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A importância do Código de Defesa do Consumidor para o Direito das Obrigações

O Código de Defesa do Consumidor (CDC), de 11 de setembro de 1990, abalou o Direito


Privado no Brasil, alterando as bases do Direito das Obrigações e tendo imediata influência
sobre todo o campo negocial.
O CDC trouxe um regramento de proteção ao consumidor na sociedade capitalista
contemporânea, com muitas regras específicas, as quais geram dificuldades na
interpretação das questões contratuais, da responsabilidade da informação, da publicidade,
do controle in abstrato das cláusulas contratuais, das ações coletivas, enfim, literalmente de
tudo o que está por ele estabelecido.
De uma visão liberal e individualista do direito civil, passamos a uma visão social, que
valoriza a função do direito como garantidor do equilíbrio, como protetor da confiança e das
legítimas expectativas nas relações de consumo no mercado. Ao Estado coube intervir nas
relações de consumo, reduzindo o espaço para a autonomia de vontade, impondo normas
interpretativas de maneira a restabelecer o equilíbrio e a igualdade de forças nas relações
entre consumidores e fornecedores.

O artigo 1º do CDC deixa claro que a nova lei representa exatamente esta intervenção
estatal, ordenada pela Constituição Federal de 1988, em seus artigos 5º, inciso XXXII, e 170,
inciso V. No Código estão positivadas as novas regras para a proteção do consumidor, as
quais objetivam harmonizar e dar transparência às relações de consumo.
Abordaremos, neste trabalho, a relação contratual entre o consumidor e o fornecedor de
bens ou serviços. Neste sentido, iremos elencar o histórico e os elementos das relações de
consumo, analisar os casos específicos de responsabilidade e as cláusulas abusivas nos
contratos submetidos às Regras do Código de Defesa do Consumidor.
Histórico e Elementos da Relação de Consumo
Após a Revolução Industrial, com a consequente massificação da produção, bem com da
prestação de serviços, passou a ser necessária uma legislação que regulasse o consumo.
Antes não havia intermediários, já que as relações comerciais eram realizadas diretamente
entre os artesãos e os comerciantes. Com essa eliminação do contato direto, o comerciante
se viu sem ter para quem reclamar diante de possíveis problemas com os produtos e,
também, sobre o seu funcionamento.

Além dos fatores acima mencionados, o aumento da produção gerou queda nos preços dos
produtos, o que também fez diminuir a importância do consumidor. Em razão da produção
em larga escala, o fator determinante do lucro passou a ser a quantidade, deixando de lado
a importância individual de cada consumidor. Diante dessa situação, o fornecedor passou a
impor regras no mercado como, por exemplo, a criação de contratos de adesão, com
cláusulas pré-determinadas, as quais deveriam ser integralmente aceitas ou recusadas pelo
consumidor. Assim, caso o consumidor deixasse de contratar, o fornecedor perdia apenas
um consumidor, sem que houvesse alteração em seus lucros, que continuavam garantidos
pelos outros consumidores.

Diante dessa desigualdade de forças entre fornecedor e consumidor, em que o primeiro


impõe as regras e o segundo as cumpre, surgiu a necessidade maciça de se elaborar uma
legislação específica para o consumo. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, XXXII,
reconhece expressamente essa vulnerabilidade, ao afirmar que o Estado deve promover a
defesa do consumidor e no artigo 48 do ADCT, que determina a criação do Código de
Defesa do Consumidor.
A vulnerabilidade do consumidor é característica marcante da relação de consumo. Portanto,
a ideia de se criar uma legislação era justamente a de restabelecer a isonomia,
estabelecendo instrumentos de direito material e processual, para o que o consumidor
possa ser respeitado e ter dignidade no mercado.

Referida vulnerabilidade pode ocorrer no aspecto técnico, patrimonial e jurídico. A


vulnerabilidade técnica pode ser observada nas situações em que o consumidor não
conhecer o funcionamento do produto, a sua forma de produção, de armazenamento, de
comercialização, dentre outras. A vulnerabilidade patrimonial significa que o fornecedor, por
ter melhores condições econômicas que o consumidor, deve suportar as consequências de
um produto/serviço defeituoso ou viciado. Por fim, a vulnerabilidade jurídica quer dizer que o
consumidor nem sempre sabe a quem recorrer em circunstâncias em que é prejudicado,
enquanto parte-se do princípio de que o fornecedor tem estrutura jurídica própria ou
condições econômicas para contratar escritórios especializados.

