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ERGONOMIA

PROFESSOR
Dr. Bruno Montanari Razza
ERGONOMIA

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


RAZZA, Bruno Montanari.
Ergonomia. Bruno Montanari Razza
Reimpressão 2018
Maringá - PR.: UniCesumar, 2016.
188 p.
“Graduação em Design - EaD”.
1. Ergonomia. 2. Design EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0316-1
CDD - 22ª Ed. 620
Importado por: CIP - NBR 12899 - AACR/2

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha,
Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos
Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento
Alessandra Baron, Gerência de Produção de Conteúdo Juliano de Souza, Supervisão do Núcleo de
Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Contéudo Sandra Franchini e
Larissa Camargo, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Produção de Materiais Unicesumar,
Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Maria Fernanda Vasconcelos, Revisão Textual Daniela
Ferreira dos Santos e Pedro Afonso Barth, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande as demandas institucionais e sociais; a realização
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, de uma prática acadêmica que contribua para o
informação, conhecimento de qualidade, novas desenvolvimento da consciência social e política e, por
habilidades para liderança e solução de problemas fim, a democratização do conhecimento acadêmico
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência com a articulação e a integração com a sociedade.
no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: ser reconhecida como uma instituição universitária
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará de referência regional e nacional pela qualidade
grande diferença no futuro. e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume competências institucionais para o desenvolvimento
o compromisso de democratizar o conhecimento por de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos universitária; qualidade da oferta dos ensinos
brasileiros. presencial e a distância; bem-estar e satisfação da
No cumprimento de sua missão – “promover a comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica
educação de qualidade nas diferentes áreas do e administrativa; compromisso social de inclusão;
conhecimento, formando profissionais cidadãos que processos de cooperação e parceria com o mundo
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade do trabalho, como também pelo compromisso
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar e relacionamento permanente com os egressos,
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com incentivando a educação continuada.
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Diretoria Operacional de Ensino

Fabrício Lazilha
Diretoria de Planejamento de Ensino

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível crescimento e construção do conhecimento deve
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
apresentação do material

ERGONOMIA
Dr. Bruno Montanari Razza

Caro(a) aluno(a), estamos iniciando nossos estudos na área de Ergonomia, uma disciplina
muito importante para diversas áreas do conhecimento, em especial design, moda, enge-
nharia, arquitetura, medicina do trabalho, fisioterapia e todas as áreas do conhecimento que
considerem a produção de produtos ou a adequação do trabalho ao ser humano.
O nome Ergonomia tem origem grega, com a junção dos termos ergos (trabalho) + nomia
(estudo). Por ser uma disciplina de cunho científico, está em constante evolução e o seu co-
nhecimento vem sendo adquirido com estudos, portanto, nem tudo é conhecido e há ainda
um campo vasto a ser pesquisado.
Uma característica da Ergonomia é a multidisciplinaridade, ou seja, ela interdepende de
estudos de psicologia, design, biomecânica, arquitetura, sociologia, antropometria, fisiolo-
gia, engenharias, fisioterapia, antropologia etc., para compor seu corpo de conhecimento.
A Ergonomia pode ser definida como uma disciplina que estuda a relação entre pessoas e
sistemas, do ponto de vista do desempenho, conforto, segurança e satisfação. Os sistemas
podem ser entendidos como qualquer produto, mobiliário, software, meio de transporte ou
maquinário que interagimos para realizar nossas atividades. E o objetivo da Ergonomia é
promover segurança, eficiência e conforto ao usuário durante o uso desses sistemas.
O nascimento da Ergonomia tem uma data precisa: 12 de julho de 1949. Nessa data, cien-
tistas e pesquisadores interessados em formalizar esse novo ramo de ciência interdisciplinar
se reuniram em um evento e cunharam o termo para designar o estudo do trabalho. Já no
ano seguinte foi fundada a primeira associação internacional de ergonomia, a Ergonomics
Research Society, com sede na Inglaterra. Mas para isso ter ocorrido, diversos fatores an-
tecedentes ocorreram dando o substrato necessário para a solidificação da área. Em 1700,
Bernardino Ramazzini, um médico italiano, publica o livro “As Doenças dos Trabalhadores”.
É o primeiro registro conhecido que associa doenças à condições inadequadas de trabalho.
Posteriormente, no século XIX, temos o trabalho de Frederick Winslow Taylor (1856-1915)
que publicou o livro “Princípios de Administração Científica em 1912. Taylor defendia que o
trabalho deveria ser cientificamente observado, sendo estabelecido um método correto para
a execução de cada tarefa. Os trabalhadores eram controlados e recebiam incentivos salariais
de acordo com a produção. O trabalho era dividido em pequenas frações simples e repetitivas.
No entanto, diferentemente dos princípios da Ergonomia, o objetivo de Taylor era aumentar
a produção à custa da saúde e satisfação do trabalhador. Assim, seus métodos traziam mo-
notonia, fadiga, aumento dos erros e acidentes, absenteísmo e baixa qualidade da produção.
Porém, mesmo assim, seu trabalho é importante para a Ergonomia, pois foi a primeira
tentativa de estudo sistematizado do trabalho.
As duas grandes Guerras Mundiais também influenciaram o surgimento da Ergonomia. O
desenvolvimento de grandes máquinas e veículos, para atuarem nesses conflitos armados,
demandou um maior estudo de adequação das máquinas ao seres humanos. Eram comuns
acidentes e quedas de aeronaves porque os pilotos e operadores confundiam os comandos, por
serem mal planejados ou inadequados ao tamanho das pessoas. Os custos humanos e materiais
fizeram com que houvesse um investimento no estudo da adequação da máquina ao homem.
No período pós-guerra, portanto, começaram a surgir associações de Ergonomia, publicações
especializadas, eventos, cursos e fóruns de discussão para o desenvolvimento da área, com
grande desenvolvimento nas áreas da antropometria, biomecânica, organização e segurança
ocupacional.
Uma nova revolução na Ergonomia ocorreu mais tarde, nos anos 1980, com o surgimento
dos computadores pessoais, impulsionando o nascimento da disciplina de usabilidade e
design centrado no usuário. Atualmente, a Ergonomia tem um amplo campo de atuação,
promovendo o projeto de produtos, ambientes, meios de transporte, máquinas e sistemas
mais eficientes, confortáveis e adequados aos seres humanos. Neste livro, iremos tratar as
principais áreas de atuação da Ergonomia.
Na unidade I, iniciaremos o estudo das dimensões corporais e de como é importante para o
projeto de produtos e ambientes. Como todos os produtos que utilizamos e os espaços que
ocupamos devem ser projetados a nossa medida, o conhecimento de antropometria e como
aplicá-la em projeto é muito importante.
Na unidade II, estudaremos a biomecânica ocupacional, uma área do conhecimento que
estuda os movimentos e postura corporal, dando parâmetros para o projeto de produtos e
postos de trabalho mais seguros, eficientes e confortáveis.
A unidade III é dedicada ao estudo dos fatores ambientais que nos afetam o tempo todo. Os
órgãos dos sentidos são os canais pelos quais percebemos o mundo a nossa volta. Quando
esses estímulos são inadequados, ou seja, muito fortes ou muito fracos, podem causar des-
conforto ou ineficiência no trabalho. Também é por meio dos canais sensoriais que captamos
as informações dos produtos, sistemas e meios de transporte.
Na unidade IV, aprenderemos um pouco mais como ocorre o processo de captação e pro-
cessamento de informações na mente humana e como podemos projetar os sistemas de
comunicação para que essa interface seja mais eficiente.
Por fim, na unidade V, estudaremos o projeto voltado as pessoas com deficiência, e como
adequar produtos e ambientes para serem mais inclusivos e, também, adentraremos na
usabilidade, considerando métodos de avaliação e projeto de interfaces.
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
O TAMANHO DAS COISAS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E DE CONTROLE
14 Antropometria: o homem é a medida de 124 Fatores Humanos da Ergonomia Informacional
todas as coisas
130 Informações Visuais e Auditivas
22 Aplicação da Antropometria: para o
139 Mostradores
dimensionamento dos objetos e espaços
142 Controles
UNIDADE II
POSTURA E MOVIMENTO UNIDADE V
ERGONOMIA DOS PRODUTOS E SISTEMAS
44 O Sistema Musculoesquelético
160 Acessibilidade
50 Força, Fadiga e Repetitividade
166 Usabilidade
54 Principais posturas do Trabalho
172 Métodos de Usabilidade
60 Levantamento e Transporte de Carga

UNIDADE III
ERGONOMIA DO AMBIENTE
80 Iluminação
88 Temperatura e Umidade
94 Ruído
102 Vibração
O TAMANHO DAS COISAS

Professor Dr. Bruno Montanari Razza

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Antropometria: o homem é a medida de todas as coisas
• Aplicação da antropometria para o dimensionamento dos
objetos e espaços

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar o que é antropometria, os tipos de medidas
antropométricas, porque é importante conhecer o
tamanho das pessoas para projetar objetos, veículos,
produtos e habitações e como são realizadas as pesquisas
em antropometria.
• Apresentar critérios de uso da antropometria para projetar
os mais diferentes produtos e ambientes.
unidade

I
INTRODUÇÃO

C
aro(a) aluno(a), nesta primeira unidade, trataremos de um as-
sunto muito importante para o design, arquitetura, engenharia,
moda e outras áreas, que é o dimensionamento dos produtos e
ambientes, ou seja, como sabemos qual o tamanho ideal para os
artigos que projetamos devem ter. A área do conhecimento que trabalha
com as medidas dos corpos humanos é a antropometria. É a partir desses
estudos que estabelecemos, dentre outras coisas, o padrão de como os
objetos deve ser dimensionados.
No entanto, a antropometria é uma área do conhecimento muito an-
tiga, pois mesmo que intuitivamente, o ser humano sempre usou os prin-
cípios de adequação a si mesmo no momento de fabricar seus objetos.
Os homens das cavernas, por exemplo, escolhiam pedras que cabiam em
suas mãos para formar suas ferramentas de corte; artesãos da Idade Mé-
dia fabricavam bancos mais ou menos em uma altura conveniente para
uma pessoa sentar.
Apesar disso, hoje em dia ainda é muito comum encontrarmos pro-
dutos que não são adequados ao ser humano, como cadeiras muito altas
e desconfortáveis, cabos de ferramentas pequenos ou grandes demais,
alças que não cabem nas mãos. Isso ocorre porque os conhecimentos de
antropometria não são tão facilmente aplicáveis no projeto de produto,
necessitando de um certo conhecimento para conseguirmos desenvolver
objetos mais adequados ao ser humano. Isso é mais importante ainda se
considerarmos o mundo globalizado e que um produto pode ser usado
por pessoas de tamanhos muito diferentes em qualquer lugar do mundo.
Nesta unidade, vamos entender um pouco mais sobre antropometria
e como os estudos de populações podem ser influenciados por inúmeros
fatores. Veremos também quais critérios, poderemos empregar para usar
o conhecimento do tamanho das pessoas para produzir produtos mais
adequados a uma maior variedade de usuários e, também, alguns crité-
rios de aplicação em exemplos de situações de trabalho específicos.
ERGONOMIA

Antropometria
O homem é a medida de todas as coisas
Você já se perguntou como sabemos que tamanho tado de PHEASANT, 1996). Ou seja, o objetivo dos
deve ter uma cadeira para ser considerada ideal? Ou estudos de antropometria é estabelecer padrões de
qual a dimensão correta de uma porta de avião? medidas do ser humano que possam ser utilizadas
Nesta unidade, conheceremos a disciplina que para as mais diversas aplicações.
trabalha com as medidas do corpo humano, chama- Pode servir também para estabelecer os padrões
da antropometria. É a partir de estudos de antropo- de normalidade para saúde, por exemplo, quando
metria que conseguimos dimensionar todos os espa- medimos a circunferência abdominal para inferir o
ços artificiais e objetos utilizados pelo ser humano. risco de infarto ou para saber se uma criança está
A antropometria pode ser entendida como o se desenvolvendo adequadamente. Para o design,
ramo das ciências humanas que estudam as medi- utilizamos a antropometria para projetar produtos,
das do corpo, particularmente com medições das di- ambientes e meios de transporte mais adequados ao
mensões corporais e sua forma de aplicação (adap- ser humano.

14
DESIGN

Figura 1: Funções diversas da antropometria

No entanto, as medições antropométricas não são sim- são maiores que as mulheres (com algumas exce-
ples de se obter. São inúmeros os fatores que influen- ções). Desde o nascimento, o gênero masculino já
ciam nas medidas das pessoas, fazendo que uns sejam é maior que o gênero feminino, em média (0,6 cm
mais altos, outros têm os braços mais compridos ou o e 0,2 kg a mais). Durante a infância, o crescimento
rosto mais largo, ou ainda os pés mais arredondados é homogêneo, ou seja, as diferenças nessa fase são
– e assim por diante –. Essa grande variação implica pequenas (GRANDJEAN, 1998).
que temos que medir muitas pessoas para conseguir As influências do gênero começam a se intensi-
que um estudo antropométrico tenha validade e seja ficar na pré-adolescência, que ocorre nas meninas
confiável para ser usado como norma (DANIELLOU, por volta dos 11 aos 13 anos e nos meninos por
2004). Essa é umas das principais razões para termos volta dos 12,5 anos e os 15,5 anos. O crescimento
tão poucos estudos antropométricos no Brasil. continua no máximo aos 20 ou 23 anos (GUÉRIN
et al, 2001).
FATORES DE INFLUÊNCIA Segundo Lacombe (2012) e Panero e Zelnik
DA ANTROPOMETRIA (1980), as principais diferenças anatômicas entre os
O primeiro critério que precisamos compreender gêneros são as seguintes:
para avançarmos nos estudos de antropometria é • Homens: ombros mais largos e tórax maior
o que faz com que sejamos tão diferentes uns dos (clavículas mais longas, escápulas mais lar-
outros em termos de tamanho e proporção. Exis- gas), bacia relativamente mais estreita, cabe-
tem diversos fatores que influenciarão a variabilida- ça maior, braços mais compridos, mãos e pés
maiores.
de antropométrica (ABRANTES, 2004; FALZON,
• Mulheres: ombros relativamente estreitos,
2007; IIDA, 2005). A seguir veremos cada um deles.
tórax menor e mais arredondado, bacia mais
larga e estatura menor. Apresentam mais
Gênero gordura subcutânea (nádegas, parte frontal
O primeiro critério que discutiremos é o gênero. do abdômen, parte frontal e lateral da coxa e
Você já deve ter notado que, em média, os homens glândulas mamárias).

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ERGONOMIA

Figura 2: Diferenças antropométricas entre


os corpos Masculino e Feminino

Variações ao longo da vida


Essas são as variações inerentes ao indivíduo e que dessa transformação se deve ao processo natural
ocorrem durante a vida, ou seja, que dizem respeito do encolhimento da coluna, mas também porque
ao processo de desenvolvimento do ser humano. As as articulações e a musculatura vão ficando menos
principais variações ocorrerão na fase de crescimen- flexíveis (além de perda de elasticidade das carti-
to, desde o nascimento até à fase adulta e, posterior- lagens, calcificação e osteoporose), não permitin-
mente, também na velhice, quando o corpo começa do atingir os mesmos alcances que de uma pessoa
a se modificar novamente (LACOMBE, 2012; PA- mais jovem.
NERO; ZELNIK, 1980). É comum também haver alteração das medidas
A partir dos 60 anos, as dimensões lineares circulares ao longo da vida (circunferência da cintu-
(estatura, comprimento da coluna, comprimento ra, do quadril etc.), por processos também naturais
dos braços e pernas etc.) começam a reduzir. Parte como ganho de peso, gravidez etc.

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DESIGN

Figura 3: Evolução antropométrica ao longo da vida do ser humano. Pode-se notar que algumas medidas variam mais que outras.
Por exemplo, o tamanho da cabeça varia menos que o comprimento dos braços e pernas

Etnia
É notável as diferenças nos tamanhos e proporções A seguir, percebemos que a tabela 1 mostra que os
corporais entre povos de origens diferentes. Por vietnamitas são os que apresentam a menor estatura,
exemplo, sabemos que os alemães são em geral mais enquanto que os noruegueses e belgas têm as maiores
altos que os brasileiros e que os tailandeses são, em estaturas. A diferença das médias de estatura entre os
média, mais baixos (PANERO; ZELNIK, 1980). mais altos e mais baixos chega a quase 20 cm.
As variações extremas são encontradas na Áfri-
Tabela 1: Estatura e peso de alguns povos do mundo
ca: pigmeus da África Central (estatura média: 143, País Estatura (cm) Peso (kg)
8 cm para homens e 137, 2 cm para mulheres) e Vietnã 160,5 51,1
negros nilóticos no sul do Sudão (estatura média: Tailândia 163,4 56,3
182,9 cm para homens e 168,9 cm para mulheres) Coréia do Sul 164,0 60,3
(IIDA, 2005). América Latina (18 países) 166,4 63,4
Irã 166,8 61,6
Figura 4: A etnia é um fator importante para a variação antropométrica Japão 166,9 61,1
Índia 167,5 57,2
Turquia 169,3 64,6
Grécia 170,5 67,0
Itália 170,6 70,3
França 171,3 65,8
Austrália 173,0 68,5
Estados Unidos 174,5 72,2
Alemanha 174,9 72,3
Canadá 177,4 76,4
Noruega 177,5 70,1
Bélgica 179,9 68,6
Fonte: IIDA (2005, p. 108).

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ERGONOMIA

SAIBA MAIS
Com variações antropométricas tão grandes
relacionadas à etnias diferentes, é de se pensar que
pode haver bastante dificuldade para multinacionais Os imigrantes podem ter suas medidas antro-
pométricas alteradas quando convivem em ou-
projetarem produtos que serão vendidos ao mundo
tra cultura. Isso não afeta a geração que migrou,
todo. Há, nesse caso, uma grande chance desses pro- mas seus filhos que nasceram no novo país,
dutos serem inadequados ao usuário. mesmo tendo os dois pais migrantes, apresen-
tam alterações antropométricas. Por exemplo:
Por exemplo, uma máquina projetada para 90%
os filhos de imigrantes indianos, chineses, me-
da população norte-americana, acomoda adequa- xicanos e japoneses, nascidos nos EUA, ficaram
damente também 90% dos alemães, pois suas medi- mais altos e mais pesados que seus pais.
das são semelhantes, mas só 65% dos italianos con- Nesse caso, não houve miscigenação genética,
seguiriam utilizá-la e apenas 10% dos vietnamitas mas sim uma influência do clima, alimentação,
novos hábitos, nova cultura, que influenciaram
(IIDA, 2005). o desenvolvimento das crianças. Entretanto,
as proporções permaneciam inalteradas, ou
seja, continuavam levando a carga genética dos
pais e tendo a aparência do povo de origem.
Clima
O clima também teve uma influência que evolu- Fonte: Grandjean (1998).

tivamente culminou em alterações antropomé-


tricas (IIDA, 2005; LAVILLE, 1977). Populações Figura 5: Povos de climas diferentes apresentam configurações corporais diferen-
tes, como os indianos e os alemães, por exemplo
que vivem em regiões quentes, em geral, pos-
suem o corpo mais fino e membros superiores e
inferiores mais alongados, ou seja, há um predo-
mínio das dimensões lineares. Essa é uma adap-
tação para facilitar as trocas térmicas e resfriar
o corpo.
O oposto ocorre com pessoas originárias de
regiões frias. Esses povos, de maneira geral, apre-
sentam um corpo mais volumoso, com o tronco
maior e mais largo e há predomínio de formas mais
arredondadas, ou seja, há mais dimensões circun-
ferenciais. Essa adaptação ocorreu para manter o
tronco mais quente, protegendo os órgãos internos
de perder calor.

18
DESIGN

Genética e biótipos

Mesmo pessoas que fazem parte da mesma etnia e et al. (1940) identificou três biótipos básicos que usa-
estão sob o mesmo clima apresentam diferenças an- mos para caracterizar as proporções na antropome-
tropométricas, tanto em tamanho quanto em propor- tria, são eles:
ções. Isso se deve a diferenças genéticas naturais entre • Ectomorfo: corpo e membros longos e finos,
as populações (FALZON, 2007; LAVILLE, 1977). poucos músculos e pouca gordura.
Por exemplo, entre os indivíduos de uma mesma • Mesomorfo: apresenta mais músculos, for-
população, a diferença entre os indivíduos mais altos mas angulosas, cabeça cúbica, maciça, om-
(maior homem) e os mais baixos (menor mulher) é bros e peitos largos, abdômen pequeno,
membros musculosos e pouca gordura.
em torno de 25% (188,0 cm e 149,1 cm). A mesma
• Endomorfo: formas mais arredondadas,
diferença ocorre para o comprimento do braço. Já
grandes depósitos de gordura, corpo em
para a largura do abdômen, essa diferença pode che- forma de pera, abdômen grande, membros
gar a 210% (43,4 cm e 14 cm) (IIDA, 2005). curtos e flácidos, ossos pequenos, corpo
A essas diferenças chamamos de biótipos que de- com baixa densidade, ombros e cabeça ar-
terminam certas características individuais. Sheldon redondados.

Figura 6: Biotipos corporais

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ERGONOMIA

É importante considerar também que dificilmente Assim, além das características individuais e cole-
encontraremos um indivíduo que seja característico tivas que influenciam na antropometria, como acaba-
de um único biótipo, pois em geral, o que temos é mos de ver, também é importante sabermos como es-
predominância de uma ou outra característica. ses produtos serão utilizados para conhecermos quais
medidas devemos tomar e quais serão desnecessárias.
Por exemplo, para fazermos o desenvolvimento de
Variações seculares produto de vestuário, medidas circunferenciais são
São mudanças antropométricas que ocorrem a mais muito importantes, como largura do tórax, largura da
longo prazo, afetando as gerações. É importante não cintura etc. Mas para projetarmos um sofá, uma pol-
confundir com as variações antropométricas que trona ou um ambiente, essas medidas são desnecessá-
ocorrem ao longo da vida de uma pessoa (variações rias, e o comprimento da perna e do tronco (medidas
intraindividuais), pois, nesse caso, trata-se da evolu- lineares), por sua vez, serão mais úteis.
ção antropométrica de uma determinada população. Assim, dependendo de quais atividades serão
O ser humano tem ficado mais alto e mais pesa- desempenhadas no produto ou no ambiente, o tipo
do ao longo dos anos, ao compararmos com as pes- de medição antropométrica também vai variar. Exis-
soas de hoje com a geração de nossos avós, bisavós tem três tipos de medidas antropométricas. Cada
ou antepassados mais distantes. Na Idade Média, por uma depende do tipo de aplicação a ser utilizada e
exemplo, as pessoas eram bem mais baixas que as de a forma de coleta de dados também varia bastante
hoje. Isso se deve à evolução da sociedade, com aces- (IIDA, 2005; PHEASANT, 1996). São elas:
so a uma melhor alimentação, higiene, saneamento, • Antropometria estática: é realizada com cor-
abolição do trabalho infantil, prática esportiva, me- po parado ou com poucos movimentos, sen-
do tomadas medições entre pontos anatômi-
lhores tratamentos medicinais etc.
cos claramente identificados. Determinam as
Em épocas de privação, como em guerras ou se- medidas do corpo humano em si, podendo
cas prolongadas, as medidas médias da população ser tomadas medidas lineares e circunferen-
tendem a uma redução, pois a alimentação é mais ciais. É a antropometria estática que usamos
escassa e menos variada. Entretanto, com a melhora para projetar mobiliário, vestuário e todas as
das condições, as gerações seguintes apresentam um situações em que não precisem ser considera-
dos movimentos amplos.
crescimento acelerado, compensando a perda da ge-
• Antropometria dinâmica: mede a amplitude
ração anterior.
das articulações do corpo humano e, des-
ta forma, os alcances dos movimentos. Por
exemplo, pode-se medir o alcance horizontal
Tipos de antropometria com o braço esticado, que é a medida da am-
Para sabermos como projetar um produto ou espaço plitude de movimentação do ombro (articu-
lação) e serve para determinar o tamanho útil
de trabalho, precisamos ter conhecimento do tama-
de um tampo de mesa, por exemplo. Utiliza-
nho das pessoas que utilizarão esses objetos e espa-
-se a antropometria dinâmica para dimensio-
ços. Esses dados são providenciados quando medi- nar partes móveis de produtos ou postos de
mos os usuários ou trabalhadores. trabalho com movimentações.

20
DESIGN

• Antropometria funcional: faz medições das Figura 8: Exemplos de movimentos articulares medidos em antropometria dinâmica

amplitudes de movimento em tarefas especí-


ficas. A maior diferença em relação à antro-
Flexão
pometria dinâmica é que essa faz medição da
amplitude de movimento de uma articulação Adução Abdução

o

isolada, enquanto que a funcional envolve o Extensão

Fle
movimento de vários segmentos corporais ao
mesmo tempo. O registro da antropometria
funcional é bastante difícil e, por isso, é pou-
co realizada.
Extensão
Com isso, entendemos um pouco mais do que é an- Fonte: IIDA, 2005, p. 127.

tropometria e como são realizados esses estudos. No Figura 9: Exemplo de antropometria funcional
próximo tópico iremos aprender como aplicar esses para movimento de alcance máximo de cadeirantes

Tronco normal Tronco estendido


conhecimentos em projetos.

Figura 7: Exemplo de medidas tomadas em antropometria estática


3,2 4,1
3,3 3,4 4,3
1,7 1,9
1,8 1,1 3,5
3,1 4,21 4,4
3,2 4,1
3,3 3,4 4,6 4,3 4,5
1,7 1,9 Fonte: IIDA, 2005, p. 586. 3,2
1,8 1,1 2,12 3,3 3,4
3,5 1,7 1,9 2,13 4,7
1,8 3,1 4,21 1,1 4,4 3,5
3,1
3,2 4,1 4,6 4,5 5,1
1,6 3,3 3,4 1,1 4,3
1,9 2,12
1,1 2,1
2,13 4,7
3,5 2,2
1,2 3,1 2,34,21
3,2
4,4 3,3 3,4 4,
1,7 2,4 1,9
1,4
1,8 1,3 2,11 1,1 5,15,2
5,3
3,2 4,1 4,6 4,5 3,5
1,6 1,5 3,3 3,4 1,14,3 3,1 4,21
1,9 2,1 2,8
2,12
2,2 1,6 2,6 2,9 2,5 4,7
1,1 3,5 2,13
2,10 1,1
2,3 2,1
3,1 4,21 1,2 4,4 2,2 4,6 4
2,4 2,3
1,4 3,2 4,1 1,3 2,11 1,2 5,2 2,1
9 3,3 3,4 4,3 4,6 4,5 5,1 2,4 5,3 2,1
1 1,5 1,1 2,12 1,4 1,3 2,11
3,5 2,8 4,7
2,1 3,1 4,21 2,13 2,6 2,9 2,5
2,2 4,4 1,5 2,10 2,8
1,2 2,3 2,5
Fonte: IIDA, 2005, p. 117. 4,6 4,5 2,6 2,9
2,4 1,6 5,1 1,1 5,2 2,10
2,12
1,1 1,3 2,11 2,13 4,7 2,1 5,3
2,1 2,2 21
2,2 2,3
2,3 2,8 1,2
1,2 2,6 2,9 2,5
2,4
5,1 2,4
1,4 2,10
ERGONOMIA

Aplicação da Antropometria
para o dimensionamento
dos objetos e espaços
Como vimos diversos fatores podem influenciar na mente para os seus respectivos usuários. No entanto,
antropometria das pessoas e que essa diferença pode na maior parte dos casos é impossível fazer uma me-
dificultar bastante o projeto de produtos para serem dição antropométrica de todos os usuários, ou não
usados por todos. Agora, compreenderemos melhor temos certeza de quem utilizará o espaço ou produto
como utilizar os dados antropométricos para o pro- (HENDRICK; KLEINER, 2002; MIGUEL, 2012).
jeto de produtos e espaços. Dessa forma, utilizar tabelas antropométricas já
existentes é muito mais prático e econômico que fa-
Uso de tabela antropométrica zer levantamentos antropométricos (GUÉRIN et al,
Quando vamos projetar um produto, posto de tra- 2001; FERREIRA et al. 2001). Deve-se, no entanto,
balho ou ambiente, é importante projetarmos direta- tomar cuidado com alguns critérios :

22
DESIGN

• Etnia: é importante evitar utilizar-se de dados


um fenômeno que tenha uma maior incidência em
antropométricos de outros povos, pois, como
já vimos, as medidas podem variar bastante. valores médios e menores nos extremos. Você já deve
• Profissão: existem muitas tabelas antropo- ter notado que existem muito mais pessoas em uma
métricas que usam militares ou trabalhado- estatura média e bem menos muito baixas ou muito
res de indústria pesada ou construção civil. altas (PHEASANT, 1996; IIDA, 2005). A seguir, te-
Esses profissionais não representam toda a mos a figura 10 que mostra um exemplo da distribui-
população, pois em geral são escolhidos per-
ção da estatura em uma determinada população.
fis específicos para atuarem nessas atividades.
• Faixa etária e gênero: sempre utilizar dados Figura 10: Distribuição da estatura em uma população segue o padrão normal

da faixa etária especifica para a qual se vai Distribuição


20%
projetar. O mesmo vale para o gênero.
• Época: tabelas muito antigas podem estar
15%
desatualizadas, pois as populações evoluem
com o tempo.
10%

Tendo escolhido uma base de dados ideal para aplica- Distribuição normal
ou de Gauss
5%
ção no desenvolvimento do projeto, é importante con-
siderar a forma de se empregar esses dados. Existem
alguns critérios para aplicação da antropometria que 1,40 1,45 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70 1,75 1,80 1,85 1,90 1,95 2,00 2,05 2,10
Estatura
dependerá do tipo de atividade a ser desempenhada Fonte: o autor (2016).

(MORAES; MONTALVÃO, 1998; STANTON, 1998).


A partir desse gráfico, pode-se tirar fatias populacio-
Uso da média nais, que chamamos de percentis. O mais comum é
Geralmente, uma tabela antropométrica apresenta utilizarmos os percentis 01%il, 05%il, 50%il, 95%il e
os valores médios de uma medida, além de valores 99%il. No caso da estatura, por exemplo, o percentil
dos extremos superior e inferior, chamados de per- 05%il indica que 95% da população é mais alta e o
centis. A medida média deve ser usada em produtos 95%il que apena 5% da população é mais alta.
de uso coletivo, como banco do ponto de ônibus, Figura 11: Distribuição da população em estatura e sua divisão gráfica em percentis
por exemplo. Esse critério pode causar muitos in- Distribuição
20%
05%il 50%il 95%il

convenientes a diversos indivíduos, pois, na verdade


no máximo metade da população ficará confortável 15%

com o uso da média. Assim, o próximo critério é


mais conveniente para a maior parte dos casos. 10%

Distribuição normal
ou de Gauss
Uso dos extremos populacionais 5%

As medidas antropométricas seguem o padrão de


distribuição normal ou de Gauss. Essa distribuição é 1,40 1,45 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70 1,75 1,80 1,85 1,90 1,95 2,00 2,05 2,10
Estatura
comum em muitos aspectos da natureza e implica em Fonte: o autor (2016).

23
ERGONOMIA

Em projeto, sempre que possível, podemos empregar rem de alcance, usa-se os percentis menores, pois se
um dos percentis, pois, o projeto consegue se adequar os menores alcançam, também alcançarão os maiores.
a uma maior quantidade de pessoas. Uma regra básica Por exemplo, ao projetarmos um sofá a largura
é sempre que a variável que for utilizada para proje- do assento deve ser feita para o percentil 95%il, pois
to for de espaço, usa-se os percentis maiores (95%il, é uma medida de espaço, mas a altura do sofá pode
99%il), pois se os maiores cabem, os menores também ser feita para o percentil mais baixo, 05%il, pois as-
caberão. Por outro lado, sempre que as variáveis fo- sim ele consegue alcançar os pés no chão.

Figura 12: na situação 1 existe um problema de alcance, já nas situações 2 e 3 problemas de espaço

Fonte: o autor (2016).

Figura 13: produtos projetados para Faixas da população


Normalmente, na indústria tem-se por padrão pro-
duzir para 90% das pessoas, desconsiderando os 5%
maiores e os 5% menores, nesse caso, usa-se os per-
centis 5%il. e 95%il.

Uso de faixas da população


Apesar de o uso de percentis conseguir resolver boa
parte das situações de projeto, em muitos produtos
é necessário haver uma adequação mais específica
ao indivíduo. Esse é o caso de produtos de vestuário
e calçados por exemplo, que devem ser produzidos
em diversos tamanhos para serem mais confortáveis
e adequados ao usuário. Nesses casos, é importante
planejar corretamente a gradação dos tamanhos e a
proporção das medidas, conhecendo o público para
quem será produzido.

24
DESIGN

Dimensões reguláveis Produtos projetados ao indivíduo


Alguns produtos podem ser ajustados para se ade- Em certos casos, há produtos que precisam ser pro-
quar a uma maior amplitude de usuários. Esse é o jetados especificamente para um determinado indi-
caso de cadeiras de escritório, tábuas de passar, ban- víduo, pois há uma necessidade de adequação mais
cos de veículos, dentre outros. Nesses casos, os limi- precisa ou não são encontrados opções no mercado.
tes mínimo e máximo devem considerar os percen- É o caso, por exemplo, das próteses para membros
tis máximo e mínimo. amputados, carros de Fórmula 1 ou roupas e sapatos
No entanto, deve-se tomar cuidado com o exces- para tamanhos extremos. Também as roupas feitas
so de regulagens para não dificultar o uso e, tam- sob medida entram nessa categoria.
bém, não encarecer a produção. Nesses casos, os produtos são mais onerosos e há
Figura 14: Dimensões reguláveis em produtos
poucos fabricantes disponíveis. Quanto mais padro-
nizado o produto, menores seus custos de produção
e estoque. Vamos ver agora algumas recomendações
para o projeto utilizando a antropometria. Sepa-
ramos três situações mais comuns de projeto para
exemplificar como devem ser empregados os dados
antropométricos: os espaços de trabalho, superfícies
de trabalho e assentos.
Figura 15: Produtos dimensionados ao usuário

25
ERGONOMIA

ESPAÇOS DE TRABALHO
É um volume imaginário necessário para o corpo Tipo de atividade
realizar movimentos e deslocamentos e para garantir Atividades manuais pesadas necessitam de maior
o conforto físico e psicológico do indivíduo. Cada espaço para o trabalho, pois em geral, também são
tipo de atividade vai exigir um determinado espaço realizados movimentos mais amplos ou há trans-
(STANTON; YOUNG, 1999). Existem alguns fato- porte de materiais volumosos e pesados. Atividades
res principais que influenciam no dimensionamento mais leves podem ser realizadas em espaços meno-
do espaço. Vejamos alguns deles. res, pois em geral, são trabalhos de precisão cujos
movimentos são mais restritos (RIO, PIRES, 1999;
Postura IIDA, 2005).
A postura é o fator mais importante no dimensiona-
Figura 17: Atividades pesadas e de precisão
mento do espaço de trabalho e se divide em três po-
sições básicas: deitada, sentada e em pé. Geralmente,
a postura em pé precisa de mais espaço, pois em geral
há mais movimentos e deslocamentos do trabalha-
dor (IIDA, 2005; DUL; WEERDMEESTER, 1995).

Figura 16:exemplos de dimensionamento de espaço de


acordo com a postura de trabalho

Vestuário
O vestuário tem papel fundamental, podendo aju-
dar ou atrapalhar uma tarefa. Alguns agasalhos
de inverno ou roupas de segurança podem limi-
tar movimentos, chegando a restringir o alcance
Fonte: IIDA, 2005, p. 144. em até 5 cm. O mesmo pode ocorrer com alguns
Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s),
Para trabalhos que exigem movimentos corporais como luvas muito grossas. Essas roupas e equipa-
mais amplos, devem ser realizados registros de an- mentos também aumentam o volume do corpo do
tropometria dinâmica ou funcional. usuário.

