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LE GOFF, Jacques. Antigo/Moderno. In: História e Memória. Trad. Irene Ferreira.

Campinas: Editora da Unicamp, 2003.

Lucas Brito Santana Da Silva

As palavras “Antigo” e “Moderno” são particulares ao Ocidente, ainda que


equivalentes possam ser encontrados noutras sociedades e culturas. Se atualmente
essas palavras podem nos soar antitéticas, sua história nos mostra que nem sempre
o foram. Antigo poderia significar “tradicional”, enquanto Moderno algo “recente”, e
ambas podem assumir conotações positivas e negativas, ou neutras. Dos inícios do
medievo ao seu fim, considerando-se as rupturas mas também continuidades, a
palavra latina que traduzimos “moderno” significou predominantemente o “recente”, e
a palavra “antigo” o pertencente ao passado, que no século XVI referir, claramente, a
“antiguidade”. Com a divisão historiográfica quinhentista da história em Antiga,
Medieval, Moderna, divisão mais cronológica, o termo “moderno” contrapõe-se mais
ao “medieval” do que ao “antigo”. Aqui, um ponto ressaltado por Le Goff é que a tábua
de leitura do passado não corresponde sempre àquela utilizada pelos homens do
passado; e um dos problemas que marca isto é que no par antigo/moderno é a própria
abertura desses termos a valorizações diferentes, o que instaura ambiguidades, e que
são operadas sempre pelos homens do presente perante seu passado. É isso,
também, que possibilita que o antigo venha a ser retomado e classificado como
moderno, num sentido positivo, como exemplifica o Renascimento.

Tomando como referência as sociedades tradicionais, o autor aponta a


ambiguidade do conceito de antigo nelas, que poderia ir de uma deferência
(sabedoria) àquilo ou àquele que encarna o antigo a um desprezo desvelado
(decrepitude); de todo modo, uma ou outra dessas atitudes é sempre condicionada
mais fortemente pelo “moderno”, representante dos sujeitos ou coisas capazes de
exercer maior poder numa determinada conjuntura histórica. Do outro lado, se os
sujeitos sempre possuem o sentimento do moderno, o sentimento ou ideia de
modernidade só surgiria quando de transformações significavas o suficiente para
ecoarem nas consciências desses sujeitos. No Ocidente, a percepção da
modernidade vai se acentuando conforme os desenvolvimentos da Revolução
Industrial, até que cheguemos no século XX e aparece o ímpeto de “modernização”.

A palavra “antigo”, até o Renascimento, consegue entrar em destaque


enquanto signo que representa um momento histórico especifico, a antiguidade greco-
romana, uma era áurea. Já a palavra “moderno” ficaria ainda comprometida pelos
seus “concorrentes semânticos”, as palavras “novo” e “progresso”. Ao tratar da
oposição entre moderno e antigo neste momento, Le Goff diz que tal oposição se deu
mais entre duas formas de progresso distintas, a da antiguidade e a moderna, esta
com visão de desenvolvimento linear, aquela com uma visão cíclica do
desenvolvimento.

Para o autor, enquanto o termo “moderno” aponta para a consciência de ruptura


com o passado, o termo “Novo” implica um começo ou nascimento, um esquecimento
ou ausência de passado; e como os outros termos abordados até aqui, novo pode
assumir ares negativos e positivos e neutros, indo do desprezo ou recusa, por ser
reflexo ou prenúncio de decadência, à percepção de algo “recém-aparecido, de
aparecido, de puro”. O outro concorrente da palavra moderno, “progresso”, irá
desbancar o termo “moderno”, quando de gerar o verbo “progredir” e o adjetivo
“progressista” no século XIX.