Defesa do Consumidor como Direito Fundamental


A Constituição Federal de 1988 permitiu atribuir as condições e o alcance da defesa do
consumidor na legislação infraconstitucional. A defesa dos consumidores está garantida
na Constituição, no Capítulo I, referente aos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos do
Título II, o qual cuida dos Direitos e Garantias Fundamentais. O inciso XXXII do art. 5º assim
dispõe:
“O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.
Para implementar no sistema jurídico nacional referida disposição constitucional, o art. 48 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias concedeu ao legislador infraconstitucional
prazo estipulado de 120 dias a contar da promulgação da Constituição para a elaboração de
um Código de Defesa do Consumidor. Foi então que, em 11 de setembro de 1990, foi
promulgada a Lei nº 8.078, conhecida como Código de Defesa do Consumidor.
Vale ressaltar a literalidade do dispositivo constitucional, tendo em vista que o texto atribui
ao Estado a função de promover a defesa do consumidor, função esta que demanda uma
postura Estatal ativa na tutela deste direito fundamental. Dessa forma, ao exigir do Estado
uma postura ativa, espera-se também um verdadeiro imperativo de tutela. Em outras
palavras, significa dizer que o direito fundamental não é garantido pela abstenção do Estado,
mas pelo seu dever de intervir por algum dos seus possíveis instrumentos de participação
no domínio econômico. Esse texto constitucional estabeleceu uma função essencial ao
Estado, que é a defesa do consumidor.
A proteção ao consumidor, entendendo-se como o primeiro objetivo da prestação estatal,
quer dizer a tutela de sua própria liberdade, considerando que as influências e artifícios
utilizados pelos fornecedores são cada vez mais intensos. Estamos vivendo em uma
sociedade cada vez mais de consumo, em que o ato de consumir tem assumido o
importante papel de promover uma das formas mais usuais das pessoas se relacionarem,
de modo que passou a ser comum a utilização da expressão “sociedade de consumo”. Tal
expressão se encaminha ao significado de sociedade voltada ao consumo. É fato que, de
alguma maneira, grande parte das pessoas direciona as suas expectativas para o consumo,
seja para a aquisição de bens necessários ou desnecessários. Cabe ao Estado proteger o
consumidor das artimanhas da sociedade de consumo.
Por estar prevista na Constituição Federal, a previsão de defesa ao consumidor gerou uma
consequência que deve ser observada, conforme destaca Alexandre de Moraes:
“A Constitucionalização da proteção do consumidor pela Constituição de 1988 acarretou a
introdução dessa matéria na órbita de atuação da jurisdição constitucional, balizada pelos
métodos interpretativos constitucionais e caracterizadas pelo aumento da ingerência do
Poder Judiciário – e, em especial, pelo Supremo Tribunal Federal, em face de seu papel de
guardião da Constituição – nas relações de consumo.” (2006:13)
Em consonância ao exposto acima, vale dizer que a previsão constitucional da defesa do
consumidor na condição de um direito fundamental, somente será suficiente e eficiente para
esse imperativo de tutela do Estado brasileiro, quando colocada em prática por sua atuação
direta ou indireta. O Estado, ao realizar qualquer atividade econômica, deve servir de
exemplo para os outros agentes atuantes no mercado. A atividade pública, portanto, deve
ser a primeira a garantir que as pessoas tenham serviços públicos de qualidade. A criação
do Código de Defesa do Consumidor, que contribui maciçamente para o exercício efetivo da
tutela, representa o cumprimento de uma das intervenções exigidas pelo legislador
constitucional. No entanto, outros direitos essenciais do consumidor ainda não foram
colocados em prática, como por exemplo: a adequada e eficaz prestação dos serviços
públicos em geral, previsto no art. 6º, X, da Lei nº 8078/1990.
A intervenção do Estado no mercado de produção de bens e serviços é fundamental para a
garantia da liberdade e até mesmo da soberania do consumidor. Cabe ao Estado elaborar
normas jurídicas que regulem essa relação de consumo, bem como a atividade econômica
enquanto atividade destinada ao consumo.