26
DESIGN

SAIBA MAIS
O espaço pessoal psicológico é espaço imaginário
de segurança e conforto que envolve cada indiví-
Para cadeirantes, as larguras das passagens, duo. É natural da condição humana e, também, um
corredores e postos de trabalho devem ser fenômeno observável em diversas outras espécies.
dimensionadas para permitir a circulação das
cadeiras de roda. Cadeiras têm dimensões Em alguns animais existem marcadores para de-
aproximadas de: 110 cm comprimento x 65 limitar o seu território, mas para os seres huma-
cm largura e para haver o descolamento e nos esse envoltório é invisível e flexível, ou seja, ele
manobras vão ocupar mais espaço.
pode se adaptar sendo maior ou menor, dependen-
A norma brasileira que regulamenta a acessi- do do grau de intimidade e conforto que temos em
bilidade é a NBR 9050 (ABNT, 2004) e ela esta- cada situação.
belece todos os parâmetros de espaço para
cadeirantes em produtos e espaços públicos. Experimentos com animais confinados em espa-
Por exemplo, para haver um giro completo, ços superlotados mostram um aumento de estresse
uma cadeira de rodas precisa de um círculo e da agressividade, gerando em algumas espécies a
de no mínimo de 1,5m de diâmetro.
prática do canibalismo. A hipótese da competição
Fonte: ABNT. NBR 9050 - Acessibilidade a edificações, por alimento é descartada, pois estavam sendo far-
mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
tamente alimentados.
Os projetos envolvendo a proxemia devem ter
em mente que essa dimensão é muito variável e
Proxemia sofre influência de diversos fatores, como gênero,
Proxemia é o estudo do espaço pessoal psicológi- cultura, idade, dentre outros. A figura abaixo traz
co ou físico de cada indivíduo. O espaço pessoal alguns parâmetros para o dimensionamento do es-
físico é caracterizado pelo posto de trabalho, ar- paço individual.
mários, locais de armazenamento de objetos pes- Figura 18: humanos em espaços lotados tendem a mostrar comportamento desliga-
soais etc. Mas o espaço pessoal é mais que apenas do e evitam olhar para as outras pessoas

o volume que ocupamos, pois precisamos de um


pouco mais de espaço individual para nos sentir-
mos confortáveis.

REFLITA

Em animais sob confinamento é observável


um aumento de estresse e agressividade, é
necessário repensarmos o sistema prisional
brasileiro, com celas superpopulosas e em
espaços muito reduzidos.

27
ERGONOMIA

Figura 19: estudo de orbone e heath (1979) sobre proxemia

Público

Social
Pessoal
ÍÍnti
tiimo
Íntimom

45cm
4
120cm

360cm

Fonte: Iida (2005, p. 584).

SUPERFÍCIES HORIZONTAIS
Boa parte das atividades produtivas são realizadas mesa fixa. No caso de um trabalhador mais baixo, a
sobre mesas, escrivaninhas, bancadas ou superfícies cadeira deve ser elevada até se adequar à altura do
de apoio. Assim, é importante sabermos como utili- cotovelo e ser providenciado um apoio para os pés.
zar a antropometria para projetar essas superfícies.
Duas variáveis são importantes: altura e tamanho Figura 20: Dimensões do posto de trabalho sentado

da superfície de trabalho. E devemos também con- Mesa fixa


siderar a postura utilizada no trabalho e o tipo de
atividade desempenhada.
Cadeira
74
Apoios
Superfície de trabalho para postura sentado para os
47-57 pés
Altura deve ser regulada pela posição do cotovelo,
podendo estar de 3 a 4 cm acima do cotovelo. Se o 0-20

trabalho for pesado, a altura da bancada deve ser Mesa regulável


mais baixa, pois há necessidade de mais espaço para
Cadeira
realização de movimentos mais amplos e também
para poder utilizar o corpo como apoio. Deve ha- 54-74 37-53
ver regulagem em um dos componentes (mesa ou
cadeira), podendo ajustar aos percentis extremos. O Dimensões em cm
mais comum é haver uma cadeira regulável e uma Fonte: Iida (2005, p. 145).

28
DESIGN

Também é importante pensarmos no tamanho da Figura 22: Dimensionamento da superfície de trabalho para postura em pé

superfície de trabalho. Para isso, temos que consi-


derar o alcance do trabalhador. A seguir, a figura
mostra o alcance ótimo, que é aquele realizado com
menos esforço e mais próximo, e o alcance máximo,
realizado com os braços esticados.

Figura 21: Alcance ótimo e máximo (antropometria dinâmica) para determinar o


tamanho da superfície de trabalho

Fonte: Iida, 2005, p. 147).

Assento
Fonte: IIDA, 2005, p. 146. Atualmente é muito comum passarmos a maior
parte da nossa rotina diária em posições sentadas,
Tarefas de maior frequência ou com maiores exi- seja no trabalho, transportes, escola ou em casa.
gências de precisão devem ser realizadas na área de Permanecer por muito tempo em uma mesma pos-
alcance ótimo. A área de alcance máximo deve ser tura pode causar fadiga, dores lombares, câimbras,
usada para uso ou acionamentos menos frequentes. especialmente se essa postura for incorreta ou se a
qualidade do assento for ruim. Aqui, veremos al-
Bancada para trabalho em pé guns princípios que devemos considerar ao projetar
A altura ideal depende do tipo de trabalho que se um assento.
executa e usamos também a altura do cotovelo como Ajustes dimensionais – existem certos cuidados
referência. Para trabalhos de precisão, a superfície que devemos ter com o projeto dos assentos, pois
deve estar mais alta, em até 5 cm acima do cotovelo, podem causar problemas de circulação e posturais
assim fica mais próximo da visão. Trabalhos pesados no indivíduo, principalmente se considerarmos que
a bancada deve estar até 30 cm abaixo do cotovelo, podemos passar uma longa jornada de trabalho sen-
ficando, desta forma, mas fácil para realizar movi- tado neles. A figura, a seguir, exemplifica algumas
mentos e podendo usar o peso do corpo como apoio. situações inadequadas.

29
ERGONOMIA

Figura 23: Problemas dimensionais causados por assentos inadequados

Fonte: IIDA, 2005, p. 152.

• Estofamento - Deve ser feito um estofamento luna e nos músculos que sustentam a nossa
pouco espesso (2 a 3 cm) sobre base rígida postura. Devem ser evitados desenhos ana-
que não afunde com o peso do corpo. O ma- tômicos nos assentos, que permitem menos
terial deve ter característica antiderrapante e variação postural.
ter capacidade de dissipar o calor e suor ge- • Permitir o relaxamento - O encosto e o apoio
rados pelo corpo, não sendo recomendado de braço devem ajudar no relaxamento, per-
plásticos lisos e impermeáveis. Atualmente, mitindo que, ocasionalmente, o trabalhador
também está sendo usado o material telado, faça um breve repouso recostado, permitindo
que permite que ocorra a transpiração do a recuperação da fadiga.
corpo e, também, faz uma boa distribuição • Assento e mesa foram um conjunto integra-
da pressão das nádegas no assento. do - Altura do assento deve estar de acordo
• Permitir variações de postura - não deve- com a altura da mesa. O apoio de braço não
mos permanecer sempre na mesma posição, pode atrapalhar o trabalhador ou impedi-lo
portanto, é importante que o assento permita de se aproximar da mesa. Sempre que possí-
que possamos cruzar as pernas e mudar as vel, deve haver regulagens para adaptar me-
posições. Aliviando, assim, a pressão na co- lhor usuários de antropometrias diferentes.

30
considerações finais

Nesta unidade, aprendemos um pouco mais sobre antropometria, ou seja, a área


do conhecimento que trabalha com as dimensões do corpo humano, e como ela é
importante para diversas áreas da atuação humana. Aqui, focamos nossa atenção
ao projeto de produtos.
Vimos os inúmeros fatores que fazem com que as pessoas tenham tamanhos
diferentes, tanto nas dimensões quanto nas proporções corporais. Por exemplo,
o clima de origem de uma população pode determinar as suas proporções ana-
tômicas, é possível reconhecer a etnia de um povo porque ele tem características
físicas que determinam o tamanho e o formato dos traços, do corpo etc. Vimos
também que as pessoas, mesmo dentro de uma mesma etnia podem ser de bióti-
pos diferentes, pois há muita variação individual.
No projeto de produto, nós empregamos, na grande maioria dos casos, tabe-
las antropométricas realizadas em estudos anteriores para conseguir saber qual o
tamanho que o produto que iremos projetar deve ter. Nesse caso, é muito impor-
tante considerarmos alguns critérios na escolha de qual base de dados usaremos,
como a idade, gênero, povo de origem e a data da realização dos estudos.
Tendo selecionado a melhor base de dados, ainda temos que considerar mui-
tos critérios na hora de utilizar essa base de dados, e isso tem uma relação muito
grande com o tipo de produto que estamos projetando. Podemos usar a média
ou os percentis maiores e menores para algumas variáveis. Há produtos que de-
vemos produzi-los em tamanhos variados, outros que permitem serem ajustados
para uma maior diversidade de pessoas, dentre outros. E nessa unidade, vimos
como podemos empregar a antropometria em cada um desses casos. Somente
a partir de um conhecimento amplo dos fatores que influenciam nas diferenças
de tamanho nos corpos dos seres humanos e como isso pode influenciar as ati-
vidades humanas que seremos capazes de projetar produtos e ambientes mais
adequados, seguros e confortáveis.

31
atividades de estudo

1. Sabemos que existem vários fatores que influenciam na variação antropométrica entre as
populações. Associe o fator com a afirmação mais adequada.
a. Gênero ( ) Esse fator pode determinar biótipos diferentes entre os indivídu-
os de uma mesma população.
b. Clima ( ) Determina a evolução da antropometria de uma população ao
longo de gerações.
c. Etnia ( ) Homens e mulheres apresentam diferenças antropométricas
tanto nas medidas quando nas proporções.
d. Genética ( ) A antropometria de povos adaptados ao calor é de braços e
pernas alongados, enquanto que de clima frio, o tronco é mais
volumoso e denso.
e. Fator secular ( ) Compõem características que determinam as diferenças an-
tropométricas entre os povos.

2. Relacione os biótipos abaixo com suas respectivas descrições.


a. Ectomorfo ( ) Formas mais arredondadas, grandes depósitos de gordura, cor-
po em forma de pera, abdômen grande, membros curtos e flá-
cidos, ossos pequenos, corpo com baixa densidade, ombros e
cabeça arredondados.
b. Mesoformo ( ) Corpo e membros longos e finos, poucos músculos e pouca
gordura.
c. Endomorfo ( ) Apresenta mais músculos, formas angulosas, cabeça cúbica,
maciça, ombros e peitos largos, abdômen pequeno, membros
musculosos e pouca gordura.

3. Aprendemos no texto que existem três tipos de medições antropométricas: estática, dinâmi-
ca e funcional. A partir disso, complete as frases abaixo.
a. A antropometria ____________ mede amplitude das articulações do corpo humano e, dessa for-
ma, os alcances dos movimentos. É utilizada para dimensionar partes móveis de produtos ou
postos de trabalho com movimentações.
b. A antropometria ____________ faz medições das amplitudes de movimento em tarefas espe-
cíficas. A maior diferença em relação à antropometria dinâmica é que essa faz medição da
amplitude de movimento de uma articulação isolada, enquanto que a funcional envolve o
movimento de vários segmentos corporais ao mesmo tempo. O registro da antropometria
funcional é bastante difícil e, por isso, é pouco realizada.
c. A antropometria ____________ é realizada com corpo parado ou com poucos movimentos, sendo
tomadas medições entre pontos anatômicos claramente identificados. É a antropometria que
usamos para projetar mobiliário, vestuário e todas as situações em que não precisem ser con-
siderados movimentos amplos.

32
atividades de estudo

4. Abaixo são apresentadas algumas situações de projeto em que podem ser usados os crité-
rios de alcance (5%il) e espaço (05%il) para uso de percentis. Nas situações abaixo, indique
quando usar o percentil 5%il e quando usar o percentil 95%il.
a. Saída de emergência: _____________________.
b. Altura de estantes: _____________________.
c. Vão entre cadeira e mesa: _____________________.
d. Largura da cadeira: _____________________.
e. Distância entre poltronas em ônibus: _____________________.

5. Associe o problema do assento e sua respectiva consequência à saúde do usuário.

a. Assento muito alto ( ) O corpo desliza para frente, prejudicando a estabilidade.


b. Assento muito baixo ( ) Há uma pressão na parte interna das pernas.
c. Assento muito curto ( ) Há uma pressão na parte inferior das coxas.
d. Assento muito longo ( ) Há uma sensação de instabilidade do corpo.

6. Sobre as dimensões de superfícies de trabalho, leia as afirmativas abaixo.


I. Para trabalhos pesados em pé, a bancada deve estar acima da altura do cotovelo.
II. Para trabalhos leves em pé, a bancada deve estar acima da altura do cotovelo.
III. O trabalho realizado mais frequentemente deve estar na zona de alcance ótimo.
IV. Quando a mesa não for ajustável, o trabalhador mais baixo deve ajustar sua cadeira até atin-
gir a altura correta da mesa e usar um apoio para os pés.

Assinale a alternativa correta:


a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas está correta.

33
LEITURA
COMPLEMENTAR

Um setor que necessita muito de dados antropométricos para a produção de seus produtos é a confecção. A área
de moda carece de padronização das medidas do vestuário. O texto a seguir trata desse assunto e faz parte de uma
pesquisa que levantou uma base de dados antropométricos para a confecção.

Antropometria e vestuário
Mais do que cobrir o corpo, o ato de vestir caracteriza e diferencia épocas e culturas, bem como cada um dos indi-
víduos pertencentes a uma sociedade. Partindo desse princípio, a moda é responsável por atender desejos e neces-
sidades de seus consumidores. Para Queiroz e Otta (2005), o uso que cada indivíduo faz de seu corpo, por meio de
vestimentas, acessórios e ornamentos, representa o universo de valores, significados e comportamentos, no qual está
inserido. Neste sentido, cabe ao profissional da moda conciliar fatores técnicos e subjetivos na confecção das peças,
pois estas deverão atender não apenas às necessidades físicas do consumidor, mas estarão, sobretudo, ligadas a
fatores psicológicos.
Os consumidores dos produtos de moda são divididos em três grupos: crianças, homens e mulheres, sendo estas
últimas as que enfrentam maiores dificuldades para encontrar peças de vestuário adequadas ao seu biótipo. Tal fato
pode ser justificado pela maior variedade de peças destinadas a esse público, bem como as suas formas mais arre-
dondadas, devido ao acúmulo de gordura subcutânea ser maior no corpo da mulher (IIDA, 2005). Além disso, essa gor-
dura é distribuída de maneira diferente em homens e mulheres, bem como pode variar muito de mulher para mulher.
Considerando as diferenças antropométricas existentes, é necessário que se conheça os biótipos regionais da popu-
lação, para que a indústria do vestuário consiga atender às necessidades de seus consumidores.

Padronização das medidas


Sabe-se que no Brasil não existe um estudo antropométrico representativo de sua população. Por isso, as indústrias
de confecção buscam referências para suas modelagens em tabelas de medidas copiadas de outros países, adaptan-
do-as ao perfil de seu consumidor ou escolhe-se na própria indústria uma pessoa que consideram representativa de
seus clientes e utilizam as medidas desse corpo (SILVEIRA; GILWAN, 2007).
A falta de dados antropométricos que caracterizam o público-alvo de uma empresa de confecção pode tornar a tarefa
de encontrar uma roupa adequada, um trabalho árduo, exigindo tempo e paciência do consumidor. É comum um
mesmo indivíduo possuir peças de tamanhos diferentes, em seu guarda-roupa, o que pode acontecer, inclusive, com
produtos de uma mesma marca. Sabrá (2009) explica que a terceirização da produção reduz ainda mais a padroniza-
ção das peças, pois muitas empresas não têm suporte para controlar a qualidade da produção das pequenas facções,
no que diz respeito às medidas utilizadas para fabricação.

34
LEITURA
COMPLEMENTAR

Outro fator que gera conflito, no estabelecimento de uma tabela de medidas para confecção, é a falta de padroniza-
ção de nomenclaturas, termos técnicos e métodos de coleta entre os dados disponíveis, o que pode ser observado
com facilidade ao comparar-se diferentes tabelas que geram bases para modelagem.
Algumas empresas adotam a prática da troca de etiquetas, identificando com um número menor uma peça de ta-
manho maior, procurando satisfazer o desejo de consumidoras, que não aceitam usar determinada numeração ou
sentem-se emocionalmente melhores ao vestirem uma roupa de numeração menor (SABRÁ, 2009).
Com a finalidade de padronizar os tamanhos de artigos de vestuário, a Associação Brasileira de Normas Técnicas
- ABNT elaborou a NBR 13.377 – Medidas do corpo humano para vestuário. Entretanto, não há obrigatoriedade de
aplicação desta norma, bem como não há informações suficientes para a definição de padrões dos manequins.
Outras duas Associações, a Associação Brasileira do Vestuário (ABRAVEST) e a Associação Brasileira da Indústria Têxtil
e de Confecção (ABIT) atuam no setor de vestuário do país, sendo que a primeira está desenvolvendo o Censo Antro-
pométrico Brasileiro. Este censo é de grande importância para que haja o conhecimento antropométrico da popula-
ção brasileira, porém é necessário que se identifiquem e apresentem os padrões regionais, para que haja adequação
da confecção.

Fonte: Bazán et al. (2010, p. 61-77).

35
ERGONOMIA

Design Ergonômico: Estudos e Aplicações


Luis Carlos Paschoarelli e José Carlos Plácido da Silva (Orgs.)
Editora: Canal 6 Projetos Editoriais
Sinopse: O livro trata de textos avançados em áreas de pesquisa
em design e ergonomia sobre os mais variados temas da atua-
lidade.
Comentário: É um livro bastante esclarecedor para aqueles que
se interessam e compreendem um pouco mais sobre atualida-
des em design ergonômico.

Ergonomia do Objeto: Sistema Técnico


de Leitura Ergonômica
João Gomes Filho
Editora: Escrituras
Sinopse: Em ergonomia do objeto são apresentados estudos
sobre numerosos e diversificados produtos, fundamentados em
um sistema técnico de leitura inserido no que o autor conven-
cionou denominar de “cultura ergonômica”.
Comentário: É um livro bastante esclarecedor para aqueles que
se interessam e compreendem um pouco mais sobre atualida-
des em design ergonômico.

ABERGO
A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) é o órgão que regulamenta a pro-
fissão do Ergonomista no Brasil. Neste site, você pode encontrar informações úteis
sobre a profissão e diversos outros assuntos relacionados.

Disponível em: <http://www.abergo.org.br>.

36
referências

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 9050 - Acessibilidade a


edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. São Paulo, 2004.
ABRANTES, A. F. Atualidades em ergonomia: logística, movimentação de mate-
riais, engenharia industrial, escritórios. São Paulo: IMAM, 2004.
BAZÁN, A. A.; LUCIO, C. C.; RAZZA, B. M.; TANABE, A. S.; CAPELASSI, C.
H. Antropometria para a confecção: dados de Cianorte e Região. Gepros, v. 5, n.
4, p. 61-77, 2010.
BRANDIMILLER, P. A. O corpo no trabalho: guia de conforto e saúde para
quem trabalha em microcomputadores. São Paulo: Editora Senac, 1999.
DANIELLOU, F. A ergonomia em busca de seus princípios: debates epistemoló-
gicos. São Paulo: Edgard Blücher, 2004.
DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard Blücher,
1995.
FALZON, P. Ergonomia. São Paulo: Edgard Blücher, 2007.
FERREIRA, J.M.C., NEVES, J.; CAETANO, A. Manual de psicossociologia das
organizações. Lisboa: McGraw-Hill, 2001.
GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4. ed.
Porto Alegre: Bookman, 1998.
GUÉRIN, F.; LAVILLE, A.; DANIELLOU, F.; DURAFFOURG, J. KERGUELEN,
A Compreender o trabalho para transformá-lo: A prática da ergonomia. São
Paulo: Edgard Blücher, 2001.
HENDRICK, H.; KLEINER, B. Macroergonomics: Theory, Methods and Appli-
cations. Lawrence Erlbaum Associates, 2002.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
LACOMBE, P. Bioergonomia: a ergonomia do elemento humano. Curitiba:
Juruá, 2012. ISBN 978853623655-1.
LAVILLE, A. Ergonomia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1977.
MIGUEL, A.S.S.R. Manual de Higiene e Segurança do Trabalho, 12. ed. Porto:
Porto Editora, 2012.
MORAES, A. M.; MONTALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. Rio de
Janeiro: 2AB, 1998.
PALMER, C. Ergonomia. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas,
1976.
PANERO, J.; ZELNIK, M. Las dimensiones humanas em los espacios interiores.
New York: Guptill Publications, 1980.
PASCHOARELLI, L. C.; SILVA, J. C. P. Design Ergonômico: estudos e aplicações.
Bauru/SP: Canal 6, 2013.

37
referências

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STANTON, N.; YOUNG, M. S. A Guide to Methodology in Ergonomics:
designing for human use. London: Taylor and Francis, 1999.

38
gabarito

UNIDADE I
1. D; E; A; B; C
2. C; A; B
3. Dinâmica; Funcional; Estática
4. 95%il; 5%il; 95%il; 95%il; 95%il
5. B; D; A; B
6. D

39
POSTURA E MOVIMENTO

Professor Dr. Bruno Montanari Razza

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• O sistema musculoesquelético
• Força, fadiga e repetitividade
• Principais posturas do trabalho
• Levantamento e transporte de carga

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar uma base de conhecimento do funcionamento do sistema
musculoesquelético, ou seja, como os ossos, músculos e articulações
trabalham em conjunto para garantir a sustentação e movimentação dos
seres humanos.
• Introduzir os conceitos de força, repetitividade e fadiga e como prevenir
que lesões ou doenças possam acometer o trabalhador ou usuário do
produto.
• Demonstrar as vantagens e desvantagens das posturas em pé, sentado e
deitado. Projeto de postos de trabalho.
• Esclarecer porque o levantamento e transporte de carga são as tarefas da
indústria em que ocorrem a maior quantidade de lesões e afastamento
funcional; demonstrar os principais fatores de risco e como reduzir os
impactos no ser humano.
unidade

II
INTRODUÇÃO

C
aro(a) aluno(a), você já notou que a maior parte das nossas atividades
é realizada por meio de computadores e que o sedentarismo passou a
ser um grande problema de saúde nos últimos anos. Com a ênfase dada
aos avanços da computação, realidade virtual, automação e robótica,
acabamos esquecendo que ainda a maior parte das atividades humanas é realiza-
da manualmente e exigindo ainda grandes esforços físicos.
Apesar de termos grandes avanços, ainda a maior parte dos acidentes de tra-
balho e lesões são causadas por trabalhos manuais que desrespeitam os limites
do corpo humano. Nesta segunda unidade, aprenderemos um pouco mais sobre
um assunto tradicional da ergonomia: a postura e movimento do corpo humano.
A área da ciência que estuda o posicionamento e os movimentos corporais e da
qual a ergonomia se apropria é a biomecânica.
A biomecânica utiliza leis da física e conceitos da engenharia para descre-
ver movimentos realizados por vários segmentos corporais, bem como as forças
atuantes nessas partes do corpo durante atividades normais diárias (NORDIN;
FRANKEL, 2003). Mais especificamente, utilizamos em ergonomia a biomecâni-
ca ocupacional, pois, focamos o estudo do corpo humano em relação à demanda
do trabalho.
As posturas de trabalho são assuntos bastante comentados e praticamente
todo mundo pensa que sabe como realizar uma postura correta no trabalho.
Ainda nesta unidade, aprofundaremos mais sobre esse assunto, mostrando
quais são as principais posturas de trabalho e a importância de conhecer a
estrutura do corpo humano para sabermos adaptar as tarefas e postos de
trabalho para cada tipo de atividade.
Além disso, aprenderemos um pouco mais sobre o sistema musculo-
esquelético e como ele garante que façamos movimentos e como atua no
mundo físico, como os músculos exercem forças e quais os limites desses
tecidos. Veremos a importância da coluna vertebral para nossas ativida-
des e como prevenir lesões nessas estruturas.
ERGONOMIA

O SISTEMA
MUSCULOESQUELÉTICO
Na segunda unidade compreenderemos um pouco vimentos. Conhecer esses limites é importante para
sobre a funcionalidade do sistema musculoesquelé- evitar lesões, que no caso das articulações são de difí-
tico, responsável pela estrutura do corpo e pelos mo- cil recuperação. E os músculos são responsáveis pelo
vimentos. Por isso mesmo, é um dos sistemas mais movimento corporal (DANGELO; FATTINI, 2011).
importantes para a ergonomia física. O sistema musculoesquelético humano funcio-
O sistema musculoesquelético é composto de três na como se fosse um conjunto de alavancas. Quan-
elementos principais: músculos, ossos e articulações. do um segmento corporal está se movimentando, o
Os ossos são responsáveis, dentre outras funções, a de segmento anterior (mais próximo ao corpo) é quem
dar estrutura ao corpo, proteção e sustentar os diver- dá a sustentação. Por exemplo, se vamos mover o an-
sos segmentos corporais. As articulações são respon- tebraço para cima, o braço estabiliza o movimento,
sáveis por fazer a ligação entre um segmento corporal permitindo que o músculo do bíceps traga esse seg-
e outro, e permitir a movimentação entre eles. Cada mento corporal para cima (mais próximo), moven-
articulação tem uma característica e um limite de mo- do a articulação do cotovelo.

44
DESIGN

Figura 1: Na imagem é possível ver os segmentos corporais e um esquema das articulações formando alavancas. À direita uma imagem do baço e ante-
braço mostrando a contração do bíceps e o movimento ascendente

Fonte: BICEPS (2013, online).

MÚSCULOS
• Músculo liso: são os músculos que envolvem
Dentre os três componentes do sistema musculoes-
os órgãos internos, responsáveis pelos movi-
quelético, os músculos são responsáveis pelos mo- mentos peristálticos (deglutição e evacuação)
vimentos e têm íntima relação com o metabolismo, e não são controlados voluntariamente.
gasto energético e fadiga. Existem 3 tipos de múscu-
lo no corpo humano (CHAFFIN et al., 2001): No entanto, apenas os músculos estriados esqueléti-
• Músculo estriado esquelético: são os múscu- cos é que nos importam. No corpo humano existem
los que estão ligados aos ossos e formam o aproximadamente 600 músculos e desses cerca de
nosso sistema musculoesquelético. São res- 400 são músculos esqueléticos, relacionados direta
ponsáveis pelos movimentos e são controla-
ou indiretamente com movimentos do corpo (SAN-
dos voluntariamente pelo Sistema Nervoso
Central. DERS; McCORMICK, 1993).
• Músculo estriado cardíaco: é o músculo do Os músculos são compostos por milhares de fi-
coração. É composto de fibras estriadas, as- bras musculares, que são responsáveis pelas contra-
sim como os músculos esqueléticos, mas não ções musculares. A unidade contrátil de uma fibra
são controlados voluntariamente. muscular é a miofibrila e cada fibra muscular con-

45
ERGONOMIA

tém muitas delas. A miofibrila é a unidade contrátil Para haver a contração muscular e, consequen-
do músculo e é composta de dois filamentos de pro- temente, os movimentos corporais, é necessária
teína: a actina e a miosina. Quando os filamentos de energia que para o músculo é providenciada pelos
actina deslizam para mais próximo dos filamentos alimentos que ingerimos, predominantemente dos
de miosina, ocorre uma contração muscular. O afas- carboidratos e gorduras. Ela é armazenada na for-
tamento da actina caracteriza o relaxamento mus- ma de glicogênio dentro dos músculos, sendo usada
cular. Um músculo pode reduzir em até metade do conforme há necessidade para o movimento da acti-
tamanho ao realizar a contração. na sobre a miosina.
Figura 2: Fibras musculares

Trabalho muscular
Em repouso, nosso metabolismo está mais lento,
próximo ao metabolismo basal. Ao iniciar uma ati-
vidade, com a movimentação do corpo, a taxa me-
tabólica vai aumentando, acelerando os batimentos
cardíacos e a respiração (BRANDIMILLER, 1999).

SAIBA MAIS

Mesmo quando estamos dormindo, o orga-


nismo consome uma quantidade de calorias
para manter as atividades metabólicas bási-
Fonte: MUSCLE… (online). cas do organismo em funcionamento, como
a circulação sanguínea, o aquecimento do
Figura 3: Filamentos de proteína de miosina e actina em estado esticado,
relaxado e contraído, respectivamente
corpo, atividade cerebral, por exemplo. A
esse processo damos o nome de Metabo-
lismo Basal.
A quantidade de calorias consumida para
manter o corpo em funcionamento depende
de diversos fatores, como o gênero (homens
consomem em média mais calorias que as
mulheres), idade (pessoas mais velhas ten-
dem a ficar com o metabolismo mais lento
e, consequentemente, gastar menos calo-
rias) e antropometria (pessoas com corpos
maiores também tendem a ter um gasto
energético maior).

Fonte: Sanders e McCormick (1993, p. 229).

Fonte: sanders; mccormicK, 1993, p.227.

46
DESIGN

Quando o esforço se inicia, não há grande quantida- a contração chega a 60% da capacidade máxima, o
de de oxigênio no músculo para garantir a sua fonte sangue deixa de circular no interior dos músculos
de energia, pois a reação de transformação do glico- (CHAFFIN et al., 2001). Um músculo sem irrigação
gênio em energia é aeróbia, ou seja, depende da pre- sanguínea fatiga-se rapidamente, não sendo possível
sença de oxigênio. Assim, de início, o músculo pro- mantê-lo contraído por mais de 1 ou 2 minutos. Se
duzirá energia a partir de reações anaeróbias, que o esforço persistir, a dor que se segue provoca inter-
produzem menos energia, ou seja, é menos eficiente. rupção obrigatória do trabalho.
O tempo de adaptação até o metabolismo conseguir Por outro lado, quando o músculo faz contra-
se adequar à demanda da atividade leva aproxima- ções e relaxamentos alternados, causa um efeito be-
damente de 2 a 4 minutos (FALZON, 2007). néfico à circulação, pois durante a contração há um
Se o esforço começar repentinamente e, princi- bloqueio da circulação sanguínea e no relaxamento
palmente se tiver uma intensidade de moderada a há liberação. Esse movimento alternado intensifica
alta, os músculos trabalharão em desvantagem, com a passagem do sangue pelas veias, atendendo a de-
débito de oxigênio e de energia. Essas reações geram manda de suprimento de nutrientes e de oxigênio
subprodutos no músculo, sendo o principal o ácido no músculo.
lático que é um dos indicativos da fadiga muscular. • O trabalho estático de um músculo é aquele
O desequilíbrio entre demanda (intensidade que exige contração continuada para manter
da atividade muscular) e suprimento (atividade uma determinada posição, ou seja, há a con-
tração, mas não há movimento.
cardiorrespiratória) pode ser reduzido com aque-
• O trabalho dinâmico de um músculo é aquele
cimento prévio do organismo. Em geral, cinco mi-
que permite contrações e relaxamentos alter-
nutos de atividade física já são suficientes para os nados, havendo movimento articular.
músculos não iniciarem o trabalho com déficit de
oxigenação e de energia. Outro benefício do aque- Na figura 4, podemos ver uma ilustração a cerca
cimento também é aquecer os músculos, facilitando da demanda e suprimento no músculo proporcio-
a movimentação e a contração muscular e melhorar nado pela circulação sanguínea. Em repouso, te-
a mobilidade das articulações, permitindo melhor mos baixo suprimento, pois a circulação está mais
lubrificação. lenta, mas também há baixa demanda de energia e
de oxigênio. O trabalho dinâmico apresenta uma
alta demanda, mas também recebe uma alta ofer-
Trabalho estático e dinâmico ta, pois a circulação está facilitada. No trabalho
Quando um músculo está contraído, ele aumenta de estático há uma alta demanda que não consegue
volume e, consequentemente, há aumento da pres- ser suprida pela circulação, levando rapidamente
são interna, estrangulando os capilares (vasos san- à fadiga.
guíneos de menos calibre). Um trabalho estático, por exemplo, realizado
Enquanto, a contração muscular estiver entre 15 com aproximadamente 50% da contração máxima
e 20% da capacidade máxima do músculo, a circu- de um músculo, não deve durar por mais de 1 minu-
lação continua normalmente. No entanto, quando to (IIDA, 2005).

47
ERGONOMIA

48
DESIGN

figura 4: relação entre a demanda e o suprimento no músculo de acordo com o tipo de trabalho

Fonte: Iida, 2005, p 162.

É importante ficar atento para um detalhe: quando REFLITA


falamos que uma atividade realiza trabalho estático,
é preciso considerar qual o grupo muscular que está
sendo exigido desta forma e quais estão em traba- É importante considerar que existe uma di-
lho dinâmico. Por exemplo, um garçom que carrega ferença entre contração muscular estática
e postura estática. Ambas são prejudiciais
uma bandeja, seus músculos do braço e mãos estão ao organismo, mas podem ter efeitos dife-
realizando trabalho estático, juntamente com parte rentes.
de seus músculos dorsais. No entanto, suas pernas
estão em trabalho dinâmico.

49
ERGONOMIA

FORÇA, FADIGA
& REPETITIVIDADE
Agora, vamos ver os conceitos de força, fadiga mus- capazes de gerar força (CHAFFIN et al., 2001).
cular e repetitividade, bem como as consequências O objetivo da força muscular é realizar um mo-
desses três aspectos da atividade muscular para o vimento e essa força deve ser proporcional à resis-
trabalho e saúde do ser humano. tência oferecida. Os movimentos são realizados,
Primeiramente, vamos entender melhor o que geralmente, por pares de músculos antagônicos,
é força muscular. Força é o resultado da contração enquanto um faz a contração o outro faz o relaxa-
muscular. Quanto maior a quantidade de fibras mento. Para determinado movimentos são realiza-
musculares, maior a capacidade do músculo em re- das diversas combinações de contrações musculares
alizar força. O corpo humano não produz mais fi- para que os segmentos corporais se movimentem
bras musculares conforme se desenvolve, mas ape- coordenadamente e realizem o movimento neces-
nas deixa-as mais grossas. Assim, não se perde nem sário. As características principais dos movimentos
se ganha músculos, o que ocorre é que as fibras se (IIDA, 2005; COLOMBINI et al., 2002; CORLETT
tornam mais delgadas e, consequentemente, menos et al., 1986):

50
DESIGN

• Precisão: está relacionada com a coordena-


res de linha de montagem, trabalhadores do setor de
ção motora e é mais intensa nas pontas dos
dedos, sendo que os movimentos vão ficando informática, dentre outros (GRANDJEAN, 1998).
menos precisos, conforme vai se aproximan- O esforço repetitivo causa um estresse nos teci-
do do tronco. dos envolvidos na realização do movimento, ou seja,
• Ritmo: está relacionado com a intensidade e nos músculos, ossos e articulações. Esse estresse, se
velocidade do movimento, podendo ser len- não houver um tempo de repouso para recuperação,
to, suave, repetitivo, abrupto, rápido etc. Os acumular-se-á, causando lesões nesses tecidos e po-
movimentos suaves e rítmicos são menos
dendo desenvolver doenças ocupacionais.
nocivos às articulações que os movimentos
Uma doença ocupacional comum relacionada aos
mais abruptos ou rápidos, pois geram maior
impacto e desgaste articular. esforços repetitivos é a Lesão por Esforços Repetitivos
• Direção dos movimentos: os movimentos (LER), acometendo, principalmente, nos membros
podem ser amplos ou curtos, curvilíneos ou superiores. Antigamente, a LER era usada como sinô-
retilíneos. Os movimentos curvos são mais nimo de doença ocupacional, o que é um erro, pois
naturais para o ser humano, devido ao sis- existem diversas outras doenças não relacionadas à
tema articular de alavancas, onde o segmen- repetitividade. Atualmente, as doenças ocupacionais
to corporal gira em torno de um eixo. Para
são tratadas pela siga DORT que significa Distúrbio
desempenhar movimentos retilíneos, por
Osteomuscular Relacionado ao Trabalho, por ser um
exemplo, é necessário o movimento coorde-
nado de diversos músculos e articulações. termo que consegue abranger todos os tipos de doen-
ças (BERNARD, 1997; ASCENSÃO et al., 2003).
As exigências de forças devem ser adaptadas às ca- A fadiga muscular é caracterizada pela incapa-
pacidades do operador, nas condições operacionais cidade do músculo esquelético gerar elevados ní-
reais. Em cada situação de trabalho, haverá uma veis de força muscular ou manter esses níveis por
postura, um movimento e uma determinada força, determinado tempo (ASCENSÃO et al., 2003). A
assim, é necessário em geral estudar caso a caso para fadiga causa um estado de esgotamento do tecido
se averiguar a adequação. muscular, podendo ocorrer por excesso de uso, falta
Outra exigência bastante comum em diversas de oxigenação ou de energia. Em estados normais,
atividades produtivas ou do dia a dia é o esforço re- o estado de fadiga é recuperado após um tempo de
petitivo. No nosso cotidiano, essas tarefas ocorrem repouso e esse tempo deverá ser proporcional ao es-
quando, por exemplo, batemos um bolo manualmen- forço realizado. Vários fatores podem levar à fadi-
te, recortamos papéis, lixando madeira, dentre diver- ga, como o uso excessivo de força, repetitividade e
sas outras situações corriqueiras. No entanto, como a as contrações estáticas, conforme, já mencionamos,
maior parte das vezes esses esforços repetitivos não anteriormente. É geralmente o diagnóstico de fadiga
são realizados durante muito tempo, não notamos muscular que é utilizado para se determinar o limite
seus efeitos. Há profissões, por exemplo, que exigem de atuação em determinadas tarefas.
esforços repetitivos durante toda a jornada de traba- Limite de força para puxar e empurrar: esses es-
lho. Esse é o caso, por exemplo de setores de desossa forços são muito comuns em atividades produtivas e
de carnes em frigoríficos, de manicures, trabalhado- em muitos casos podem gerar lesões e afastamentos.

