Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Palmas – TO
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – UFT
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Palmas – TO
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da Universidade Federal do Tocantins
Campus Universitário de Palmas
Este trabalho é dedicado à memoria do Prof. Dr. Claudemiro Godoy, responsável por
mexer com as cabeças dos seus interlocutores e despertar o senso critico em seus alunos.
AGRADECIMENTOS
À minha família,
Pai, mãe e irmãos, sempre dando apoio.
Diléia, Bruna e Isabela, que abriram mão do convívio diário para permitir alcançar esse
objetivo na vida acadêmica.
“Em vez das cidades do futuro serem feitas de aço e vidro como
fora previsto pelas gerações anteriores de urbanistas, serão
construídas em grande parte de tijolo aparente, palha, plástico
reciclado, blocos de cimento e restos de moradia. Em vez das
cidades de luz arrojando-se aos céus, boa parte do mundo urbano
do século XXI instala-se na miséria, cercada de poluição,
excrementos e deterioração.” (DAVIS, 2006:28)
RESUMO
Essa dissertação tem como tema geral a construção da política urbana local
com uma ótica na dinâmica dos agentes e nas suas tomadas de posição no campo da luta
política, fazendo valer interesses específicos e utilizando de diferentes trunfos para a
hegemonia da sua posição. Especificamente abordamos a construção dos mecanismos
institucionais da política urbana do município de Porto Nacional (Leis do Plano Diretor,
Macrozoneamento e Parcelamento do Solo) que permitiram a tomada de um território até
então rural, cobiçado pelo mercado imobiliário, provocando na prática o surgimento de
uma “nova” cidade que é Luzimangues, distrito que vem passando por um rápido processo
de urbanização. Tomamos como perguntas de partida os seguintes questionamentos: Como
se deu esse processo? Quais os agentes (forças sociais) envolvidos e como atuaram no
campo da luta política? Quais interesses defendiam para justificar suas tomadas de
posição? Quais trunfos detinham para fazer valer sua posição?
A partir da pesquisa para explicar os papéis dos diferentes agentes tomamos o
momento de discussão/definição do Plano Diretor como um campo de disputa do espaço
social, lócus onde ocorrem os conflitos e alianças entre os mesmos. Partindo da estrutura
desse campo social e das tomadas de posições dos agentes tivemos como objetivo da
pesquisa a tentativa de abrir a “caixa-preta” e explicar o processo que reflete na
transformação e ocupação do território. A hipótese que procuramos testar foi que no
processo de embate da construção dos instrumentos da política urbana local do município
de Porto Nacional os diversos agentes envolvidos com os interesses do mercado de terras
assumiram uma nova posição na estrutura do campo social, com a institucionalização das
áreas urbanas de Luzimangues.
This dissertation has, as a general theme, the construction of the local urban
politics with a view in the dynamics of the agents and their positions on the political game,
valuing specific interests and using different assets in order to maintain the hegemony of
their position. It is specifically addressed the construction of the institutional mechanisms
of the urban policy of the county of Porto Nacional (Municipal Master Plan Laws,
Macrozoning and Subdivisions of the Soil) that allowed the taking of a territory that had
only been rural so far, wanted by the real state office, creating a “new” city that is
Luzimangues, district in which a quick urbanization process has been occurring. The
starting questions are: How that process happened? Which are the agents (social forces)
involved, and how did they act on the political game? What interests were defended in
order to justify their positions? What assets did they have to make their position valid?
From the research to explain the roles of the different agents, we take the
moment of discussion and definition of the Municipal Master Plan as a dispute of the
social space, where the conflicts and alliances between them happen. Starting from the
structure of this social field and the positions taken by the agents, we will have as a
research goal to try and open the "black-box" and explain the process that will reflect in the
transformation and occupation of the territory. The hypothesis we seeked was that in which
the process of construction of the political instruments of the local urban policy in the
county of Porto Nacional, the various agents involved with real state interests assumed a
new position in the social field structure, with the institutionalization of urban areas of
Luzimangues.
Key words: Regional Development, Cities and social processes, Urban Policy.
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO..................................................................................................................15
Estratégias metodológicas adotadas.....................................................................................20
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................172
REFERÊNCIAS...............................................................................................................177
ANEXOS...........................................................................................................................185
Anexo I - Modelo do Roteiro de Entrevistas......................................................................185
Anexo II – Resumo da evolução urbana de Luzimangues.................................................186
15
INTRODUÇÃO
duas décadas. Desde a criação do Estado do Tocantins, com a Constituição Federal (BRA-
SIL, 1988), a região passou por um novo surto desenvolvimentista, atraindo investimentos
são bem sentidas com o desaparecimento de formas tradicionais de produção e sua substi-
tuição pelo agronegócio, que busca sempre novas fronteiras para sua expansão. Nas cida-
nem políticas públicas que atendam a parcela mais pobre da população, aliado com o mo-
tos públicos.
Lajeado (UHE Lajeado) no Rio Tocantins, é um exemplo dessas grandes mudanças advin-
das e que, apesar do projeto moderno (LIRA, 1995 e VELASQUES, 2009), convive com a
sina das desigualdades sociais e urbanas (XAVIER, 2007), a segregação social (SILVA,
ZOLI, 2011), impactos e problemas ambientais (FIGHERA, 2005 e MOLFI, 2009), eleva-
Entendendo a cidade como uma construção social, onde o que está erigido é
também carregado de valores simbólicos, essa realidade empírica é fruto de uma série de
de, em especial das decisões do poder público — nem sempre em consonância com os inte-
incapaz de captar e resguardar parte da valorização das terras para a coletividade (SANTO-
RO, 2004), ficando o “ônus” desse processo de urbanização na conta da sociedade, e propi-
ciando, nas palavras de Campos Filho (2001:52), “um governo urbano cada vez mais po-
bre e que enfrenta cidades cada vez mais caras”. Na mesma medida é a fala de Maricato
(2008), que chama atenção ao laissez faire, o “deixai fazer” da política liberal que predo-
“… a maior parte das moradias, assim como boa parte das cida-
des construídas no país nos últimos vinte anos, foram feitas sem fi-
nanciamento, sem conhecimento técnico e fora da lei (Instituto Ci-
dadania, 2000). Isto significa que os arquitetos e engenheiros não
tem participado dessa grande construção. Significa também a au-
sência do Estado regulador e planejador nessas áreas. E isto não
ocorre apenas no final do século XX, sob a inspiração do neolibe-
ralismo, mas é uma característica que acompanha o processo de
desenvolvimento urbano, a partir da emergência do trabalhador li-
vre, para ficarmos restritos ao período mais significativo da urba-
nização brasileira. O laissez faire predominou no uso e na ocupa-
ção do solo, na maciça maioria das cidades, décadas após déca-
das, independentemente do prestigio ou desprestigio do planeja-
17
objeto de pesquisa. O que nos chamou atenção de início foi o processo de urbanização re-
muito grande com a capital Palmas, apenas 8 km, correspondendo à travessia da Ponte da
tancia do distrito e na outra margem do Rio Tocantins. A localidade vem passando por um
(BRASIL, 2001). O processo é capitaneado pela iniciativa privada, que busca o lucro utili-
Fonte: Imagem organizada pelo autor, sobre imagens de Andrade, 2012; SEDUH, 2011; e
Google, 2012.
(TOCANTINS, 1989), porém a divisão do município de Porto Nacional nunca foi efetiva-
18
(2001). É tratada como área de interesse ambiental, instituída a Área de Preservação Ambi-
ental (APA) do Lago de Palmas, através da Lei n° 1.008/1999; passa por desapropriações e
al intermodal com a chegada da Ferrovia Norte/Sul (FNS) fez crescer os interesses dos pro-
Essa dissertação toma como tema a construção da política urbana local com
uma ótica na dinâmica dos agentes e nas suas tomadas de posição no campo da luta políti-
ca, fazendo valer interesses específicos e utilizando de diferentes trunfos para a hegemonia
da sua posição. Como tema específico abordamos a construção dos mecanismos institucio-
nais da política urbana do município de Porto Nacional (Leis do Plano Diretor, Macrozone-
amento e Parcelamento do Solo) que permitem a tomada de um território até então rural,
cobiçado pelo mercado imobiliário, provocando na prática o surgimento de uma “nova” ci-
dade que é Luzimangues. Esse novo espaço urbano tem como objetivo principal sua explo-
PLAN) e de uma empresa de consultoria, com o foco nos problemas da sede do município.
Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (FIETO), contrata um outro estudo tra-
deu esse processo? Quais os agentes (forças sociais) envolvidos e como atuaram no campo
da luta política? Quais interesses defendiam para justificar suas tomadas de posição? Quais
tentável (PDDS) de Porto Nacional é tomado como um campo de disputa do espaço social,
lócus onde ocorrem os conflitos e alianças entre os diferentes agentes. Partindo da estrutura
desse campo social e das tomadas de posições dos agentes (BOURDIEU, 2001) tivemos
como objetivo da pesquisa a tentativa de abrir a “caixa-preta” e explicar o processo que re-
agentes envolvidos com os interesses do mercado de terras assumiram uma nova posição
conduta de pesquisa, procurando pautar por uma visão crítica sobre as informações e dados
logia da pesquisa cientifica no campo social, devemos fazer esforços para uma “procura
sincera da verdade”.
nal como um campo de disputas, lócus onde ocorrem os conflitos e alianças entre os dife-
rentes agentes (forças sociais). Esse momento da definição dos instrumentos jurídicos e ur-
para o grande número de novos loteamentos que aparecerão e serão comercializados poste-
riormente.
de dados:
21
seguida buscando contextualizar o objeto de estudo com a produção das cidades no Brasil,
por meio da obra de Maricato (2008 e 2011), Campos Filho (2001), Bonduki (1992 e 1998)
e outros;
NACIONAL, 2006), passando também pelo levantamento e análise das principais leis
nas suas justificativas, sendo ainda pouco conhecido; diz respeito às apresentações (slides)
Adão Oliveira (2009) e Sêne (2009); relatos de moradores da região, complementados pela
relatos do que não estava escrito ou registrado em outros meios, podendo fornecer à
distrito.
exploratórias” (sem registro) com pessoas que exerceram o papel de “informantes úteis”
com a intenção de levantar dados e apontar alguns caminhos a serem explorados durante o
monstrado por Quivy e Campenhoudt (1992:69), procurando agentes que “pela sua posi-
ção, pela sua ação ou pelas suas responsabilidades”, têm um bom conhecimento e viven-
dos agentes, “apalpando o terreno, fazendo intervir, além dos critérios de 'reputação' apu-
rados pela análise das conversas e das experiências publicadas, critérios institucionais,
de entrevistas que foram realizadas. A abordagem utilizada não foi quantitativa, onde é
lutas, neste caso nossa abordagem foi qualitativa, tentando obter o máximo de informações
úteis dos agentes entrevistados. Segundo Thiollent (1982:199), numa pesquisa desse tipo,
23
Desta maneira buscamos fazer uma relação dos agentes que seriam entrevista-
dos e uma estruturação do campo de estudo (Quadro 1), distribuindo-os conforme os inte-
resses e os capitais (ou trunfos) detidos. Para Bourdieu (2001:125) essa abordagem ajuda a
explicar as estratégias adotadas nas lutas sociais, de maneira a refletir sua posição e sua to-
mada de posição.
• Paulo Mourão (ex-Prefeito de Porto Nacional) • Aleandro Lacerda Gonçalves (ex-Secretário de ha-
bitação do Estado)
• Eli Ramos (arquiteto e ex-Diretor da Secretaria de
Habitação do Estado)
• Marcos Antônio Gaipo de Andrade (arquiteto con-
tratado pelo Estado/ORLA S/A)
Agentes do mercado imobiliário: Agente da academia:
• José Ricardo de Sousa (Carajás Empreendimentos) • Elizeu Ribeiro Lira (geografo e professor universi-
• Miquéias Siqueira da Silva (Village Morena e Rivi- tário)
era do Lago)
• José Ricardo Faria (União do Lago)
• Adriano Fernandes Lacerda (Buriti)
Paulo Mourão, político da região de Porto Nacional que era o prefeito do muni-
cípio no período de 2005 a 2008, quando foi discutido e aprovado o Plano Diretor de De-
(UCG), natural de Goiânia – GO, nascido em 1973, residente em Palmas desde 1997. Foi
desde 2001, nascido em Londrina – PR, no ano de 1972, mora em Palmas desde 1992. Atu-
ando junto ao Governo do Estado como Diretor da Secretaria Estadual de Habitação foi o
mento Urbano também pela UFT, voltado ao estudo da pavimentação do sistema viário.
22/03/2012.
25
mora em Palmas desde 1999 e no Luzimangues desde 2001. É hoje o responsável pelos lo-
pelo “Orla Oeste”, ainda a ser lançado. As áreas são de propriedade do seu sogro, Dr. Lu-
cas, advindo da cidade de Anápolis – GO, para exercer o cargo de promotor do Estado, foi
Estado, é formada por dois sócios diretores, Darci Garcia da Rocha e José Eduardo Sam-
paio, que têm origem na cidade de Barretos, interior de São Paulo. Entrevista realizada em
22/05/2012.
GO, mora no Tocantins desde 1990 e em Palmas a 14 anos, é o responsável regional pela
denção – PA, e já está presente em 24 cidades espalhadas pelos estados do Pará, Tocantins,
24/05/2012.
26
Agente da academia:
desde 1987, com mestrado (1995) e doutorado (2004) pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (UNESP), professor do Curso de Geografia (UFT) em Porto Naci-
outros agentes — os proprietários das áreas (“terreneiros”), os clientes compradores dos lo-
que procuram se instalar do Polo Intermodal, e outros; mas tomamos a decisão de limitar
nosso campo nos agentes abordados, de maneira a propiciar a exequibilidade desta pesqui-
sa. Cada grupo de agentes conformado a partir dos aspectos que têm em comum para um
determinada posição na luta politica, formam um novo campo, onde haverá também ali
zando perguntas abertas de acordo com um roteiro geral pré elaborado (Anexo I), possibili-
em áudio (por meio digital), com a autorização dos entrevistados, e posteriormente trans-
iniciais sobre a importância dos agentes no campo urbanístico utilizando noções da obra de
sociológica (campo, capitais e habitus), que faremos o esforço de trazer para a construção e
coletivas dos agentes no campo, utilizando de diferentes técnicas, como por exemplo a
individual na França.
Para Bourdieu (2001:137) a análise desse campo de forças não é um fim e deve
servir para revelar todas as suas implicações quando relacionamos as diferentes posições
com as tomadas de posição dos seus ocupantes. Essa abordagem da utilização dos agentes
28
sociais nos estudos urbanos e na conformação das cidades será tratada ainda por Vasconce-
fez no campo institucional e na ampliação das políticas habitacionais, porém a terra conti-
(MARICATO, 2011). Essas teorias são buscadas nas obras de autores como Santos (2008 e
2009), Maricato (2008 e 2011), Campos Filho (2001), Bonduki (1992 e 1998) e Folz
(2003).
estudo através da revisão da bibliografia específica, permitindo uma gênese histórica e sua
inserção na dimensão regional, utilizando autores como Lira (1995), Oliveira (2009),
Carvalhêdo e Lira (2009), Molfi (2009) e Aquino (1996). Entendemos que os diferentes
papéis de outras na rede urbana que se desenvolve e se transforma. Nesse contexto tem
ao interior do cerrado, mas da forma que se deu sua consolidação, vemos que se trata de
29
em todo o Estado, mas em especial na cidade de Porto Nacional, relegada então à periferia
periferia de Palmas. “Nova cidade” por conta da escala da intervenção no território e na re-
nejamento das famílias com o enchimento do Lago de Palmas, o reservatório da UHE La-
jeado. Em seguida são tratadas as novas transformações do território com o avanço de lote-
amentos urbanos na área até então rural, consolidados pelo planejamento urbano e pela
ação dos diversos agentes atuantes no campo da luta social, tendo em vista as noções e
complementares, bem como os demais fatores que contribuíram para a tomada do território
urbanístico
vez mais avança a importância do entendimento da ação dos atores e dos agentes sociais.