Relação Jurídica de Consumo


A existência da relação de consumo dependerá necessariamente da participação de
fornecedores e destinatários finais, em que cada qual ocupará seu lado na relação jurídica
com a finalidade de adquirir mercadorias ou utilizar serviços. A defesa ao consumidor
prescreve obrigações e garante direitos aos sujeitos da relação jurídica de consumo, quais
sejam: consumidores e fornecedores.

O Código de Defesa do Consumidor não fala de “contrato de consumo”, “ato de consumo”,


“negócio jurídico de consumo”, mas expressamente destaca a “relação de consumo”, termo
que apresenta sentido mais amplo que as demais expressões. De acordo com o CDC, são
elementos da relação de consumo: a) como sujeitos, o fornecedor e o consumidor; b) como
objeto, os produtos e serviços; e c) como finalidade, a aquisição de produtos ou utilização
de serviços pelo consumidor.
Definição de Consumidor
A definição de consumidor é pressuposto básico para a possibilidade de utilização das
normas jurídicas de proteção. Conforme disposto no art. 2º do Código de Defesa do
Consumidor:
“Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.
Parágrafo único: Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”.
É importante destacar que caracteriza-se consumidor o destinatário final do produto ou
serviço. Aquele que adquire bens ou serviços com a finalidade de incrementar a sua
atividade negocial é considerado consumidor intermediário, portanto, não é possível reputar
a ele uma relação de consumo.
Há duas correntes que definem o conceito de destinatário final. A primeira, chamada de
maximalista ou objetiva, entende que o Código de Defesa do Consumidor, ao definir
consumidor, apenas exige a realização de um ato de consumo para a sua caracterização. A
interpretação da expressão “destinatário final” ocorre de forma mais ampla, bastando
somente que o consumidor (pessoa física ou jurídica) se apresente como destinatário fático
do bem ou serviço, não sendo necessário estabelecer a finalidade do ato de consumo.
Dessa forma, se faz totalmente irrelevante saber se o objetivo do consumidor é satisfazer
uma necessidade pessoal ou profissional, se ele visa lucro ou não ao adquirir a mercadoria
ou usufruir do serviço.
Em contrapartida, a outra corrente destinada a definir o destinatário final, conhecida como
finalista, concentra a definição apenas nos aspectos econômicos. Isso quer dizer que o
consumidor não será considerado como tal caso o serviço ou bem adquirido servir para a
produção ou mesmo para a prestação de outro serviço. Para os finalistas, destinatário final é
aquele destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica.
É necessário, portanto, que o consumidor seja destinatário final econômico do bem, que não
realize a aquisição para revenda ou para uso profissional, pois o bem seria considerado
novamente um instrumento de produção.

Definição de fornecedor
Conforme o art. 3º do Código de Defesa do Consumidor:
“Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.
A expressão fornecedor, de acordo com o CDC, abrange todos os participantes do ciclo
produtivo-distributivo, devendo o sujeito exercer a sua atividade econômica organizada, isto
é, de forma empresarial e autônoma e sem estar na dependência de terceiros para exercê-la.
Será considerado como fornecedor de produtos ou serviços, nos termos do Código de
Defesa do Consumidor, toda pessoa física ou jurídica que desenvolve atividade mediante
remuneração (desempenho de atividade mercantil ou civil) e de forma habitual, seja ela
pública ou privada, nacional ou estrangeira e até mesmo entes despersonalizados.
Princípios Fundamentais do Código de Defesa do Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor é baseado nos seguintes princípios:
O Princípio da Função Social do Contrato:
Não está expressamente mencionado no código de defesa do consumidor, porém está
previsto no Código Civil em seu artigo 421, onde está expressamente dito:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato.

Este princípio visa impedir tanto aqueles que prejudiquem a coletividade quanto os que
prejudiquem ilicitamente pessoas determinadas, isto que dizer que se o exercício do direito
de contratar e estipular cláusulas não estiver em conformidade com a sua finalidade social,
esse negócio será considerado ilegítimo pelo Estado, ou seja a pedido da parte este
contrato, que não observa a função social poderá ser considerado nulo.

Principio da Vulnerabilidade:
Foi realizada na hipótese de que nas relações de consumo a regra é a existência de
relações jurídicas verticais, com predominância da situação jurídica do fornecedor de bens
ou serviços em relação à do consumo. O fornecedor obtém o conhecimento profundo da
natureza e das especificações técnicas da mercadoria colocando o cliente em desvantagem,
o CDC procurou protegê-lo dos riscos.
Transparência explica Fábio Ulhoa que não basta ao empresário abster-se de falsear a
verdade; deve transmitir ao consumidor em potencial todas as informações indispensáveis à
decisão de consumir ou não o fornecimento.

