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RESUMO:
Falar de Educação Integral é sempre algo mais que desafiador. Inúmeros questionamentos
surgem sobre como proporcionar aos alunos um Ensino Integral de qualidade, mediante
os vários problemas enfrentados (financeiros, estruturais, administrativos, humanos) para
colocar em prática essas ações. Nesse contexto, surge a relação escola e comunidade
como fator de extrema importância para que se possa realizar de forma eficiente, uma
educação que seja mais que uma mera prestação de serviço e sim uma ação
transformadora para o aluno, para os responsáveis, para a escola e para a comunidade
como um todo.
Palavras-chaves: Educação Integral- Escola sem muros-Relação Escola e Comunidade.
ABSTRACT:
To talk about Integral Education is always something more than a challenge. Numerous
questions arise about how to provide students with quality Integral Education, through
the various problems faced (financial, structural, administrative, human) to put these
actions into practice. In this context, the relationship between school and community
emerges as a factor of extreme importance in order to efficiently carry out an education
that is more than a mere service provision, but rather a transformative action for the
student, the responsible ones, the school and For the community as a whole.
Keywords: Integral education- Schools without walls- Relationship School and
Community.
1
Graduada em História pela Universidade Estácio de Sá, cursou Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão
Escolar: Orientação e Supervisão pela Faculdade de Educação São Luís, Mestra em História pelo Programa
de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em História da Universidade Salgado de Oliveira, Pós-Graduada
Lato Sensu em Educação, Política e Sociedade pela Faculdade de Educação São Luís. Pós-GraduadaLato
Sensu em Psicopedagogia com ênfase em Educação Especial pela Faculdade de Educação São Luís. E-mail:
mirian.de.cristo.1978@gmail.com.
A Educação Integral é um assunto que está de volta as discussões públicas após
alguns anos, onde vários pesquisadores a apontam como um caminho para conseguir uma
“educação pública de qualidade” (GOUVEIA, 2006, p. 84). Inúmeras experiências e
análises sobre a Educação Integral ocorrem em diversas localidades do Brasil, mas o
tema, apesar de ter permanecido alguns anos no esquecimento em nosso país, não é novo,
pelo contrário: desde a antiguidade a Educação Integral era abordada. Ao voltar o olhar
para a Antiguidade, chega-se à Paidéia grega que, consubstanciando aquela formação
humana mais completa, já continha o princípio do que mais tarde se denominou educação
integral: formação do corpo e do espírito (DA COSTA COELHO, 2008, p.85).
Aristóteles já falava em Educação Integral, sendo para ele a educação que
desabrochava todas as potencialidades humanas. No século XVIII, mais precisamente
com a Revolução Francesa e a constituição da escola pública, a Educação Integral voltou
à cena, concretizada sob o olhar jacobino de construção do homem completo. Nesta
conjuntura, há dois pontos que precisam ser ressaltados: o primeiro, de que o período
constitui a instituição pública de ensino – a escola – como lócus privilegiado desse
trabalho educativo; o segundo, de que é evidente que essa completude contém elementos
propostos anteriormente, desde a Paidéia , mas também descarta, ou pelo menos omite
outros que o pensamento anarquista, construído ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX,
vai trazer à tona e tornar relevantes como, por exemplo, a dimensão estética dessa
formação completa (DA COSTA COELHO, 2008, p.86). Mais tarde é com Bakunin e
Proudhon, entre outros pensadores do movimento anarquista, que se estabelecem bases
político-ideológicas para a Educação Integral forjada pelos ideais libertários: igualdade,
liberdade e autonomia são algumas das categorias que fundam o arcabouço filosófico e
educativo dessa forma de pensar e agir. Com Paul Robin, Ferrér y Guardia e Sebastien
Faure, essas bases são experienciadas no cotidiano de instituições escolares que esses
educadores libertários criaram e dirigiram. Karl Marx também se preocupou com o
assunto, preferindo chamá-la de educação “omnilateral”. Educadores europeus como
Édouard Claparède, Jean Piaget, Célestin Freinet defendiam a necessidade de uma
educação integral ao longo de toda a vida.