51
ERGONOMIA

• Alcance horizontal: uma recomendação para


A capacidade para empurrar e puxar depende de
a realização de esforços é de que a carga deve
diversos fatores como postura, dimensões antropo- estar o mais próximo possível do corpo, devi-
métricas, sexo, atrito entre sapato e chão etc. Geral- do ao momento que a força peso exercerá em
mente, as recomendações são baseadas em situações nossos braços. E se tivermos realizado esforços
ideais, mas se houverem fatores limitantes, como de suportar um peso longe do corpo, o tempo
piso liso, pegas inadequadas etc., a recomendação é que conseguimos manter a atividade será re-
duzido. Se houver algum tipo de apoio para o
que se utilize menos peso (IIDA, 2005).
cotovelo, esses tempos podem ser triplicados.
• Homens: 200 a 300 N (forças máximas). No
entanto, ao utilizar o peso do corpo e a força • Força das pernas: os músculos das pernas são
dos ombros, conseguem até 500 N . bastante volumosos e capazes de realização de
grandes esforços. Essa capacidade, no entanto,
• Mulheres: conseguem realizar em torno de
vai variar em função da posição relativa ao as-
40% a 60% da capacidade dos homens.
sento-pedal, isto é, do ponto de apoio (e se esta-
mos sentados ou em pé, com a coluna apoiada
Figura 5: Forças de puxar e empurrar são comuns em transporte de carga
ou não) e de onde aplicamos o esforço (tratado
por pedal). Nós conseguimos realizar forças re-
lativamente maiores quando estamos sentados
com a coluna apoiada e o ponto de aplicação
da força está bem à frente do quadril. Quanto
o ponto de aplicação está para baixo (no chão,
por exemplo), realizamos menos força, pois po-
demos contar apenas com a força da gravidade
atuando sobre nosso próprio peso (IIDA, 2005).

figura 6: cargas muito volumosas é natural que os braços fiquem esti-


cados. nesses casos, podem usar suportes para a lombar para ajudar a
estabilizar a postura

• Alcance vertical: em geral, devemos evitar


esforços em que as mãos fiquem acima da
cabeça, pois os braços em posição elevada
provocam fadiga nos músculos dos ombros e
bíceps, aparecendo dores, especialmente em
pessoas idosas. No entanto, em situações em
que isso seja impossível, a atividade deve ser
realizada por pouco tempo ou devem ser pro-
videnciadas pausas em atividades demoradas.

52
DESIGN

figura 7: exemplos de esforços com alcance vertical acima da cabeça

53
ERGONOMIA

PRINCIPAIS POSTURAS
DO TRABALHO
Um dos aspectos mais estudados pela ergonomia é segmentos corporais sejam dispostos da forma que
a postura de trabalho. Uma má postura pode levar desejamos, considerando as suas limitações (GUÉ-
a diversas constrições no organismo, como prejudi- RIN et al., 2001; GRANDJEAN, 1998).
car a circulação sanguínea, levar a lesões musculares Uma postura correta é um dos principais fatores
ou articulares e até influenciar nosso desempenho para o bom desempenho do trabalho. Em geral, é
no trabalho. Agora, vamos aprender mais sobre as ideal que a posição que adotamos para o trabalho
principais posturas de trabalho e como podemos ga- não imponha que fiquemos em uma luta constan-
rantir uma maior saúde e segurança ao trabalhador. te contra a gravidade, mas que tenhamos um bom
Postura é o estudo relativo das partes do corpo apoio e sem precisar fazer muito esforço muscular
no espaço. São as articulações que permitem que os estático (ABRAHÃO et al., 2009).

54
DESIGN

SAIBA MAIS
Essas posturas envolvem esforço muscular para
a sua manutenção e sustentação de partes do corpo.
Por exemplo, quando estamos com a cabeça voltada O sentido (ou senso) cinestésico é parte das
à frente (flexão da cervical), como quando lemos ou nossas capacidades sensoriais que trabalha
com a percepção do próprio corpo. A defini-
desenhamos, os músculos posteriores do pescoço ção fisiológica do termo é ‘a consciência da
estão realizando contração estática para sustentar a posição e movimento do corpo no espaço’.
cabeça na posição. Quando mais pesado o segmen- Esse sentido é usado, por exemplo, quando
realizamos movimentos sem o acompanha-
to corporal ou mais distante do centro de massa do mento visual, como quando um motorista
corpo, mais difícil será essa sustentação (THOMAS; troca a marcha de um carro.
NELSON; SILVERMAN, 2005). O sentido cinestésico é parte do sistema sen-
sorial que é consciente da percepção corporal,
figura 8: flexões da cervical são comuns em diversas atividades huma- envolvendo a localização espacial do corpo,
nas, tanto em casa como no trabalho
sua posição e orientação, a posição de cada
parte do corpo em relação às demais e a per-
cepção dos órgãos internos (força exercida
pelos músculos, por exemplo), esta faculdade
é também chamada de propriocepção.

Fonte: Fogtmann et al. (2008, p. 89-96).

Na sequência, podemos ver na tabela o peso relativo


de alguns segmentos corporais em relação ao corpo.
tabela 1: proporção do peso corporal por segmento

Parte do corpo % do peso total

Cabeça 06 a 08

Tronco 40 a 46

Membros superiores 11 a 14

Membros inferiores 33 a 40

Fonte: IIDA, 2005.

Posturas inadequadas são muito comuns no tra-


balho, podendo ser causadas pelo mau projeto da
interface homem-objeto-ambiente ou da falta de
conhecimento do trabalhador. A seguir, citamos al-
gumas situações que podem agravar as posturas ina-
dequadas (CHAFFIN et al., 2001):

55
ERGONOMIA

• Posturas estáticas por longos períodos: em ge-


Outra característica importante é que quando
ral, prejudicam a circulação, pois o indivíduo
permanece muito tempo sem realizar movi- estamos em pé, é mais fácil fazer trabalhos que exi-
mentos, ou seja, contrações musculares e carac- jam mais força ou movimento, pois conseguimos
terizando todos os malefícios do sedentarismo. empregar as mãos, pernas e tronco para aplicar
• Grande aplicação de força: quando realiza- mais força ou garantir maior equilíbrio postural.
mos muita força, se a postura não estiver cor- Atividades que trabalham em pé devido a essa ca-
reta, podemos exigir demasiadamente de um racterística são os marceneiros, açougueiros, me-
grupo muscular, podendo levar a estiramen-
cânicos etc.
to ou contusões.
• Posturas extremas ou no limite da articula- figura 9: uma exceção: o mecânico de automóveis pode adotar a postura
deitada para o trabalho
ção: com exceção do cotovelo e do joelho, as
articulações não devem ser trabalhadas no
seu limite, pois pode ocorrer distensão dos
ligamentos que as estabilizam.

Posturas de trabalho
Embora, tenhamos falado que existem as posturas
mais diversas, quando falamos de postura de traba-
lho há duas principais que adotamos como referên-
cia: sentado ou em pé. Há também a postura deita-
da, que pode ocorrer mais raramente.

Postura deitada
Nesta postura não há concentração de tensão, o san-
gue flui livremente, o consumo de energia é mínimo.
figura 10: profissões que adotam a postura em pé
No entanto, é uma postura ideal para o descanso,
mas não para o trabalho. Os movimentos ficam di-
ficultados pela própria posição e muitas vezes é ne-
cessário manter a cabeça suspensa para conseguir
visualizar o trabalho, o que leva a uma rápida fadiga.

Postura em pé
A posição em pé proporciona grande mobilidade e
a cobertura de grandes áreas e, por isso, é normal-
mente empregada em atividades que o trabalhador
precisa se deslocar de um lugar a outro frequente-
mente, por exemplo, vendedores, supervisores de
indústria, pedreiros, carteiros, dentre outros.

56
DESIGN

57
ERGONOMIA

Entretanto, a postura não deve ser adotada se o tra- Recomendações sobre a postura no trabalho
balhador tiver que ficar parado no mesmo lugar. Como havíamos dito, anteriormente, cada atividade
Essa condição é bastante fatigante, pois, exige traba- tem características específicas que precisam ser es-
lho estático da musculatura dos membros inferiores, tudadas individualmente para se verificar se há ade-
do abdômen e da coluna e o coração enfrenta maior quação ou não. Cada postura tem suas vantagens e
dificuldade para bombear o sangue. desvantagens. Na tabela a seguir, elencamos algumas
desvantagens relacionadas às posturas de trabalho.
Postura sentada Tabela 2: Problemas relacionados às posturas de trabalho
Quando estamos sentados, há um consumo menor
Postura Problemas ou constrangimentos
de calorias para manter a posição se comparada à
Fadiga nos pés e pernas e proble-
postura em pé, por isso, é mais relaxante e também Em pé
mas circulatórios.
mais indicada as atividades intelectuais. Essa postu-
Sentado Fadiga nos músculos das costas
ra exige atividade muscular do dorso e ventre para sem encosto (extensores do dorso).
se manter, não precisando tanto dos músculos das Pode comprometer a circulação na
Assento
pernas. A maior parte do peso do corpo é sustenta- parte posterior das pernas, que fi-
muito alto
da pelas nádegas, o que permite um bom posiciona- cam pressionadas contra o assento.

mento corporal e equilíbrio, por haver uma base de Postura incorreta das costas e
Assento
pescoço e tendência a escorregar o
apoio larga (e se o assento for adequado). muito baixo
corpo para a frente.
Quando estamos sentados, os membros inferio-
Braços Fadiga nos músculos dos ombros e
res estão livres da obrigação de sustentar o corpo, esticados braços.
permitindo assim utilizar os pés para atividades Superfícies Postura incorreta da coluna verte-
produtivas. Isso é bastante comum acionar pedais ao de trabalho bral, tendo que abaixar para realizar
muito baixas o trabalho.
conduzir veículos automotores, por exemplo.
Superfícies
Postura incorreta dos ombros (ab-
Figura 11: Exemplos de trabalhos realizados na postura sentada de trabalho
dução ombro) e leva à fadiga.
muito alta
Fonte: Iida (2005).

No entanto, é possível fazer recomendações gerais


sobre as posturas no ambiente de trabalho. A seguir,
temos algumas condições.
• Permitir ajustes dimensionais: conforme vi-
mos, a antropometria das pessoas pode variar
bastante, assim, um posto de trabalho confi-
gurado para um indivíduo não vai estar ade-
quado para todos. Dessa forma, é ideal que
existam regulagens possíveis nos equipamen-
tos ou mobiliários, por exemplo, ajustes de al-
tura de mesas, cadeiras, braços, monitores etc.

58
DESIGN

• Permitir variações posturais: uma regra bási-


ca para postura é que ela não deve ser mantida
da mesma forma por muito tempo, por mais
adequada que pareça. O corpo humano não é
adaptado para permanecer estático na mesma
posição, necessitando de contrações muscula-
res seguidas de relaxamentos para conseguir um
equilíbrio entre fadiga e repouso muscular, além
de promover uma melhora na circulação. Dessa
forma, mudanças posturais são encorajadas, por
exemplo, alternar se possível a postura sentada
com a postura em pé, cruzar as pernas, alternar
perna de apoio, fazer pequenas caminhadas ao
longo do dia e alongamentos regulares.
• Uso de apoio para os pés: quando falamos de
trabalho sentado, é importante considerar que
os pés devem estar adequadamente apoiados no
chão. Quando isso não acontece, por exemplo,
as pernas ficam dependuradas por conta de um
assento muito alto, toda a região posterior das
pernas ficará pressionada contra o assento, pre-
judicando a circulação sanguínea. Essa é uma
condição prejudicial ao organismo que precisa
ser evitada, rebaixando o assento para o traba-
lhador conseguir apoiar corretamente os pés
no chão. Se isso não for possível, deve-se usar
apoios para os pés. Na postura em pé esse apoio
também é importante e pode ajudar a trocar a
perna de apoio, ajudando no alívio da fadiga.

59
ERGONOMIA

figura 12: atividades de levantamento


e transporte de carga são comuns no
trabalho e na vida cotidiana

LEVANTAMENTO
& TRANSPORTE DE CARGA
Agora, aprenderemos mais sobre o levantamento e parte dos traumas musculares entre os trabalhadores.
o transporte de carga. Essa é uma atividade muito De acordo com Iida (2005), 60% do total das lesões é
comum em nossa vida cotidiana e em encontrada causado por levantamento de cargas e 20% está relacio-
com mais ou menos intensidade na maior parte das nado a tarefas de puxar ou empurrar cargas. Isso é par-
profissões e também causadora de muitos acidentes ticularmente preocupante se pensarmos que parte des-
de trabalho e afastamentos. sas lesões são graves e podem deixar o trabalhadores
O manuseio de cargas é responsável por grande incapacitados para o trabalho (CHAFFIN et al., 2001).

60
DESIGN

Levantamento de carga No caso do levantamento de cargas, as lesões mais


Ao levantar um peso com as mãos, essa carga é sus- comuns ocorrem na coluna vertebral, principal-
tentada pelos membros superiores e, também, pela mente, devido a posturas inadequadas durante a
coluna vertebral, bacia e membros inferiores. As- realização do esforço. Para compreendermos me-
sim, todos os segmentos corporais devem sustentar lhor as causas dessas lesões, é preciso entender um
seu próprio peso, o peso dos segmentos anteriores pouco mais da biomecânica dessa estrutura.
e ainda mais o peso adicional a ser transportado. A coluna vertebral é composta de vértebras so-
Quando esse peso é excessivo ou a postura realizada brepostas e alinhadas que permitem a sustentação e
é inadequada, os músculos e articulações trabalha- a mobilidade do tronco. Segundo Dangelo e Fattini
rão com sobrecarga, sob o risco de se lesionar. Le- (2011), a coluna é dividida em quatro partes:
vantar cargas pesadas que estão no chão e que não • Coluna cervical: é a região do pescoço, com-
proporcionem uma pega adequada são as piores si- posta por sete vértebras que sustentam a ca-
tuações. Uma pega adequada, por exemplo, oferece beça. São as menores vértebras da coluna e
possuem grande mobilidade.
espaço suficiente para colocar as mãos e não causa
compressão excessiva dos tecidos. • Coluna torácica: é composta por doze vérte-
bras que têm ligação com os ossos da coste-
figura 13: posturas inadequadas no levantamento de carga colocam o la, formando a caixa torácica. Por sustentar
organismo sob risco de lesões
a costela e proteger os órgãos internos, pos-
suem pouca mobilidade.
• Coluna lombar: é composta por cinco vérte-
bras bastante robustas que também possuem
bastante mobilidade, garantindo os movi-
mentos da cintura e quadril. É nessas vérte-
bras que o peso do tronco e membros supe-
riores é todo suportado e na qual também há
maior incidência de lesões.
• Coluna sacro-coccígea: é composta de
vértebras que estão fundidas em uma uni-
dade única, formada pelos ossos sacro e
cóccix, não tendo mobilidade. Estão liga-
das aos ossos do quadril e formam a base
da coluna.

61
ERGONOMIA

Figura 14: divisões da coluna vertebral

Lateral Dorsal Ventral

E
Figura 15: os discos interverte-
ntre cada vértebra há uma estrutura espon- brais sustentam e dão mobilidade
Às vertebras
josa chamada disco intervertebral que tem
a função de amortecer o peso e o impacto
entre as vértebras e permitir a mobilidade.
São essas estruturas que se deformam para permitir
que o nosso tronco se movimente.
A maior parte das lesões, por levantamento de
carga na coluna, podem ocorrer por estiramento
dos músculos extensores dorsais, especialmente
quando a carga é muito pesada ou o movimento
foi realizado bruscamente, mas também podem
ocorrer lesões nos discos intervertebrais, que nes-
se caso são de mais difícil recuperação (CHAFFIN
et al., 2001).

62
DESIGN

Quando estamos com a coluna curvada, os dis- Para evitar esse tipo de lesão, o levantamento de
cos ficam pressionados de um lado e esticados cargas deve ser realizado com a coluna na vertical,
do outro, para garantir o movimento. Se formos mantendo-se todas as vértebras alinhadas e priori-
levantar ou transportar muito peso com a coluna zando o esforço na musculatura das pernas, que são
curvada, esses discos sofrerão uma pressão extra, mais resistentes e capazes da realização de esforço.
podendo levá-los a extravasar o espaço da coluna. Assim, os músculos dorsais devem apenas estabili-
Isso caracteriza uma hérnia de disco (CHAFFIN zar a coluna e não realizar o levantamento da carga.
et al., 2001).
figura 16: discos intervertebrais rompidos SAIBA MAIS

Devido à importância e complexidade do le-


vantamento e transporte de carga em ambien-
tes ocupacionais, muitos estudos do trabalho
se utilizam de modelos biomecânicos para
simular essas atividades. Esses modelos po-
dem ser simuladores virtuais do corpo huma-
no, que fornecem parâmetros de risco ou de
adequação de alguma atividade simulada. Mas
também podem ser equações matemáticas,
em que as variáveis do trabalho são inseridas
para se calcular o risco de uma atividade.
Um desses modelos de equação foi desenvol-
vido pelo instituto National Institute of Occupa-
É importante lembrar que dentro da coluna tional Safety and Health (NIOSH) que permite
identificar riscos relacionados com as tarefas
espinhal passa a medula espinhal, um grande feixes de levantamento manual de carga, intimamente
de nervos (neurônios) que ligam todos os órgãos e relacionadas com lesões lombares, servindo de
membros até o cérebro. Quando o rompimento se base para a busca de soluções de projeto de
posto de trabalho que reduzam o estresse físico.
dá juntamente com a medula espinhal, a hérnia de
disco gera pressão na coluna e se torna um processo Fonte: Waters et al. (1993, p. 749).

muitíssimo doloroso.
figura 17: exemplificação de levantamento de carga mais eficiente

63
ERGONOMIA

Transporte de Carga
Os constrangimentos biomecânicos relativos ao saudáveis. A seguir exemplificamos algumas reco-
transporte de carga são relativamente os mesmos mendações para o levantamento e transporte de car-
relacionados ao levantamento de carga. A diferen- ga (LACOMBE, 2012; PALMER, 1976; IIDA, 2005).
ça é que nesse caso a carga já está sendo sustenta- • Manter a coluna ereta: é importante manter
da e deve ser agora transportada até seu lugar de os discos alinhados tanto no levantamento
destino. O peso extra provoca dois tipos de rea- quanto no transporte de cargas.
ções corporais (HAGBERG et al., 1995; NORDIN; • Fazer o levantamento ou transporte em
FRANKEL, 2003): etapas: se a carga for muito pesada, pode-
-se levantar até um ponto intermediário e
• Sobrecarga fisiológica nos músculos da co- depois terminar o levantamento. O mesmo
luna e membros inferiores, que trabalharão princípio serve para o transporte, podendo
mais intensamente e, consequentemente, te- fazer uma pausa no meio do percurso para
rão fadiga mais rápida. recuperação.
• Estresse postural devido à compressão das • Mantenha a carga próxima do corpo: quan-
articulações. do afastamos a carga do corpo, o esforço tor-
• Compressão de partes anatômicas, especial- na-se mais intenso e causamos sobrecarga
mente aquelas que estão em contato direto nos músculos dorsais.
com o peso a ser transportado. • Use cargas simétricas: cargas assimétricas
causam um desequilíbrio no tórax, sobrecar-
Por ser uma atividade de alto risco de lesões, alguns regando os discos intervertebrais.
cuidados devem ser tomados. A coluna vertical • Defina o caminho previamente: é muito
também deve ser mantida alinhada para haver uma comum durante o transporte de cargas ter
que superar obstáculos, como desviveis, de-
destruição adequada do peso ao longo do corpo. O
graus, mobílias, líquidos ou materiais que
peso da carga deve ser equilibrado para a capacidade estão no chão; esses obstáculos podem cau-
do indivíduo e sempre que possível deve-se dividir sar acidentes ao trabalhador transportando
a carga em cargas menores, ou utilizar dois ou mais cargas e por isso devem ser eliminados pre-
trabalhadores. viamente.
• Use sistemas auxiliares: quando for possível,
Recomendações para o levantamento pode usar transportadores mecânicos ou car-
e transporte de carga rinhos que desobrigam o trabalhador a sus-
tentar muito peso por muito tempo e permi-
Existem no Brasil algumas normas relativas ao le-
tem levar cargas mais elevadas.
vantamento e transporte de cargas. A NR18 estabe-
• Providencie pegas adequadas: é importante
lece que o limite máximo possível para o levanta-
que a carga a ser transportada tenha um lu-
mento de cargas é de 40kg e para o transporte de gar adequado para se segurar; isso evita que
60kg, ou seja, para transportar cargas maiores que a carga excessiva cause lesões nos tecidos das
40kg elas não podem ser retiradas do chão. Esses mãos e que evita que o trabalhador derrube o
limites foram considerados para homens adultos e material a ser transportado.

64
considerações finais

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, nós aprendemos um pouco mais sobre o sis-
tema musculoesquelético e como ele permite que realizemos nossas atividades
do dia a dia. Vimos como se dá o metabolismo gerador de energia no músculo e
quais são as restrições das capacidades desses tecidos e das articulações.
A fadiga muscular é um índice importante para compreender o limite de atu-
ação humano e ela está ligada a alguns fatores, como a exceção de forças de alta
magnitude, esforços repetitivos e contrações musculares estáticas. Nesses casos,
evitar as contrações estáticas e promover o repouso adequado é a melhor maneira
de evitar a sobrecarga muscular.
Ainda nessa unidade, compreendemos um pouco mais sobre as posturas de
trabalho e como elas podem ser benéficas à atividade que se desempenha ou que
podem causar malefícios ao organismo se forem executadas de maneira incorre-
ta. É importante lembrar também que, mesmo se a postura for correta, ela não
deve ser mantida por muito tempo, pois toda postura causa contração estática de
algum grupo muscular que levará à fadiga. Portanto, o mais indicado é sempre
fazer alternância postural.
Ao final, estudamos o levantamento e transporte de carga, uma das ativida-
des que mais causam acidentes e lesões no trabalho. As razões disso são diversas
e estão relacionados com posturas inadequadas e cargas excessivas que podem
prejudicar a estrutura anatômica da coluna vertebral, causando lesões. Dentre
as principais recomendações, podemos citar: respeitar os limites de carga para
cada trabalhador; manter sempre a coluna alinhada; usar carrinhos ou sistemas
auxiliares e dividir a carga. Dessa forma, conseguiremos prevenir que não haja
exaustão ou lesões nas estruturas da coluna vertebral.
Com isso, vimos os assuntos mais relevantes da biomecânica ocupacional que
indiscutivelmente são imprescindíveis para a atuação do designer, engenheiro ou
ergonomista. Apenas com o conhecimento das capacidades humanas que pode-
remos projetar produtos, ambientes e tarefas que sejam adequados e seguros.

65
atividades de estudo

1. Sobre o sistema musculoesquelético, assinale a alternativa CORRETA.


a. Os músculos esqueléticos são compostos de tecidos com fibras lisas.
b. Existem três tipos de músculos no corpo humano: os lisos, o cardíaco e os
músculos que envolvem os órgãos internos.
c. Os músculos esqueléticos funcionam em pares antagônicos, de forma que
quando um está contraído o outro está relaxado.
d. O sistema musculoesquelético é composto dos músculos, ossos, veias e
demais órgãos internos.

2. Associe a parte da coluna vertebral à sua respectiva descrição ao lado.


a. Cervical ( ) Contém 12 vértebras com mobilidade reduzida.

b. Torácica ( ) É composta de 7 vértebras menores e com grande mo-


bilidade.
c. Lombar ( ) São vertebras fundidas, formando os ossos sacro e
cóccix.
d. Sacrococcígea ( ) Composta de 5 grandes vértebras com boa mobilidade.

3. São funções do sistema musculoesquelético.


I. Dar estrutura ao corpo humano.
II. Permitir movimentação.
III. Dar proteção ao corpo humano.
IV. Produzir defesas do organismo.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas I, II e III estão corretas.
e. Todas estão corretas.

4. Sobre trabalho muscular e postura, complete as frases abaixo com os con-


ceitos apresentados na caixa.

Postura estática; postura dinâmica; contração muscular estática; contração


muscular dinâmica.

66
atividades de estudo

A ____________ é caracterizada pelo trabalho muscular, ou seja, por uma contração


muscular sem movimentação. Também é chamada de contração isométrica.
A ____________ é o trabalho muscular realizado com movimentação, ou seja, há
contração e relaxamento da musculatura.
Uma ____________ é aquela em que o indivíduo realiza poucos movimentos, per-
manecendo em geral no mesmo lugar, pode haver contração estática de al-
guns grupos musculares para se manter o corpo na mesma posição.
Uma ____________ é aquela em que o trabalhador realiza movimentos no posto
de trabalho, alterando a configuração de seus segmentos corporais e, conse-
quentemente, alternando as posturas.

5. Associe a postura à esquerda com os respectivos problemas ou constran-


gimentos que ela pode causar.

a. Postura em pé ( ) Fadiga nos músculos das costas (extensores


do dorso).
b. Sentado sem encosto ( ) Fadiga nos músculos dos ombros e braços.
c. Assento muito alto ( ) Fadiga nos pés e pernas e problemas circula-
tórios.
d. Assento muito baixo ( ) Pode comprometer a circulação na parte
posterior das pernas, que ficam pressiona-
das contra o assento.
e. Braços esticados ( ) Postura incorreta das costas e pescoço e ten-
dência a escorregar o corpo para a frente.

6. Sobre a postura de trabalho, assinale V para as afirmativas verdadeiras e


F para as falsas.
( ) A postura em pé é recomendada para atividades que precisam cobrir
uma grande área ou em que há deslocamentos frequentes.
( ) A postura sentada apresenta como principais vantagens o fato de libe-
rar os pés para atividades produtivas, ter um consumo menor de ener-
gia que a postura em pé e apresentar um ponto de apoio mais estável.
( ) A postura deitada é a que apresenta os menores gastos energéticos,
sendo, portanto, a mais adequada para o trabalho.
( ) A postura em pé pode causar dores nos pés e problemas de circulação
se mantida estaticamente.

67
atividades de estudo

( ) A postura sentada pode causar inúmeros problemas se for mantida de


maneira inadequada, por exemplo, dores na parte inferior das pernas,
joelhos e pés caso o assento esteja muito alto.

7. Sobre o levantamento e transporte de carga, assinale a alternativa CORRETA.


a. Flexões de tronco são mais fáceis de serem realizadas e consomem me-
nos energia no levantamento de carga que acionar a musculatura das per-
nas, por isso, é mais recomendado.
b. A capacidade para o levantamento de carga não varia entre os gêneros.
c. Para o transporte de carga é importante que se não ultrapasse a capaci-
dade individual e que sejam utilizados carrinhos ou apoios mecânicos se
possível.
d. Uma das dificuldades no levantamento de carga é o trajeto, quando há
desníveis no caminho, por exemplo, mas no transporte de carga isso é
desconsiderado.
e. Levantamento e transporte de carga são uma das menores causas de aci-
dentes e lesões na indústria.

68
LEITURA
COMPLEMENTAR

A manipulação de objetos é comum na maior parte das atividades da vida diária, na


qual as mãos, por meio, da ação conjunta do movimento de preensão com aplicação
de força muscular, executam a ação mecânica. O dimensionamento incorreto da de-
manda de força de um produto/atividade pode gerar limitações nas tarefas, tanto para
os usuários mais fortes (de mãos menos sensíveis), podendo provocar acionamentos
acidentais, quanto para os mais fracos, que trabalharão com sobrecarga de seu siste-
ma osteomuscular, sob risco de lesão, ou simplesmente de não conseguirem realizar
a atividade.
Essas exigências inadequadas de força têm levado a um aumento nos diagnósticos
de doenças ocupacionais relacionadas aos membros superiores (KATTEL et al., 1996).
Nos Estados Unidos, 45% do total de lesões na indústria estão associadas à aplicação
de forças com as mãos, transporte manual de cargas e uso de ferramentas manuais,
representando um custo anual de mais de 150 bilhões de dólares (AGHAZADEH; MITAL,
1987).
Além das doenças ocupacionais, são comuns os problemas de dimensionamento de
força em produtos de consumo. Em embalagens fechadas a vácuo ou que possuem
lacres de segurança para crianças, por exemplo, são frequentes as reclamações de in-
divíduos que não possuem força suficiente para utilizá-las. Neste grupo, incluem-se
principalmente mulheres e idosos – uma preocupação crescente, tendo em vista o au-
mento na expectativa de vida e o maior número de idosos vivendo sozinhos (VOORBIJ;
STEENBEKKERS, 2002).
Nesse contexto, Crawford et al. (2002) relatam que, no Reino Unido em 1994, houve 550
acidentes com a abertura de frascos de vidro e 610 acidentes com a abertura de frascos
de plástico, sendo estas ocorrências atribuídas ao uso de ferramentas cortantes, em-
pregadas para auxiliar a abertura de tampas duras e lacres difíceis de serem retirados
apenas com as mãos. Nesse estudo, também foram avaliadas nove embalagens dispo-
níveis no mercado e apontaram que seis apresentavam demanda de força superior à
capacidade dos idosos, e destas, duas apresentavam exigências superiores até à capa-
cidade de indivíduos adultos jovens. Outra pesquisa apontou que 20% dos idosos apre-
sentam dificuldades em abrir embalagens de vidro (VOORBIJ; STEENBEKKERS, 2002).
A grande incidência de doenças ocupacionais, acidentes e lesões é resultado, dentre ou-
tros fatores, da má qualidade e inadequação dos produtos no mercado. Nesse sentido,

69
LEITURA
COMPLEMENTAR

o design tem por principal objetivo encontrar a relação mais efetiva e segura entre o
trabalhador e a ferramenta, o que pode ser alcançado tanto pelo projeto de equipa-
mentos e tarefas que aliviem a carga biomecânica no ser humano, quanto pela escolha
de ferramentas adequadas à tarefa e ao trabalhador. Para isso, é necessário que sejam
feitos levantamentos da capacidade humana de realização de forças manuais.
[...]
Os fatores individuais (idade, antropometria e gênero), apesar de indiretamente relaciona-
dos com o projeto de produtos, são extremamente relevantes para o designer, pois indi-
cam características, capacidades e limitações do público usuário de determinado produto.
Um exemplo desta situação são os produtos produzidos para mulheres ou para idosos,
nos quais a exigência de força deve ser menor que produtos destinados a homens adul-
tos, por exemplo. Ilustrando estes argumentos, Voorbij e Steenbekkers (2002), em uma
avaliação simulada de abertura de frascos de vidro, recomendaram que a exigência de
força nessas embalagens não poderia ser superior a 2 Nm. Com esse pré-requisito, 97,6%
dos indivíduos com mais de 50 anos seria plenamente capaz de abrir estas embalagens.
Dentre os fatores biomecânicos e da tarefa, destacam-se as posturas com desvios de
punho, especialmente a flexão, como as mais prejudiciais para a realização de forças;
devem também ser evitadas posturas extremas e com restrição de espaço. Ao pensar o
projeto de pegas e manejos que exijam aplicações de grandes forças, deve-se priorizar
as preensões palmares em detrimento das digitais e providenciar maior espaço para
que mais dedos sejam envolvidos na preensão. Nas atividades que envolvam a execu-
ção de torque manual, sempre que possível, deve-se dar preferência aos movimentos
de flexo-extensão aos de prono-supinação, por gerarem maiores forças.
Algumas características dos produtos também devem ser consideradas. As pegas cujos
formatos possuem angulosidades ou um maior braço de alavanca, ou seja, apresentam
maior diferença na proporção entre a largura e altura (mais distantes do cilindro), po-
dem gerar maiores forças manuais. A presença de textura ou ranhuras também pode
aumentar a execução de forças manuais.
Em ações de torção do antebraço (torque) que exigem maior demanda de forças, devem
ser evitados formatos cilíndricos e acabamento muito liso, não se esquecendo também
que formas pontiagudas podem causar desconforto na manipulação. Para a tração, os
puxadores devem proporcionar uma área de contato suficiente para facilitar a preensão.

70
LEITURA
COMPLEMENTAR

O tamanho do objeto pode alterar significativamente a força manual. Blackwell et al. (1999) explicam que essa variável
pode estar condicionada ao comprimento da musculatura envolvida, sendo que a melhor condição para aplicação de
forças seria quando o músculo está próximo da sua posição de repouso, ao passo que condições adversas podem
ocorrer quando o músculo está encurtado (objetos muito pequenos) ou alongado (objetos muito grandes). O diâme-
tro de aproximadamente 50mm em pegas cilíndricas (preensões palmares), independentemente da ação realizada
(força de preensão, torque, tração), parece ser o mais adequado.
Quanto à posição e orientação do objeto, deve-se procurar, ao projetar produtos e tarefas, que as pegas ou manejos
(locais de acionamento manual) estejam localizados aproximadamente na altura dos ombros dos indivíduos e que o
sentido de aplicação seja preferencialmente horizontal.

Fonte: Razza et al. (2009, 39-54).

71
Ergonomia
Pierre Falzon
Editora: Edgard Blücher
Sinopse: Pierre Falzon é organizador deste livro que contém
textos de grandes pesquisadores de ergonomia. Está dividido
em quatro partes: introdução à disciplina, fundamentos concei-
tuais de ergonomia, metodologias e procedimentos de ação e
modelos de atividade e aplicação.
Comentário: Esse livro traz textos detalhados e discussões
avançadas sobre a maior parte dos temas abordados pela Ergonomia. Um livro recomenda-
do para quem se interesse em se aprofundar nesses estudos.