Principio Da Boa-Fé Objetiva:


Trata-se não apenas de um princípio, mas deve ser um padrão de comportamento.

O código de defesa do consumidor consagrou este princípio no artigo 4º, III:


III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores;
O CDC pressupõe que os contratos devem ser de mutua cooperação entre as partes,
devendo estas se comportar com lealdade e honestidade, de maneira que não frustrem as
legitimas expectativas contratuais.
Este princípio se funda na honestidade e lealdade, entendida como regra de conduta para
as partes contratantes, compreendida como dever de agir segundo determinados padrões
aceitos e recomendados pela sociedade.

Princípio do Equilíbrio Contratual:


Conforme esse princípio, o contrato não pode estabelecer descomedidamente prerrogativas
ao fornecedor sem fixar iguais vantagens ao consumidor. Uma parte não pode obter
vantagens excessivas em cima da outra. Por isso foi atribuída a nulidade de pleno direito à
cláusula que, em desfavor do consumidor, vem estabelecer obrigações iníquas, abusivas,
que o coloquem em desvantagem exagerada como reza o artigo 51, IV CDC:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou seja, incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.

Tem como objetivo colocar as partes em situação de equilíbrio.

Cláusulas abusivas nos contratos submetidos ao Código de Defesa do Consumidor


Não podemos definir as cláusulas abusivas segundo o CDC, pois o próprio legislador pátrio
não o fez. Ele possibilitou que qualquer cláusula embora não abrangida no código se obtiver
um caráter abusivo não fica excluída, ela está sob proteção. O artigo 51 do Código de
Defesa do Consumidor nos forneceu as principais características: clausulas opressivas,
vexatórias, onerosas ou ainda excessivas.
Porém a doutrina há esta definição, conforme Fernando Noronha:

“Podem ser conceituadas como sendo aquela em que uma parte se aproveita de sua
posição de superioridade para impor em seu benefício vantagens excessivas, que destroem
a relação de equivalência objetiva pressuposta pelo princípio da justiça contratual,
escondendo-se muitas vezes atrás de estipulações que defraudam os deveres de lealdade e
colaboração pressupostos pela boa-fé. O resultado final será sempre uma situação de grave
desequilíbrio entre os direitos e obrigações de uma e outra parte.”.

Este conceito descreve vários aspectos: a verticalidade da relação entre as partes e a


vulnerabilidade de uma delas; a unilateralidade na imposição de clausulas; a finalidade de
inserção das clausulas abusivas; o efeito de sua imposição; a destruição do sinalagma; e a
inobservância da boa-fé como regra de conduta.

A sua finalidade é a melhoria da posição jurídica do estipulante com a transferência da


maior parte dos riscos do negócio para a parte aderente. Seu efeito é o desequilíbrio na
posição jurídica das partes, desvantagens econômicas exageradas, juízo do consumidor.

Essas cláusulas não podem ser confundidas com os contratos de adesão. Pode existir
perfeitamente contrato de adesão sem cláusula abusiva, assim como pode haver cláusulas
abusivas em contrato paritário, o resultante da negociação em que as partes estiverem em
pé de igualdade.

Valéria Silva Galdino distingue:

“Apesar de as cláusulas abusivas aparecerem com maior frequência nos contratos


celebrados mediante condições gerais, de adesão, de consumo, isso não significa que elas
sejam privativas deles, podendo manifestar-se em outras figuras contratuais regidas
pelo Código Civil ou pelo Código Comercial, sejam nominadas ou inominadas.”
Esse contrato de adesão não deve confundir-se com as condições gerais. As condições
gerais são caracterizadas por maior rigidez, sem alteração, já os contratos de adesão
admitem inclusão de cláusulas. Os contratos de adesão são a concretização das condições
gerais.

