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n '1‘611IA
CULTURAL DA
IM’RENSA
BRASIL — 1900-2000
Copyright @ by Marialva Barbosa, 2007
2ª
2" edição:
edigfio: 2010
Projeto Gráfico:
Grdfico:
Núcleo de Arte/Mauad
Nficleo Arte/Mauad Editora
Revisora:
Revisora:
Sandra Pássaro
Péssaro
C IP-B RASIL. C
CIP-BRASIL. ATALOGAÇÃO-NA-F ONTE
CATALOGACAo-NA-FONTE
S
SINDICATO NACIONAL DOS
INDICATO NACIONAL EDITORES DE
DOS EDITORES LIVROS, RJ.
DE LIVROS,
B199h
Barbosa, Marialva, 1954-
1954-
Histéria cultural da imprensa :: Brasil, 1900-2000
História 1900-2000 / Marialva Barbosa.
Barbosa. - Rio de
Janeiro :: Mauad X, 2007.
2007.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7478-224-9
Prefacio —
Prefácio José Marques de Melo — 7
Introduoao —
Introdução 11
11
1a PARTE
1ª
I—
Tecnologias do novo século (1900-1910) — 21
21
“Maravilhosa invenção
Maravilhosa invenoao” —
26
A imagem e o leitor — 31
31
As redações
redaooes —
37
Senhores do tempo — 41
41
2a PARTE
2ª
VI — “Cinquenta anos em cinco:
Cinquenta cinco”:
modernizaeao (1950-1960) —
consolidando o mito da modernização 149
149
O mercado jornalistico
jornalístico da década — 154
154
Lutas por representação
representagao — 156
156
politicas —
Tribunas políticas 165
165
Ultima Hora e a mítica
Samuel Wainer, a Última mitica da renovação
renovagao — 168
168
VII —
Novos atores em cena: a imprensa nos anos 1960 — 175
175
A televisão
televisao irrompe a cena — 176
176
politica: uma simbiose histórica
Imprensa e política: histérica — 180
180
Sob o signo da censura — 187
187
VIII — Cenários
Cenarios dos anos 1970-80:
crise do Correio da Manhd
Manhã e novo sensacionalismo —
197
197
IX — Calidoscopio de mudanças
Calidoscópio mudaneas (1980-2000) — 221
221
cenario para o jornalismo econômico
Um novo cenário econémico —
223
Cenario 2: Jornalismo investigativo —
Cenário mitificaeao? —
categoria ou mitificação? 226
Cenário
Cenario 3: Narrativas de um outro fim
fim de século 234
se’culo —
Consideraeoes Finais —
Considerações 245
Bibliografia —
247
Prefácio
Prefacio
A historiografia
historiografia brasileira encontra-se
encontra—se frente a um paradoxo, neste início
inicio de sécu-
se’cu—
lo. Cresce o0 volume de pesquisas sobre a imprensa, mas são
sao raras as generalizações
generalizaooes
capazes de elucidar o seu desenvolvimento ou discernir melhor o seu futuro.
A explicação
explicaeao plausível
plausivel para esse fenômeno
fenomeno repousa no caráter
carater predominantemen—
predominantemen-
te monográfico
monografico dos estudos hegemônicos,
hegemonicos, sem que possamos tecer quadros holísticos
holisticos
Visoes panorâmicas
ou compor visões panoramicas e muito menos vislumbrar
Vislumbrar tendéncias.
tendências.
obsessao pela micro-história
Essa obsessão micro-historia reflete
reflete evidentemente a ausência
auséncia de politicas
políticas
pfiblicas académica a se comprometer com proj
públicas capazes de induzir a comunidade acadêmica etos
projetos
em longo prazo. Em vez de fortalecer o conhecimento integrado, em sintonia com
proj etos socialmente relevantes de interesse nacional, as agências
projetos agéncias de fomento se aco-
aco—
modam, tolerando a pesquisa fragmentada, dispersa e não nao raro datada, repetitiva.
A0 bibliografia na área
Ao revisar nossa bibliografia area midiológica
midiologica contamos nos dedos aqueles
trabalhos científicos
cientificos que dão
dao conta de processos amplos e palmilham territorios
territórios estra-
tégicos, no tempo e
6 no espaço.
espaeo.
8 Prefácio
Historia da Mídia.
do pela vanguarda nacional da História Midia. Sua instigante, deliciosa e sedutora
Historia da Imprensa cobre todo o século
História seculo XX, perfilando corno narrativa de fôlego
perfilando como folego
modernizaoao da nossa mídia
sobre a modernização midia impressa. O aparente reducionismo espacial —
por estar concentrada no territorio
território carioca —
ganha elasticidade e densidade, durante o
curso da escrita, justamente pela captação
captaeao da amplitude extraterritorial do objeto
pesquisado.
geopolitica que a poderia atrelar ao estig-
A imprensa carioca extrapola a natureza geopolítica estig—
ma paroquial ou provincial, para se tornar a expressão
expressao viva
Viva da universalidade brasilei-
brasilei—
mestioarnente os padroes
ra. Ela assimila mestiçamente d’ale’m mar. Mais do que isso:
padrões importados d´além
processa os modelos
rnodelos aculturados e os difunde para todos os quadrantes da nossa geo-
geo—
grafia. Esse fluxo
grafia. fluxo perdura até
ate quando a Cidade Maravilhosa
MaraVilhosa catalisa a hegemonia
tipica
típica das capitais nacionais.
empatica.
Marialva Barbosa revela, nesta obra, uma impressionante capacidade empática.
rnetodologicamente como historiadora, periodizando a traj
Comporta-se metodologicamente etoria da
trajetória
imprensa. Mas ao mesmo tempo recorre ao empirismo jornalistieo
jornalístico para recons-
recons—
truir cenários
cenarios dotados de exuberante simbolismo.
simbolisrno. Ou para pinear
pinçar e proj etar perso—
projetar perso-
nagens singulares que dãodao sentido aos jogos de cena.
eena. Nesse diapasão,
diapasao, constrói
constroi
uma narrativa brilhante, nutrida pela factualidade subjetiva
subj etiva e sofisticada
sofisticada pela in-in—
terpretaoao
terpretação heterodoxa.
E importante destacar que a autora conquista lugar de destaque na constelação
É constelaeao dos
midiaticos brasileiros pela ousadia de romper com os padroes
historiadores midiáticos padrões da pes-
historica tradicional. Desde sua obra de estreia —
quisa histórica Os donos do Rio: imprensa,
imprensa,
poder
poder e publico Vicio de Leitura, 2000) —
público (Rio, Vício ela se engaja na corrente que pensa a
histéria como epistéme. Sua ambição
história ambieao intelectual ée’ construir uma narrativa em que o
ficeional se mesclam
factual e o ficcional meselarn e se recriam.
reeriam. Trata-se
Trata—se de postura investigativa embasada
nos principios historiograficos defendidos por Agnes Heller: explicitar o implícito;
princípios historiográficos implicito;
publicizar o secreto; buscar a coerência
coeréncia existente no que tern aparéncia de incoerente.
tem aparência
Mesmo transgredindo os postulados epistemológicos
epistemologicos emern que se fundamentam seus
predecessores, Marialva nãonao os recusa como fontes irradiadoras de sabedoria utilitá-
utilita—
ria. Ancorada na sutileza da reportagem em profundidade de que se valeu Rizzini para
tecer o perfil
perfil enigmático
enigmatico de Hipólito
Hipolito da Costa, ela esboça
esboea instantâneos
instantaneos elucidativos de
ampara—se na sensibilidade literária
Wainer e Chateaubriand. Da mesma forma, ampara-se literaria de
Martins para construir descrições
descrieoes apetitosas de ambientes e de conjunturas, eivadas
de sabor coloquial. A exemplo de Werneck Sodré, Sodre’, ela sentou praoa
praça no quartel da
memoria nacional,
memória naeional, explorando a riqueza das coleções
coleeoes de jornais microfilmados
microfilmados para
separar o joio do trigo. Ou seja, para navegar habilidosamente entre a tempestade
metaforica dos gêneros
metafórica géneros informativos e a calmaria metonímica
rnetonimica dos gêneros
géneros opinativos,
vestigios indeléveis das fontes que privilegiou.
vestígios
10 Prefácio
Introdução
Introdueao
12 Introdução
tefido,
teúdo, o produtor da mensagem e a forma como o leitor entende os sinais emitidos
pelos impressos.
impresses. Procura destacar, também, a dimensão
dimensao histórica
historica de um mundo pleno
significados, no qual se localizam os meios de comunicação.
de significados, comunicaoao. Portanto, a dimensão
dimensao
sao contempladas nestas abordagens. Essas pesquisas visualizam
interna e externa são Visualizam a
historia a partir de um espaço
história espaoo social considerado, interpretando os sinais que chegam
até o presente a partir das perguntas subjetivas
subj etivas e do olhar, igualmente subjetivo,
subj etivo, que
lanoar ao passado.
se pode lançar
Coerente com essa perspectiva, este livro propoe historia da impren-
propõe escrever uma história
espaoo social específico
sa, localizada num espaço especifico — no caso o0 Rio de Janeiro —,, consideran-
analise, se faz escolhas, nas quais a subjetividade
do que, ao realizar esta análise, subj etividade do pesquisa—
pesquisa-
esta presente. Neste sentido, não
dor está nao estamos pretendendo dar conta de todas as
questao histórica
multiplicidades de aspectos que envolvem a questão historica na sua relação
relaoao com os
com
jornais da cidade, durante cem anos. Sequer vamos nos referir a todos os periodicos.
periódicos.
Elegeremos aqueles que consideramos os mais relevantes do ponto de vista Vista desta
abordagem.
Se por um lado pensamos a história
historia como epistéme (conhecimento verdadeiro)
opoe àa doxa
que se opõe dam (simples opinião),
opiniao), é preciso inserir o aspecto ficcional
ficcional da narrativa
historica. Quando enfatizamos o aspecto ficcional
histórica. ficcional não
nao quer dizer que o passado não
nao
tenha se
so dado: o que está
esta se destacando é a característica
caracteristica de relato de um texto escrito
por um narrador do presente, inserido num mundo completamente diverso daquele
esta interpretando.
que está
reconstruoao será
O produto dessa reconstrução sera sempre um discurso carregado de significados.
significados.
