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DO LUTO
Por Ivana de Souza Martins da Silva - RC: 11666 -
09/11/2017
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ARTIGO EM PDF
RESUMO
A morte é vista como tabu nos dias atuais, gerando sofrimento, negação, culpa
e ansiedade, desencadeando tipos de luto que afetam o psiquismo, alterando de
forma significativa o modo como as pessoas veem a vida, bem como suas
reessignificações frente à perda do outro, sendo a morte a única experiência
firmada na certeza de separação definitiva e o luto como um evento único vivido
na peculiaridade de cada um. Este artigo tem como objetivo compreender os
mecanismos psíquicos subjacentes ao processo de luto, buscando esclarecer que
esse processo é um fenômeno psíquico e necessário considerando os seus
efeitos psicossociais, afetivos e cognitivos, bem como suas reações provenientes
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1. INTRODUÇÃO
Para Silva et.al. (2007, p. 98), “a morte de quem se gosta provoca rompimentos
profundos, sendo necessários ajustamentos no modo de se perceber o mundo e
de se fazer planos para continuar vivendo nele”. De acordo com os autores, a
morte de uma pessoa querida provoca uma grande desorganização em vários
aspectos, seja no âmbito econômico, social e familiar, sendo um importante
processo de reorganização mental, emocional e até mesmo social. Diante da
morte e do luto, provavelmente o indivíduo se sentirá desorientado e nada será
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Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo, a partir de uma revisão
bibliográfica, discutir os mecanismos psíquicos subjacentes ao processo de Luto.
Para tanto serão utilizados teóricos que trabalham o luto a partir da teoria de
Bowlby e teóricos que tem como base para análise da perda a psicanálise
Freudo-Lacaniano.
2. LUTO E MORTE
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Moura (2006) traz uma visão da história acerca da morte e do luto até os dias
de hoje. Fundamenta-se nos estudos de Ariés (2003) em transcorrer da
Antiguidade até o século XIX. Na Idade Antiga os doentes em fase terminal
eram velados em casa, juntamente com seus familiares, bem como na presença
das crianças, nada era oculto a respeito da morte. Na Idade Média o índice
crescente de epidemias e doenças infecto-contagiosas e sem cura, favoreceu a
convivência das pessoas com morte, pois era constante e passou a fazer parte
do cotidiano. Acostumados com esse fenômeno, à morte não causava tanta
comoção.
A partir dos meados do século XIX, Ariés (2003) aponta que a morte não mais
passa a acontecer em casa, ao alcance dos olhos da família, mas no hospital.
Possivelmente essa mudança tenha influenciado a maneira como as pessoas
passaram a vivenciar o luto advindo da morte de um ente querido, resultando
em um grande distanciamento entre vivos e mortos, trazendo angústia e muitas
vezes desespero, dificultando a elaboração do luto. Segundo Elias (1993) a
morte é impelida mais e mais para os bastidores da vida social durante o
impulso civilizador.
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1 – Seguro
2 – Inseguro
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ansioso /ambivalente
evitador
desorganizado /desorientado
Para Ainsworth (2009, p.24 apud PARKES), pais que são sensíveis e responsivos
as necessidades de segurança do bebê, dando base estável possibilitando a
criança explorar o mundo, essas crianças toleram separações breves sem muito
sofrimento e respondem rápida e calorosamente a mãe quando ela retorna e as
conforta. Uma vez esses padrões estabelecidos nos dois primeiros anos de vida
mantêm-se marcadamente estável e são preditores da qualidade do
relacionamento com o outro durante a infância, colaborando para que a criança
seja sensível e segura em relação aos outros. Nesse sentido Parkes (2009, p.48)
destaca que “por amar seu bebê, a mãe irá ensiná-lo a se separar dela. Visto
por esse enfoque, o teste mais árduo de um relacionamento de amor pode
muito bem-estar no sucesso que obtemos ao sobreviver á morte daqueles que
amamos.”
