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O presente artigo se propõe discutir a relação do sujeito com o tempo. Para tanto,
vai abordar, no contexto cultural, as transformações quanto ao modo como o tempo
passou a ser concebido na atualidade. A seguir, considerando que estas mudanças
têm conseqüências para a própria constituição da subjetividade, caberá apontar, do
ponto de vista da clínica psicanalítica, a incidência cada vez mais freqüente de um
tipo de narrativa que remete para uma espécie de condensação do fluxo do tempo,
efeito de uma descrença nos próprios sentidos e de uma permanência do sujeito
num tempo presentificado.
> Palavras-chave: Tempo, sujeito, atualidade, narrativa
The present article discusses the relationship between subject and time. For it, it will
approach, in a cultural context, the transformations by which time started to be
conceived in actuality. Following it, considering that these changes have
Este artigo surgiu no bojo de questões clíni- “pacientes difíceis” que basicamente compu-
cas que se apresentam na atualidade. Seu nham a clínica de Ferenczi eram raros, hoje
objetivo é trazer alguns subsídios para a dis- não podemos dizer o mesmo. Agora, os su-
cussão da relação do sujeito com o tempo, jeitos que procuram análise mais se asseme-
considerando que nos deparamos, nos aten- lham aos traumatizados de Ferenczi do que
dimentos, com uma série de perturbações às histéricas de Freud. Esta mudança apon-
psíquicas que remetem a dificuldades desta ta para uma problemática trazida pela teo-
ordem. Se na época de Freud os chamados ria do trauma de Ferenczi, que se refere,
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mais especificamente, a uma perda da cer- jeito não apontaria muito mais para um
teza de si (Cf. Pinheiro, Jordão & Martins, texto imagético, no sentido de um discurso
1998) . No âmbito do sujeito, esta perda que remete à descrição de imagens sem co-
comportaria uma espécie de condensação nexão entre si (Pinheiro & Martins, 2001),
do fluxo do tempo, efeito de uma descren- lançando-o em uma busca desenfreada de
ça nos próprios sentidos e de uma perma- algo que lhe dê a sensação de permanência
nência do sujeito num tempo presentificado. no tempo.
Já a questão do tempo se refere a uma trans-
formação no contexto cultural contemporâ- Sujeito, tempo e mundo
neo que não é sem conseqüências para a contemporâneo
própria constituição da subjetividade. Sem desmerecer os vários ângulos com que
Tal configuração implica dizer que a psicaná- se pode pensar a atualidade, nos interessa,
lise concebe a constituição da subjetividade neste trabalho, enfatizar uma grande mu-
a partir de sua inserção na cultura. É o que dança relativa ao modo como o tempo é con-
nos ensina a obra de Freud, tanto nos arti- cebido pelo sujeito e o modo como esta
gos metapsicológicos quanto nos textos de- mudança o afeta. Essa concomitância visa
nominados culturais. Assim, nada mais indicar que não se trata de conceber qual-
pertinente do que recorrer ao contexto cul- quer tipo de antecedência ou primazia – ló-
tural na tentativa de dar conta das indaga- gica ou cronológica – no enfoque da questão.