Ha que se considerar também que cada época está
Há esta imersa num grau de do consciência
consciéncia
historica que foi sendo construído
histórica construido pelos sujeitos que vivem
“Vivem sua propria historia”. Se
própria história.
ao construir um texto que lança
lanoa um determinado olhar sobre o passado estamos ten— ten-
tando produzir conhecimento ou epistéme, por outro lado não nao se pode esquecer que o
reconstroi são
que se reconstrói sao sempre, como diz Heller (1993), os problemas da vida Vida e da
consciéncia cotidianas. O que cada pesquisador faz é tornar explícito
consciência explicito o implícito;
implicito;
publicizar o que seria secreto e fornecer uma coerência
coeréncia ao que em principio
princípio poderia
classificado como incoerente. Tudo isso sem a pretensao
ser classificado pretensão de transformar o passado
em presente, mas enxergando o passado como vestígio
vestigio significante
significante que pode chegar
1993).
ao mundo de hoje (Heller, 1993).
A tarefa da história
historia não
nao é, pois, recuperar o passado tal como ele
616 se
so deu, mas
interpreta-lo. A partir dos sinais que chegam até o presente, cabe tentar compreender
interpretá-lo.
a mensagem produzida no passado dentro de suas proprias
próprias teias de significação.
significaoao. São
Sfio
vestigios, que aparecem como documentos e como ato memorável
esses vestígios, memoravel (no qual está
esta
incluida a memória
incluída memoria do próprio
proprio narrador/pesquisador), que permitem reconstruir a his-
his—
toria filtimos cem
tória da imprensa na cidade do Rio de Janeiro nos últimos com anos.
14 Introdução
(2001 :374-375) lembra com propriedade que a história
Paul Ricoeur (2001:374-375) historia só
so nos atinge
atrave’s das modificações
através modificacoes que impõe
impoe àa memória,
memoria, pois a primeira relação
relacao com o passa-
da através
do se dá atraVés dessa abertura fundamental. Sem memória
memoria não nao há
ha passado e a opera-
opera—
cao que assegura a transicao
ção memoria àa história
transição da memória historia ée’ o testemunho. Atrave’s
Através do teste-
Vistas se transferem para o plano das coisas ditas.
munho as coisas vistas
historia da imprensa é,
Construir história e, pois, fazer o mesmo movimento da escrita
“escrita da
historia”. E
história. É perceber a histéria
história como processo complexo, no qual estao
estão engendradas
relacoes sociais, culturais, falas e não
relações nao ditos. Compete ao historiador perguntar pelos
siléncios e identificar
silêncios identificar no que não
nao foi dito uma razão
razao de natureza muitas vezes politica.
política.
Ao produzir uma escrita instaura-se
instaura—se o mundo das coisas contadas. Segundo Harald
encontram—se nos tempos verbais os trés
Weinrich (1973), encontram-se comu—
três eixos essenciais da comu-
nicacao. Na situação
nicação. situacao de locução
locucao existem dois mundos: o mundo contado e o mundo
comentado. HáHa ainda a perspectiva que produz a defasagem entre o tempo daquilo
ultimo eixo essencial da comunicação
que ocorreu (o ato) e o tempo do texto. O último comunicacao diz
respeito ao relevo que é dado ao texto: é através
atraVés da narrativa que serão
serao destacados
rejeitando—se outros para pano de fundo.
certos contornos, rejeitando-se
Ao relatar um acontecimento, ao produzir uma interpretação
interpretacao a história
historia tambe’m
também
instaura, tal como faz o texto ficcional,
ficcional, o mundo das coisas contadas. E esse mundo ée’
estranho tanto a quem produz a narrativa como a quem ela se destina. A perspectiva de
locucao marca na narrativa, através
locução atrave’s do emprego dos tempos verbais, a diferença
diferenca entre
o tempo do ato e o tempo do texto (o tempo contado).
A descrição,
descricao, por outro lado, faz com que o passado se prolongue. Comentando os
fatos ocorridos no passado, vislumbrando
Vislumbrando a ação
acao humana existente neste passado,
prolonga—se
prolonga-se o passado no presente.
sera produzido —
O texto que será como qualquer narrativa que recupera um tempo que
Vivenciado por outros sujeitos sociais —
foi vivenciado instaura o tempo das coisas contadas. E
sera o narrador que irá
será ira selecionar de um conjunto de acidentes uma história
historia completa
e una, tecendo uma intriga, se quisermos empregar a expressão
expressao de Paul Ricoeur (1994).
gostariamos de enfatizar nesta proposicao
Outro aspecto que gostaríamos proposição diz respeito àa ques-
tao das generalizações.
tão generalizacoes. Particularizar ée um dos principios
princípios orientadores da teoria da
historia. Ao proceder uma interpretação,
história. interpretacao, não
nao se pode generalizar as conclusões
conclusoes para
todos os contextos, ja espaco social possui uma conformidade histórica,
já que cada espaço historica, uma
traj etoria particular.
trajetória
A producao interpretacao está,
produção da interpretação esta, pois, intimamente relacionada àa conformação
conformacao
espaco social. Pensar historicamente pressupoe
de um espaço espacos soci-
pressupõe contextualizar os espaços
ocorréncias, costumes, instituições
ais numa cadeia de fatos, eventos, ocorrências, instituicoes que se confor-
confor—
fluxo (antes e depois). Essa é uma das razões
mam como um fluxo razoes para a delimitação
delimitacao da
16 Introdução
ce limitado e tiragem em torno de 400 ou 500 exemplares. Basicamente, esses peque—
peque-
nos jornais atingem
atingern os grupos urbanos insatisfeitos com o governo, em especial du-
du—
rante o periodo Regencia. Nao
período da Regência. ha ainda um movimento organizado antiescravista.
Não há antiescraVista.
Antes da década
decada de 1880,
1880, os antiescravistas
antiescraVistas não
nao tém
têm acesso aos jornais de maior
prestigio,
prestígio, ja adotarn posicao
já que estes adotam relacao àa emancipação,
posição cautelosa em relação emancipacao, devido
deVido
principalmente àa dependência
dependéncia dos anunciantes, muitos deles senhores de escravos.
ampliacao dos grupos sociais urbanos, contrários
A crise do escravismo e a ampliação contrarios ao cati-
cati—
Veiro, permitem a ampliação
veiro, ampliacao do espaço
espaco nos periodicos
periódicos para as ideias abolicionistas.
Ha que se perceber tambem
Há também o papel da imprensa como instituição
instituicao de controle
social, servindo àa própria
propria estrutura de poder e agindo como veículo
veiculo de manutencao
manutenção da
ordern vigente.
ordem Vigente.
Nesse universo, dominando pelo Jornal do Commercio, e por outras pequenas
publicacoes, 0 Mosquito, de Angelo
publicações, como O Ângelo Agostini, A Reformo, Vida Fluminense,
Reforma, Vida Fluminense,
linguas estrangeiras como o Courrier du
outras em línguas o’u Brésil, apenas para citar alguns,
destacam-se os jornais que se colocam
coloeam contra a escravidão:
escraVidao: a Gazeta de o’e Notz’cias,
Notícias,
1875, por Ferreira de Arafijo;
fundada em 1875, do Tarde
Araújo; a Gazeta da Toro’e e Cidade
Cidao’e do Rio, ambos
criados por José
Jose do Patrocínio.
Patrocinio.
A questão
questao abolicionista, portanto, ocupa com mais intensidade espaço
espaco nos jornais
Patrocinio. Ao deixar a Gazeta de
de Patrocínio. o’e Noticias, 1881, funda a Gazeta da
Notícias, em 1881, do Tarde,
Toro’e, que
tern, escraVidao. Seis anos
tem, de fato, posicionamento mais evidente na luta contra a escravidão.
mais tarde, em 1887,
1887, vende sua parte no jornal e cria a Cidade
Cidao’e do Rio, que será,
sera, sem
dfiVida, o principal jornal abolicionista da cidade.
dúvida,
As notícias
noticias editadas por esses jornais contribuem
contribuern para disseminar ideias
antiescraVistas entre diversos segmentos da populacao,
antiescravistas atrave’s de suas leituras,
população, seja através
manifestacoes pfiblicas
seja pelas manifestações públicas que promovem. Com Corn isso, atraem tambérn
também pessoas
nao tém
que não as suas matérias,
têm acesso às mate’rias, incluindo-se
incluindo—se aí
ai os analfabetos.
estao inseridos num processo histórico
Conscientes de que estão historico de grande repercussão
repercussao
para o futuro do país,
pais, os abolicionistas desempenham, através
atrave’s desses jornais, uma luta
treguas contra o trabalho compulsório.
sem tréguas compulsorio.
AtraVes manifestacoes pfiblicas
Através de manifestações públicas que promovem, ampliando o universo do deba-
deba—
te inicialmente
inicialrnente veiculado por aquelas paginas,
páginas, essa imprensa contribui para a forma-
forma—
9510 de uma verdadeira cidade politica
ção política que emerge na cena urbana do Rio de Janeiro
final dos anos 1880.
no final 1880. O tema
terna da abolição
abolicao não
nao ée exclusividade dos líderes
lideres do movi-
movi—
discute—se o cativeiro nas ruas, toma-se
mento: discute-se toma—se posicao
posição contra ou a favor, participa—se
participa-se
1991).
(Fernandes, 1991).
Todo esse universo do século XIX — igualmente importante do ponto de vista
Vista da
historia da imprensa —
história esta ausente desse livro por uma questão
está questao de escolha. O nosso
18 Introdução
surgeIn as redações,
literatos, surgem redaooes, a emissora rádio
radio ficcional
ficcional que existia na Casa de Deten-
Deten—
oao, durante o Estado Novo, a partilha dos jornais nos bancos das praoas
ção, praças do Rio de
descriooes que revelam aspectos de uma imprensa
Janeiro, entre dezenas de outras descrições
figuraoao literária.
que existe também como figuração literaria.
