos e fundamentos epistemológicos
políticas públicas e a inserção de outros referenciais
e históricos, teórico-metodológicos, de procedimentos,
teóricos. As teorias estão justificadas por valores
interfaces e práticas, para que, dessa forma, o curso
que norteiam as suas vidas e os seus projetos para a
possa propiciar um suporte aos futuros psicólogos para
sociedade. Porém, o contato precoce com a Psicanálise
que possam inserir-se em todos os campos de estágio
nos cursos de formação não foi impeditivo da adoção
e, posteriormente, atender a grande demanda da
de práticas sociais, o que sinaliza a ampliação do
população no Sistema Único de Saúde, como também
referencial teórico, a possibilidade de outras e
nas demais áreas afins (Ministério da Educação,
diferentes formas de se saber-fazer Psicologia. “olha
2004). Nessa perspectiva de formação acadêmica é
a minha formação desde o segundo semestre de
importante realçar que o contexto mutante em diálogo
faculdade é de psicanálise, eu tenho uma simpatia e
com a concomitante transformação e manutenção dos
uma aproximação da Psicologia Social, mas no viés
modelos e apoios teóricos leva, por vezes, à percepção
comunitário” (Cinamomo). Podemos inferir que,
das dificuldades presentes como obstáculos e, por
em função das necessidades e das demandas que
outras, à necessidade de formular estratégias, o que
chegam a todo o momento na sua prática profissional,
aciona a coragem para a criação, vislumbrada nos
as participantes foram convocadas a realizarem a
temas a seguir.
travessia, ou seja, transcender o que foi posto em sua
formação e pensar alternativas, estratégias, para atuar
na Assistência Social. Somente o que está posto na 2.3.2 Prática cotidiana: vislumbrar obstáculos
formação acadêmica não é mais suficiente para esse e/ou formular estratégias
tipo de trabalho; por isso a importância de almejar e
A interdisciplinaridade, a intersetorialidade,
trabalhar em prol da transformação, da reinvenção
pontos que fundaram e circulam a Assistência Social há
das práticas cotidianas, assim como realizar a leitura
muito tempo, como o assistencialismo, a religiosidade,
contemporânea de autores consagrados da Psicologia,
entre outros e, como se configuram, em sua condição de
da Psicanálise, por exemplo.
estratégias para a construção coletiva e cotidiana, são
Sobre as transformações que aconteceram, discutidos a seguir. Em relação à interdisciplinaridade,
ao longo dos anos, na formação acadêmica, as as participantes, em suas narrativas, apontam como
participantes inferem que, atualmente, a formação sendo uma das estratégias para construção cotidiana e
privilegia muito mais as políticas públicas do que coletiva. “Quando a gente diz que fica indiferenciado
no período em que realizaram a formação, ou seja, com um assistente social um pouco, o assistente social
em meados da década de 1990. “Hoje as formações um pouco indiferenciado com a gente ... o assistente
acadêmicas são mais voltadas pras políticas públicas” social também trabalha te escutando, o psicólogo
(Plátano). Nesse sentido, não haveria exagero em se também trabalha gerando beneficio” (Plátano).
afirmar que a inserção da Psicologia nas Políticas
No entanto, as narrativas elencam alguns
Sociais Públicas deve-se às transformações sociais
desafios impostos na atuação interdisciplinar, como
e políticas no Brasil, marcadas pelo neoliberalismo
as diferentes posições em relação a um determinado
e pelo aumento do processo de exclusão social
assunto, a dificuldade, muitas vezes, expressa pelas
desencadeado por essas mudanças, as quais fizeram
instituições sobre os profissionais, o seu papel e as
com que a Psicologia questionasse se estava formando
suas atribuições, conforme narrativa que segue:
profissionais voltados para as reais necessidades da
sociedade brasileira (Conselho Federal de Psicologia, eu acho que esse é o mais difícil, acho que às vezes
a gente embola, e acho que a instituição às vezes
2009). O processo de discussões e reflexões em torno da
também favorece, ah, são técnicos sociais, às vezes
produção do conhecimento e da aproximação cada vez para uma instituição não importa, técnicos social,
maior dos estudantes às demandas e às necessidades são dois psicólogos, são duas assistentes, parece
da sociedade brasileira ocasionou, em 2003, pela que não faz diferença, e as equipes ficam lá assim,
forte influência de diversas entidades, em especial do se degladiando para conceder algumas diferenças
Conselho Federal de Psicologia (CFP), a aprovação (Perna-de-Moça).