ções acerca do modo como o sujeito lida com Consideramos, em última instância, que su-
os impasses que se colocam na atualidade. jeito e tempo são formas de se falar da mes-
Com este objetivo em vista, propomos ana- ma coisa, na medida em que entendemos a
lisar algumas características da sociedade subjetividade como constituída a partir de
contemporânea, indicativas de uma idéia de uma narrativa. Neste sentido, entre os inú-
tempo que não carrega a marca da historici- meros aspectos que se presta a delinear esta
dade, marca essencial para se pensar o pro- mudança, ressaltamos alguns dos avanços
cesso de subjetivação no referencial tecnológicos que tiveram lugar em vários se-
artigos
ça, ou criar com sucesso tantos órgãos quan- mesmo. Diversamente do que ocorreu em
to necessários para promover a vida eterna, vários momentos da história da humanida-
trata-se simplesmente de uma “questão de de, na atualidade a incerteza faz parte do
pulsional > revista de psicanálise >
Por outro lado, cabe lembrar que o mundo tre histórico tal como, por exemplo, uma
contemporâneo é freqüentemente enfocado guerra (Sennett, 2004). Dentro desta lógica,
pelo viés da globalização e da sociedade de como fazer projetos se nos encontramos
consumo. Nesta vertente, a idéia de tra- imersos em uma sociedade que não permi-
balho no mundo globalizado sofreu uma te o comprometimento a longo prazo? Afinal,
profunda modificação. Afinal, o novo capita- quanto mais ágil e capaz de se adaptar às
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mudanças o sujeito precisa ser, mais deve sua indagação a partir de uma outra dimen-
ser capaz de se reinventar; reinvenção que são: a dimensão clínica, levando em conta
deve ter lugar a todo instante. Distintamen- a necessidade de trabalhar a questão den-
te dessa configuração, na época do chama- tro do ponto de vista metapsicológico, para
do “capitalismo burocrático”, a experiência conferir a esta dimensão um estatuto psica-
de cada um se acumulava física e material- nalítico. E isto porque, segundo já ressalta-
mente e a vida era construída numa narra- mos, está em jogo, nesta discussão, uma
tiva linear, considerando que, de acordo com forma de se conceber o sujeito, forma que
Benjamin (1994), narrar é intercambiar ex- tem no tempo uma referência fundamental.
periências (p. 198). Segundo as palavras de Deste modo, a seguir propomos delinear
Sennett (2004): como, na atualidade, o sujeito estabelece
O sinal mais tangível dessa mudança talvez seja uma narrativa peculiar, não linear, situan-
o lema “Não há longo prazo”. No trabalho, a do-se de um modo particular com respeito à
carreira tradicional, que avança passo a passo temporalidade. Com essa perspectiva, um
pelos corredores de uma ou duas instituições dos aspectos a ser levado em consideração
está fenecendo; e também a utilização de um refere-se à necessidade de marcar a relação
único conjunto de qualificações no decorrer de que se estabelece entre tempo e espaço.
uma vida de trabalho. (p. 21) Idéias tais como fronteira, limite, redução
Neste contexto, o autor sublinha que o prin- de distâncias, aproximação das pessoas são,
cípio de que “não há longo prazo” limita a antes de tudo, categorias espaciais. Ou seja,
formação de laços sociais, assim como a as transformações que apontamos incidem
criação de laços de confiança. Adverte, ain- sobre o espaço de um modo singular. Se an-
da, que também no âmbito social mais am- tes, conforme aponta Doctors (2003), o tem-
plo a dimensão do tempo no novo po, operando sobre a matéria, modificava e
capitalismo afeta diretamente a vida das reordenava as relações espaciais, na atua-
pessoas. Afinal, este lema significa, confor- lidade, “... a liberação crescente do tempo
me salientamos acima, não se comprometer das amarras do espaço foi desfazendo a se-
artigos
e não poder acreditar que o outro esteja gurança original que tínhamos com a duali-
comprometido. Tendo como foco a questão dade tempo-espaço” (p. 7).
do trabalho, Sennett vai apontar as dificul-
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conciliáveis” com uma determinada repre- que se associam entre estes dois tempos,
sentação de si, que se tenta preservar, desencadeando o sintoma. Vale ressaltar
visando conferir ao “eu” certa consistência. que Freud trabalha, aqui, com a idéia de
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to psíquico, na ‘“Carta 52’’, Freud (1896) tra- Já nestes primeiros textos podemos entre-
balha com a hipótese de que o mecanismo ver a importância que a concepção de um
psíquico tenha se formado por um processo aparelho de memória tem para a trama con-
de estratificação: o material presente em ceitual freudiana, principalmente porque
forma de traços da memória estaria sujeito, permite extrair uma concepção da histeria,
de tempos em tempos, a um rearranjo se- que vai funcionar como paradigmática da
gundo novas circunstâncias – a uma re- própria concepção acerca da constituição
transcrição. Dessa maneira, a memória não subjetiva. De modo breve, lembramos que
se faria presente de uma só vez, mas se des- esta se sustenta na idéia de posterioridade,
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pressupondo uma historicização. O que a lembrança de uma cena de sedução ocorri-
idéia de tempo a posteriori traz de inédito da de fato (Freud, 1897).