O CDC optou por conceituar como sendo aqueles cujas cláusulas tiverem sido aprovadas
pela autoridade competente ou estabelecida unilateralmente pelo fornecedor, sem que o
consumidor possa discutir ou modificar seu conteúdo conforme o artigo 54:
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Nulidade das Cláusulas Abusivas


O Caput do artigo 51 prevê a nulidade de pleno direito das clausulas abusivas. Como nos
ensina Nery Jr:

“no regime jurídico do CDC, as cláusulas abusivas são nulas de pleno direito porque
contrariam a ordem pública de proteção ao consumidor. Isso quer dizer que as nulidades
podem ser reconhecidas a qualquer tempo e grau de jurisdição, devendo o juiz ou tribunal
pronunciá-las ex officio, porque normas de ordem pública insuscetíveis de preclusão.”
É importante destacar que a nulidade da cláusula abusiva não invalida o contrato apenas as
caracterizadas conforme as características previstas no artigo 51 do CDC. Porém será
nulificado todo o instrumento contratual se decorrer ônus excessivo a qualquer das partes
em razão da ausência da cláusula.
Análise dos casos específicos de responsabilidade pelo Código de Defesa do
Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor consagra como regra a responsabilidade objetiva e
solidária dos fornecedores de produtos e prestadores de serviços, frente aos consumidores,
visando facilitar a tutela dos direitos do consumidor. Assim, não tem o consumidor o ônus de
comprovar a culpa dos réus nas hipóteses de vício ou defeitos dos produtos ou serviços.
Trata-se de hipótese de responsabilidade independente de culpa.
Ao adotar a premissa geral de responsabilidade objetiva, o Código de Defesa do
consumidor quebra a regra da responsabilidade subjetiva prevista pelo Código Civil de 2002.
A regra da responsabilidade objetiva do CDC só é quebrada em relação aos profissionais
liberais que prestam serviços, respondendo estes mediante a prova de culpa.
A lei Consumerista trata de quatro situações básicas de responsabilidade civil:
responsabilidade pelo vício do produto, responsabilidade pelo fato do produto (defeito),
responsabilidade pelo vício do serviço e responsabilidade pelo fato do serviço (defeito)
(TARTUCCE: 2012)

Para demonstrar tais decorrências, é preciso diferenciar vício do fato ou defeito. No vício,
seja do produto ou do serviço, o problema fica adstrito aos limites do bem de consumo
(prejuízos intrínsecos), enquanto no fato ou defeito, também do produto ou serviço, há
outras decorrências, como danos materiais, danos morais e danos estéticos (prejuízos
extrínsecos). Pode-se dizer, assim, que quando o problema permanece nos limites do
produto ou serviço, está presente o vício. Se o dano extrapola os seus limites, há fato ou
defeito, caracterizando o acidente de consumo propriamente dito.

A primeira diferença entre o vício e o fato diz respeito às pessoas legitimadas a responder
as situações correspondentes. O Código de Defesa do Consumidoradota a regra geral da
solidariedade presumida entre os envolvidos no fornecimento dos produtos e na prestação
de serviços (artigo 7º, parágrafo único da lei 8.078/90).
A solidariedade é a regra, contudo, pelos artigos 12 e 13 da lei 8.078/90 não se aplica ao
fato ou defeito do produto, como será exposto adiante.
Responsabilidade civil pelo vício do produto
Inicialmente, há responsabilidade por vício do produto (art. 18 da Lei 8.078/90) quando
existe problema oculto ou aparente no bem de consumo, que o torna impróprio para o uso
ou diminui o seu valor, o chamado vício por inadequação. Como não há problemas fora do
produto, não se pode falar em responsabilização por outros danos materiais (além do valor
da coisa) morais ou estéticos.
Aqui, aplica-se a solidariedade entre todos os envolvidos com o fornecimento (fabricante,
produtor e comerciante).

Mas há duas exceções, elencadas nos artigo 18, parágrafo 5º e artigo 19, parágrafo
2º do CDC. A primeira diz respeito ao produto fornecido in natura, respondendo perante o
consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente o produtor. (Ex.
Quando alguém compra uma maça na feira, a responsabilidade será do feirante. Contudo,
se na maça constar o selo do produtor, este responderá pelo vício). A segunda alude que o
fornecedor imediato (comerciante) será responsável pelo vício de quantidade quando fizer a
pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferindo segundo os padrões
oficiais.
As opções judiciais a quem tem direito o consumidor nos casos de vícios do produto estão
nos artigos 18 e 19 da Lei 8.078/90.
Nos casos de vício de qualidade, prevê o artigo 18 que, não sendo o vício sanado no prazo
de trinta dias pelo fornecedor pode o consumidor exigir alternativamente e a sua escolha, a
substituição do produto por outro da mesma espécie e nas mesmas condições de uso; ou a
restituição imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos; ou, por fim, o abatimento proporcional do preço.

