Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Álcool e
direção veicular
Maria Helena P. de Mello Jorge
Flavio Emir Adura
dossiê Alcoolismo
RESUMO ABSTRACT
valiosas, não haviam sido capazes de for- variou entre 13,4% em São Paulo e 23,1% em
necer, ainda, um quadro completo sobre o São Luís. A distribuição segundo sexo dei-
problema entre nós. Em 2002, o Centro Bra- xou claro que a frequência entre os homens
sileiro de Investigação sobre Drogas Psico- foi cerca de três vezes a apresentada pelas mu-
trópicas (Cebrid) publicou o resultado do I lheres, bem como que as maiores proporções
Levantamento Domiciliar no Estado de São verificaram-se entre os jovens (MS, 2009a).
Paulo, estudo que englobou as 24 maiores Com relação a esse aspecto, os adoles-
cidades do estado (Galduróz et al., 2002) e, centes e jovens representam o grupo popu-
em 2005, o mesmo grupo, por meio de pes- lacional de maior risco em relação ao uso
quisas domiciliares nas 107 maiores cidades de álcool. Em pesquisas levadas a efeito por
do país (Galduróz et al., 2005), apresentou Carlini et al., nos anos 80 e 90 já se mostrava
aspectos novos e importantes sobre o tema. que os adolescentes estavam bebendo cada
Em 2007, veio à luz o resultado do I Le- vez mais, com início mais precoce, bem
vantamento Nacional sobre os Padrões de como que a velocidade do crescimento do
Consumo de Álcool na População Brasileira vício entre as meninas era maior do que a
(Laranjeira et al., 2007), pesquisa encomen- verificada entre os meninos (Carlini et al.,
dada pela Secretaria Nacional Antidrogas da 1990). Estudo de base populacional reali-
Presidência da República e realizada em 143 zado entre 2005 e 2006, em Pelotas (RS),
municípios brasileiros, abrangendo mais de com 1.056 adolescentes entre 11 e 15 anos,
3.000 entrevistados. Os padrões sobre o con- mostrou prevalência de 23% em ambos os
sumo de bebida alcoólica para o país pude- sexos, sendo maior entre os meninos. Quan-
ram, então, ser estabelecidos, mostrando um to à idade, a prevalência em adolescentes de
retrato do brasileiro de 14 anos ou mais no 11 anos foi de 11,9% (Strauch et al., 2009),
que se refere ao uso do álcool: como, quando, evidenciando não só consumo elevado, mas,
quanto e o que bebe. Com relação à taxa de sobretudo, bastante precoce. O grupo de
abstinência, verificou-se que 48% referiram 15 a 24 anos foi o segundo em frequência
não beber (35% dos homens e 59% das mu- no estudo de Barros et al. (2008), feito em
lheres e, quanto às idades, a proporção foi de Campinas (SP). No levantamento brasileiro,
38% na faixa entre 18 e 24 anos e 68% quan- 9% dos adolescentes referiram beber mais do
do se analisou a população idosa). A respos- que uma vez por semana (12% no sexo mas-
ta à questão “como bebem” foi dada pela culino e 6% entre as meninas), e em relação
análise conjunta das variáveis “frequência” à dose usual, quase 50% dos jovens beberam
e “quantidade”, verificando-se que, embora mais do que três doses em situação habitual
com variações importantes segundo regiões e cerca de 1/3 consumiu cinco doses ou mais
do país e classe social, 52% dos entrevista- (Laranjeira et al., 2007)
dos puderam ser considerados “bebedores”. Esses fatos sinalizam um importante
Desses, cerca de metade referiu “beber pe- caminho a seguir nas políticas públicas de
sada e frequentemente” – padrão perigoso prevenção baseadas em evidências.
e de alto risco para a saúde – sendo a outra
metade constituída de bebedores não pesa- ÁLCOOL E DIREÇÃO
dos e com uso pouco frequente de álcool. VEICULAR – POR QUE
Estudos mais recentes, feitos pelo Ministé- O BINÔMIO DEVE
rio da Saúde, por meio do Sistema de Vigilân- SER REPRIMIDO
cia de Fatores de Risco e Proteção para Doen-
ças Crônicas, a partir de 2006, evidenciaram Panorama epidemiológico dos
que a proporção de indivíduos que declararam acidentes de trânsito no Brasil
haver bebido abusivamente (cinco doses para
os homens e quatro doses para mulheres, em Estudos relativos à situação de saúde no
uma mesma ocasião), nos últimos trinta dias, Brasil mostram que os acidentes de trânsito
condutor se encontra em estados de fadiga 80,7% em relação a vítimas não fatais e 88,2%
e sonolência, revelando, que baixas doses de a vítimas fatais (Oliveira & Melcop, 1997).