Biomecânica ocupacional
Don B. Chaffin, Gunnar B. J. Andersson e Bernard J. Martin
Editora: Ergo Editora
Sinopse: Este livro oferece base àqueles que buscam se utilizar
da biomecânica ocupacional em suas atividades, incluindo aca-
dêmicos, profissionais liberais, designers, engenheiros e espe-
cialistas em ergonomia, podendo se capacitar para a utilização
da ergonomia no projeto de produtos e processos.
Comentário: Trata-se de um livro bastante completo para quem
tem interesse em se aprofundar no conhecimento da biomecâ-
nica ocupacional.
referências

ABRAHÃO, J.; SZNELWAR, L.; SILVINO, A.; SARMET, M.; PINHO, D. Introdução à ergonomia: da prática à
teoria. São Paulo: Edgard Blücher, 2009.
ASCENSÃO, A.; MAGALHÃES, J.; OLIVEIRA, J.; DUARTE, J.; SOARES, J. Fisiologia da fadiga muscular. De-
limitação conceptual, modelos de estudo e mecanismos de fadiga de origem central e periférica. Revista Portu-
guesa de Ciências do Desporto. Vol. 3, no 1, p. 108–123, 2003.
BERNARD, B. Musculoskeletal disorders and workplace factors. A critical review of epidemiologic evidence for
work-related musculoskeletal disorders of the neck, upper extremity, and low back pain. National Institute for
Occupational Safety & Health, Publ nº 97.141, 1997.
BICEPS Muscle. Wikimedia Commons. Biceps. 2013. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/
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COLOMBINI, D.; OCCHIPINTI, E.; GRIECO, A. Risk assessment and management of repetitive movements
and exertions of upper limbs: Job analysis, Ocra risk indices, prevention strategies and design principles (Vol.
2): Elsevier, 2002.
CORLETT, N.; WILSON, J. R.; MANENICA, I. The ergonomics of working postures: models, methods and
cases. London: Taylor and Francis, 1986. 429p.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Editora Atheneu,
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FALZON, P. Ergonomia. São Paulo: Edgard Blücher, 2007.
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Interaction: Designing for Habitus and Habitat, v. 8, pp. 89-96; New York: ACM, 2008.
GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Bookman, 1998.
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73
ERGONOMIA

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Human Kinetics, 2005.
WATERS, T. R.; PUTZ-ANDERSON, V.; GARG, A.; FINE, L. J. Revised NIOSH equation for the design and
evaluation of manual lifting tasks. Ergonomics, v. 36, n. 7, 1993.

74
gabarito

GABARITO
1. C
2. B, A, D, C
3. D
4. Contração Muscular Estática; Contração Muscular
Dinâmica; Postura Estática; Postura Dinâmica.
5. B, E, A, C,D
6. V, V, F, V, V
7. C

75
ERGONOMIA
DO AMBIENTE

Professor Dr. Bruno Montanari Razza

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Iluminação
• Temperatura e umidade
• Ruído
• Vibração
• Substâncias químicas

Objetivos de Aprendizagem
• Explanar como é composta a luz, como avaliar a iluminação de um ambiente
ou posto de trabalho, quais critérios devem ser utilizados para seleção e
projeto de uma iluminação eficiente e confortável, e como utilizar as normas
técnicas de iluminação.
• Transmitir os conceitos de conforto térmico, regulação da temperatura
corporal pelo organismo, as consequências do trabalho em altas e baixas
temperaturas, e normatização sobre conforto e segurança.
• Demonstrar as diferenças entre som e ruído, o funcionamento do sistema
auditivo, os tipos de surdez e como podem ocorrer, limites de segurança de
exposição a ruídos e medidas de proteção e redução.
• Identificar os tipos de vibração que podem afetar o ser humano e como
prevenir seus efeitos.
• Apresentar os principais agentes químicos que os indivíduos podem estar
expostos em diversos ambientes profissionais, exemplificar os riscos, e
fornecer diretrizes de normas de segurança e medidas de proteção.
unidade

III
INTRODUÇÃO

O
lá, caro(a) aluno(a)! Você já notou como o meio em que esta-
mos nos afeta o tempo todo? E que essa influência gera diversas
reações no organismo e no nosso estado emocional? Por exem-
plo, quem nunca ficou desconcentrado ao ouvir um som desa-
gradável ou muito alto? Ou incomodado com uma quantidade de luz mui-
to forte? Bem, esses e outros fatores fazem parte da ergonomia ambiental.
A ergonomia ambiental estuda os elementos do ambiente que inter-
ferem no desempenho e conforto do ser humano, especialmente se as
condições do ambiente não forem ideais. Essa é uma área de estudo mui-
to importante, pois condições inadequadas do ambiente podem afetar o
indivíduo de diversas maneiras. Uma delas é a segurança, por exemplo,
quando estamos em um ambiente com pouca luz e podemos nos aciden-
tar ou esbarrar em objetos. O ambiente inadequado também pode afetar
nossa saúde, como quando estamos trabalhando com ruídos muito altos
que podem levar à surdez ou com máquinas que transmitem vibrações
ao organismo, podendo deteriorar nosso organismo.
O desempenho em nossas atividades também pode ser afetado quando há
condições inadequadas de iluminação, tornando a visualização de objetos ou
textos mais cansativa e demorada. Também pode afetar nossas emoções, crian-
do um estado de irritabilidade ou estresse, por exemplo, quando está muito
calor ou muito frio no ambiente, deixando-nos menos aptos para o trabalho.
O corpo humano recebe as influências do meio ambiente por meio
dos órgãos dos sentidos. Por meio de estruturas especializadas, o orga-
nismo capta informações do ambiente, como a luz, ruído, temperatura
etc., e a transforma em impulsos elétricos transmitidos até o cérebro para
reagir a esses estímulos ou tomar decisões. Por meio dos órgãos dos sen-
tidos que percebemos o ambiente a nossa volta e podemos atuar nele.
Nessa unidade, estudaremos como o ambiente pode interferir em nossas
atividades e como podemos configurá-lo para atingir as condições ideais
de trabalho e conforto para os seres humanos.
ERGONOMIA

ILUMINAÇÃO
Iniciaremos o estudo de ergonomia ambiental pela ilu- bastante atenção e precisão na visualização, como o
minação, pois esse é um dos elementos mais determi- de ourives, leitura, desenhos etc. (IIDA, 2005).
nantes para a qualidade do trabalho. O maior avanço O desenvolvimento da iluminação artificial se
em termos de iluminação ocorreu com a invenção da deu no fim do século XIX, mas, principalmente, no
lâmpada elétrica por Thomas Edison, em 1878. Antes início do século XX, pois era necessária a constru-
da iluminação elétrica, as residências, comércios e in- ção de toda a rede elétrica das cidades para permitir
dústrias eram dependentes da iluminação natural ou a sua distribuição. Esse invento permitiu um au-
da luz de chamas (velas ou candeeiros). mento médio de 4 horas nas atividades produtivas
Como esse tipo de iluminação artificial era mui- humanas e melhoria do conforto, qualidade do tra-
to ineficiente a quantidade de luz gerada era muito balho e da segurança. No entanto, antes de iniciar-
baixa deixando os ambientes escuros. Isso prejudi- mos o estudo do projeto de iluminação, é necessário
cava muito a qualidade do trabalho em fábricas e es- compreender como funciona o mecanismo da visão
tabelecimentos comerciais, em especial para aqueles e como ele pode ser afetado pela qualidade da ilumi-
que têm grande demanda visual, ou seja, que exige nação do ambiente.

80
DESIGN

figura 1: estrutura anatômica do olho


O ÓRGÃO DA VISÃO
O sentido visual é o mais importante para o seres
humanos, pois, evolutivamente nos adaptamos a uti-
lizar principalmente a visão para conseguir alimento
e nos defender de fatores agressores da natureza. A
ausência da visão é uma das deficiências dos canais
sensoriais que mais restringe as opções de trabalho
e a qualidade de vida do ser humano (RAZZA; PAS-
CHOARELLI, 2015).
Os olhos captam a imagem por meio da luz que A retina é recoberta de células fotossensíveis que con-
atravessa a íris pela pupila. A íris é a parte que dá a seguem captar a luz e transformá-la em impulsos elé-
cor aos olhos e tem a função de controlar a quanti- tricos, transmitidos até o cérebro e interpretado como
dade de luz que entra nos olhos por meio da pupila imagem, formando assim a nossa visão. A transmissão
(orifício central da íris), por um movimento cha- da imagem se dá pelo nervo ótico e seu ponto de saída
mado de adaptação. Em seguida, a luz atravessa o da retina não apresenta células fotossensíveis, configu-
cristalino, que é a lente dos olhos no qual ela é dire- rando-se como nosso ponto cego. Essas células fotos-
cionada para se obter o foco na imagem e projetá-la sensíveis são neurônios especializados e divididos em
na retina (IIDA, 2005). dois grupos: os cones e os bastonetes (FENKO, 2010).

SAIBA MAIS

O movimento de adaptação da íris tem suas peculiaridades. Quando saímos de um ambiente escu-
ro e adentrados a um ambiente muito claro, por exemplo, quando se abre a janela de um quarto
escuro, ocorre um ofuscamento temporário da visão que pode chegar a ser dolorosa dependendo
a intensidade de luz. Isso ocorre porque a íris deixou a pupila bastante aberta (relaxada) para a
entrada de bastante luz, como forma de se adaptar ao ambiente escuro. Essa adaptação, no entanto
é rápida, levando apenas alguns segundos.

O contrário também ocorre. Quando estamos em um ambiente claro e adentramos em um ambiente


muito escuro, ficamos totalmente cegos de início, pois, a pupila estava bastante contraída para se
adaptar à maior quantidade de luz. Essa adaptação, no entanto, leva maior tempo para ocorrer, pois,
ela depende exclusivamente do relaxamento do tecido da íris e não da atuação muscular, como no
caso anterior.

Fonte: Iida (2005, p. 84).

81
ERGONOMIA

Os cones são as células adaptadas a perceber as cristalino para formar uma imagem. Ela depende da
cores e possuem uma maior acuidade visual, ou seja, distância focal, ou seja, da distância que está o obje-
precisão na formação das imagens. Estão localizadas to focado. Assim, quanto mais próximo está o obje-
predominantemente em uma região especializada to, mais contraído estará o cristalino e, consequente-
da retina chamada fóvea central, que é a região onde mente, estará mais esticado (relaxado) para objetos
o foco da imagem é formado. Na região periférica mais distantes. O músculo ciliar é o responsável por
estão concentrados os bastonetes. Essas células con- esse movimento de acomodação e, também, pode
seguem apenas diferenciar luz e sombra, formando estar sujeito à fadiga, que é comum quando fazemos
imagens em preto e branco. Uma característica des- fixações ou leituras em objetos próximos por tempo
sas células é que elas são bastante sensíveis a imagens prolongado .
em movimento, aguçando a nossa visão periférica e
figura 2: anatomia do aparelho visual
chamando a atenção a movimentos que não estejam
no foco visual. Por serem mais sensíveis à luz que os
cones, são as células responsáveis pela visão noturna
(FENKO, 2010; IIDA, 2005).

SAIBA MAIS

Você já percebeu que à noite ou em condi-


ções com pouca iluminação, nós não con-
seguimos distinguir as cores? Isso ocorre
porque os cones precisam de maior quan-
tidade de luz para serem sensibilizados a
formarem uma imagem. Os bastonetes, por
serem mais sensíveis, conseguem estabe-
lecer a formação de imagens, porém, sem Fonte: Adaptado de EYE (online, 2006).
muita precisão e também sem cores. Ilustração: Bruno Pardinho

Fonte: Iida (2005, p. 84).


O movimento de convergência é a capacidade dos
olhos se moverem coordenadamente para realizar a
focalização de uma imagem. Para isso são necessá-
Para a visão ocorrer de forma precisa, dois movi- rios os movimentos de três músculos em cada olho.
mentos oculares são necessários: o movimento de A pequena diferença entre a imagem formada por
acomodação e o de convergência (IIDA, 2005). Aco- um olho e por outro é que permite ao cérebro a sen-
modação é o movimento de contrair ou relaxar do sação da visão tridimensional.

82
DESIGN

figura 3: movimento de convergência para uma distância focal maior (acima) e para uma distância focal menor (abaixo)

Fonte: Oliveira (2002).

Outro movimento característico dos olhos é o movi- QUANTIDADE DE LUZ DO AMBIENTE


mento sacádico. Os olhos não fazem acampamento O projeto adequado de iluminação é um dos fato-
visual continuamente, mas sim aos saltos. Por exem- res mais importantes para a eficiência do trabalho
plo, quando lemos um livro, os olhos não fazem fi- e conforto do ser humano. Um elemento decisivo é
xações contínuas ao longo das linhas, mas sim fixa- a iluminância (ou iluminamento), ou seja, a quan-
ções em determinados pontos que permitem a visão tidade de luz que incide sobre uma superfície. Sua
contínua da linha inteira. unidade de medida é o lux e pode ser mensurada
Isso é possível ser percebido quando estamos em por meio do uso de luxímetros (aparelhos com cé-
um veículo em movimento. E se tentarmos visuali- lulas fotovoltaicas sensíveis a luz). O nível de ilumi-
zar o exterior continuamente, veremos tudo desfo- nância interfere no mecanismo da visão, podendo
cado, mas se fixarmos em algum objeto, o olho fará levar a fadiga visual, estresse e a outros sintomas
o acompanhamento visual. O limite para a acomo- como cansaço e dor de cabeça (MORAES; MON-
dação visual (focalização em um objeto) é de 4 ima- TALVÃO, 1998).
gens por segundo. No Brasil, a norma ABNT NBR 5413 apresen-
ta a recomendação da iluminância (quantidade de
luz) de um ambiente de acordo com a exigência vi-
REFLITA sual de cada atividade. Na sequência, a tabela apre-
senta alguns exemplos de atividades e a respectiva
recomendação de iluminância. A recomendação
A visão é o principal sentido no ser humano,
mas para deficientes visuais, o tato passa a ser apresentada na tabela são os valores mínimos e de-
o sentido mais importante. Portanto, como vem ser usados apenas quando as condições forem
você imagina que seja a percepção do mundo ideais. No entanto, dependendo das características
por um deficiente visual?
da atividade, como a presença de sombras, ofusca-
Fonte: Adaptado de Kastrup (2015). mento ou baixo contraste, a quantidade de lux deve
ser maior.

83
ERGONOMIA

tabela 1. recomendação de iluminância para ambientes e atividades


Conforme dito anteriormente, um elemento impor-
Ambiente Quantidade de lux
ou atividade mínima recomendada tante para se considerar a quantidade de luz adequa-
Sala de espera 100 da para cada tarefa é o contraste existente entre figu-
Garagem, residência e ra e fundo, ou seja, entre o objeto visualizado e o seu
150
restaurante meio. Por exemplo, em peças pequenas, com baixo
Depósito e indústria contraste (feitas de um único material, única cor ou
200
pesada acabamento) o reconhecimento de detalhes do obje-
Sala de aula 300 to é mais demorado e mais difícil, sendo necessária
Lojas, laboratórios e uma melhor iluminação.
500
escritórios
Sala de desenho (tra- PLANEJAMENTO DA
1000
balho de precisão)
ILUMINAÇÃO DO AMBIENTE
Serviços de alta preci-
2000 Caro(a) aluno(a), já aprendemos como funciona a
são (sala cirúrgica)
visão e a importância da quantidade de luz adequa-
Fonte: NBR (1992).
da para determinadas atividades. Agora, veremos
algumas recomendações para o planejamento da
SAIBA MAIS iluminação do ambiente, tornando-o mais seguro,
produtivo e confortável.
Um dos primeiros critérios é utilizar a luz natu-
Até os anos de 1950, a recomendação
de quantidade de iluminamento de uma ral sempre que possível. As principais vantagens é
fábrica, por exemplo, era de 10 a 50 lux que ela é gratuita e tem papel importante na regu-
(atualmente, esse índice está abaixo da re-
lação de funções orgânicas, como o ciclo do sono
comendação para iluminamento de locais
com pouca necessidade de iluminação como e a sintetização de vitamina D. As desvantagens da
corredores e estacionamentos, por exem- luz natural é que ela varia muito durante o dia, sen-
plo). Nessa época, uma fábrica de tratores
do muito fraca ou muito forte em alguns momentos
aumentou a quantidade de iluminamento
de 50 para 200 lux e conseguiu uma redu- (MIGUEL, 2012). Assim, ela precisa ser controlada e
ção de 32% na quantidade de acidentes de complementada com iluminação artificial.
trabalho. Considerando também que uma
Existem três tipos de iluminação artificial: a ilu-
quantidade de luz adequada melhora o ren-
dimento do trabalhador e diminui os erros minação geral, a iluminação localizada e a ilumina-
do trabalho, o investimento em iluminação ção combinada.
adequada não se configura em gasto, mas
sim em economia. • A iluminação geral é dependente de vários
fatores, como o tipo de lâmpada empregada, a
Fonte: Iida (2005).
distribuição das luminárias, distância do teto,
material e acabamento do teto e paredes etc.

84
DESIGN

• A iluminação localizada é aquela compos-


TENCOURT, 2011).
ta por luminárias de mesa ou localizadas no
ponto de trabalho. Sua maior vantagem é con- A escolha do tipo de lâmpada é de fundamen-
seguir uma maior potencia luminosa no pon- tal importância. As lâmpadas incandescentes apre-
to de operação ou de visualização, sem o cus- sentam pouca eficiência energética, ou seja, têm um
to necessário de iluminar o ambiente inteiro. consumo maior para a mesma quantidade de luz
• A iluminação combinada é composta de gerada, pois, perdem muito da energia na forma de
uma iluminação geral complementada por
calor. As lâmpadas fluorescentes têm desempenho
luminárias localizadas. Esse último sistema
melhor, mas também, apresentam o efeito estrobos-
geralmente é empregado quando há uma ne-
cessidade específica de grande iluminância cóbico, isto é, essas lâmpadas não ficam constante-
na tarefa (BITENCOURT, 2011). mente acesas, mas sim acendem e apagam intermi-
tentemente muito rápido.
figura 4: tipos de sistemas de iluminação
Esse efeito não é visualizado normalmente, mas
pode ser prejudicial quando está trabalhando com
peças em movimento, como em tornearias ou fre-
sadores. Assim, é indicado haver várias luminárias
com luz fluorescente distribuídas no ambiente para
minimizar esse efeito. Por fim, a iluminação de LED
é a mais econômica e, também, mais duradoura que
as anteriores, embora apresente um custo mais alto
de instalação (RIO; PIRES, 1999).
É importante também ficar atento à posição
das luminárias da iluminação geral, para evitar a
formação de sombras sobre o trabalho. O indicado
é que haja uma distribuição mais homogênea das lu-
minárias por todo o ambiente, de forma que as som-
bras fiquem mais difusas.
Fonte: MÁSCULO e VIDAL (2011). O acabamento das superfícies do mobiliário e
mesas também deve ser pensando para evitar re-
Além dessas, também existem outros dois tipos: ilu- flexos na visão dos trabalhadores ou nas telas dos
minação de emergência, acionadas quando há falta computadores. O ideal é que as superfícies de traba-
de energia, e a iluminação de segurança, que tem a lho tenham acabamentos foscos, mas se isso não for
função de indicar saídas de emergência, extintores possível, o planejamento da iluminação e da locali-
etc. Essa última é usada principalmente em ambien- zação dos postos de trabalho deve cuidar para evitar
tes de poucas luz, como bares e casas noturnas (BI- esses problemas.

85
ERGONOMIA

figura 5: dependendo da posição da iluminação, pode gerar reflexos na superfície de trabalho

Fonte: GRANDJEAN (1998).

Outra questão importante no planejamento da ilu- quada, pode levar à fadiga visual. Conforme vimos
minação é o ofuscamento. Esse fenômeno ocorre anteriormente, os olhos fazem diversos movimentos
quando existe um ponto luminoso próximo ou no para conseguir focar a imagem e captar a visão com
mesmo campo visual de um objeto que precisamos clareza. Em situações com pouco contraste, baixa
ver. Um exemplo fácil de compreender é o ofusca- iluminação ou ofuscamento, os olhos podem ter que
mento causado pelo farol de um carro na via inversa fazer mais movimentos de fixação e por mais tempo,
quando dirigimos à noite. levando rapidamente à fadiga.
O incômodo visual geral é devido ao confli- Os principais sintomas da fadiga visual são:
to enfrentado pela íris para controlar a entrada de dor, irritação, lacrimação, vermelhidão, visão du-
luz, pois, o objeto focalizado está mais escuro que a pla, dor de cabeça, conjuntivite, redução dos mo-
quantidade de luz incidente sobre a visão. Isso tam- vimentos de acomodação e convergência, redução
bém pode ocorrer nos ambientes internos, quando da acuidade visual. Em geral levam a estresse, dor
a posição das luminárias está muito baixa ou dei- de cabeça, cansaço e perda do rendimento de tra-
xando a luz exposta afetando diretamente a visão. balho (MÁSCULO; VIDAL, 2011). Dessa forma,
Luminárias embutidas ou com rebatedores são in- para ser evitada a fadiga visual é necessário um
dicadas para reduzir a incidência de ofuscamentos bom planejamento da iluminação do ambiente de
(GRANDJEAN, 1998). acordo com a necessidade de cada atividade a ser
Quando a iluminação do ambiente não é ade- realizada.

86
DESIGN

87
ERGONOMIA

TEMPERATURA
& UMIDADE
Agora, abordaremos um pouco os fatores climáticos utiliza para manter a temperatura interna é dado o
da temperatura e umidade e como eles podem afetar nome de termorregulação.
nosso desempenho no trabalho e nosso bem-estar. A temperatura interna ideal permanece em tor-
E também o conceito de conforto térmico e quais as no de 36,5°C, mas alguns fatores podem romper
medidas que podemos adotar para adequar o am- com esse equilíbrio e isso afeta a nossa saúde. A
biente ou nos proteger de situações adversas. hipotermia ocorre quando a temperatura corporal
está baixa, que ocorre principalmente devido a ex-
TERMORREGULAÇÃO posição ao frio intenso. A hipertermia é a elevação
Nós, seres humanos, somos seres homeotermos, ou da temperatura corporal acima de 37,5°C, podendo
seja, nosso organismo regula a temperatura interna ocorrer por exposição ao calor intenso e, também,
em um nível ideal para o funcionamento dos siste- em decorrência de problemas de saúde e infecções,
mas orgânicos. Aos mecanismos que o organismo se que levam a surgimento de febre. Em casos extre-

88
DESIGN

mos, a desregulação térmica pode ser fatal quando ta-se de um conjunto de transformações e reações que
temperatura corporal estiver abaixo de 32°C (hipo- ocorrem em um organismo vivo. Geram calor, propor-
termia) ou acima de 42°C (hipertermia) (FROTA; cionalmente, ao nível de consumo de calorias e da ati-
SCHIFER, 2001). Por isso, é muito importante com- vidade humana, assim quanto mais pesada a atividade,
preender quais fatores internos e externos podem maior a geração de calor. Há pessoas que têm natu-
influenciar no controle térmico no ser humano, para ralmente maior sensibilidade ao frio ou ao calor que
garantir uma melhor saúde e condições de trabalho. outros, fazendo parte das características individuais.
Ao contrário do que se pode supor, a temperatu- Externamente ao organismo, o conforto térmico
ra interna não está igualmente distribuída ao longo depende da combinação da temperatura, umidade
do corpo. Nos órgãos internos, o organismo traba- relativa e velocidade do ar. A combinação desses
lha para mantê-la no estado de homeostase, ou seja, elementos levou ao desenvolvimento do conceito de
de temperatura e condições internas estáveis, mas se sensação térmica. A presença de vento é um fator
medirmos a temperatura de outras regiões, em es- que faz diminuir a temperatura percebida, ou seja a
pecial das extremidades dos membros superiores ou sensação térmica.
inferiores, podemos encontrar temperaturas relati-
vamente mais baixas. SAIBA MAIS
O órgão responsável para captação de estímulos
de variação da temperatura do ambiente é a pele. Na
Condução é a troca de calor pelo contato com
epiderme há receptores (neurônios) especializados outros corpos de diferentes temperaturas.
para captarem informações de temperatura, pressão, Quando encostamos nossa pele em um metal
e o sentimos gelado, logo o calor da nossa
textura e dor. Esses estímulos recebidos pela pele são
pele é transmitido ao metal por condução,
transmitidos até o cérebro que toma decisões para aquecendo-o, ao mesmo tempo que o frio
adaptarmos o organismo e manter a homeostase. também é absorvido por nossa pele, haven-
do a troca térmica. Os efeitos da condução
geralmente são desprezados na ergonomia,
CONFORTO TÉRMICO pois, as vestimentas e EPIs (equipamento de
A percepção de conforto térmico é uma medida sub- proteção individual) realizam o isolamento.
jetiva que varia de pessoa para pessoa e depende de Convecção é a troca de calor pela camada de
ar, onde a movimentação do ar tem o efeito
fatores internos ao organismo e de fatores externos.
de diminuir a temperatura da pele. Quando
Por definição, é a condição da mente que expressa a o vento está mais forte, ou seja, quando o ar
satisfação com o ambiente em termos de temperatu- se movimenta em maior velocidade, o calor
superficial da pele acaba sendo retirado por
ra e umidade. A faixa de conforto térmico é estreita,
convecção, resfriando a pele. Outro efeito do
variando poucos graus e depende de diversos fato- movimento do ar em dias quentes é retirar
res, como tipo de atividade que está sendo realizada, a camada de umidade da pele causada pela
transpiração, facilitando também o resfria-
a vestimenta, idade, sexo, época do ano, nutrição,
mento do organismo.
metabolismo etc.
Fonte: Falzon (2007).
Um dos fatores que têm grande influência no con-
forto térmico é o metabolismo. Resumidamente, tra-

89
ERGONOMIA

figura 6: trabalhador exposto a baixas temperaturas


Por sua vez, a umidade pode aumentar ou dimi-
nuir a sensação térmica. Por exemplo, em dias úmi-
dos, a absorção da umidade da pele pelo ar é menor,
pois o ar está saturado de umidade. Se fizer calor,
provavelmente, a transpiração será pouco efetiva
porque dificilmente a umidade extra será absorvida
pela atmosfera. Por outro lado, em dias secos, a eva-
poração da umidade da pele é rápida, mas também,
pode causar perda excessiva de umidade, causando
ressecamento da pele, das mucosas e causar proble-
mas respiratórios. Assim, devido à combinação da
umidade com a velocidade do vento que é possível
ter uma temperatura efetiva (real) de, por exemplo,
25°C e uma sensação térmica de 18°C.
A faixa de conforto térmico é bastante restrita. Ela
está definida em uma faixa de temperatura que vai de
20°C a 24°C, com umidade variando entre 40% e 60%.
Essa zona de conforto térmico é muito difícil de ser ob- O trabalho em baixas temperaturas, por exemplo,
tida naturalmente, sendo necessário o uso de controles em câmaras frigoríficas, pode ser muito penoso ao
de temperatura artificiais, como circulação de ar força- trabalhador. Há uma redução da força e do controle
da (ventiladores e exaustores), aquecedores e condicio- muscular, pois os músculos e articulações ficam mais
nadores de ar (IIDA, 2005). No verão é ideal que a tem- enrijecidos, diminuindo o movimento e a precisão.
peratura esteja um pouco mais alta, devido ao uso de Dessa forma, é exigido do trabalhador um maior es-
roupas mais leves e no inverno um pouco mais baixa. forço para a realização dos movimentos, que conse-
quentemente, aumentará a sua fadiga. Também colo-
TRABALHO EM BAIXAS TEMPERATURAS ca o trabalhador sob risco de maiores erros, devido
Quando estamos em um ambiente frio, uma das pri- a perda de precisão das tarefas. Atividades como a
meiras reações do corpo é eriçar os pelos que reco- de açougueiro ou de desossa em frigoríficos são par-
brem o corpo. Isso promove ajuda para manter o ar ticularmente arriscadas. O uso de vestimentas ade-
quente mais próximo da pele, evitando que ele seja quadas para a proteção térmica e EPIs (equipamen-
levado. Outra adaptação possível é o tremor muscu- tos de proteção individual) é bastante recomendado.
lar, pois, o aumento da atividade muscular distribu- As principais reclamações dos trabalhadores são nas
ída ao longo do corpo gera calor e contribui para a mãos e dedos, punhos, pés e ombros, que são áreas
manutenção da temperatura corporal. As veias re- do corpo mais sujeitas ao efeitos da baixa tempe-
duzem o calibre e passam a circular menos nas ex- ratura. Além disso, temperaturas inferiores a 15ºC
tremidades do corpo, como mãos, pés, nariz e ore- causam queda de concentração, na incapacidade in-
lhas, mantendo o sangue quente para o órgãos vitais. telectual e motora (IIDA, 2005).

90
DESIGN

TRABALHO EM ALTAS TEMPERATURAS


Em um ambiente quente, quando a temperatura in- Conforme um corpo é aquecido, ele passa a transmi-
terna do corpo começa a subir, o organismo reage tir calor por meio de radiação, ou seja, é a troca de
primeiramente dilatando as veias e enviando uma calor entre os corpos por emissão de ondas.
maior quantidade de sangue para as extremidades O tipo de onda emitida depende da temperatura
do corpo. Isso faz com o que calor interno fique mais do corpo. Até 100°C, as ondas são longas, ou seja, na
próximo da pele e possa ser resfriado para entrar faixa do infravermelho. As ondas dessa faixa (de 1 a
novamente no organismo. Ao mesmo tempo, a taxa 1,5 mícrons) penetram em maior profundidade na
de batimento cardíaco aumenta, fazendo o sangue pele, promovendo o aquecimento do corpo interna-
circular mais rapidamente. mente. É a mesma sensação quando sentimos o sol
Além disso, a única maneira que o organismo da manhã ou do fim de tarde.
possui para reduzir o calor é por meio da transpi- A partir dos 500°C começa a haver emissões no
ração. A pele começa a secretar suor que, ao virar espectro visível, ou seja, começa a emitir luz verme-
vapor, rouba calor da pele, resfriando-a. Quando o lha. Isso é um indicativo que a radiação de calor já
suor começa a se condensar sobre a pele, é sinal de está bem mais forte. Aos 1000°C os corpos ficam
que a taxa de transpiração está mais alta que a capa- esbranquiçados, transmitindo radiação em todo o
cidade do ar em absorver a umidade e, portanto, o espectro luminoso. Radiações desse tipo transmi-
resfriamento do corpo fica prejudicado. tem ondas que podem levar a queimaduras na pele.
Em muitas atividades industriais, o trabalha- Quanto maior a radiação, maior deve ser a preo-
dor está convivendo com caldeiras e materiais su- cupação em impedir que ela atinja o trabalhador
peraquecidos, como em fundições ou metalúrgicas. (IIDA, 2005).
figura 7: radiação térmica atingindo trabalhador
SAIBA MAIS

O organismo humano é capaz de produzir


até 500ml de suor por m2 de pele em uma
hora. Um homem adulto tem em média
1,8m2 de pele, podendo produzir até 900ml
por hora. Essa capacidade varia entre os
indivíduos e pode haver uma adaptação ao
calor.
Um cavalo, por exemplo, produz apenas
100ml. Portanto, usar a expressão “suando
feito um cavalo” para designar alguém que
está transpirando muito é errado.

Fonte: Tortora e Derrickson (2012).

91
ERGONOMIA

Muitas atividades sob altas temperaturas também Nessa situação, o organismo trabalha em des-
estão associadas a trabalhos pesados. Atividades vantagem, devendo reduzir a sua atividade para
industriais, trabalhadores de rodovias, minerado- não gerar mais calor. Caso o trabalhador continue
res estão sujeitos a realizar grandes esforços físicos em atividade intensa, pode ocorrer uma desregula-
em temperaturas elevadas e ainda utilizando grossas ção térmica, com aumento da temperatura corporal
roupas de proteção. Isso pode levar a uma sobrecar- e colocando o trabalhador em estado febril. Nesse
ga do sistema cardiorrespiratório. caso, temperaturas internas de até 39,5°C são tolera-
A atividade muscular intensa exige maior de- das por curtos períodos. Aos 41°C há deteriorações
manda sanguínea, ou seja, o coração precisa bom- irreversíveis nos órgão e tecidos do organismo e aos
bear mais sangue para alimentar os músculos em 42°C leva a óbito (IIDA, 2005).
trabalho constante. Mas também, devido ao calor, Além das implicações físicas no organismo, o
o sangue também fluirá para as extremidades do calor excessivo também traz perturbações psíquicas,
corpo, na tentativa de promover o resfriamento do como sensação de desconforto, irritabilidade, falta
organismo. Isso pode levar a um déficit de sangue no de concentração, erros, queda no rendimento, redu-
corpo e a uma sobrecarga cardíaca. ção da precisão e aumento de acidentes. Vestimen-
A transpiração excessiva também pode levar à tas e EPIs adequados são necessários para melhor a
desidratação e se não for associada à ingestão ade- qualidade de vida do trabalhador. Quando não for
quada de líquidos, pode agravar ainda mais o siste- possível remover o trabalhador da condição de des-
ma cardiovascular, deixando o sangue mais viscoso vantagem térmica, é necessário conceder pausas na
e prejudicando o bombeamento sanguíneo. atividade.

figura 8: trabalho pesado sob temperaturas elevadas

92
DESIGN

93
ERGONOMIA

RUÍDO
Agora, compreenderemos um pouco mais sobre também se propaga na água e em outros meios.
som e ruído, como eles podem ser úteis ou danosos Antes de iniciarmos a discussão sobre o som e o ru-
ao indivíduo e o que podemos fazer para melhorar ído, é importante compreendermos como o nosso
nossas condições de trabalho e nos prevenir contra organismo consegue interpretar vibrações do ar em
perdas auditivas. informações compreensíveis ao cérebro.
O som, por definição, consiste em flutuações
de pressão (vibrações) em um meio, ou melhor di- APARELHO AUDITIVO
zendo, consiste na interpretação das flutuações de A função do ouvido é captar e converter ondas de
pressão em um meio em som, pois o som em si é pressão do ar (vibrações) em sinais elétricos que são
uma percepção e não um elemento físico. No caso transmitidos ao cérebro para produzir sensações so-
dos seres humanos, nosso ouvido está adaptado para noras. No entanto, para ocorrer essa conversão, di-
interpretar as flutuações de pressão do ar, mas o som versos processos ocorrem.

94
DESIGN

Então, vamos entender como funciona o aparelho da aos ossículos internos chamados bigorna, martelo
auditivo. Primeiramente, a vibração do ar entra pela e estribo, devido ao seu formato. A função desses os-
cavidade auditiva sendo conduzido pelo pavilhão au- sículos é amplificar a vibração recebida pelo tímpano
ditivo (orelha) pelo conduto auditivo externo até o e transmitir até a cóclea, por sua ligação na membra-
tímpano. O tímpano é uma membrana bastante fina na da janela oval. Esta membrana é semelhante ao
e flexível que vibra juntamente com o ar de forma se- tímpano, mas recebe vibrações mais amplificadas e a
melhante a um tamborim. Essa vibração é transmiti- distribui na cóclea (GRANDJEAN, 1998).
figura 9: o aparelho auditivo e suas partes constituintes

Fonte: Adaptado de BLAUSEN (online, 2013).

A cóclea consiste em uma câmara com formato de (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005).


caracol preenchida com fluído. Conforme a vibra- O formato peculiar da cóclea se deve à sua espe-
ção é transmitida pela membrana da janela oval, ela cialização em captar sons de diferentes frequências.
move o líquido no interior da cóclea distribuindo a Os mais agudos são vibrações de maior amplitude,
vibração por todo o interior. Por dentro, toda a sua mas também têm alcance mais curto, por isso, são
parede é revestida por células ciliares adaptadas que captados nas primeiras câmaras. Os sons mais gra-
recebem essas vibrações as convertem em impulsos ves possuem um alcance mais longo e são captados
nervosos, levado até o cérebro pelo nervo auditivo nas câmaras mais profundas da cóclea.