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2.2.2.1 ANSIOSO/AMBIVALENTE
Para Parkes (2009) aqueles que desenvolveram esse tipo de apego durante a
infância vão reportar luto intenso e duradouro, tendo a tendência de depender
dos outros, logo após do enlutamento.
2.2.2.2 EVITADOR
Aqueles que desenvolveram esse tipo de apego, segundo Parkes (2009) quando
adultos vão achar difícil mostrar afeto ou chorar e vão tender a ser agressivos e
assertivos em relação aos outros, tendo dificuldades em expor sentimentos e/ou
confiar nos outros, inibindo ou adiando a expressão de luto, sendo mais
propensos a doenças psicossomáticas após a perda.
2.2.2.3 DESORGANIZADOR/DESORIENTADOR
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Parkes (2009) traz em sua pesquisa que crianças que formaram apegos
desorganizados na vida adulta vão adotar modos passivos de enfrentamento e
vão reagir ao luto tornando-se deprimidos, impotentes e potencialmente
suicidas, tendo dificuldades de procurar ajuda dos amigos e da família, embora
busquem a ajuda de médicos e outros.
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Ao referir-se à Freud, (PARKES, 1998) aponta que ele, uma época, considerou a
identificação como uma única condição que o id pode abrir mão de seus objetos.
Ratificando, após dez anos que se uma pessoa estiver perdido seu objeto de
amor, ou tiver abdicado dele, com frequência irá se compensar identificando-se
com esse objeto, formulando que o sujeito é constituído de partes do outro ou
de outros.
Nesse contexto o significado da perda ganha força no que se refere aos papeis
que foram desenvolvidos durante a existência do outro, funções essas que
obrigam o enlutado a vivenciar uma transição psicossocial, coagindo a mudança.
Quando alguém morre, uma série de concepções sobre o mundo, que se
apoiava na existência da outra pessoa, para garantir sua validade, de repente,
ficam sem essa validade. (PARKES,1998).
Segundo Freud (1917), mesmo que haja consciência da perda que deu origem
ao seu grande sofrimento, ou seja, ao seu estado melancólico, a pessoa sabe
quem ela perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém. A angústia se dá do
desligamento libidinal com objeto amado, sendo esse processo executado pouco
a pouco, por um espaço de tempo e de energia catexial, prolongando esse meio
tempo, a existência do objeto perdido.
Para Freud (1914) há uma diferença entre a natureza da melancolia com o afeto
normal do luto. Em seus estudos na obra “Luto e Melancolia” Freud ([1914-
1915] 2010) faz distinção entre a reação a perda no que se refere à perturbação
da autoestima presente apenas no luto, correlacionando os dois estados sobre
mesmas condições. Ambas apresentam um desânimo profundo, a cessação de
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Parkes (1998, p.128) afirma que Freud (1923) em “O Ego e o Id” desenvolveu a
noção de que a retirada da libido que liga uma pessoa a outra pode acontecer
apenas quando a pessoa morta estiver “reinvestida” dentro do ego, alguns
psicanalistas consideram a identificação com objeto perdido como um
componente necessário do luto. Abraham (1970) escreveu um ano depois que
via o objeto “escondido no ego”: “O objeto perdido não se foi, pois agora
carrego dentro de mim e não poderei perdê-lo jamais”
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Desta forma, “figuras das quais a pessoa parece haver abdicado ou que foram
perdidas são mantidas permanentemente ligadas por meio de vínculos que não
poderiam ser ainda mais estreitos.” Rochlin (1965, p.129, apud PARKES).
Segundo Lacan (1962) a angustia é um afeto que não iludi. Besset (2007) traz
que a ameaça da perda do objeto e não a perda em si que se trata a teorização
desse sentimento, portanto, seria uma reação em resposta a uma falta
imaginária ou seja a angústia se manifesta “diante de algo.” Para Catarina
(2008) há diferentes definições de angústia uma quando se trata da reação
ante uma perda iminente; outra relacionada à castração (a perda de um órgão)
e a angústia da perda do amor da pessoa amada ou de um erro real ou
imaginário (angústia moral).