Recorremos inicialmente a Vasconcelos (2011), que faz um breve exame da utilização dos
agentes sociais nos estudos urbanos, resgatando os conceitos de vários autores ligados a di-
complexidade da atuação dos agentes na transformação das cidades, ainda mais nas cida-
des dos países periféricos. “Nesses países, os agentes não capitalistas como os proprietá-
2011:76) que levanta os seguintes autores que preferem utilizar os agentes, negando o ator
mais destaque à autonomia dos indivíduos, como Weber, Simmel, Elias, Giddens, Berger e
“um agente social complexo, cuja ação se estende sobre o campo da historicidade, sobre
as instituições e sobre a organização social. Ele não poderia ser reduzido ao papel de
promotores imobiliários. Nos escritos desse autor inicialmente é utilizado o termo “ator”,
mais tarde substituído pelo termo “agente”. “Topalov (1974) define então 'agente', utili-
zando a linguagem marxista, como 'o suporte de uma articulação de relações sociais, e
que estuda suas práticas como efeitos do funcionamento e das transformações dessas rela-
Para Corrêa (2011:44) a ação dos agentes é que materializam os processos so-
ciais na forma de um ambiente construído, desde a escala da rede urbana até o espaço in-
traurbano. Para ele a produção e transformação do espaço não é “o resultado da 'mão invi-
um capital abstrato que emerge de fora das relações sociais”. O espaço é produzido como
tos entre eles mesmos e com outros segmentos da sociedade” (CORRÊA, 2011:43).
em relação à produção do espaço, decorrentes do fato dele constituir uma arena na qual di-
tificados por Corrêa (2011:44) seriam “os proprietários dos meios de produção, os propri-
cartas. O “jogo urbano” será jogado pelos parceiros que se enfrentam segundo os grupos e
filiações a que pertençam, o ideal é que esses agentes do desenvolvimento urbano, domi-
(que entendemos complementares entre si), elegemos, com o intuito de tentar contribuir
com diferentes pontos de vista, os conceitos do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que
para Vasconcelos (2011:80) é tido como o autor mais importante que utiliza a noção de
“agente” na disciplina sociológica. A produção do seu pensamento e de sua obra são vastos
como uma construção social, arena de lutas, consequência da ação dos diversos agentes e
das suas forças distribuídas no campo, um verdadeiro jogo de poder. Esses conceitos são
campo.
são poucos explorados pelos pensadores das questões urbanas no Brasil, situando essa pro-
blemática no campo das ciências sociais, porém são dotados também de uma metodologia
muito consistente, daí o esforço para nesse primeiro capítulo tratarmos dos principais fun-
bourdesiano serão necessários quando voltarmos a tratar da análise das políticas urbanas
1
VILLAÇA, 2005; CAMPOS FILHO, 2001; RIBEIRO E CARDOSO, 2003; MARICATO, 2008 e 2011;
entre outros.
34
Bourdieu vai confrontar alguns dos cânones até então vigentes, ou seja, a visão
comum em duas relações essenciais: (1) “tentam em cada caso mobilizar o conjunto dos
jados com vista a dar conta dos dados da observação, poderia apresentar-se como uma
teoria alternativa para compreender a ação econômica: … através do habitus; capital cul-
cientes para apreender a vida social pois os agentes fazem escolhas diferentes daquelas
envolverá também diferentes dimensões nessa discussão quando trata das “disposições
35
“não são exógenas, isto é, dependentes de uma natureza humana universal, mas endóge-
nas e dependentes de uma história, que é precisamente a do cosmos econômico, onde são
Para exemplificar essa abordagem o autor fala sobre um “senso comum econô-
mico” (BOURDIEU, 2001:24), tomando como objeto a economia neoliberal que deve um
certo número das suas características, pretensamente universais, ao fato de “estar imersa,
embedded, numa sociedade particular, isto é, enraizada num sistema de crenças e valores,
num ethos e numa visão moral do mundo” (BOURDIEU, 2001:24). Essa interpretação das
ações e interposições de agentes e instituições é bem clara quando tratamos também da te-
vantagens), mediados pelo Estado, “que está em condição de exercer uma influência de-
onde exerce seus poderes desde as interelações dos cidadãos até seus reflexos práticos no
território, responsável pelo regramento (fazer as leis), a fiscalização (fazer cumprir as re-
Procuramos fazer aqui um paralelo com o mercado de terras urbanas analisando toda uma
tor “qualquer mercado (sem dúvida em graus diferentes) é o produto de uma dupla cons-
trução social” (BOURDIEU, 2001:32), sendo que o Estado desempenha um papel funda-
mental pois “contribui numa parte decisiva: construção da procura e construção da ofer-
casa/moradia, e que tem no terreno um insumo essencial para sua existência, o que provoca
e exerce influências sobre o mercado de terras e nos agentes da sua cadeia de produção. “A
A casa é um dos maiores investimentos no ciclo de vida da maior parte das fa-
mílias:
da casa própria (no caso do Brasil, ver BONDUKI, 1998) e que é alimentado constante-
2
“As preferências variam de acordo com diferentes fatores: o capital econômico, o capital cultural, a
estrutura do capital tomado no seu conjunto, a trajetória social, a idade, o estatuto matrimonial, o
número de filhos, a posição no ciclo de vida familiar, etc.” (BOURDIEU, 2001:44)
3
Política neoliberal – “o direito individual à propriedade de um patrimônio minimo.” ( BOURDIEU,
2001:114)
38
mente, como chama atenção Bourdieu, “pelo sucesso da imprensa consagrada à decora-
anúncios, em suma, funciona como se fosse uma armadilha seletiva cujos mecanismos
servem para orientar as diferentes categorias de vítimas aos seus locais de cativeiro”
(BOURDIEU, 2001:42). Podemos pensar que esse mito é perpetuado mais ainda, e conse-
quentemente seu simbolismo, com as ações midiáticas que são vistas em programas televi-
sivos, no caso brasileiro, de abrangência nacional – por exemplo o quadro “Lar Doce Lar”,
produto proposto é feito para ele, e que ele é feito para aquele produto” (BOURDIEU,
2001:78), o autor chama atenção para o fato de que “como qualquer ação simbólica, a pu-
blicidade nunca tem tanto êxito como quando lisonjeia, excita ou desperta disposições
4
“O peso relativo que uma empresa atribui à função comercial é, sem duvida, um dos indicadores mais
poderosos e mais significativos da sua posição no campo dos construtores.” (BOURDIEU, 2001:78)
39
2001:80).
Mas além disso não podemos deixar de lado a questão prática que acaba influ-
enciando o crescimento das nossas cidades: “é preciso morar”. Movidos mesmos pelo mo-
mento de formação de uma família e da busca de segurança “os proprietários das gera-
que são sujeitadas, a fatores diversos observados ao longo da formação das nossas cidades:
moradia cada vez mais longe dos centros urbanos com a deslocação para os subúrbios e pe-
5
São as consequências escondidas – aumento dos custos de transporte, a aquisição de uma segunda viatura,
etc. (BOURDIEU, 2001:210)
40
balho próprio para arranjar a casa, tempo de espera para se tornar proprietário, tempo
procura e demanda, comprador e vendedor, mas que se configura, segundo Bourdieu, num
“Não existe interação que dissimule tão bem a sua verdade estru-
tural como a relação entre o comprador e o vendedor na transa-
ção imobiliária. A verdade da interação não está na interação (re-
lação a dois que é sempre de fato uma relação a três, os dois agen-
tes e o espaço social em que estão inseridos). Não passam de atua-
lizações conjunturais da relação objetiva entre o poder financeiro
do banco [agente eficiente que detém o poder econômico] e um cli-
ente definido.” (BOURDIEU, 2001:183 e 184)
“tudo o que se pareça com uma garantia pessoal” (BOURDIEU, 2001:204) e acaba de-
de confiança global, capaz de esconjurar a angústia, dando de uma vez por todas as ga-
Ainda no âmbito desse campo das questões simbólicas, Bourdieu tece uma crí-
tica contundente ao modelo liberal da propriedade urbana, que promove um modelo cujo
Mais adiante o autor diz que há aqueles que não têm interesse que se estabeleça
o elo entre as políticas econômicas e suas reverberações sociais e seus efeitos a curto e a
empresas (cuja amplitude varia muito, sem dúvida, de acordo com os “ramos”) e também
tes] em simultâneo” (BOURDIEU, 2001:62). A empresa para nós terá significados mais
como campo, as esferas do poder público como campo, o campo do mercado de terras, etc.
desnudará a estrutura das relações de força no campo e define uma outra escala de análise,
vendo a empresa como campo, necessitando portanto olhar sua estrutura interna, sua políti-
GUES, 2009:13).
dades na situação do impasse da política urbana das nossas cidades (MARICATO, 2011).
43
Ele atuará desde a própria construção do mercado através das politicas públicas até a legiti-
mação de práticas já naturalizadas pelo mercado de terras – as pressões diversas por anisti-
as, mudanças de uso, índices e gabaritos nas leis urbanas, entre outras. No caso do mercado
da casa individual, como já foi dito, a “procura” é em grande parte produzida pelo Estado
(BOURDIEU, 2001:113), o que nos remete à política fundiária urbana brasileira, onde o
Estado produz o mercado a partir da sua ação (a cidade formal, onde está presente o merca-
do formal, os cartórios e os bancos) mas também da sua omissão (a cidade informal, onde
do Estado, “da Política de Habitação e, em particular, dos regulamentos que regem a aju-
mento “através de toda uma regulamentação específica que vem juntar-se à infraestrutura
jurídica (direito de propriedade, direito comercial, direito do trabalho, direito dos contra-
44
crédito, etc)” (BOURDIEU, 2001:116). Para adentrar nesse campo e compreender a lógica
se das regras e dos regulamentos que definem o seu funcionamento, isto é, fazer a história
Não sem motivo será a luta dos agentes em diversos campos, desde a expressão
do seu poder econômico, social ou político, buscando se fazer representar nesses diferentes
campos de luta.
aqueles que detêm o capital simbólico para impor sua vontade, tendo uma posição ativa no
afirmação já esvaziada mas muitas vezes utilizada para tentar justificar ou explicar as práti-
um serviço tem tantas mais hipóteses de ser controlado pelo Estado quanto mais esse bem
ou serviço se impuser como indispensável, e quanto mais fraco o mercado for nessa maté-
ria” (BOURDIEU, 2001:118). Notamos que esse é um passo que a sociedade brasileira
ainda não avançou, sendo a cidade ainda vista como mercadoria e expressão dos conflitos
DIEU, 2001:140). A aparente neutralidade burocrática se desmancha no ar, uma vez que se
retira o véu dessa visão inocente e reconhece-se que o próprio Estado e as instituições que
o compõem, são formados por agentes diversos, e que em determinados momentos estarão
me os trunfos disponíveis.
46
cal, uma vez que mesmo com as definições das políticas gerais/nacionais elas serão tradu-
(MARICATO, 2008) e alinhadas às discussões nacionais, capazes de fazer frente aos inte-
Para Bourdieu (2001:159) trata-se “do jogo com a sua regra, onde o Estado
apresenta-se sob a forma do regulamento e dos agentes ou das instâncias que o invocam”,
um jogo onde quem detém a capacidade de fixar as regras, ou de ignorá-las, possui especi-
arma do funcionário [e do político] juntamente, se for esse o caso, com a sua competência
técnica ou cultural” (BOURDIEU, 2001:160). Para ilustrar essa afirmação o autor trás
uma passagem de Weber: “Se obedece à regra quando o interesse em obedecer-lhe preva-
Esse jogo burocrático, “um dos mais regrados de todos os jogos”, possui muita
indeterminação e incerteza, o que é da sua própria lógica. Um jogo onde os jogadores estão
em posições assimétricas e aquele que detêm determinados trunfos, como o domínio da re-
gra e a liberdade para obedecê-la ou não, está em posição de ganhar sempre (BOURDIEU,
2001:162).
Entende-se portanto que as leis não são isentas ou neutras como querem alguns
ou, num mundo de aparências, querem fazer parecer, porém estão imersas nos interesses
daqueles que as produzem, que as aplicam e fiscalizam, na maior parte das vezes munidos
de legitimidade política no campo de lutas. Esses agente políticos aumentam o seu capital
2001:166).
“Não entra quem quer no circuito das trocas frutuosas que assegu-
ram o ajustamento das normas às realidades: os notáveis tem si-
multaneamente o benefício da regra e da transgressão; para o co-
mum dos 'contribuintes' e dos 'administrados', desprovido dos re-
cursos indispensáveis para obter os desvios à regra que se ofere-
cem aos privilegiados, 'o regulamento é o regulamento' e, em mais
de um caso, 'a suprema justiça é a suprema injustiça'.” (BOURDI-
EU, 2001:174)
existe por intermédio dos agentes que aí se encontram e deformam o espaço vizinho, con-
EU, 2001:237). O espaço social será tomado como um espaço de luta política:
Esses agentes se utilizam para isso dos trunfos disponíveis, ou seja, dos dife-
rentes capitais que detiverem para influenciar na sua distribuição e localização no campo
de jogo.
acesso aos bancos) de recursos financeiros que são a principal condição (com o tempo)
2001:239).
(BOURDIEU, 2001:239).
49
rede de relações mais ou menos alargada e mobilizável que proporciona uma vantagem
2001:239).
(BOURDIEU, 2001:239).
2001:144).
Nessa teia complexa dos entendimentos das estruturas sociais as ações dos
agentes são perpassadas pelo seu habitus econômico, ou seja, num entendimento primeiro,
habitus tem por função principal romper com a filosofia cartesiana da consciência e sub-
Nesse campo o aparecimento de um novo agente modifica toda sua estrutura, ou mesmo
uma redistribuição dos capitais (uma nova tecnologia, uma maior quota do mercado, etc.)
detidos por cada “firma” (BOURDIEU, 2001:251). Tal afirmação aplica-se consonante ao
se que, nos campos econômicos como em qualquer outra categoria de campo, as frontei-
ras do campo são objeto de lutas no seu próprio seio” (BOURDIEU, 2001:252).
Para o autor, entre todas as trocas com o exterior do campo, as mais importan-
tes são aquelas que se estabelecem com o Estado, uma vez que “nas suas tentativas para
modificar a seu favor as 'regras do jogo' em vigor [...] as empresas dominadas podem uti-
lizar o seu capital social para exercer pressões sobre o Estado e conseguir que ele modifi-
competição entre as 'empresas' [agentes] assume muitas vezes a forma de uma competi-
ção pelo poder sobre o poder do Estado – nomeadamente sobre o poder de regulamenta-
51
Concluímos esse capitulo com a ideia que nessa discussão o Estado tem especi-
fundiário, mercantilizado e atrás do ganho especulativo, “ele não é apenas o regulador en-
grandes somas de recursos, faz dele alvo preferencial para a ação de agentes diversos – ex-
ternos e internos.
52
histórico em que se desenvolve a produção das cidades no nosso país, inserido num modo
de produção capitalista e levando em conta uma divisão internacional do trabalho que rele-
ga papéis diferenciados aos países centrais e periféricos. Portanto nesse capítulo trataremos
seja, tomamos a cidade como uma construção social, envolvendo agentes e interesses dife-
que no fim do século XIX e durante o século XX, em especial a partir de 1940, passa por
A habitação de interesse social para a classe trabalhadora tem sua gênese atre-
lada à Revolução Industrial do século XIX e à evolução das cidades, que passam a ser po-
los de atração econômica e de emprego, causando ao longo dos anos a inversão de papéis
entre o campo e a cidade. Segundo Folz (2003:05) “a questão da habitação operária pas-
sa a ser debatida no início do século XIX na Europa, e no final deste mesmo século e iní-
cio do XX no Brasil, onde o crescimento urbano industrial aconteceu mais tarde”. Essa in-
dustrialização se faz nos moldes de uma divisão internacional do trabalho, relegando deter-
de cidade, necessário para o assentamento residencial dessa população bem como de suas
desse gigantesco crescimento pode ser medida com os números da contagem da população
vivendo no campo e nas cidades. Na década de 1960 o Brasil contava com uma população
45% da população do Brasil. Em 40 anos, já no início do ano 2000, o país contava com
169,5 milhões de habitantes, 81% (137,29 milhões) vivendo nas cidades e 19% (32,20 mi-
54
lhões) vivendo no campo (MARICATO, 2008). Esses números atualizados para 2010
(IBGE, 2010) correspondem a 190,7 milhões de habitantes, 84% (160,2 milhões) de popu-
lação urbana e 16% (30,5 milhões) rural. A população residente no campo diminuiu em
termos percentuais, porém em números absolutos quase dobrou. A população urbana au-
urbano das cidades deixou claro que numa sociedade capitalista além da divisão social de
classes deve haver também uma divisão física; nos países do capitalismo periférico, caso
do Brasil, o retrato desse modelo é ainda mais injusto. “A pobreza não é apenas o fato do
das cidades, sendo essas agora os novos polos econômicos, industriais e comerciais, e
com as questões sanitárias e de higiene, com iniciativas que tentavam evitar as epidemias
suprir essa carência, como a ocupação indevida de alguns porões e de algumas constru-
do rentista” (FOLZ, 2003:17), sendo que como a compra do imóvel não era financiada e
nem subsidiada, os trabalhadores viam-se obrigados a serem reféns do aluguel. Para esses
empreendedores a lógica era a do lucro fácil, portanto o padrão habitacional utilizado eram
Após a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas sobe ao poder com sua
bandeira populista, o Estado deixa de atuar apenas na regulação da moradia popular e pas-
vez que os IAPs atendiam apenas os seus associados foi criada em 1946 a Fundação da
Casa Popular, responsável pelas questões habitacionais em todo o território nacional; a par-
tir daí “começam a surgir órgãos municipais e estaduais com as mesmas incumbências”
(FOLZ, 2003:22). Mesmo diante desses esforços do Estado, incapaz de fazer frente às
grandes mazelas e necessidades da população, começam a surgir nas periferias das cidades
ção feita com os esforços individuais dos próprios operários (FOLZ, 2003:24).