com respeito à dimensão histórica é, sem A noção de uma significação a posteriori vai
dúvida, o rompimento que propicia a propó- permitir conceber o inconsciente não regido
sito da linearidade na história. Ao apresen- por um tempo linear e contínuo, franquean-
tar o aparelho psíquico como um aparelho do, também, seu caráter imprevisível. Con-
de retardo, operando basicamente no tem- siderações que descartam, de saída, a idéia
po do a posteriori, ganha relevo a idéia de de uma relação de causa e efeito com res-
que “o ‘passado’ é lido como uma escritura peito aos processos inconscientes. Entre-
que só se deixa perceber em um determina- tanto, com isso, não se trata de afirmar que
do ‘agora’” (Seligmann-Silva, 2003, p. 398). 2 o que está em jogo é uma total descontinui-
A idéia de retardo inaugura o aparelho de dade ou mesmo que imprevisibilidade reme-
memória a partir de uma forma particular te, necessariamente, a caos. É preciso ter
de conceber a temporalidade, isto é, articu- presente que o inconsciente possui uma ló-
lando-a à temporalidade e à causalidade gica própria, regida pelas associações entre
psíquica; essa, por sua vez, atrelada ao fun- as representações. Nesta medida, conforme
cionamento no tempo do a posteriori. reitera Winograd (2004), o sentido do que
Conforme realçamos, esta não é a única re- ocorre ao sujeito “... deriva (...) das articula-
ferência, na obra freudiana, da noção de ções atuais entre as representações que o
memória – leia-se, em última instância, de sujeito faz, sempre prontas a novos rearran-
tempo; além desta, também podemos en- jos e novas significações” (p. 211).
contrar a idéia de memória como pano de Além disso, somente a posteriori se estabe-
fundo para a formulação de conceitos cen- lece uma relação de causa e efeito. As repre-
trais como o de recalque e de sexualidade sentações se associam e são produzidas a
infantil. Indo mais longe, a própria idéia de partir de um traço em comum. Deste modo
traço (Spur) entendida como traço de memó- se faz história e se constitui a continuidade
ria, apresentada por Freud sobretudo na no tempo, ainda que não linear.
artigos
“Carta 52” (1896) e em A interpretação dos Estabelecendo uma relação entre memória e
sonhos (1900), vai se constituir como funda- esquecimento, a narrativa, perpassada pelos
mental para pensarmos o mecanismo de desejos inconscientes, descarta a idéia de
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Alguns anos depois, a idéia de uma “lem- passado” (Seligmann-Silva, 2003, p. 70); a
brança” vir a ser construída a posteriori ga- história não está ligada a um acontecimen-
nha consistência teórica, com a introdução to de fato. No rastro desta elaboração, a re-
da noção de fantasia, quando Freud passa a tomada da questão do trauma (1920), acaba
duvidar de “sua neurótica” que se refere à problematizando a dimensão narrativa que,
2> Interessante marcar que esta citação se refere, segundo Seligmann-Silva, ao caráter dado por Walter
Benjamin à historiografia. Para esse comentador, Freud é “uma referência central na visão benjaminiana
da historiografia como uma grafia da memória” (p. 399) .
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de alguma forma, conferia ao sujeito um lu- tenha o caráter de uma tentativa de ressig-
gar, posto que a história narrada – ainda que nificação. Logo, distintamente do modo
subvertida – remetia, em última instância, à como é concebido o tempo, na primeira tó-
busca de realização de um desejo proibido. pica, com a segunda tópica, o trauma passa
Em outras palavras, ainda que na perspec- a se relacionar com a problemática do tem-
tiva psicanalítica, a narrativa não siga – de po de um outro modo; trata-se, agora, de um
acordo com a distinção de Jameson sobre os tempo que permanece sempre presente.
dois modos de “historicizar” – “o caminho do Assim, enquanto o trauma na primeira tópica
objeto” que alude às “origens históricas das – e até nos textos ditos pré-psicanalíticos –
próprias coisas” (Jameson, 1992, p. 9) – não aponta para a possibilidade de ressignifica-
podemos esquecer que tomar “o caminho do ção e para o tempo do “só depois”, após
sujeito”, dando relevo “às categorias ou có- 1920, o trauma remete para um tempo dife-
digos interpretativos” (ibid.) significa conce- rente, em que a cena é fixa e o “só depois”
ber “a narrativa como ato socialmente não pode ser agenciado. Apoiando-se na
simbólico” (ibid.). É segundo esta lógica que leitura deste texto de Freud, Benjamin
a dimensão narrativa, até este momento da (1994) vai designar este tempo do presente
elaboração freudiana, operou. como tempo do choque. Dado o relevo que
O trabalho empreendido em “Além do prin- a questão do trauma ganha com relação ao
cípio do prazer” (1920), com a noção de com- tempo, vamos nos servir da teoria do trau-
pulsão à repetição da neurose traumática ma de Ferenczi, para avançar na discussão.
