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Nome: Carolina Duarte Zambonato

Obra: Fortunas do Feminismo – Traficantes de sonhos de Nancy Fraser

Fichamento 03: Capítulo 03

Este capítulo tem por objetivo traçar a genealogia do termo dependência, com
vistas a analisar como as diferentes concepções deste possuem força ativa para modelar
e constituir as relações sociais. Fraser faz este trabalho modificando o método de Michel
Foucault “contextualizando os giros discursivos com giros institucionais e
socioestruturais, aceitando de bom grado a reflexão política normativa.” (P. 111, Fraser)

Para a autora, dependência é um termo ideológico e os usos irrefletidos deste


termo servem para autorizar certas interpretações da vida sociais e deslegitimar ou
obscurecer outras para, em geral, favorecer grupos sociais dominantes.

O termo “dependência” tem, em seus significados radicais, 4 registros:


econômico (dependência de outra pessoa ou instituição); sociojurídico (falta de uma
identidade jurídica ou pública); político (sujeição a um poder dominante);
moral/psicológico (traço individual de falta de determinação ou excessiva necessidade
emocional). Seus usos vão desde designações pré-industriais, passando pelo industrial
até o pós-industrial.

No período pré-industrial, dependência significava subordinação, e os registros


econômicos, sociojurídicos e políticos eram indiferenciados, estando fundidos como
reflexo da fusão das diversas hierarquias do Estado e da Sociedade. Neste período
quase todos estavam subordinados a alguém e o uso deste termo não implicava em
estigma social. A ideia de independência estava ligada a “entidades agregadas” como
nações e congregações eclesiásticas. Do ponto de vista individual, independência estava
ligada a indivíduos proprietários e dependência ligada a “ganhar a vida trabalhando para
outro”.

A dependência, então, caracterizava uma condição normal e expressava uma


relação social, não um traço individual. Do ponto de vista sociojurídico, dependência
(dependency) sim significava inferioridade de categoria e capacidade jurídica. Do ponto
de vista político, expressava condição de súdito e não de cidadão. No caso das
mulheres, a dependência não era tão específica em virtude do gênero, e seu trabalho
possuía reconhecimento como algo essencial – relação com a economia agrária.

Lei dos pobres de 1601 – assistência aos pobres tinha como objetivo devolver os
pobres (excessivamente independentes) para suas paróquias tradicional (relações
tradicionais de dependência).

Com a ascensão do individualismo liberal, os termos dependência e


independência começam a se modificar e deixar para trás a indiferença semântica de
carregavam até então. A ascensão do capitalismo industrial trouxe modificações,
sobretudo a partir dos séculos XVIII a XIX e de condição normal e indiferente (pré-
insdutrial), o concepção passa a ser estigmatizada e vista como condição anômala.
Deixa também e ser vista como uma condição geral e passa a ser mais específica e com
traços individuais. Do ponto de vista do gênero, os papeis sexuais se diferenciam e a
relação de dependência passa a ser mais explícita. O mesmo se passa com a condição
racial (certas características das mulheres e negros são consideradas vergonhosas para
os homens e os brancos).

A religião, neste sentido, ganha importância, sobretudo com o protestantismo


radical que, em oposição ao catolicismo tradicional, cuja relação hierárquica é vista
como positiva e reflexo da relação com Deus, passa a ver a autonomia e o
questionamento hierárquico como pontos fulcrais. Estas concepções terão reflexo nos
movimentos radicais: abolicionismo, feminismo e de organização da classe
trabalhadora.

Com os processes de abolição da escravatura e a revogação da incapacidade


jurídicas das mulheres, a dependência se emancipa de qualquer noção de cidadania e
passa a ser antitética a ela. A generalização do trabalho assalariado e a consolidação das
mudanças econômicas, acompanhados de uma ética protestando do trabalho,
produziram uma coincidência entre independência e trabalho assalariado. O traço de
dependência na relação empregatícia, aqui, é apagado e ganha importância o salário
familiar.

O significado de dependência se transforma e se estende para: o indigente (cuja


sobrevivência pela esmola caracteriza um defeito moral e psicológico); o nativo colonial
e o escravo (por não possuírem status político de liberdade e serem vistos pelo racismo
científico como inferiores); e por último as amas de casa, condição das mulheres
companheiras, que partilham do salário familiar como parasitas e agregam todos os
registros de dependência). Assim, os homens brancos conseguiram independência
jurídica, econômica e jurídica, ainda que formalmente, já as mulheres até alcançaram
alguma independência econômica, porém não as outras, pois diferente dos homens, não
possuíam liberdade de uso sobre seus próprios salários.

Os significados referentes às políticas sociais estadunidenses colocam os termos


dependência e independência em sentidos específicos. Como colônia, os EUA não
passara por uma relação feudal de indiferença com as dependência, então quando surge
já é em seu registro individualista. Isso acarretou um duplo sentido: positivo quando
referente aos movimentos sindicais e negativo quando relacionado à ajuda aos pobres.
Então passa a ser visto como um defeito moral de caráter individual, trazendo uma
diferenciação nos termos da dependência: a boa dependência, como aposentadoria e
seguro desemprego são vistos positivamente porque são direitos ligados a restituição de
trabalho acumulado, ou seja, ligados a uma contrapartida; já a má dependência, aquela
ligada à assistência social, sobretudo de mulheres como filhos e solteiras, é assim vista
pois não tem contrapartida.
Há aqui, uma estigmatização e inferiorização da assistência social como forma
de forçar o trabalho assalariado. A dependência privada das mulheres em relação aos
homens, através do salário familiar é vista como preferível do que a dependência
pública através da assistência social. Fortalece-se a primeira perspectiva em detrimento
da segunda.

Nas sociedades pós-industriais, todas as formas de dependência são evitáveis e


censuráveis, e cada vez mais se centra nos traços individuais, dado que cada vez mais há
a abolição formal das dependências jurídicas e políticas. Da mesma forma, o salário
familiar é descentralizado e o próprio núcleo familiar entra em competição com outras
formas de organizar a vida social.

O ponto mais importante é a que de todas estas formas de dependência, a única


que não se apresenta como tal é o trabalho assalariado, visto como o status independente
por excelência. O trabalhador é o sujeito social universal que centraliza todas as
características positivas.

No tempo pós-industrial, a dependência é cada vez mais estigmatizada e vista


não apenas como um defeito de caráter moral, mas também como uma patologia do
ponto de vista psicológico. Discurso científico nos anos 80 que aponta uma maior
patologização das mulheres brancas por excessiva dependência emocional, e, em
oposição das mulheres e famílias negras, por excessiva independência.

A autora então coloca a necessidade de reavaliação da política de bem-estar pós-


industrial e pontua duas correntes: a primeira centrada numa visão mais tradicional em
que os pobres dependentes não tem problemas apenas do ponto de vista econômico, ou
seja mantém a ideia de uma dependência moral e psicólogo e a segunda centrada numa
visão neoclássica, de “homem racional”, em que trabalho e assistência social são
opções.

Conclui que é preciso repensar os termos próprios em que o debate se dá

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