A autoconstrução é uma das soluções mais antigas e mais procuradas pelas fa-
mílias de baixa renda para suprir as suas necessidades de habitação e, de certa maneira,
nal” (art. 6° da Constituição Federal, 1988) de cada cidadão a uma moradia digna. “Corti-
56
ços e casas autoconstruídas são exemplos que vêm do século XIX até os nossos dias, solu-
ções encontradas pela população para suprir sua necessidade de moradia” (FOLZ,
2003:15).
Essa promoção individual da moradia responde nos dias de hoje por 70% do
2004), deixando o mercado formal (produção de empresas, produção com recursos públi-
apropriada o grande déficit habitacional brasileiro, mesmo com a ampliação das fontes de
recursos nos últimos anos. A autoconstrução está na maior parte das vezes presente no que
se costuma chamar de “cidade ilegal” e também nos loteamentos surgidos nas bordas urba-
liar, complementada pelo seu aspecto coletivo, o espraiamento 7 das cidades. Lembramos
do que foi discutido também por Bourdieu (2001), quanto à aparente democratização do
tempo.
famílias de baixos salários para longe do emprego e dos serviços urbanos” (Campos Fi-
lho, 2001:54), com a propagação dos vazios urbanos e aumento dos custos das cidades –
Com o Golpe Militar de 1964 o governo que se instala no poder tem uma visão
7
As cidades brasileiras adotam “um modelo geográfico de crescimento espraiado, com um tamanho
desmesurado que é causa e é efeito da especulação” (SANTOS, 2009:10).
58
ênfase no espaço e na propriedade privados, o mito da "casa própria" criado na era Vargas
é ampliado, porém fica cada vez mais distante das classes pobres.
O sistema de habitação público acabou atendendo apenas a classe média que ti-
nha condições de arcar com os financiamentos. Outra vez as classes mais pobres foram ex-
cluídas do sistema de provisão do Estado, já que não tinham como comprovar a renda mí-
nima exigida para o atendimento pelo sistema do BNH. A solução continuou sendo a auto-
construção da casa, “de modo cada vez mais improvisado, em loteamentos precários ou
seu funcionamento, sendo que não conseguiu atender aquela população com faixa de renda
mais baixa, e acabou tendo fim na década de 1980, deixando órfãos uma massa de traba-
lhadores e trazendo consequências danosas para toda a cadeia que tratava de habitação so-
ções do BNH foram transferidas para a Caixa Econômica Federal, como banco executor; já
migração por vários órgãos e instituições das responsabilidades pelas formulações dessas
políticas.
A partir do passivo urbano e social gerado ao longo dos anos de ocaso por par-
te do Estado começou a ser mobilizado, em meados dos anos 70, um grande movimento
mento da realidade caótica das cidades brasileiras. Esses agentes uniram forças e se organi-
zaram no Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU). Paralelo ao desmonte estatal esses
passa a ser “responsabilidade” dos municípios e estados, mas sem uma regulação ou obri-
gatoriedade desse atendimento. De acordo com o próprio Ministério das Cidades (2004) o
que ocorreu no setor habitacional foi mais o fruto de uma descentralização por ausência,
daí os programas implantados para a produção de habitação popular são pontuais, com a
lítica essa preocupação urbano social” (FOLZ, 2003:31). Essa problemática só foi tratada
na, nos seus artigos 182 e 183. O artigo 182 diz que a política de desenvolvimento urbano,
executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-
estar de seus habitantes. Diz ainda que o Plano Diretor é o instrumento básico da política
no Diretor. O artigo 183 faz menção ao instrumento de usucapião urbano, voltado para a
que só seria realizado mais de uma década depois através da Lei nº 10.257, de 10 de julho
de 2001, o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001). Nele estão estabelecidas as diretrizes ge-
rais da política urbana, com normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso
da propriedade em prol do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem
como do equilíbrio ambiental. Adota como diretrizes gerais da política urbana, dentre ou-
tras, o planejamento urbano ambiental, a gestão pública com participação democrática, sus-
61
ordenação do solo urbano de forma a evitar a utilização inadequada dos imóveis, prevendo
Traz no art. 4º, os instrumentos jurídicos e urbanísticos que devem ser utilizados no desen-
(FNHIS) pelo Congresso Nacional no ano de 2005, bem como sua regulamentação e o co-
meço de suas ações em 2006. O fundo vem de encontro a uma reivindicação antiga dos
técnicos da área e dos movimentos sociais, e é fruto do primeiro projeto de lei de iniciativa
ver os demais entes federados – estados e municípios. O FNHIS está no centro do que foi
(PMCMV).
Toda a história e análise crítica desse período permite uma abordagem vasta,
sendo que muitos estudiosos já se debruçaram sobre ela 8, alguns dos quais foram citados
nessa passagem. Mas nosso objetivo é trazer um entendimento que permita refletir em se-
8
BONDUKI, 1992 e 1998; CAMPOS FILHO, 2001; MARICATO, 1995, 2008 e 2011; ROLNIK, 1999;
SANTOS, 2008 e 2009; SOUZA, 2004 e 2010; e VILLAÇA, 1998 e 2005.
62
regional e local.
principais marcos históricos, de maneira a propiciar uma visão ampla dos passos percorri-
dos, demonstrando que não há ineditismos nesse processo e sim um padrão de crescimento
urbano dentro da lógica do sistema de produção capitalista. Nesta “Linha do Tempo” será
tomado como ponto de partida meados do século XIX, momento de grandes mudanças no
Fonte: Quadro organizado pelo autor a partir de FILHO (2005), BONDUKI (1998) e MARICATO
(2008 e 2011).
enfrentar a expressão física das desigualdades, através da articulação de suas diversas polí-
Esse caminho não se faz sem críticas, ou pela ineficiência das ações frente ao problema ou
bitação vem se construindo ao longo dos anos, fruto muitas vezes do debate acirrado e da
No meio dessas safras de leis é interessante notar algo que já foi tocado por
bem como a liberdade que detêm seus agentes para aplicação ou não de leis no campo dos
poderes locais. Interessante também é a crítica trazida por Maricato (2011) quanto à “von-
tade de acreditar”, bem própria dos técnicos (arquitetos, urbanistas, economistas, etc), que
avanços e conquistas no campo institucional, nas leis, são capazes de mudar nossas cidades
Para a autora “não é por falta de plano e leis que as cidades no Brasil estão
projeto de parcelamento que implica na criação de lotes, bem como de traçado viário. En-
tretanto, se a criação das novas propriedades aproveitar o traçado viário existente, denomi-
nar-se-á desmembramento. Conforme definição legal, pelo §4° do art. 2°, lote é o terreno
servido de infraestrutura básica, cujas dimensões atendam aos índices urbanísticos defini-
dos pelo Plano Diretor ou Lei Municipal para a zona em que se situe. Nos loteamentos em
ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) ou AEIS (Áreas Especiais de Interesse Social),
a urbanização poderá ser progressiva. Em seu art. 4°, inciso II, consta que nos projetos de
habitação de interesse social os lotes poderão ter padrões diferenciados, se aprovados pela
municipalidade. Será clandestino o parcelamento efetuado sem aprovação dos projetos jun-
os mesmos.
68
O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) tenta avançar ainda mais nas questões
'plano diretor' seja anterior ao Estatuto da Cidade, o conceito e suas formas de elabora-
ção foram adaptadas de um formato anterior, mais burocrático e tecnocrático, para uma
2011:14). Algo que tem bastante destaque ainda é a questão fundiária como balizadora da
Mesmo com toda essa importância atribuída à questão fundiária, com um en-
urbana” (MARICATO, 2011:10), Maricato afirma que o tema não está mais na agenda
dos governos:
como entrave ao desenvolvimento nacional, pois há a “redução drástica dos recursos go-
vernamentais destinados a infraestrutura e serviços urbanos nas cidades, que são vistos
não como parte do aparato produtivo [...] mas apenas como parcela da 'dívida social', ou
uma forma pela qual os proprietários da terra recebem uma renda transferida dos outros se-
trutura e serviços urbanos, que são os meios coletivos de produção e consumo ao nível do
espaço urbano. “Os imóveis correspondem a essa categoria de investimento seguro para
quem puder fazê-lo. Eles raramente se desvalorizam e usualmente o que ocorre é a valori-
zação. Às vezes, essa valorização se dá, repentinamente, por força de investimentos públi-
Essa forma “naturalizada” de renda provoca um custo social elevado, com a di-
as camadas sociais ricas e pobres se ampliam, gerando uma intensificação dos conflitos so-
ciais.
Nesse contexto a terra urbana é vista ora como bem econômico, com grande
valor de troca, com os agentes econômicos afirmando o direito de propriedade, ora é enten-
dido como um bem essencial e escasso para a vida na cidade, sendo seu valor de uso mais
70
importante, portanto fazendo valer sua função social e o regramento pelo Estado – como
foi visto anteriormente, para Bourdieu (2001) quanto mais “indispensável” for um bem,
mais chances de haver um controle pelo Estado. Nesse campo de disputas não é surpreen-
dente que os grandes proprietários de terras e boa parta da parcela da classe média, que
vez que essa retenção lhes permite possuir uma hegemonia econômica, detendo o capital
de formulador e detentor das regras, porém este está sujeito à ação dos agentes que o con-
trolam.
de terras até os pequenos investidores que enxergam aí uma maneira comumente aceita de
aumentar seus ganhos. Trazendo essa discussão para a escala do nosso objeto de pesquisa,
pessoas que adquirem quadras inteiras em loteamentos para “esperar valorizar”, pessoas
71
que compram diversos lotes, dando a entrada, e logo depois passam a negociar o “ágio” 9,
sobrevalorizando o preço dos terrenos para apropriar algum lucro. Esses são os “pequenos
especuladores”, que entram no processo quando este já está em estado avançado da apro-
urbana da cidade.
aumento do crédito imobiliário adotada pelo governo nos últimos anos. O que inicialmente
é visto como um avanço, após décadas sem investimentos concretos e substanciais, vem
sendo absorvido não só pelos setores produtivos, mas uma boa parcela dos recursos desti-
nados aos programas governamentais e ao crédito imobiliário vem sendo solapado pelos
mente como o grande obstáculo a ser transpassado, porém exige uma discussão bem mais
mudar as principais forças que conduzem as cidades brasileiras para a condição de tragé-
TO, 2011:78).
12
O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) é um programa do Governo Federal instituído através da
Lei nº 11.977, de 07 de julho de 2009, destinado a impulsionar a construção de moradias como forma de
reagir à crise financeira internacional de 2008. Tinha como meta a construção de 1 milhão de moradias
para diferentes faixas de renda, em 2011 foi lançada uma outra etapa do programa, que ficou conhecida
como PMCMV 2, através da Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011, aumentando a meta em mais 2
milhões de moradias. “Além de constituir uma proposta virtuosa anticíclica, o PMCMV significou a
retomada de conceitos antigos, vigentes durante o Regime Militar sobre a promoção de moradias”
(MARICATO, 2011:58).
73
Maricato (2011) nos dirá ainda, trazendo entendimentos das obras de Francisco
de Oliveira, Celso Furtado e de outros pensadores da situação brasileira, que as cidades não
lograram apresentar mudanças significativas e “após duas décadas perdidas não deveria
haver mais lugar para a ingenuidade ou para a esperança prometida pelo desenvolvimen-
imerso o nosso objeto de estudo, o processo social da produção de uma “nova” cidade no
Distrito de Luzimangues, e que se constitui num lócus que exemplifica os debates que
sofreram altas que impedem o acesso por parte das classes mais pobres, além dos próprios
74
sobre as áreas rurais, ocupando o território do cerrado, fazendo suas próprias leis e (re)es-
diversas mudanças ao longo da sua história, inserido numa lógica nacional de ocupação do
território, que relega ao Centro Norte do país um papel subalterno na divisão do trabalho.
Segundo Lira13 (1995:51) “produtor alimentício destacando-se pela sua vastidão de terras
desenvolvimento industrial.
13
Lira (1995) ao discutir a gênese de Palmas, faz um apanhado histórico do surgimento do Estado do
Tocantins, utilizando autores como Póvoa, Alencastre, Rodrigues, Palacin, Godinho, Cavalcante, entre
outros.
14
Pós 1881, muitas cidades tocantinenses, especialmente do sul e sudeste do Estado, terão forte influência
dos negros (Natividade, Arraias, entre outras): “Milhares de escravos, após alforriados, permaneceram
na região do Tocantins contribuindo para formação da sociedade local.” (LIRA, 1995:153)
76
território.
Estado do Tocantins e criação de sua capital, Palmas”, o autor ainda vê como inovador o
modificação do território.
exploração dos minerais, especialmente das minas de ouro, e da mão de obra indígena, por
meio das entradas dos bandeirantes paulistas. Nos primórdios de ocupação com o
século XVIII, abertas em busca de minérios, exploradas por meio das tropas de animais e
das expedições fluviais dos jesuítas do Pará, “que subiam o rio Tocantins até Goiás, em
busca de índios para aculturá-los e usá-los no trabalho escravo” (PALACIN, 1994, apud
tinham como objetivo fixar povoamento na região, “a palavra de ordem ficava por conta
2009:48).
para desenvolvimento do Norte Goiano, um outro eixo que começou a se fixar foi a
navegação fluvial do Rio Tocantins. Durante muito tempo a navegação no Rio Tocantins
era proibida pelas autoridades do sul, de maneira a evitar o escoamento das riquezas
minerais através das capitanias do norte (Pará e Maranhão), porém já no século XIX
Norte, Tocantínia, entre outras, que faziam interface com Belém no Pará e Carolina no
Maranhão.
tinha interesse na região, coibindo até mesmo os investimentos privados, em paralelo aos
da “Marcha para o Oeste”, que começa a ser implantada pós 1930 “com a queda da he-
gemonia da burguesia cafeeira no sul” (LIRA, 1995:42), assolada pela crise internacional
(2008) acrescenta ainda a importância da construção de Goiânia, nos anos de 1930, para o
capitalista anterior.
Brasília15, juntamente com a própria mudança da capital nacional do Rio de Janeiro para
Brasília16, em 1960, alterando a política de ocupação para todo o Centro Norte do país.
populacional” das margens do vale do Rio Tocantins para sua margem esquerda, ao longo
do Tocantins”.
15
As obras da BR são iniciadas em 1956, observando o que é assinalado por Aquino (1996:174): “A Belém-
Brasília teve vários trechos construídos antes de sua decisão final de ligar Brasília a Belém. Os seus
inícios datam dos anos 40, com a implantação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás – CANG, hoje
cidade de Ceres.”
16
A construção de Brasília é iniciada em 1956, sendo inaugurada em 21 de abril de 1960.
80
Várias cidades vão surgindo ao longo da BR-15317, muitas nos locais onde se
comerciais, e até cidades que se deslocavam de locais um pouco mais afastados para as
(LIRA, 1995:244), o povoado nasceu com a construção da rodovia. O seu fundador, o Sr.
Tocantins”, antigo Norte Goiano, “teve e tem influência direta das políticas de expansão
desenvolvendo às margens do Rio Tocantins que sofrem grandes impactos com essas
mudanças, como a cidade de Porto Nacional, que nesse momento ainda mantem certa
direita do rio.
região dizendo que “o que tirou, de um profundo isolamento, a região hoje conhecida
Ponte sobre o rio Tocantins, em Porto Nacional (1979)”. Esse autor assume um tom mais
sem se integrar à região. Ela mais parece, uma linha “alienígena” ligando dois diferentes
pontos, Belém e Brasília, é uma coluna vertebral sem vértebras” (LIRA, 1995:196).
histórica, um fator importante para as populações inseridas nesse contexto sempre foi a
19
Apesar da importância como eixo de ligação com a BR-153, atualmente a ponte está interditada para o
tráfego pesado de caminhões, devido a problemas estruturais detectados na construção, dessa maneira o fluxo
de veículos de cargas é desviado para Palmas ou para a recém-inaugurada ponte entre os municípios de
Lajeado e Miracema do Tocantins, e daí tendo acesso à Belém-Brasília.
82
década de 197021, o movimento separatista que chega a termo com a Constituição de 1988
e cria o Estado do Tocantins, com a cisão do Estado de Goiás, provoca toda uma nova
fator de mudanças das relações produtivas no campo, especialmente dentro das suas áreas
melhorias de vida na cidade (busca de melhores empregos, educação, lazer, etc.), entre
outros.
histórico no que foi demonstrado por Lira (1995:159) com o advento da Estrada de Ferro
Goiás, construída no sul do Estado nas duas primeiras décadas do século XX: “com o
Açailândia (MA) - Belém (PA) e Anápolis (GO) – Panorama (SP), a Ferrovia Norte/Sul
terá, quando concluída, 3.100 quilômetros de extensão. O objetivo da FNS é oferecer uma
22
A 'VALEC - Engenharia, Construções e Ferrovias S.A' é uma empresa pública, sob a forma de sociedade
por ações, controlada pela União através do Ministério dos Transportes (VALEC, 2012).