A segunda parte
part6 começa
comega enfocando os anos 1950,
1950, periodo
período que passa àa história
historia do
jornalismo carioca
oarioca como sendo o
0 de sua maior
Inaior modernização.
modernizagao. Através dos depoimen-
depoimen—
modernizagao
tos dos jornalistas que participam desse processo, mostramos que esta modernização
construgao discursiva dos homens de imprensa numa luta permanente pelo
é uma construção
significar. Em lutas por representação.
direito de significar. representaoao.
filmes em preto-e-branco
Os filmes preto-e—branco nacionais, produzidos pelos estúdios
estfidiosAtlantida, dao a
Atlântida, dão
senha para a entrada de um novo personagem na cena midiática
midiatica nos anos 1960:
1960: a
televisao. introduziInos a discussão
televisão. Essa é a forma como introduzimos discussao do cenário
cenario da imprensa du-
TambéIn faz parte
rante a ditadura militar. Também part6 da análise
analise uma discussão
discussao sobre a censura
periodo autoritário
no período autoritario inaugurado com o Golpe de 1964.
1964.
filtimos capítulos
Os dois últimos capitulos colocam
colocaIn em destaque múltiplos
Infiltiplos cenários
cenarios nos trinta anos
finais do século XX. Se na década de 1970,
finais 1970, os atores são
sao a crise da imprensa e o
processo de concentração
concentraoao — inl’nneros periodicos
que leva ao desaparecimento de inúmeros periódicos e a
supremacia de O 0 Globo e do jornalismo popular de O 0 Dia —, 1980 novos
, nos anos 1980
cenarios introduzem um verdadeiro calidoscópio
cenários calidoscopio de mudanças
mudanoas que marcam as trans—
trans-
formagoes da imprensa.
formações
Escolhemos trés cenarios para finalizar
três cenários finalizar este livro: o jornalismo economico, o jor-
jornalismo econômico, jor-
configuraooes narrativas do jornal
nalismo investigativo e as configurações 0 Globo nos anos 2000.
jornal O
Esses temas foram pesquisados por alunos que produzern, questoes con-
produzem, ao falar de questões con—
temporaneas, vestigios de uma dada história
temporâneas, vestígios historia da imprensa. Ao escolhê-los
escolhé—los prestamos
também uma homenagem a todos aqueles que se dedicam ao estudo dessa história historia —
mesmo que seja a do tempo presente —, Inostrando que o conhecimento só
, mostrando so é válido
Valido
quando carrega em si mesmo a ideia de tributo. Tributo aos que estudaram no passa—passa-
oontinuamos trilhando, e tributo ao futuro, aos jo-
do, percorrendo um caminho que continuamos
continuarao caminhos que deixamos inconclusos.
vens que certamente continuarão
1. Tecnologias do
d0 novo século (1900-1910)
O
“0 mês
més de dezembro de 1899
1899 decorreu, na
verdade, na esfera em que eu passava a exercer
exereer
atiVidade, festivo e animado. Os tele-
a minha atividade,
gramas do Rio de Janeiro, que os jornais
maranhenses publieavam,
publicavam, anunciavam grandes
demonstrações
demonstraeoes de regozijo por toda parte.
O
0 século
‘século das luzes
luzes’ ia apagar-se,
apagar—se, legando ao
que lhe vinha
Vinha suceder uma infinidade
infinidade de con-
quistas que o anterior jamais imaginara. Que
espantos, que prodigios,
prodígios, traria no seu mistério
o século que ia surgir? Que nome lhe devia
deVia dar,
no nascedouro?
naseedouro?” (Humberto de Campos, 1954)
1954)
“No salão
No salao da Rua do Ouvidor,
OuVidor, nºno 131,
131, inaugurou-se
inaugurou—se anteontem
anteontern o
kinetoseopio, a última
kinetoscópio, ultima invenção
inveneao de Edison, que é, como
corno todas as do estudioso
e fecundo inventor, maravilhosa. Vimos uma briga de galos comcorn todas as suas
peripecias, os aplausos e gestos de entusiasmo dos espectadores. Depois vimos
peripécias, Vimos
danea serpentina corretamente dançada
a dança daneada e por fim
fim uma curiosa briga nurna
numa
taverna”. (Jornal
taverna. (Jamal do Brasil, 9 dezembro 1894.
1894. Apud Sussekind, 1987:39)
1987:39)
“Todos nós
Todos nos vimos
Vimos o kinetoscópio
kinetoscopio de Edison, o 0 qual reproduz o movirnento
movimento
por meio da passagem rápida,
rapida, em frente àa retina, de uma série
serie de fotografias
fotografias
instantaneas. Mas no kinetoscópio
instantâneas. kinetoscopio as figuras
figuras eram pequeninas e só so uma pessoa
de cada vez podia apreciá-lo.
aprecia—lo. O cinematographo, inventado pelos irmãos
irrnaos Lumière,
Lumiere,
figuras em tamanho natural, podendo ser vistas
apresenta-nos as figuras Vistas por um número
numero
espectadores”. (Jornal
qualquer de espectadores. (Jamal do Commercio, 21 21 de junho de 1896,
1896, p. 3)
Tambe’m os periodicos
Também implantarn outros artefatos
periódicos mais importantes da cidade implantam
tecnologicos que mudam
tecnológicos rnudam significativamente
significativarnente a maneira como se produzern
produzem jornais:
jornais:
maquinas linotipos capazes de substituir o trabalho de até
máquinas ate’ 12
12 das antigas composições
composieoes
maquinas de imprimir
manuais; máquinas irnprimir capazes de vomitar
“vornitar” de 1010 a 20 mil exemplares por
Inaquinas de fotografar capazes
hora; máquinas eapazes de reproduzir em imagens o que antes apenas
metodos fotoquímicos
podia ser descrito; métodos fotoquirnicos que permitern
permitem a publicaeao cliches em
publicação de clichês ern
periodieos transformam gradativamente
cores. Os periódicos gradativarnente seus modos de produeao discur—
produção e o discur-
corn que se autorreferenciam. Passam a ser cada vez mais ícones
so com icones de modernidade,
eidade que quer ser símbolo
numa cidade simbolo de um novo tempo.
0 Rio de Janeiro abre o século
O se’culo XX modernizando seu centro urbano. No caos da
iluminaeao elétrica,
cidade, a iluminação ele’trica, a adoção
adoeao da traeao ele’triea nos bondes e a circulação
tração elétrica circulaeao
automoveis nas ruas causam
dos primeiros automóveis causarn sensação
sensaeao e dão
dao o
0 tom da modernização,
modernizaeao,
simbolo do novo século.
símbolo se’culo.
“Desde ontem o Jornal do Brasil conta com uma Marinoni dupla, poden-
Desde
do tirar 4, 6 ou 8 paginas
páginas de modo que assim conseguiremos satisfazer as
exigéncias da nossa extraordinária
exigências extraordinaria tiragem, pondo a trabalhar simultanea-
simultanea—
maquinas singelas de quatro paginas,
mente quatro máquinas maqui—
páginas, cada uma, ou duas máqui-
nas duplas para 6 ou 8 páginas.
paginas. O serviço
serVioo telegrafico
telegráfico aumentou (...) uma
expedieao biquotidiana para dois sistemas intermediários.
expedição intermediarios. Especialmente cui-
cui—
informaeao esperando que o Jornal do Brasil
damos de melhorar as fontes de informação
nao deixe de verificar
não verificar nelas com a maior rapidez,
rapidez. completando até
ate’ a última
filtima
hora as recebidas, tudo quanto possa interessar a legião
legiao dos nossos amigos
leitores”. (Jornal
leitores. (Jamal do Brasil, 11 janeiro de 1901,
1901, p. 1.
1. Grifos nossos)
No texto publicado
publieado pelo Jamal
Jornal do Brasil no primeiro dia do ano de 1901, 1901, fica
fica
importancia que as novas teonologias
evidente a importância tecnologias tém dia—a-dia das publicaooes.
têm no dia-a-dia publicações. As
rotativas Marinonis possibilitam o aumento da tiragem que naquele ano chega àa extraor-
extraor—
dinaria cifra de 60 mil exemplares. Por outro lado, o telegrafo
dinária telégrafo permite a atualização
atualizaeao
constante — e com rapidez — noticias recebidas
das notícias reeebidas de última
filtima hora. Nao
Não ée’ mais possivel
possível
apenas anunciar o que se passa no mundo, mas ée’ preeiso
preciso informar com rapidez. Os
jornais constroem um tempo cada vez mais comprimido.
oomprimido.
Maravilhosa
“Maravilhosa invenção
invencao”
2 Em 1875,
2
40 réis era quanto se pagava pela passagem de bonde mais barata da cidade.
1875,40
3 Chama-se
3
Chama—se suelto o pequeno texto opinativo,
opinativo, mas com característica
caracteristica jocosa e humorística,
humoristica, publicado pelos
jornais brasileiros desde o início
inicio do século.
século.
“Um jomal
Um espirito de seus redatores. Idade do espírito,
jornal nasce com a idade do espírito espirito,
digo, porque embora seja tao intima a ligação
tão íntima ligaeao entre a matéria
materia e o espírito,
espirito, que
alguns fazem depender este daquele, há ha homens cuja alma se amolda às as rugas do
corpo, como há ha moços
moeos cujo espírito
espirito envelhece prematuramente. A Gazeta de
Noticias
Notícias tem vinte
Vinte e... tantos anos.
anos”. (Gazeta de Noticias, 1875, p. 1)
Notícias, 2 agosto de 1875, l)
“Nao há
Não ha quem o não
nao leia. A elite devora-o.
devora—o. É
E nesse plano de prosa que o
0 Dr.
Ataulfo de Paiva vai aprender a melhor maneira de colocar a cartola
eartola na cabeça;
cabeoa;
onde o0 Sr. Humberto Gottuzzo toma conhecimento
eonhecimento da cor da moda para as suas
gravatas e onde os smarts urbanos e suburbanos aprendem, a proposito
propósito de ele-
gancia e de chic, coisas
gância eoisas edificantes.
edificantes.” (Edmundo, 1957:955-956)
1957:955-956)
Graficamente o jomal
Graficamente jornal tambem
também muda. É E impresso em oito colunas e utiliza invaria-
ilustraooes e caricaturas na sua primeira pagina.
velmente ilustrações nfimero avulso custa 100
página. O número 100
re’is. E em primeiro de janeiro ja
réis. já anunciam a sua nova tiragem:
tiragem: 40 mil exemplares.