Besset (2007) aponta que a angústia é a presença que escapa qualquer saber.
Suas reações muitas vezes somatizam, afetando o corpo do sujeito que fala. A
dor psíquica é algo aniquilador. O corpo perde sua armadura, sua segurança, e
decai. Um antídoto mais primitivo utilizado pelo o homem é o grito, depois as
palavras ressoadas que tentam formar uma ponte entre a realidade conhecida
antes e após a perda.
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Acredita-se que, apesar de seu caráter limitador, o nada imposto pela morte
possibilita, ao mesmo tempo, abertura para a compreensão de novas
possibilidades de sentido e diferentes formas de pensar e agir, por meio de um
processo de luto vivenciado em variados contextos familiares, evidenciando em
uma poderosa experiência de sofrimento que pode ser ressignificada ou
traduzida em possibilidades mais singulares de existência.
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Então o viver passa ser uma trajetória marcada por um processo evolutivo que
estabelece algumas condições para constituir o ser humano, iniciando com o
primeiro corte, a primeira separação, o afastar-se de um elo de extensão
chamado de cordão umbilical, e a partir daí inaugura o início da perda com
todas as suas implicações. A busca constante do homem em procurar algo que
supostamente o manterá completo é um caminho que se estende por toda a
vida, à vista disso a perda é a repetição de várias outras perdas, remetendo
muitas vezes ao sentimento de abono, ao medo de perder algo ou alguém
sendo esse sentimento definido como angústia.
Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.E
sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e
invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Portanto, o ser faltante sempre irá existir ainda que justifique a sua falta no
outro, mas haverá sempre um lugar a ser preenchido, uma lacuna, a procura do
pai, da mãe ou qualquer outro alguém que contribuiu de forma significativa para
sua autonomia. A separação que o torna único é também é a causa da ausência
e a consciência da falta, tornando o vínculo existente só na lembrança. Segundo
Freud (1917), a criança aprende a amar outras pessoas que remediam seu
desamparo e satisfazem suas necessidades.
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Segundo Zimerman (2010, p.38) outro fator que se faz presente no transcurso
desse caminho é um sentimento universal que se chama amor, sendo usado por
muitos para definir variados vínculos, trazendo na sua etimologia algo
interessante de origem latina, mors-mortis, que se relaciona com o grego
“moros”, tendo entre outras significações, também expressa como morte,
falecimento, óbito. O que torna possível uma correlação harmônica com o
princípio fundamental de Freud quanto à existência das “pulsões da vida” como
“pulsões de amor” ou de “Eros” e as pulsões de morte, ditas por ele como
“agressivas ou de “Tânatos”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Compreender o luto como um processo e não como um estado traz uma nova
visão para possíveis intervenções, fundamentado no conhecimento do homem
com todas as suas peculiaridades e desafios em torno da finitude e o saber lidar
com a falta.
REFERÊNCIAS
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BESSET, Vera Lopes. Luto e angústia: questões em torno do objeto. Lat. Am. j.
fundam. psychopathol. On line, . São Paulo , v. 4, n. 2, p. 185-
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script=sci_arttext&pid=S1677-03582007000200006&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 30 abr. 2017.
BRANCO, Felipe Castelo. Sobre o amor e suas falhas: uma leitura da melancolia
em psicanálise. Ágora (Rio J.), Rio de Janeiro , v. 17, n. 1, p. 85-98, June
2014 . Disponível em<http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1516-14982014000100006&lng=en&nrm=iso>. Acesso
27 de abril de 2017.
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Freud, S. (1917). Luto e melancolia. Em: Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud. (Vol. XIV). Rio de Janeiro: Imago, 1972.
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12/09/2018 Considerações Acerca dos Processos Psíquicos do Luto - Artigo Científico
PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. 2ª ed. São Paulo:
Summus editorial, 1998.
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