84
território e na dinâmica das populações, muito ainda não se tem a possibilidade de ser
apreendido, sendo que se soma a esse contexto ainda os grandes projetos de exploração da
Para a região estudada um fator importante, senão um dos mais importantes, foi
a divisão do Estado e a definição e surgimento da sua nova capital Palmas, esse novo eixo
Tocantins, as cidades da região passam por novas e drásticas mudanças; no âmago da eufo-
ria da criação do Estado existia a disputa política pelo controle da gestão do território
Nacional mais ao centro; entre outras cogitações, com certa vantagem politica para
Araguaína (LIRA, 1995). Nessa disputa geopolítica os diversos agentes vão se enfrentando
Rio Tocantins é alterado, com a chegada da máquina administrativa que estava sendo
criada e implantada, e dos pioneiros que vieram construir o novo Estado. As melhores
85
casas são alugadas para os órgãos públicos, ou para residencia dos políticos, bairros
Após o período de um ano, tão rápido quanto chegaram, os ventos da mudança são
lançados ao longe, uma vez que nesse ínterim ocorrem as definições e estudos para a
criação de uma nova e moderna cidade no cerrado que desempenharia o papel de capital
definitiva.
criação de uma nova capital uma saída “aceitável” pelas demais, uma vez que não
beneficiaria nenhuma. Outro pensamento é quanto aos custos de instalação, a capital indo
para um município já instalado acarretaria mexer com as elites locais, com desapropriações
rural em terra urbana, vista agora como mercadoria, visando a acumulação, reprodução e
ecológica do ano 2000” (LIRA, 1995:277), e seu Plano Diretor (1989) possui toda uma
justificativa projetual, que desperta os interesses dos eruditos (diretrizes, zoneamento, or-
23
Através da Lei nº 09, de 23 de janeiro de 1989 - “Declara de utilidade pública, para efeito de
desapropriação, área de terras descrita em memorial e dá outras providências”.
86
ado no Rio Tocantins, é um exemplo das grandes mudanças advindas à região e que, ape-
sar do projeto moderno (LIRA, 1995. OLIVEIRA, 2009 e VELASQUES, 2009), convive
com a sina das desigualdades sociais e urbanas (XAVIER, 2007), a segregação social (SIL-
elevado déficit habitacional (MELO JUNIOR, 2008), os vazios urbanos e uma infraestrutu-
planejado para o que veio se tornar na realidade, que a cidade está inserida em um modelo
ultrapassado no sentido de não avançar nas questões sociais” (LIRA, 1995:284). Esse
questões sociais.
instalação da cidade (Figura 2). Dentre as áreas está listada a região do “Canela”, onde
Luzimangues, sendo que na metodologia adotada pelo grupo avaliador, esta última obteve
1995).
terra urbana foi utilizada pelo Estado como moeda de pagamento e sofreu com a
especulação, [...] assim um processo que é inerente às cidades capitalistas foi agravado
privado.
89
cópia sim de Brasília, apesar do discurso dos seus projetistas e dos malabarismos
formalismo exagerado. Tal grau de erudição urbanística deveria ser então exigida do
era fazer uma cidade moderna, truncando “20 anos em 2”. Repete-se os erros das cidades
brasileiras, não considerando a realidade social da população, faz-se uma cidade como um
fazendeiros da região, num processo que mais tarde passa pela “privatização” das terras
a retomada de parte dessas terras, por força de decisão judicial (recente decisão do
Supremo Tribunal Federal quanto ao que ficou conhecido como “Ação Discriminatória”),
Outra questão levantada por Lira (1995), pouco observada e questionada, diz
respeito ao grande esforço que é para os cofres do Estado a construção de Palmas: “… uma
90
obra (de caráter) gigantesca, portanto, muito pesada para a mais nova e mais carente
unidade estadual do país” (LIRA, 1995:220). Muitos recursos públicos foram investidos
da própria população tocantinense; como “El Dorado” atrai muitas pessoas de fora de suas
paragens, o apelo capitalista de fazer a vida e de terra de oportunidades – onde “o sol nasce
para todos”; é espaço também para o capital especulativo. Quando se fala da questão da
glebas vazias24, mas sim dos investimentos feitos pelo poder público e pela coletividade,
vistos de maneira mais ampla. Em que localidade do Estado foram feitos os investimentos
públicos do porte dos realizados na capital? Aeroporto Internacional, a sede dos poderes
(Praça dos Girassóis), Hospital Geral de Palmas (HGP), UHE Lajeado, o Lago de Palmas,
24
Menção à Lei Complementar nº 195, de 22 de dezembro de 2009, que dispõe sobre a Regulamentação e
Aplicação do Parcelamento, Edificação e Utilização Compulsório – PEUC, do solo urbano não edificado
subutilizado ou não-utilizado. Essa lei enumera itens de infraestrutura que devem estar ofertados junto às
glebas, limitando portanto o seu uso para combater a especulação imobiliária.
91
possuem condições de morar no “Plano Diretor” 25 e são instalados em bairros mais distan-
tes – num processo de exclusão planejada (XAVIER, 2007). Para Carvalhêdo e Lira
omissão e pela “falta de ações interinstitucionais e de aplicação das leis que regulamen-
duas cidades”, Palmas “com grandes vias, espaços amplos, com uma população de maior
I, II, III e IV26, devido a “expansão de Taquaralto, provocada pela aglomeração da popu-
lação fixada no entorno deste povoado, já existente e situado a 17 quilômetros ao sul dos
limites da malha urbana designada pelo Plano Diretor de Palmas” (MOLFI, 2009:57).
São loteamentos voltados para as populações mais pobres, promovidos pelo Estado, “a fim
vida que, exatamente por isso, não podiam adquirir uma área no perímetro urbano da ci-
dade” (MOLFI, 2009:57). Porém não foram tomados os mesmos cuidados do projeto da
“capital”, não respeitando o sítio onde foram localizados. Faz parecer que o processo de
planejamento consistiu em jogar uma malha quadrangular sobre uma folha de papel, sem
etc. É também uma clara divisão entre as classes sociais, escolha tomada pelos agentes do
poder público, sendo a política urbana imposta ao território desde seu início.
nizado também pelo Governo do Estado, dando continuidade a uma política de levar os
Nesse sentido o município foi conivente quando promoveu por meio da revisão
58, de 16 de setembro de 2002. Essa lei instituiu a divisão em áreas de urbanização, áreas
26
De acordo com a Lei nº 68, de 28 de agosto de 1990.
27
Com base em informações da SEHAB – Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Estado
do Tocantins (2010).
93
de preservação ambiental e área rural, e definiu toda uma delimitação como “expansão ur-
bana”, o que na prática foi uma expansão do perímetro urbano. Essa lei possibilitou a intro-
tado para o público de “alto padrão”, mas acabou incentivando a ocupação irregular de áre-
mento — atualmente ocorre uma reação do setor imobiliário com a tentativa de expandir
mangues, processo esse que tem suas singularidades. De um lado pertence legalmente, ad-
sua capital, distante apenas 60 quilômetros, o município começa a perder cada vez mais a
se pelo enorme vazio demográfico. Seus primeiros arraiais surgiram com as descobertas
auríferos (século XVIII), sofrendo grande impacto com o declínio das minas”. Para Bessa
(2011:06) “a história de Porto Nacional está associada aos processos gerais de ocupação
do Brasil Central”, mas a autora chama atenção para as peculiaridades dessa ocupação
isolamento da região”.
lenta do que o que ocorre nos grandes centros urbanos, mas nem por isso menos importan-
te. Um fator primordial apontado por Oliveira (2009:160) trata da “modernização da agri-
cultura [que] trouxe severos impactos sociais [...] um número crescente de trabalhadores
ano de 1968:
na década de setenta, ainda mantido nos anos oitenta e reduzido a partir de 1991 com a
criação de Palmas” (PORTO NACIONAL, 2006:30). Entre os anos de 1970 e 1980 29, a
população do município passou de 31.517 habitantes para 36.251. Com o início da constru-
Nacional sofre uma grande estagnação, ficando próxima de zero (0,44%). A população do
município passa de 43.224 habitantes no ano de 1991, para 44.991 em 2000 (OLIVEIRA
ros ao longo dos anos a partir das expectativas geradas por determinadas mudanças estrutu-
rais na região. Quando da construção da Ponte sobre o Rio Tocantins, final da década de
1970, são feitas expansões urbanas com a criação dos bairros Vila Porto Imperial, Setor
Novo Planalto, Jardim Umuarama, Jardim Beira Rio, entre outros. “Após os anos de 1990,
28
“[...] a população sobe para 23.005 pessoas até 1960, período em que a cidade ainda desfrutava de forte
liderança regional através do comércio. De 1960 a 1964 já registra uma diminuição no efetivo
demográfico, 20.030 habitantes. Nesse período intensifica no Município a procura pelos crescentes
núcleos urbanos da margem da rodovia Belém-Brasília, registrando-se pouco incremento na
urbanização de Porto Nacional.” (OLIVEIRA, 2009:116)
29
Período posterior à construção da ponte sobre o rio Tocantins, “construída em 1978 no final do Governo
de Goiás - Irapuan Costa Júnior, transcorrido durante os anos de 1975 a 1979” (OLIVEIRA, 2009:102).
96
2009:120). Surgem os bairros Setor Nova Capital, Tropical Palmas, Setor das Mansões,
Jardim dos Ipês I e II, Setor Universitário, Parque do Trevo, Setor São Vicente, Setor Novo
Neste último caso o autor avalia que houve na verdade, principalmente por par-
2009:126). Houve uma ideia de que a cidade iria se transformar em um “centro econômico
2009:158).
O que não há, entretanto, é uma correspondência entre o número de lotes pro-
enquanto se promovem novas expansões, já nos anos seguintes, avançando sobre as áreas
97
rurais, na sede do município e no Distrito de Luzimangues. Essa cultura parece não haver
desarraigado das práticas dos promotores imobiliários, sendo que o mesmo fenômeno vem
promovidos na sede do município nessa época, os lotes são bem comercializados e, se não
existe efetiva ocupação, há uma dinâmica financeira que vem justificando o lançamento de
(OLIVEIRA, 2009:165).
Nacional com a capital do Estado, a princípio trouxe vantagens, tendo em vista que esta
serviu de apoio funcional à capital”. No início da sua construção Palmas era um grande
98
canteiro de obras e não tinha condições de fornecer serviços básicos aos “pioneiros”. “Di-
ante dessa situação a cidade de Porto Nacional passa a fazer as funções que até então a
Passado o ciclo inicial de euforia, Porto Nacional vai assumindo uma condição
de “cidade periférica” de Palmas, com a mudança de vários serviços e órgãos públicos para
profissionais de saúde, entre outros), sem falar naqueles que não conseguem se inserir em
a atrair a maioria das funções urbanas e também a maior parte da população, Porto Nacio-
regional que deteve no passado. Para Oliveira (2009:88) “a cidade têm dado sinais de re-
ção”. Para o autor o fluxo de “novos moradores”, jovens estudantes de cursos particulares
geração de trabalho e divisas para o município. Essas expectativas contrastam com sua lo-
pria história do município de Porto Nacional, a região vem sendo ocupada desde a primeira
metade do século XIX, com uma distribuição esparsa pelo cerrado de propriedades rurais
rece descrita como a região de “Mangues”, e assume mais recentemente a curiosa denomi-
nação de “Luzimangues”, fusão dos nomes dos rios Santa Luzia e Mangues, entre os quais
do Norte de Goiás, emancipado em 1963. Ele relembra que a área já passou por disputas
30
Na falta de documentos e registros textuais sobre a localidade, utilizamos um relato do Sr. Ademir Rego
sobre o histórico da região intitulado “Luzimangues: sempre esquecido, agora disputado”, divulgado em
reunião ocorrida em Luzimangues na data de 28/04/2012, que tratava sobre a emancipação do distrito.
101
do Norte de Goiás:
“Carolina Rego, esposa de José Rego, se elegeu por três vezes ve-
readora de Paraíso do Norte de Goiás e no último ano de seu man-
dato, quando Benedito Bandeira era prefeito da cidade, tentou en-
cabeçar um movimento plebiscitário para a incorporação da área
compreendida entre a cabeceira do Córrego Porteira, Ribeirão
Santa Luzia, Rio Tocantins, Rio dos Mangues e cabeceira do Cór-
rego Caveira, ao Município de Paraíso do Norte de Goiás, perten-
cente ao Município de Porto Nacional. Não foi possível por que as
distâncias eram grandes para a época e as poucas estradas cons-
truídas pelos prefeitos Dr. Mundico Moraes e Benedito Bandeira
não chegavam a todas as propriedades de então.” (Rego, em
28/04/2012)
Ele diz ainda que o isolamento só começa a ser quebrado em meados da década
de 1980 quando é aberta pela Prefeitura de Paraíso do Norte de Goiás a estrada de chão li-
gando ao povoado de Canela, às margens do Rio Tocantins. Essa estrada, com alterações
no seu traçado, foi pavimentada em 1994 pelo Governo do Estado do Tocantins, transfor-
Como vimos anteriormente, essa região de “Mangues” fez parte dos estudos
para localização da nova capital do Estado, sendo declarada de utilidade pública, para efei-
criação do município de Palmas, Lei nº 70, de 26 de julho de 1989, havia toda uma delimi-
tins e Miracema do Tocantins. Esta lei entretanto foi revogada pela Lei nº 106, de 19 de de-
tal do Estado. Mesmo não acontecendo como previsto nestas leis, a Constituição do Estado
do Tocantins (1989), alterada pela Emenda Constitucional nº 01, proposta também na data
expansão da capital”. Porém o que os legisladores determinaram nunca foi cumprido, uma
vez que vai de encontro ao regramento para o desmembramento, junção ou criação de mu-
nicípios, balizado por legislação federal e com diversas indeterminações jurídicas31, além
também era conhecido como “Vila Graciosa” ou “Porto da Balsa”32, surgido da ocupação
A situação fundiária inicial era indefinida, persistindo o conflito político devido a reivindi-
cações dos moradores para que a localidade passasse para a administração de Palmas (DA-
NAGA, 2004:13).
“Nasceu até antes, como uma ação de uma vila agrícola, idealiza-
da pelo Pastor Edivaldo Barbosa, e depois dessa vila agrícola cri-
ando um polo habitacional entre Porto Nacional e Paraíso do To-
cantins, nas cidades irmãs, que tinham um bom relacionamento.
Uma escola foi criada, e depois com o advento de Palmas, criou-se
31
O dispositivo que trata do desmembramento, junção ou criação de municípios encontra-se na Constituição
Federal de 1988, Art. 18, §4º, alterado pela Emenda Constitucional nº 15/1996 e posteriormente pela
Emenda Constitucional nº 57/2008, juntamente com o Art. 96 acrescentado aos Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias.
32
Por conta da colocação do porto da balsa para a travessia do Rio Tocantins, ligando Palmas a Paraíso do
Tocantins.
103
bre a área. Em 1993 é promulgada a Lei nº 1.415, de 14 de outubro de 1993, que cria o
junho de 1994, que altera o nome do distrito para “Luzimangues”. Nesse mesmo ano é
ardo Magalhães”, obra inserida no planejamento energético nacional33 e que já era prevista
na definição de Palmas, que considerou os limites da cota de 212 metros, a cota de enchi-
mento do lago. A obra teve início em julho de 1998 e acabou gerando vários conflitos pela
áreas rurais e comunidades ribeirinhas, mas também alcançou o Distrito de Canela no mu-
timo chegou a ser atingido também na sua sede, às margens do Rio Tocantins, com alaga-
mento das áreas ribeirinhas e a perda de um dos seus principais atrativos turísticos que era
33
A ELETROBRÁS iniciou o inventário do Rio Tocantins através do estudo sistemático do seu
aproveitamento hidrelétrico no ano de 1972 (INVESTCO, 2012).
104
são (em novembro do 1997) na empresa INVESTCO S/A, com o objetivo de construir e
Palmas (Figura 3), envolvendo uma gleba de terras com 50.370 ha, situada integralmente
no Município de Porto Nacional, no local previsto para expansão da capital. A APA teria
por finalidade, conforme o Art. 2º: “proteger a fauna, a flora, o solo, a qualidade das
do reservatório, o antigo Distrito de Luzimangues foi inundado e grande parte da sua popu-
34
“E foram criados, além de Luzimangues, onze reassentamentos. Estes são denominados: Flor da Serra,
Córrego Prata, São Francisco de Assis, Mundo Novo, Mariana, Brejo Alegre, Olericultores,
Pinheirópolis Rural, Lajeadinho, Boa Sorte e Rural 2000.” (SÊNE, 2009:03)
106
inicialmente por 83 famílias “oriundas de fazendas e vilas que ficavam às margens do Rio
Danaga (2004:14) as famílias moradoras do povoado receberam lotes com 4ha, correspon-
dendo ao módulo rural mínimo definido pelo INCRA35, “enquanto que as áreas repassa-
das para as famílias oriundas das áreas rurais circunvizinhas tiveram tamanho definido
dos os benefícios de água, luz, telefone e cestas básicas e implementos agrícolas durante os
três primeiros anos. Fez parte do projeto também a instalação de equipamentos públicos,
alguns dos quais a comunidade já dispunha no local anterior: Posto de saúde, Escola com
quadra desportiva, Área para campo de futebol, Posto policial, Centro comunitário, Igreja
Católica (substituindo as obras de construção no antigo povoado) e uma Área murada para
anos, soma-se aos já enumerados um Posto fiscal/policial na TO-080, alguns comércios es-
parsos ao longo da rodovia TO-080 e a construção de uma pista asfaltada de pouso e deco-
lagem de aeronaves.
