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CATEGORIZAÇÃO
Professoras: Me. Nathalia Barbosa Limeira
Me. Fernanda Regina Cinque de Brito
DIREÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender o conceito de família.
• Entender a função/papel de cada um dos membros na relação familiar.
• Compreender o ciclo vital da instituição familiar.
PLANO DE ESTUDO
Por conseguinte, refletimos com base em diversos estudos sobre o que é família.
Buscamos aqui uma definição que dê conta de contemplar todos os arranjos fa-
miliares, deixando à margem desta discussão a definição que contempla somente
os componentes pai (homem), mãe (mulher) e filhos. Isso porque os novos arran-
jos familiares tornam impossível definirmos e compreendermos a família sobre esta
perspectiva tradicional.
Por fim, discutimos sobre o ciclo vital das famílias. Assim como temos um ciclo
vital em nossas vidas, nascer – desenvolver-se – morrer, a família também tem um
ciclo que lhe próprio. Porém, uma ressalva deve ser feita aqui: assim como entre o
nosso nascimento e morte não percorremos o mesmo caminho, mas tomamos de-
cisões distintas, traçamos modos diferentes de viver nosso percurso, também com
a família ocorre o mesmo.
Caro(a) aluno(a), o convidamos a iniciar seus estudos sobre esta temática.
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CONSIDERAÇÕES
INICIAIS SOBRE A
FAMÍLIA
Definir o que seja família parece-nos uma tarefa complexa. Se observarmos essa ins-
tituição ao longo dos anos e a partir do movimento da história de nossa civilização,
perceberemos que ela se modificou em cada período histórico. Mesmo que não
façamos esse retorno histórico e conceitual acerca deste termo, se olharmos à nossa
volta, perceberemos a diversidade e a complexidade de definirmos este termo.
Ariès (1981), historiador francês bastante influente nas discussões acerca da infân-
cia e da família, estuda este último termo, relacionando-o à história e cidade e, neste
sentido, sua investigação procura identificar como a noção de família modificou-se
paulatinamente, em decorrência do surgimento das cidades, ainda na Idade Média.
Sua tese inicial aponta para a ideia de que “a comunidade, mais que a família, deter-
minava o destino do indivíduo” (ARIÈS, 1981, p.13). Isso porque cada sujeito nascia
em uma comunidade formada tanto pela família quanto por vizinhos ou pessoas
com as quais mantinham uma relação de proximidade. Ocorre que ao “sair da barra
da saia da mãe” os filhos precisavam buscar seu espaço dentro desta comunidade.
A noção de domínio é fundamental aqui. A ocupação do espaço dentro da comu-
nidade marca-se como uma demarcação de domínio.
Para Ariès (1981), o domínio, ou seja, o espaço ocupado pelo homem dentro da
comunidade, embora houvesse uma determinada rigidez nas relações sociais, de-
pendia do homem, de sua agilidade em conquistar o espaço. Quando afirmo que
havia determinada rigidez nas relações sociais, refiro-me aos espaços ocupados por
cada um dos membros familiares – e que, consequentemente, compõem a comu-
nidade. A mulher tem seu papel bastante definido, tanto na comunidade quanto no
seio da família. A ela, as discussões públicas, as decisões sobre o rumo da cidade ou
o trabalho fora de casa lhe eram negados. Seu espaço de vivência restringe-se ao
núcleo familiar, o qual organiza, mantém e gera. Na comunidade, sua ação se res-
tringe à participação das cerimônias religiosas, procissões ou festas. Mas o papel a
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ser desempenhado por ela aparece como já determinado: ajudar o marido, cumprir
suas obrigações de esposa e ser religiosa.
Ainda de acordo com Ariès, três mudanças importantes, ocorridas entre os séculos
XIX e XX, vão fundar um novo conceito de família. A primeira mudança refere-se à
“[...] repugnância com que a sociedade global, isto é, o Estado, passou a encarar o
fato de certas áreas da vida escapar ao seu controle e influência” (ARIÈS, 1981, p.15).
O Estado, até então, mantinha-se neutro nas questões da vida privada de cada um
dos seus partícipes. Com o avanço das ideias iluministas, o Renascimento e a indus-
trialização, o Estado exige para si o domínio tanto da vida pública quanto da privada.
