Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
O artigo 1º do CDC deixa claro que a nova lei representa exatamente esta intervenção
estatal, ordenada pela Constituição Federal de 1988, em seus artigos 5º, inciso XXXII, e 170,
inciso V. No Código estão positivadas as novas regras para a proteção do consumidor, as
quais objetivam harmonizar e dar transparência às relações de consumo.
Abordaremos, neste trabalho, a relação contratual entre o consumidor e o fornecedor de
bens ou serviços. Neste sentido, iremos elencar o histórico e os elementos das relações de
consumo, analisar os casos específicos de responsabilidade e as cláusulas abusivas nos
contratos submetidos às Regras do Código de Defesa do Consumidor.
Histórico e Elementos da Relação de Consumo
Após a Revolução Industrial, com a consequente massificação da produção, bem com da
prestação de serviços, passou a ser necessária uma legislação que regulasse o consumo.
Antes não havia intermediários, já que as relações comerciais eram realizadas diretamente
entre os artesãos e os comerciantes. Com essa eliminação do contato direto, o comerciante
se viu sem ter para quem reclamar diante de possíveis problemas com os produtos e,
também, sobre o seu funcionamento.
Além dos fatores acima mencionados, o aumento da produção gerou queda nos preços dos
produtos, o que também fez diminuir a importância do consumidor. Em razão da produção
em larga escala, o fator determinante do lucro passou a ser a quantidade, deixando de lado
a importância individual de cada consumidor. Diante dessa situação, o fornecedor passou a
impor regras no mercado como, por exemplo, a criação de contratos de adesão, com
cláusulas pré-determinadas, as quais deveriam ser integralmente aceitas ou recusadas pelo
consumidor. Assim, caso o consumidor deixasse de contratar, o fornecedor perdia apenas
um consumidor, sem que houvesse alteração em seus lucros, que continuavam garantidos
pelos outros consumidores.
Definição de fornecedor
Conforme o art. 3º do Código de Defesa do Consumidor:
“Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.
A expressão fornecedor, de acordo com o CDC, abrange todos os participantes do ciclo
produtivo-distributivo, devendo o sujeito exercer a sua atividade econômica organizada, isto
é, de forma empresarial e autônoma e sem estar na dependência de terceiros para exercê-la.
Será considerado como fornecedor de produtos ou serviços, nos termos do Código de
Defesa do Consumidor, toda pessoa física ou jurídica que desenvolve atividade mediante
remuneração (desempenho de atividade mercantil ou civil) e de forma habitual, seja ela
pública ou privada, nacional ou estrangeira e até mesmo entes despersonalizados.
Princípios Fundamentais do Código de Defesa do Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor é baseado nos seguintes princípios:
O Princípio da Função Social do Contrato:
Não está expressamente mencionado no código de defesa do consumidor, porém está
previsto no Código Civil em seu artigo 421, onde está expressamente dito:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato.
Este princípio visa impedir tanto aqueles que prejudiquem a coletividade quanto os que
prejudiquem ilicitamente pessoas determinadas, isto que dizer que se o exercício do direito
de contratar e estipular cláusulas não estiver em conformidade com a sua finalidade social,
esse negócio será considerado ilegítimo pelo Estado, ou seja a pedido da parte este
contrato, que não observa a função social poderá ser considerado nulo.
Principio da Vulnerabilidade:
Foi realizada na hipótese de que nas relações de consumo a regra é a existência de
relações jurídicas verticais, com predominância da situação jurídica do fornecedor de bens
ou serviços em relação à do consumo. O fornecedor obtém o conhecimento profundo da
natureza e das especificações técnicas da mercadoria colocando o cliente em desvantagem,
o CDC procurou protegê-lo dos riscos.
Transparência explica Fábio Ulhoa que não basta ao empresário abster-se de falsear a
verdade; deve transmitir ao consumidor em potencial todas as informações indispensáveis à
decisão de consumir ou não o fornecimento.
“Podem ser conceituadas como sendo aquela em que uma parte se aproveita de sua
posição de superioridade para impor em seu benefício vantagens excessivas, que destroem
a relação de equivalência objetiva pressuposta pelo princípio da justiça contratual,
escondendo-se muitas vezes atrás de estipulações que defraudam os deveres de lealdade e
colaboração pressupostos pela boa-fé. O resultado final será sempre uma situação de grave
desequilíbrio entre os direitos e obrigações de uma e outra parte.”.