35
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
107
quente, bem como o mal funcionamento dos equipamentos existentes. Uma das principais
reclamações é quanto ao abastecimento de água, uma vez que a região não é bem servida
de rios ou córregos, sendo abastecida através de “poço artesiano” e uma rede de distribui-
ção. Esta água encanada falta com frequência e não é suficiente para o cultivo de hortaliças
gidas acabou vendendo seus títulos de terra, seus direitos de ocupação ou seus lotes e casas
e foram para a periferia das cidades de Palmas, Porto Nacional e Paraíso do Tocantins.
ligando Palmas a Porto Nacional, e daí interligando com Paraíso do Tocantins e a BR-153,
Nesse período ainda foram aprovadas duas leis que interfeririam nas questões
de novembro de 2003, porém as duas são praticamente ignoradas uma vez que não surti-
ram efeito e foram rapidamente substituídas pela legislação de 2006 — revogadas pelo Art.
94 da Lei nº 05/2006.
36
Área de expansão urbana no Distrito de Luzimangues: “que vai da barra do Ribeirão Capivara, no Rio
Tocantins, subindo por este até a barra do Ribeirão Porteira, subindo por este até a altura do km 18 da
TO-080, Palmas a Paraíso, local denominado Serrinha, e cortando em linha reta até o limite do
loteamento reassentamento Luzimangues, área da ULBRA e o lote 35-A do loteamento Porteira descendo
até as margens do Córrego Capivara até sua foz no Rio Tocantins, ponto de partida” (Lei nº 1.782, de 27
de novembro de 2002).
108
Nos últimos anos houve uma valorização das terras próximas a Palmas, che-
gando as mesmas a valerem bem mais se parceladas e comercializadas, em vez do seu uso
Lago de Palmas, sem um efetivo controle por parte da Prefeitura de Porto Nacional — são
imobiliário a partir de 2009 (Capítulo II), ter influenciado, em alguma medida, a alta dos
preços de terrenos em Palmas, gerando procura pelos lotes do distrito. Essa procura pode-
ria ser explicada, em partes, pelos fatores de localização, pelos valores menores em compa-
ração com a capital e pelas facilidades de pagamentos, com a oferta de lotes para moradia
ou para “investimentos”.
mento, ocorrendo uma grande pressão para o desvirtuamento da função inicial de terra ru-
ral, devido à proximidade dos grandes loteamentos urbanos e o vislumbre de também po-
mais recentes do Censo IBGE de 2010, fazendo uso dos dados disponibilizados para os se-
tores censitários de Porto Nacional 38. Os setores censitários são as menores unidades terri-
censitários abaixo apresentados, abrangendo a área urbana e rural (Figura 4). O Setor nº
nos mais antigos e o assentamento, o Setor nº 171820425000002, diz respeito à área norte
38
Dados disponíveis em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/, visita em 08/04/2012.
110
Fonte: Imagem organizada pelo autor, sobre imagens de Andrade, 2012; e IBGE, 2012.
Os limites considerados pelo IBGE não coincidem com os limites urbanos defi-
nidos na legislação do município, ou seja, partes do perímetro urbano definido pelo Macro-
zoneamento de Luzimangues estão contidas na área norte e na área sul dos setores censitá-
rios considerados. Tal fato leva a uma distorção do número total de habitantes na localida-
de tida como urbana pelo município, porém minimizada, uma vez que na coleta dos dados
são consideradas as tipologias das habitações, com suas características urbanas ou rurais,
vos, sendo que destes: 44 são “Domicílios Particulares Permanentes não Ocupados”; 10
111
Particulares Permanentes não Ocupados – vago”. Foi levantada também a informação que
área rural, sendo encontrados 196 domicílios particulares. A população é de 554 pessoas
residentes, sendo 242 (43,7%) mulheres e 312 (56,3%) homens. Existem, pelos dados cole-
do como área rural, sendo encontrados 257 domicílios particulares. A população é de 532
urbana e rural; um total de população de 2.310 habitantes, sendo 1.078 (46,7%) mulheres e
1.232 (53,3%) homens. A média de pessoas por domicílio é de 2,86. A população total do
habitantes).
quando tratarmos dos loteamentos urbanos que vem sendo implantados na região,
rural/urbano vem ocorrendo de maneira efetiva, e o que foi definido através dos aspectos
39
http://www.censo2010.ibge.gov.br/cnefe/Exibe_Tabela.html?ag=171820425000001
40
http://www.censo2010.ibge.gov.br/cnefe/Exibe_Tabela.html?ag=171820425000002
41
http://www.censo2010.ibge.gov.br/cnefe/Exibe_Tabela.html?ag=171820425000003
112
através de diferentes períodos, como vimos anteriormente, ela acaba se consolidando juri-
das condições de vida de todos os seus habitantes” (de acordo com a “Mensagem à Câma-
ra de Vereadores nº 05/2006”, texto que encaminha o projeto de lei do PDDS para aprecia-
por Luiz Alberto Cordeiro e Sônia Helena Taveira de Camargo Cordeiro, com o foco nos
problemas da sede do município, mas também vislumbra algumas necessidades dos distri-
tos, entre eles o de Luzimangues. Este plano foi discutido no período de 2004 a 2006, e
ção Estadual e da Lei Orgânica do Município”, discutido por meio das audiências públi-
113
Adão Oliveira (2009:10) avalia que “de um modo geral” o plano tentou apro-
priar os instrumentos urbanísticos elencados no Estatuto da Cidade mas sem definir suas
Pagamento em Títulos”, porém nem todos são autoaplicáveis, dependendo de leis comple-
mentares que ainda seriam elaboradas. Este é um ponto de vulnerabilidade de sua eficácia
Souza (2011) tem uma visão crítica mais generalizada dessa safra de planos di-
sua aprovação até a atualidade, a lei pouco vem contribuindo para o desenvolvimento
sustentável da cidade. Acaba sendo um planejamento hermético que, segundo Lira (agente
da academia) deixa muitas dúvidas, não é muito claro e a população não tem acesso. O
espaço urbano.
O plano tenta garantir, por exemplo, a participação popular por meio da criação
cente à estrutura do Sistema Municipal de Planejamento e Gestão (Art. 73), mas apesar de
previsto o conselho não foi instituído e nem tem funcionamento após a aprovação da lei, a
sede do município, causou celeumas entre o poder executivo e o legislativo, sendo que
115
membros deste último vêm contestando os procedimentos de aprovação. Tais fatos levaram
(2011), sendo que a aprovação de loteamentos urbanos deverá ser submetida também à
casa. Desse modo se constitui mais uma instância pública através dos seus representantes
legislativos, porém não se concretiza ainda a participação popular e direta prevista no Esta-
através de informações obtidas com os gestores da cidade, a lei ficou muito complexa e
não seria administrável, o PDDS não se tornou uma ferramenta de apoio ao poder público:
“Se tornou um 'elefante branco' enorme, incompreensível, que eles não sabiam o que fazer
com aquilo. Então partes do Plano Diretor foram implantadas e partes eles não sabem
ve um outro estudo com o objetivo centrado na organização espacial daquela região. Foi
poder político local), era preciso, com o advento da FNS e da Hidrovia Araguaia-Tocan-
116
tins, que Porto Nacional se preparasse para ser um “polo”, em função da própria bacia do
“Vi que Porto Nacional não tinha, na hora que a gente quis fazer
essas ações, nós não tínhamos instrumentos administrativos e
capacidade técnica pra fazer esse mega projeto que nós
queríamos. Então nós pegamos como apoio a FIETO, o SEBRAE,
o SENAC e o Governo Estadual.” (Mourão, agente do poder
político local)
deral, “aí foi diretamente com o presidente Lula”, no sentido de haver um reconhecimento
e uma compensação das contribuições de Porto Nacional para o Estado do Tocantins e que
a cidade estava ficando à margem do processo do desenvolvimento uma vez que, na sua vi-
Transportes e com a VALEC, e pela sua centralidade Luzimangues seria pensado então
que aquela região seria a redenção econômica para Porto Nacional, e uma das grandes ca-
pacidades de geração de riqueza para o Estado. Nesse sentido foi montado um grupo “que
pudesse estimular o processo de ordenamento de ocupação, mas que também pudesse fa-
zer daquilo ali uma ação economicamente ativa e produtiva”, envolvendo a Federação das
presas (SEBRAE), o município de Palmas (na pessoa do prefeito Raul Filho) e com o Go-
um polo industrial. No planejamento foi cogitado que essa mão de obra poderia chegar a
“dez mil trabalhadores” (Andrade, agente do poder público estadual), ou uma população
de “trinta e cinco mil pessoas” (Mourão, agente do poder político local), que deveriam
ção e Desenvolvimento Urbano (AHDU) e executada pela ORLA S/A. Segundo Gonçalves
(agente do poder público estadual), a agência tinha participação dentro da ORLA e desen-
o Estado.
mento mantido por ela e que poderia ser usado para tal fim). Já a FIETO foi quem supriu o
apoio político de sensibilizar “os atores” do Estado, governo e prefeitura, e foi o agente
gues tem uma escala urbana que rivaliza com a capital Palmas (Figura 5). Com base na
pesquisa e nas entrevistas realizadas, ficou evidenciado que foram processos de discussão
dissociados do PDDS, centralizados pelo poder público local, porém consolidados nos ins-
Fonte: Imagem organizada pelo autor, sobre imagens de Andrade, 2012; SEDUH, 2011; e
Google, 2012.
mangues foi desenvolvido a partir de 2005, com estudos técnicos que foram apresentados
em diversas reuniões com empresários e investidores, mas não foram levadas à discussão
De acordo com Andrade (agente do poder público estadual) não havia intera-
ção ou contato com os técnicos que elaboravam o PDDS: “quando nós entramos, não tí-
nhamos mais contato com esta empresa, eu acho que ela já tinha até finalizado o trabalho.
Ela fez o plano da parte histórica da cidade, e nem tinha conhecimento dessa outra
parte”. O zoneamento, no entanto, foi acrescido às propostas das leis urbanísticas do muni-
cípio, com diversos artigos que tratam da expansão urbana e ocupação do Distrito de Luzi-
mangues.
processo de discussão do Plano Diretor, que Luzimangues aparecia apenas como “distrito”
nas audiências do PDDS, mas sem a relevância que depois veio a ter e sem muitos detalhes
Ramos (agente do poder público estadual) destaca os itens principais que foram
magues: a criação das zonas de ocupação e da Zona de Ocupação Prioritária (ZOP), onde
deverá haver no minimo 70% de ocupação para depois expandir para novas zonas 42 e a de-
42
“Art. 12, §3º: Somente será permitido o desenvolvimento de microparcelamento fora da Zona de
Ocupação Prioritária quando esta tiver atingido ocupação mínima de 70% (setenta por cento) de sua
área microparcelada, salvo na Zona de Ocupação Industrial, por interesse relevante da administração
pública, devidamente motivado.” (Lei nº 06, de 28 de setembro de 2006)
121
finição dos critérios de aprovação de loteamentos, “que até então não havia, se reportava
No plano são instituídas as Macrozonas Urbanas (Art. 27), que seriam defini-
das como áreas efetivamente destinadas a concentrar as funções urbanas com o objetivo
equipamentos urbanos e comunitários” (Art. 28). Na prática definia novos limites urbanos
da sede e dos distritos43. O perímetro urbano de Luzimangues e suas zonas de ocupação fi-
Por sua vez, as Zonas de Ocupação de Luzimangues são divididas em seis zo-
nas (Figura 6), definidas no Art. 12 da “Lei de Uso e Ocupação do Solo nas Macrozonas
Urbanas”:
43
A lei amplia o perímetro urbano, inclusive no Distrito de Luzimangues (Macrozona Urbana 2). O
perímetro da sede (Macrozona Urbana 1) remete a um mapa no Anexo 1 do PDDS, que não estava
disponível nem na Câmara de Vereadores e nem na Prefeitura de Porto Nacional, gerando dúvidas de qual
sua delimitação — essa regulamentação só ocorre em 2011.
122
Essa mesma lei traz ainda um mecanismo que determinava que os imóveis situ-
ados na Zona de Ocupação Prioritária, deveriam ser loteados no prazo de cinco anos, sob
pena do Poder Público Municipal utilizar-se dos instrumentos legalmente previstos para
que poderiam ser loteadas através de um macroparcelamento aos moldes do que foi feito
em Palmas, com a definição das avenidas estruturantes que delimitam as quadras a serem
menclatura, o levantamento das curvas de níveis, áreas aproveitáveis (que alimentam as di-
nio, etc. A TO-080 é utilizada como o eixo de referência, as quadras localizadas ao norte
da TO são nomeadas como PNN (Porto Nacional Norte), as que ficam ao sul são PNS
124
(Porto Nacional Sul), seguidas de uma numeração. Apesar dessas definições, cada lotea-
mento é “batizado” de uma maneira diferente pelos empreendedores, com nomes mais
pomposos e comerciais.
que houve uma inversão nas etapas do planejamento, mas avalia que não houve perdas
nóstico; e o plano. Foi feito então primeiramente um diagnóstico, através de imagem de sa-
télite, que serviu de subsidio para elaboração do zoneamento e da definição dos “vetores
são do diagnóstico inicial; e “aí o plano efetivamente, já com os dados detalhados, curva
presença dos corpos hídricos; as estratégias para drenagem; o sistema viário com os arrua-
Zona de Ocupação Industrial – ZOI. Segundo Andrade (agente do poder público estadual),
em 2006 não havia muitas informações disponíveis quanto ao traçado da FNS e à localiza-
ção do Pátio Intermodal, o primeiro traçado que havia era o traçado original das Cartas do
080, já na revisão feita em 2008, a zona é trazida para a parte sul, interligada ao Pátio In-
Essa é uma observação importante a ser feita, o trabalho realizado pelos técni-
cos em 2008 não foi transformado em lei, sendo aplicadas ainda as definições do Macrozo-
reinterpretados e redefinidos através de uma série de interações entre os agentes que “em
função da sua posição em estruturas objetivas de poder definidas à escala de uma unidade
(BOURDIEU, 2001:157).
126
eles a valorização das terras próximas à capital, quando da sua implantação, e a expectativa
pesquisa e nas discussões com os agentes, que do nosso ponto de vista também
Luzimangues. Nesta data a própria prefeitura de Porto Nacional não detinha informações
para fazer um controle efetivo da região, sendo que “as informações sobre os loteamentos
do Distrito de Luzimangues são incompletas, com a maioria deles não registrados no Ca-
Ou ainda:
poder político local): “Quando eu assumi [2005], lá já tinham vendido não sei se era 30
ou 35 mil lotes, não sendo legalizados”. Essas desinformações perduram ainda hoje, ha-
vendo dificuldades de se obter informações sobre o que vem sendo implantado e até mes-
sem registro, o que exigia um esforço efetivo de regularização da situação fundiária, agra-
vada ainda mais pelos “vazios urbanos... o que dificulta a implantação e manutenção de
NACIONAL, 2006:21).
Nacional.
44
De acordo com Faria (agente do mercado imobiliário) a prefeitura de Porto Nacional não vinha
acompanhando as demandas do distrito e apenas em 2011 começa a cobrar o IPTU dos terrenos.
128
estavam existindo. Na sua visão o diagnóstico demonstrava que “aquilo era inevitável e o
“consolidados”. Questionado sobre este tema, o prefeito à época diz que geralmente os
que algumas das principais empresas imobiliárias atuantes hoje na região iniciam ou
expandem suas atividades na etapa posterior ao ordenamento urbano, ou seja, após 2006.
conversou pouco com os empresários, “apesar que os outros também não conversaram”, e
130
do projeto.
vez que existem discrepâncias entre os indicativos da equipe que desenvolvia o PDDS e os
área urbana para a porção do território ocupada pelos loteamentos já devidamente regis-
Porém a área de influência de estudo que foi aprovada como área urbana de
Luzimangues (Macrozona Urbana 2), “é do tamanho ou até maior do que o Plano Diretor
de Palmas”, segundo Andrade (agente do poder público estadual). Na sua visão a área já
estava crescendo desordenadamente, sem um planejamento e sem uma ligação entre os lo-
teamentos que estavam existindo. O objetivo era fazer uma ligação entre eles sem desapro-
priar ninguém. Então os critérios para definir o perímetro foram os loteamentos que já esta-
De acordo com Mourão (agente do poder político local), a ideia inicial era que
tivesse uma delimitação urbana a menor possível, que possibilitasse um crescimento orde-
45
Refere-se ao projetista Marcos Antônio Gaipo de Andrade, agente do poder público estadual.
