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Planetário, Universidade Federal de Santa Maria, detalhe
Foto Pedro Machry Krum Ribeiro
Na seleção dos prédios também foram observados outros requisitos, além dos elementos
que os caracterizam como moderno, como as informações que indiquem sua denominação,
localização e período de construção, cuja comprovação tanto pode ser documental
como também por meio de registro fotográfico, com a devida indicação da fonte, e
se possível com a identificação dos profissionais responsáveis pelo projeto e pela
execução.
Deste período, excluindo o conjunto residencial conhecido como “Vila Belga” (11),
um conjunto habitacional para os funcionários da Viação Férrea, construída entre
1901 e 1903, destaca-se o prédio do Palácio Rosado, localizado na avenida Rio
Branco com a rua Daudt, considerado por Flôres (12) como o lugar fundamental para
as articulações e lutas dos ferroviários gaúchos, e o prédio da Escola de Artes e
Ofícios construído pela Coopfer a partir de 1913 e inaugurado em 1922, conforme
indicação de Foletto (13), ambos dentro dos fundamentos característicos do estilo
eclético.
Os primeiros sinais de que esta paisagem também estava destinada a se tornar passada
aconteceu ainda na década de 1940 quando a Coopfer começa a diminuir suas ações
devido a fatores organizacionais e financeiros. Flores (15) afirma ser o ano 1947
o mais difícil para a cooperativa. Já na década seguinte, apesar da ajuda financeira
feita pelo no governo estadual de Ernesto Dorneles, a Viação Férrea do Rio Grande
do Sul – VFRGS apresentava graves problemas de gestão.
O agora Colégio Hugo Taylor, a antiga Escola de Artes e Ofícios, ainda conforme
relato de Flôres, devido a sucessivas crises administrativas e financeiras,
implantou uma nova linha pedagógica em 1943, com a instalação de oficinas, das
quais se destaca a fabricação de móveis, caracteriza-se como uma instituição de
ensino técnico-industrial. Entretanto, estes novos objetivos não corresponderam às
expectativas e o colégio encerra as suas atividades em 1986, sem antes sofrer, em
1954, um grande incêndio, sendo que em 1990 o prédio foi vendido a terceiros.
Atualmente é um hipermercado.
O fechamento da escola foi considerado uma grande perda para a comunidade, apontando
como um grande golpe, até mesmo uma traição, um desfalque no ensino de Santa Maria,
conforme publicações da imprensa local (16), o que evidenciava a sua importância
junto à sociedade santamariense.
Nesta época começa a ser definida uma mudança em relação às questões socioculturais
que culminam com a implantação do ensino superior, cujo objetivo maior era a criação
da Universidade de Santa Maria – USM.
Esta transição não foi um fato isolado e sim contínuo, interligado. Assim é
importante salientar que a Cidade Ferroviária estava empenhada na consolidação da
Cidade Universitária, haja vista, por exemplo, sua participação, entre 1955 e 1957,
junto com outras entidades, na campanha para equipar o laboratório dos cursos de
farmácia e medicina com um microscópio eletrônico Philips (19).
Salienta-se que a exceção a estes parâmetros fica por conta do prédio do Planetário
da UFSM, com sua forma parabólica, e do Ginásio do Corintians Esporte Clube, com
sua cobertura cilíndrica, que se apresentam como formas especialmente singulares
na paisagem arquitetônica santamariense.
Taperinha
Foto Pedro Machry Krum Ribeiro
Todavia, o que predomina como elementos de proteção solar são os cobogós, cuja
aplicação acontece em três situações: proteção solar quando colocados junto às
fachadas norte e oeste, como no Taperinha e no rio da Prata, na vedação parcial
das áreas de serviço, independentemente da orientação solar, como no Centenário,
ou ainda para marcar e proteger a circulação vertical, como no prédio dos Correios
e Telégrafos e do Centro de Tecnologia. Desses elementos se destacam as peças em
cerâmica esmaltada em amarelo utilizado na fachada Norte do salão de festas do
condomínio da Galeria do Comércio.