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Podemos ponderar que uma das alternativas detrimento da transformação social, do compromisso
para a resolução da questão posta anteriormente com a população, na constituição de políticas públicas.
seja os espaços de atuação, intervenção, onde a
A intersetorialidade, por sua vez, é posta como
prática interdisciplinar possa ser, de fato, colocada
um dos desafios da articulação pública. As participantes
em prática. Percebemos que, em muitos programas,
narram que a intersetorialidade é fundamental e
projetos e serviços da Política de Assistência Social,
necessária, contudo, em alguns momentos, ela pode
é incentivado, pelo quadro funcional, que se tenha
tornar-se um obstáculo, em virtude, muitas vezes, dos
profissionais de diferentes áreas, dentre elas, o Serviço
critérios estabelecidos pelas políticas públicas aos seus
Social, a Psicologia, entre outras. Assim como existe a
assistidos; a falta de conhecimento e entendimento do
possibilidade de articulação para a ação na busca dos
que cada secretaria, do que cada programa, serviço, ou
direitos sociais do usuário, porém, observamos que
órgão pode fazer e desempenhar. Além do desencontro
existem muitos obstáculos e desafios para o exercício
que acontece entre as políticas públicas, em especial
desta prática. Devemos acrescer a possibilidade de
ao atendimento destinado ao usuário que, por muitas
espaços de reflexão e escuta entre os profissionais
vezes, é atendido por várias políticas públicas e se
de cada área e entre as áreas postas em ação, no
desconhece o fato.
momento, na intervenção. Verifica-se a importância
da criação de espaços, no ambiente de trabalho ou a Assistência Social vai ser necessária na vida de
muitos sujeitos, exatamente pela ineficácia das outras
fora dele, que permitam a discussão e a reflexão dos
políticas públicas. ... tu tens que acessar benefícios,
referenciais teóricos e metodológicos que subsidiam o de bolsa família, moradia, de trabalho, de crianças
trabalho profissional, considerando as especificidades vinculadas a exploração, trabalho infantil, do abuso
das demandas, das equipes e dos usuários assistidos sexual vivido, sofrido por crianças e adolescentes,
pela Política de Assistência Social. De acordo com o porque em vários momentos anteriores, e no tempo
CFP (2007), a construção do trabalho interdisciplinar que o sujeito pediu, pediu um olhar, pediu um apoio,
determina a realização constante de reuniões e debates pediu um cuidado, a política pública não foi próxima
entre os profissionais e a interface entre as políticas porque não estava no critério (Jacarandá).
da saúde, previdência, educação, trabalho, lazer,
meio ambiente, comunicação social, segurança e Nessa perspectiva, infelizmente, tem-se como
habitação, entre outros, na perspectiva de mediar o uma tradição brasileira, de acordo com o CFP (2010,
acesso dos cidadãos aos direitos sociais, com o intuito p.26), o fato de que a Assistência Social “não caminha
de estabelecer as particularidades da intervenção junto com a educação, esta não se aproxima da
profissional. Além disso, considera fundamental saúde, que fica distante dos esforços da habitação,
a definição das competências e das habilidades do trabalho, da cultura, do lazer”; consequentemente,
profissionais em função das demandas sociais e das não se promove a ação intersetorial. Desse modo,
especificidades do trabalho, o que se evidencia nas dificulta-se, e muito, a articulação de saberes e
narrativas das participantes: experiências com o intuito de planejamento, para a
Então, é algo que a gente vai construindo ao longo,
realização e a avaliação de políticas, com a finalidade
a gente pode contribuir com as equipes também na de alcançar resultados para as situações complexas
discussão de caso, para poder trazer, o que ele espera vislumbradas cotidianamente na Assistência Social.