131
nado, “essa era a visão do Plano Diretor e essa era a visão técnica também do Macrozo-
neamento”. Mas já haviam sido vendidos lotes, em áreas longínquas uma da outra, e esta-
vam sendo registrados. Quando foi feito um movimento no sentido de cancelar chegou-se a
uma situação de conflito com o Cartório de Registros de Imóveis (CRI), “uma guerra jurí-
to, que era o Eli Ramos e o Marcos Gaipo, e dizer pra eles que teríamos que adaptar a
questão do núcleo urbano e do Plano Diretor e tentar estender pra não deixar de fora o
para o traçado dessa fronteira urbana: os interesses de agentes importantes no cenário polí-
tico estadual. “Isso aqui tem políticos envolvidos, tem deputados, tem ex-prefeita de Pal-
tratavam de agentes com capitais econômicos e políticos que os deixavam numa posição de
impor sua vontade, moldando o campo de maneira a atender os seus interesses, conforme
das populações de baixa renda, o que é razoável, levam a anistia a edificações das
132
“consolidado” também pode ser questionado uma vez que a população que morava
efetivamente na área era, e ainda é, muito pequena, o que estava consolidado de fato eram
reconhecendo uma situação que já vinha ocorrendo, é inegável que isso acabou gerando
condições propicias para os loteadores, que souberam apropriar-se muito bem do campo
bem esparsas e desconexas, não havendo um controle sistemático por parte da prefeitura de
Porto Nacional ou outro órgão de controle — Naturatins, Incra, etc. A listagem utilizada
nesta pesquisa reúne várias fontes de informações, de maneira a obtermos uma visão geral
Fonte: Tabela organizada pelo autor, com informações da Prefeitura de Porto Nacional e das
entrevistas.
com relação aos responsáveis por cada empreendimento, a localização e ao número total de
lotes. Mas de qualquer maneira são dados que não inviabilizam a pesquisa, na realidade de-
monstram a relevância do tema e a fragilidade de controle do território por parte dos agen-
tes públicos.
134
dos atributos de terras rurais voltados para a produção. Em alguns desses empreendimentos
mes dos sócios que comporiam mais adiante a “União do Lago”, empresa imobiliária que
se destaca na região.
trata-se do loteamento “Village Morena”, com mais de 1.200 lotes. Um loteamento urbano
solto no meio do cerrado. De acordo com Silva (agente do mercado imobiliário), o “Villa-
ge Morena” foi o primeiro, aprovado na época do prefeito Fábio Martins (Gestão 1992 -
1995), “ainda na lei anterior”, e o loteador tinha apenas como obrigação demarcar e abrir
as ruas — hoje o loteamento ainda não conta com a infraestrutura básica. De acordo com
áreas: “na época não se falava do lago ainda, eram poucas pessoas e só entre o governo
que comentavam sobre isso. Quando saiu ao público que iriam fazer o lago mesmo, eles
foram ver até onde que a água ia, ia ficar próximo, então ele fez o 'Village Morena' já
(Gonçalves, agente do poder público estadual). São os “loteamentos por fração ideal”, em
um único registro constam diversos donos, cada um com uma fração/percentual da área
(Andrade, agente do poder público estadual). Esses “loteamentos” não cumprem as regras
admitir esse tipo de “divisão”, mas os órgãos públicos ficam impossibilitados de fazer o
controle adequado uma vez que só tomam conhecimento da situação quando começa a
do PDDS), são contabilizados 4.275 lotes, o que corresponde a 19,15% do total contabili-
lamento (base jurídica e institucional que propicia a expansão urbana) passa a haver uma
maior oferta de lotes, já legalizados perante a prefeitura, Naturatins e CRI. São loteamentos
investidores, mas não há uma consonância com os princípios do planejamento urbano sus-
tentável (Estatuto da Cidade), sendo uma reprodução dos vazios urbanos existentes em Pal-
mas e em Porto Nacional. No período compreendido entre os anos de 2007 até 2012 são
gócio duas empresas (agentes coletivos), que atuam em parceria, se destacam no cenário de
46
Chamamos atenção que estamos considerando o levantamento realizado para esta pesquisa, apresentado
na Tabela 1, sendo que ainda existem lacunas a serem preenchidas.
136
mentos Imobiliários”. Juntas elas são responsáveis por mais de 60% do número de lotes
A empresa “União do Lago”, formada por dois sócios diretores oriundos do in-
terior de São Paulo, tem sua origem ligada ao Distrito de Luzimangues. Os nomes dos seus
Portal do Lago” (2005), com 1.300 lotes. Desde então a empresa vem expandindo sua atua-
gues47, criada na cidade de Redenção – PA, já está presente em 24 cidades espalhadas pelos
estados do Pará, Tocantins, Goiás, Bahia, Alagoas, Mato Grosso, Rondônia e Acre. De
presa residiu em Porto Nacional, Pium e Paraíso do Tocantins, depois foi para Redenção –
PA, onde começou a Buriti, junto a outro sócio que já tinha experiência em loteamentos. A
Luzimangues.
As duas empresas planejam novos lançamentos ainda para 2012: “Esse ano,
acho que tem mais uns quatros empreendimentos, totalizando em uns seis mil lotes, mais
ou menos”, diz Faria (agente do mercado imobiliário). Segundo ele a escala dos empreen-
dimentos é muito variável, hoje os empreendimentos são na faixa de mil e trezentos a dois
47
Tal afirmação se dá por conta dos dados obtidos nas entrevistas com os próprios agentes do mercado
imobiliário: a empresa detém grande capital financeiro; uma grande “carteira” de clientes; e na relação
com os parceiros ela impõe suas condições (só participa se detiver 50% ou mais do negócio).
137
mil lotes. Dentre os maiores loteamentos comercializados nos últimos anos estão: Laguna
I, com 1.731 lotes (Figura 9); Laguna II, com 1.754 lotes (Figura 10); Jardim do Porto,
com 2.179 (Figura 11); Jardim Europa, com 1.584 lotes (Figura 12); e Laguna III, com
pequenos, não é do tamanho desses que a gente vem comercializando. Agora são lotea-
mentos pequenininhos, quatrocentos, oitocentos, mil lotes”. Ele compara também com um
Jardim”:
expansão imobiliária: vinte mil, trinta mil, quarenta mil. Através da pesquisa podemos
demonstrado na Tabela 1.
140
moradores nesta quantidade de terrenos, repetimos aqui o cálculo elaborado pela equipe do
PDDS, utilizando a mesma metodologia (PORTO NACIONAL, 2006). Foi utilizado o ín-
dice mais atual do número de moradores por domicilio para o município de Porto Nacional
(IBGE 2010), com valor aproximado de 3,5 moradores por domicilio; e multiplicando este
número pela quantidade de lotes urbanos de Luzimangues (22.323). Dessa maneira chega-
mos ao resultado de que hoje a localidade comportaria uma população superior a 78.000
habitantes — que seria superior à população total do município de Porto Nacional, com
urbanos e rurais. Ou seja, são necessárias quase trinta e quatro “Luzimangues do mundo
real” para alcançar uma “Luzimangues dos sonhos imobiliários”, até o momento.
de Luzimangues desde 1993. Com a Lei nº 1.415, de 14 de outubro de 1993, cria o Distrito
nos loteamentos que estavam surgindo. Com a Lei nº 1.725, de 24 de janeiro de 2002, o
Poder Executivo Municipal fica autorizado a efetuar a análise e aprovação das atividades
de ocupação do solo urbano às margens do Lago da Usina Hidroelétrica Luiz Eduardo Ma-
141
galhães, e com a Lei nº 1.782, de 27 de novembro de 2002, fica definida área de expansão
Ramos (agente do poder público estadual) lembra que não havia na prefeitura
um setor de análise dos loteamentos e da ligação desses com o seu entorno, uma vez aten-
(CRI), como um órgão de apoio, é quem tomava mais cuidado e exigia mais informações.
serem seguidas pelos agentes do mercado imobiliário. Esse momento da definição dos ins-
suas atividades e seus lucros sem muitos obstáculos. Os agentes do mercado imobiliário
afirmam que não têm dificuldades para aprovar os projetos na prefeitura de Porto Nacional
Para Sousa (agente do mercado imobiliário) a aprovação em Porto Nacional é muito mais
ágil e rápida, não tem burocracia, isso acaba facilitando as pessoas empreenderem lá.
localização nas periferias, etc). No campo fundiário, o poder público, por meio das suas
cisões politicas, “que são de natureza a orientar as preferências dos agentes encorajando
ou contrariando, mais ou menos, as disposições iniciais dos potenciais clientes por meio
de medidas administrativas que têm como efeito impedir ou favorecer a sua realização”
legais tanto aos compradores, pois tratam-se de “lotes com registro em cartório”, quanto
mangues diz respeito à proximidade com Palmas e às influencias que essa exerce na regi-
49
Para Sousa (agente do mercado imobiliário) esse ainda é um negócio de risco, aproveitando a estabilidade
e as boas condições econômicas que o país alcançou nos últimos anos. A valorização é grande mas o
empreendedor se assegura contratualmente contra os riscos — controle da inadimplência, seguro em caso
de morte, entre outros.
143
ão, conforme abordado no Capítulo III. Nos primeiros anos de ocupação da capital havia a
dação, os lotes eram doados ou comercializados pelo Estado (BAZOLLI, 2007:15), sendo
que também era comum as ocupações de áreas públicas e particulares, com o aparecimento
leilões públicos (PALMAS, 2002:16), os lotes tinham um valor fixado pela avaliação do
Estado, os interessados ofereciam lances, o lance mais alto de entrada saia vencedor, o res-
tante do valor era pago em parcelas. Esses eram os loteamentos promovidos inicialmente
pelo Estado, modelo que foi praticado também pela empresa ORLA S/A (2000), porém
com um patamar de valores já diferenciados, mais elevados, e que não permitiam o acesso
por parte de famílias de menor renda, em certa medida consequência da valorização provo-
Esse modelo de aquisição de lotes há algum tempo foi esgotado, sendo que o
Estado passou a não mais ofertar suas áreas, e passou a especular com elas. Durante o pro-
cesso de discussão do Plano Diretor Participativo de Palmas (2007), o Estado não aceitou
que quadras de sua propriedade fossem classificadas como ZEIS, pois eram “áreas muito
lativo de privatização das terras públicas e ampliação dos vazios urbanos — imóveis com
Bazolli (2007:15) utiliza dados da população projetados pelo IBGE para o ano
de 2005, e demonstra que a densidade populacional urbana de Palmas era de 7,3 habitantes
por hectare, “muito abaixo da mínima suportável prevista por Mascaró (1987) de 40 pes-
soas por hectare, e com distância ainda maior do seu plano original de implantação, que
Gonçalves (agente do poder público estadual) chama atenção para o fato de que
parte das terras retidas pelo Governo do Estado em Palmas, e caracterizadas como vazios
urbanos, não poderiam ser utilizadas pois eram alvo de contestação judicial, conhecida
como “Ação Discriminatória” (com os limites gerais demonstrados na Figura 14). Alguns
dos antigos donos das fazendas discordavam do processo de desapropriação 50 por parte do
50
“A primeira grande desapropriação de terras, realizada pelo Governo do Estado, ocorreu em abril de
1990 e atingiu 24 propriedades na área destinada ao plano básico da cidade. As principais fazendas
desapropriadas foram a Sussuapara e a Triangulo” (PALMAS, 2002:16)
145
De acordo com Gonçalves (agente do poder público estadual) esta “ação” dei-
xava Palmas numa situação de fragilidade da documentação das áreas, fazendo com que
houvesse também uma incerteza na produção de lotes. Somente em 2011 houve a decisão
judicial e esses antigos proprietários obtiveram êxito, retornando à sua posse grandes ex-
tensões de terra dentro do perímetro urbano, muitas delas com localização privilegiada,
enquanto em Palmas havia esse “problema”, o Distrito de Luzimangues estava apto a rece-
ber os investimentos.
dos, por se tratar de uma decisão muito recente e a literatura ainda não contemplar esse pe-
ríodo. O assunto é colocado nesta pesquisa como algo a ser levado em consideração no
processo regional, uma vez que foi referido durante as entrevistas com os agentes do poder
público estadual e com os agentes do mercado imobiliário como um fator relevante, que
pode ter reverberações na ocupação de Luzimangues — estando essas áreas livres de limi-
tações jurídicas, passaria então a haver oferta de mais lotes urbanos em Palmas, em tese.
desenrolados pela decisão judicial, uma vez que há o questionamento se até mesmo o Ma-
croparcelamento de Palmas ainda teria validade, já que foi pensado com as terras nas mãos
Palmas vem passando também pela valorização de terras ocorrida desde 2009,
51
Informação obtida junto aos técnicos da SEDUH.
147
demonstrado por Maricato (2011). Esse aumento do crédito imobiliário acabou provocando
vem acontecendo no Brasil inteiro, “mas Palmas é muito cara comparando com outros lo-
cais”. Na visão deste agente os valores das áreas aumentaram demais e a empresa não tem
hoje a mesma facilidade para adquirir terras como era a três ou quatro anos atrás. No mes-
mo sentido Faria (agente do mercado imobiliário) diz que o investimento na capital é muito
Ao mesmo tempo que ocorre esse encarecimento das terras em Palmas, começa
a haver oferta de lotes mais baratos e com facilidades de pagamento, para moradia ou para
tância do centro da capital até na ARSE 12253” (Andrade, agente do poder público estadu-
al).
52
A alta dos preços dos terrenos acaba influenciando também na própria tomada do crédito, pois o lote
começa a pesar muito no custo final do imóvel financiado (lote + edificação). Em Palmas hoje o valor do
PMCMV para famílias com renda até seis salários mínimos é de no máximo 150 mil reais, mais de 50%
desse valor fica comprometido com a compra da terra, pois os lotes variam de 80 a 120 mil reais. Grande
parte do dinheiro disponibilizado para a politica habitacional acaba indo para os setores especulativos
(quem detinha a terra) e não para os setores da produção (construção civil).
53
Quadra localizada dentro do plano urbanístico original da capital.