No Brasil da primeira metade do século XX, por exemplo, coexistiam
movimentos, tendências e correntes políticas dos mais variados matizes, discutindo
educação; mais precisamente defendendo a Educação Integral, mas com propostas
político-sociais e teórico-metodológicas diversas. Desse grupo mesclado faziam parte,
por exemplo, os católicos que, por meio de suas instituições escolares, efetivavam uma
concepção de educação integral calcada em atividades intelectuais, físicas, artísticas e
ético-religiosas, aliadas a uma disciplina rigorosa, aos integralistas, aos anarquistas e aos
liberais. Mais especificamente, o movimento integralista defendia a educação integral,
tanto nos escritos de Plínio Salgado, seu chefe nacional, como naqueles elaborados por
militantes representativos do Integralismo. No entanto, se para eles as bases dessa
educação integral eram a espiritualidade, o nacionalismo cívico e a disciplina, ou seja,
fundamentos que podemos caracterizar como político-conservadores, para os anarquistas,
ainda ativos no mesmo período, a ênfase recaía sobre a igualdade, a autonomia e a
liberdade humanas, em uma clara opção pelos aspectos político-emancipadores.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, foi escrito por Fernando
Azevedo, onde o mesmo defendia a Educação Integral como “direito biológico” de cada
pessoa e como obrigação do Estado em garantir esse direito. O maior obstáculo no período
foi ampliar o espaço educativo para além da sala de aula, transformando outros espaços
físicos em ambientes de aprendizagem, com o objetivo de formar um aluno em seu
aspecto mais amplo possível, como uma forma de reconstrução da experiência,
preparando-o para vida, como afirmou John Dewey. Ele participou de práticas
educacionais reformadoras da Escola Nova, movimento inovador que buscava o
reencontro da real vocação escolar na sociedade. Esse movimento ocorreu em diversas
partes do mundo e possuía características básicas que hoje podemos considerar como
constituidoras de uma concepção de escola de educação integral. A Educação Integral,
sob a ótica dos pioneiros da Escola Nova, não era apenas uma concepção da educação,
era concebida como um direito de todos.
Aqui no Brasil, o movimento escolanovista se fez presente e a Educação Integral
foi amplamente debatida a partir de Anísio Teixeira, que influenciado por Dewey e sua
Pedagogia de Projetos, concebeu a Escola Parque, com a finalidade que as instituições
educacionais deixassem de ser meramente um lugar de aprender a ler e escrever e de
iniciação intelectual para estimular a formação do aluno como todo, levando em conta o
pensar, fazer, participar, conviver e criar. Anísio Teixeira, defendia e implantou
instituições públicas escolares, entre as décadas de 30 e 50, refletindo sobre instituições
escolares públicas, implementando e tendo como um de seus propósitos o de constituir
uma formação completa:
Nos dias atuais, quando se fala sobre “escola de tempo integral”, ela é associada,
imediatamente, à experiência da “Escola Parque”, de Anísio Teixeira e aos Centros
Integrados de Educação Pública, os Cieps, de Darcy Ribeiro. O projeto educacional de
Anísio Teixeira, iniciado com o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), previa a
construção de centros populares de educação em todo o Estado da Bahia, para crianças e
jovens de até 18 anos. O Centro era composto de quatro “Escolas-Classe” e de uma
“Escola Parque”. A proposta visava a alternar atividades intelectuais com atividades
práticas, como artes aplicadas, industriais e plásticas, além de jogos, recreação, ginástica,
teatro, música e dança, distribuídas ao longo de todo o dia. Alguns alunos órfãos ou
abandonados podiam residir na escola. Esse currículo flexível deveria ser implementado
em outras unidades previstas para serem construídas no Estado da Bahia, mas Anísio
Teixeira não conseguiu realizar esse seu sonho. O mesmo ocorreria mais tarde. Anísio
Teixeira, como diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), vinculado
ao Ministério da Educação (MEC), no final da década de cinquenta, preparando o plano
educacional da nova capital pretendia criar 28 Escolas-Parques nas superquadras de
Brasília. Dois anos depois, o próprio professor Anísio Teixeira reconheceu que o projeto
havia sido desfigurado: dando prioridade ao aumento da matrícula, o tempo integral havia
sido suprimido. Como a Escola Parque estava situada numa região de classe média alta,
atendendo aos interesses dos alunos, passou-se a valorizar mais as humanidades e menos
a iniciação para o trabalho. Também se destacou no Brasil a visão integral da educação
defendida pelo educador Paulo Freire, uma visão popular e transformadora, associada à
escola cidadã e à cidade educadora (GADOTTI, 2009, p.21-27).