promove uma inflexão no arcabouço concei-
tual freudiano ao colocar em xeque a máxi- O trauma, o tempo e a perda da
ma de que todo o sonho é uma realização de certeza de si
desejo. Neste artigo vai ser trabalhada a Para construir sua teoria acerca do trauma,
questão da compulsão à repetição da neuro- Ferenczi (1933) propõe a montagem de uma
se traumática, remetida a um além do prin- cena mítica: a criança seduz um adulto no
cípio de prazer, levando Freud a formular o registro da ternura (“linguagem da ternura”)
artigos
conceito de pulsão de morte. Este conceito, e o adulto faz uma leitura dessa sedução a
conforme sabemos, é associado ao que não partir da “linguagem da paixão”. Ocorre,
ganha sentido e insiste. Trata-se da repeti- então, uma confusão de línguas que
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ção da cena do trauma sem (re)elaboração engendra a violência sexual. A criança, sem
ano XVIII, n. 184, dezembro/2005
alguma, ou seja, ocorreria a interrupção do poder dar sentido ao que aconteceu, procura
processo de associação. Portanto, o trauma um outro adulto para ajudá-la a
se mantém no presente como um instante compreender o fato. Porém, esse adulto a
único sem vinculação com algo capaz de desmente de forma categórica, restando à
significá-lo. Se não há resignificação, não é criança identificar-se com o agressor que,
o tempo do a posteriori que “está em curso”. por sua vez, se sente completamente
Ou ainda, na impossibilidade de significar culpado após a violência. Tal identificação
a posteriori, o que resta é a repetição de tem lugar somente porque a criança não
uma cena fixa, mesmo que essa repetição compreende o sentimento de culpa do
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adulto agressor. Ferenczi vai considerar que da crença nos próprios sentidos, implicando,
o desmentido é o fator traumático, pois é o por assim dizer, uma ruptura na sensação
que impede a introjeção. Conceito que de existir. Desta maneira, na tentativa de
expressa a forma de funcionamento do significar o acontecimento, o traumatizado
aparelho psíquico que compreende a se identificaria mimeticamente com o agres-
introdução dos objetos externos na esfera sor. Assim como o neurótico, apresentado por
do Eu com um “alargamento” – assim Freud em “Além do princípio do prazer”, po-
podemos entender – do próprio Eu demos dizer que o traumatizado de Ferenczi
(Ferenczi, 1912). é um sujeito que se encontra em incessan-
Cabe ressaltar, aí, a importância da relação te trabalho. Sua forma de organização se da-
do sujeito com o outro, representante do ria na tentativa de restabelecer a certeza de
mundo externo, na teoria do trauma. É atra- si. O próprio autor (Ferenczi, 1909) nos lem-
vés dele que o sujeito pode atribuir sentido bra que Freud concebeu os sintomas patoló-
ao mundo e a si mesmo. Com isso, destaca- gicos como tentativas do sujeito curar-se a
se que, para Ferenczi, o acesso à linguagem si mesmo.
se dá pela apropriação de um sentido forne- Com relação ao trauma, o desmentido pro-
cido pelo objeto. Tomando suas palavras: duz a impossibilidade de introjeção, conse-
“O mecanismo dinâmico de todo amor obje- qüentemente a cena vivida deixa de ganhar
tal e de toda transferência para um objeto sentido. Sendo assim, o sujeito não se en-
é uma extensão do ego, uma introjeção” contra no registro do a posteriori, mas no de
(ibid, p. 182). Assim, a introjeção é um pro- uma cena fixa e aqui vemos uma aproxima-
cesso de apropriação de sentido – através ção com o trauma descrito por Freud em
dela o Eu se forma –, e compreende a trans- 1920. Podemos pensar que se trata de uma
ferência e a identificação. Nestes termos, imagem parada, sem enredo, sem continui-
Pinheiro (1995) aponta que a partir da intro- dade, sem historicização. O que nos permi-
jeção o sujeito pode fantasiar, associar e te considerar que o trauma em Ferenczi
produzir imaginariamente. Ferenczi afirma (1873-1933) pertenceria ao tempo do presen-
pulsional > revista de psicanálise > artigos
textualmente que “... o neurótico procura te, já que não se encadeia numa trama.