95
ERGONOMIA

figura 10: cóclea em corte transversal. é possível notar as diferentes


SAIBA MAIS
câmaras que a formam para captar sons de diferentes frequências

No ouvido há também duas estruturas muito


importantes chamadas de canais semicircu-
lares e vestíbulo. Eles estão anexos à cóclea
e também são anatomicamente semelhante,
mas não têm função auditiva. Os canais são
também preenchidos por um líquido e reves-
tidos por células ciliares, muito semelhantes
à cóclea, mas ao invés de captarem os sons,
eles captam mudanças de aceleração e desa-
celeração corpo.
Os canais são organizados na forma de três
eixos, como se representassem os eixos X, Y e Z
(largura, altura e profundidade), conseguindo
captar movimentos em todos os sentidos. Com
isso, conseguimos ter a noção de equilíbrio e
do posicionamento do corpo no espaço. A esse
sentido, damos o nome de sentido vestibular.

Fonte: Oliveira (2002).

SOM E RUÍDO
Agora que entendemos como funciona o aparelho
Fonte: Adaptado de LIMACON (online, 2011).
auditivo, podemos voltar a falar dos sons. O som é
composto por três características: a frequência, a in-
figura 11: na imagem estão indicadas as transformações de energia pelas
quais passa o som até ser transmitido ao cérebro. em marrom, temos a vi- tensidade e a duração (FALZON, 2007).
bração do ar; em verde, vibrações mecânicas; em roxo, pressões hidráulicas
A frequência é designada pelo número de flutu-
ações, vibrações ou ciclos por segundo, medida em
Hz (1 ciclo/segundo = 1 Hz). Em ondulatória repre-
senta o comprimento de onda. Comprimentos de
ondas maiores geram frequências ou ciclos menores
e configuram os sons graves. Frequências maiores
apresentam comprimentos de onda menores e ca-
racterizam os sons agudos. Até 1000Hz um som é
considerado grave e acima de 3000 Hz um som é
considerado agudo. O ouvido humano percebe sons
de 20 a 20.000 Hz.
A intensidade é determinada pela amplitude da
onda sonora, ou seja, sons mais intensos (altos) são

96
DESIGN

produzidos por ondas sonoras com maior amplitu- põem o barulho da cidade. Mas para o motorista ele
de e sons menos intensos são produzidos por ondas transmite informações importantes, como a hora de
de amplitude menor. A sua unidade de medida é os trocar de marcha ou se há algum problema com sis-
decibéis (dB) e determina energia das oscilações da tema mecânico.
onda sonora. O ruído, portanto, é geralmente um som inde-
O ouvido percebe sons de 20 a 140 dB (os sons sejável que pode nos afetar com maior ou menor
geralmente estão na faixa de 50 a 80 dB). A dura- intensidade. Existem dois tipos de ruído: os ruídos
ção caracteriza o tempo do som, sendo medida em contínuos e os intermitentes (ou de impacto).
segundos. Sons de curta duração, menores que 0,1s • Os ruídos contínuos são aqueles sons que
dificultam a percepção e o reconhecimento. se iniciam e perduram com as mesmas
características de frequência e intensidade
figura 12: ondas sonoras de mesma intensidade por um longo período. Um exemplo comum
(amplitude) para som grave e som agudo, mostran-
do a variação do comprimento de onda é o ruído do motor de ventiladores ou
condicionadores de ar, que permanecem
constantes por um longo período.
• Os ruídos intermitentes, por sua vez, têm
uma duração muito curta e com variação de
intensidade. São produtos por uma diversi-
dades de fatores relacionados às atividades
humanas, como um telefone tocando, um
objeto caindo, conversações etc.

Quando um ruído tem início, nossos ouvidos cap-


tam essa informação e a conduzem até o cérebro que
a interpreta como sendo útil ou não. De qualquer
forma, todo som nos chama a atenção de alguma
forma, mas se ele for um ruído contínuo, o cérebro
Fonte: Dul e Weerdmeester (1995). tende a se adaptar a ele e deixa de tomar a atenção
consciente. Apenas vamos notar que estamos ou-
Já vimos o que é som e suas características. Mas vindo o ruído se forçarmos nossa atenção nele. Em
qual a diferença entre um som e um ruído? Ambos ruídos intermitentes, por serem muito breves, essa
são estímulos auditivos, mas maior diferença é que adaptação não ocorre, pois, eles são mais prejudi-
o ruído não contém informações úteis, enquanto ciais à atenção no trabalho, causando mais distração.
que o som sim. Assim, um som pode ser útil para
algumas pessoas e ser apenas ruído para outras. Consequências da exposição ao ruído
Por exemplo, o barulho de um motor de auto- Uma das maiores preocupações com o ruído é com
móvel normalmente é ruído para a maior parte das relação a sua intensidade. A potência sonora aumen-
pessoas, pois é apenas um som sem informações ta em escala exponencial, ou seja, o aumento em
úteis misturado a centenas de outros sons que com- decibéis da intensidade de um som é muito rápida.

97
ERGONOMIA

Figura 13: consequências da intensidade do ruído e atividades humanas


Ruídos de até 50dB são considerados baixos e, em relacionadas

geral, não atrapalham o desenvolvimento das ati-


vidades humanas. Entre 50dB e 80dB, o ruído já é
incômodo e passa a atrapalhar a concentração, a co-
municação e causa irritabilidade. A partir de 85dB,
já pode levar à surdez e é necessário o uso de EPI.
Acima de 120dB, o som pode causar dores (MÁS-
CULO; VIDAL, 2011).
Os ruídos podem causar diversas consequên-
cias negativas para o ser humano. Em geral, traba-
lhar sob ruído constante pode levar ao surgimento
de sintomas como estresse, irritabilidade, dores de
cabeça, falta de concentração, redução da capacida-
de da memória de curta duração e até atrapalhar a
execução de movimentos (IIDA, 2005). Dependen-
do da intensidade, também pode interferir na comu-
nicação entre as pessoas, desencorajando a troca de
informações e as relações humanas no trabalho. Na
sequência, a tabela apresenta alguns limites de acei-
tação do ruído e suas consequências. Fonte: o autor

tabela 2: eFeitos da intensidade sonora para atividades humanas.

Ruído dB Atividade

A maioria considera silencioso, mas cerca


50
de 25% das pessoas terão dificuldade para dormir.

Máximo aceitável para ambientes


55
que exigem silêncio.

Aceitável em ambientes de
60
trabalho durante o dia.

98
DESIGN

Limite máximo aceitável para


65
ambientes não ruidosos.

Inadequado para trabalho em


70
escritórios. Conversação difícil.

É necessário aumentar a
75
voz para conversação.

Conversação muito difícil


80
ou impossibilitada.

Limite máximo tolerável para


85
uma jornada de trabalho de 8h.

Fonte: Iida (2005).

No entanto, a consequência mais grave para o ser ser ocasionado por acúmulo demasiado de secre-
humano decorrente da exposição ao ruído é a sur- ção (cera), por infecções ou perfuração do tímpano.
dez. As duas principais causas da surdez ocupacio- Ruídos de impacto muito intensos podem causar a
nal em seres humanos é a surdez de condução e a perfuração do tímpano. No entanto, a surdez por
surdez nervosa. São diferentes porque correspon- condução em geral é reversível e o tímpano, mesmo
dem a deficiências em regiões anatômicas distintas perfurado, consegue se regenerar.
do ouvido (GRANDJEAN, 1998). A surdez nervosa, por sua vez, corresponde a
A surdez de condução é caracterizada pela re- uma redução da sensibilidade das células nervosas
dução da capacidade de transmitir as vibrações do da cóclea (ouvido interno), ou seja, é a perda da ca-
ouvido externo para o interno. Em geral, acomete pacidade de convertem vibrações em impulsos elé-
o tímpano ou o conduto auditivo externo, podendo tricos. A surdez nervosa pode ser de dois tipos:

99
ERGONOMIA

• Surdez temporária: após uma exposição a


As pausas para recuperação da fadiga devido à ex-
um ruído elevado por um determinado tem-
po provoca algum tipo de surdez temporária posição ao ruído excessivo (acima de 85dB) devem
por excesso de estímulo nas células nervosas ser proporcionais à intensidade do som e ao tempo
da cóclea. Por exemplo: quando vamos a uma de exposição. Na sequência, a tabela indica o tempo
casa noturna com som muito alto, acabamos máximo de exposição possível para alguns níveis de
notando um certo zumbido no ouvido um intensidade sonora antes de começar a haver perda
tempo depois da exposição ao ruído. Esse é
auditiva.
um sinal da fadiga das células causada pelo
estresse sonoro. No entanto, esse efeito é tem- tabela 03: nr-15: tempo máximo de exposição ao ruído

porário e desaparece com o descanso. 85 dB 8 h/dia


• Surdez permanente: quando a exposição a
um ruído elevado (acima de 85dB) é muito 90 dB 4 h/dia
prolongada e não há um descanso suficiente
100 dB 1 h/dia
para recuperação, há um efeito cumulativo de
estresse nas células nervosas. Com o acúmulo 105 dB 30 min/dia
de tensão essas células, por serem muito de-
licadas, vão se rompendo e essa perda é per- 110 dB 15 min/dia
manente. Geralmente, começamos a perder a 115 dB 7 min/dia
sensibilidade aos sons agudos em um primei-
ro momento e, posteriormente, os graves. Fonte: Iida (2005).

Recomendações para proteção


contra a exposição ao ruído Tabela 04: Limites máximos de ruídos para o conforto no trabalho (dB)
O equipamento utilizado para se medir a intensi-
Trabalho físico pouco qualificado 80
dade de um ruído é o decibelímetro, que tem esse
nome devido à unidade de medida (decibéis). A Trabalho físico qualificado (garagista) 75

norma ABNT que estabelece as recomendações de Trabalho físico de precisão (relojoeiro) 70


segurança para atividades sujeitas ao ruído é a NBR Trabalho rotineiro de escritório 70
10152/1987.
Trabalho de alta precisão (lapidação) 60
A tabela, a seguir, indica algumas recomenda-
Trabalho em escritórios com conversas 60
ções de intensidade de ruído máximo para algumas
atividades. É importante notar que as atividades com Concentração mental moderada (escritórios) 55

trabalho intelectual são mais susceptíveis a serem Grande concentração mental (projeto) 45
prejudicadas pelo ruído que as atividades braçais, Grande concentração mental (leitura) 35
por causar maior desconcentração no trabalhador e Fonte: NBR (1987) NBR, ABNT. 10152 - Níveis de Ruído para Conforto
causar desvios de atenção. Acústico. São Paulo: ABNT, 1987.

100
DESIGN

Em atividades que o trabalhador estará exposto a Isolar a fonte: em situações em que não for possível
ruídos acima de 85dB é necessária a intervenção atuar na fonte ou as medidas não forem suficientes,
por meio de medidas de segurança. O ruído não é pode-se isolar a fonte de ruído, impedindo que o
um elemento do ambiente facilmente sanável, pois som se propague no ambiente. A medida mais co-
tende a se dissipar por todos os materiais e é difícil mum é o enclausuramento. Este consiste em cons-
contê-lo. As principais medidas de proteção contra truir em torno da fonte de ruído uma caixa de ve-
os ruídos são: dação à prova de som, empregando-se camadas de
Atuar na fonte de ruído: geralmente as fontes de materiais que absorvem o ruído e impede que ele
ruídos são máquinas ou peças em movimento em atinja o trabalhador. Deve-se atentar, no entanto,
sistemas produtivos. Se for possível reduzir a emis- para os equipamentos que necessitam de ventilação,
são de ruído nas fontes emissoras, ou seja, atuar para refrigeração, alimentação de matéria prima, aciona-
o ruído não seja gerado em grande intensidade, se- mentos etc. Nesses casos, o isolamento pode não ser
ria a solução ideal. As principais causas do ruído em realizado ou terá sua funcionalidade prejudicada.
máquinas são fontes mecânicas (choques, atritos ou Atuar no receptor: a principal forma de proteger
vibrações), explosões e implosões (principalmente o trabalhador atuando nele mesmo é o uso de Equi-
em motores e se referem a mudança súbita de pres- pamentos de Proteção Individual (EPI). Não deve
são da gás contido em uma câmara) e causas magné- ser considerado um método de controle de ruído,
ticas (vibração das bobinas elétricas) As principais mas apenas a prevenção de que seus efeitos agem no
medidas que podem ser implementadas para redu- trabalhador. Os principais EPIs encontrados para
zir o ruído na fonte emissora são: proteção contra ruídos são os plugues intra-auri-
• Usar calços de borracha, para evitar a propa- culares e os protetores em formato de concha. Os
gação do som e reduzir impactos. primeiros devem ser inseridos no canal auditivo e
• Substituir peças mecânicas por peças de geralmente são constituídos de materiais macios e
nylon, que absorvem o impacto e não geram absorventes de som. Os protetores auriculares tipo
atrito. concha se assemelham a grandes fones de ouvido
• Manter lubrificação adequada dos mecanis- que cobrem todo o aparelho auditivo. No entanto,
mos internos. recomendar o uso de EPIs deve ser a última opção,
• Manter motores regulados e balanceados. pois eles causam bastante desconforto no trabalha-
• Substituir máquinas e motores muito ruido- dor, impedem a comunicação e há grande dificulda-
sos por modelos mais novos e silenciosos. de de aceitação inicial.

101
ERGONOMIA

VIBRAÇÃO
Você já notou que diversos produtos ou meios de noidal) ou irregular. As vibrações são muito comuns
transporte transmitem vibrações ao nosso corpo? nos meios de transporte e ferramentas manuais, mas
Como em geral não utilizamos esses produtos por nem todas são prejudiciais. O chacoalhar de um ôni-
tempo prolongado, não conseguimos sentir os efei- bus ou o sobe e desce que as ondas do mar causam em
tos que essas vibrações podem trazer ao organismo. um barco também são consideradas vibrações.
Agora, vamos abordar o assunto das vibrações no O som também é uma vibração, mas decodifica-
ambiente de trabalho, suas consequências e como da de forma que transmite informações. Assim, os
podemos prevenir os trabalhadores da atuação de mesmos princípios que vimos anteriormente para o
seus efeitos negativos. som serão aplicados para as vibrações. A diferença é
A vibração pode ser considerada “[...] qualquer que a forma de atuação da vibração, em geral, per-
movimento que o corpo executa em torno de um pon- passa por todo o corpo, enquanto que o som interfe-
to fixo” (IIDA, 2005, p. 512), podendo ser regular (si- re primordialmente no aparelho auditivo.

102
DESIGN

A vibração é definida por três variáveis (FROTA; Para Falzon (2007), Frota e Schiffer (2001), os três
SCHIFFER, 2001): pontos do corpo mais frequentemente afetados pe-
• Frequência (Hz ou ciclos por segundo): de- las vibrações são:
termina o tipo de onda que a vibração exer- • Pés: quando caminhando ou permanecendo
cerá no corpo. A frequência tem uma relação em pé, especialmente sobre veículos, máqui-
intrínseca com o tipo de material que está nas ou plataformas que transmitam vibrações.
transmitindo a onda; veremos com mais de- • Nádegas: quando estamos sentados em veí-
talhes essas questões quando discutiremos a culos, principalmente; uma das consequên-
ressonância. cias da vibração é transmitir atrito entre to-
• Intensidade do deslocamento (cm ou mm) dos os elementos constituintes do corpo, mas
ou aceleração (g = 9,81 m/s2): determina a isso é particularmente mais evidente para os
potência do movimento da vibração; e se fi- ossos e articulações. As vibrações no eixo
zermos um paralelo com o som, seria o mes- vertical em meios de transporte são mais da-
mo que os decibéis, mas, nesse caso, conside- nosas que as horizontais, pois amplificam os
ramos o quando a vibração oscila em torno efeitos da gravidade e trabalham a favor do
de um eixo central. peso do próprio corpo.
• Direção do Movimento (três eixos triorto- • Mãos: ao operar máquinas e equipamentos,
gonais = x, y e z): em geral as vibrações são desde eletrodomésticos, como mixer e batedei-
horizontais, verticais ou irregulares, partindo ras, até máquinas industriais das mais diversas.
para todas as direções. Em geral, é importan- Em veículos também há transmissão de vibra-
te saber a direção do deslocamento, pois pode ção para as mãos, por meio de seus sistemas de
causar mais ou menos danos ao organismo. comando (cabos, volantes e alavancas).

figura 14: exemplos de equipamentos manuais que transmitem vibrações

103
ERGONOMIA

Efeitos da vibração no organismo


Os efeitos das vibrações no organismo são os mais muscular mais intensa (como vimos ante-
diversos e vão depender de diversos fatores, como a riormente), e isso faz com que os músculos
característica da vibração, em termos de frequência, aumentem de volume e interrompam o fluxo
sanguíneo.
intensidade e direção, local do corpo atingido e tipo
• Enjoos: podem ocorrer quando há sinais
de atividade executada. A seguir, listamos alguns
contraditórios entre a visão e os receptores
efeitos que as vibrações podem causar (FALZON,
vestibulares. O sentido vestibular (do equi-
2007; IIDA, 2005). líbrio) envia mensagens ao cérebro sobre o
• Contração muscular: causa um reflexo na movimento que o corpo está sofrendo e isso
musculatura deixando-a contraída. Espe- pode levar a sensações nauseantes. Isso é mais
cialmente quando estamos segurando obje- comum para vibrações com maior amplitude
tos que vibram, sejam máquinas ou meios e baixas frequências, como no mar.
de transporte, para garantir uma pega fir- • Redução da acuidade visual: prejudica prin-
me e não soltar o que estamos segurando, cipalmente a visão de motoristas e operado-
tende-se a aumentar a força muscular exer- res de máquinas. A acuidade é pobre e a visão
cida; essa reação é um reflexo muitas vezes fica turva e tremida. Na frequência de 50 Hz
inconsciente. Isso aumenta o consumo de e uma aceleração de 2m/s2 (como andando
energia e, consequentemente, elevará a ati- em uma via muito esburacada, por exemplo)
vidade respiratória e os batimentos cardía- a acuidade é reduzida pela metade.
cos. • Precisão: os movimentos ficam mais difíceis
• Contrições circulatórias: no nosso organis- de serem realizados sob os efeitos da vibra-
mo existem músculos muito delgados que ção. Mas também é prejudicada pela redução
circulam a parede das veias e artérias e são na acuidade visual e pelo pior processamento
responsáveis pela contração e relaxamento da informação.
dos vasos sanguíneos. Sob efeito da vibração, • Organismo de uma forma geral: dependen-
essa musculatura fica contraída, reduzindo a do do tipo de vibração, pode levar ao surgi-
circulação no membro afetado pela vibração. mento de problemas intestinais, problemas
No caso de vibrações que nos atinge pelas na próstata, hemorroidas, artrites, atrofia,
mãos isso é ainda pior, pois ao segurar pe- perda de cálcio nos ossos, desgaste das vérte-
gar as que vibram exercemos uma contração
bras e dos discos da coluna.

104
DESIGN

figura 15: o trabalho com motosserra transmite muita vibração os membros superiores e não deve ser realizado
sem pausas durante uma jornada de trabalho de 8h

EXEMPLO MOTOSSERRA
O uso de equipamentos manuais que trans-
mitem vibração tem vários efeitos nocivos
no organismo. O principal e mais grave é a
redução da circulação sanguínea causada pela
vibração e pelo aumento da contração mus-
cular. Com o uso prolongado do equipamento
e sem pausa, os tecidos ficam sem receber
oxigênio e as toxinas ficam acumuladas. Isso
pode levar a degeneração gradativa do tecido
vascular, muscular e nervoso que consequen-
temente gera a perda de sensibilidade (tato) e
dos movimentos dos dedos. Em casos graves
pode chegar à necrose.

105
ERGONOMIA

• Ressonância Parte Frequência de


Sintomas
do corpo ressonância (Hz)
Cada material apresenta características e densida-
Caixa
de diferentes e isso interfere em como esse mate- 60 Dores no peito.
torácica
rial responderá à vibração. Por exemplo, os metais
Estômago 3a6 Dores estomacais.
transmite as vibrações com maior intensidade que
Rins 10 a 18 Urina solta.
a madeira. No entanto, o corpo humano não reage
Dificuldade
de maneira uniforme às vibrações, podendo haver Mãos 4a5
de movimento.
amortecimento ou amplificação dependendo do
Sistema Problemas
tipo de tecido afetado. 2 a 20
cardiovascular circulatórios.
Amplificação ocorre quando a parte do corpo Fonte: IIDA, 2005.
entra em ressonância. Quando um material é colo-
cado em determinada frequência e essa é a sua fre-
quência de ressonância, o efeito é que a amplitude Medidas de controle dos efeitos das vibrações
do movimento fica muito maior, embora continue Como vimos, anteriormente, os efeitos da vibração no
na mesma frequência. O efeito da ressonância é corpo humano podem ser bastante sérios, assim, medi-
muito utilizado em instrumentos musicais. No orga- das de proteção adequadas são necessárias. Por sua na-
nismo, no entanto, os efeitos da ressonância tendem tureza, algumas abordagens têm princípios semelhantes
a ser muito prejudiciais, pois amplificam os danos às utilizadas para a minimização dos efeitos do ruído.
das vibrações. • Redução na fonte de transmissão: deve ser
Em geral, quanto maior a massa da parte do cor- a primeira providência a ser tomada, princi-
po, mais baixa será a sua frequência de ressonância, palmente com as vibrações que causam res-
mas isso pode variar consideravelmente. Na tabela, sonância. Podem ser reduzidos no projeto da
máquina, por exemplo, com o uso de movi-
a seguir, podemos encontrar alguns exemplos de
mentos rotacionais ao invés dos de translação,
partes do corpo, as frequências de vibração em que
substituição de engrenagens metálicas por
entram em ressonância e seus efeitos. engrenagens de nylon, uso de transmissões hi-
tabela 05: frequências de vibração em que entram em ressonância e seus efeitos
dráulicas ou pneumáticas, dentre outras. Tam-
bém é muito importante que se tenha cuidado
Parte Frequência de
Sintomas com as manutenções e lubrificações, além de
do corpo ressonância (Hz)
se utilizar calços de borracha e amortecedores
Corpo
4 a 5 – 10 a 14 Desconforto geral. para minimizar a amplificação as vibrações.
inteiro
Abaixo de 0,5 Enjoo; • Redução na transmissão da vibração: caso a
Cérebro providência anterior não seja aplicável, deve-se
1a2 Sono.
procurar isolar a fonte de vibração, por meio do
Cabeça 5 a 20 Dificuldade visual; afastamento do local de atividade ou utilizan-
Olhos 20 a 70 Dificuldade do-se de algum tipo de material isolante (calços
Queixo 100 a 200 de fala; de absorção). Em ferramentas manuais, pode-
Laringe 5 a 20 Mudança da voz. -se utilizar pegas menos apertadas e uso de ma-
terial absorvente de vibração, por exemplo.

106
DESIGN

• Pausas: nos casos em que as vibrações forem ou repulsivas (RAZZA; PASCHOARELLI, 2015). É
contínuas, devem ser realizadas pausas na por isso que frequentemente sentimos um cheiro que
atividade para recuperação. A frequência e a nos remetem a memórias muito vivas em nossa men-
duração das pausas depende das condições de
te, recordando imagens, sensações e emoções.
trabalho e podem promover uma recuperação
Além disso, o olfato também está relacionado
parcial, com a circulação sendo restabelecida e
os tecidos conseguindo se regenerar. a percepções instintivas e tem função evolutiva de
• Proteção do indivíduo: caso as providências auto conservação, em especial para encontrar ali-
anteriores não forem suficientes, pode-se mento e evitar alimentos estragados.
proteger o sujeito com EPI, tais como: calça-
dos e luvas de absorção. SAIBA MAIS

ODORES
Nós estudamos isoladamente, mas a percepção
Agora, abordaremos em ergonomia ambiental é so- de todos órgãos dos sentidos ocorre conjunta
bre os odores do ambiente. O olfato é um sentido e, simultaneamente, no cérebro, em que um
sentido complementa o outro. A esse fenôme-
humano muitas vezes negligenciado em pesquisas
no damos o nome de integração multissenso-
em ergonomia, mas ele tem papel importante na rial. Isso quer dizer que o todo da percepção é
percepção humana. maior do que as suas partes isoladas.

Fonte: Merleau-Ponty (1996).


Olfato
O olfato é um sentido menos desenvolvido em hu-
manos, apesar de ter uma função evolutiva muito SAIBA MAIS
importante. Temos aproximadamente 50 receptores
para odores diferentes no cérebro, que nos permite
identificar, por sua combinação, a totalidade de odo- Você já ouviu falar em sentido vomeronasal?
Bem, não é bem um sentido, mas sim um ‘he-
res existentes. De todos os sentidos, os cheiros são os missentido’, ou seja, um sentido pouco de-
estímulos mais rapidamente percebidos no cérebro. senvolvido. Esse órgão de apenas 2mm de
Isso se deve também à anatomia do órgão nasal, que tamanho está localizado dentro da cavidade
olfativa, na base do osso Vômer, por isso re-
deixa os receptores de odores (localizados nas cavi- cebeu esse nome.
dades do osso etmoide) bastante próximos ao cére- A sua função é captar a presença de feromô-
bro, captando substâncias químicas em suspensão nios no ar e transmitir ao cérebro, mas sua
ação é apenas inconsciente. No entanto, pouco
no ar, decodificando e transmitindo a informação
se sabe ainda sobre a ação que os feromônios
por meio do nervo olfativo (FENKO, 2010). desempenham nas atividades sexuais huma-
O olfato está inti­ma­mente ligado ao sistema lím- nas e tão pouco qual o tamanho da influência
do sentido vomeronasal no mecanismo de
bico (hipocampo e amígdala), regiões do cérebro que interesse sexual.
processam as emoções e a apren­di­zagem associativa.
Fonte: Morales e Díaz-Sanches (2007, p. 11-15).
Dessa forma, esses canais estão fortemente associa-
dos a memórias afetivas e a experiências prazerosas

107
ERGONOMIA

Efeitos dos odores no trabalho


Não é agradável trabalhar em locais em que predo- • Adaptação ao odor
minam os maus cheiros. Cheiros muito fortes po- Estamos o tempo todo recebendo informa-
dem levar a náuseas, dores de cabeça, perda do ape- ções olfativas pelo órgão nasal e interpretan-
do-as. No entanto, não nos fica alertando o
tite, além de outros efeitos cumulativos que podem
tempo todo sobre a presenta de odores. Para
se configurar como doenças ocupacionais.
evitar que sejamos constantemente distraídos
figura 16: exemplos de atividades que lidam com odores fortes: trata- pela percepção dos cheiros, o cérebro passa
mento de couro em curtumes, tratamento de esgoto e coleta de lixo
a não mais identificar os odores mais cons-
tantes, fenômeno que chamamos de atenção
seletiva. Essa característica depende da in-
tensidade do odor e do tempo de exposição,
podendo ser mais rápida ou mais demorada.
• Adaptação de curto prazo: Sob um odor
forte e constante, em menos de um minuto
a percepção começa a ficar reduzida, mas
continua existindo até o cérebro não dar
mais atenção a ele, a menos que consciente-
mente você dirija a atenção ao cheiro.
• Adaptação de longo prazo: exposições a
um determinado odor no trabalho, ou seja
por tempo prolongado, em algumas sema-
nas causa a perda da capacidade olfativa
a esse odor. Esse fenômeno é chamado de
fadiga olfativa e ocorre por superexposição
das células olfativas a uma determinada
substância química. Em geral, após ficar
um tempo longe da exposição ao odor, a
capacidade olfativa pode voltar ao normal.

Entretanto se houver a exposição a odores muito di-


ferentes (que ativam receptores diversos no olfato)
essa adaptação fica mais lenta. Exposição a odores
intensos por tempo prolongado e constante diminui
sensações de sabor e aumenta o risco de acidentes
de trabalho, podendo ocorrer hipersensibilização
(duradoura ou temporária). A hipersensibilização
é uma repulsa do organismo à substância química
inalada e algumas vezes uma mudança de profissão é
necessária (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005).

108
DESIGN

Algumas medidas de prevenção


aos efeitos dos fortes odores
Em locais de odores muito fortes, pode-se reco-
mendar o uso de máscaras para os trabalhadores
e também de sistemas neutralizadores de cheiros
(filtros e carvão ativo) nas unidades produtoras
de odores. Pode-se também instalar sistemas de
exaustão para captar essas partículas ou ainda
promover uma ventilação forçada de forma que
as partículas não fiquem concentradas em torno
do trabalhador. Quando as substâncias químicas
inaladas forem tóxicas, como fumaças, solventes,
defensivos agrícolas etc., medidas específicas de-
vem ser tomadas.

109
considerações finais

Caro(a) aluno(a), nessa unidade, nós aprendemos como o nosso organismo, por
meio dos órgãos dos sentidos, consegue captar estímulos do meio em que se está,
transformando-a em impulsos nervosos que são decodificadas pelo sistema ner-
voso em informações. Essas informações são úteis para a tomada de decisões
conscientes, como acender a luz porque está escuro ou detectar um vazamento
de gás. Mas também são úteis para o próprio organismo regular as suas funções
internas, como manter a temperatura do corpo ou regular o ritmo de sono.
Os órgãos dos sentidos são a porta de entrada das informações do meio am-
biente e, assim como qualquer outro órgão, também estão sujeitos à fadiga e le-
sões por estimulação excessiva. Além do mais, em muitos casos, essas lesões são
cumulativas e irreversíveis, o que implica que devemos dar maior atenção aos
fatores ambientais danosos.
Para a grande maioria das situações de trabalho existem normas regulamen-
tadoras que indicam padrões mínimos de segurança para atividade desempenha-
da. Por exemplo, vimos que as recomendações de iluminação dependem tanto da
demanda de atenção e detalhamento da tarefa quanto das características do obje-
to a ser observado; entendemos as consequências para o trabalho ao permanecer
em ambientes ruidosos; compreendemos a grande influência que as condições
climáticas de temperatura e umidade têm em nossa disposição para o trabalho;
e vimos também as consequências que das vibrações para a nossa qualidade de
vida.
As normas brasileiras são chamas de NRs e são produzidas pela ABNT. No
entanto, todas as normas regulamentam apenas situações de trabalho já bastante
estabelecidas, para as quais foram realizados diversos estudos para se estabelecer
os padrões de segurança. Assim, somente com um conhecimento aprofundado
dos limites e capacidades humanos, e, nesse caso, específico estamos falando dos
órgãos sensoriais, é que poderemos reconhecer novas situações de risco e adaptar
os ambientes para garantir conforto e segurança a seus usuários.

110
atividades de estudo

1. Sobre a iluminação e discriminação visual, assinale a alternativa correta.


a. Quando o contraste em um objeto é reduzido, a discriminação visual fica
mais rápida.
b. O tempo de discriminação visual é diretamente proporcional ao nível de
iluminamento.
c. O tempo de discriminação visual é inversamente proporcional ao nível de
iluminamento.
d. O nível mínimo de iluminamento recomendado para qualquer atividade
laboral, independentemente do nível de precisão e exigência visual, é de
500 lux.
e. A intensidade do iluminamento ideal para determinado trabalho depende
da precisão exigida para uma tarefa mas não da qualidade do estímulo
visual.

2. Sobre a anatomia dos olhos, associe a estrutura na lista da esquerda com


a sua correta função na lista da direita.

a. Bastonetes ( ) São responsáveis pela visão em cores.


b. Iris ( ) Transmite a informação visual até o cérebro
c. Cristalino ( ) Percebem a luz em preto e branco e o movimento
d. Nervo ótico ( ) É a lente do olho, responsável pela focalização da imagem
e. Cones ( ) Controla a entrada de luz e da coloração aos olhos

3. Sobre a regulação térmica, assinale a alternativa correta.


a. O metabolismo humano gera calor pela digestão dos alimentos, em um
processo que consome oxigênio e gera CO2 e água. Assim, pode-se afirmar
que o organismo humano está constantemente produzindo calor.
b. O homem é um ser vivo homeotermo, ou seja, em qualquer lugar do corpo
em que se façam medições a temperatura deve ser a mesma, invariavel-
mente.
c. A única adaptação do corpo humano para manter calor é o tremor mus-
cular.
d. Quando se trata da absorção e emissão de calor por radiação, o corpo hu-
mano funciona como o que a física chama de corpo negro, ou seja, quase
não recebe calor por radiação.
e. Em dias úmidos a transpiração é mais eficiente que em dias secos, poden-
do ser sentida mais facilmente sobre a pele.

111
atividades de estudo

4. Sobre a anatomia aparelho auditivo, associe a estrutura na lista da esquer-


da com a sua correta função na lista da direita.
a. Tímpano ( ) Capta vibrações em meio aquoso e transforma em
impulso elétrico.
b. Cóclea ( ) Transmite a informação auditiva até o cérebro
c. Ossículos (martelo, ( ) É uma membrana que vibra com as diferenças de
bigorna e estribo) pressão do ar.
d. Nervo auditivo ( ) Recebe vibrações do tímpano e as amplifica
e. Janela oval ( ) Uma membrana que transmite vibrações mecâni-
cas dos ossículos à cóclea

5. Das afirmativas abaixo, assinale a alternativa correta.


a. Radiação é o fenômeno em que o calor é trocado entre os corpos, haven-
do necessariamente um contato entre eles.
b. As trocas térmicas por condução são fonte de preocupação pela ergono-
mia, pois as pessoas ficam protegidas por roupas.
c. O trabalho pesado sob alta temperatura e umidade do ar pode levar o
trabalhador a transpirar excessivamente, podendo levar a desidratação,
perda da salinidade do sangue, queda da pressão sanguínea e eventuais
desmaios.
d. Alguns dos meios indicados para reduzir a influência das baixas tempera-
turas no ambiente de trabalho é promover a ventilação (retira o ar satura-
do da pele), colocar barreiras refletoras nas fontes de calor (radiação) e se
necessário, promover pausas.
e. O Trabalho em altas temperaturas pode causar lentidão dos movimentos,
os músculos ficam enrijecidos e isso pode aumentar a chance de erros e
acidentes.

6. O ruído é um fator muito importante para o conforto e segurança no am-


biente de trabalho. Sobre esse assunto, complete as frases abaixo com
as palavras adequadas presentes na caixa.

ruído contínuo; ruído intermitente; informação; surdez nervosa; sur-


dez de condução

O ruído é caracterizado pela ausência de __________ do som e não simples-


mente pelo fato de ele ser indesejável.
A __________ se caracteriza pela incapacidade de transmitir as vibrações sono-
ras, por exemplo, pelo rompimento do tímpano.

112
atividades de estudo

A__________ é a perda sensibilidade das células nervosas da cóclea e pode ser


causada pela exposição a ruídos durante longos anos, sendo irreversível.
O __________ é menos danoso para a concentração do trabalhador, pois, logo,
o sistema nervoso de adapta e deixa de desviar a atenção.
O __________ ou de impacto é aquele que tem duração curta e pode atrapalhar
mais o trabalho, por desviar a atenção do trabalhador.

7. Sabe-se que o trabalho sob vibrações pode ser prejudicial ao organismo.


Das afirmativas abaixo, assinale a alternativa correta.
a. As vibrações que atingem o nosso corpo no sentido longitudinal (de baixo
para cima), em geral, são menos danosas quanto aquelas que nos atingem
no sentido transversal (de um lado para outro e/ou para a frente e para
trás).
b. As vibrações que atingem o nosso corpo no sentido longitudinal (de baixo
para cima), em geral, são mais danosas quanto aquelas que nos atingem
no sentido transversal (de um lado para outro e/ou para a frente e para
trás).
c. De forma geral, a principal consequência das vibrações para o organismo é
a dificuldade de conversação por atrapalhar a vibração das cordas vocais.
d. Uma das características das vibrações é quando o organismo ou algum
segmento dele entra em ressonância, neutralizando os efeitos da vibração.
e. Um dos problemas mais graves das vibrações em ferramentas manuais é
a dificuldade de movimentação para estabilizar a pega.