148
meados do século XIX, com a promulgação da “Lei de Terras” em 1850. A terra passava
então a ser comprada e vendida, num processo de transformação da terra urbana em merca-
doria (FIX, 2011:59). Anterior a isso predominava nas cidades a cessão/permissão do uso
da terra, “data da terra” quando era cedida pelo Rei, “chão de terra” quando era cedida
pela Câmara (FIX, 2011:57). Os desdobramentos desses fatos foram discutidos no Capitulo
II, a partir de Bonduki (1992 e 1998), Folz (2003) e outros, quando tratamos dos processos
ção do urbano, influenciando na conformação das politicas públicas e das cidades. Royer
gem e utilização dos fundos públicos para atender o mercado. Para ela “a redução da poli-
fictício, um título jurídico que dá direito a seu detentor de se apropriar de uma parte da
riqueza social”, por exemplo a renda da terra apropriada pelo proprietário quando da reali-
mos para a construção de casas — até com a formação dos “bancos de lotes”, o que tam-
bém influenciou a alta dos preços dos imóveis. Em Palmas o mercado da construção com
recursos do PMCMV é formado na maioria por empresas com um alcance geográfico mais
54
“O modelo de provisão mercantil de moradia resiste, no Brasil, à implementação dos instrumentos de
democratização do acesso à terra. Ao contrário, procura maximizar os ganhos por meio de operações
especulativas com a terra, ou seja, busca a valorização de modo dissociado ou prevalente em relação ao
circuito de reprodução produtiva do capital. A tendência é que parte do fluxo de capitais viabilizado com
o aumento do crédito seja capturado na forma de renda da terra.” (FIX, 2011:142)
55
Site da Caixa Econômica Federal – Desenvolvimento Urbano, Acompanhamento de Obras.
https://webp.caixa.gov.br/urbanizacao/siurbn/acompanhamento/ac_publico/sistema/asp/ptei_filtro_inicial.asp
150
lote, estando portanto um pouco afastadas das temáticas da financeirização discutidas até
então (não têm capital em bolsa de valores, não fazem uso de financiamentos com fundos
pelo bom momento do mercado. Palmas e Luzimangues podem ser vistos então a partir de
um contexto mais geral onde, à margem da atuação das grandes empresas nacionais do
ramo imobiliário (ROYER, 2009; e FIX, 2011), são propiciados rearranjos e rupturas que
Vem daí então um outro fator que foi observado, o modelo do negócio implan-
tado nos loteamentos do distrito: com preços mais baixos do que os ofertados em Palmas,
Com base nas entrevistas com os diferentes agentes e nos dados referentes à
implantação dos loteamentos (Tabela 1), temos uma forte indicação que houve um proces-
so de ruptura de um modelo que estava sendo implantado antes de 2006 para o que veio a
se desenvolver a seguir. O modelo anterior não contava com facilidade de crédito e finan-
ciamento por parte dos empreendedores, dessa maneira as vendas em parcelas eram limita-
das em até 60 meses, os lotes tinham áreas maiores (entre 360m² a 450m²) e os empreendi-
mentos eram organizados pelos proprietários das terras — não havia também maiores exi-
trada e do parcelamento em até 180 meses, lotes menores (250m²) e a presença de empre-
sas incorporadoras organizando parcerias. Esse novo modelo acaba rearranjando o produto
151
(lote urbano) para um público de menor poder aquisitivo, redefinindo o campo de atuação
fica a estrutura do campo”, assim como a adoção de uma nova tecnologia ou a aquisição
de uma maior quota de mercado modifica as posições relativas às demais firmas. No caso
estudado podemos atribuir, em certa medida, uma redefinição da posição dos agentes mo-
ação que o empreendimento de Luzimangues vem dando certo comercialmente pela facili-
em diversas parcelas e juros menores. Faria (agente do mercado imobiliário) afirma que
hoje seus clientes compram pela viabilidade de pagamento e pelos valores baixos de entra-
da.
se fala muito na questão da Petrobras”, mas para ele o que favorece mais a venda é essa
“Cada loteamento que a gente lança do lado de lá a gente se surpreende, pois a procura é
maior[...] Lá na hora de vender é uma loucura, já tivemos loteamentos de ter 5 mil pesso-
mento pelos próximos anos, até quitar a última parcela. Para o loteador caberá administrar
sua “carteira de negócios”, o que para Gonçalves (agente do poder público estadual) é fei-
to “como se faz num banco, eles vão ganhando dinheiro capitalizando os juros”. Para esse
agente a questão urbanística não estaria presente, “não existe”, ou, de outro ponto de vista,
seria resumida aos aspectos ligados aos interesses específicos dos empreendedores, ou seja,
Por não ser o foco principal desta pesquisa não questionamos os agentes do
mercado imobiliário, e nem fomos atrás de dados específicos, quanto aos valores que são
153
movimentados com essas transações, esse poderia ser até o tema para um novo trabalho,
mas com base nos números que obtivemos, podemos fazer alguns cálculos de maneira a
termos uma noção da escala financeira envolvida, o valor dessa “carteira”56. Com parcelas
mensais no valor de R$150, por exemplo, seria movimentado a cada mês um montante pró-
ximo a 3,35 milhões de reais, considerando 22.323 terrenos (Tabela 1). Podemos comparar
esse montante com a média mensal do que a prefeitura de Porto Nacional recebeu nos cin-
co primeiros meses de 2012 através de repasses federais (FPM, ITR, IOF, CIDE, FEX,
Nessa relação também teremos um outro lado, o lado dos compradores, famíli-
as e investidores que vão pagar durante 15 anos suas parcelas e que não querem jogar di-
nheiro fora. Eles sonham com as melhorias do lugar, sonham com a casa própria ou com a
valorização da sua propriedade. Exigirão essas melhorias do poder público no futuro, ali-
base”.
maneira como são organizados os loteamentos, com parcerias de diversas formas, envol-
56
Para efeito de cálculo estamos englobando o universo definido na Tabela 1, demonstrada anteriormente,
sem considerar casos específicos: loteamentos já comercializados e quitados; valores diferenciados entre
lotes e entre os loteamentos; aspectos que afetam o valor dos lotes, como localização e infraestrutura; etc.
57
Dados do Tesouro Nacional: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/municipios.asp
154
que faz parceria com um grupo de empreendedores, pode ser um, dois, três, de diversas
nomes das empresas imobiliárias que aparecem no momento da venda, ou mesmo tendo
uma pessoa jurídica ali indicada, o mesmo loteamento é comercializado por diferentes em-
presas. “Em cartório você vê a pessoa jurídica própria do loteamento, mas que às vezes
mercado imobiliário).
nado empreendimento é montada uma empresa única instituindo uma Sociedade de Propó-
sito Especifico (SPE). A SPE é uma pessoa jurídica prevista no Código Civil Brasileiro e
cotas que cabem a cada um, para integralizar o capital a ser investido e o que caberá a cada
um no final.
Dessa maneira não se torna muito claro quem são os empreendedores ou os in-
vestidores, pois “às vezes entram na parceria e colocam o nome, outras vezes não tem
ria e o Sr. Eduardo Machado58, numa relação que denota os entrelaçamentos econômicos,
jurídicos e políticos desse campo; a Saudibras, em outros momentos, fez outros loteamen-
União do Lago, empresas que em conjunto são responsáveis por mais de 15 mil lotes na re-
gião. Faria (agente do mercado imobiliário) nos explica como se dá essa relação: a Buriti
entra com 50% para todos os empreendimentos59, os outros 50% são divididos entre a Uni-
ão do Lago e entre o proprietário da área, este opta por participar da rentabilidade da car-
teira ou receber um número de lotes já urbanizados. A Buriti é uma das empresas que de-
têm mais volume de recursos financeiros, até pela dimensão dos seus negócios na região e
responsável pela implantação do modelo de negócios que veio vingar na região – “preço
Ainda de acordo com as entrevistas não existe uma concorrência acirrada entre
as empresas, porque em muitos momentos elas atuam juntas, mas existe uma concorrência
58
Empresário e politico local, foi presidente da FIETO e ocupou cargos públicos como Deputado Estadual e
Vice-Governador.
59
“A Buriti entra com esse percentual de 50%, ou ela não entra” (Lacerda, agente do mercado imobiliário).
156
para fazer parcerias com as pessoas que detêm as áreas — os “terrenistas”. Dificilmente
tuais” (Faria, agente do mercado imobiliário). A empresa União do Lago, por exemplo,
possui ainda a concessão de quase “mil e duzentos alqueires” na região, são áreas que fo-
proprietários particulares inseridas no meio das áreas maiores (Faria, agente do mercado
imobiliário).
tipo específico de renda da terra, pela qual os donos de terras captam uma renda transferida
rações da legislação — tipos de uso, ocupação, etc. (CAMPOS FILHO, 2001). Essa forma
trabalho e o aumento dos custos de produção (CAMPOS FILHO, 2001), bem como outras
segundo carro, o aumento do tempo gasto nos trajetos cotidianos, etc. (BOURDIEU,
2001:210).
“Muitos são aqueles que tem interesse em que não seja estabeleci-
do esse elo entre as politicas econômicas [no nosso caso, também
as politicas urbanas] e as suas consequências sociais ou, mais pre-
cisamente, entre as politicas ditas econômicas cujo caráter politico
se afirma no próprio fato de se recusarem a ter em conta o social e
157
tunidade na transição hectare/metro quadrado, adquirindo terras rurais pagando por hecta-
Esse modelo de especulação vem se ampliando “às periferias (inclusive, áreas rurais), às
respeito à sua efetiva ocupação em moldes sustentáveis, o que nos parece bastante impro-
vável e antagônico se for ainda seguido o modelo atual da urbanização mercantilizada, en-
generalizado dos agentes, estabelecendo uma tensão permanente e problema para uma
60
Em grande parte decorrente do PMCMV, que “requer” terras mais baratas para construção voltada à baixa
renda.
158
de maneira bastante limitada, com o olhar voltado para os seus loteamentos e para os seus
próprios interesses. O poder público pouco vem fazendo, não cumprindo os princípios pre-
vistos no Estatuto da Cidade e no PDDS. E a comunidade, grande parte alheia ao que vem
acontecendo, será penalizada num futuro próximo tendo que conviver com um déficit de
Gonçalves (agente do poder público estadual) afirma que hoje quem manda no
território de Luzimangues é o mercado imobiliário: “Nos loteamentos feitos lá, você conta:
uma, duas, três, quatro casas em um loteamento. Então é uma questão de exploração do
mercado imobiliário mesmo, não tem outra”. E aponta como funciona o mecanismo espe-
ebulição e a diversos perfis de clientes. Essa oferta atinge uma grande massa da população:
os que compram para fazer a própria casa, os que compram lotes comerciais para futura-
do Mato Grosso, clientes de todos os lados, que compram lotes (dez, quinze, vinte, cin-
“ágio”. Diz respeito ao valor cobrado pelo vendedor que ainda não quitou totalmente o
do novo comprador, sendo que o vendedor cobra o valor que já despendeu pelo bem, acres-
meio especulativo.
Acaba se formando uma outra camada desse mercado especulativo, com pe-
quenos investidores que não têm intenção de ocupar ou construir no distrito, enxergam
Lacerda (agente do mercado imobiliário) diz que o interesse da sua empresa se-
ria vender para quem vai construir, mas atribui parte do “boom” comercial justamente à
questão do “ágio”, pois muitas pessoas compram esperando que os lotes tenham uma valo-
rização. De acordo com ele, muitas pessoas querem comprar qualquer quantidade de lotes
160
mas a empresa vem tentando manter um certo “controle”, hoje são no máximo cinco lotes
por CPF, a empresa pretende ainda reduzir esse número para três lotes para cada compra-
dor.
Nesse aspecto o poder público municipal vem sendo omisso, não se preocupan-
do com uma gestão do território e nem fazendo uso dos instrumentos previstos no PDDS.
Alguns desses mecanismos acabam sendo desvirtuados e utilizados para propagar mais
ainda a especulação, como por exemplo o instrumento das Zonas Especiais de Interesse
Social (ZEIS).
dos ocupados por habitações sub-normais, por populações de baixa renda” (Art. 50), ao
mesmo tempo fixa a totalidade da Macrozona Urbana 2 (todo o perímetro urbano de Luzi-
mangues) como ZEIS 3 (Art. 51, III), autorizando ainda o Executivo a promover e desen-
A Lei nº 07/2006 traz as definições quanto aos tamanhos mínimos dos lotes ur-
banos, o lote mínimo para uso residencial terá uma área de 360,00m², com frente de
12,00m (Art. 12), já os lotes para habitações de interesse social, terão área mínima de
161
250,00m², com frente de 10,00m (Art. 12, § 2º). Os lotes nas ZEIS terão a área minima es-
comercializados. Na visão desses agentes esta seria uma estratégia voltada para uma reali-
dade atual, ou seja, lotes menores e mais baratos. Lira (agente da academia) ao falar de um
Morena” e “Riviera do Lago”), eram feitos quando a lei ainda era outra e a realidade eco-
nômica também: os lotes eram maiores (450m²), os preços não eram tão caros e o parcela-
mento era limitado em até 60 meses. “Hoje a conta que o loteador faz é a conta do metro
quadrado, se eu colocar um lote muito grande, a pessoa não vai dar conta de comprar”
Outro agente do mercado imobiliário vai nesse mesmo sentido, defendendo que
hoje as empresas estão trabalhando em outras cidades com áreas até menores — variando
Esses argumentos até seriam válidos se não ocorresse o que já foi relatado an-
teriormente, toda a especulação realizada nas áreas e a falta de controle (estando sob a res-
ponsabilidade das empresas coibir ou não a venda de mais de três ou cinco lotes por pes-
soa), sendo portanto uma justificativa bastante frágil e que a prefeitura de Porto Nacional
poderia ser entendida então como: promotora do lucro aos seus proprietários, vendendo lo-
tes menores, distantes e sem serviços urbanos, mesmo com uma infraestrutura básica, em
do, seria o IPTU Progressivo. O instrumento do IPTU Progressivo está previsto na Lei nº
05/2006, e é aplicável sobre o solo urbano não edificado, podendo chegar até o décuplo de
ção dos serviços municipais” (Art. 46). Porém esse instrumento é ineficaz para uma parte
dos loteamentos aprovados atualmente (com lotes de 250m²), pois devido à indeterminação
artigo considera solo urbano não edificado os terrenos com área igual ou superior a 360m².
163
des encarregadas de fazer respeitar as leis, a toda espécie de autorização especial de trans-
ção do solo.
tam que as pessoas ainda não moram em Luzimangues pela falta dos serviços urbanos e
acreditam que à medida que estes estiverem instalados, não mais dependerão de Palmas.
Devemos entretanto diferenciar do que se trata esses mencionados serviços urbanos, envol-
lhor entendimento da pesquisa teremos duas dimensões diferenciadas. Uma primeira está
ções:
VIII – calçadas;
IX - manutenção das áreas destinadas a uso público, até a averba-
ção do termo de vistoria e recebimento da obra pelo Poder Públi-
co municipal;
X - manutenção do sistema viário, das áreas de uso comum dos
condôminos, dos equipamentos urbanos internos dos condomínios
urbanísticos, bem como, quando houver, das áreas destinadas a
uso público, até o registro da instituição do condomínio no Serviço
de Registro de Imóveis competente.” (Lei nº 07, de 28 de setembro
de 2006)
tratos especificando que no prazo de dois anos, a contar da data do lançamento, a incorpo-
com meio fio. Esse prazo é autorizado pelo poder público local.
Com base nessa práxis, observamos mais uma característica desse modelo de
urbanização mercantilizada: quem assume grande parte dos custos é o próprio comprador.
apenas os recursos de capital próprio dos investidores, os recursos financeiros dos usuários
são antecipados à produção dos lotes. “Eu vou vender meu lote, mas quem vai bancar a in-
fraestrutura é a própria pessoa que compra. Ele entra com prestações baratas aqui mas
eu tenho dois anos pra implantar essa infraestrutura” (Ramos, agente do poder público
estadual).
165
pação dos loteamentos em Luzimangues se deve também ao fato de que só agora começa a
ca exigida plenamente executada. De acordo com eles, a partir do fim de 2011 começa a
haver um certo dinamismo com novas construções. “De nove empreendimentos [da em-
presa do entrevistado], três estão 100% prontos, os outros vão ficar prontos juntos, daqui
de recursos das famílias de menor renda para a construção da moradia, uma vez que ainda
estão arcando com os pagamentos das parcelas dos lotes. Isso traz como consequência a
impossibilidade de contrair crédito financeiro, pois os bancos não financiam o imóvel que
não está “escriturado” em nome do comprador, ou seja, eles não pegam como garantia o
imóvel que ainda não foi quitado (Faria, agente do mercado imobiliário). “Ocupar como,
se não tem ninguém com condição de construir lá? O cara ainda tá pagando o lote” (Gon-
Gonçalves (agente do poder público estadual) chama atenção para outra ques-
lato dessa questão envolvendo um negócio de grande porte que já haviam fechado, a cons-
trução de 1.200 unidades residenciais em prédios: “Tivemos que segurar um pouco esse
investimento porque quando fomos procurar a Caixa, eles informaram que havia 'falta de
pra Viúva” (ditado popular), e cobram do poder público a infraestrutura macro, que em
tese, não dependeria das empresas. “Porto Nacional tem que ser mais participativo e su-
prir isso, ou tem que ser discutido quem vai dar essa estrutura macro” (Faria, agente do
mercado imobiliário).
mas é que falta condições de habitabilidade necessárias para os imóveis garantirem o fi-
nanciamento imobiliário, ou seja, falta de infraestrutura básica exigida pelos programas ha-
bitacionais: coleta de lixo regular, iluminação pública, abastecimento de água tratada, aces-
ção de equipamentos e serviços, bem como de garantir sua manutenção, em uma área tão
extensa e tão pouco ocupada. Os financiamentos com recursos públicos seriam mais uma
62
Apesar do PMCMV ser acessado através de outros bancos, o principal agente financeiro, e em especial
para a baixa renda, é a Caixa Econômica Federal.
167
1970, e que não são considerados como áreas urbanas consolidadas, apesar de legalmente
dação da sua ocupação é um dos principais deles. Essa indeterminação é posta por Lira
(agente da academia), “a gente não sabe como vai ser a consolidação desses
loteamentos”. Do seu ponto de vista estão se formando novos vazios urbanos da região de
Palmas, que as pessoas compram para especular, repetindo a mesma lógica do capital: acu-
mular usando o solo urbano. “Vejo essa questão da ocupação urbana aí como um fracas-
so, não vai dar, não tem população assim” (Lira, agente da academia).
passa de 2.310 habitantes (Censo IBGE 2010). Entre os anos de 2000 a 2010, a população
de Porto Nacional cresceu 9,23%, um índice próximo de 0,92% ao ano. Diferente de Pal-
mas que no mesmo período cresceu em média 5,2% ao ano (Censo IBGE 2010). Mesmo se
Luzimagues conseguir emular as taxas de crescimento de Palmas serão anos e anos sem
que a cidade de Porto Nacional recebe atualmente 64, ou com pequenos acréscimos devidos
63
Informação obtida junto aos técnicos da área de desenvolvimento urbano da Caixa Econômica Federal.