álcool já têm um claro efeito sobre a vigilân- Em São Paulo, em 1998-99, numa inves-
cia e a sonolência (Moskowitz et al., 2000). tigação realizada em importante centro de
trauma, durante um ano, constatou-se al-
O comportamento do condutor coolemia positiva em 28,9% dos pacientes
atendidos, vítimas de acidentes de causas
O consumo de bebida alcoólica provoca, externas, sendo que, nas vítimas de trânsito,
ainda, alterações do comportamento, das a taxa foi de 47,2% (Gazal-Carvalho, 2002).
noções de perigo e do nível de consciência, Em estudo realizado em Salvador, Reci-
inibindo barreiras morais e causando perda fe, Curitiba e Distrito Federal, em 1999, em
da autocrítica. A euforia e a empolgação serviços de emergência e no Instituto Médico
refletem-se no descontrole do pé, “que fica Legal (IML), relacionando vítimas de aci-
mais pesado”, fazem com que o alcoolizado dentes de trânsito e álcool, observou-se que,
negligencie riscos, incrementam a impetuosi- entre os homens, 63,5% tinham alcoolemia
dade e a agressividade, causam sono, fadiga, positiva, o mesmo acontecendo entre 53,7%
depressão, desatenção e estimulam tendên- das mulheres (Nery et al., 1999).
cia autodestrutiva. O consumo do álcool está Leyton et al. (2005), em análise de laudos
fortemente associado com a impulsividade e do IML de São Paulo, em 1999, relativos a
comportamentos de risco (Treloar et al., 2012). vítimas fatais de acidentes de trânsito, verifi-
caram 47% com alcoolemia positiva.
Pesquisas que mostram Outro trabalho, também com laudos ne-
associação entre álcool croscópicos de vítimas de acidentes de trân-
e acidentes de trânsito sito no município de São Paulo, em 2005,
mostrou que 39,6% apresentaram alcoolemia
Apesar de Rivara et al. (1993) chamarem positiva (considerando o valor de 0,6 g/l de
a atenção para o fato de que a prevalência do sangue, à época, o limite legal permitido),
uso de álcool é maior nos casos de violência com diferenças estatisticamente significan-
intencional, comparativamente à acidental, tes entre os sexos, as idades e a condição da
a literatura mundial apresenta resultados de vítima no momento do acidente: condutor
pesquisas em que “beber e dirigir” estão for- de veículo fechado, motociclista ou pedestre
temente associados. (Ponce, 2009).
A OMS refere que, na maioria dos países, Modelli et al. (2008) analisaram a situa-
essa associação tem sido causa importante de ção em Brasília (DF), mostrando que 42%
acidentes de trânsito com vítimas fatais. Nos das vítimas fatais de acidentes de trânsito
Estados Unidos, no ano 2000, cerca de meio apresentaram alcoolemia positiva.
milhão de pessoas sofreram lesões e 17 mil
morreram em acidentes de trânsito provoca- Os limites legais
dos pelo álcool. Na Suécia, Holanda e Reino para o uso de álcool –
Unido, a proporção de vítimas fatais entre os a Lei Seca
condutores de veículos com alcoolemia eleva-
da foi de aproximadamente 20% em anos pró- Estudos realizados em diversos países
ximos a 2002 (WHO/FIA Foundation, 2007). confirmam que medidas legais que regula-
No Brasil, várias investigações conduzi- mentam a alcoolemia, quando associadas
das em diferentes momentos, por diferentes à direção veicular, mostram-se realmente
pesquisadores, mostram essa associação. efetivas quanto à redução dos acidentes de
Em Recife, durante os dias de carnaval, trânsito e seu impacto na população, medido
em 1997, a prevalência da alcoolemia positi- pela mortalidade e pela morbidade provoca-
va em vítimas de acidentes de trânsito foi de das pelos mesmos.
B I B LI O G R AFIA