Os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), quando foram criados na
primeira gestão do governador Leonel Brizola (1922-2004), no Estado do Rio de Janeiro,
retomaram o projeto de escola pública de Tempo Integral. A experiência de educação
integral implantada em Brasília alinha-se ao rol de outras tentativas levadas a efeito,
muitas vezes por iniciativa dos mesmos protagonistas, visando à ruptura com a tradição,
que vem mantendo a educação como privilégio e que busca conservá-lo, ainda hoje, com
uma educação expandida, mas de baixa qualidade para a maioria da população, sendo o
aluno o centro do processo educativo. A ele cabia escolher, de acordo com suas
preferências e aptidões, as atividades das quais gostaria de participar. A cada semestre,
escolhia duas atividades, entre as oferecidas pelas diferentes áreas, e dedicava a cada uma
delas duas horas diárias.
O governo Fernando Collor (1990-1992) retomou o projeto, com o apoio direto
de Leonel Brizola, dando-lhe um caráter mais assistencial e mudando de nome para
Centros Integrados de Atendimento à Criança (Ciacs). Com o impedimento de Collor, o
governo Itamar Franco (1992-1994) retomou o projeto e mudou, novamente, de nome,
mas não de orientação: eles foram chamados de Centros de Atenção Integral à Criança
(Caics). Apesar da polêmica que geraram, Ciacs e Caics acabaram inspirando outros,
como os Ceus de São Paulo. No Brasil, são raros exemplos de experiências. O projeto dos
Ceus foi concebido, desde sua origem, como uma proposta intersetorial, somando a
atuação de diversas áreas, como: meio ambiente, educação, emprego e renda, participação
popular, desenvolvimento local, saúde, cultura, esporte e lazer.
Inúmeros questionamentos surgem sobre como proporcionar aos alunos um
Ensino Integral de qualidade, mediante os vários problemas enfrentados (financeiros,
estruturais, administrativos, humanos) para colocar em prática essas ações. Nesse
contexto surge a relação escola e comunidade como fator de extrema importância para
que possamos realizar de forma eficiente uma educação que seja mais que uma mera
prestação de serviço e sim uma ação transformadora para o aluno, para os responsáveis,
para a escola e para a comunidade como um todo.
Não podemos esquecer que há uma grande diferença entre escola de tempo
integral e aluno de tempo integral (CAVALIERE, 2009). Essa diferença se faz
principalmente de como estará ocorrendo essa educação. Na escola de tempo integral há
um investimento em espaço físico e em mudanças pedagógicas para que a mesma possa
ficar com o educando por um maior período. Já o aluno de tempo integral é aquele que
realiza atividades que não necessariamente ocorrem no espaço escolar, mas sim como
fruto de articulações entre escola, comunidade, parceiros e educadores sociais. Ao pensar
em todas as dificuldades que temos para implantar escolas de tempo integral,
principalmente no que se trata de construção de espaços, fica claro que na falta da mesma,
devemos optar pelo aluno de tempo integral e proporcionar com o auxílio da comunidade,
essas atividades no turno alternativo às aulas. Analisando todas as questões que
atrapalham e em muitas vezes impossibilitam a realização da Educação Integral no
ambiente escolar, sempre se encontram os mesmos problemas. Essas dificuldades
continuarão a ser o calcanhar de Aquiles da Educação Integral enquanto não se conseguir
romper as barreiras entre a escola e a comunidade, modificando a estrutura escolar para
abraçar e acolher os responsáveis, criando uma Escola sem muros.