8. Sobre temperatura e umidade, assinale (V) para as afirmativas verdadeiras


e (F) para as falsas.
( ) A sensação térmica varia de acordo com a umidade do ar, mas a tempe-
ratura real não.
( ) A temperatura real varia de acordo com a umidade do ar, mas a sensa-
ção térmica não.
( ) O trabalho em baixas temperaturas é mais penoso porque o organismo
tem menor mobilidade, os músculos ficam enrijecidos e há maior risco
de lesão.
( ) Em dias quentes, a transpiração é o principal meio que o organismo pos-
sui para se livrar do calor interno.
( ) Em dias frios, o corpo se adapta para se aquecer, eriçando os pelos e di-
latando as veias para bombear o sangue para as extremidades do corpo,
aquecendo-as.

113
LEITURA
COMPLEMENTAR

O texto, a seguir, aborda de forma mais aprofundada o papel do tato no uso de pro-
dutos. Apesar de pouco se falar dele, é um sentido muito importante para a interação
com os objetos do dia a dia.

O tato é o primeiro sentido a ser desenvolvido em recém-nascidos e é um sentido que


envolve sensações cujo significado é difícil de ser transmitido pela linguagem. Depois
da visão, o tato é o principal canal sensorial a decidir sobre a aceitação de um produ-
to, e se o julgamento das mãos não for favorável, por mais bonito que seja o objeto,
ele não receberá a mesma aceitação que poderia ter (SPENCE; GALLACE, 2011). Por
exemplo, quando se vai comprar uma joia ou um relógio, por mais bonitos que sejam
visualmente, a decisão de compra em geral somente ocorre depois de se ter sentido
o produto nas mãos. De fato, é mais provável que um produto não seja comprado
se a sensação de tê-lo nas mãos não for a mesma que se havia imaginado. Em geral,
espera-se que uma joia seja pesada e tenha uma aparência sólida que transmite as
características do metal ou da pedra que a compõe. Isso é especialmente verdadeiro
para produtos que estarão em contato direto com a pele, como por exemplo roupas,
roupa de cama, travesseiros ou sapatos. Nesses casos, as pessoas geralmente tocam e
esfregam o material sobre a pele, geralmente sobre as bochechas ou dorso das mãos,
pois, o tato é mais sensível nessa região (McCABE; NOWLIS, 2003).

Peck e Childers (2003) realizaram uma pesquisa para identificar a preferência do to-
que em relação a hábitos de consumo e demonstraram que existem muitas pessoas
que são orientadas pelo tato; essa orientação é definida como a preferência de obter
informações provenientes do toque, ou seja, é uma necessidade de tocar as coisas
para compreendê-las melhor. Para os indivíduos orientados pelo tato, as compras são
realizadas de maneira mais prazerosa e com confiança quando podem manipular os
produtos e o grau de insatisfação é muito maior que outras pessoas quando não se
pode tocar nos produtos.

Uma pesquisa realizada pela Millward Brown mostrou que 35% das pessoas conside-
raram o toque e a sensação de segurar o celular como mais importantes que a estética
visual do produto, mostrando que as questões táteis dos produtos configuram um im-
portante requisito de projeto para o design de produtos (SPENCE; GALLACE, 2011). Essa

114
LEITURA
COMPLEMENTAR

consideração levou à sugestão de que uma exploração mais inteligente do sentido do


tato pelos designers pode ter um grande impacto no comportamento do consumidor.
De fato, McCabe e Nowlis (2003) afirmam que os consumidores preferem selecionar
produtos dos vendedores que permitem que os produtos sejam tocados.

Uma explicação para o efeito do tato na avaliação do produto está relacionada com fato
de que o tato proporciona um contato direto e mais próximo com o produto, estabe-
lecendo uma maior conexão entre este e o usuário. Dessa forma, a percepção de estar
atuando no produto, com controle sobre o que fazer ou o que explorar, estabelece uma
conexão maior que a interação de um simples observador (SPENCE; GALLACE, 2011).
Vale salientar que não é o toque em si responsável por toda essa interação, pois duran-
te a manipulação, todos os sentidos estão ativos e recebendo estímulos e, além disso, a
interação traz diversos outros aspectos da experiência do usuário como: aprendizado,
feedback, frustrações, surpresas, julgamentos, dentre outros.

O tato proporciona as estimativas mais confiáveis que todos os outros sentidos em ter-
mos de valor e preferência do usuário, despertando respostas de aceitação implícitas e
explícitas. No entanto, pouco ainda se sabe do papel do tato na interação com produtos
e suas consequências para a avaliação geral do usuário (SPENCE; GALLACE, 2011).

Muito embora o sentido do tato seja bastante desenvolvido no ser humano, permitindo
que se consiga reconhecer objetos apenas pelo toque, ainda a visão é o sentido pre-
dominante na maior parte das situações, particularmente para propriedades macroes-
truturais, como tamanho ou forma de um objeto, mas para determinar características
microestruturais, como a textura ou acabamento, o tato passa a ser predominante.

Fonte: Razza e Paschoarelli (2015, p. 186-189).

115
Ergonomia: Projeto e Produção
Itiro Iida
Editora: Edgard Blücher
Ano: 2005
Sinopse: Esta obra aborda todos os assuntos básicos da ergo-
nomia configurando-se como um curso de base completo. Sua
abordagem é baseada em ergonomia física, dando ênfase aos
aspectos de antropometria, biomecânica, segurança, posto de
trabalho e conforto ambiental. Além disso, aborda aspectos es-
senciais da configuração produtiva e organização do trabalho, além do projeto em ergono-
mia.

Comentário: Este é um livro de referência na área da ergonomia, tratando de todos os as-


suntos relevantes ao projeto. É adotada como livro base em muitos cursos de graduação e
pós-graduação.

Design e Ergonomia: aspectos metodológicos


Luis Carlos Paschoarelli, Marizilda dos Santos Menezes (org.).
Editora: Unesp
Ano: 2009
Sinopse: Como a ergonomia pode contribuir para minimizar os
impactos negativos da evolução tecnológica de produtos, siste-
mas e ambientes? Nessa coletânea, dividida em doze capítulos,
são apresentadas diferentes questões, métodos de abordagem
e expressivas demandas para a aplicação da ergonomia no de-
sign. Esses estudos ressaltam a importância da aplicação da er-
gonomia no design de produtos e sistemas, com a finalidade de
desenvolver tecnologias para a qualidade de vida humana.

Comentário: Essa coletânea de textos de pesquisadores em


design e ergonomia pode dar ao leitor um panorama do que está sendo realizado cienti-
ficamente acerca da melhoria das condições de trabalho e vida humanos, no que tange os
limites do design e da ergonomia.
Abe Davis
Se você se interessou sobre o ruído e as vibrações em diversos meios, vai gostar de ver essa
palestra de Abe Davis, um cientista da computação que conseguiu criar um meio de “retirar”
o som de objetos inanimados.

Disponível em: <http://www.ted.com/talks/abe_davis_new_video_technology_that_reveals_


an_object_s_hidden_properties>.

David Eagleman
Já imaginou ampliar seus sentidos em perceber as coisas de formas diferente? David Eagle-
man criou meios de fazer isso acontecer. Nessa palestra, ele apresenta seus inventos que
podem revolucionar a percepção humana.

Disponível em: <http://www.ted.com/talks/david_eagleman_can_we_create_new_senses_


for_humans>.
referências

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118
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TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fi-
siologia. 8. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2012.

GABARITO
1. C
2. E, D, A, C, B
3. A
4. B, D, A, C, E
5. C
6. Informação; surdez por condução; surdez nervosa; ruído contínuo; ruído intermitente
7. B
8. V, F, V, V, F

119
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
E DE CONTROLE

Professor Dr. Bruno Montanari Razza

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Fatores humanos da ergonomia informacional
• Informações visuais e auditivas
• Mostradores
• Controles

Objetivos de Aprendizagem
• Diferenciar os conceitos de sensação e percepção, como as expectativas do
usuário podem afetar a compreensão e como funciona o diálogo homem-
máquina.
• Apresentar como empregar informações visuais e auditivas, conceitos de
leiturabilidade e legibilidade, símbolos e elementos visuais, os principais erros
de informação, e critérios para o projeto de sistemas informacionais.
• Demonstrar como os outros canais sensoriais, como o tato, paladar, senso
cinestésico e sentido vestibular podem captar informações importantes para a
realização das mais diversas atividades cotidianas.
• Discriminar os tipos de controles, critérios para o projeto, organização e
aplicação.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a) é evidente que os processos cognitivos estão presentes


em todas as atividades humanas, no entanto, não notamos muitas vezes
as dificuldades impostas por interfaces ruins ou produtos mau projeta-
dos que dificultam a comunicação e a compreensão de como utilizá-los.
A especialidade da ergonomia que estuda a forma como os seres hu-
manos captam as informações do meio e interpretam essas informações
é a ergonomia cognitiva.
Nesta unidade, veremos como os seres humanos captam estímulos do
meio ambiente – podendo estes ser visuais, auditivos, táteis, olfativos etc.,
provenientes de produtos, pessoas, veículos ou sistemas operacionais – e
como ocorre o processo de reconhecimento e interpretação destes estí-
mulos. Também veremos como o processamento cognitivo no cérebro
interpreta a percepção do meio proveniente dos órgãos dos sentidos para
tomar uma decisão e agir no meio ambiente.
Todo esse procedimento é intimamente dependente de como as in-
formações são transmitidas aos usuários. Informações mal projetadas ou
parciais podem ser interpretadas de maneira incorreta levando a erros e
decisões equivocadas no uso de máquinas ou veículos. Assim, também ve-
remos alguns critérios para seleção de projeto de sistemas informacionais.
Por fim, estudaremos os mostradores de controles, dispositivos de
entrada e saída de informações de produtos, máquinas, meios de trans-
porte e sistemas informatizados, que compõem a interface homem-má-
quina. Os mostradores consistem nos sistemas utilizados nos produtos
para transmitir informações ao usuário sobre seu estado de funciona-
mento e os controles consistem nos sistemas de entrada de dados, ou seja,
nos botões, comandos, alavancas e todo tipo de sistema que empregados
para acionar os produtos e conduzir veículos. O projeto adequado dessa
interface é determinante para o uso com eficiência e segurança dessas
interfaces.
ERGONOMIA

FATORES HUMANOS
DA ERGONOMIA INFORMACIONAL
Você já deve ter consciência de que todo trabalho O PROCESSO DA PERCEPÇÃO
humano envolve de alguma maneira a captação e E COGNIÇÃO HUMANA
processamento de informação. Mesmo as atividades Como vimos na introdução, a especialidade da er-
realizadas da maneira mais mecânica e repetitiva gonomia que estuda os processos de captação e pro-
envolvem transmissão de informações no sistema cessamento de informação é a ergonomia cognitiva.
nervoso central. Agora, apresentaremos questões A ergonomia cognitiva estuda os sistemas em que
relacionadas à captação de processamento de infor- há predominância dos aspectos sensoriais (percep-
mações nos seres humanos. ção e processamento de informações) e de tomada

124
DESIGN

figura 01: estímulos percebidos pelo corpo humano


de decisões, pois contemplam os aspectos cognitivos
das interações entre pessoas e sistemas de trabalho
(MONT’ALVÃO; DAMASIO, 2008).
Antes de iniciarmos a explicação de como o ser
humano capta e processa as informações, existem
dois conceitos importantes que precisam ser defini-
dos: cognição e informação.
• Cognição é um conjunto de processos men-
tais que permite às pessoas buscar, tratar, ar-
mazenar e utilizar diferentes tipos de infor-
mações do ambiente. É a partir dos processos
cognitivos que o indivíduo adquire e produz
conhecimentos. (MÁSCULO; VIDAL, 2011).
Portanto, os processos cognitivos envolvem
memória, tomada de decisão, atenção e cons-
ciência, resolução de problemas, aprendiza-
do, reconhecimento de padrões etc.
• Informação é transferência de energia que A sensação refere-se ao processo biológico de captação
tenha algum significado em uma dada situ- de energia ambiental sob a forma de luz, calor, pressão,
ação. A energia pode ser considerada como
movimento, partículas químicas etc. Os canais senso-
estímulos do meio que afetam o ser huma-
no e são captados pelos órgãos dos sentidos. riais são: visão, audição, tato, paladar, olfato, cinestesia
Como o homem interage continuamente (percebe os movimentos e o posicionamento das par-
com outras pessoas, máquinas, ambiente, há tes do corpo), sentido vestibular (sensação de equilí-
uma troca contínua de informações. brio), propriocepção (sensação das condições internas
do organismo, como fome, vontade de evacuar etc.)
O processo de cognição ocorre no cérebro de uma (IIDA, 2005; MORAES, MONTALVÃO, 1998).
forma integral e não dissociada, mas para compre-
endermos melhor o seu funcionamento, faremos
REFLITA
uma divisão em processos sequenciais.
Primeiramente é importante lembrar que esta-
mos sendo bombardeados por estímulos do meio A sensação é a interpretação de um estímulo
ambiente a todo o momento. Os estímulos do meio no cérebro e essa interpretação é dependente
das vivências, aprendizado, estado emocional
externo são captados pelo organismo por meio dos do indivíduo, além do nível de atenção. Por-
sentidos. Os receptores da nossa pele enviam as tanto, ao observar um objeto, cada pessoa
mensagens de sensação de pressão, calor/frio e tex- perceberá (ver) uma imagem diferente, mes-
mo tendo recebido o mesmo estímulo visual.
turas; os olhos captam os impulsos luminosos, os
ouvidos o ruído etc. Esse processo é chamado de Fonte: o autor (2016).

sensação (NORMAN, 2004).

125
ERGONOMIA

SAIBA MAIS
A percepção é portanto, a interpretação dos es-
tímulos captados pelos sentidos, ou seja, são as ima-
Para que ocorra a sensação, é necessário que gens, sons, sabores, odores que percebemos à nossa
a energia ambiental esteja dentro de um certo volta. A percepção também depende de experiências
limite (limiar) que corresponde à capacida-
de do órgão sensorial. Quanto mais intenso
anteriores e de fatores individuais como personali-
o estímulo, mais facilmente será detectado dade, nível de atenção e expectativas. Assim, a mes-
e as respostas serão mais rápidas. Ou seja, ma sensação pode produzir percepções distintas em
percebemos com maior facilidade uma luz
forte e um som alto que uma luz fraca e um
diferentes pessoas, levando a diferentes tipos de de-
som baixo. cisões (NORMAN, 2004).
Mas há também um limite superior e acima No processo cognitivo, após formada a percepção
deste limite a sensação passa a ser dolorosa. dos sinais externos, ocorre um processo de interpreta-
Por exemplo: o homem capta sons entre 20
Hz (5 dB) e 20 000 Hz (130 dB). Sons no limite ção, em que muitas reações ocorrem para se tomarem
superior podem levar à surdez. uma decisão sobre como agir. Nesse ponto, as experi-
Fonte: Másculo e Vidal (2011).
ências anteriores, o treinamento, o estado de humor,
enfim, todas as condições do indivíduo que sejam
relevantes são levadas em consideração no processo
de decisão. Assim, é tomada a decisão por agir, sendo
O tempo todo somos bombardeados de sinais do enviados comandos ao sistema musculoesquelético
ambiente, mas nem todos esses sinais apresentam para realizar os movimentos necessários (NORMAN,
informações úteis para as tarefas a serem executa- 2004; MONT’ALVÃO, DAMASIO, 2008).
das. Assim, o cérebro concentra a atenção em alguns As informações do meio percebidas pelo cére-
estímulos e reduz a atenção de outros, em um pro- bro se forem consideradas relevantes, podem ser ar-
cesso denominado de atenção seletiva. mazenadas como memória. A memória é composta
A informação captada pelo organismo humano de nossas vivências, aprendizado, elicitam emoções
pelos órgãos dos sentidos (sensação) é conduzida e são imprescindíveis para a tomada de decisões. A
ao sistema nervoso central, onde primeiramente seguir, discutiremos um pouco mais o papel da me-
ela é identificada como uma informação. Assim, mória no processo cognitivo humano.
por exemplo, um fluxo luminoso (estímulo am-
figura 02: processo cognitivo humano
biental) é captado pelos olhos (órgão sensorial) e
Sinais do meio Memória de Memória de
transmitido até o cérebro como impulso elétrico ambiente Longa duração trabalho

(percepção), no cérebro esse impulso é interpreta-


do como imagem, formando a visão. A esse proces- Sensação
[órgãos dos Percepção Interpretação Decisão Ação
so de interpretação chamamos de percepção, e ela sentidos]
ocorre com todos os tipos de estímulos ambientais Processo Processo Processo
captados pelos órgãos dos sentidos (MÁSCULO; perceptivo cognitivo motor

VIDAL, 2011). Fonte: o autor (2016).

126
DESIGN

127
ERGONOMIA

• A memória de longa duração é a memória que


A MEMÓRIA HUMANA armazena as informações a longo prazo, ou
A memória está relacionada com transformações seja, são as lembranças, o aprendizado e todos
das sinapses da estrutura neural do cérebro, que usa os dados que conseguimos acessar na nossa
esse mecanismo para armazenar informações perce- mente. Em uma analogia com o computador,
bidas. As lembranças (memória) não estão organi- é semelhante ao Hard Disk (HD). A memória
zadas em uma zona específica do cérebro, mas sim de longa duração codifica-se pelos aspectos se-
mânticos (conteúdos) ou conceituais e tende a
em várias regiões. O mecanismo de armazenamento
confundir informações de conceitos semelhan-
consiste em um fenômeno biológico que une vários
tes (diagrama e gráfico). Pode-se confundir Pe-
processos cerebrais físicos, químicos e biológicos dro com o João porque são irmãos ou ambos
(IIDA, 2005; DAMASIO, 1996). exercem a mesma profissão (IIDA, 2005).
A memória é ainda dividida em dois tipos: a me-
mória de curta duração e a memória de longa dura- FATORES DE INFLUÊNCIA
ção com funções e forma de atuação distintas. NA PERCEPÇÃO E PROCESSAMENTO
• A memória de curta duração é a memória de DE INFORMAÇÕES
trabalho. Em uma analogia com o computa- Certas condições tendem a facilitar ou dificultar a
dor, é comparável a memória RAM, que car- transmissão e o processamento desses estímulos. A
rega informações que estão sendo usadas e
seguir estão identificadas alguma delas.
depois quando não são mais necessárias são
• Tempo de reação: como vimos, o processo
descartadas. A memória de curta duração é
de captação e compreensão de informações
de natureza fonética (forma) e tende a con-
até haver uma reação, que pode envolver mo-
fundir palavras que têm sons semelhantes
vimentos musculares, tem muitas etapas e
entre si (são, som, tom, bom), mas não pa-
apesar de serem realizadas de maneira muito
lavras diferentes que têm significados seme-
rápida, é de se esperar que tomem um tempo.
lhantes (negro, preto, escuro) (IIDA, 2005;
O tempo de reação médio a um estímulo é de
DAMÁSIO, 1996).
2 segundos. É esse o tempo, por exemplo, que
a legislação brasileira de trânsito utiliza para
SAIBA MAIS determinar a distância de segurança entre ve-
ículos (MÁSCULO, VIDAL, 2011).
• Complexidade da informação: quanto mais
complexa a informação, mais tempo leva-
Se comparada a um computador, a capaci- rá para o cérebro fazer a compreensão, pois
dade total da memória humana é estimada
entre 100 milhões e 43 bilhões de bits (12,5
muitos elementos terão que ser considerados
milhões a 5 trilhões de bytes). Isso equivale e provavelmente muito será exigido da me-
a uma capacidade de armazenamento de até mória para tomar a decisão e realizar a reação
5 gigabytes de informação. (DUL; WEERDMEESTER, 1995).
Fonte: Ilda (2005).
• Níveis de excitação e de vigilância: a facilida-
de ou dificuldade de compreender os proces-
sos de informações depende muito do nosso

128
DESIGN

nível de atenção. Se estamos sonolentos (ou


até alcoolizados, por exemplo), o cérebro é
menos capaz de processar as informações ou
até mesmo de realizar a percepção das sensa-
ções que estão sendo captadas. É bem comum
pessoas distraídas dizerem que não viram
determinada coisa. Na realidade não viram
mesmo, pois apesar de terem tido a sensação
da visão, provavelmente não tiveram a per-
cepção da imagem no cérebro, ou essa per-
cepção não foi suficientemente forte para ser
processada pelo cérebro como um estímulo
que merecesse atenção (IIDA, 2005).

Agora que compreendemos como captamos e pro-


cessamos as informações, vamos, agora, aprender
como projetar canais informacionais para serem
mais facilmente compreendidos pelas pessoas.

figura 03: quando estamos com sono, nosso nível de atenção é bastante reduzido, colocando em risco a realização de tarefas que envolvem risco

129
ERGONOMIA

INFORMAÇÕES
VISUAIS E AUDITIVAS
Como vimos, a transmissão e compreensão de infor- seus rótulos, manuais de instrução e interface dos
mações envolvem processos complexos e, por isso, produtos, por exemplo, o símbolo de ligar/desligar.
as formas de disponibilizar essas informações para Também estão nas interfaces dos softwares, nas si-
os usuários de produtos e sistemas deve ser de for- nalizações das estradas e repartições públicas, nos
ma clara e de fácil compreensão. Para tanto, veremos aplicativos de celulares etc.
um pouco mais sobre os dispositivos de informação O projeto inadequado dos dispositivos de infor-
e os principais canais de comunicação. mação pode causar demora para compreensão das
informações ou compreensão incorreta, levando a
DISPOSITIVOS DE INFORMAÇÃO erros e acidentes, cujas consequências podem ser
Os dispositivos de informação são todos os supor- desastrosas. Por isso, é importante considerar que
tes que transmitem informações para os usuários. existem formas mais eficientes de transmitir infor-
Eles estão presentes em quase todos os produtos, em mações em determinados contextos.

130
DESIGN

figura 04: os dispositivos de informação estão presentes em praticamente


todas as nossas atividades do dia a dia

131
ERGONOMIA

APRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES


Como vimos anteriormente, estamos a todo mo-
mento captando informações do meio ambiente.
Por exemplo, quando sentimos cheiro de gás, esse
odor está transmitindo a informação de que há um
vazamento e nós interpretamos essa informação
como uma situação de risco e reagimos procurando
eliminar a fonte de vazamento.
No entanto, as formas mais comuns de serem
apresentadas informações em produtos, sistemas e
locais de trabalho é da forma visual e sonora, priori-
zando, portanto, os canais visuais e auditivos.
A escolha do tipo de dispositivo de informação
vai depender de inúmeros fatores. A seguir, iden-
tificamos alguns critérios que determinarão a pre-
ferência de se utilizar o canal visual ou o auditivo.

132
DESIGN

A informação é simples e curta: preferência por


utilizar informação sonora. É preferível utilizarmos
o canal auditivo, pois, nesse caso, conseguimos cap-
tar a informação de maneira rápida, desviando me-
nos a atenção tarefa que estamos desempenhando.
Por exemplo, temos as informações sonoras do GPS
nos dizendo para virar à direita ou à esquerda, não
precisando desviar o olhar do trânsito (GRANDJE-
AN, 1998; STANTON, 1998).
A informação é complexa e longa: preferência
por informação visual. Toda informação complexa
demora mais tempo para compreensão e se for lon-
ga também é dificilmente compreendida no todo de
uma vez. Portanto; uma informação visual (escrita,
gráficos etc.) pode ser relida quantas vezes forem
necessárias até a tarefa ser realizada completamente
(GRANDJEAN, 1998; STANTON, 1998).
Figura 1a: Informações em ró-
tulos de embalagens sobre como
preparar produtos ou prescrições
de medicamentos devem ser es-
critas, pois levam certo tempo
para serem executadas e preci-
sam ser relidas frequentemente

Figura 1b: Em produtos, infor-


mações demoradas como a ins-
trução de montagem são visuais,
mas informações rápidas, como
um forno de micro-ondas in-
formando que o cozimento está
pronto é auditiva

133
ERGONOMIA

Envolve localizações espaciais: instruções de


como se movimentar ou a sua posição em um local,
geralmente devem ser oferecidas por informações
visuais gráficas. Indicar um caminho ou localização
em um mapa ou ilustração é mais facilmente com-
preendida do que indicar por descrição verbal (FAL-
ZON, 2007; IIDA, 2005).
Informação por menus: em menus auditivos,
geralmente por telefone, temos que ouvir todas as
opções uma a uma até encontrar a opção desejada.
Ainda muitas vezes, temos que ouvir o menu inteiro
até ter certeza de qual opção é a mais indicada para
a tarefa que desejamos realizar. Isso demanda muita
memória de trabalho (memória de curta duração) e
podemos nos esquecer ou fazer confusão, tendo que
voltar desde o início (FALZON, 2007; IIDA, 2005).

Figura 1c: Quando o canal visual está comprometido, devemos usar


informações visuais e quando o canal auditivo não pode ser utilizado,
deve ser utilizadas informações visuais

Há urgência na execução: é preferível que


seja auditiva, pois nos chama mais a atenção
que informações visuais. Alertas de segurança
geralmente são sons altos e irritantes para chamar
a atenção das pessoas imediatamente (MORAES;
MONTALVÃO, 1998).
Ambientes escuros: é preferível que se utilize
informações sonoras, pois, o canal visual está preju-
dicado. Mineradores geralmente recebem informa-
ções via radio, por exemplo (MORAES; MONTAL-
VÃO, 1998, FALZON, 2007).
Ambientes ruidosos: em muitas indústrias, o
ruído do processo produtivo e muito alto, impedin-
do a comunicação verbal. Nesses casos, é preferível
utilizar informações visuais, por sinalização ou le-
treiros luminosos (MORAES; MONTALVÃO, 1998,
Figura 1d: Informações auditivas devem ser curtas e rápidas enquanto
FALZON, 2007). que menus com muitas informações devem ser visuais

134
DESIGN

figura 5: campo visual


INFORMAÇÕES VISUAIS
Apesar de existirem inúmeras formas de transmitir
informações auditivas, ainda a maior quantidade
de informações que utilizamos são visuais. Espe-
cialmente devido a complexidade das informações,
o canal visual é o mais utilizado. Portanto, vamos
apresentar alguns critérios para se desenvolver in-
formações visuais mais adequadamente.

Hierarquia das tarefas visuais


Quando precisamos fazer fixações visuais em um
campo visual muito amplo, é estabelecida uma hie-
rarquia entre os objetos. Assim, é importante co-
nhecermos como funciona o campo visual humano
para decidirmos como dispor as informações mais
importantes e as menos importantes em um sistema
de sinalização (IIDA, 2005).
• Visão ótima: é a visão que está bem à frente do
campo visual; os objetos situados dentro da visão
ótima podem ser visualizados continuamente,
sem quase movimentações do olho.
• Visão máxima: é a visão obtida somente
com os movimentos dos olhos, sem mover
a cabeça. Envolve todo o campo visual que
percebemos no olhar.
• Visão ampliada: é o campo visual que conse-
guimos atingir com os movimentos da cervical
(55º para à direita e à esquerda, 40º para baixo
e 50º para cima). Na visão ampliada, devemos
colocar objetos ou sinalizações que utilizamos Fonte: Adaptado de Ilda (2005).
com pouca frequência.
• Visão estendida: incluem os movimentos Palavra escrita
corporais (tronco, pernas etc.). Apenas ob-
jetos ou sinalizações de uso eventual devem Nos textos escritos, para haver a transmissão da
estar dispostos nessa localização. informação de forma adequada ao usuário, muitos
fatores devem ser levados em consideração, como
A fadiga visual afeta primeiro os níveis mais altos e a facilidade de ler e a clareza da informação trans-
mais dificilmente afeta o nível de visão ótima. Por mitida. Assim, dois conceitos são importantes neste
isso que as informações de uso muito frequente de- caso: legibilidade e leiturabilidade (FALZON, 2007;
vem estar bem localizadas. MORAES; MARIÑO, 2000).

135
ERGONOMIA

A legibilidade é definida pela capacidade de re-


conhecer as letras e formar as palavras, estando mais
relacionada com a capacidade visual de reconhecer
um texto escrito. Envolve os aspectos físicos do tex-
to, como o tamanho das letras, as fontes escolhidas
(tipo de letra), os espaçamentos e margens, as ima-
gens e cores, a qualidade de impressão.
A leiturabilidade, por sua vez, refere-se mais à
capacidade de interpretar e absorver o que está es-
crito. Envolve todos os aspectos relacionados com a
compreensão do texto e a criação de sentido da in-
formação trabalhada. Existem muitas informações
que, apesar de terem legibilidade, ou seja, de pode-
rem ser lidas claramente (percepção), não podem
ser compreendidas com clareza (processamento da
informação), por serem complexas demais ou por
não fazerem sentido ao leitor.

figura 6: a legibilidade diz respeito à dificuldade de ver o texto e a


leiturabilidade de compreender o texto

136
DESIGN

Uma das diretrizes de conforto na leitura de um tex- • Evitar textos com letras maiúsculas: para
textos longos não é recomendado, pois, difi-
to está relacionada com o espaçamento entre linhas.
cultam o acompanhamento das linhas e não
Às vezes é preferível manter um espaçamento menor auxiliam no reconhecimento de início de
entre as letras que deixar as linhas muito próximas. orações ou nomes próprios.
Quando há um espaço maior entre as linhas, menos • Uso de fontes com serifa: serifas são formas
erro de acompanhamento de leitura ocorre. Para evi- gráficas utilizadas, opcionalmente, para dar
tar o embaralhamento das linhas, pode-se usar colu- acabamento a uma letra. São usadas, por
nas, parágrafos ou interrupções periódicas no texto. exemplo, para reforçar uma linha. O uso de
fontes com serifas, se não forem exageradas,
figura 7: tipos de texto ajudam o leitor a acompanhar a leitura de
Uma das diretrizes de conforto na uma linha em um texto longo, reduzindo o
leitura de um texto está relaciona- tempo de leitura. Textos de título, sinalização
da com o espaçamento entre linhas. ou textos curtos preferencialmente são utili-
Às vezes é preferível manter um zadas fontes sem serifa, por serem de reco-
espaçamento menor entre as letras nhecimento mais rápido.
que deixar as linhas muito próxi-
8: tipos de serifas utilizadas em tipos (fontes)
mas. Quando há um espaço maior
figura

entre as linhas, menos erro de


acompanhamento de leitura ocorre.
Para evitar o embaralhamento Serifa
apoiada
das linhas, pode-se usar colunas,
parágrafos ou interrupções periódi- S. TRIANGULARES
Fonte: Garamond
S. EM FILETE
Fonte: Bodoni Classic
cas no texto.

Uma das diretrizes de conforto na leitura de um tex-


to está relacionada com o espaçamento entre linhas. Serifa
Às vezes é preferível manter um espaçamento menor não-apoiada

entre as letras que deixar as linhas muito próximas. S. QUADRADAS S. EXAGERADAS


Quando há um espaço maior entre as linhas, menos Fonte: Rockwell Fonte: Rio Grande

erro de acompanhamento de leitura ocorre. Para evitar


o embaralhamento das linhas, pode-se usar colunas, • O tamanho (corpo) da letra deve ser pro-
parágrafos ou interrupções periódicas no texto. porcional à distância do leitor. Um texto em
sinalização ou cartaz, a fonte deve ser grande
Algumas recomendações para melhorar a legibilida- o suficiente para ser lida à distância. Em um
livro ou manual, o texto pode ser menor, pois
de e leiturabilidade das informações visuais:
o leitor está próximo. A recomendação é de
• Evitar letras rebuscadas: dificultam o reco- que o tamanho da letra maiúscula deve ser
nhecimento das letras e causam maior demo- 1/200 dessa distância.
ra na leitura, devido à baixa legibilidade. Em • Contraste: é importante que exista um con-
textos longos, pode levar a fadiga e desistên- traste adequado entre a fonte e o fundo para
cia por parte do leitor. aumentar a legibilidade.

137
ERGONOMIA

figura 9: exemplos de bons contrastes [à esquerda e exemplos


de contrastes ruins [á direita]

Preto Vermelho

Azul Preto

Preto Preto

Vermelho Preto

Amarelo Amarelo

Símbolos
O uso de símbolos é uma forma de romper a barreira
do idioma, por ser mais universal que a linguagem ver-
bal. Assim, é muito comum encontrarmos símbolos
em sinalização de aeroportos, rodovias etc. Em geral,
apresenta maior proximidade com o objeto real que
tentam representar e, portanto, também podem ter
maior facilidade e rapidez de compreensão. Por exem-
plo, símbolos são largamente utilizados em interfaces No entanto, nem sempre apresentam um significado
gráficas, sinalização de estradas e avisos de segurança. claro aos usuários, pois, a compreensão dos símbo-
los depende do repertório individual (informações
figura 10: o uso de símbolos é um recurso largamente
utilizado na comunicação e vivências que o leitor teve acesso ao longo de sua
vida), nível de instrução, cultura, religião etc. Sím-
bolos em uma cultura podem ter um significado cla-
ro enquanto que em outras podem não fazer muito
sentido.
Outra questão importante é que quanto maior o
grau de abstração, mais difícil reconhecer o signifi-
cado, ou seja, se o símbolo não representar um ob-
jeto real, é mais difícil compreendê-lo. Por exemplo,
alguns símbolos utilizados no transporte de embala-
gens são de fácil compreensão, no entanto, para ou-
tros é necessário um treinamento dos profissionais
dessa área para não haver erros de interpretação.

138
DESIGN

MOSTRADORES
Em muitos produtos, veículos e locais de trabalho Os mostradores são os elementos empregados em
existem sistemas de informação específicos que nos produtos, máquinas, veículos etc. para tirar indicar
auxiliam a compreender o que devemos fazer ou ao usuário o seu status de funcionamento.
trazem informações sobre o estado do sistema que
estamos operando. Esses sistemas de informação são Tipos de mostradores
chamados de mostradores e, nesse momento, vamos Os mostradores podem ser divididos em duas cate-
estudar um pouco mais sobre como são e como po- gorias: os mostradores quantitativos e qualitativos. A
demos utiliza-los de maneira mais adequada. seguir, veremos as diferenças entre esses dois tipos.

139
ERGONOMIA

figura 11: mostradores estão presentes em quase todos os produtos, ve-


ículos e máquinas, eles são o meio que os produtos transmitem informa-
ções aos usuários
Qualitativos
Os mostradores qualitativos indicam o estado de
funcionamento de uma máquina, produto ou ve-
ículo, mas com valores aproximados de uma vari-
ável, indicando sua tendência, variação de direção
ou desvio em relação a um determinado valor. Nesse
caso, saber o valor exato não é importante para o
usuário. É indicado em processos em que as variá-
veis precisam permanecer dentro de uma determi-
nada faixa de operação ou de segurança.

Mostradores informatizados
Os mostradores informatizados são cada vez mais
comuns. Devido à possibilidade de mudança de tela,
permitem uma grande versatilidade ao sistema, po-
dendo transmitir uma quantidade enorme de infor-
mações de forma dinâmica. No entanto, o projeto
Mostradores quantitativos desses sistemas se torna muito mais complexo, de-
Os mostradores quantitativos estão ligados a uma vendo apresentar muito maior critério para garantir
variável de natureza quantitativa, como volume, a compreensibilidade e eficiência do sistema (SAN-
pressão, peso, distância etc., e o conhecimento des- TA ROSA; MORAES, 2012).
sa quantidade é importante para o usuário (STAN-
TON; YOUNG, 1999). São divididos em analógicos, LOCALIZAÇÃO DE MOSTRADORES
digitais e de registro contínuo. Um critério importante a ser considerado, além de
escolher o tipo de mostrador, é a disposição dele no
• Analógicos: apresentam ponteiros ou uma
produto ou máquina. Dessa forma, facilita a visu-
escala móvel que acompanha a evolução do
alização, o reconhecimento e uso, alguns critérios
estado da máquina.
devem ser observados:
• Digitais: apresentam a situação da variável
• Importância: os mostradores mais importan-
em números. Apresentam leituras com maior
tes e mais frequentemente utilizados devem
facilidade e precisão. Não devem ser usados
ficar no cone de visão ótima.
quando o valor observado variar mais de 1
• Associação: mostradores associados a con-
vez por segundo.
troles devem ser colocados na mesma ordem
• Registro contínuo: faz o registro da variável ou próximos, assim fica fácil para o usuário
que está sendo medida em um fluxo contí- associar um controle a um mostrador.
nuo. Servem para acompanhar a variação de • Agrupamento: em painéis complexos, com
uma variável ao longo do tempo (eletrocar- diversos tipos de mostradores, esses devem
diogramas, sismógrafos, tacógrafos etc.). ser agrupados em categorias.