Um segundo fator importante relaciona-se à questão acima: a separação entre
o lugar do trabalho e os demais lugares, seja a casa, o campo ou a rua. De acordo
com Ariès:
Este lugar específico para o trabalho foi uma invenção desta nova sociedade,
derivada das relações capitalistas e liberais que se impunham, e daí emerge um
espaço de ocupação e de domínio que antes não existia. A terceira mudança im-
portante para o novo conceito de família decorre das modificações postas acima,
porém sua natureza é psicológica. “A grande revolução da afetividade”, como afirma
Ariès (1981, p.16), é que proporciona uma nova perspectiva sobre as relações fami-
liares. Os homens trabalhadores se dividirão entre estes dois polos: família e trabalho.
Decorre daí que aqueles que não trabalham, mulheres, crianças e velhos, têm suas
vidas absorvidas pelo ambiente familiar. Isso não significa que não haja relações de
afetuosidade no ambiente familiar, mas como são sujeitas ao controle e vigilância,
as relações estabelecidas neste polo são bastante distintas das relações desenvolvi-
das no ambiente familiar.
Neste sentido, a família incorpora, não sem intolerância e mal-estar, as atribuições
que lhe são infundidas, decorrentes da crise vivida nas cidades. A organização das
cidades, do ambiente de trabalho, da vigilância do Estado sobre os atores da cidade
insurgem na família a ideia de que somente ali pode-se ser o que é, sem o controle
externo. “A família passou então a deter o monopólio da afetividade, da preparação
para a vida, do lazer” (ARIÈS, 1981, p.23).
Para o autor, somente a partir daí é que se pode pensar nas relações familiares,
como relações de e com afetividade. Claro, nos parece que esta afirmação seja pre-
cipitada e justificam-se aqui as críticas tecidas a este historiador, já que podemos ver,
ainda na Idade Média, por exemplo, a preocupação com a educação e com a vida
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afetiva da mãe, e também mulher, com seu filho. É o caso, por exemplo, de Dhuoda
(1995), a qual, em sua obra La educacion cristiana de mi hijo, reflete acerca da for-
mação de seu filho. Escrita sob a forma de Espelho de Príncipe, no século IX, a obra
considera a ética, a fidelidade e a religião como fundamentos essenciais para se pensar
a educação. Porém, o que trago à discussão é a ideia da afetividade, tanto nas rela-
ções entre o casal quanto na formação da criança, a qual, a partir de agora, ganha
espaço nas relações familiares e sociais.
atenção
““
A interação pode ser compreendida como incidentes ou episódios entre,
no mínimo, duas pessoas. Nestes episódios uma pessoa emite determinado
comportamento em direção à outra pessoa e esta, por sua vez, emite uma
resposta, formando cadeias de comportamento que caracterizam o fluxo da
interação. Uma relação é composta por interações já estabelecidas entre, no
mínimo, duas pessoas [...] o que essencialmente define a relação é a influên-
cia de uma interação sobre as outras (DESSEN, 2008, p.121, 122).
reflita
As mães e pais solteiros, as famílias compostas por avós e netos, ou ainda as
famílias nas quais os filhos não têm a consanguinidade como fundamento,
por serem adotados, estão fora desta definição. Não poderemos conside-
rar os casos acima expostos como família?
Fonte: elaborado pelas autoras.
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““
[...] cuidado da vida tanto afetivo como social, onde se dão e se aprendem
noções fundamentais para a consecução de tal fim que poderíamos resumir
como se segue: procriação, cuidado da saúde, preservação da vida, aquisição
de habilidades profissionais, aprendizagem da convivência familiar e social
(SOIFER, 1982, p.11).
Neste sentido, o termo família é entendido pelo viés biológico e social, que supõe
procriação, mas também o cuidado necessário com seus pares, além da educação
para a vida social. Ou seja, o termo aparece aqui como a instância primeira e funda-
mental ao indivíduo.
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Uma definição de família dada por Soifer e a qual corrobora com nossa concei-
tuação do que seja ela:
““
Um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um
lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas (ou não) por
laços consanguíneos. Este núcleo, por seu turno, se acha relacionado com a
sociedade, que lhe impõe uma cultura e ideologia particulares, bem como
recebe influências específicas (SOIFER, 1982, p. 22).
““
A família é um pequeno grupo composto por indivíduos relacionados uns
aos outros em razão de fortes lealdades e afetos recíprocos, ocupando um
lar ou um conjunto de lares que persiste por anos ou décadas. Entra-se na
família através do nascimento, adoção ou casamento e deixa-se de fazer
parte dela apenas pela morte. [...] O que define a família, ao nosso ver, são
as funções desempenhadas por seus membros em suas inter-relações, um
sem número de arranjos entre membros com tais características de lealda-
de, afeição, durabilidade de pertinência, como por exemplo: casal sem filhos,
casal com vários filhos, avós, filhos e netos, um pai ou mãe singular e filhos,
casais recasados com filhos de outras relações. Todas são famílias no sentido
dessa definição (MACEDO, 1994, p.185).