64
O pensamento é no sentido de que pela proximidade poderíamos cogitar a hipótese de Luzimangues
crescer nas mesmas proporções que Palmas, porém a capacidade de investimento da capital é diferente da
cidade de Porto Nacional — os valores das cotas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), por
exemplo, são bem dispares. Dados de transferências para municípios podem ser consultados em:
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/municipios.asp
168
Todo esse cenário regional que demonstramos até aqui leva a um caminho de
dias (em alguns casos, em questão de horas), e a chegada dos trilhos da FNS com todas as
expectativas e promessas de progresso que trazem. Com base na pesquisa torna-se claro
que o crescimento de Luzimangues está atrelado também ao que acontece, ou vier a acon-
“Ação Discriminatória” e a discussão de expansão dos limites urbanos na capital, têm re-
verberações no distrito.
para os antigos proprietários, especula-se que deve ocorrer em curto prazo a abertura de
novas quadras dentro do Plano Diretor. Agentes do mercado imobiliário avaliam que pode
haver um momento que essa nova produção de lotes em Palmas provoque a estagnação de
público estadual) chama atenção para o fato de que os mesmos investidores que estão pre-
agentes que exploraram lá, vão explorar aqui”. Faria (agente do mercado imobiliário) re-
vela, sem dar muitos detalhes do negócio, que dentre as áreas “liberadas” em Palmas, a Bu-
riti, parceira da União do Lago, negociou recentemente a compra de seis quadras no Plano
polvorosa os agentes do mercado imobiliário, pois abriria novas frentes de atuação e explo-
ração comercial. Desde meados de 2011 vem ocorrendo essa discussão, ainda inconclusa,
demos ver em Maricato (2008 e 2011), Campos Filho (2001) e Fix (2011), algumas expli-
cações norteadoras desse processo que, parece, vem ocorrendo com similaridades em di-
No caso especifico, entre os argumentos dos que defendem a ideia está a possi-
Distrito de Luzimangues iriam sentir um impacto bastante forte, inclusive com consequên-
cias na “carteira” de recebimentos. “Essa carteira de alguma forma, se hoje aceitar uma
inadimplência aí de 5 a 10%, isso pode chegar a 40%, a 50%, você imagine o impacto que
isso dá nos recebimentos dos investimentos que foram feitos” (Sousa, agente do mercado
imobiliário).
Por outro lado, entre os próprios agentes do mercado, há aqueles que enxergam
que isso é um equivoco. Não há como novos loteamentos em Palmas, dentro do Plano Di-
retor ou numa área de expansão, terem valores similares aos de Luzimangues, pois as ne-
65
O Plano Diretor Participativo de Palmas (2007) reduziu o perímetro urbano como estratégia de ocupar os
vazios urbanos e promover o adensamento da cidade. Entretanto, desde meados de 2011, vem sendo
discutido um projeto de lei de autoria do Poder Executivo (SEDUH), PLC 006/2011, que regulamenta a
faixa de ocupação das rodovias, assunto controverso que não havia sido definido quando da discussão do
plano. Esse projeto acabou por suscitar uma nova discussão com relação aos limites do perímetro urbano,
sendo que diversos agentes do poder legislativo e do mercado imobiliário defendem a necessidade de uma
área de expansão urbana. Por outro lado, diversos setores da sociedade se colocaram em posição
contrária. Apesar das acaloradas discussões e até mesmo da judicialização do processo, com o Ministério
Público Estadual movendo ação contrária às decisões da Câmara de Vereadores, ainda não houve uma
definição.
170
bruta. Esses altos valores teriam como consequência impactos no valor final dos lotes, ou
telosos ao analisar o futuro da região. Para Silva (agente do mercado imobiliário) há mui-
tos boatos e na verdade ninguém sabe o que vai acontecer. Ele fala do receio de virar uma
cidade deserta, pela grande quantidade de lotes vendidos e a pouca quantidade de morado-
res, com uma casa aqui outra ali. Já Lacerda (agente do mercado imobiliário) vê Luziman-
gues no futuro próximo como uma “cidade”, mas condiciona esse futuro às decisões e in-
vestimentos feitos no presente. Para ele o poder público deve participar mais e implantar as
não nesse ritmo atual, mas ele vai continuar crescendo com certeza. Principalmente a par-
tir do momento em que lá tiver mais estrutura” (Lacerda, agente do mercado imobiliário).
tria, mas que necessita de um “vetor” diferenciado, algo novo que dê condições de dinami-
espaço da periferia de Palmas, um sonho que ainda vai demorar muito para ser implantado,
e mesmo após a sua implantação terá um perfil mais popular. “Quem tem grana pra ter
uma casa boa não vai construir no Luzimangues” (Ramos, agente do poder público esta-
dual). Para Gonçalves (agente do poder público estadual), as expectativas imobiliárias es-
tão sendo muito exageradas e já caberia ao município de Porto Nacional “segurar mais as
rédeas e travar mais um pouco”, analisando a necessidade dessa produção de lotes, uma
vez que o município não teria a capacidade e nem arrecadação capaz de bancar tudo isso.
66
“Os proprietários já estão se articulando com os empreendedores para lançar novos loteamentos.”
(Sousa, agente do mercado imobiliário).
171
Nesse sentido Mourão (agente do poder político local) aponta como solução a
Do seu ponto de vista, seriam ações que dariam origem a uma nucleação indus-
trial e comercial, capaz de munir de condições o município através do aporte financeiro ad-
nicípio.
172
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pesquisa e fazer algumas recomendações para futuros trabalhos relacionados ao tema estu-
dado.
O que nos chamou a atenção num primeiro momento foi a urbanização recente
do Distrito Luzimangues, que vem passando por um rápido processo de transformação ru-
Essa dissertação tomou então como tema a construção da política urbana local
com uma ótica na dinâmica dos agentes sociais e nas suas tomadas de posição no campo da
luta política/urbana. Como tema específico abordamos a construção dos mecanismos insti-
desenvolvimento industrial, esse novo espaço urbano tem como objetivo principal sua ex-
tório do distrito, uma vez que foi contabilizado durante a pesquisa um total de 22.323 imó-
veis, o que comportaria uma população superior a setenta e cinco mil moradores — se efe-
tivamente ocupada seria então a quarta maior cidade do Estado do Tocantins (Censo IBGE
2010).
agentes envolvidos com os interesses do mercado de terras assumiram uma nova posição
Foi constatado, ao longo da pesquisa, que este foi um fator relevante, porém a
complexos:
cada pela proximidade com a capital; as primeiras nucleações próximo ao porto da balsa; a
das margens do Lago de Palmas para o mercado imobiliário, potencializados mais tarde
denamento de uma situação que já vinha ocorrendo, por meio da legislação que permite a
ocupação urbana e a facilidade para aprovar os loteamentos, abrindo frente para os em-
preendedores imobiliários;
polo industrial; expectativas também que propiciem uma atração populacional, fomentada
grama Minha Casa Minha Vida (PMCMV), provocando o encarecimento dos imóveis em
Palmas (e no país) e dificultando o acesso a lotes urbanos. Período em que partes do terri-
tório urbano da capital ficou “impedido” de ser parcelado devido a questões legais com o
2006 (sem tanta capacidade de financiamento, com vendas em até 60 meses, lotes maiores
posterior à legislação de 2006. Nesse novo modelo implantado são utilizados mecanismos
las (até 180 meses), a oferta de lotes mais baratos devido à diminuição da sua área (permi-
das terras).
Notamos então que nesse processo os agentes privados foram avançando (ação
gular (ação típica do campo burocrático), evitando uma situação de conflito entre o poder
público local e agentes políticos que tinham capacidade (capital político e econômico) de
impor sua posição. Essa atitude tem reflexos no território e na conformação da nova fron-
teira urbana.
em diferentes escalas e grandezas. Dentre esses capitais públicos destacamos: o “capital fi-
jeado, Lago de Palmas, Ponte da Amizade, FNS, Pátio Intermodal, etc); o “capital social”,
175
salto pois passa a existir num ambiente com regras que garantem os seus investimentos e
tes.
Notamos também que existe uma ligação muito forte entre o crescimento do
mostrou como uma nova fronteira de expansão do capital, propagando e ampliando a ex-
cos para a sua consolidação. Acaba, de certa maneira, demonstrando que Palmas não per-
mitiu a inclusão da população de menor renda, propiciando o nascimento torto de uma ci-
dade irmã na margem esquerda do Rio Tocantins 67, porém sem o mesmo encanto e atenção
que a reveste.
pesquisa, temos uma clara noção que apenas arranhamos essa temática do desenvolvimento
regional, sendo possível ampliar os horizontes dessa linha de pesquisa com novos traba-
67
Dando asas à imaginação, a imagem poderia ser ainda a de uma “cidade filha”, sendo a Ponte da Amizade
vista como um “cordão umbilical” interligando mãe e filha.
176
região Norte do Brasil, onde as cidades vêm crescendo de maneira dinâmica (IBGE 2010),
esse dinamismo é refletido nas atividades imobiliárias. Fortunas estão se formando com
base na expansão urbana sobre terras rurais, e em desconformidade com a política urbana
nacional.
177
REFERÊNCIAS
ABRAHÃO, Sérgio Luís. Espaço público: do urbano ao político. São Paulo: Annablu-
me, 2008.
_____. Origens da habitação social no Brasil. 2ª Edição, São Paulo: Estação Liberdade,
1998.
_____. Habitar São Paulo – Reflexões sobre a gestão urbana. São Paulo: Estação Liber-
dade, 2000.
178
BRITO, Eliseu Pereira de. O papel de Palmas - TO na rede de integração regional (Dis-
sertação de Mestrado). Dourados: Universidade Federal da Grande Dourados, 2009a.
_____. As duas faces da cidade. São Paulo: Minha Cidade 10.120, 2010c. Disponível em:
< http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.120/3496 >
CAMPOS FILHO, Cândido Malta. Cidades Brasileiras: seu controle ou o caos. São Pau-
lo: Studio Nobel, 2001.
CARVALHÊDO, Wlisses dos Santos e LIRA, Elizeu Ribeiro. Palmas ontem e hoje - Do
interior do Cerrado ao Portal da Amazônia. Uberlândia: Observatorium Revista Eletrô-
nica de Geografia v. 1, n° 2, 2009.
CORRÊA, Roberto Lobato. Sobre agentes sociais, escala e produção do espaço: um tex-
to para discussão. In: Ana Fani Alessandri Carlos, Marcelo Lopes de Souza e Maria En-
carnação Beltrão Sposito. (Orgs.). A produção do Espaço Urbano: Agentes e processos, es-
calas e desafios. São Paulo: Editora Contexto, 2011, p. 41-51.
FOLZ, Rosana Rita. Mobiliário na Habitação Popular. São Carlos: RiMa, 2003.
_____. Condição Pós-Moderna. 18ª Edição. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Editora Martins Fontes,
2000.
LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Ed. Moraes LTDA., 1991.
_____. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. 3ª Edição, Petrópolis: Editora
Vozes, 2008.
MARX, Murillo. Cidade no Brasil: em que termos? São Paulo: Studio Nobel, 1999.
MELO JUNIOR, Luiz Gomes de. Co yvy ore retama: de quem é esta terra? Uma avali-
ação da segregação a partir dos programas de habitação e ordenamento territorial de
Palmas (Dissertação de Mestrado). Brasília: UnB, 2008.
NASCIMENTO, Denise Morado; TOSTES, Simone Parrela. Programa Minha Casa Mi-
nha Vida: a (mesma) política habitacional no Brasil. Arquitextos, São Paulo, 12.133,
Vitruvius, jun 2011. Disponível em <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitex-
tos/12.133/3936>
NETO, Francisco Maia. Negócios imobiliários: como comprar, vender ou alugar seu
imóvel. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
181
_____. Diagnóstico Geral para Revisão do Plano Diretor de Palmas. ARCA, Palmas:
2006.
SANTORO, Paula (Org.). Caderno Pólis 9: Gestão social da valorização da terra. São
Paulo: Instituto Pólis, 2004.
SANTOS, Carlos Nelson F. dos. A cidade como um jogo de cartas. São Paulo: Projeto
Editores, 1988.
SILVA, Valéria Cristina Pereira da. “Girassóis de Pedra”: Imagens e metáforas de uma
cidade em busca do tempo (Tese de Doutorado). Presidente Prudente: UNESP, 2008.
_____. Palmas, a última capital projetada do século XX: uma cidade em busca do
tempo. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. IN Sociologias nº 16. Ju-
nho/dezembro 2006, p. 20-45
SOUZA, Marcelo Lopez de. Mudar a cidade: uma introdução critica ao planejamento
e à gestão urbanos. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1998.
_____. As ilusões do Plano Diretor. São Paulo: 2005. Disponível em : < www.flaviovilla-
ca.arq.br/pdf/ilusao_pdf.pdf >
XAVIER, Fernanda Oliveira Rocha. Palmas: uma capital para todos? (Dissertação de
Mestrado). Curitiba: UFPR, 2007.
LEIS:
_____. Lei n.º 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo
Urbano e dá outras Providências.
_____. Lei n.º 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Consti-
tuição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.
_____. Lei nº 1.782, de 27 de novembro de 2002. Define área de expansão urbana no Dis-
trito de Luzimangues.
_____. Lei Complementar nº 05, de 04 de outubro de 2006. Dispõe sobre o Plano Dire-
tor de Desenvolvimento Sustentável de Porto Nacional e dá outras providências.
_____. Lei Complementar nº 06, de 04 de outubro de 2006. Dispõe sobre o uso e a ocu-
pação do solo nas Macrozonas Urbanas do Município de Porto Nacional e dá outras provi-
dências.
_____. Lei nº 09, de 23 de janeiro de 1989. Declara de utilidade pública, para efeito de
desapropriação, área de terras descrita em memorial e dá outras providências.
184
_____. Lei nº 70, de 26 de julho de 1989. Cria o município de Palmas e dá outras provi-
dencias.
_____. Lei nº 1.128, de 1º de fevereiro de 2000. Institui o Projeto Orla e adota outras pro-
vidências.
ENTREVISTAS:
ANDRADE, Marcos Antônio Gaipo de. Entrevista Nº 01. Palmas, 2012. Entrevista con-
cedida ao autor em 22 de março de 2012. Gravação digital (1h49min), transcrita na integra.
LIRA, Elizeu Ribeiro. Entrevista Nº 04. Palmas, 2012. Entrevista concedida ao autor em
19 de abril de 2012. Gravação digital (58min), transcrita na integra.
SOUSA, José Ricardo de. Entrevista Nº 06. Palmas, 2012. Entrevista concedida ao autor
em 16 de maio de 2012. Gravação digital (25min), transcrita na integra.
SILVA, Miquéias Siqueira da. Entrevista Nº 07. Palmas, 2012. Entrevista concedida ao
autor em 16 de maio de 2012. Gravação digital (44min), transcrita na integra.
FARIA, José Ricardo. Entrevista Nº 08. Palmas, 2012. Entrevista concedida ao autor em
22 de maio de 2012. Gravação digital (1h05min), transcrita na integra.
ANEXOS
Entrevista:
1. Como foi o processo de discussão do PDPN 2006? Houve envolvimento da gestão e da so-
ciedade nas discussões? Já passados 6 anos a lei contribuiu para o desenvolvimento da cidade?
2. A assessoria Camargo e Cordeiro Consultores Associados era responsável pelo PDPN.
Quem contratou, qual função exercia e o que ela fez de fato? Os técnicos da consultoria possuíam
algum vínculo com a cidade ou com o Estado?
3. Como foi a relação com o Estado na discussão do PDPN 2006?
4. O distrito de Luzimangues acaba entrando na discussão do PDPN 2006. Como isso ocorre?
5. É uma outra assessoria técnica a responsável pelo projeto de macrozoneamento: Quem
contratou, qual função exercia e o que ela fez de fato? Os técnicos da consultoria possuíam algum
vínculo com a cidade ou com o Estado?
6. Na sua visão quais fatores atraem ou propiciam investimentos em Luzimangues?
7. Esses fatores explicam o surgimento e comercialização de novos loteamentos a todo mo-
mento na região? O município de Porto Nacional e o Estado vislumbraram a possibilidade de aten-
der toda essa nova demanda – infraestrutura, equipamentos e serviços públicos?
8. No registro final do PDPN 2006 há discrepâncias entre o documento técnico e a lei aprova-
da, por exemplo: (1) a indicação de controle do crescimento dos loteamentos em Luzimangues; (2)
a necessidade de definição de um perímetro pequeno na região; (3) a falta de capacidade do muni -
cípio em suprir adequadamente equipamentos públicos; por outro lado (1) a lei aprovada define
um perímetro alargado; (2) reconhece como urbano loteamentos até então sem aprovação, sem re-
gistro e sem ocupação, (3) distantes da TO-080, etc. Como se deu a definição do perímetro urbano
do distrito?
9. Qual o papel de entidades como a FIETO, AHDU e ORLA S/A na definição da política ur-
bana para o distrito? Quais são as figuras relevantes para esse processo?
10. Qual a sua visão de futuro para aquele local e a relação regional com Porto Nacional e Pal-
mas?
186