As transformações
transformaooes não
nao param aí.
ai. Em 1907,
1907, importam da Alemanha uma máquina
maquina
ate cinco cores, publicando o primeiro clichê
capaz de imprimir até cliche a cores. A partir de
entao o feitio pesado do jornal muda. Aos domingos edita um suplemento literário,
então literario,
fotografias ilustrando um texto em que figura
com desenhos coloridos e fotografias figura sempre o
“Cinematografo”, comentários
Cinematógrafo, comentarios dos dias da semana, algumas poesias, um conto
eonto e artigos.
A prosperidade do periodico, contrario do Correio da Marthe?
periódico, ao contrário Manhã e do Jamal
Jornal do
Brasil, deve-se
Brasil, deve—se menos a sua venda avulsa do que aos vultosos contratos
eontratos firmados
firmados com
orgaos municipais para a publicação
os órgãos publicaeao dos atos oficiais
ofieiais da Prefeitura. Em abril de
1901, por exemplo, assina contrato com a Diretoria Geral de Interior e Estatística,
1901, Estatistica,
servieo o Jamal
substituindo nesse serviço d0 Commercio que publica esses atos desde 1890.
Jornal do 1890.
38033000 por quatro editais sobre a proibieao
Oito anos depois a Prefeitura paga 380$000 proibição de
artificios nas ruas. (Publicações.
queimar fogos de artifícios (Publicaeoes. Códices
Codices 45-4-35
45-4—35 e 44-4-20.
44-4—20. AGCRJ)
5 Só
5
so a título
titulo de comparação,
comparagao, 100 réis era o 0 preço
prego da travessia de barca Rio-Niterói
Rio—Niteréi e seis mil-réis (6$000)
(6$OOO)
ocasiao, a um dia de trabalho de um operário
equivalia, na ocasião, operério gráfico.
gréfico.
A primeira pagina
página do Jamal
Jornal do Brasil da edição
edioao comemorativa de 15 15 de novem—
novem-
1900 —
bro de 1900 inteiramente tomada por ilustrações
ilustraooes reproduzindo cenas das tecnologias
Virada do século XIX para o século XX —
que invadem a imprensa na virada é um bom
nao apenas das estratégias utilizadas para atingir um
indicador não urn pfiblico
público mais vasto e
parcamente alfabetizado
alfabetizado6,
6
, mas também para refletir
refletir sobre a importância
importancia da represen-
represen—
taoao image’tica na sociedade.
tação imagética
introduoao da fototipia na imprensa, que possibilita o uso de
Mesmo antes da introdução
fotografias, fundamentais também para a proliferaoao
fotografias, proliferação das revistas ilustradas, os jor—
jor-
diarios mais populares utilizam as ilustrações
nais diários ilustragoes como representação
representaoao privilegiada
Vida urbana. Nessas paginas,
da vida observa—se uma espécie de redefinição
páginas, observa-se redefinioao do olhar que
passa a existir no início
inicio do século XX.
Na ilustração
ilustragao principal da pagina 15 de novembro de 1900
página do dia 15 1900 —
que ocupa
todo o primeiro teroo
terço superior —
os artefatos tecnologicos
tecnológicos que permitem a rapidez
necessaria àa divulgação
necessária divulgaoao de notícias
noticias estão
estao representados: o telégrafo e suas linhas
transmissoras, o navio
naVio a vapor e,
6, em
cm destaque, a impressora que possibilita ao jornal
jornal
representagao em imagem que
imprimir 60 mil exemplares. Por outro lado, é essa representação
permite a leitura intensiva e extensiva do periodico.
periódico.
No mesmo jornal, na part6 sao colocados lado a lado.
parte inferior, cinco desenhos são
O primeiro mostra um tipo de pfiblico
público ao qual o jornal
jornal se autoatribui o papel de
defensor: os pobres e6 os
OS oprimidos. Abaixo, a figura
figura do repórter
reporter que toma nota
filtimas novidades, que chegam ao seu conhecimento via
das últimas Via aparelho telefonico.
telefônico. A
mobilidade que a tecnologia coloca ao seu dispor possibilita também a rapidez desejada
desej ada
pela imprensa para a divulgação
divulgaoao das notícias
noticias sempre atualizadas e6 em
cm profusao.
profusão.
Ainda na mesma pagina,
página, uma alegoria da imprensa, representada pela figura
figura femi-
femi—
alcanoa o universo, tal o seu poder de visualizar
nina, que alcança Visualizar amplamente o que se passa
fotografias encerram a visão
no mundo. Mais duas fotografias Visao do jornal sobre seu papel na socieda-
socieda—
de: a do pequeno jornaleiro que distribui o periodico
periódico pelas esquinas da cidade e a
imagem senhorial de um personagem bem-vestido,
bem—vestido, que certamente representa um urn tipo
de pi’lblico
público a quem o jornal precisa atingir: os grupos dirigentes.
“Vitima da prepoténcia
Vítima prepotência ou de um abuso, a primeira lembrança
lembranoa que tom
tem o0
homem do povo é exclamar: Vou queixar-me
queixar—me ao Jornal do Brasil!
Brasil! E vem
efetivamente e6 nós
nos o
0 ouvimos com a maior atenção,
atenoao, aconselhando-lhe calma
prudéncia, tornando-nos advogados de sua causa.
e prudência, causa”. (Jornal
(Jamal do
a’a Brasil, 15
15
novernbro de 1902,
novembro 1902, p. 2)
“Desde ontem
Desde ontern o Jornal do Brasil conta com uma Marinoni dupla, poden—poden-
paginas, de modo que assim conseguiremos satisfazer
do imprimir 4, 6 ou 8 páginas,
exigéncias da nossa extraordinária
as exigências extraordinaria tiragem, pondo a trabalhar simultanea-
simultanea—
maquinas singelas de 4 paginas
mente quatro máquinas maquinas
páginas cada uma, ou duas máquinas
duplas para 6 ou 8 paginas”. (Jamal do
páginas. (Jornal a’a Brasil, 11 janeiro 1901, p. 1)
janeiro de 1901, 1)
Ainda em 1900
1900 realizam obras na sede da rua Gonçalves
Gonoalves Dias, embora ja estej am
já estejam
preparando a transferência
transferéncia para aaAvenida 14 de outubro de 1904
Avenida Central. Em 14 1904 lançam
lanoarn
a pedra fundamental da nova sede, mas a mudança
mudanga da redação
redaoao e das oficinas
oficinas para o
so ocorrerá
novo prédio só ocorrera em 12
12 de janeiro de 1910.
1910.
1900, imprime uma edição
Desde 1900, edioao ilustrada aos domingos e outra às
as quintas-feiras.
quintas—feiras.
A primeira custa 200 réis e publica, em paginas
páginas inteiras de caricaturas, o retrospecto
segoes de quebra-cabeça
ilustrado da semana, seções quebra-oabeoa e modinhas populares também ilustra-
Cf. A
7Cf.
7 “A infeliz Guilhermina, vítima
vitima do desastre de ontem na Rua Beneditinos (croquis tirado do natural pelo
nosso companheiro J. Arthur)”.
Arthur). In:
In: Jornal
Jorna/ do Brasil,
Brasil, 17 janeiro de 1901,
1901, p. 2 e O
“O cadáver
cadaver de Luiz Carlos da
Cunha, a partir de uma fotografia tirada na Casa de Detenção.
Detengao”. In:
In: Jornal
Jorna/ do Brasil,
Brasil, 11
11 outubro de 1900,
1900, p.1.
p.1.
“0 Sr. João
O J050 Batista Pereira mandou-nos
mandou—nos a quantia de 20$ em comemora-
eomernora—
eao ao aniversário
ção aniversario de sua filhinha
filhinha Noemia,
Noêmia, para que façamos
faearnos chegar
ehegar às
as mãos
maos
Virginia de Jesus, em
da infeliz Virgínia ern tratamento no Hospital da Misericórdia.
Misericordia. Hoje
ineurnbéncia”. (Jornal
mesmo nos desempenharemos dessa grata incumbência. (Jamal do
a’a Brasil, 2
janeiro de 1900,
1900, p. 1)
1)
1906, passa a ser presidido por Carvalho de Morais, tendo como acionista
Em 1906, aeionista
responsavel pela parte comercial
Ernesto Pereira Carneiro, responsável cornercial e financeira.
financeira. A mudança
mudanea
acionaria não
acionária nao influencia
influencia no sucesso
sueesso empresarial do jornal. Publica, então,
entao, de cinco
einco a
edieoes diárias
seis edições diarias e, em 1912,
1912, introduz as primeiras máquinas
maquinas de escrever na reda-
reda—
eao. Quatro anos mais tarde possui um dos maiores parques gráfico
ção. grafico da imprensa
irnprensa bra-
bra—
12 máquinas
sileira, com 12 maquinas linotipos, 3 monotipos
Inonotipos e a mais moderna impressora.
acionario do Jamal
O controle acionário a’a Brasil muda
Jornal do Inuda de mãos
maos mais uma vez no final
final dos
10: em 1918,
anos 10: 1918, o Conde Pereira Carneiro adquire o jornal
jornal da Mendes & Cia. e
direeao do periódico,
assume a direção periodico, nomeando como redator chefe o futuro fundador dos
Diarias
Diários Assaciaa’as,
Associados, Assis Chateaubriand.
