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RESENHA

GALVAGNI, Martina. Como age o estelionatário sedutor? Balneário Camboriú/SC:


Versão On-line. Resenha. Publ. 09 ago.2018.
COMO AGE O ESTELIONATÁRIO SEDUTOR?

“ELE É UM ATOR, ESTABELECE RELAÇÃO SENTIMENTAL COM A VÍTIMA E


ATÉ SE PÕE „NO LUGAR‟ DELA PARA PRATICAR GOLPES COM REQUINTES
SENTIMENTAIS”

Adaptado do texto de José Roberto Martins Segalla1

Como é de conhecimento geral, o artigo 171 do nosso código criminal –


Decreto-Lei Nº 2.842, de 07 de dezembro de 1940, é o estelionato, logo, dizemos
que o cara é o maior 171 quando se torna especialista em enganar e dar golpes nos
outros. Normalmente se faz de coitadinho e sabe muito bem como tirar proveito da
principal fraqueza alheia, o de ser humanitário.

Seu vizinho o procura e lhe conta uma triste história, normalmente


colocando-o em situação difícil. Com isso o induz a emprestar-lhe
dinheiro, assim você fica com uma falsa idéia de dever cumprido.

Eles são falsários, pilantras, bandidos, criminosos como os demais ao pé da


lei, mas a diferença é que praticam a fraude com requinte sentimental. E, para tanto,
se valem de uma lábia vigarista que impressiona, por vezes, os mais criativos
roteiristas de cinema. Mas, no mundo real, no ambiente passional, os golpistas se
envolvem nos problemas da vítima e, ombro a ombro, colo a colo, choram com os
fragilizados as lágrimas de sarcasmo. Entre os casos comuns de estelionato, os de
natureza passional guardam muitas semelhanças. É como se fosse possível
descrever o “perfil do falsário”, tantas as “coincidências” no modus operandi na hora
de aplicar o golpe.

Por sinal, até na consequência os golpes com ingrediente passional


apresentam elementos repetidos: o falsário identifica vítimas
fragilizadas e, friamente, se coloca no lugar delas... Eles também
mostram uma facilidade novelística em sofrer e, tentando como se
igualar à vítima num primeiro instante, choram para elas seus
próprios sofrimentos.

Ao final, a frágil passa a ser a ingênua dilacerada emocional (e, claro,


financeiramente) pelo golpista. Promotor de Justiça na área criminal por 20 anos, o
professor de Direito José Roberto Martins Segalla vai ao ponto ao ser perguntado
sobre o perfil, o modo de atuação do estelionatário:

Ele é um ator espetacular e só consegue sucesso por estabelecer


uma relação de sentimento com a vítima [...]. Assim, o “bom de lábia”

1
Promotor de Justiça, Consultor Jurídico, Professor de Direito Constitucional e Penal, também já
trabalhou como Engenheiro Mecânico e de Segurança do Trabalho. Foi professor do curso de
Engenharia e diretor na Fundação Educacional de Bauru - FEB (atual Unesp). Foi também Diretor da
Faculdade de Direito, na Instituição Toledo de Ensino (ITE).
Atualmente é vereador e ainda exerce as funções de consultor jurídico e professor de Direito
Constitucional e Penal. Também é vice-presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e
Agrônomos de Bauru (ASSENAG), tendo sido presidente em 1976/1977 e vice-presidente no período
de 2008/2012.
age quase sempre em duas frentes: ou é o que atua com sentimento
de piedade, o coitadinho, ou pela ganância. Ele tem no seu repertório
emocional a arte de estabelecer relações com o dó, a caridade, a
piedade ou, no outro sentido, pela ganancia. Ou seja, o estelionatário
ou é o coitadinho ou é o esperto. Mas o ponto em comum desses
tipos sentimentais é que ele sensibiliza fácil a vítima para ter
vantagem [...].

Fato é que ele atua sobre a vertente da esperteza, enxerga com facilidade a
vítima que tem o perfil de uma pessoa boa, ingênua por ser boazinha, sem maldade.
Ele tira proveito fácil sobre esse tipo. A questão crucial no comportamento do
estelionatário sentimental é que ele se coloca na condição da vítima. Ainda, é muito
companheiro e compreensivo e, quando vê que sua lorota está gerando resultado,
ele cria uma crise sua e chora no ombro da pessoa que está fragilizada. Ele se
identifica e se iguala ao sofrimento da vítima.
O promotor José Roberto Martins Segalla situa que a posição de desfaçatez
do golpista por vezes permanece até no Judiciário:
[...] e o juiz se vê em dificuldade em condenar muitos deles porque a
vítima lhe confere o acesso a tanta coisa que o falsário usa isso a
favor dele e diz, ainda, pasme, que está sendo vítima de vingança da
então amada. Fica uma versão de que ele teve dinheiro, carro, ou
seja bens, porque a vítima quis lhe dar, consentiu. Exceto nos casos
em que o estelionato é repetido, essa quadro passa a gerar certa
dificuldade para que se prove alguma coisa, porque ele é sempre o
coitado e fica mais difícil pegá-lo. [...] as vítimas desses casos
confiam demais, caem com muita facilidade e não observam nada
sobre com quem estão lidando [...].