incluir em sua esfera de interesses uma par-
te tão grande quanto possível do mundo ex- Considerações Finais
terno , para fazê-lo objeto de fantasias Este breve percurso nos permitiu indicar de
ano XVIII, n. 184, dezembro/2005
ordem do imaginário, mas do semiótico (cf. Acreditamos que esse é o tempo do trauma,
ano XVIII, n. 184, dezembro/2005
Kristeva, 2002). Não dizem respeito à di- provocado pela falta de sentido que põe em
mensão imaginária, porque esta exige, como xeque a certeza de si.
condição de possibilidade, um outro modo Desta forma, o modo como o sujeito de hoje
de expressão, o simbólico, que indicaria um se relaciona com o tempo, que muito nos
momento de advento histórico do sujeito lembra o tempo do trauma tanto em Freud
(Lambotte, 1996). no texto de 1920 quanto em Ferenczi, pode
Resta-nos indagar se a temporalidade no lançar uma luz acerca de seu mal-estar. Este
mundo contemporâneo não seria dessa or- mal-estar parece remetido à ameaça à cer-
dem da fragmentação, da descontinuidade. teza de si na medida em que o sujeito se
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queixa da perda de controle sobre sua vida, FERENCZI , S. (1909). Transferência e introjeção. In:
quando esta se torna um somatório de epi- Psicanálise I . São Paulo: Martins Fontes, 1992.
sódios não interligados. p. 77-108.
Todos devem ser dinâmicos, ágeis, capazes _____ (1912). O conceito de introjeção. In:
de mudar a própria vida a todo momento. A Psicanálise I . São Paulo: Martins Fontes, 1992.
temporalidade não obedece à lógica da con- p. 181-3.
tinuidade, mas acreditamos que ela produza _____ (1931). Análises de crianças com adul-
um outro tipo de narrativa. Configuração que tos. In: Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fon-
muito se aproxima daquela abordada por tes, 1992. p.69-83.
Lissovsky (2003), que discute a questão do _____ (1933). Confusão de língua entre os
tempo na fotografia, apontando para o re- adultos e a criança. In: Psicanálise IV. São Pau-
fluir do tempo sempre presente em toda lo: Martins Fontes, 1992. p.97-106.
imagem fixa. Ou seja, a imagem fixa con- F ORTES, I. O sentido do sofrimento: a positivida-
densaria vários tempos num só tempo, o de da dor em Freud. 2000. Tese (doutorado em
instante. Esse instante teria uma positivi- Teoria Psicanalítica). Universidade Federal do
dade na medida em que é concebido como Rio de Janeiro.
impulsionado pelo tempo. Sendo assim, a fi- F REUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras
xidez se aproximaria da idéia de condensa- Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio
ção. No entanto, no caso das imagens de Janeiro: Imago, 1996.
pontuais e descritivas que escutamos no dis- _____ (1893). Algumas considerações para
curso daqueles que padecem, a condensa- um estudo comparativo das paralisias motoras
ção estaria expressa em imagens que não orgânicas e histéricas. In: Edição Standard Bra-
formam um texto a priori. É preciso o teste- sileira das Obras Psicológicas Completas de
munho de um outro para que se faça uma Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
“costura” destas imagens a fim de que elas v. I, p. 199-216.
se transformem em texto. Acreditamos que, _____ (1895). Projeto para uma psicologia
mais do que interpretar, este seja nosso tra- científica. In: Edição Standard Brasileira das
pulsional > revista de psicanálise > artigos
balho como analistas nos últimos tempos. Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. l. I, p. 335-
Referências 454.
B AUDRILLARD, J. The vital illusion. New York: Co- _____ (1896). Carta 52. In: Edição Standard
ano XVIII, n. 184, dezembro/2005
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