140
DESIGN

A
D

A No painel de um carro, os mostra-


dores mais importantes estão cen-
E
tralizados no cone de visão.
B Mostrador próximo aos comandos
que realizam a operação.
C Mostrador de informação presente
no cotidiano.
D Mostrador analógico de um ter-
mômetro.
E Registro eletromiográfico de fluxo
contínuo.

141
ERGONOMIA

CONTROLES
Anteriormente, vimos o que são mostradores e al- podem ser utilizados em produtos e programas; a
guns critérios de como empregá-los em produtos. seguir veremos alguns deles.
Agora, vamos estudar os sistemas de controle que
utilizamos para acionar comandos em produtos, TIPOS DE CONTROLES
máquinas e sistemas operacionais. Os controles são em sua maioria projetados para se-
Os controles são todos os sistemas que utili- rem acionados por movimentos das mãos e dedos,
zamos para inserir informações em sistemas, má- mas podem utilizados os pés, comando de voz e até
quinas, veículos ou produtos e interagir com eles. expressões faciais.
Compõem a interface de operação entre homem e o Os controles podem ser classificados em duas catego-
produto. Existem inúmeras formas de controles que rias: os controles discretos e os controles contínuos.

142
DESIGN

Controle discreto
O controle discreto admite apenas algumas posições
bem definida de cada vez, não permitindo valores
intermediários entre elas. Os principais tipos destes
controles são:
• Ativação: admite dois estados: liga/desliga;
sim/não. Por exemplo: são os interruptores
ou os botões liga/desliga.
• Posicionamento: admite um número limita-
do de posições.
• Entrada de dados: conjunto de botões que per-
mite compor séries de letras e/ou números.

Controle contínuo
Os controles contínuos permitem realizar uma infi-
nidade de diferentes ajustes. São divididos em dois
tipos, os de posicionamento quantitativo e os de mo-
vimento contínuo.
• Posicionamento quantitativo: quando se de-
seja fixar um determinado valor dentro de
um conjunto contínuo.
• Movimento contínuo: quando serve para al-
terar continuamente o estado da máquina,
acompanhando a sua trajetória

143
ERGONOMIA

figura 14: evoluções de movimentos


ESTEREÓTIPO POPULAR
Estereótipo popular consiste na expectativa de um Quesitos
determinado efeito manifestado pela maioria da po- Movimento do Knob
pulação em uma dada situação. Em controles, ele Para mover a seta até o centro do
determina a expectativa de como devemos acioná-lo mostrador o knob deve ser girado
e de qual resultado podemos esperar. Alguns estere- no sentido:
-Horário
ótipos populares são inatos: identificados em povos -Anti-horário
não civilizados e em crianças. Estudo com crianças Fechadura de caixa
de 5 anos identificou 70% de acerto em comporta- Para abrir esta caixa você colocaria
mentos que já eram esperados (IIDA, 2005). a chave com os dentes voltados
para:
Os movimentos de controle que seguem o este-
-Cima
reótipo popular são chamados de compatíveis. Esses -Baixo
são aprendidos mais rapidamente e executados com
mais confiabilidade. Já os movimentos incompatí-
Movimento da alavanca
veis podem ser aprendidos por treinamento, mais
Para deslocar o ponteiro para a
levam mais tempo e podem ser confundidos em direita, você moveria a alavanca:
uma situação de emergência.
-Empurrando
-Puxando

CONTROLES ASSOCIADOS figura 15: mostradores associados a controles


A MOSTRADORES
Boa parte dos controles são associados a mostrado-
res, que indicam como as ações que realizamos nos
controles estão sendo operadas pela máquina ou
produto. No entanto, existem alguns princípios que
devem ser seguidos para se ter um projeto integrado
e eficiente.
• 1º Princípio: os movimentos rotacionais no 1º Princípio 2º Princípio
sentido horário estão associados a movimen-
tos de mostradores para cima e para a direita.
• 2º Princípio: em movimentos de controles e
mostradores situados em planos perpendicu-
lares entre si, a rotação à direita tende a afas-
tar o mostrador.
• 3º Princípio: os controles e mostradores exe-
cutam movimentos no mesmo sentido, no 3º Princípio
ponto mais próximo entre ambos. Fonte: Iida (2005, p. 229)

144
DESIGN

SENSIBILIDADE DO DESLOCAMENTO
A sensibilidade de um controle é medida pela razão Existem vários critérios que podemos diferenciar
entre o deslocamento do mostrador e do controle um controle do outro para auxiliar o operador a
(CACHA, 1999; GREEN; JORDAN, 1999). identificar qual a função de cada controle. A seguir,
• Sensibilidade alta: o movimento do mostrador apresentados alguns deles.
é grande em relação ao movimento do controle, • Forma: os controles devem ter formatos dife-
gerando um ajuste mais rápido e menos preciso. renciados que sejam facilmente identificados.
• Sensibilidade baixa: o movimento do mostra- Inclusive a discriminação pode ocorrer pelo
dor é pequeno em relação ao movimento do tato, sem necessidade de acompanhamento
controle, gerando um ajuste mais lento e mais visual.
preciso. • Tamanho: essa discriminação é mais difícil
do que pela forma. Os controles precisam
Existe um ponto ótimo entre as duas variáveis onde estar próximos para serem comparados. Os
o tempo não é tão grande e a precisão não é muito controles devem estar em sequência e apre-
baixa, todavia, os controles podem apresentar baixa sentar um aumento de pelo menos 20% entre
e alta sensibilidades dependendo da necessidade. um e outro. Geralmente, os botões maiores
são destinados às funções mais comuns.
DISCRIMINAÇÃO DOS CONTROLES • Cores: podem ser associadas a significados
(verde liga, vermelho desliga), mas exige
acompanhamento visual e funciona mal em
O reconhecimento de um controle e de como deve- ambiente pouco iluminados.
mos operá-lo são critérios importantes para o fun- • Textura: refere-se ao acabamento superficial
cionamento correto da interface homem-máquina, do controle. Estudos indicam que é possível
pois, possibilita mais agilidade e segurança no acio- identificar bem 3 padrões: liso, rugoso e sul-
namento e menos incidência de erros. cos no sentido axial. É prejudicada em caso
de uso de luvas.
SAIBA MAIS • Modo operacional: os acionamentos podem
diferenciar os mostradores (alavanca, rota-
ção, puxar/empurrar). Os movimentos de-
vem ser compatíveis com estereótipos, con-
Dados da Força Aérea dos Estados Unidos in- forme vimos anteriormente. Por exemplo,
dicam que houve mais de 400 acidentes em em mesas de som, os controles apresentam
apenas 22 meses durante a Segunda Guerra
formas e modo de funcionamento específicos
Mundial que não estavam relacionados dire-
tamente ao conflito armado. As causas apura- para funções diferentes.
das dos acidentes indicaram que o erro mais • Localização: identificação pelo senso cines-
comum foi a confusão entre os controles do tésico, sem acompanhamento visual. Os con-
trem de pouso e dos flaps, pois, eram muito troles devem ficar distantes uns dos outros
semelhantes, causando a queda das aeronaves.
(distância mínima: 6,3 cm na vertical e 10,2
Fonte: Iida (2005). cm na horizontal). Os pedais de veículos,
câmbio e alavancas de tratores são exemplos
desses controles.

145
ERGONOMIA

146
DESIGN

PREVENÇÃO DE ACIDENTES
COM CONTROLES
Um dos problemas com o uso de controles é que mento mesmo quando o usuário ou operador
estiver com as mãos ocupadas.
podemos acioná-los acidentalmente, gerando erros
• Rebaixo: alguns botões são posicionados no
que podem ser graves, dependendo do que estamos
mesmo nível da superfície ao invés de esta-
operando.
rem destacados em relevo, facilitando com
A maior parte dos erros estão relacionados à má que não sejam pressionados acidentalmente.
discriminação dos controles, confusão entre um co- • Cobertura: alguns controles possuem uma
mando e outro e escarrando em controles sem in- cobertura protetora que evita o acionamento
tenção. Visando evitar acionamentos acidentais, o acidental.
projeto de controles deve prever cuidados especiais • Canalização: muito comum em alavancas que
(CACHA, 1999; IIDA, 2005). apresentam determinados níveis para serem
• Localização: os botões de acionamento crí- acionados, exigindo movimentos compostos.
ticos devem ser posicionados em locais da Também pode necessitar dois comandos para
máquina em que a pessoa não pode esbarrar serem acionados, como pressionar um botão
acidentalmente. para liberar o acionamento da alavanca.
• Orientação: alguns botões devem ser pu- • Resistência: consiste em deixar o controle
xados para serem acionados e empurrados com uma certa resistência para ser acionado,
(pressionados) para serem desligados. Isso demandando certa força.
faz com que em um acionamento acidental • Bloqueio: alguns comandos de segurança são
a máquina pare ao invés de ser acionada. Em protegidos em caixas fechadas para evitar que
emergência, isso também facilita o aciona- sejam acionados em qualquer situação.

147
considerações finais

Nesta unidade, aprendemos como funciona o processo de captação e processa-


mento da informação nos seres humanos, evidenciando como esse processo é
complexo e dependente de inúmeros fatores.
Observamos as diversas etapas do processo cognitivo e vimos como a memó-
ria tem papel importante no reconhecimento dos estímulos que estamos perce-
bendo e interpretando, ou seja, nossas vivências, aprendizado, princípios, desejos
e estados emocionais são determinante para a formação da decisão. Nós reagi-
mos aos estímulos que recebemos de acordo com nossa própria forma de ser.
No entanto, a forma como a informação é disponibilizada é determinante
para haver uma compreensão errônea ou correta da mensagem que o produto ou
sistema está tentando transmitir. Os principais canais sensoriais utilizados para
realizar a comunicação são a audição e a visão, e cada um deles possui caracterís-
ticas específicas que se adaptam melhor a um tipo de informação em detrimento
de outro. Portanto, a escolha entre empregar uma informação visual ou sonora é
importante para o sucesso da comunicação.
Apesar de o ouvido ser muito empregado em produtos, meios de transporte
e sistemas como um canal de comunicação, a maior parte do fluxo de informa-
ções em atividades humanas ocorre por meio do canal visual. Vimos critérios
importantes a serem considerados, como o uso de imagens e textos, observando
critérios como a legibilidade e leiturabilidade.
Por fim, vimos como os mostradores e controles são empregados em pro-
dutos, máquinas e veículos, permitindo um fluxo de informações do produto
ao usuário (mostradores) e do usuário ao produto (controles) na interface ho-
mem-máquina. Esse fluxo de informações em via dupla possibilita a realização
de diversas atividades humanas mediadas por produtos.

148
atividades de estudo

1. Sobre o processo de captação e processamento de informações, associe o


conceito à esquerda com sua definição à direita.
a. Informação ( ) É um conjunto de processos mentais que permite às pes-
soas buscar, tratar, armazenar e utilizar diferentes tipos de
informações do ambiente.
b. Cognição ( ) Estímulos do meio que afetam o ser humano e são capta-
dos pelos órgãos dos sentidos.
c. Percepção ( ) Refere-se ao processo biológico de captação de energia
ambiental sob a forma de luz, calor, pressão, movimento,
partículas químicas etc.
d. Sensação ( ) Consiste na interpretação dos estímulos captados pelos
sentidos, ou seja, são as imagens, sons, sabores, odores
que percebemos à nossa volta.

2. Abaixo há afirmações acerca da memória de longa duração e a memória


de curta duração.
I. A memória de curta duração também é chamada de memória de trabalho.
II. A memória de longa duração armazena o nosso aprendizado, nossas lem-
bras, nossas vivencias e auxilia no processo de decisão.
III. A memória de curta duração pode ser comparada ao Hard Disk (HD) do
computador.
IV. A memória de longa duração pode ser comparada à memória RAM do
computador.

Assinale a alternativa correta:


a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas está correta.

3. Sabemos que em alguns casos as informações visuais são mais práticas e


em outros é melhor utilizar informações auditivas. Nas situações abaixo,
assinale V quando devemos utilizar informações visuais e A quando deve-
mos utilizar informações auditivas.
( ) A informação é simples e curta.
( ) A informação é complexa e longa.

149
atividades de estudo

( ) O tempo de execução é demorado.


( ) Há urgência na execução.
( ) Envolve localizações espaciais

4. Sobre o campo visual, associe o conceito à esquerda com sua definição à


direita.
a. Visão estendida ( ) É a visão que está bem à frente do campo visual; os
objetos situados dentro da visão ótima podem ser
visualizados continuamente, sem quase movimenta-
ções do olho.
b. Visão ótima ( ) É a visão obtida somente com os movimentos dos
olhos, sem mover a cabeça. Envolve todo o campo vi-
sual que percebemos no olhar.
c. Visão ampliada ( ) É o campo visual que conseguimos atingir com os mo-
vimentos da cervical (55º para a direita e esquerda, 40º
para baixo e 50º para cima). Na visão ampliada, deve-
mos colocar objetos ou sinalizações que utilizamos
com pouca frequência.
d. Visão máxima ( ) Inclui os movimentos corporais (tronco, pernas etc.).
Apenas objetos ou sinalizações de uso eventual de-
vem estar dispostas nessa localização.

5. Na sequência são apresentados critérios para melhorar a leiturabilidade e


legibilidade da comunicação visual. Assinale a alternativa correta.
a. Pode-se letras rebuscadas, pois, quebram a monotonia e ajudam o leitor
a se manter atento.
b. Priorizar escrita com letras maiúsculas, especialmente em textos longos,
pois, facilitam a identificação à distância.
c. O tamanho (corpo) da letra deve ser proporcional à distância do leitor.
d. Uso de fontes com serifas deve ser sempre evitado.
e. É importante que exista um contraste adequado entre a fonte e o fundo,
como o vermelho com o verde, por exemplo.

150
LEITURA
COMPLEMENTAR

[...] Em muitas situações de trabalho, nossos órgãos sensoriais servem efetivamente


para captar sinais emitidos por máquinas ou por pessoas que o operador não neces-
sariamente solicitou. O operador não procurou o pisca-pisca que indica um problema,
o alerta sonoro que indica o fim de uma operação, o ruído repentino que aponta um
problema de funcionamento, o grito de um colega que chama sua atenção para um
fator de risco. Em sua função de receptores, os órgãos sensoriais estão passivamente
disponíveis a emissões de informação, cujo teor transmitem aos centros nervosos, que
as usam segundo uma análise de sua pertinência.
Tentamos enfatizar neste texto que, ao lado dessa função de receptores passivos, os
mesmos órgãos estão também funcionalmente integrados a verdadeiros processos de
aquisição ativa, planificada, da informação que emana do sistema técnico, no qual o
operador age.
O conceito de sistema Homem-Máquina serviu durante muitos anos – e serve ainda,
em certos meios – como modelo das interações entre o operador e o sistema técnico,
no qual ele age. Sofreu, com razão, uma boa dose de críticas: convenhamos que, em
suas acepções clássicas, era simplista e redutor. Permitia ilustrar uma certa represen-
tação das situações de trabalho pondo em evidência o quanto seus proponentes con-
cebiam a máquina como responsável pelas transformações do produto do trabalho, o
operador concebido por um lado como mobilizador da coisa, mas também como recep-
tor da informação que ela se dignava a emitir. Em um modelo desse tipo, guiado pelas
representações também redutoras dos modelos iniciais da teoria da informação, o ope-
rador é emissor não de informações, mas apenas de ações que mobilizam o dispositivo
técnico, e o receptor das informações produzidas em retorno pelo sistema técnico; a
máquina recebe diretrizes do operador em sua interface e emite sinais na direção dele.
Pode-se propor alguns acréscimos ao modelo clássico, sem ter a intenção aqui de ela-
borar um outro modelo global, nem recensear as evoluções pelas quais o arquétipo
passou: levando-se em conta as dificuldades da modelagem dos sistemas complexos,
seria uma missão impossível no âmbito deste capítulo. Os acréscimos aqui propostos
tentam dar conta da multiplicidade dos processos de troca de informação na situação
de trabalho.
Neste modelo, o operador é “movido” por um atuador, representação simples do con-
junto dos mecanismos de tratamento da informação e dos processos decisórios, cuja

151
LEITURA
COMPLEMENTAR

estrutura e funcionamento poderão ser melhor descritos por outros. Esse atuador se
vale de quatro funções, as quais podem recorrer aos mesmos órgãos, aos mesmos
substratos anatômicos.
A primeira dessas funções é o mobilizador: trata-se do conjunto dos atos de comando
do sistema. Três funções de tratamento da informação nos dizem respeito mais di-
retamente. A função “receptor” serve para receber o conjunto das emissões sonoras,
visuais ou mecânicas não solicitadas: os sinais de alerta do sistema técnico, os avisos
provenientes de outras pessoas, as emissões acompanhando uma disfunção, tais como
uma vibração, um ruído repentino que, paradoxalmente, constitui um sinal. O atuador
é passivo em relação ao receptor, só o ativa na medida em que pode fazer a triagem da
informação que recebe dele. A função “investigador” serve para procurar e colher ativa-
mente informações sobre o conjunto do dispositivo técnico e organizacional através do
olhar, audição e exploração manual, em vez de ficar à espera dos sinais. Por fim, a fun-
ção “comunicador” permite as trocas do operador com os componentes organizacio-
nais do sistema, os parceiros humanos implicados na mobilização do mesmo sistema.
É portanto nesse amplo contexto que convém situar as ações informacionais do
operador. Demos ênfase à dualidade da aquisição de informação, ao mesmo tempo
captação passiva de emissões diversas e aquisição ativa de informações. É necessário
acrescentar o “investigador” ao receptor para compreender efetivamente o quanto é
importante o lugar da aquisição de informação na atividade de trabalho. E é necessário
acrescentar o comunicador a esse conjunto para compreender como um complexo
sistema de tratamento da informação é necessário para a mobilização dos sistemas de
trabalho.

Fonte: Desnoyers (2007).

152
Selected readings on information design: commu-
nication, technology, history and education
Carla Spinillo; Petrônio Bendito; Stephania Padovani (organi-
zadores)
Editora: Curitiba: Sociedade Brasileira de Design da Informa-
ção (SBDI), 2009.
Sinopse: Este livro compreende a seleção de 12 trabalhos
apresentados no 3º Congresso Internacional de Design da
Informação, promovido pela SBDI em 2007. Os trabalhos, pu-
blicados em português e inglês, compreendem 4 áreas: (1) Sistemas de Comunicação e Infor-
mação; (2) Design de interação; (3) Teoria e Métodos em design de informação e (4) Design
de informação e educação.

Revista Infodesign
Página da Revista Infodesign - Revista Brasileira de Design da Informação, apresentando di-
versos artigos dos melhores pesquisadores nacionais da área e com acesso livre gratuito.

Disponível em: <http://www.infodesign.org.br>.

Sociedade Brasileira de Design da Informação


Página da Sociedade Brasileira de Design da Informação, que tem como missão contribuir
para o desenvolvimento científico e tecnológico do Design da Informação no Brasil.

Disponível em: <http://sbdi.inlabmidia.com>.


referências

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blishers, 1999.
DAMÁSIO, A. R. O erro de descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996.
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São Paulo: Edgard Blücher, 2007.
DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard Blücher,
1995.
FALZON, P. Ergonomia. São Paulo: Edgard Blücher, 2007.
GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Por-
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MÁSCULO, F. S.; VIDAL, M. C. Ergonomia: trabalho adequado e eficiente. Rio
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MONT’ALVÃO, C.; DAMASIO, V. Design Ergonomia Emoção. Rio de Janeiro:
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MORAES, A. de; MONTALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. Rio de
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STANTON, N., YOUNG, M. S. A Guide to Methodology in Ergonomics: de-
signing for human use. London: Taylor and Francis, 1999.
SANTA ROSA, J. G.; MORAES, A. de. Avaliação e projeto no design de interfa-
ces. Teresópolis: 2AB, 2012.

154
gabarito

1. B, A, D, C.
2. A.
3. A, V, V, A, V.
4. B, D, C, A.
5. C.

155
ERGONOMIA DOS
PRODUTOS E SISTEMAS

Professor Dr. Bruno Montanari Razza

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Acessibilidade
• Usabilidade
• Métodos de usabilidade

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os conceitos de acessibilidade e design
universal, bem como o projeto voltado para públicos
específicos ou com necessidades especiais.
• Desenvolver o conceito de usabilidade e de experiência do
usuário, critérios de usabilidade para o desenvolvimento
de produtos e sistemas.
• Apresentar ao aluno os principais métodos de usabilidade
para a avaliação e projeto de produtos, interfaces e
sistemas.
unidade

V
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), quando falamos em ergonomia do produto, a primei-


ra característica que temos que considerar é que o produto é produzido
industrialmente em grandes quantidades. Isso implica que uma grande
diversidade de pessoas utilizará esse produto e ele deve ser adequado à
grande maioria das pessoas, garantindo a saúde, segurança e o conforto
do usuário, além de promover a efetividade, eficiência e satisfação no uso.
Outra questão importante ao se observar a produção industrial é que,
por envolver processos produtivos em grande escala, qualquer erro de
projeto ou de produção implicará em grandes perdas financeiras à indús-
tria. Essa regra é válida para quase todo tipo de produto industrialmente
produzido, como: roupas, utilidades domésticas, mobiliário, ferramen-
tas, veículos ou eletrodomésticos.
Os investimentos necessários ao desenvolvimento e produção de um
produto industrial são muito altos e, por isso, é de extrema importância
que o designer considere todos os aspectos de uso e adequação ergonô-
mica durante o projeto. Para conseguir isso, o designer deve conhecer o
usuário do produto, entendendo suas necessidades, capacidades e aspi-
rações.
Nesta unidade, vamos entender um pouco mais alguns desses as-
pectos que devem ser considerados na concepção de um produto. No
primeiro momento, abordaremos o caso dos produtos projetados para
pessoas com deficiência. Compreenderemos melhor quais as caracterís-
ticas dessas pessoas que devemos ressaltar e quais limitações precisam
ser superadas para garantir um maior acesso aos ambientes e serviços e
promover uma maior qualidade de vida a esses indivíduos.
Em seguida, discutiremos a usabilidade de produtos, ou seja, como
projetar produtos com maior qualidade de uso e, também, veremos mé-
todos de usabilidade para investigação e projetos de interfaces.
ERGONOMIA

ACESSIBILIDADE
Agora, discutiremos o projeto de produtos para a usuários, como antropometria, idade, capacidade
acessibilidade, ou seja, considerando o uso das pes- cognitiva e nível de escolaridade, conhecimen-
soas com deficiência. Assim, veremos algumas ne- tos anteriores, diferenças culturais, aptidões físi-
cessidades e potencialidades desses indivíduos e os cas, dentre outros. Dentre todas essas diferenças,
principais princípios de projeto para garantir o aces- é considerado um padrão de “normalidade” que é
so igualitário desses usuários. determinada por características mais frequentes na
Conforme comentamos anteriormente, proje- população, considerando as capacidades plenas do
tar produtos industriais é complexo devido à gran- indivíduo.
de variabilidade das características individuais dos

160
DESIGN

PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS nente (FALZON, 2007). De acordo com o tipo de limi-
Indivíduos que apresentam qualquer característi- tação, foram adotados cinco grandes agrupamentos:
ca que o limite a realizar plenamente as atividades • Deficiências psíquicas: incluem as deficiências
da vida cotidiana são consideradas as pessoas com intelectuais, a doença mental, bem como as de-
necessidades especiais. Essas necessidades podem, ficiências das funções gnósticas e práticas.
no entanto, ser permanentes ou temporárias. Por • Deficiências sensoriais: compreendem as de-
ficiências da visão, da audição e da fala, prin-
exemplo, um indivíduo com paraplegia ou cegueira
cipalmente.
é uma pessoa com necessidade especial permanente,
• Deficiências físicas: incluem deficiências ao
enquanto que uma pessoa transportando um bebê nível dos órgãos internos e musculoesquelé-
no colo ou com o braço enfaixado, que os impedem ticas e estéticas da região da cabeça e do tron-
de realizar plenamente algumas ações, são pessoas co, bem como as deficiências dos membros
com necessidades especiais temporárias. superiores e inferiores (déficit funcional, au-
sência e malformação ou deformação).
figura 1: exemplos de necessidades especiais temporárias • Deficiências mistas: referem-se às deficiên-
cias cuja manifestação incide em mais de um
dos planos: psíquico, sensorial e físico.
• Nenhuma deficiência em especial: são incluí-
das as situações das incapacidades em que não
foi possível identificar a deficiência de origem.
figura 2: exemplos de necessidades especiais permanentes

Assim, as pessoas com necessidades especiais per-


manentes são a maior preocupação, pois precisam
de produtos e adaptações no ambiente físico que ga-
rantam seu acesso pleno às atividades da vida diária.
Geralmente essas necessidades são causadas por de-
ficiências congênitas ou adquiridas.
Deficiência, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), representa qualquer perda ou alteração
de uma estrutura ou de uma função psicológica, fisio-
lógica ou anatômica, de caráter temporário ou perma-

161
ERGONOMIA

figura 3: deficiências psíquica, sensorial, física e mista

As pessoas com necessidades especiais são consi-


derados uma minoria, mas seu número é expres-
sivo, pois constituem 10% da população mundial;
isto implica em um total de aproximadamente 600
milhões de pessoas. Em alguns países a incidência
é maior que em outros, devido a surtos de doen-
ças, guerras, violência, acidentes de trânsito, redu-
zidas condições de higiene e saúde, dentre outros
(GUALBERTO FILHO, 2011).

REFLITA

O padrão de normalidade é um conceito


culturalmente criado e muda com o tempo.
Características antes consideradas como
anomalias hoje são consideradas normais
e vice-versa.

Fonte: Mont’alvão e Damasio (2008).

162
DESIGN

figura 4: restrições de acesso na vida cotidiana a pessoas


ACESSIBILIDADE com necessidades especiais

Na realidade, a maior diferença entre as pessoas


com necessidades especiais de um outro indivíduo
qualquer é que este tem acesso para realizar suas
atividades em sua potencialidade o primeiro não.
Isso ocorre porque o mundo é projetado para a
maioria da população, desconsiderando, devido a
falta de conhecimento ou restrições econômicas,
as minorias, nas quais também se incluem as pes-
soas com necessidades especiais (FALZON, 2007;
GRANDJEAN, 1998).
A área do conhecimento que estuda esses indiví-
duos e propõe medidas para reduzir suas dificulda-
des e ampliar suas potencialidades é a acessibilidade.
Segundo a Norma Brasileira NBR 9050 (ABNT, 2004,
p. 2), “Acessibilidade é a possibilidade e condição de
alcance, percepção e entendimento para a utilização
com segurança e autonomia de edificações, espaço,
mobiliário, equipamento urbano e elementos”.
Isso significa poder realizar todas as ações de-
sejadas, maximizando as habilidades e aptidões
das pessoas com necessidades especiais, reduzindo
as dificuldades e barreiras encontradas, sejam elas
físicas, cognitivas (mentais) ou sociais (de acesso
ou preconceito). O objetivo dos projetos em aces-
sibilidade é permitir a participação, igualdade e
independência desses indivíduos para terem uma
vida normal.
Conforme as imagens mostradas, anteriormen-
te, os cadeirantes têm o alcance vertical reduzido
e não conseguem acesso a produtos em prateleiras
altas assim como os idosos com visão reduzida têm
dificuldade ao utilizar certos produtos. Além de
garantir o acesso, os produtos e ambientes devem
ajudar as pessoas com deficiência a se inserirem no
mercado de trabalho e na sociedade, potencializan-
do suas qualidades e minimizando suas deficiências.

163
ERGONOMIA

É importante lembrar que, em geral, não é a Os argumentos favoráveis a essa medida é que
inaptidão física ou cognitiva que deprecia as pesso- pode ser menos oneroso projetar esses produtos
as com necessidades especiais aos olhos das pessoas desde o início do que adaptá-los ou criar aparatos
em geral, mas sim os equipamentos utilizados por especiais para as minorias, como canhotos, idosos,
esses indivíduos. Assim, sempre possível, é impor- pessoas com deficiência etc. (IIDA, 2005).
tante projetar produtos que integrem essas pessoas à A teoria do design universal contém sete princí-
sociedade de forma inclusiva, ou seja, que os produ- pios básicos que podem ser usados como guia para o
tos utilizados por todos também sirvam as pessoas projeto de produtos ou para a avaliação da adequação
com necessidades especiais. Esse é o objetivo princi- de produtos e ambientes já existentes (SCHIFFERS-
pal do design universal. TEIN; HEKKERT, 2008; RUBIN, 2004). São eles:
• USO EQUITATIVO: o produto deve ter dimen-
figura 5: exemplos de postos de trabalho acessíveis a pessoas
com necessidades especiais sões, ajustes e acessórios que permitam atender
ao maior número de usuários. Não deve segre-
gar ou estigmatizar as pessoas com necessida-
des especiais. Segurança, proteção e privacidade
devem estar igualmente disponíveis.
• FLEXIBILIDADE NO USO: deve acomodar
ampla gama de habilidades e preferências
individuais, possibilitando, por exemplo, a
escolha do modo de usar e ser adaptável às
forças e ritmos individuais.
• USO SIMPLES E INTUITIVO: deve ser in-
teligível, sem depender de conhecimentos
especializados. Deve-se eliminar a comple-
xidade desnecessária, ser consistente com as
expectativas e intuição dos usuários, acomo-
dar vasta gama de problemas de linguagem
ou diferenças culturais.
• INFORMAÇÃO PERCEPTÍVEL: as infor-
mações devem ser efetivamente comunicadas
DESIGN UNIVERSAL aos usuários com redundância, compatibili-
O conceito de design universal foi criado pelo Cen- zando a natureza da informação com o meio
utilizado na transmissão, além de tornar as
tro de Design Universal (Universidade da Carolina
informações perceptíveis às pessoas com de-
do Norte – EUA) e tem por objetivo tornar um pro- ficiência sensoriais, sem depender de habili-
duto ou ambiente com características que facilitem o dades especiais dos indivíduos.
uso pela maioria das pessoas, ou seja, que os produ- • TOLERÂNCIA AO ERRO: o projeto deve
tos projetados para a maioria também considerem o minimizar os riscos e consequências adversas
uso pela minoria, não havendo diferenças (GUAL- das ações involuntárias ou acidentais. Assim,
BERTO FILHO, 2011). é importante reduzir a sensibilidade exage-

164
DESIGN

rada dos controles arranjando-os de forma


lógica, isolando ou protegendo os perigosos,
providenciando advertências para erros e
acionamentos involuntários e permitindo fá-
cil retorno ao estado anterior.
• REDUÇÃO DO GASTO ENERGÉTICO: o
projeto deve evitar maiores gastos energéti-
cos, mantendo, sempre que possível, os mem-
bros do usuário na posição neutra e livre de
estresse. As contrações estáticas dos múscu-
los devem ser evitadas e esse princípio tam-
bém pode ser aplicado em motores, máqui-
nas e equipamentos.
• DIMENSÃO APROPRIADA A TODOS: o
dimensionamento de postos de trabalho, má-
quinas, equipamentos devem ter acesso, al-
cance e manipulação, independentemente do
tamanho, postura ou mobilidade do usuário.

No entanto, em muitos casos é difícil a aplicação de


todos esses princípios em todos os produtos, espe-
cialmente em casos de necessidades especiais muito
extremas ou raras. Nesses casos, é necessário o uso
de produtos específicos projetados a esses indivídu-
os que permitam o seu acesso a realização de tarefas
cotidianas.

165
ERGONOMIA

USABILIDADE
Agora, aprenderemos um pouco mais sobre o con- DESENVOLVIMENTO DA USABILIDADE
ceito de usabilidade. A usabilidade tem relação com A ergonomia se desenvolveu desde o seu início
a qualidade de uso de uma interface, podendo ser com foco na segurança e produtividade dos ob-
um produto (como um eletrodoméstico) ou um sis- jetos, postos de trabalho, ferramentas e sistemas
tema ( um programa de computador), isso é, tem re- produtivos. Ou seja, a maior parte dos métodos de
lação com quão fácil, agradável e útil é essa interface. ergonomia até então estavam voltados para garan-
Dessa forma, veremos o que significa usabili- tir a postura correta do indivíduo, evitar posturas
dade, como surgiu essa área do conhecimento e os estáticas ou repetitivas, reduzir carga de trabalho
principais princípios que determinarão a qualidade e propor limites de segurança para o trabalho.
de uso de uma interface.

166
DESIGN

Com o surgimento de sistemas computacionais, O nome Usabilidade surgiu nos anos 1980 em subs-
surgiram problemas novos relacionados a sistemas tituição ao termo ‘amigável’ aplicado a produtos e
informatizados que eram muito difíceis de operar, interfaces para determinar, em linhas gerais, a qua-
especialmente por necessitar de uma linguagem de lidade de uso de um produto ou sistema. O termo
códigos que era bastante complicada para um usuá- amigável foi usado para determinar produtos que não
rio comum (GREEN; JORDAN, 1999). fossem ameaçadoramente difíceis de usar, no entanto,
Foi necessário investigar como tornar mais fácil os usuários não precisam que as máquinas sejam suas
a interação humano-computador. Portanto, novos amigas, mas sim que sejam eficientes, práticas, fáceis
campos de pesquisa foram iniciados com o objeti- e agradáveis de serem utilizadas (NIELSEN,1993).
vo de adequar sistemas interativos às capacidades Nas últimas décadas podemos observar que hou-
e desejos humanos, ou seja, a máquina e o usuário ve um aumento no número de produtos eletrônicos
precisavam “falar” a mesma língua. no mercado e também uma certa ‘computadorização’
Inicialmente, a Usabilidade nasceu como uma de outros produtos, como televisores e eletrodomésti-
ferramenta para avaliação de interações humano- cos, que passaram a apresentar uma interface tecno-
-computador, mas rapidamente aumentou o seu lógica com o usuário, com maior interação (SANTA-
campo de atuação para todo o tipo de interação com ELLA, 2004). Essa maior diversidade de interfaces em
produtos (JORDAN, 1998a). produtos que por si apresentam características de uso
diferentes está tornando a usabilidade uma área cada
vez mais importante dentro do estudo da ergonomia.
SAIBA MAIS
figura 7: casas inteligentes: hoje é possível controlar diversos eletro-
domésticos de sua casa por meio de aplicativos de celulares

A área do conhecimento que estuda a in-


teração humano-computador é chama de
Human-Computer Interaction (HCI) e tem
por objetivo o estudo e desenvolvimento da
interface humano-computador.
Interface é o conjunto de meios, sejam eles
físicos ou lógicos, disponíveis com objetivo
a fazer a adaptação entre dois sistemas.
No caso da ergonomia e usabilidade, um
dos sistemas é o ser humano e o outro sis-
tema é o trabalho a ser realizado, nesse
caso, por meio de uma máquina (produto,
ferramenta, programa de computador etc.).
Portanto, a interface é a área em que atu-
amos, exercendo comandos ou recebendo
informações.
Fonte: Nielsen (1993).