As redações
redaeoes
A reprodução
reprodueao fotográfica
fotografica da redação
redaeao do Jamal cla Brasil na virada
Jornal do Virada do século
seculo XIX
para o XX coloca
coloea em cena tambérn
também os artefatos teenologicos invadern não
tecnológicos que invadem nao apenas
“Além do serviço
Além servieo combinado com um dos primeiros órgãos
orgaos de publicida—
publicida-
amerieano e dos seus correspondentes literários
de do continente americano literarios em Lisboa,
provincias de Portugal, Paris e Roma, o
Porto, províncias 0 Jornal do Brasil tern
tem corres-
pondentes telegraficos Montevi—
telegráficos especiais em Paris, Roma, Londres, Lisboa, Montevi-
de’u e Buenos Aires, recebendo, em média,
déu media, pelo cabo submarino de seiscentas
diarias”. (Jornal
a mil palavras diárias. (Jamal do Brasil, 11 janeiro 1901, p. 1)
janeiro de 1901, 1)
Apesar da importância
importaneia desse tipo de informação,
informaoao, que ocupa geralmente as primei-
ras paginas, ea-
páginas, a reportagem local ganha cada vez mais destaque. O sensacional, as ca-
tastrofes quotidianas e a notícia
tástrofes noticia inédita despertam o interesse do pfiblieo
público e fazem
importaneia do trabalho do repórter.
aumentar a importância reporter.
cronicas do cotidiano, subindo os
Esses passam também a escrever verdadeiras crônicas
religioes populares, montando reportagens em
morros, descrevendo os bastidores das religiões
“Uma gentil
Uma gontil senhorita,
sonhorita, que
quo veio
voio de
do Minas tontar Vida de
tentar no Rio a vida do impren-
impron-
ontrou para a redação
sa, entrou rodaoao da Rua eo engendrou
ongondrou uma reportagem
roportagom muito interes-
intoros-
santo. Fingiu-se
sante. Fingiu—so dedo transviada eo foi ao Asilo do Bom Pastor podir pedir agasalho
para fazer
fazor ponitoncia
penitência eo regenerar-se.
rogonorar—so. Muniu-se
Muniu—so de do uma minúscula
minfisoula kodak eo
dosombaroou no misterioso
desembarcou mistorioso convento,
convonto, onde
ondo a superiora
suporiora a recebeu
rocobou com benig-
bonig—
nidado eo bons conselhos.
nidade consolhos. NaoNão podo, ontrotanto, pormanooor
pode, entretanto, permanecer no asilo mais de do
48 horas, porquo, sogundo parooo,
porque, segundo urn jornalista, por motivos desconhecidos,
parece, um dosconhooidos,
donunoiou àa superiora
a denunciou suporiora como espiã,
ospia, eo ela
ola tovo do regressar
teve de rogrossar da tranquila man-
350 das madalenas
são madalonas arrependidas
arropondidas para o seiosoio buliçoso
buliooso dos repórteres
roportoros de
do onde
ondo
saira, num momento
saíra, momonto de do original inspiração.
inspiraoao”. (O(0 Paiz, 16
16 maio dedo 1914,
1914, p. 2)
“uma trago’dia
uma tragédia na rua tal, com tiros, facadas, mortes,
mortos, uma torronto do san-
torrente de san—
guo eo diversas
gue divorsas outras circunstâncias
circunstancias dramáticas,
dramaticas, as turbas se
so interessam,
intorossam, Vi—
vi-
bram, tom avidoz de
tem avidez do detalhes,
dotalhos, querem
quorom ver
vor os retratos
rotratos das vítimas,
Vitimas, dos crimi-
crimi—
nosos, dos policiais empenhados
omponhados na captura destes.
dostos”. (O
(0 Paiz,
Paiz, 26 junho
junho dedo
1914,p.l)
1914, p. 1)
“o leitor
o loitor apressado
aprossado não
nao queria
quoria pensar,
ponsar, não
nao tinha tompo
tempo para acompanhar
rofloxoos filosóficas,
longas reflexões filosoficas, passa por cima
oima dedo todas as considerações
oonsidoraooos dedo
ordom social eo politica;
ordem diga—lho o que
política; diga-lhe quo passou, como se so passou, em
om que
quo con-
con—
diooos se
dições so deu
dou o fato que
quo o ocupa, pinto-lho
pinte-lhe o tipo eo o caráter
carator dos protagonis—
protagonis-
8 Chama-se
8
Chama—se retrancar
retrancara a identificação
identificagéo necessária
necesséria àa paginação
paginagéo que é indicada em cada texto:
texto: a página
pégina que irá
iré
ocupar, o tipo de ilustração
ilustragao que receberá,
receberé, a rubrica onde ficará
ficaré localizada,
localizada, entre outras.
outras.
Senhores do tempo
Essa senha ée’ dada, sobretudo, pelos mais importantes periodicos circulaeao na
periódicos em circulação
se’culo XX. Segundo informação
cidade na alvorada do século informaeao do escritor Olavo Bilac,
Bilae, as
cineo mais importantes folhas da cidade —
cinco o Jamal
Jornal do Brasil, o0 Jamal
Jornal do Commercio,
Gazeta de Noticias,
Notícias, Correio da Marthe?
Manhã e O0 Paiz — tiram juntas 150
150 mil exemplares
exemplares9. 9
.
Numa cidade de pouco mais de 600 mil habitantes, observa-se
observa—se o extraordinário
extraordinario poder
difusao desses impressos.
de difusão
Cada um desses periodicos, criticas e de costumes que nao
periódicos, ao lado das revistas de críticas não
destina—se a um publico
cessam de surgir, destina-se funeao disso, adaptam seu
público em potencial. Em função
texto e o suporte que lhe dá
da sustentação
sustentaeao ao gosto desse leitor. Enquanto a Gazeta de
Notz’cias
Notícias procura atingir um publieo literario dava o
público cujo gosto literário 0 tom da preferencia,
preferência, o
Jamal
Jornal do Brasil multiplica as estratégias
estrategias no sentido de atingir um leitor de menor grau
instrueao e, sobretudo, menor poder aquisitivo. Também popular procura ser o
de instrução 0 Cor-
reio da Mani/1d, circulaeao de seu primeiro número
Manhã, desde a circulação numero em 15 15 de junho de 1901.
1901.
oeorre a partir de 1875
Tal como ocorre 1875 com a Gazeta de Noticias,
Notícias, o0 Correio revoluciona
o jornalismo ao valorizar a informação
informaeao em detrimento da opinião.
opiniao. As noticias
notícias
Segundo o crítico
9Segundo
9
critico José Veríssimo,
Verissimo, os jornais mais importantes da cidade possuíam
possuiam uma tiragem conjunta em
torno de 100 mil exemplares. Cf. Verissimo,
Veríssimo, A instrução
instrugéo e a imprensa. Rio de Janeiro:
Janeiro: s.e,
s.e, s.d.
s.d. Já
Jé Olavo Bilac,
Bilac,
no Momento Literário
Literério (1994), se refere a uma tiragem global de 150 mil exemplares.
exemplares.
1° Correio da Manhã,
10
Manhé, 18
18 e 22 junho de 1901,
1901, p. 2.
2. Em 1910,
1910, Pelos
“Pelos Subúrbios
Subarbios” muda de nome para Correio
“Correio
Suburbano” e, ainda no mesmo ano,
Suburbano ano, passa a se chamar Subúrbios
“SubL’eios e arrabaldes.
arrabaldes”. Para a análise
analise do jornal
que se segue,
segue, pesquisamos as edições
edicoes do Correio da Manhã
Manha" de 9 junho de 1901
1901 a 31
31 dezembro de 1910.
1910.
Em maio de 1907
12Em
12
1907 publicam, por exemplo, uma série de reportagens assinadas por Euclides da Cunha sobre
a Transacreana. Cf. Jornal
Jorna/ do Commercio, maio 1907, p. 1.
13 Cf. Ata da
13
Assembleia Geral Extraordinária
daAssembleia Extraordinéria de 18 nov.
nov. 1909,
1909, publicada em O 0 Paiz,
Paiz, 18 dezembro de 1909,
1909, p.
p.
Balango da Sociedade
3; Balanço SociedadeAnénima
Anônima O Paiz dede1915,
1915, publicado em O 0 Paiz,
Paiz, 16 janeiro de 1916.
1916. Ata da Assem—
Assem-
bleia Geral Extraordinária
Extraordinéria de 30 junho de 1917, publicada em O
de1917,publicada 0 Paiz, 22 julho de 1917,
1917, p.
p. 2.
Quando
“Quando fui trabalhar no jornal
jornal do meu pai,
Manhã, o0 secretário
A Martha, secretario me perguntou:
perguntou: —
Vocé
Você
quer ser o quê?
que? Dei a resposta fulminante: Re-
pórter de polieia.
porter polícia. Porque preferi a reportagem
policial, posso explicar. Um velho profissional
profissional
costumava dizer, enfiando
enfiando o cigarro na pitei-
ra: —
as grandes paixoes
paixões são
$510 as dos seis, sete,
oito anos. Segundo ele, só
so as crianças
crianeas sabem
amar; o adulto não.
nao. Eu fui, sim, um
urn menino àa
procura de amor.
amor.” (Nelson Rodrigues,
1977:201)
19772201)
A razão
razao que levara o jovem Nelson Rodrigues, com
corn apenas 17
17 anos, a querer ser
reporter de policia,
repórter polícia, ainda que seja explicada em suas palavras pela emoção
emoeao passional
que passaria a ter ao apurar as chamadas notícias
noticias de sensação,
sensaeao, indica tambem
também a impor-
tancia noticiario ganha na maioria dos jornais diários
tância que este tipo de noticiário diarios do Rio de Janei-
ro a partir do início
inicio dos anos 1920.
1920.
A rigor, desde os anos 1910,
1910, as notas sensacionais invadem
invadern as paginas
páginas das princi-
pais publicaooes.
publicações. Abandonando as longas digressões
digressoes politicas,
políticas, os jornais passam a
ern manchetes, em paginas
exibir em editarn, em profusao,
páginas em que editam, ilustraooes e fotogra-
profusão, ilustrações fotogra—
fias, os horrores cotidianos.
fias,
A crônica
cronica Tragédia
“Trage’dia Falha,
F alha”, de João
J050 do Rio, ilustra o destaque que os jornais dão
dao
“capitulo sensacional do crime,
ao capítulo crime”, o que para ele reflete
reflete um sentimento ou uma
apropriacao da leitura de forma a aplacar a curiosidade, manifestar o
apropriação 0 horror ou des-
des—
pertar a piedade dos leitores.