Os conflitos geracionais que antepõe antigos e modernos podem ser


observados na antiguidade clássica, ainda que não existissem essas palavras.
Segundo Le Goff, devido à consciência dos indivíduos sobre seu “modernismo”
acentuam-se, no século XII, esses conflitos. Neste momento a noção de “moderno” é
usada tanto com conotação positiva quanto negativa; ainda neste século veremos a
insistência em perceber, por uns, uma “modernidade” (modernitas), fomentada por um
progresso secular que é notável aos indivíduos. A partir do século XVI surgem
indivíduos e movimentos que se promovem como modernos, em clara oposição aos
antigos, práticas e ideias anteriores; assim o fazem muitos teólogos. É ainda no século
XVI que o termo “antigo” se ver referenciando decisivamente a antiguidade clássica,
ora tomada como exemplo insuperável, pico da humanidade, ora sendo criticada por
ser excessivamente valorizada; isto vindo de homens que acreditavam que podiam,
de fato, igualar-se aos antigos, ou mesmo superá-los; ainda é importante notar a
percepção negativa do período medieval neste momento. No século das Luzes essa
contenda alça os modernos em detrimento dos antigos. Ainda que alguns reconheçam
as relações da antiguidade, passa-se a exaltar os modernos como superiores, seja
por serem herdeiros das experiências humanas acumuladas até o momento seja por
verem a si mesmos realizando progresso efetivo e irrestrito.

Entre o final do século XIX e início do XX, despontam três polos que vão
modificar a dinâmica do par antigo/moderno. O primeiro desses polos, o dos
modernismos, passa por três realidades históricas: um, pelo movimento literário de
cultura hispânica, modernismo literário, que se contrapõe às visões materialistas,
possuindo um ímpeto aristocrático, e recusando a submissão aos modelos da
antiguidade clássicas. O segundo, chamado “modernismo religioso”, que fervilha no
catolicismo, refere-se à Igreja conservadora que está em bate com a sociedade após
as transformações da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, tal como novas
vertentes teológicas, o pulular das ideologias liberal e socialista. E por último, tem-se
a “Modern Style”, termo que abrangerá uma série de movimentos artísticos europeus
e norte-americanos, que glorificam a novidade, rejeitam o academicismo e a
idealização da antiguidade clássica, acusada de produzir uma arte do artificial e
elitista. Esse modernismo artístico objetiva um mergulho no cotidiano, uma arte para
o povo.

O segundo polo, refere-se ao encontro entre as sociedades desenvolvidas e


sociedades atrasadas, onde grita-se a modernização destas últimas; situação nítida
após os processos de descolonização. Para Le Goff o processo de modernização das
sociedades ditas atrasadas passa a equivaler também um processo de
“ocidentalização”, o que por sua vez traz à tona problemas referentes à identidade
nacional dessas sociedades. Essa modernização se deu de três formas: uma onde o
processo não culminou com o apagamento do “antigo” das sociedades, em especial
valores; a segunda onde o processo de modernização gerou graves conflitos entre o
“antigo” e “moderno” a ser instaurado; e a terceira onde houve a modernizações vai
se dando conforme movimentos conciliatórios entre o “antigo” e o “moderno”.

No terceiro polo temos uma redefinição do conceito de “modernidade”, que vai


da criação estética à dimensão das mentalidades e dos costumes, e que estão sob
efeito uma historicidade acelerada. Tal como passar a ser vista, a modernidade
retoma à pena de autores como Baudelaire: a modernidade é composta de
continuidades (do eterno) e de descontinuidades/transformações (da historicidade
que toma forma na cultura); por isso a uma aceitação e simpatia pelo presente, sendo
este em todas as suas desenvolturas também reflexo do “eterno”, como “sintoma do
gosto ideal que emerge no cérebro humano”, que sempre possui uma abertura, logo
sempre inacabado.

Le Goff ainda nota que as querelas entre antigo e moderno estiveram


confinadas a algumas dimensões da “superestrutura”, mas que, definitivamente a
partir do século XX, esse moderno invade todas as dimensões da vida humana, do
porão ao sótão. Ascende-se a ciência e a economia, e os seus desenvolvimentos
passam a ser tomados como representantes de desenvolvimento ou progresso em
toda a vida social. No mais, Le Goff diz que a modernidade pode ser estudada a partir
da demografia, das alterações na família, no desenvolvimento das comunicações, que
são fenômenos que refletem propriedades do que venha a ser a modernidade, assim
como outros, tais como o surgimento do individualismo e a problemática de uma
realização plena da vida humana, sustentada por alguns “mitos”, as mudanças na
organização do trabalho.