para aquele sujeito, para aquela pessoa, como é que Palmeiras-da-Califórnia demonstra de que forma
a história dela se construiu a partir da vivência dela dá-se a intersetorialidade: “É claro, sempre tinha os
para sair de classificações mais, gerais assim (Perna- que faziam a linha de frente da Assistência Social, e
de-Moça); eu estava nessa articulação. Assistência social com
a Educação, dá o que mesmo? Assistência Social e a
“então a gente compõem junto com o assistente social, Saúde o que é mesmo? A Habitação, com Assistência
junto com o pedagogo, junto com o educador físico,
Social, com a Saúde como é que é?”.
oficineiro, educador social, uma equipe que trabalha
nessa inclusão, no acesso a cidadania” (Plátano). Contudo, para a efetivação da Assistência
Social como política pública é imprescindível a
Nesse sentido, torna-se importante que possamos integração e a articulação à seguridade pelas demais
analisar, refletir e discutir tais questões, ensejar sair dos políticas sociais. Além disso, podemos pensar que
modelos tradicionais de atuação para uma atividade o usuário, que se insere na Política de Assistência
cada vez mais desafiadora, rica e criativa. Assim sendo, Social, provavelmente é um usuário ou será ou já
trilharmos o caminho em prol da construção de práticas foi um usuário de outra política pública. Nesse caso,
e espaços de discussão com o intuito de transcender, é fundamental a intersetorialidade, também, pela
buscar o tão almejado trabalho interdisciplinar, em necessidade e pela demanda que surgem através do
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próprio usuário assistido pelas políticas públicas. É visto que as práticas vinculadas à Assistência
Sabemos que, em virtude do sistema capitalista Social no Brasil denotam significativas transformações
em que vivemos, o cidadão, para estar inserido na potencializadas pelas contradições ideológicas e pelos
sociedade, necessita estar vinculado ao mundo do dilemas éticos presentes nos complexos processos
trabalho, obtendo lucro, pagando os seus impostos. sociopolíticos que desenham culturas e registram as
No entanto, a tendência é que cada vez mais pessoas histórias de um povo. Nessa dinâmica, são evidentes,
sejam excluídas, colocando-se na situação de pobreza por exemplo, as transições nos focos de percepção
e miserabilidade, significando, dessa maneira, que sobre a área. É notório que, nas últimas décadas, a
ainda teremos muitas pessoas procurando os serviços perspectiva de compreensão da Assistência Social,
públicos em função das várias necessidades que lhes que era pautada comumente pela benemerência, pela
assolam. filantropia, pelo assistencialismo e tinha a conotação
de clientelismo político, passou a ser concebida
Nessa perspectiva, podemos analisar estratégias mais frequentemente a partir do estatuto de Política
para que a ação intersetorial possa ser mais efetivada Pública. Assim sendo, pelo fato de conhecermos o
e que, de fato, atinja o seu objetivo, ou seja, a troca passado é que podemos vislumbrar o futuro e atuar
de experiências e informações no desenvolvimento no presente na construção e na consolidação da
de ações, a construção de uma rede de interação e proteção social e da afirmação dos direitos sociais
cooperação social entre os diferentes atores sociais como direitos de cidadania. Entendemos que ainda
envolvidos, em conformidade com a proposta de temos muito trabalho pela frente, mas, a partir dos
organização, a complementaridade entre os serviços, marcos legais, como a Constituição Federal de 1988,
colaborando no planejamento, na execução e na assim como o SUAS, a LOAS, entre outros, o quadro
avaliação dos resultados alcançados, conforme está mudando e a perspectiva de transformação está
referido anteriormente. Algumas estratégias já podem posta permanentemente. Para isso, é fundamental a
ser vislumbradas pela narrativa da participante, participação ativa dos profissionais da Assistência
Plátano, descrita em continuidade: “O psicólogo Social, como os psicólogos e os assistentes sociais,
ele teve que se reformular para atender isso sabe, o nas instâncias de controle social, como os Conselhos
que significa isso: significa trabalhar em rede, ver de Assistência Social, órgãos deliberativos e paritários