Ao procurar transpor a realidade para a narrativa, o autor dessas notícias
noticias procura
representacoes arquétipas.
construir personagens e representações arquetipas. Quando isso ocorre, a narrativa
existéncia, atingindo, em consequência,
passa a representar a existência, consequéncia, diretamente o pfiblico.
público.
N50
Não é6': representação
representacao de dados concretos que produz o senso de realidade, mas a su-
gestao de uma certa generalidade. O público
gestão pfiblico é,
e, assim, movido tanto pelo inusitado da
trama quanto pela participação
participacao —
ainda que indireta — Vida daqueles personagens.
na vida
noticias podem tambe’m
Essas notícias também inseri-lo em ambientes estranhos. Podem tambe’m
também
cinematografos.
remontar a realidade como um conto folhetinesco ou uma cena dos cinematógrafos.
enfim, elos de identificação
Produzem, enfim, identificacao com o pfiblico.
público.
A edição
edicao fantasiosa deve, entretanto, ser apresentada dentro de determinados
parametros, onde a verossimilhança
parâmetros, verossimilhanca ée’ o principal deles. É
E preciso construir narrativas
atendendo a esses dois aspectos: a realidade e a fantasia. Os elementos passionais nãonao
podem ser ocultados, sob pena de nãonao despertar o interesse do leitor, mas ao mesmo
nao ée possivel
tempo não possível exagerar nas tintas descritivas, sob pena de transportar a notícia
noticia
para o lugar do folhetim.
Mundo do leitor
Em seguida completa:
Na descrição
descrioao percebe-se que os repórteres,
reporteres, em bando, se dirigiam rapidamente aos
locais das tragedias,
tragédias, para transcrever nos jornais as cenas
eenas visualizadas
Visualizadas em toda a
sua intensidade. Nao haVia tempo para a emoção,
Não havia emoeao, mesmo diante da dor e da agonia.
Era preciso descrever a tragedia estampa—la com as cores da violência
tragédia urbana e estampá-la Violencia nos
periodicos da cidade.
periódicos
A memória
memoria de Nelson Rodrigues, descrevendo sua introdução
introdueao no mundo do jorna—
jorna-
dao o
lismo, mostra que as narrativas fantasiosas dão 0 tom das matérias
mate’rias policiais. Mesclan-
Mesclan—
minucias
do realidade e fantasia, falam dos dramas cotidianos e devem descrever com minúcias
todos os detalhes da trama, para que o leitor possa se identificar
identificar e presumir — a partir
imaginaoao criadora —
da sua imaginação dramatica colocada em evidência.
a cena dramática evidéncia.
improvavel voltam
Os detalhes que apelam ao improvável voltarn periodicamente na trama relatada.
Nelson Rodrigues repórter
repérter vai buscar na sua memória
memoria narrativa os elementos presentes
no seu texto. Um
Urn repórter
reporter de sucesso
sueesso tinha imaginado anos antes a morte de um canário
canario
nurn incêndio.
num incéndio. Assim, Castelar de Carvalho inventou — eomo ele agora faz —
como canario.
o canário.
“Entre parênteses,
Entre parénteses, a ideia do canário
canario não
nao era lá
la muito original. Direi mes-
mo: — nao era nada original!
não original! Eu a tirara de uma velha e esquecida
esqueeida reportagem
de Castelar de Carvalho. Anos antes, ele fora cobrir um incêndio.
ineéndio. Mas o fogo
nao matara ninguém
não ninguem e a mediocridade do sinistro irritara o repórter.
reporter. Tratou de
inventar um passarinho. Enquanto o pardieiro era lambido, o passaro
pássaro canta-
Va, cantava. Só
va, Sc’) parou de cantar para morrer.
morrer”. (Idem,
(Idem, ibidem)
A popularização
popularizaeao dessas tematicas dara definitivamente
temáticas se dará definitivamente com
corn o
0 surgimento de jor—
jor-
diarios inteiramente dedicados aos escândalos
nais diários escandalos e tragédias
tragedias quotidianas, como
corno
A Maniac? Critica (1928). São
Manhã (1925) e Crítica sao textos que se adaptam tambem
também no que diz
respeito àa forma, ao gosto e aos hábitos
habitos de leitura populares: manchetes resumin-
resumin—
do em poucas palavras o0 drama narrado em corpo 48 e por vezes 64 ou 72. A0 Ao lado do
texto, a cena da tragedia fotografia. O estilo ée entrecortado.
tragédia em desenho ou em fotografia. entreeortado. Os titulos
títulos
sao seguidos por subtítulos
são subtitulos que resumem o 0 drama a ser reconstruído
reeonstruido por um
urn repórter
reporter autori-
zado a realizar esse papel. Tudo sugere uma leitura entrecortada,
entreeortada, uma leitura titubeante, uma
nao está
leitura de um leitor real que ainda não esta de todo familiarizado com as letras impressas.
As interpretações
interpretaeoes para a inclusão
inclusao das chamadas notas sensacionais
sensaeionais nas paginas
páginas dos
diarios e para a absorção
diários absoreao dessas narrativas pelo gosto popular podem ser, portanto, de
infimeras ordens, mas devem ser explicadas no contexto histórico
inúmeras historico de sua produeao.
produção.
“A inauguração
A inauguracao do novo eo imponente
impononto edifício
odificio da A Noito, roalizar-so
Noite, a realizar-se
hojo às
hoje as 16
16 horas eo 30 minutos, nãonao somente
somonto é uma grande
grando festa
fosta do jornalismo
brasiloiro como tambo’m
brasileiro também se so reveste
rovosto do caráter
carator de
do um notável
notavol acontecimento
acontocimonto da
Vida da cidade.
vida cidado. ÉE que
quo A Noito, alo’m de
Noite, além do representar
roprosontar a imprensa
impronsa do pais,
país, uma
vitoria que
luminosa vitória quo a todos nós
nés tanto envaidece,
onvaidoco, constitui, sem
som dúvida,
duvida, um dos
olomontos do patrimonio
mais valiosos elementos intoloctual do Rio de
patrimônio intelectual do Janeiro.
Janoiro. Fundada,
121 se
lá so vão
vao anos, por um grupo de do rapazes,
rapazos, tondo
tendo àa frente
fronto essa
ossa figura
figura por tantos eo
moritorios títulos
meritórios titulos admirável
admiravol que
quo foi Irineu
Irinou Marinho, A Noito
Noite tornou-so,
tornou-se, logo a
aparocor, graças
aparecer, gracas as suas reportagens
roportagons sensacionais
sonsacionais eo a agudez
agudoz de
do seus
sous comentá-
comonta—
oxcoléncia popular”.
rios, uma folha, por excelência (Critica, 7 setembro
popular. (Crítica, sotombro de do 1929)
1929)
“A Noito
A possuia uma circulação
Noite possuía circulacao muito grande.
grando. Era um
umjomal foito em
jornal feito om moldes
moldos
novos eo apesar
aposar de
do ser
sor vespertino
vosportino saía
saia exclusivamente
oxclusivamonto com noticiário
noticiario do dia.
caractoristica obrigava os redatores,
Essa característica rodatoros, repórteres
roportoros eo os gráficos
graficos a desenvol-
dosonvol—
vorom uma atividade
verem atividado enorme.
onormo. Acho que
quo havendo
havondo circulação,
circulacao, há
ha automatica-
monto publicidade.
mente publicidado”. (Depoimento
(Dopoimonto de do Ferrone.
Forrono. Pascoal. In: Memo’ria
Memória da ABI)
do oposição
Jornal de oposicao ao Governo
Govorno Bernardes,
Bornardos, A Noite chega
choga a tor
ter uma tiragom final
tiragem no final
do’cada de
da década do 1920
1920 de
do 200 mil exemplares.
oxomplaros. No mesmo
mosmo poriodo,
período, a tiragom do O
tiragem de 0 Paiz é6’ 3
3
oxomplaros, estando
mil exemplares, ostando em
om franca decadência.
docadoncia. O Correio da Martha odita 40 mil, ja
Manhã edita já
As seções
seooes mais apreciadas pelo pfiblico sao as de politica,
público são 6, natural-
política, de esporte e,
notioiario policial.
mente, o noticiário
Paginas de sensação
Páginas sensagao
“Critica tem, entre os seus cento e trinta mil leitores, uma grande maioria
Crítica
que nasceu com a bossa da reportagem. Cada leitor conhece um caso sensa-
desej aria ver publicado. Entretanto, muitos silenciam a informa-
cional, que desejaria
ção
cao por motivos vários.
Varios. Ora, temos norteado nossas reportagens, em quase
informacoes, direta ou indiretamente, fornecidas por leito-
sua totalidade, em informações, leito—
profilaXia social que vimos
res que, colaborando na obra de profilaxia Vimos empreendendo,
tem contribuído
contribuido grandemente para o êxitoexito de nossa campanha. E É justo, por-
tanto, que se estimule o esforço
esforco e o interesse de nossos leitores repórteres.
reporteres”.
(Critical, 5 setembro de 1929,
(Crítica, 1929, p. 3)
O desfecho da trama
A edição
edieao comemorativa de primeiro aniversário
aniversario de Crítica,
Crz'tica, em 21
21 de novembro
n0Vembr0 de
1929, com 40 paginas,
1929, páginas, testemunha o0 sucesso do empreendimento de Mario
Mário Rodrigues.
anuncios distribuem-se de maneira indiscriminada por toda a publicaeao,
Os anúncios publicação, mas,
“deVido ao
mesmo assim, devido a0 acúmulo
acumulo de matérias,
mate’rias”, são
sao forçados
“foreados a deixar de publiear
publicar
edieao vários
nesta edição Varios anúncios
anuneios e artigos de colaboração.
colaboraeao”.
historia, destacam
Referindo-se a sua recente história, destaeam as inovações
inovaeoes gráficas
graficas que introduzem.