Essas cláusulas não podem ser confundidas com os contratos de adesão. Pode existir
perfeitamente contrato de adesão sem cláusula abusiva, assim como pode haver cláusulas
abusivas em contrato paritário, o resultante da negociação em que as partes estiverem em
pé de igualdade.
O CDC optou por conceituar como sendo aqueles cujas cláusulas tiverem sido aprovadas
pela autoridade competente ou estabelecida unilateralmente pelo fornecedor, sem que o
consumidor possa discutir ou modificar seu conteúdo conforme o artigo 54:
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
“no regime jurídico do CDC, as cláusulas abusivas são nulas de pleno direito porque
contrariam a ordem pública de proteção ao consumidor. Isso quer dizer que as nulidades
podem ser reconhecidas a qualquer tempo e grau de jurisdição, devendo o juiz ou tribunal
pronunciá-las ex officio, porque normas de ordem pública insuscetíveis de preclusão.”
É importante destacar que a nulidade da cláusula abusiva não invalida o contrato apenas as
caracterizadas conforme as características previstas no artigo 51 do CDC. Porém será
nulificado todo o instrumento contratual se decorrer ônus excessivo a qualquer das partes
em razão da ausência da cláusula.
Análise dos casos específicos de responsabilidade pelo Código de Defesa do
Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor consagra como regra a responsabilidade objetiva e
solidária dos fornecedores de produtos e prestadores de serviços, frente aos consumidores,
visando facilitar a tutela dos direitos do consumidor. Assim, não tem o consumidor o ônus de
comprovar a culpa dos réus nas hipóteses de vício ou defeitos dos produtos ou serviços.
Trata-se de hipótese de responsabilidade independente de culpa.
Ao adotar a premissa geral de responsabilidade objetiva, o Código de Defesa do
consumidor quebra a regra da responsabilidade subjetiva prevista pelo Código Civil de 2002.
A regra da responsabilidade objetiva do CDC só é quebrada em relação aos profissionais
liberais que prestam serviços, respondendo estes mediante a prova de culpa.
A lei Consumerista trata de quatro situações básicas de responsabilidade civil:
responsabilidade pelo vício do produto, responsabilidade pelo fato do produto (defeito),
responsabilidade pelo vício do serviço e responsabilidade pelo fato do serviço (defeito)
(TARTUCCE: 2012)
Para demonstrar tais decorrências, é preciso diferenciar vício do fato ou defeito. No vício,
seja do produto ou do serviço, o problema fica adstrito aos limites do bem de consumo
(prejuízos intrínsecos), enquanto no fato ou defeito, também do produto ou serviço, há
outras decorrências, como danos materiais, danos morais e danos estéticos (prejuízos
extrínsecos). Pode-se dizer, assim, que quando o problema permanece nos limites do
produto ou serviço, está presente o vício. Se o dano extrapola os seus limites, há fato ou
defeito, caracterizando o acidente de consumo propriamente dito.
A primeira diferença entre o vício e o fato diz respeito às pessoas legitimadas a responder
as situações correspondentes. O Código de Defesa do Consumidoradota a regra geral da
solidariedade presumida entre os envolvidos no fornecimento dos produtos e na prestação
de serviços (artigo 7º, parágrafo único da lei 8.078/90).
A solidariedade é a regra, contudo, pelos artigos 12 e 13 da lei 8.078/90 não se aplica ao
fato ou defeito do produto, como será exposto adiante.
Responsabilidade civil pelo vício do produto
Inicialmente, há responsabilidade por vício do produto (art. 18 da Lei 8.078/90) quando
existe problema oculto ou aparente no bem de consumo, que o torna impróprio para o uso
ou diminui o seu valor, o chamado vício por inadequação. Como não há problemas fora do
produto, não se pode falar em responsabilização por outros danos materiais (além do valor
da coisa) morais ou estéticos.
Aqui, aplica-se a solidariedade entre todos os envolvidos com o fornecimento (fabricante,
produtor e comerciante).
Mas há duas exceções, elencadas nos artigo 18, parágrafo 5º e artigo 19, parágrafo
2º do CDC. A primeira diz respeito ao produto fornecido in natura, respondendo perante o
consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente o produtor. (Ex.
Quando alguém compra uma maça na feira, a responsabilidade será do feirante. Contudo,
se na maça constar o selo do produtor, este responderá pelo vício). A segunda alude que o
fornecedor imediato (comerciante) será responsável pelo vício de quantidade quando fizer a
pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferindo segundo os padrões
oficiais.