Casa dos Estudantes
Foto Pedro Machry Krum Ribeiro
Por fim, a análise do estrato superior dos prédios indica a presença quase que
total de fechamento horizontal, no mesmo plano da fachada, como proteção da
cobertura. Novamente a exceção é o Taperinha que, devido à presença do terraço-
jardim, onde estão o salão de festas, churrasqueira, capela e jardins cujas formas
orgânicas lembram em muito os trabalhos de Burle Marx. (não construídos), lavanderia
e casa de máquinas, a proteção é feita de maneira ímpar com tela metálica. De uma
maneira mais simples o prédio do Correios e Telégrafos apresenta em sua cobertura,
protegida com telhas de cimento-amianto e delimitada por platibanda de alvenaria,
um apartamento funcional Atualmente a cobertura foi transformada em terraço,
delimitado espacialmente por uma estrutura pergolada. Nos demais prédios a
cobertura é reservada ás instalações de apoio ao prédio e incluindo apartamento da
zeladoria e geralmente protegidas por telha de cimento amianto.
Considerações finais
Ao todo foram elaborados cinco planos diretores, todos fundamentados nos preceitos
do Urbanismo Moderno dos modelos de Le Corbusier e de Lucio Costa para a Cidade
Universitária do Brasil no Rio de Janeiro.
Quando à adoção de uma arquitetura que não procura resolver os problemas de maneira
singular, inovativa, e sim visa soluções a partir da adoção e consolidação das
ideias centrais da Arquitetura Moderna, em especial a Brasileira, que, conforme
Marques (38), define um repertório gerado com base “na imitação de modelos
existentes”, determina a exaustão conceitual e formal do modernismo arquitetônico.
Esta situação não só acontece nos prédios da UFSM como também nos prédios
habitacionais da Base Aérea construídos no final da década de 1960 em Santa Maria.
A exaustão se expressa de maneira exemplar e com tal intensidade que o repertório
modernista passa por uma simplificação significativa, visando mais a otimização
das técnicas construtivas do que da própria representação modernista.
Mesmo que não apresente nenhum elemento arquitetônico enquanto referência nacional,
deve ser destacado que a aplicação dos preceitos modernos adaptados às necessidades
do meio social e ambiental produzindo, conforme definição de Marques (40), uma
“média arquitetônica qualitativamente elevada”.
notas
1
Carta de Burra: documento produzido pelo ICOMOS da Austrália para a conservação dos
sítios com significados cultural, em 1998, conforme versão constante no site do IPHAN.
2
LEME, Maria Cristina. A formação do pensamento urbanístico no Brasil, 1895 – 1965. In
LEME, Maria Cristina (Org.). Urbanismo no Brasil: 1895-1965. São Paulo, Studio
Nobel/FUPAM, 1999, p. 20-38.
3
BELTRÃO, Romeu. Cronologia histórica de Santa Maria e do extinto município de São
Martinho: 1787-1930. Santa Maria, La Salle, 1979, p. 328.
4
KARSBURG, Alexandre de Oliveira. Sobre as ruínas da Velha Matriz. Religião e política
em tempos de ferrovia (Santa Maria – Rio Grande do Sul – 1880-1900).Santa Maria, UFSM,
2007.
5
SANTINI, Silvio. A imigração esquecida. Porto Alegre, EST/EDUS, 1986.
6
BELTRÃO, Romeu. Op. cit., p. 318-431.
7
PETITDEMANGE, Guy. Avant ale monumental, les passages: Walter Benjamin. In BAUDRILLARD,
Jean; LIPOVETSKY, Gilles; PERROT, Michelle; PIERRE-YVES, Pétillon; PETITDEMANGE, Guy;
ROMAN, Joël; THIBAUD, Paul; TOURAINE, Alain. Citoyennité et Urnbanité. Paris, Esprit,
1991. Apud PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Imaginário da Cidade. Visões Literárias do
Urbano. Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Porto Alegre, UFRGS, 2002, p. 15.
8
BRENNER, José Antonio. Os Cassel de Santa Maria desde o glantal. Santa Maria, UFSM,
2010.
