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Foi o Coronel Mostarda, com a Chave Inglesa, no Escritório

Acho que meu primeiro contato com o mundo dos romances policiais foi através do jogo
Detetive. Costumávamos, eu e meus irmãos, nos reunir em volta do tabuleiro e nos
empenhar em descobrir quem era o assassino, com que arma matara a vítima e onde. Este
último quesito se restringia, no jogo, a uma peça ou cômodo da casa. O cenário da história
era, portanto, algo claustrofóbico. Tratava-se de pessoas fechadas numa casa (ou mansão)
em que ocorrera o assassinato. Todos eram suspeitos. Foi desse jogo que me lembrei ao
ler Los que aman, odian (Emecé, 2005), de Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo.
Escrito em 1946, durante um final de verão em Mar del Plata, o livro é considerado
precursor da novela policial argentina. Sobre a parceria (a única) com sua esposa, Adolfo
Bioy Casares diz, na espécie de prefácio, que lamenta não ter escrito outros livros em
parceria com ela. Sem medo de parecer um tanto ridículo, ele afirma que “às vezes tenho
a impressão de haver vivido um pouco distraído ao seu lado”.
A trama da história é clássica e simples. Ao dirigir-se para um balneário em busca de
sossego e tempo livre para cuidar de uma adaptação de Satiricon, de Petrônio, o doutor
Humberto Huberman vê-se envolvido numa história de assassinato. O cenário da
investigação que se segue é também um clássico: personagens enclausurados em um hotel
isolado do mundo por uma tempestade areia, num jogo claustrofóbico e de suspeição
generalizada. Claro que o verdadeiro assassino só será descoberto no final do livro, já
quando nos preparávamos para fechá-lo.
Trata-se de um esquema clássico: o corpo encontrado em um cômodo fechado. Mas nem
toda a ficção policial é assim. Ela assumiu ao longo de sua já longa tradição várias formas.
Aquela que os autores argentinos abraçam nessa obra é uma variante que (posso estar
enganado) os ingleses parecem gostar particularmente. Tudo funciona como um jogo. O
leitor é chamado a tentar adivinhar quem é o assassino. Os suspeitos são vários. E a trama
é um jogo entre o investigador e o assassino que se dissimula o mais que pode. Não à toa
o jogo de tabuleiro que emula esse tipo de narrativa foi criado na Inglaterra em 1949.
Não foi através dessa variante que comecei a ler livros policiais. Foi algo involuntário,
pois tinha as minhas suspeitas em relação ao gênero. Tanto que foi através de Tabajara
Ruas que o conheci. Ganhei A região submersa (1981), e gostei tanto que resolvi ver suas
inspirações estilísticas. Na contracapa falava-se de um certo romance policial noir. Daí
para Chandler, Hammett, Goody e outros foi um passo muito curto. Em que pese o tom
político de Ruas, ele captou muito bem o estilo dos americanos.
Pessoalmente, parei por aí. Fico restrito aos autores noir. Conheço a outra tradição por
ter lido alguma coisa ou assistido a filmes com esse motivo – Festim diabólico, de Alfred
Hitchcock, de 1948, é ocaso típico: um corpo escondido numa sala em que todos ali não
se dão conta, e o jogo entre os assassinos e um investigador (escrevo de memória). Um
jogo, sempre um jogo. É exatamente esse aspecto que os americanos vão rejeitar.
Preferem tramas mais “realistas”, com detetives durões e assassinos que tem bons
motivos para cometer um crime.
Rejeitado pelos americanos, mas encampado pelos argentinos. Pelo menos pelo grupo em
que circulavam os autores de Los que aman, odian. Há já algum tempo que li os livros
escritos por Bioy Casares em parceria com Jorge Luís Borges. Ali fica claro que a própria
literatura pode ser uma espécie de jogo, com toda a farsa e ilusões que este pressupõe.
Um jogo refinado, por certo – como os que Italo Calvino costumava jogar em seu círculo
literário na Itália. Como exercício paródico, muito interessante (daí a presença de Petrônio
e seu Satiricon). Mas, francamente, não muito mais que isso, que um jogo para
intelectuais.
Bioy Casares explora esse tema (os simulacros) com maior maestria em outros livros. O
mais conhecido é A Invenção de Morel, uma das melhores coisas que já li. Fora a
impressionante passagem em que descreve uma incursão na tempestade de areia (que
justifica a capa da edição argentina que li), Los que aman, odian termina sendo uma
espécie de jogo no qual teremos que fazer constantes suposições sobre quem matou a
tradutora de livros baratos – os Bioy e suas ironias!
Quando tudo parece indicar que foi a Dona Violeta, com o candelabro, na sala de estar,
descobrimos que foi o Coronel Mostarda, com a Chave Inglesa, no Escritório.

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