As opções judiciais a quem tem direito o consumidor nos casos de vícios do produto estão
nos artigos 18 e 19 da Lei 8.078/90.
Nos casos de vício de qualidade, prevê o artigo 18 que, não sendo o vício sanado no prazo
de trinta dias pelo fornecedor pode o consumidor exigir alternativamente e a sua escolha, a
substituição do produto por outro da mesma espécie e nas mesmas condições de uso; ou a
restituição imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos; ou, por fim, o abatimento proporcional do preço.
Não colocou o produto no mercado (o produto que está no mercado é, por exemplo, produto
de roubo ou furto comprovados pela empresa), ou o produto é pirata, qual seja, falsificado.
Defeito inexiste no serviço ou no produto (o defeito alegado não existiu e isso é comprovado
por laudo pericial)
Evidenciado o fato do produto ou defeito, o consumidor prejudicado pode manejar uma ação
de reparação de danos contra o agente causador do prejuízo, o que é decorrência do
princípio de reparação integral. Tal demanda condenatória está sujeita ao prazo
prescricional de cinco anos. (artigo 27) e o prazo será contado da ocorrência do evento
danoso.
Para ilustrar o exposto, usamos o exemplo de Rizzato Nunes (2012, p. 231). Um consumidor
que adquire um liquidificador e resolve utilizar o produto para fazer um bolo. Ao ligar o
aparelho, o motor estoura e faz com que a pá do liquidificador fure o copo. Se não atingir o
consumidor, evidencia-se o vício do produto. Nesta hipótese, o consumidor poderá pleitear
do comerciante ou do fabricante (solidariedade) um eletrodoméstico novo. O prazo
decadencial será de 90 dias (artigo 26 CDC). Contudo, se na mesma situação, a pá atingir a
barriga do consumidor, está presente o fato do produto ou defeito. Neste caso, a ação
indenizatória deverá ser proposta, em regra, em face do fabricante e no prazo prescricional
de cinco anos a partir da ocorrência do fato ou da ciência de uma séria deformidade pelo
consumidor (artigo 27).
Responsabilidade civil pelo vício do serviço
No vício de serviço aplica-se a regra da solidariedade entre todos os envolvidos com a
prestação. O parágrafo 2º do artigo 20 diz que são considerados impróprios os serviços que
mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, assim como
aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. Nestes casos, o
prestador de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao
consumo ou lhes diminua o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com
as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária.
Podemos exemplificar com os serviços que foram mal prestados por médicos ou
encanadores. De acordo com o artigo 20, o consumidor pode exigir a reexecucção dos
serviços, sem custo adicional; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; e o abatimento proporcional do preço,
nos casos em que se tem menos do serviço do que se espera.
Os prazos serão os mesmos que dos vícios do produto. (30 e 90 dias para produtos não
duráveis e duráveis, respectivamente, sob pena de decaírem).
No caso dos vícios do serviço, não há qualquer disposição acerca da responsabilidade dos
profissionais liberais, razão pela qual a responsabilidade será objetiva.
O fato ou defeito do serviço está tratado pelo artigo 14 do CDC, gerando a responsabilidade
civil objetiva e solidária entre todos os envolvidos. Não há, portanto, a mesma diferenciação
prevista para o fato do produto, já que seria difícil diferenciar quem é o prestador direto e o
indireto na cadeia de prestação.
É importante ressaltar que, no fato do serviço, a responsabilidade civil dos profissionais
liberais somente existe se houver culpa de sua parte (responsabilidade subjetiva).
Referida exceção foi instituída pelo fato desses profissionais exercerem atividades de meio,
utilizando-se toda perícia e prudência para atingir um resultado, porém não se
comprometendo a alcançá-lo.
Considerações Finais
Em matéria contratual, não mais se acredita que, assegurando a autonomia da vontade e a
liberdade contratual, se alcançará automaticamente, a necessária harmonia e equidade nas
relações contratuais. Nas sociedades de consumo, com seu sistema de produção e de
distribuição de massa, as relações contratuais se despersonalizaram, aparecendo os
métodos de contratação estandardizados, como os contratos de adesão e as condições
gerais dos contratos. Hoje estes métodos predominam em quase todas as relações entre
empresas e consumidores.
Referências Bibliográficas
DEL MASSO, Fabiano, Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: ed. Campus, 2010
LUCCA, Newton de. Teoria Geral da Relação de Consumo. São Paulo: Quartier Latin, 2003.