9
GUTFREIND, Ieda. Comunidades Judaica no interior do RS: Santa Maria. Santa Maria, UFSM,
2010.
10
FLORÊS, João Rodolpho Amaral. Os trabalhadores da V.F.R.G.S. Profissão, mutualismo,
cooperativismo. Santa Maria, Pallotti, 2008, p. 150.
11
Vila Belga: conjunto habitacional construído entre 1901 a 1903 para os funcionários da
“Compagnie Auxiliare des Chemins de Fer au Brésil”, então responsável pela implantação
da estrada de ferro Porto Alegre – Uruguaiana. LOPES, Caryl Eduardo Jovanocivh. A
Compagnie Auxiliare de Chemins de Fer au Brésil e a cidade de Santa Maria no Rio Grande
do Sul, Brasil. Tese de Doutorado. Barcelona, Universidade Politécnica da Catalunha,
2002
12
FLORÊS, João Rodolpho Amaral. Op. cit., p. 172.
13
FOLETTO, Vani Terezinha (Org.); KESSLER, Janes; JACKS, Nilda Aparecida; BISOGNIN, Edir
Lúcia. Apontamentos sobre a história da arquitetura de Santa Maria. Santa Maria,
Pallotti, 2008, p. 82-83.
14
BELTRÃO, Romeu (Org.). Síntese Histórica de Santa Maria. In: Álbum Ilustrado
Comemorativo do 1º Centenário de Santa Maria, 17 de maio de 1858 – 17 de maio de
1958. Santa Maria, 1958, p. 143.
15
FLORÊS, João Rodolpho Amaral. Op. cit., p. 232.
16
A Razão, Santa Maria, 23, 24 e 25 mar. 1950.
17
ISAIA, Luiz Gonzaga. USM Memórias. Santa Maria, Pallotti, 2006.
18
Idem, ibidem.
19
Idem, ibidem, p. 75 e p. 123.
20
Idem, ibidem, p. 125-127
21
LE CORBUSIER, Charles-Edouard Jeanneret-Gris. Por Uma Arquitetura. São Paulo,
Perspectiva, 2002.
22
PEREZ DE ARCE, Rodrigo. As faces do moderno: o interior e a idéia da fachada.Porto
Alegre, PROPAR/UFRGS, 1977.
23
COMAS, Carlos Eduardo. Precisões Brasileiras sobre um passado da arquitetura e urbanismo
modernos. Tese de doutorado, Universidade de Paris VII, Saint Denis, 2002.
24
COLQUHOUN, Alan. Essays in Architectural Criticism. New York, MIT Press, 1986, p. 51.
In BAHIMA, Carlos Fernando Silva. Edifício moderno brasileiro: A urbanização dos cinco
pontos de Le Corbusier 1936-57. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
25
PEREZ DE ARCE, Rodrigo. Op. cit.
26
BAHIMA, Carlos Fernando Silva. Edifício moderno brasileiro: a urbanização dos cinco
pontos de Le Corbusier 1936/57. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
27
Vasco Prado: (1914-1998) escultor e gravador uruguaianense. Desenvolveu temas da
história e tradição gaúcha, das quais se destaca as inúmeras versões do “Negrinho do
Pastoreio”.
28
Silvestre Peciar: escultor uruguaio, professor aposentado do curso de Artes Visuais da
UFSM. Atualmente radicado em Montevidéu e atuando junto a comunidade anarquista
“Comunidad del Sur”. Fonte: <http://www.revistaovies.com/entrevistas/2010/11/silvestre-
peciar-el-periodista/>.
29
Eduardo Trevisan: (1920-1982), considerado o mais exponente pintor de Santa Maria. Sua
obra também pode ser encontrada em inúmeros prédio da cidade.
30
Juan Humberto Torres Amoretti: artista peruano radicado em Santa Maria. Com obras
expostas em vários países, também se destaca por sua atuação como professor. Atualmente,
aposentado da UFSM, leciona no Centro Universitário Franciscano – UNIFRA.
31
MARQUES, Sergio Moacir. A Revisão do Movimento Moderno? Arquitetura no Rio Grande do
Sul dos anos 80. Porto Alegre, Ritter dos Reis, 2002, p. 83.