As vítimas, em geral, resistem em falar sobre o que passaram exatamente


pela sequela mais forte: a desconfiança ao outro. Muitas contatadas ainda não se
recuperaram. O “artista da trapaça” é objeto frequente, e certo, de consultórios de
psicólogos e, independentemente dos tipos que envolvem o golpista, os terapeutas
apontam que a personalidade antissocial sempre estará manifesta nas ações de
roubar, enganar, ludibriar.
O vigarista, pasme, também consegue êxito sobre pessoas tidas
como experientes e seguras, embora suas vítimas prediletas,
escolhidas com sagaz observação, seja de quem enfrenta problemas
em seus relacionamentos ou esteja sofrendo com perdas. O
estelionatário, mesmo leigo em ciências como a sociologia,
psicologia, ou questões comportamentais do ser humano, é uma
espécie de autodidata em observação do “coração”.

Em análise, observa-se que demonstram habilidade certeira em localizar


pessoas maltratadas, deprimidas e que estão sofrendo e independente dos motivos
que levaram à trapaça e prejuízos, é preciso reforçar que a vítima pode desenvolver
depressão e uma desconfiança crônica em relação a tudo e a todos. O estelionatário
normalmente apresenta o que chama de transtorno de personalidade antissocial,
mais comumente conhecido como sociopatia, ou seja, tais indivíduos tendem a
apresentar um padrão invasivo de desrespeito e violação aos direitos dos outros,
fracassam em conformar-se com as normas sociais com relação a comportamentos
legais e mostram propensão para enganar, usar nomes falsos ou ludibriar os outros
para obter vantagens pessoais ou prazer. Também demonstram irresponsabilidade
consistente e repetido fracasso em manter um trabalho e de honrar obrigações
financeiras. Tendem a ser frios, indiferentes e a não apresentar qualquer remorso
por ter ferido, maltratado, enganado ou roubado alguém.
O estelionato talvez seja o crime que tem o código mais conhecido nas ruas.
O famoso 171, artigo do Código Penal (CP) que o identifica como crime doloso de
natureza patrimonial realizado com o emprego de fraude em que o agente criminoso
se vale do engano ou se serve deste para que a vítima, sem a adequada reflexão,
se deixe dilapidar em seu âmbito patrimonial, ou seja, pelo emprego de fraude
coloca a vítima em situação de erro ou nela a mantém, de modo a obter vantagem
ilícita, prejudicando-a, em seu patrimônio.
O vocábulo stellio é derivado do latim e significa camaleão. A vítima do
estelionato deve ser capaz. Se for incapaz, o crime será o do artigo 173 do CP. A
pena para o estelionato praticado contra capaz é de um a cinco anos de reclusão,
com multa.
Uma particularidade na aplicação do crime de estelionato está na rejeição ao
crime quando é empregada a tese, pelo larápio, de consentimento da vítima para a
transferência de bens ou valores. Pessoas que foram vítimas da ação de
estelionatários tendem a assumir a culpa total pelo infortúnio o que resulta também
em grandes prejuízos emocionais. Nesse sentido, por medo e vergonha, muitas das
vítimas preferem não procurar ajuda, pois temem as criticas e possíveis chacotas.
Outro ingrediente passível de transformar pessoas boas em vítimas é o
espírito humanitário e o sentido de colaboração. É a chamada “boa vontade
perigosa”. A ditatura da felicidade, muitas vezes divulgada por alguns textos de
autoajuda, tende a estimular a repressão de pensamentos e sentimentos
negativos. Uma boa alternativa é permitir-se um tempo para elaborar os traumas e
quiçá transformá-lo num rico repertório de recursos de enfrentamento. Na ausência
de pessoas queridas ou disponíveis para apoiar, a psicoterapia torna-se
imprescindível, tendo em vista que, mobilizada pelos sentimentos conflitivos, a
pessoa fica sem recursos emocionais para elaborar e superar sozinha todo o trauma
vivenciado.
No livro „Mentiras no Divã‟, Irvin D. Yalom (mesmo autor de “Quando
Nietzche chorou”) conta estórias que, embora fictícias, representam parte da
realidade de muitos consultórios.

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