Ao pensar em uma Escola sem muros se tem um grande desconforto devido ao
tempo de violência que vive a sociedade atualmente. Todos estão cada vez mais
propensos ao isolamento, como forma de tentar garantir a segurança de todos os atores
do contexto escolar, ou seja, pais, alunos, funcionários, professores, gestores. Abre-se
mão da convivência com a comunidade (principalmente aquelas que são consideradas
áreas de risco devido ao tráfico de drogas e demais atividades ilícitas). É cada vez mais
frequente ver escolas cercadas de grades, portões, equipamentos de segurança que
fornecem uma falsa sensação de segurança. Falsa porque apesar dessas barreiras físicas
realmente impedirem ações externas, os alunos que ultrapassam os portões trazem
consigo a violência interiorizada, fruto de todos os problemas sociais que são submetidos
e que sempre explodem dentro do ambiente escolar de várias formas: agressões físicas e
verbais, depredações, furtos, intolerância, desrespeito e na prática do bullying.
A cidade e seus bairros não oferecem somente violência. Eles também dispõem
de inúmeras possibilidades educadoras. A vivência na cidade se constitui num espaço
cultural de aprendizagem permanente por si só, como disse Paulo Freire:
Nesse sentido, não se pode falar em cidade educadora sem Educação Integral. Não
há Educação Integral sem a integração das diversas “educações” da cidade, como
“educação cidadã para o trânsito” e a “educação socioambiental” que aproveita ao
máximo o potencial das ruas, das praças, parques e outros equipamentos da cidade em
benefício da formação integral dos alunos e alunas. Na cidade que educa, o cidadão
caminha sem medo, observando todos os espaços. A escola e a cidade assumem então o
papel de proteger o aluno, proporcionando espaços livres da violência, dos abusos sexuais
e psicológicos, sendo dever de todos proteger as crianças e os adolescentes. A saída para
o problema da violência está relacionada em como a escola conduz sua relação com a
comunidade que está inserida e como ela pode passar a ser um espaço para a construção
da cidadania, onde assumirá o papel não da escola que segrega, mas da escola que protege.
É nesse aspecto que entra a Educação Integral como base para grandes ações,
principalmente relacionada à proteção das crianças e adolescentes. Quando mais tempo o
aluno passar dentro do ambiente escolar, mais tempo ele estará longe da violência das
ruas, do tráfico de drogas e da violência familiar. O artigo 227 da constituição e o artigo
4º do ECA que o transcreve, definem os seus direitos.
A crítica sobre o papel atual da escola está implicada no exame acerca do papel e
da função social que ela pode desempenhar na vida, conforme os educadores brasileiros
aprenderam a reconhecer, revisitando a história de longo prazo da educação, de modo
particular, na leitura do Manifesto dos Pioneiros. Os escritores desse documento
anteciparam que, ao longo dos anos, tanto a escola quanto as demais instituições sociais,
a seu modo, assumiriam papéis focais – e, hoje reconhecemos, às vezes paralelos, nos
processos educativos – sem a preocupação de desenvolver um projeto comum, onde cada
uma consiga dialogar, compartilhar responsabilidades, inter-relacionar-se e transformar-
se no encontro com o outro. Para desenvolver esse projeto comum, a escola e demais
instituições sociais podem ser orientadas a se constituir como uma “comunidade de
aprendizagem”, tal como define Torres:
CAVALIERE, Ana Maria. Educação integral: uma nova identidade para a escola
brasileira. Educação e Sociedade, Campinas, v.23, n.81, p.247-270, dez. 2002.
CAVALIERE, Ana Maria. Escolas de tempo integral versus alunos em tempo integral.
Brasília, 2009. Disponível em:
http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/1470/1219. Acesso
em 13/06/2014.
_____. Escolas de tempo integral versus alunos em tempo integral. Brasília, 2009.
Disponível em:
http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/1470/1219.Acesso em
13/06/2014.
GOUVEIA, Maria Júlia Azevedo. Educação integral com a infância e a juventude. In:
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2006.
MOLL, Jaqueline. Histórias de vida, histórias de escola: elementos para uma pedagogia
da cidade. Petrópolis (RJ): vozes, 2000.
PILETTI, Nelson. Escola e Comunidade: uma interação necessária. São Paulo, 2012.
Disponível em: http://blog.aticascipione.com.br/gestao-escolar-2/escola-comunidade-
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REDE DE SABERES MAIS EDUCAÇÃO: Pressupostos para Projetos Pedagógicos de
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