“A sua circulação
A circulacao nunca fora atingida. Aos seus guichets corriam, por isso
entao, a imitá-la.
mesmo, os anunciantes. Muitos se decidiram, então, imita-la. Outros a copiá-
copia—
serVilmente. Alguns foram até
la servilmente. ate’ ao plágio
plagio o mais evidente, adotando não
nao só
so a
feicao gráfica
feição grafica como, também, borboleteando sobre os artigos e comentários...
comentarios...”
(Critica, 21
(Crítica, 21 novembro de 1929.
1929. Quarta seção,
secao, p. 3)
A adoção
adocao do novo padrao grafico, chocando
padrão gráfico, “chocando com os moldes antiquados e rotinei-
rotinei—
ros da maioria dos nossos periodicos”, e’, em grande parte, a razão
periódicos, é, razao para o sucesso da
iniciativa. A0 tambe’m ée’ fundamental a presenca
Ao lado disso, também reporteres no local
presença dos repórteres
mesmo dos acontecimentos. Para isso criam a “a Caravana da Crítica,
Critica”, nomeada impá-
“impa—
Vida patrulha, perscrutadora de segredos e mistérios.
vida miste’rios”.
E explicam:
“A Caravana de Crítica
A Critica nasceu do entusiasmo dos nossos repórteres
reporteres e,
nesse mesmo ambiente, tornou-se uma força forca remarcada na nossa imprensa
com a personalidade que o seu desenvolvimento lhe granjeou. Plasmou-se
‘sherlocks’ em um núcleo
este grupo de empolgantes sherlocks nucleo corajoso de farejadores
farej adores
tragedias, dos pesquisadores de curiosidades, dos decifradores
de crimes, de tragédias,
misterios. A Caravana ée o fulmen da ação
de mistérios. acao proficua
profícua deste jornal.
jornal. Veloz,
ativa, desconhecendo perigos, arrostando todos os sacrifícios
sacrificios com o pensa—
pensa-
fixo no imprevisto,
mento fixo impreVisto, ela está
esta em todo lugar; ée o olho vivo
Vivo da nossa
reportagem”. (Crítica,
reportagem. (Critica, 21
21 novembro de 1929.
1929. Quinta Seção,
Secao, p. 8)
A imagem dá
da ao leitor a proximidade necessária
necessaria para visualizar
Visualizar a veracidade da
trama. A imagem traz o ao
“ao vivo
Vivo” para a notícia,
noticia, reconstituindo com perfeicao
perfeição o0 crime
barbaro ou a expressão
bárbaro expressao horripilante de um monstro. Mais do que auscultar
“auscultar a cidade,
recolhendo—lhe as menores vibrações,
recolhendo-lhe Vibracoes”, as imagens que acompanham invariavelmente
sensacoes sejam
os textos é que fazem com que outras sensações sej am contempladas pela descrição
descricao
noticia. Ao lado da imaginação
da notícia. imaginacao criadora, colocada em evidência
evidéncia com a descrição
descricao
da cena, assiste-se àa reconstrução
reconstrucao da tragédia ao visualizar
Visualizar a imagem. A imagem induz
àa sensação
sensacao do olhar.
Crz'tica investe, pois, neste tipo de estratégia
Crítica estrate’gia editorial, multiplicando os persona—
persona-
gens que passam a fazer parte da Caravana.
“Caravana”. Além do repórter
reporter Carlos Leite e do
ilustrador Roberto Rodrigues, esta ée composta também de Fernando Costa, Eratostenes
Frazao, Carlos Cavalcanti, Carlos Pimentel, Floriano Rosa Faria, além
Frazão, ale’m de outros mem-
mem—
“secretos”. Também
bros secretos. “Também as nossas senhoritas repórteres
reporteres tém gran—
têm colaborado com gran-
E continua:
“Obtcndo resposta
Obtendo rcsposta negativa, isso não
nao a impediu, contudo, de dc ir até a porta
gabinctc da chefia
do gabinete chcfia dedc redação
redacao cuja porta empurrou,
cmpurrou, examinando
cxaminando o 0 interior
aposcnto inteiramente
do aposento intciramcntc vazio ec propicio,
propício, pois, ao seu
scu plano sanguinário.
sanguinario.
Ato contínuo
continuo dirigiu-se
dirigiu-sc ao nosso companheiro
companhciro Roberto e, c, sem
scm alteração
altcracao ne-
nc—
fisionomia, dissc-lhc dcscj ar falar—lhc”. (Idem,
nhuma da voz, gesto ou fisionomia, disse-lhe desejar falar-lhe. (Idem, ibidem)
A descrição
dcscricao coloca o leitor
lcitor na redação
rcdacao de
dc Crítica.
Critiea. Roberto, que
quc se
sc encontrava
cncontrava
scntado, levantou-se
sentado, lcvantou-sc àa aproximação
aproximacao da mulher
mulhcr ec cortesmente
“cortcsmcntc indicou-lhe
indicou-lhc uma cadei-
cadci-
lado”, dispondo-se
ra ao lado, dispondo-sc a ouvi-la.
ouVi—la. A seguir
scguir informam quequc a mulher
mulhcr prcferiu cncami-
preferiu encami-
nhar—sc ao gabinete
nhar-se gabinctc ao lado, por tratar-sc dc um lugar mais reservado,
tratar-se de rcscrvado, tcndo cm vista
tendo em Vista
o0 aspecto particular do assunto que
quc iria tratar. Criando um efeito
cfcito suspensivo, o tcxto
texto
apcla a todos os sentidos.
apela scntidos.
“Minutos após,
Minutos apos, do gabinete
gabinctc da chefia
chcfia da redação,
redacao, para onde
ondc os dois sesc
haViam retirado,
haviam rctirado, partia uma detonação,
dctonacao, seguida
scguida de
dc um apelo
apclo de
dc socorro cla-
pclo nosso Roberto. Imediatamente,
mado pelo Imcdiatamcntc, ao estampido,
cstampido, ao grito e6 ao
a0 baque
baquc
quc se
do corpo, os que sc achavam na sala da redação
redacao lançaram-se
lancaram-sc ao local de
dc onde
ondc
Vicra a denotação,
viera dcnotacao, indo encontrar
cncontrar a criminosa, em
cm cinismo sorridente,
sorridcntc, de
dc arma
fumcgando àa mão
fumegando mao e,
c, ao solo, estorcendo-se
cstorccndo—sc com o ventre
ventrc pcrfurado,
perfurado, Roberto,
Vitima da emboscada
vítima cmboscada e da vilania
Vilania da amante
amantc de
dc todos os flibusteiros
flibustciros da im-
prcnsa dcssa terra.
prensa dessa tcrra”. (Idem,
(Idem, ibidem)
lembranea
Farrapos de lembrança
“Foi o fim
Foi fim de meu pai, que morria dois meses depois. A mesma bala que
Mario Rodrigues. Mas o
cravou na espinha de Roberto, ah, matou o Velho Mário
que preciso dizer, aqui, ée que eu me sentia mais ferido do que os outros.
outros”.
1977:339)
(Rodrigues, 1977:339)
A memória
memoria de Nelson Rodrigues ao recordar o fato coloca em cena um outro texto
nao figuram
feito de detalhes que não figuram na narrativa construída
construida no calor dos acontecimen-
aconteeimen-
tos. Entretanto, as particularizaeoes sensaeoes se repetem nos dois textos. Na
particularizações das sensações
memoria das sensações,
memória sensaeoes, o grito que envolve a cena
eena forja o clímax
climax da narrativa.
A crônica
cronica de Nelson Rodrigues,
Rodri ues Grito,
“Grito”, relembra com exatidão
9
exatidao o som que
ue sela o
fim tragico
fim lider da Caravana
trágico do líder “Caravana de Crítica:
Critica”:
“De vez em
De ern quando, antes de dormir, começo
corneoo a me lembrar. Vinte e seis de
1929.
dezembro de 1929. E as coisas tomarn
tomam uma memoria
nitidez desesperadora. A memória
intermediaria entre mim e o fato, entre mim e as pessoas. Eu
deixa de ser a intermediária
relaoao física,
estou na relação fisica, direta, com Roberto, os outros, os móveis.
moveis”. (Idem: 338)
Na sua memória
memoria afetiva de personagern
personagem que presenciou a cena, sobressaem tam—
tam-
bem detalhes que certamente
bém certarnente passaram despercebidos
desperoebidos aos leitores de outrora. A hora
do crime, o0 inspetor presente na cena, as ações
aooes realizadas por Roberto minutos antes
irrornper a redação.
de Silvia Thibau irromper redaeao.
“A voz pede (e há
A ha um vago sorriso): —
O senhor podia me dar um mo-
mo—
atencao? Roberto está
mento de atenção? esta do outro lado da mesa, sentado. Ergue-se:
— nao. Enquanto ele faz a volta passando por mim e por Sebastião,
Pois não. Sebastiao, os
passos vão
Vao na frente. Entram pela porta de vaivém.
vaiVem. Roberto entra em segui-
segui—
da. Ele tinha 23 anos.
anos”. (Idem,
(Idem, ibidem)
Na descrição
descricao noticiosa interessa pontuar a gentileza da vítima
Vitima (o gentleman
“gentleman”
carater, detalhes como a informação
Roberto), o seu caráter, informacao que passaram a uma sala reserva-
solicitacao da criminosa, tornando-o,
da por solicitação tornando—o, a partir desta composição
composicao textual, perso-
nagem reconhecido pelo publico.
público. Na descrição
descricao memorável
memoravel do escritor sobressai a
emoção.
emocao.
A memória
memoria dos jornalistas constrói
constroi um
urn mundo particular da profissao
profissão e particula-
funeao específica
riza a função especifica do ato de lembrar que vale pela sua significação
significaoao futura e não
nao
pelo lugar que ocupa no momento da lembrança.
lembranea. A memória
memoria de Barreto Leite Pinto na
de’cada de 1920
década 1920 só
so tem importância
importancia pela história
historia que trilhou como
corno jornalista. E
É desse
lugar que ele produz um
urn depoimento validado para a história.
historia.
