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FICHAMENTO DA LEITURA DA POÉTICA DE ARISTÓTELES

Angelo Ardonde (164239)

1. Considerações iniciais

Em Aristóteles, o percurso de estudo sobre a arte poética guia-se por meio de duas
coordenadas centrais. Por um lado, há uma análise prescritivo-descritiva sobre a
composição dos enredos (mythos) de acordo com suas partes constituintes: caracteres,
elocução, pensamento, espetáculo e melopeia (Aristóteles, p. 77). Por outro lado, há o
desenvolvimento de uma teoria da recepção que pensa a finalidade da tragédia. Tais
perspectivas de análise complementam-se em seus entrecruzamentos: é a partir do domínio
sobre a arte/técnica de composição do enredo que o dramaturgo nos leva à catarse.

A poética aristotélica pensa e valoriza a recepção da tragédia mais em função da


leitura/escuta do enredo que do momento em que se encena o espetáculo: “é preciso compor
o enredo de tal modo que, mesmo sem o assistir, aquele que escuta o desenrolar dos
acontecimentos efetuados possa ser tomado pelo pavor e pelo compadecimento” (idem, p.
119).

2. Mimesis e kathársis

A arte poética fundamenta-se na imitação de ações humanas/mimèse praxeôs. A partir


dessa representação de modelos, Aristóteles propõe uma tipificação moral para diferenciar
os três gêneros da poética: comédia, tragédia e epopeia. Isso implica a operação de um
pensamento ético capaz de distinguir, nos personagens, virtudes e vícios que compõem o
caráter definido a partir de suas ações. Como lembra Lacan (1997, pp. 373–391): se a
filosofia pensa a ética, a tragédia a apresenta em ato.

Enquanto a comédia consiste na mímese de homens inferiores a nós, a mímese de


ações e caráter elevado é definida como a essência/ousía (Aristóteles, p. 71) da tragédia. A
epopéia também fundamenta-se em modelos de homens melhores que nós, porém há um
fator temporal que a diferencia da tragédia: enquanto a apresentação desta deve limitar-se a
um único período de sol, a epopéia não, e por isso ela apresenta um texto muito mais extenso
que o das tragédias.

A mímese é valorizada em diversos sentidos (idem, p. 57): educativo (primeira forma


de aprendizagem desde a infância), essencialista (constitutiva da natureza humana, a mímese
diferencia o homem das demais criaturas) e — o mais importante quando se trata de um
estudo poético — estético (pois dela advém o prazer experienciado ao contemplamos
imagens e reconhecemos nelas interconexões, raciocínios/syllogismós).

“Tomando as palavras como signo de evidência” (idem, p. 55), uma noção etmológica
ajuda a entender o porquê a poética aristotélica define a mímese de ações como a essência da
tragédia: o substantivo dráma deriva do verbo dráo (dráō), cujo significado é ‘agir’ (idem, p.
53).
Há trechos breves em que a poética é comparada em relação à pintura: por ser
também uma arte mimética, a pintura também se baseia na representação de personagens
melhores, piores ou tais quais nós (idem, p. 47), ao lhe dar uma forma, o enredo é um
princípio ordenador necessário à tragédia do mesmo modo que a pintura (na concepção de
arte clássica) só encanta na representação bem delineada das imagens, o que seria incapaz de
se atingir caso as cores, mesmo as mais belas, fossem aplicadas aleatoriamente sobre a
superfície da obra (idem, p. 83). Tais exemplos adiantam a noção horaciana na qual “poesia é
como pintura”/ut pictura poesis (p. 65).

O conceito de catarse ocupa um lugar central na teoria da recepção aristotélica. Trata-


se da purificação (katharós, ‘puro’) dos afetos experienciada pelo espectador em função de
seu envolvimento empático sustentado sobre duas emoções específicas: compaixão (éleos) e
pavor (phóbos). Aqui entra em cena o fator empático: há uma semelhança/identificação
necessária entre o caráter do personagem trágico e o público, pois este “deve ser capaz de
sentir-se de tal modo semelhante às personagens em cena que possa ser afetado pelo pelo
pavor e pela compaixão” (Pinheiro, nota de rodapé n° 143 in Aristóteles, p. 127).