167
ERGONOMIA

DEFINIÇÃO DE USABILIDADE para quem projetamos e que tipo de tarefa será re-
Em 1998 foi lançada a norma ISO de Usabilidade alizada nessa interface (JORDAN, 1998b; STAN-
[ISO 9241-11] e, com base nessa norma, em 2002 TON; YOUNG, 1999).
foi criada a norma brasileira NBR 9241-11. Nessas Portanto, temos que considerar diversas carac-
normas, a Usabilidade é definida por: “Usabilidade terísticas desses usuários para que ele e o produto
é a efetividade, eficiência e satisfação com as quais “falem a mesma língua”. Isso implica conhecer as
usuários específicos podem obter resultados especí- experiências anteriores com os produtos, o nível de
ficos em ambientes específicos” (ABNT, 2002, p. 5). conhecimento do usuário, a cultura de origem, ca-
Essa definição apresenta inúmeros fatores que racterísticas individuais como gênero, idade, antro-
precisamos considerar. Primeiramente, temos de pometria, dentre outros.
uso objetivos (eficácia e eficiência) e subjetivos (sa- O nível de conhecimento, por exemplo, que o
tisfação) (JORDAN, 1998a; NIELSEN, 2000). usuário tem com o produto é determinante da qua-
• Efetividade é a medida que um objetivo ou lidade da interface. Usuários novatos, talvez, preci-
tarefa é realizada, ou seja, é que o produto ou sem de mais tempo e de uma interface mais simples
o sistema realize a ação esperada de fato. Por que permita a realização de operações passo a pas-
exemplo, um aspirador de pó que efetivamen-
so, enquanto que usuários mais experientes podem
te tira o pó, uma cafeteira que faça o café etc.
se sentir mais confortáveis com uma interface mais
• Eficiência é a quantidade de esforço necessário
para o cumprimento de um objetivo. Assim, a complexa.
eficiência de uma interface está pautada na re- Assim, somente com o conhecimento de quem é
lação de custo-benefício, ou seja, um produto o usuário, para que serve a interface e qual é o con-
eficiente é aquele que realiza a ação desejada texto onde ela será utilizada, é possível começar a
(efetividade) com menor tempo, com menos conceber o projeto ou avaliação de uma interface.
esforço, gastando menos recursos etc.
figura 8: televisores inteligentes apresentam inter-
• Satisfação pode ser definida como o faces similares a computadores, mas nem sempre são
facilmente operadas por controles remotos
nível de conforto que os usuários sen-
tem com o uso do produto. É um con-
ceito subjetivo e está relacionado com
o atendimento das necessidades e desejos
dos usuários. Assim, é importante sabermos
que o que é confortável ou agradável a uma
pessoa, pode não ser para a outra. Por isso,
a satisfação na usabilidade é o conceito mais
difícil de ser atendido.

Outro aspecto importante da definição de usabi-


lidade que precisamos considerar é a definição de
usuários específicos em um contexto de uso espe-
cífico. Isso significa que quando projetamos uma
interface de uso, precisamos conhecer o usuário

168
DESIGN

PRINCÍPIOS DE USABILIDADE Compatibilidade


Para complementar a definição de usabilidade e Atender às expectativas e capacidades do usuário
nortear a avaliação das interfaces, foram propostos melhora a compatibilidade com a tarefa. Essas
princípios de uma boa usabilidade. Nem todos são expectativas relacionam-se com aspectos fisioló-
aplicáveis em todos os contextos, mas iremos ver os gicos, culturais, com experiências anteriores, com
mais importantes (NIELSEN, 1993; TULLIS; AL- outros sistemas, com o mundo real etc. Para ga-
BERT, 2008; STANTON, 1998). rantir a compatibilidade de uma interface, é ne-
cessário que ela tenha um bom nível de outros
Evidência princípios de usabilidade, como evidência, consis-
Uma solução para o produto deve indicar sua fun- tência e estar de acordo com as capacidades dos
ção e o modo de operá-lo. Isso indica que quando usuários.
um usuário olha para uma interface, ele já sabe para
que serve e como faz para operá-lo. Por exemplo: Prevenção e Correção dos Erros
a porta de um edifício deve ter um indicação clara Os produtos devem impedir procedimentos errados
se deve ser empurrada, puxada para abri-la ou se é e se estes ocorrerem, devem permitir correção fácil
automática. e rápida. Em um carro, por exemplo, sinais sonoros
poderiam ser acionados ao tentarem dar partida
Consistência sem a colocação do cinto de segurança e fechamento
Operações semelhantes em diferentes tarefas devem de todas as portas.
ter utilização também similar, permitindo ao usuá-
rio fazer uso de experiências anteriores. As portas de SAIBA MAIS
produtos como carros, geladeiras, fornos micro-on-
das etc. apresentam formas similares de abrir e os
novos produtos devem considerar isso.
Relacionado ao princípio de consistência,
existe um outro princípio chamado aprenda-
Capacidade bilidade (Learnability). Por definição, significa
O usuário possui certas capacidades para cada fun- o ato de atingir um certo grau de competên-
cia em tarefas específicas com um produ-
ção desempenhada, as quais devem ser respeitadas e to, tendo sido feitas (tarefas) previamente.
não ultrapassadas. Aqui é importante fazer uma di- De maneira simplificada, é a capacidade de
ferenciação. Por exemplo: para dirigir as duas mãos aprender a utilizar uma interface desde o
seu primeiro uso. Para isso, é necessário
ficam ocupadas com o volante, portanto, as demais que a forma de uso esteja evidente (princípio
funções, como embreagem freio e aceleração ficam de evidência) e que sua forma de operação
seja consistente com outras interfaces se-
a cargo dos pés. O conceito de consistência está mais
melhantes.
relacionado com o produto e com as soluções co-
Fonte: Santa Rosa e Moraes (2012).
mumente utilizadas neles, enquanto que o princípio
capacidade está mais relacionado com o usuário e
com as suas potencialidades e limitações.

169
ERGONOMIA

Realimentação (feedback)
Os produtos devem dar um retorno sobre os resul-
tados da ação ao usuário, podendo ser apenas um
sinal sonoro, por exemplo: em uma ligação telefô-
nica. Esse retorno, que chamamos de realimentação
ou feedback, tem a função de informar ao usuário
que a ação empreendida foi devidamente realizada.
A realimentação é importante para que o operador
redirecione sua ação, sua falta pode causar desperdí-
cios. Por exemplo: um motorista que dirigiu durante
horas até a próxima cidade, para descobrir que esta-
va no caminho errado.
A partir dos conhecimentos de alguns princípios
de usabilidade, é possível começar a projetar e avaliar
a interface de um produto ou software. No entanto,
apenas o conhecimento desses princípios pode não
ser suficiente para ter segurança de que todos os usu-
ários irão compreender a funcionalidade do produto
da mesma forma, ou que as soluções propostas para
um produto serão satisfatórias a todos.
Por isso, é sempre importante realizar uma ava-
liação de usabilidade com os usuários do produto.
Essa avaliação pode ser realizada durante o proje-
to da interface ou para verificar a adequação de um
produto que já se encontra no mercado de trabalho.

170
DESIGN

171
ERGONOMIA

MÉTODOS
DE USABILIDADE
Já vimos que a usabilidade está intimamente rela- PESQUISA EM USABILIDADE
cionada com tipo de interface, com o usuário (suas Uma avaliação de usabilidade, assim como qualquer
características e experiências) e com o contexto de pesquisa em ergonomia, necessita de planejamento
uso. Assim, para facilitar o planejamento de uma metodológico, considerando diversos aspectos im-
avaliação de usabilidade, existem métodos que po- portantes que podem influenciar na compreensão e
demos utilizar em nossos estudos. Aprenderemos uso de uma interface.
alguns desses métodos bastante úteis em avaliações Primeiramente é importante considerar a amos-
de usabilidade. tragem do estudo, ou seja, quem participará da

172
DESIGN

pesquisa e quantas pessoas serão necessárias para Para Tullis e Albert (2008), as características rele-
o estudo. Para isso é importante considerar que os vantes dos usuários a serem consideradas no plane-
participantes sejam de fato usuários do produto e jamento da amostragem são:
que haja um número suficiente de indivíduos para • Características gerais: sexo, idade e origem.
garantir consistência metodológica (TULLIS; AL- • Características físicas: antropometria, carac-
BERT, 2008; MAYHEW, 1999). terísticas sensoriais (acuidade visual, auditiva
e percepção de cores), características psico-
motoras (força, coordenação motora, equilí-
brio e tempo de reação).
SAIBA MAIS
• Características psicossociais: inteligência, ha-
bilidades (numérica, verbal e espacial), perso-
nalidade (liderança, motivação e cooperação).
Existem algumas formas de propor a amos- • Instrução e experiências: formação e conhe-
tragem do público da pesquisa. Elas podem cimentos específicos.
ser de quatro tipos:
• Amostragem casual: mais usada e menos
Depois de definida a amostragem, é importante
precisa. São utilizados os sujeitos que estão
disponíveis, sem o menor critério de repre- considerar também as variáveis de contexto. Sem-
sentatividade de determinada população. pre que possível é importante realizar a avaliação de
• Amostragem aleatória: sujeitos escolhidos usabilidade em condições mais próximas às de uso
aleatoriamente, ou seja, todos os elemen-
tos têm iguais probabilidades de partici- real. Por exemplo: se formos avaliar a usabilidade de
parem da amostra. Sempre está sujeita um liquidificador, o ideal é que o estudo seja realiza-
às características da população de origem
do em uma cozinha. Isso deve ser considerado por-
(onde é feito o sorteio).
que o contexto de uso pode apresentar grande influ-
• Amostragem estratificada: como a aleató-
ria, mas é feita uma classificação prévia dos ência no estudo (SANTA ROSA; MORAES, 2012).
sujeitos de acordo com suas características Os métodos de avaliação de usabilidade podem ser
ou interesses.
divididos em métodos experimentais ou observacionais,
• Amostragem proporcional estratificada:
como a amostragem anterior, mas é feito nos quais há a participação de sujeitos e são avaliados o
uma estimativa da representação da quan- comportamento, forma de uso de produtos e problemas
tidade de elementos em cada característica
da interface. Outra categoria de métodos de usabilidade
conhecida da amostra.
são os métodos analíticos ou de simulação, onde não há
Fonte: Tullis e Albert (2008).
a participação de usuários, mas apenas o conhecimento
e experiência do pesquisador. A seguir, vamos conhecer
alguns desses métodos (RAZZA et al., 2010).

173
ERGONOMIA

MÉTODOS EXPERIMENTAIS SAIBA MAIS


Observação
A observação é o meio mais direto de coletar in-
formação sobre a interação entre uma pessoa e Há poucos exemplos de questionários pa-
um produto, Observar e registrar a interação sem dronizados adequados para a avaliação de
dúvida fornecerá informações ao avaliador do que produtos de consumo. Um exemplo é o Ín-
dice de Dificuldade Interativa (IID), no qual o
ocorre na situação em análise. Deve ser preferen- usuário deve avaliar um produto com relação
cialmente realizada no ambiente real em que o pro- a vários componentes de usabilidade.
duto é utilizado. Há também a Escala de Usabilidade de Softwa-
A observação pode parecer um método mui- re (SUS), compreendendo 10 itens que relacio-
nam fatores de usabilidade do equipamento.
to simples, mas não é. A qualidade da observação Originalmente concebida para a avaliação da
depende muito dos procedimentos de registro e usabilidade de software, tem algumas evidên-
cias de sucesso comprovado para a avaliação
de análise dos dados, o que pode demandar muito
de produtos industriais. Outros exemplos são
tempo e esforço. Além disso, a experiência do pes- o Índice de Carga Mental (TLX), o QUIS e o USE.
quisador é muito importante para garantir bons Fonte: Razza, Paschoarelli e Silva (2010).
resultados.
Normalmente, deixa-se o usuário livre para uti-
lizar o produto, mas também podem ser estabele-
cidas tarefas a serem realizadas. É importante que
a presença do observador não atrapalhe o usuário, Assim como a observação, a entrevista é muito uti-
para que não altere seu comportamento. lizada, pois, afinal o modo mais simples de conhecer
a opinião do usuário é perguntando a ele. As entre-
Questionários e entrevistas vistas têm muitas formas, variando de altamente não
Os questionários consistem em formulários im- estruturadas (discussão livre, uma conversa entre o
pressos com uma quantidade adequada de questões pesquisador e o usuário) até altamente estruturada
abertas e/ou fechadas relacionadas à usabilidade do (questionário oral, ou seja, perguntas preestabeleci-
produto ou ao comportamento do usuário. A lin- das que são lidas para o usuário) (CYBIS et al., 2010).
guagem deve ser simples e de fácil compreensão e as A entrevista é adequada para destacar fatores
alternativas devem cobrir uma variedade adequada que vão além da interação direta com o produto,
de respostas (GARRETT, 2011). como a adequação de manuais e outras formas de
A maior vantagem de se utilizar questionários apoio, bem como o comportamento do usuário.
padronizados é que há garantia de validade e confia- Como desvantagem, leva um tempo maior a ser
bilidade, enquanto que questionários personalizados, realizada que os questionários, especialmente para
embora possam ser mais adequados à avaliação de grandes amostras e a presença do pesquisador pode
um produto específico, não possuem essa garantia. mascarar os resultados.

174
DESIGN

Co-descoberta (Co-discovery) O grupo é formado por um líder de discussão


O método envolve colocar dois participantes para que possui a tarefa de guiar a discussão em
utilizar o produto ou software, de forma que juntos torno dos tópicos (semiestruturados) a serem
possam aprender a usar e descobrir os erros da inter- abordados e um número de participantes. Nor-
face. A ideia é de que pela análise da conversa entre malmente, os grupos de foco de marketing têm
os participantes o investigador poderá compreender entre 8 e 12 participantes, mas nas avaliações de
problemas de usabilidade associados com o produto usabilidade tem-se usado um número de 5 ou 6
(NIELSEN, 2000). usuários (JORDAN, 1994).
Para o método funcionar, os participantes não O líder deve direcionar a conversa da ma-
podem ser estranhos um ao outro para ficarem à neira mais neutra possível, sem conduzir os
vontade enquanto decorre o estudo. O pesquisador participantes a darem respostas esperadas.
poderá ficar junto deles, fazendo perguntas sobre o Quanto maior o número de usuários no grupo,
que estão fazendo ou pensando ou ficar em uma sala maior será a chance de interação entre eles. E assim,
de observação. A seção também pode ser filmada e novos aspectos das experiências dos participantes
analisada posteriormente. com o produto surgirão. No entanto, como to-
A maior vantagem é que o conteúdo da conversa dos os usuários devem ter a chance de dar seu
pode ajudar a identificar as problemas com o uso do testemunho, a sessão poderá ficar muito longa,
produto e com a participação de um outro usuário causando fadiga e frustração.
conhecido, a atmosfera pode ser mais casual e o usu-
ário poderá ficar mais relaxado do que se estivesse Pensar em voz alta (think aloud protocols)
sozinho com o pesquisador. As principais desvanta- Os participantes devem ser encorajados a falar em
gens são que as verbalizações podem distrair os par- voz alta o que estão pensando e realizando, durante
ticipantes do objetivo da pesquisa e alguns proble- o uso de um produto ou interface. Isto é, o pesqui-
mas de usabilidade podem não ser levantados pelos sador deve pedir aos participantes que digam o que
sujeitos (BARNUM, 2010). estão pensando, o que estão procurando, onde estão
tendo dificuldades, o que acham do produto (boni-
Grupo de foco to, prático, fácil etc.), enfim, todos os seus comen-
O grupo de foco é um método bastante utilizado nas tários sobre a interface ou produto podem ser úteis
áreas de design e marketing. Consiste em um grupo ao pesquisador (KERR; JORDAN, 1995, GARRETT,
de pessoas reunidas para discutir um assunto em par- 2011).
ticular. Essas discussões podem cobrir, por exemplo, as Nas sessões de pensar em voz alta, o pesquisador
experiências dos usuários utilizando determinado pro- deve sempre encorajar o usuário a fazer verbaliza-
duto, seus requisitos para um novo produto, informa- ções úteis, de forma a não desviar muito do assunto.
ções sobre o contexto no qual realizam determinadas O método permite identificar não somente os pro-
tarefas ou problemas associados ao uso de produtos. blemas de interface do produto, mas também o por-

175
ERGONOMIA

quê eles ocorrem, mesmo com um número pequeno SAIBA MAIS


de usuários.
Um problema do método é que o usuário pode
ficar tímido para dizer o que está pensando ou con- Existe diversos outros métodos experimen-
duzir a atenção mais sobre o que falar do que à in- tais que podem ser utilizados durante a ava-
terface do produto. liação ou desenvolvimento de uma interface.
Por exemplo: Checklist de características (fea-
ture checklist); Oficinas com os usuários (user
Diário de ocorrências (incident diaries) workshops), card sording, Medidas de Expecta-
Este método é mais indicado para problemas de usa- tiva, Estimativa da Magnitude de Usabilidade,
Expressões faciais, Valoração, dentre outros.
bilidade que podem ocorrer com o tempo de uso de
Fonte: Razza, Paschoarelli e Silva (2010).
um produto. Assim, os usuários levam questionários
para casa ou trabalho (onde o produto será utiliza-
do) e devem preencher com os problemas que vão
identificando, e como fizeram para resolvê-lo.
A desvantagem é que, por melhor projetado que
tenha sido o protocolo, não há garantia de que o usu- MÉTODOS ANALÍSTICOS
ário tenha preenchido todos os problemas de usabi- OU DE SIMULAÇÃO
lidade que ocorreram, ou se o registro da ocorrência Heurística
tenha sido preciso o suficiente para identificar o pro- É um método proposto por Nielsen (1992) que re-
blema de usabilidade. É preciso que o participante quer ao pesquisador usar seu próprio julgamento,
da pesquisa tenha comprometimento e dedicação, intuição e experiência para guiá-lo na avaliação do
pois do contrário o método não funcionará adequa- produto. A avaliação da usabilidade de um produto
damente (KERR; JORDAN, 1995; NIELSEN, 2000). normalmente vai ser baseada na procura de falhas ou
erros em sua interface e o pesquisador geralmente já
Mágico de Oz aponta para soluções de projeto. Esse método é bas-
Esta é uma técnica usada para simular o funciona- tante fácil e rápido, mas, também, é totalmente sub-
mento de um produto ou interface antes de ele(a) es- jetivo e o resultado pode ser muito variável. Assim,
tar pronto(a). Nesse método, um dos pesquisadores em alguns estudos, utiliza-se mais de um avaliador.
simula o funcionamento e o feedback do produto,
trocando telas, no caso de uma simulação de inter- Listas de verificação (checklists)
face digital ou realizando movimentos de máquinas, As listas de verificação são formadas por tópicos
no caso de produtos tridimensionais. Dessa forma, importantes que devem ser considerados durante
o usuário pode ter uma experiência de uso com pro- a avaliação do produto, são, portanto, uma lista
dutos ainda em processo de fabricação e as falhas de conferência. Podem ser úteis como auxílios à
de projeto podem ser descobertas ainda nas primei- memória, para garantir que uma ampla gama de
ras fases de projeto (RAZZA et al., 2010; SANTA variáveis ergonômicas seriam consideradas (JOR-
ROSA; MORAES, 2012). DAN, 1998a).

176
DESIGN

A lista de verificação consiste em um método relati- elementos. A forma de aplicação destes três critérios
vamente fácil e rápido para a avaliação de produtos. organizacionais foi vista com mais detalhes no capí-
Entretanto, nem todos os itens de uma lista de veri- tulo anterior (JORDAN, 1998a).
ficação serão úteis em todos os casos.
CONSIDERAÇÕES SOBRE OS MÉTODOS
Ensaios cognitivos (cognitive walkthroughs) A escolha sobre utilizar um método de usabilidade
É uma técnica muito parecida com a heurística. No ou outro depende de alguns fatores e da experiência
entanto, diferentemente da avaliação heurística, que do pesquisador. É normal termos preferência por um
parte da avaliação do produto contrastando com os método em detrimento de outro e também há mé-
princípios de usabilidade, para realizar os ensaios todos mais adequados para determinadas situações.
cognitivos, o pesquisador tem que se colocar no lugar Alguns critérios que devemos considerar são: a
do usuário, simulando a realização de determinadas fase do desenvolvimento projetual em que se deseja
tarefas. Para isso, o pesquisador deve conhecer bem investigar a interface do produto; a quantidade de re-
o funcionamento do produto, mas, também, precisa cursos disponíveis, tanto de materiais quanto de tem-
se imaginar como um usuário menos experiente e po; o tipo de interação que o produto apresenta; o tipo
nem sempre isso ocorre a contento (SANTA ROSA; de resultado que se pretende obter, dentre outros.
MORAES, 2012; TULLIS; ALBERT, 2008). Nas avaliações de usabilidade podem-se utilizar
também combinações de diversos métodos para se
Análise de ligações (link analysis) chegar aos resultados esperados. Como estão sendo
A análise de ligações representa a sequência na qual publicados constantemente novos métodos, é impor-
os elementos de um equipamento são utilizados em tante considerar com cautela a adoção de um méto-
uma determinada tarefa ou cenário. A sequência do específico durante o planejamento metodológico,
oferece as ligações entre os elementos da interface para assim poder se obter os melhores resultados.
do produto. Por exemplo: em um rádio, deve-se pri-
meiramente clicar no botão ligar, depois pode-se se-
SAIBA MAIS
lecionar o tipo de mídia (rádio, pendrive, CD etc.),
em seguida mudar de faixa ou escolher a estação etc.
Assim, pode-se verificar se os comandos estão orga-
nizados na sequencia ideal, que seja mais eficiente, Dentre os métodos analíticos, existem ainda
clara e organizada (TULLIS; ALBERT, 2008). algumas outras opções menos comuns, mas
que podem ser úteis em casos específicos.
Alguns deles são: Análise de Hierarquia da
Análise de layout (layout analysis) Tarefa, Análise de Previsão do Erro Humano,
É construída sobre a análise de ligações para con- Grades de repertório, DATUS/IBV, Modelo ao
nível da tecla, dentre outros.
siderar agrupamentos funcionais dos elementos do
Fonte: Schifferstein e Hekkert (2008).
produto. Dentro de grupos funcionais, os elementos
são distribuídos de acordo com três critérios: frequ-
ência de uso, sequência de uso e a importância dos

177
considerações finais

Neste unidade, vimos um pouco melhor duas formas de considerar o projeto e


avaliação de produtos com enfoque no usuário: a acessibilidade e a usabilidade.
A usabilidade é uma das áreas do conhecimento mais recentes dentro da er-
gonomia e teve o seu surgimento a partir do desenvolvimento dos computadores
pessoais. Quando esses produtos chegaram ao usuário comum, a dificuldade em
operar o sistema era tão grande, que esses produtos eram considerados ameaça-
dores. Por isso que o primeiro termo para designer um produto com boa usabili-
dade era “produto amigável”.
Apesar de ter nascido da interação humano-computador (HCI), os princípios
de usabilidade e seus métodos podem ser usados para projetar e avaliar qualquer
interface, seja ela física ou digital.
Enquanto, a usabilidade tem o foco na facilidade e satisfação no uso de pro-
dutos, a acessibilidade é uma abordagem que visa garantir o acesso igualitário aos
produtos e serviços a pessoas com necessidades especiais.
O enfoque da acessibilidade também é voltado à satisfação das necessidades
básicas de seus usuários, que muitas vezes são tão específicas que é necessário
projetar produtos especiais para permitir que a sua relação com a sociedade seja
mais igualitária.
Em ambos os casos, podemos notar que a maior causa de problemas com o
uso de produtos, seja para o usuário comum ou para pessoas com necessidades
especiais, é devido ao projeto inadequado, que dificulta o uso, que não é eficiente,
que não considera princípios básicos de projeto como capacidade e flexibilidade
de uso.
Portanto, somente com amplo conhecimento das necessidades dos usuários
e de suas capacidades e limitações que poderemos projetar produtos, interfaces,
ambientes, vestimentas e veículos mais eficientes, confortáveis e fáceis de usar
para todos, indistintamente.

178
atividades de estudo

1. Identifique os tipos de deficiências com sua correta definição.


a. Deficiências ( ) Compreendem as deficiências da visão, da audição e da fala,
psíquicas principalmente.
b. Deficiências ( ) Referem-se às deficiências cuja manifestação incide em mais
sensoriais de um dos planos: psíquico, sensorial e físico.
c. Deficiências ( ) Incluem as deficiências intelectuais, a doença mental, bem
físicas como as deficiências das funções gnósticas e práticas.
d. Deficiências ( ) Incluem deficiências ao nível dos órgãos internos e muscu-
mistas loesqueléticas e estéticas da região da cabeça e do tronco,
bem como as deficiências dos membros superiores e infe-
riores (déficit funcional, ausência e malformação ou defor-
mação).
e. N e n h u m a ( ) São incluídas as situações das incapacidades em que não foi
deficiência possível identificar a deficiência de origem.
em especial

2. O design universal tem por objetivo propor o uso equitativo dos produtos
por todos os usuários. Para isso, existem princípios que precisam ser se-
guidos. Identifique a definição correta de alguns dos princípios do design
universal listados abaixo.

a. Uso equita- ( ) O projeto deve minimizar os riscos e consequências adversas


tivo das ações involuntárias ou acidentais.
b. Flexibilida- ( ) O produto deve ter dimensões, ajustes e acessórios que per-
de no uso mitam atender ao maior número de usuários.
c. Uso simples ( ) Deve ser inteligível, sem depender de conhecimentos espe-
e intuitivo cializados.
d. Informação ( ) As informações devem ser efetivamente comunicadas aos
perceptível usuários com redundância, compatibilizando a natureza
da informação com o meio utilizado na transmissão.
e. Tolerância ( ) Deve acomodar ampla gama de habilidades e preferências in-
ao erro. dividuais, possibilitando, por exemplo, a escolha do modo de
usar e ser adaptável às forças e ritmos individuais.

3. A usabilidade pode ser definida pela efetividade, eficiência e satisfação


com as quais usuários específicos podem obter resultados específicos em
ambientes específicos. Observe as afirmações abaixo e responda.
I. Efetividade é a medida na qual um objetivo ou tarefa é realizado, ou seja, é
que o produto ou o sistema realize a ação esperada de fato. Por exemplo, um
aspirador de pó que efetivamente tira o pó, uma cafeteira que faça o café etc.

179
atividades de estudo

II. Satisfação é a quantidade de esforço necessário para o cumprimento de


um objetivo. Assim, a eficiência de uma interface está pautada na relação
de custo-benefício, ou seja, um produto eficiente é aquele que realiza a
ação desejada (efetividade) com menor tempo, com menos esforço, gas-
tando menos recursos etc.
III. Eficiência pode ser definida como o nível de conforto que os usuários sen-
tem com o uso do produto. É um conceito subjetivo e está relacionado
com o atendimento das necessidades e desejos dos usuários.

Assinale a alternativa correta:


a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Todas as afirmativas estão corretas.
e. Nenhuma das afirmativas está correta.

4. Sobre os princípios de usabilidade, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F).


( ) O princípio de evidência significa que uma solução para o produto deve
indicar sua função e o modo de operá-lo, ou seja, um usuário olha para uma
interface, ele já sabe para que serve e como faz para operá-lo.
( ) O princípio de evidência significa que operações semelhantes em diferen-
tes tarefas devem ter utilização também similar, permitindo ao usuário fazer
uso de experiências anteriores.
( ) O conceito de consistência está mais relacionado com o produto e com as
soluções comumente utilizadas neles, enquanto que o princípio capacidade
está mais relacionado com o usuário e com as suas potencialidades e limita-
ções.
( ) A realimentação (feedback) é importante para que o operador redirecione
sua ação; sua falta pode causar desperdícios.
( ) Os produtos devem impedir procedimentos errados e se estes ocorrerem,
devem permitir correção fácil e rápida. Esse princípio é chamado de Preven-
ção e Correção dos Erros.

180
atividades de estudo

5. Na pesquisa e projeto de interfaces, podem ser utilizados diversos mé-


todos de usabilidade. Classifique os métodos apresentados abaixo entre
métodos Analíticos ou de Simulação (AN) e métodos Experimentais (EX).
( ) Heurística.
( ) Diário de ocorrências (incident diaries).
( ) Grupo de foco.
( ) Análise de ligações (link analysis).
( ) Ensaios cognitivos (cognitive walkthroughs).
( ) Mágico de Oz.

181
LEITURA
COMPLEMENTAR

Com o desenvolvimento da economia, da concorrência de mercado e o avanço social, a exigência do consumidor está cada
vez mais alta. Assim, atualmente, os produtos precisam, além de serem eficazes, eficientes e fáceis de usar, devem também
estabelecer um vínculo afetivo com o usuário. A área que estuda essas relações mais sutis com o uso de produtos é a ex-
periência do usuário. O texto, a seguir, traz um pouco de definições para essa nova área de atuação e pesquisa em design.

A experiência do usuário
Na pesquisa em design, a ergonomia é a disciplina que estuda as questões humanas relacionadas ao projeto dos
produtos/sistemas. Com o desenvolvimento tecnológico e social, essa área se desenvolveu e ampliou para abarcar
fatores humanos emergentes, criando novas abordagens como a usabilidade, o design centrado no usuário, design
inclusivo, design emocional, dentre outros. A característica multidisciplinar do design e da própria interação usuário-
-produto conduz para uma visão holística do projeto que precisa contemplar todas essas teorias ao mesmo tempo.
Assim, recentemente, uma nova abordagem da pesquisa em design está surgindo para ampliar a área de conheci-
mento e atuação, chamada Experiência do Usuário.
A Experiência do Usuário é área da pesquisa em design que lida com a interação entre usuário-produto e toda a
complexidade de fatores que fazem parte dessa interação: o produto, o usuário e o contexto. A ISO 9241-210 define
a experiência do usuário como as percepções e reações de uma pessoa que resultam do uso ou utilização prevista de
um produto, sistema ou serviço. Sabe-se que o usuário apresenta características, necessidades, capacidades, desejos
e expectativas que implicam em uma demanda crescente de produtos que sejam mais adequados, personalizados e
que os representem em suas individualidades. De acordo com a definição da ISO, experiência do usuário inclui todas
as emoções, crenças, preferências, percepções, respostas físicas e psicológicas, comportamentos e realizações do
usuário que ocorrem antes, durante e após o uso.
Os produtos industriais estão presentes no cotidiano da maioria das pessoas e estabelecem relações com esses
usuários. Essas relações são dependentes das características destes produtos e das funções para o qual ele foi de-
senvolvido. Rafaeli e Vilnai-Yavetz (2004) desenvolveram uma teoria na qual os produtos apresentam três dimensões:
a instrumentalidade, estética e simbologia. Esta teoria é muito semelhante às funções do produto de Löbach (2001),
a função prática, estética e simbólica. Pela teoria de Rafaeli e Vilnai-Yavetz (2004), as dimensões dos produtos são:
• Instrumentalidade: refere-se à extensão na qual um objeto contribui para o desempenho ou para atingir de-
terminado objetivo. As pessoas têm objetivos para atingir e os objetos podem ser avaliados de acordo com a
extensão na qual contribuem para atingir esses objetivos. A Usabilidade está inserida nesta dimensão, e é uma
característica fundamental do produto (NIELSEN, 1993).

182
LEITURA
COMPLEMENTAR

• Estética: são as experiências sensoriais que um produto desperta e a extensão na qual essa experiência se
relaciona com as características e expectativas individuais. Segundo Lang (1988 apud RAFAELI; VILNAI-YAVETZ,
2004), a estética ainda pode ser subdividida em outros três níveis: a estética sensorial (percepção de cores,
texturas e odores), a estética formal (forma e complexidade) e estética simbólica (significados associados aos
produtos que representam uma experiência estética e de prazer).
• Simbologia: são os significados e associações que o produto traz em si. Os objetos, mesmo os mais simples
e mundanos como cadeiras e mesas são carregados de significado (CSIKSZENTHIHALYI; ROCHBERG-HALTON,
1981). Estudos recentes ainda apontam que produtos industriais, por exemplo, os barbeadores, podem repre-
sentar os valores e a cultura organizacional de seus fabricantes, por associação (SCHEIN, 1990; TRICE; BEYER,
1993). No entanto, os atributos simbólicos de um produto podem não ser os mesmos planejados pela empresa
devido ao processo de interpretação pessoal feito pelo usuário e à complexidade do processo de associação de
significados que dependem de inúmeros outros fatores (DAVIS, 1989).
A partir do conhecimento destas funções, pode-se questionar de que maneira que o usuário percebe o produto e
estabelece uma relação com ele. Para avaliar a percepção de um indivíduo sobre um objeto, ou mais especificamente,
a percepção de um usuário sobre um produto, é necessário compreender que a construção dessa percepção é mul-
tifatorial e dependente de características do produto, características do indivíduo, da relação entre usuário-produto e
do contexto no qual essa relação ocorre.
[...]
Um aspecto da experiência do usuário é que ela varia com o tempo. De acordo com o estudo de Karapanos et al.
(2009), as experiências mais recentes tendem a se relacionar com os aspectos hedônicos do uso do produto, mas um
uso prolongado pode estar associado a aspectos mais subjetivos, como o significado que o produto passa a represen-
tar para a vida do usuário.
Portanto, definimos o conceito de Experiência do Usuário como a área do conhecimento que abarca os aspectos cog-
nitivos, emocionais, simbólicos e de usabilidade, relacionados ao contexto de interação entre o usuário e o produto e
dependente das características do produto, de fatores do usuário e de variáveis do contexto de uso.

Fonte: Razza (2014).

183
Avaliação e projeto no design de interfaces
José Guilherme Santa Rosa e Anamaria de Moraes
Editora: 2AB
Sinopse: O livro tem por objetivo desenvolver soluções práticas
da área de interação humano-computador e responder a ques-
tões metodológicas de pesquisa, apresentando técnicas para o
projeto e avaliação de interfaces.
Comentário: Este livro é uma referência interessante para
quem precisa se aprofundar mais nos métodos de avaliação de
interfaces, bem como auxiliar no planejamento de avaliações e projeto.

W3C
O W3C é um consórcio internacional que tem por objetivo melhorar a qualidade da rede
mundial de computadores (Wolrd Wide Web) e desenvolve também padrões de acessibilida-
de. Este é o link de acesso ao escritório do Brasil.

Disponível em: <http://w3c.br>.


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186
DESIGN

1. B, D, A, C, E.
2. E; A; C; D; B.
3. C.
4. V; F; V; V; V.
5. AN; EX; EX; AN; AN; EX.

187
ERGONOMIA

conclusão geral

Caro(a) aluno(a), com este livro aprendemos um pouco mais sobre antropometria, ou seja, a área do conheci-
mento que lida com as dimensões do corpo humano, e como ela é importante para diversas áreas da atuação
humana. Estudamos o sistema musculoesquelético, como ele permite que realizemos nossas atividades do
dia a dia, como se dá o metabolismo gerador de energia no músculo e quais são as restrições das capacidades
desses tecidos e das articulações.
Compreendemos como o organismo humano capta as informações do meio ambiente para utilizá-la em
suas atividades. Essas informações são úteis para a tomada de decisões conscientes, mas também sevem para
o próprio organismo regular as suas funções internas. Estudamos também as diversas etapas do processo
cognitivo e vimos como a memória tem papel importante no reconhecimento dos estímulos que estamos
percebendo e interpretando.
Por fim, estudamos duas abordagens importantíssimas da ergonomia e do design voltado ao usuário:
acessibilidade e usabilidade. Enquanto, a usabilidade tem o foco na facilidade e satisfação no uso de produtos,
a acessibilidade é uma abordagem que visa garantir o acesso igualitário aos produtos e serviços a pessoas com
necessidades especiais.
O objetivo deste livro foi trazer os conteúdos de ergonomia de uma forma facilitada e mais próxima do
leitor, criando a consciência de que o estudo do trabalho deve partir primeiramente do conhecimento de
como funciona o ser humano. Isso implica começar do ponto de vista dimensional e oesteomuscular, que
determinará a capacidade de trabalho, fadiga e doenças ocupacionais.
Devemos observar também que o corpo humano está imerso em um ambiente, recebendo estímulos e
agindo nesse meio, e o estudo dos sentidos humanos permite conhecer os limites humanos e suas potencia-
lidades. E, por fim, considerar que traços de personalidade e individualidade também influenciam no uso de
objetos, e essas questões também devem ser consideradas pela ergonomia.

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