32
Entre os estudos realizados pelos arquitetos vinculados a URGS e o projeto desenvolvido
pelo professor e arquiteto Fernando Petersen Lunardi fica evidente a inspiração nos
trabalhos dos arquitetos cariocas, mais especificamente no prédio da Associação
Brasileira de Imprensa – ABI, 1936-1938. Ver: SPALDING, Walter. Gênese do Brasil Sul.
Porto Alegre, Sulina, 1953; BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São
Paulo, Perspectiva, 2010, p. 94-96.
33
Foram contemporâneos dos arquitetos Rino Levi, Jorge Machado Moreira, Roberto Cerqueira
César, quando do curso de Planejamento Hospitalar promovido em 1953 pelo IAB/SP, o qual
teve por aluno o arquiteto Aldary Toledo, ligado na época ao Instituto de Aposentadoria
e Pensões do Bancários, fato que possibilita sua participação no prédio do IAPB de Santa
Maria. COSTA, Renato Gama-Rosa. Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil:
entre o tradicional e o moderno. História, Ciências, Saúde, v. 18, supl. 1, dez. 2011,
p. 53-66.
34
“essa ideia de pátio é uma coisa até muito ligada à nossa tradição mediterrânea, embora
Portugal não seja um país mediterrâneo, mas é um país do Império filiado à tradição
mediterrânea. De modo que essa ideia de criar para cada escola uma área murada, fechada
e tendo o corpo da escola solto, atravessado, e ao longo desses muros [...], construções
térreas para uma série de comodidades e de conveniências dos alunos e de interesse de
cada escola, [...] eu acho que isso é uma coisa bem mentalmente filiada à nossa
tradição”. GOROVITZ, Mateus. Os riscos do projeto: Universidade do Brasil, 1936.
Orientador Júlio Roberto Katinsky. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 1989,
p. 12.
35
Faculdades Isoladas: são as faculdades de origem particular que seriam agregadas a UFSM
quando de sua federalização – Faculdade de Filosofia – FIC e Faculdade de Enfermagem –
FACEM administradas pelas Irmãs Franciscana, e a Faculdade de Direito e Economia, doa
Sociedade Meridional de Educação – Some dos Irmãos Maristas. Todas estabelecidas no
centro histórico de Santa Maria. ZAMPIERI, Renata Venturini. Campus da Universidade
Federal de Santa Maria: um testemunho, um fragmento. Dissertação de mestrado.
Universidade Federal do rio Grande do Sul, 2011.
36
ALBERTO, Klaus Chaves. Os projetos para a universidade do Brasil na década de 30 debates
e contribuições para a formação do pensamento urbanístico no Brasil. In: Seminário de
História da Cidade e do Urbanismo, Natal, PROURB, 2012, p. 1-17.
37
OLIVEIRA, Rogério de Castro. Horizontes e cerramentos na cidade dos prismas. Rio de
Janeiro, Universidade do Rio de Janeiro, 1936. In COMAS, Carlos Eduardo Dias, MARQUES,
Sergio (orgs.). A segunda idade do vidro. Transparência e sombra. Porto Alegre,
UniRitter, 2007, p. 33-47.
38
MARQUES, Sergio Moacir. Op. cit., p. 34
39
MAHFUZ, Edson. A arquitetura consumida na fogueira das vaidades. In MAHFUZ, Edson. O
clássico, o poético e o erótico e outros ensaios. Porto Alegre, Ritter dos Reis, 2002,
p. 113-120.
40
MARQUES, Sergio Moacir. Op. cit., p. 270
sobre o autor
Arquiteto (Unisinos, 1981), especialista em Conservação do Patrimônio Histórico (UFSM);
e mestre em Patrimônio pelo Programa de Pós-Graduação Profissionalizante em Patrimônio
Cultural, Centro de Ciências Sociais e Humanas (UFSM). Professor (2002 a 2008) no Centro
Universitário Franciscano nos cursos de Design, Turismo e Arquitetura. Autor do Guia da
Arquiteura Moderna em Santa Maria 1950-1960.