3. Princípios gerais do enredo trágico

Aqui prevalece uma análise de perspectiva mais presritiva. “O belo se encontra na


extensão e na ordenação” (Aristóteles, p. 91). A economia característica do modo de pensar
aristotélico — a valorização da justa medida a fim de se evitar os extremos/excessos,
topos recorrente em Ética a nicômaco — também marca presença neste momento da poética.
Um bom enredo trágico apresenta uma justa extensão (nem muito pequeno nem muito
grande), com suas partes ordenadas e justamente sucedidas por necessidade (e não em função
do acaso. Dessa forma, belo em sua mesura, eleva-se a potencial catártico do enredo,
garantindo sua apreensão na memória dos espectadores (p. 93).

Essa mesma visão organicista — guiar a composição do enredo de modo a formar


um todo orgânico em que, “acima de tudo, não deve haver nada de irracional” (idem, p. 195)
— também pode ser depreendida na seção que trata das origens históricas da arte poético, no
sentido em que se descreve uma evolução (no sentido mesmo de aperfeiçoamento de um
organismo vivo) do gênero ao longo do tempo:

“a tragédia se desenvolveu pouco a pouco, à medida que progredia cada uma das
partes que nela se manifestavam. E após muitas transformações ocorridas, ela se fixou
justo quando atingiu sua natureza própria” (Aristóteles, p. 63).
Assim, para que o bom poeta garanta a unidade do enredo, ele deve evitar reviravoltas
desnecessárias, inesperadas, improváveis e artificiais — deus ex machina (p. 131) — pois
deve buscar adequar-se sempre às justezas do decoto trágico. A reviravolta/peripéteia
(“modificação que determina a inversão das ações segundo o verissímil ou o necessário”) e o
reconhecimento/angagnórisis (“passagem da ignorância ao conhecimento”) são dois
momentos fundamentais para que o enredo nos conduza ao fim catártico da tragédia
(Aristóteles, p. 105). Aristóteles menciona o Édipo como peça exemplar nesse sentido, uma
vez que nela há “a coincidência entre a reviravolta da ação e o reconhecimento da verdade no
momento em que o mensageiro coríntio noticia a morte de Políbio” (Vieira, 2012, p. 17). O
erro trágico cometido em ignorância, a mímese de ações que incitam uma comoção causada
por temor e compaixão: esses são, e nesse sentido se afirma que “a composição da mais bela
tragédia não deve ser ‘simples’, mas ‘complexa’” (Aristóteles, p. 111).

É pensando nessa complexidade de artifícios composicionais que se caracteriza a


poesia como “mais filosófica e nobre que a história” (Aristóteles, p. 97), uma vez que ela dá
preferência ao universal (o que poderia ter ocorrido segundo os princípios de verossimilhança
e necessidade), enquanto a história conta o particular (“os eventos que de fato ocorreram”).
Isso amplia o horizonte de possibilidades de criação do poeta se comparado ao do historiador,
de modo a viabilizar o trabalho de composição do enredo trágico rumo à sua finalidade
catártica.

Referências

ARISTÓTELES. Poética. Tradução, introdução e notas de PINHEIRO, Paulo. São Paulo:


Editora 34, 2015.

HORÁCIO. “Arte Poética”. In: A poética clássica. 6. ed. São Paulo, SP: Cultrix, 1995.

LACAN. “Os paradoxos da ética ou Agiste em conformidade com teu desejo?”. In: O
Seminário, livro 7: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. pp. 373–
391.

VIEIRA, Trajano. “Entre a razão e o daímon”. In: Édipo Rei de Sófocles. Tradução e
introdução de Trajano Vieira. São Paulo: Perspectiva, 2012.

Termos gregos consultados em:

LIDELL H. G. e SCOTT, R. A Greek-English Lexicon. revised and augmented throughout


by. Sir Henry Stuart Jones. with the assistance of. Roderick McKenzie. Oxford: Clarendon
Press, 1940. Acessado em: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/.

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