outros profissionais, articular com a educação, com nas três esferas de governo. As participantes relatam
as escolas, articular com a saúde, articular com as a importância dos marcos legais e a participação nas
lideranças comunitárias, às vezes” (Plátano). instâncias de controle social, apresentadas a seguir:
Outro item que mereceu destaque, nas narrativas, Acho que o SUAS traz outra marca, que é tentar
foram as temáticas sobre o assistencialismo, a de alguma maneira estabelecer um ordenamento
benemerência, o “damismo”, a religiosidade, entre para o país,no sentido da Assistência Social assim
outras. Tais pontos são apontados como um obstáculo como política, para que se rompa efetivamente com
para o trabalho e para a construção de estratégias a questão do “clientelismo”, com a tradição mais
cotidianas e coletivas. religiosa, às vezes, eu diria até, também, acho que não
é só questão, religiosa que está colocada, muitas vezes
a questão do cargo político por ser da Assistência os problemas sociais são tratados pela força policial
Social é super visado, todo mundo quer assumir, e então tem vários pontos a serem assim rompidos, acho
o interesse é em geral político, ... Da politicagem, que o SUAS tenta fazer um ordenamento nisso, mas
entende, então, a idéia da concessão da Assistência centrando não tanto sobre a vulnerabilidade, mas
Social como uma política pública é exatamente pra sair sobre o direito, sobre os direitos sociais, acho que
da benesse, do primeiro damismo ... e essa tendência isso também acaba sendo uma mudança né. (Perna-
sempre de um clientelismo e de pouca consideração de-Moça);
com a avaliação técnica com o acompanhamento da
história” (Cinamomo); A política pública tem que está inscrita, aprovada,
monitorada e fiscalizada pelas instâncias de
a Política de Assistência Social traz da dimensão controle social, que é outro marco assegurado pela
religiosa, quem merece, quem não merece ... Da constituição federal na lei 8142, por quê? Porque a
questão mais higienista, ah, essa casa é muito suja, política pública ela não é uma política de gestão, é
então tem um único jeito de casa. Então, isso de uma política para a sociedade, ela é efetiva a medida
alguma maneira não compõe, ela vai separando, que ela garanta direitos humanos (Jacarandá).
ela vai colocando entraves a população não se sente
reconhecida no trabalho do técnico se ele está sempre A partir das narrativas, podemos inferir que uma
de uma maneira remetendo a uma outra, a um outro das alternativas para minimizar e construir estratégias
ideal né (Perna-de-Moça). cotidianas e coletivas encontradas pelas participantes
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era pra ser assim. A gente não consegue fazer muito Assistência Social perante as demais políticas públicas,
isso assim, não, à porta de entrada pra outras a gente assim como perante a sociedade e, do mesmo modo, a
consegue (Plátano). inserção e o trabalho do psicólogo na política de travessia.
A questão foi apontada por uma das participantes,
E por que isso acontece? Por que a Assistência quando mencionou que a Política de Assistência Social
Social ainda não conseguiu alcançar tais pressupostos? foi construída a partir do processo do SUS e que não
Podemos presumir que, de acordo com a fala da teve o mesmo envolvimento e comprometimento que os
participante descrita em continuidade, a Assistência movimentos sociais, os usuários, os profissionais e os
Social e a Psicologia estão em constante estruturação gestores tiveram na construção da Política Pública de
e movimentação: Saúde. Podemos observar:
a gente ta sempre em constante estruturação e acho que são trajetórias diferentes, mas concretamente,
movimentação, então é um território muito móvel acho que o SUAS é mais uma conquista a partir
assim, pouco fixo com muitas mudanças, com poucos dos aprendizados do SUS, e foi se instituindo mais
arranjos estáveis, acho que isso tem muito a ver com por dentro das estruturas, talvez menos um pouco
o que a gente trabalha, mas acho que é um efeito do pelos movimentos sociais, mas sem desconsiderar a
trabalho assim, dos espaços de trabalho (Perna-de- existência deles, mas mais pelas estruturas, a própria
Moça). estrutura começou a entender a necessidade de ter a
Assistência como política pública. (Jacarandá).