Para finalizar, Le Goff abordas as formas de tomada de consciência da


modernidade. Seu primeiro apontamento é a necessidade da “aceleração da história”,
alguma dimensão ou dimensões da vida social assumem uma dinâmica rápida o
suficiente para se dar às consciências dos indivíduos, e isso por conta do
contraste/conflito geracional que a percepção das mudanças gera. Em segundo lugar,
o autor aponta a pressão dos progressos materiais sobre as mentalidades, que para
ele não mudam abruptamente, logo há uma limitação aí, realizando-se as mudanças
na mentalidade primeiramente no “próprio plano das mentalidades”. O choque com o
exterior (outras formações sociais e culturais) é outro elemento que leva à consciência
do moderno. O quarto elemento refere-se à “afirmação da modernidade”, que segundo
o autor estaria sempre dirigida por algumas elites, ainda que haja uma democratização
de suas realizações, pois no nível da elaboração dos seus novos percursos são
aqueles que estão a defini-la.

***

Do ensaio1 da professora Laura de Mello e Souza, nos é pertinente a parte em


que explorar a consciência dos homens do Renascimento, com todos os problemas
pela qual essa identificação é atravessada, sobre o momento em que viviam em
relação ao seu passado. São os humanistas dessa época quem mais nitidamente
tentará forçar uma ruptura entre o seu momento presente e o passado, especialmente
o passado medieval, tomado como período de decadência em relação aos próprios
renascentistas e aos homens da antiguidade clássica.

1MELLO E SOUZA, Laura de. Idade Média e Época Moderna: fronteiras e problemas. Revista da
Abren. Número 7, 2005.
Com a mesma dinâmica da valorização no par antigo-moderno trazida por Le
Goff, Mello diz que os renascentistas se identificavam como modernos, em oposição
aos “velhos” do medievo, exemplo de decrepitude, porém se identificavam com os
“antigos”, os gregos e romanos da antiguidade. Aqui vemos o exemplo de uma relação
entre antigo e moderno que não se dá por oposição, nem desvalorização de um dos
pares, mas por identificação e, pelo reconhecimento do fulgor dos antigos, uma
tentativa de afirmar ou no mínimo compartilhar daquela grandiosidade. Em
contraposição, o que torna possível identificação e valorização, cada vez mais
destacadamente, é a desvalorização e empobrecimento das realizações do período
intermediário.

Mello aponta que uma das características dos homens do Renascimento é a


“autoconsciência”, surgida da percepção das mudanças mais ou menos constantes,
aceleração da história diria Le Goff. Ela não explora os acontecimentos que
representação dais mudanças, mesmo rupturas, mas o que importa é que eles,
segundo Le Goff, são condições impreteríveis para a geração da percepção do
“moderno”.

Umas das diferenças mais significativas entre o ensaio de Mello e o ensaio de


Le Goff, naquilo que tratam sobre os temos antigo e moderno, está na questão que
este ultimo coloca sobre a dinâmica da relação entre Antigo e Moderno, que vai além
da criação destas palavras e da criação de alguns significados específicos para elas,
a exemplo de como a palavra “moderno” ganha conotação positiva. A análise de Mello
deixa soar que, uma vez criadas palavras moderno e antigo e seus significados, mais
nítidos a partir do século XVI, esses significados vão se manter na mesma relação.
Ainda assim, essa autora demonstra como alguns dos significados desenvolvidos para
antigo e moderno na Renascença vão ser reforçados por historiadores posteriores a
esse período. Mas o Le Goff também demonstração claramente é que há ambiguidade
nos significados e relações entre estes termos durante todo o tempo analisado pela
professora Mello, começando pela existência de vários grupos que ao darem
significados diferentes, numa mesma época, aos termos antigo e moderno faziam a
dinâmica entre eles se acentuar. Talvez essa situação advenha dos objetivos do
ensaio de Mello, que não eram especificamente a análise da dinâmica do
desenvolvimento dos significados dos termos em questão.

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