Já quando se trata de vícios de quantidade, o consumidor possui todas as alternativas


acima, e, ainda, a complementação do peso ou medida (art. 19, II, do CDC).
Os vícios aparentes e de fácil constatação devem ser reclamados em 30 e 90 dias para
produtos não duráveis e duráveis, respectivamente, sob pena de decaírem (art. 26 do CDC).
Caso haja reclamação, não há suspensão do prazo, mas sim o impedimento de seu início
enquanto não houver a resposta negativa ou solução pelo fornecedor.
No entanto, o art. 24 do CDC prevê a garantia contra vício funcional. Este é o impedimento
ou a limitação para o uso ao qual o produto ou serviço seja destinado. Esta garantia
abrange Inclusive a durabilidade razoável de cada produto ou serviço, independentemente
dos prazos para reclamar vícios aparentes.
Responsabilidade civil pelo fato do produto (defeito)
Com exposto anteriormente, no fato do produto ou defeito estão presentes outras
consequências além do próprio produto.

O produto é caracterizado como defeituoso quando o bem de consumo não oferece a


segurança que dele legitimamente se espera. Segundo Flávio Tartuce e Daniel Amorim
Assunção Neves, três são as modalidades de defeitos:

Defeitos de projeto ou concepção: aqueles que atingem a apresentação ou essência do


produto, que gera danos independentemente de qualquer fator externo. Ex. Remédio
talidomia, cujo uso em pacientes grávidas, para minorar efeitos de indisposição, deu causa
a deformidades físicas da criança.
Defeitos de execução, produção ou fabricação: relativos a falhas do dever de segurança
quando da colocação do produto ou serviço no meio do consumo. Ex. Veículo é
comercializado com um problema em seu cinto de segurança, sendo necessário convocar
os consumidores para o reparo (recall).
Defeitos de informação ou comercialização: aqueles decorrentes da apresentação ou
informações insuficientes ou inadequadas sobre a fruição ou risco. Ex. Brinquedo que foi
comercializado como uma margem de idade inadequada, podendo causar danos às
crianças (2012, p. 145).
É importante ressaltar que o produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de
melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

Com base nos artigos 12 e 13 do CDC, no fato do produto ou defeito há a responsabilidade


imediata do fabricante (ou de quem o substitua neste papel) e a responsabilidade
subsidiária do comerciante. Quando o fabricante ou o substituto não puder ser identificado,
transfere-se a responsabilidade ao comerciante. O comerciante também pode ter
responsabilidade direta quando o produto é fornecido sem identificação clara de quem seja
o fabricante ou seu substituto. A terceira hipótese em que o comerciante é responsabilizado
diretamente quando não conserva de forma adequada os produtos perecíveis.
Finalmente, cabe informar que há hipóteses que excluem a culpa do fabricante, do produtor,
do construtor, nacional ou estrangeiro, do importador e do prestador de serviços na
ocorrência de defeitos do produto ou serviços. Conforme diz o § 3º do artigo 12 e § 3º do
artigo 14, se o Fornecedor provar uma das hipóteses abaixo elencadas estará isento de
responsabilidade:

Não colocou o produto no mercado (o produto que está no mercado é, por exemplo, produto
de roubo ou furto comprovados pela empresa), ou o produto é pirata, qual seja, falsificado.

Defeito inexiste no serviço ou no produto (o defeito alegado não existiu e isso é comprovado
por laudo pericial)

Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (O celular explodiu porque o Consumidor


estava usando bateria ou carregador alternativo, por exemplo).

Evidenciado o fato do produto ou defeito, o consumidor prejudicado pode manejar uma ação
de reparação de danos contra o agente causador do prejuízo, o que é decorrência do
princípio de reparação integral. Tal demanda condenatória está sujeita ao prazo
prescricional de cinco anos. (artigo 27) e o prazo será contado da ocorrência do evento
danoso.