Tal perspectiva nos faz pensar que, pelo fato
de ser um “território muito móvel”, estamos falando Podemos considerar que, por ser constituída
sobre produção de vida, uma vez que trabalhamos “mais por dentro das estruturas”, a Política de
com os processos de articulação entre a construção das Assistência Social ainda não tenha adquirido, dentre
práticas do profissional da Psicologia e a Assistência as outras políticas e pelos demais profissionais que a
Social e, em consequência, estamos analisando vida. compõem, de fato, o status de Política Pública, apesar
E a vida que é produzida no território, no espaço de todo o histórico que temos conhecimento. Porto
de produção da vida, das relações que estão em (2010) refere que a “entrada da Psicologia no contexto
movimento, assim como adentra o espaço geográfico, da Política Pública da Assistência Social não partiu de
histórico, cultural, social e econômico, sendo histórica uma profunda e sistemática reflexão crítica, de caráter
e coletivamente construído e constituído, é o objeto ético, político, conceitual, metodológico e profissional”
da Política de Assistência Social, em todas as suas (p. 10). Acrescenta que a inserção da Psicologia deu-se
peculiaridades. A partir dessa ótica, podemos atuar por “questões mais circunstanciais, como o fato de ser
no entendimento, no fortalecimento, na qualificação uma categoria com amplo espectro de atuação, com
e na construção de alternativas que se configuram, possibilidade de contribuir com os diferentes níveis de
conjuntamente, na possibilidade de se fazer a travessia, complexidade da proteção social” (p. 10). Além disso,
a qual, ao longo do texto, foi exposta pelas narrativas, ressalta o autor, seria um saber com muitas interfaces
como a possibilidade de adentrar por outras searas e campos compartilhados com o Serviço Social. E tal
teóricas, assim como desconstruir as que estão postas, aspecto é visto na medida em que o profissional de
à medida que surgem as demandas e as necessidades, Psicologia está presente tanto nas equipes de proteção
as ações que permeiam a interdisciplinaridade, a social básica quanto nos serviços de proteção social
intersetorialidade, a participação nas instâncias de especial. De forma mais específica, o Psicólogo “pode
controle social e representativas da categoria, o contribuir enormemente com o desenvolvimento da
entendimento e a apropriação dos marcos legais. própria equipe, bem como incrementar a atuação dos
Enfim, algumas das questões que, juntas, podem demais colegas, ou mesmo ampliar a compreensão dos
contribuir para a travessia. Tais opções, também, são fenômenos sociopsicológicos implicados na promoção
vislumbradas nas falas das participantes: da proteção social” (p. 10).
Não pode perder que isso aqui tem uma política
Nesse sentido, podemos analisar que para a
pública por trás que a gente é agente dela, a gente
tem que tencionar pra que seja uma política de
Política de Assistência Social ser considerada, de fato,
qualidade, por que se não, não vai mudar a estrutura, uma política de travessia, esforços devem ser reunidos,
e a gente também tem que fazer miudinho na escuta como o trabalho em conjunto, a parceria estabelecida,
para o grupo, individual, projeto de vida do fulano, o apoio com a rede socioassitencial e, principalmente,
pro adolescente (Plátano). com o compromisso e o engajamento das famílias,
sendo possível que se consiga, cada vez mais, o resgate
Além das estratégias elencadas pelas participantes, da cidadania em busca da conquista da autonomia
outro fator pode influenciar diretamente a Política de almejada pela segurança de travessia.
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Revisão em: 13/02/2013 na assistência social: transitar, travessia. Psicologia &
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