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RESUMO
O artigo visa explicitar o insuficiente registro de qualquer espécie junto aos órgãos públicos, assim
como os meios e incentivos que garantam a perpetuação do bem cultural em questão, além de
dissertar acerca das possíveis ações de salvaguarda do patrimônio imaterial relacionado à cultura
negra de Bom Despacho, como mapeamento, inventário e documentação de tal expressão. Quanto à
língua da Tabatinga, este é um patrimônio cultural ainda desconhecido, já que o Brasil é visto como
monolíngue. Apoia-se tal pesquisa no “Decreto nº 7.387, de 9 de dezembro de 2010, que instituiu o
Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL)”. Tal insuficiência verifica-se por meio do
levantamento de dados com propósito para Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que se
desdobrou no presente artigo. Os dados pesquisados revelam a precariedade dos registros da cultura
negra em Bom Despacho, sendo os poucos registros encontrados insuficientes e superficiais pra
apreender e representar todo o valor simbólico e a complexidade desta cultura. A salvaguarda do bem
cultural só é efetiva se contar com participação dos envolvidos, concedendo a este respaldo e bases
para subsistir como prática ou referência.
Bom Despacho
O município de Bom Despacho está localizado no Centro Oeste mineiro, entre as cidades de
Nova Serrana e Luz, e a 141 km da capital Belo Horizonte. Com aproximadamente 1.212,7
km², no ano de 2010 contava com população de 45.624 mil habitantes (IBGE). Destes, 45%
negros e pardos. Segundo Rodrigues (1967), a história do município é ligada a de Pitangui –
localizado a 72,2 km de Bom Despacho -, que foi uma das primeiras vilas do ouro, a qual
pertenceu até o ano de 1880. Por meio da abertura de novos caminhos, chamada Picada
Pitangui-Piraquara-Paracatu, que cortou o atual município e quando as minas de Pitangui já
quase não forneciam mais ouro, todos que viviam diretamente e indiretamente da
garimpagem puseram-se no campo para exercer novas atividades econômicas, como as
agropecuárias e atividades agrícolas, ganhando concessões das terras que até então não
eram exploradas.
No entanto, o autor verifica por meio do Livro do Tombo da Paróquia Nossa Senhora do
Bom Despacho escrito pelo Padre Nicolau Ângelo Del Duca (1886), que o povoamento teve
início com a chegada de quatro portugueses em aproximadamente 1775. A divergência de
informações sobre os primeiros habitantes de Bom Despacho retrata a ausência de fonte
confiável sobre o verdadeiro fato histórico, o que pode vir a construir no corpo social do
município uma compreensão que beira a ficção e o místico por se tornar histórias que
deixam dúvidas quanto à sua verificação.
Comunidades Quilombolas
Pela análise dos documentos apresentados no primeiro capítulo, vê-se que os primeiros
habitantes das terras do município foram os escravos, no entanto a formação da Tabatinga
foi por ex-escravos vindos de distintas áreas da região próximas ao município. O nome
Tabatinga foi dado em referência ao barro branco que os habitantes usaram para construir
seus casebres. Em entrevista dada aos pesquisadores Tânia Nakamura e Lúcio E. Júnior
(2010), a moradora do bairro, dona Maria Joaquina da Silva – conhecida popularmente
como Dona Fiota ou Fiotinha -, conta como surgiu a Tabatinga:
Para além da citação acima, que aqui colocado como propósito de verificação do surgimento
da Tabatinga, é importante que ressalte ao mesmo tempo a indignação de D. Fiota quanto
ao nome dado ao referido bairro. Entende-se aqui que essa indignação seja ao mesmo
tempo sinônimo de não reconhecimento de D. Fiota com o nome Ana Rosa, ou uma forma
de silenciar sua história. Sgoti e Peruzzo, em uma artigo publicado na Intercom em 2015,
relatam esse fato e fazem uma crítica não menos dura e pertinente a esse acontecimento.