A definição exposta por Macedo configura a família de modo macro e micro: na macro
definição, apresenta a família como todos os participantes de uma mesma unidade.
São consideradas, então, partes de uma mesma família os avós, pais, tios, primos, so-
brinhos e a pluralidade de pessoas que podem compor esta instituição. Na micro
definição deste termo, podemos perceber o núcleo familiar, ou seja, as personagens
que compõem a família e que vivem em um mesmo ambiente: pode ser que seja
um pai, uma mãe e seus filhos, mas também pode ser um pai, uma mãe e seus filhos
vivendo em um mesmo ambiente com avós, tios, primos ou outros pares familiares.
Tendo definido o que entendemos por família, resta-nos refletir sobre seu ciclo vital.
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CICLO VITAL DA
FAMÍLIA
Assim como tudo o que é vivo possui um ciclo vital, também a instituição familiar o
possui. De acordo com Macedo (1994), compreender este ciclo vital possibilita-nos
observar as características funcionais da família em cada etapa de seu desenvolvimen-
to através das gerações. Enquanto psicopedagogos, importa-nos compreender esse
ciclo na medida em que podemos, a partir dele, inferir em que estado vital a família
se encontra. Compreender o ciclo vital da família parece-nos, portanto, fundamental.
Para Osório (1996), o ciclo vital familiar pode ser resumido nos seguintes tópicos:
1. Formação de um casal para a construção de uma nova família.
2. Nascimento dos filhos.
3. Adolescência dos filhos.
4. Saída dos filhos da casa paterna.
5. Morte dos avós.
6. Envelhecimento, doença e morte dos pais.
atenção
A adolescência dos filhos, por sua vez, marca uma nova fase de conflitos familiares
necessários à formação do adolescente. Estes conflitos geram inseguranças tanto
nos pais, quantos nos filhos.A adolescência é marcada, nesta perspectiva, como o
início do rompimento gradual com a família, que se concluirá com a saída deste da
casa dos pais. Ainda que o vínculo e a afetividade permeiem essa relação, a adoles-
cência desloca a configuração do filho no núcleo familiar, pois paulatinamente ele
vai tornando-se independente. Isso significa que as relações estabelecidas a partir
daí serão relações entre adultos e não mais entre adultos e criança.
saiba mais
Fonte: EIZIRIK, Cláudio laks; BASSOLS, Ana Margareth Siqueira. O ciclo da vida
humana: uma perspectiva psicodinâmica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
A saída dos filhos de casa, uma quarta mudança no ciclo vital da família, é vista pelos
pais como o esvaziamento do ninho (OSÓRIO, 1996). Novamente a família precisa
reorganizar-se para acomodar essas novas modificações, seja pela saída do filho para
o estudo, trabalho ou casamento. Uma nova configuração familiar deverá ser ins-
taurada para que os pais possam então lidar com a “síndrome do ninho vazio” e, por
sua vez, um novo ciclo vital se inicia com a saída dos filhos, que agora formarão suas
próprias famílias.
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Por fim, a morte dos avós e dos pais encerram um ciclo familiar nuclear. A morte
é encarada nesse momento como sentimento de perda, e o luto vivido de maneira
saudável é necessário à própria reorganização familiar.
Como afirmamos anteriormente, este ciclo é variável e não se constitui em uma
sequência a ser seguida rigorosamente, “os divórcios [...] face às inúmeras variáveis
que introduzem na estrutura familiar, bem como as alterações significativas que
promovem no ciclo vital da família, nos obrigam a repensá-la em novos contextos”
(OSÓRIO, 1996, p. 23).
O que nos importa na compreensão do ciclo vital familiar é a reorganização sempre
saudável e acomodativa das novas fases de expansões ou dispersões que lhe são in-
trínsecas. Claro é que dada a diversidade de organização e estruturas familiares que
temos e dada a diversidade de possibilidade de definirmos o termo família, cada uma
destas instituições organizar-se-á de forma distinta, mas algumas regularidades lhe
são intrínsecas, como a constituição de um novo núcleo familiar, o nascimento dos
filhos e a morte dos componentes familiares.