Para ilustrar o exposto, usamos o exemplo de Rizzato Nunes (2012, p. 231). Um consumidor
que adquire um liquidificador e resolve utilizar o produto para fazer um bolo. Ao ligar o
aparelho, o motor estoura e faz com que a pá do liquidificador fure o copo. Se não atingir o
consumidor, evidencia-se o vício do produto. Nesta hipótese, o consumidor poderá pleitear
do comerciante ou do fabricante (solidariedade) um eletrodoméstico novo. O prazo
decadencial será de 90 dias (artigo 26 CDC). Contudo, se na mesma situação, a pá atingir a
barriga do consumidor, está presente o fato do produto ou defeito. Neste caso, a ação
indenizatória deverá ser proposta, em regra, em face do fabricante e no prazo prescricional
de cinco anos a partir da ocorrência do fato ou da ciência de uma séria deformidade pelo
consumidor (artigo 27).
Responsabilidade civil pelo vício do serviço
No vício de serviço aplica-se a regra da solidariedade entre todos os envolvidos com a
prestação. O parágrafo 2º do artigo 20 diz que são considerados impróprios os serviços que
mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, assim como
aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. Nestes casos, o
prestador de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao
consumo ou lhes diminua o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com
as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária.

Podemos exemplificar com os serviços que foram mal prestados por médicos ou
encanadores. De acordo com o artigo 20, o consumidor pode exigir a reexecucção dos
serviços, sem custo adicional; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; e o abatimento proporcional do preço,
nos casos em que se tem menos do serviço do que se espera.

Também no vício do serviço, a ignorância do fornecedor quanto a tais problemas não o


exime da responsabilidade.

Os prazos serão os mesmos que dos vícios do produto. (30 e 90 dias para produtos não
duráveis e duráveis, respectivamente, sob pena de decaírem).

No caso dos vícios do serviço, não há qualquer disposição acerca da responsabilidade dos
profissionais liberais, razão pela qual a responsabilidade será objetiva.

Responsabilidade civil pelo fato ou defeito do serviço


Da mesma maneira do defeito do produto, o serviço é defeituoso quando não fornece
segurança que o consumidor dele pode esperar, considerando-se o modo de seu
fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que
foi fornecido.

O fato ou defeito do serviço está tratado pelo artigo 14 do CDC, gerando a responsabilidade
civil objetiva e solidária entre todos os envolvidos. Não há, portanto, a mesma diferenciação
prevista para o fato do produto, já que seria difícil diferenciar quem é o prestador direto e o
indireto na cadeia de prestação.
É importante ressaltar que, no fato do serviço, a responsabilidade civil dos profissionais
liberais somente existe se houver culpa de sua parte (responsabilidade subjetiva).

Referida exceção foi instituída pelo fato desses profissionais exercerem atividades de meio,
utilizando-se toda perícia e prudência para atingir um resultado, porém não se
comprometendo a alcançá-lo.

Considerações Finais
Em matéria contratual, não mais se acredita que, assegurando a autonomia da vontade e a
liberdade contratual, se alcançará automaticamente, a necessária harmonia e equidade nas
relações contratuais. Nas sociedades de consumo, com seu sistema de produção e de
distribuição de massa, as relações contratuais se despersonalizaram, aparecendo os
métodos de contratação estandardizados, como os contratos de adesão e as condições
gerais dos contratos. Hoje estes métodos predominam em quase todas as relações entre
empresas e consumidores.

O Código de Defesa do Consumidor ameniza as diferenças entre o lado mais poderoso


(fornecedor) e o lado mais fraco (consumidor).
Com o advento do Código de Defesa do Consumidor, muitas mudanças ocorreram no
cenário jurídico, principalmente em relação à responsabilidade civil dos fornecedores, que
passou a ser, de regra, objetiva.
Nessa categoria se enquadram os danos morais, por excelência, dotados de natureza
extrapatrimonial. Defini-los entretanto é tarefa complicada e tem sido objeto de empenho da
doutrina. A legislação pátria não traz esboço conceitual legal, o que torna arenoso e tanto
quanto subjetivo o tema. Por isso, a jurisprudência tem sido o ponto de partida para o seu
melhor entendimento e também para a fixação de parâmetros sejam eles legais ou
jurisprudenciais.

Referências Bibliográficas
DEL MASSO, Fabiano, Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: ed. Campus, 2010

LUCCA, Newton de. Teoria Geral da Relação de Consumo. São Paulo: Quartier Latin, 2003.

TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual do direito do


Consumidor. São Paulo: Método, 2012-08-28
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 6ª ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011
MARTINS, Plíneo Lacerda. O conceito do consumidor no direito comparado.
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