Sebastiana Geralda Ribeiro da Silva (Dona Tiana), mentora de programas no bairro, e sua
filha Sandra Andrade, presidente da Associação Quilombola Carrapatos da Tabatinga, em
entrevista ao IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, 2010) contam
como vieram para a comunidade:
Além da comunidade Quilombola1 Carrapatos da Tabatinga que foi certificada como tal pela
Fundação Palmares em 2005, a área com o passar dos anos foi ocupada por outros
moradores modificando sua característica inicial. A expansão causou, em 2004, a mudança
do nome do local para Bairro Ana Rosa (IBASE, 2010). Ana Rosa é o nome de uma indústria
granjeira localizada nas proximidades do bairro. Por ser um bairro periférico e de formação
afro-descendente, o bairro sofre grande preconceito do restante da cidade, ganhando
significações e estereótipos que estigmatiza o local como lugar de criminalidade. Apesar do
cenário problemático, o bairro abriga ainda manifestações culturais remanescentes,
passadas de geração para geração como o Congado, a Gira da Tabatinga, a Capoeira e a
Umbanda.
A Gira da Tabatinga
1
Quilombola: escravo fugido.
em entrevistas com moradores do local, a língua era tida como sinônimo de marginalidade e
seus falantes, consequentemente, sofriam repressão policial fazendo com que o número de
falantes reduzisse com o passar dos anos. Em 2007 foi publicado, pela Fundação
Guimarães Rosa por meio do projeto “Afro-Brasileiro: (Re) Criando Nossas Raízes”, um total
de 12 volumes denominados “Contando Saberes – Histórias da Dona Fiota” que consistia no
resgate da oralidade desse dialeto. No entanto, de acordo com o levantamento realizado por
este trabalho, este é o único documento que trata de maneira específica a língua. Tal
registro encontra-se disponível para consulta na Biblioteca Municipal de Bom Despacho. Na
cartilha publicada IBASE (2010), consta que aproveitando a lei sancionada em 2003 que
torna obrigatório o ensino de História e Culturas afro-descentes nas escolas de ensino
fundamental e médio, a comunidade conseguiu a promessa de que a Secretaria Municipal
de Educação remuneraria uma professora da Gíra Tabatinga.
A questão era: quem daria aulas? Os moradores não duvidaram: dona Fiota.
Afinal, ela era o Aurélio, o Antonio Houassis daquela língua quilombola.
Acontece que após um mês de trabalho, quando foi receber, o funcionário
lhe disse:- “Ah, a professora é a senhora? Então, não vou pagar. Como
justifico o pagamento a uma professora que é analfabeta?” Dona Fiota deu
uma resposta de bate-ponto, que só os sábios podem dar: “Eu não tenho a
letra. Eu tenho a palavra. (IBASE, 2010, pag 21).
De acordo com o IPHAN (2010), esse decreto permitiu a constituição de uma política
específica para a salvaguarda da diversidade linguística brasileira, coerente com a natureza
transversal das línguas que participam de várias dimensões da vida social. Para uma língua
ser incluída no INDL é preciso demonstrar o seu papel como elemento de referência para a
identidade, à ação e à memória; ser considerada uma referência cultural para seus falantes;
e estar inserida nas dinâmicas socioculturais das comunidades articuladora de sentidos de
pertencimento e significação do mundo. Como já mostrado anteriormente, a Língua do
Negro da Costa, se encaixa nos parâmetros do INDL, como referência cultural para a
cidade. Além disso, o inventario seria um meio para salvaguardar esse patrimônio. “As
línguas inventariadas farão jus a ações de valorização e promoção por parte do poder
público”. (BRASIL, Decreto nº 7.387, 2010).
De acordo com o IPHAN os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas
práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer;
celebrações. A Constituição Federal amplia a noção de patrimônio cultural reconhecendo a
existência de bens culturais imateriais. “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à nação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira.” (BRASIL, 1988, art.216). Ainda para o IPHAN:
Considerações Finais
QUEIROZ, Sônia. Pé Preto no Barro Branco- A língua dos Negros na Tabatinga. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 1998.