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reflita
Deste modo, mais que compreender o ciclo vital peculiar a cada família, importa-
-nos, enquanto psicopedagogos, compreender como a família encara o processo de
mudança necessário, mas também como permite aos seus filhos a criação de uma
identidade e personalidade que lhe seja própria.
atividades de estudo
1. Vimos em nossos estudos que o historiador francês Philippe Ariès discute acerca da
família, relacionando-a à história da cidade, ou seja, para ele a noção de família mo-
dificou-se em decorrência do surgimento das cidades. Ariès destaca três mudanças
importantes entre os séculos XIX e XX. Sobre estas mudanças, leia as assertivas e as-
sinale a correta.
a) A primeira mudança está relacionada com a propagação das ideias liberais e com
o modo de produção capitalista em ascensão. Neste momento, ocorre o que Ariès
determinou como sendo a separação entre o lugar do trabalho e o da casa.
II. A ideia central da definição apresentada por Macedo é a função familiar desem-
penhada por cada um dos integrantes.
atividades de estudo
III. Macedo propõe que a família é uma unidade básica da interação social, sendo
que as relações estabelecidas na família é composta por interações. A autora di-
ferencia interação de relação.
IV. A definição proposta por Macedo configura a família de modo macro e micro. Em
relação ao primeiro modo a família é apresentada como todos os participantes
de uma mesma unidade. já no segundo modo, podemos perceber o núcleo fa-
miliar, ou seja, as personagens que compõem a família que vivem em um mesmo
ambiente.
( ) Marca uma nova fase de conflitos familiares necessários à formação do filho nesta
etapa. Tais conflitos geram inseguranças tanto nos pais quanto nos filhos.
( ) É vista pelos pais como o esvaziamento do ninho e os pais devem saber lidar com
o que comumente chamamos de “síndrome do ninho vazio”.
A sequência correta é:
a) 1, 2, 3 e 4.
b) 2, 1, 4 e 3.
c) 3, 2, 4 e 1.
d) 2, 4, 1 e 3.
e) 4, 2, 1 e 3.
resumo
Ao longo deste estudo, buscamos repensar uma definição de família que desse conta de incluir
todas as modificações vividas em nosso mundo contemporâneo. De uma definição de família
constituída apenas pelo homem-mulher-filho, propomo-nos a pensar em uma definição que in-
cluísse todas as possibilidades de constituição familiar.
Com isso, nossa trajetória buscou, em diferentes autores, elementos que corroborassem com nossa
ideia de que a família, independente da forma que é organizada, constitui-se como o núcleo pri-
mordial de socialização, afetividade e humanização do homem.
Vimos que o vínculo afetivo, tão importante na conceituação de família moderna, é um fenôme-
no recente e que, embora possamos perceber esses vínculos em alguns momentos da história
de nossa civilização, o afeto e esta noção de pertencimento são acontecimentos recentes. Vimos
que a partir do historiador Ariès, a crise familiar que enfrentamos, esse questionamento e a sen-
sação de não sabermos como proceder com a educação de nossos filhos, não é causada pela
família, mas tem sua causa fora dela. A entrada do homem no mundo do trabalho, o surgimento
do liberalismo e do capitalismo e o modo de produção burguês reconfiguram a noção de família.
Além disso, discutimos o ciclo vital da família, o qual, embora possa variar de família para família,
é importante conhecermos e compreendermos, pois um ciclo malsucedido, com perdas, traumas
ou cisões, contribui para a formação de sintomas e/ou dificuldades, tanto de relacionamento
quanto de aprendizagem. A formação da personalidade e da identidade dos filhos tem sua base
na organização familiar e longe de querermos afirmar que somente as famílias com ciclos vitais
como o descrito aqui são passíveis de sucesso, o que nos importa é refletir sobre as estratégias
de compreensão da organização familiar e de sua dinâmica singular a cada núcleo familiar.
material complementar
Ano: 1955
ARIÈS, P. A família e a cidade. In: FIGUEIRA, S.; VELHO, G. (Orgs). Família, Psicologia e Sociedade.
Rio de Janeiro: Campus, 1981.
EIZIRIK, Cláudio laks; BASSOLS, Ana Margareth Siqueira. O ciclo da vida humana: uma perspec-
tiva psicodinâmica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
MACEDO, R. A família diante das dificuldades escolares dos filhos. In: OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N.
Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis: Vozes, 1994.
3. Alternativa D. 2, 4, 1 e 3.