Barreto Leite Filho inicia sua carreira como jornalista, com
corn apenas 16
16 anos, em
1923, no jornal A Notz'cia,
1923, “Assisténcia Pública,
Notícia, como setorista da Assistência Pfiblica”, como era chama-
chama—
entao o pronto-socorro
do então pronto—socorro do Hospital Souza Aguiar. Nas suas memórias
memorias relembra
final dos anos 1920,
que, no final 1920, quando ja
já se estruturam os primeiros conglomerados de
imprensa no Rio de Janeiro, os jornais são
sao ainda extremamente dependentes dos sub-
sidios oficiais
sídios oficiais do governo federal.
As peripe’eias
peripécias realizadas por Assis Chateaubriand para conseguir a soma pedida
por Toledo Lopes para comprar o jornal tambe’m sao descritas em outras memórias
também são memorias de
e’poca. Alguns afirmam
época. afirmam que parte do dinheiro fora o resultado do pagarnento
pagamento recebido
pelo trabalho realizado para o poderoso empresário
empresario norte-americano Percival Farquhar.
oonseguiu o dinheiro das mãos
Outros que conseguiu maos do agiota mais célebre
celebre da cidade, o conde
Modesto Leal.
“3 Comentava-se
16
Comentava—se na cidade que Renato Toledo Lopes era testa-de-ferro
testa—de—ferro de Pandiá
Pandia Calógeras,
Calégeras, Arrojado Lis-
Lis—
boa e Píres
Pires do Rio, os verdadeiros donos de O
0 Jornal.
Jornal. Como em 1920 nãonao precisavam mais do empreendi-
empreendi—
mento, fundado para defesa de seus interesses em torno da questão
questao siderúrgica,
siderurgica, venderam-no a Renato
Toledo Lopes que, no ano seguinte, o vendeu a Assis Chateaubriand.
76 Vestígios memoráveis
aproxima—se das cercanias do
Desde que chega ao Rio de Janeiro, Chateaubriand aproxima-se
poder. É
E convidado
conVidado por Nilo Peçanha,
Pecanha, então
entao chanceler, para ser consultor do Ministe’rio
Ministério
do Exterior e por Alexandre Mackenzie para advogado da Light and Power. E essas
relacoes farão
relações farao dos veículos
veiculos de comunicação,
comunicacao, criados na esteira de O
0 Jamal
Jornal e formando
Viria a ser os Didrios
o que viria Diários Associados, um verdadeiro Estado dentro do Estado.
17 O Jornal
17
Jorna/ mudaria de posição
posigao logo depois da instalação
instalagao do Governo Provisório
Provisério de Getúlio
Getulio Vargas.
Vargas. Apoia a
Revolugao Constitucionalista de São
Revolução Séo Paulo, em 1932,
1932, o que custou a Chateaubriand o confisco da sede do
jornal e de seu maquinário
maquinério e o exílio
exilio de Chateaubriand (na sede do jornal passa a ser impresso o periódico
periédico
governista A Nação).
Nagao). Chateaubriand sóso volta em 1933,
1933, quando consegue reaver seu jornal passando a dire-
ção
gao geral do órgão
Orgao ao seu sogro Zózimo
Zézimo Barroso do Amaral.
Amaral. Apés
Após o golpe de 10 de novembro de 1937,
1937, que
instaura o Estado Novo, O Jornal
Jorna/ passa a sofrer rigoroso controle do governo.
governo. Este momento e os 03 outros
subsequentes, até
ate o
0 fechamento do jornal,
jornal, em abril de 1974, em consequência
consequéncia das péssimas condições
condigoes
financeiras em que se encontra,
encontra, serão
serao retomados nos próximos
préximos capítulos.
capitulos.
78 Vestígios memoráveis
Passado mítico
mitico
vestigios memoráveis
Os vestígios rnernoraveis dos jornalistas que se iniciaram
inioiaram na profissao
profissão no periodo
período
imediatamente anterior ao Estado Novo compõem
compoem não nao só
so um
urn perfil
perfil particular daquele
Viria a ser um
que viria urn dos mais importantes magnatas da imprensa no século seculo XX, como
tarnbern fundarn uma espécie
também fundam espeeie de passado mítico
mitico da profissao.
profissão. Instauram um urn momento
ingressarn no mundo do jornalismo, caracterizando os jornalis—
fundador para os que ingressam jornalis-
tas como detentores da missão
missao para a qual não
nao ée possivel sacrifieios, ao mesmo
possível medir sacrifícios,
tempo em que se destacam pelo combate. Nessa“Nessa época,
e’poca, jornalista e conspirador eram
erarn
coisa”, afirma
na verdade a mesma coisa, afirrna Barreto Leite Pinto (Memória
(Memo’ria da ABI). Nas suas
Vao construindo, a posteriori,
falas vão posteriori, a imagem distintiva da profissao.
profissão. Uma distinção
distineao
conseguida pela função
funeao primordial atribuída
atribuida pelos jornalistas como
eomo grupo no seu dis-
memoravel.
curso memorável.
Particularizando uma identidade especial — a de ser detentor da informação
informaoao e
definidor das manobras politieas
definidor epooa —
políticas do Brasil da época os jornalistas destacam,
destaeam, como
memoria do grupo, sobretudo, a ideia de sacrifício
memória sacrifieio e missão.
missao.
“Quanto ao horário
Quanto horario de trabalho diário,
diario, posso dizer que só
so havia
haVia um
urn dia do
ern que os prelos não
ano em nao gemiam; era na teroa
terça feira de carnaval. Nem Natal
ou Semana Santa. No jornal se trabalhava todo dia, domingo. Mas ninguémninguern
tinha ponto, todo mundo,
rnundo, em geral, respeitava seu horário,
horario, levava sua maqui-
máqui-
fieava dentro da redação.
na e ficava redaeao. Havia
HaVia uma boa convivência
conViVéncia nas redações
redaooes com
pequenas divergências
divergencias de alguns perversos que criavam certas desavenças.
desavenoas.
Mas tudo isso era compensado pela maioria.
maioria”. (Depoimento de Perdigão,
Perdigao, José
Jose’
Maria dos Reis. In: Memo’ria
Memória da AB!)
ABI)
A mítica
mitica do amor verdadeiro àa profissao vooaoao, o que impõem
profissão e da vocação, impoem necessaria-
sacrifieios, atravessam primeiramente a sociedade, para depois se constituírem
mente sacrifícios, constituirern
corno memória
como memoria do grupo. Só Sc') porque existe
eXiste um
urn certo enlevo por aqueles que, mais do
Esse tipo de fala que arquiteta o passado como sendo em muito superior ao tempo
glorias e virtudes,
presente, instaurando um momento de glórias Virtudes, em contraposição
contraposicao a um presente
onde todos os valores existentes anteriormente se perderam, repete-se
repete—se com frequência
frequencia na
mitica do mundo do jomalismo.
mítica jornalismo. Assim, o jomalismo
jornalismo feito no passado ée sempre construído
construido
haVia a vibração,
como sendo de outra ordem: antes havia Vibracao, o amor verdadeiro àa profissao,
profissão, o que
nao houvesse pressa em deixar o
fazia com que não 0 local de trabalho e ninguém
ninguem pensasse em
horario. O jomalista,
horário. mitificacao construída
jornalista, na mitificação construida como discurso memorável,
memoravel, queria ver o 0
produto de seu trabalho pronto, não
nao se importando com a hora de deixar o jomal.
jornal. Agora,
memoravel do jomalista
no discurso memorável jornalista que relembra o passado, tudo ée diferente.
individuos, ao se perceberem (ou ao se imaginarem, como diz Benedict
Os indivíduos,
Anderson) como membros de um grupo, produzem diversos tipos de representação
representacao
historia e natureza neste grupo. E uma das marcas mais recorren-
quanto a sua origem, história
tes no discurso dos jornalistas, ao lado da idealização
idealizacao da profissao
profissão como lugar de
sacrificios, ée’ a construção
sacrifícios, construcao de um dado ideal de modernidade. A cada décadade’cada uma nova
modernidade ée construída.
construida. Assim, também
tambe'm nos anos 1920,
1920, um novo movimento no
sentido de mudar e atualizar a profissao
profissão ée forjado
forj ado na memória
memoria do grupo. Ao conside-
modernizacao como espécie
rar a modernização espe’cie de palavra de ordem, utilizam-na
utilizam—na tambem
também como
signo da identidade do grupo, ainda que essa fosse sempre de responsabilidade de
profissionais claramente identificados.
profissionais identificados. São
$510 os
03 grandes nomes do jornalismo que, na
memoria do grupo, promovem as revoluções
memória revolucoes periodicas
periódicas da imprensa. E não
nao seria dife-
dife—
relacao àa memória
rente em relação memoria forjada
forj ada para a década de 1920.
1920.
80 Vestígios memoráveis
maximo. Ele lia toda matéria
editoriais, em artigos dele ou em cartas no máximo. mate’ria im-
portante do jornal e se houvesse alguma que ele não
nao aprovasse como objetivi-
obj etiVi—
dade, chamava o jornalista responsável
responsavel e passava uma reclamação.
reelamaeao”. (Depoi-
mento de Pinto, Barreto Leite. In: Memo’ria
Memória da AB].
ABI. Grifos nossos)
82 Vestígios memoráveis
imprcnsa possuia
a imprensa importancia singular: mostrar para o publico
possuía uma importância urn mundo em
público um cm
constante
constantc mutação.
rnutacao.
A memória
memoria do grupo constrói-se
constroi—sc como memória
memoria coletiva na medida em que ela é
partilhada em uma vivência
ViVéncia em comum. E, como tal, modula mitos coletivos a partir
dc histórias
de historias particularcs Vida. Falando de
particulares de vida. dc um
urn passado comum, fornecem
forneccm a ilusão
ilusao de
dc
torna-lo
torná-lo presente. Nesse sentido, a memória
memoria do grupo é dividida
diVidida por outros que
Vivcram experiéncias scmelhantes, tornando—sc evocacao, lembrança
viveram experiências semelhantes, tornando-se evocação, lembranca de
dc aconteci-
aconteci—
ViVidos como se
mentos vividos sc fossem coletivos,
colctivos, testcrnunhos, interpretacao
testemunhos, escolhas, interpretação
dessc passado, mas também um saber particular. Arnemoria
instrumentalizada desse A memória indivi-
dc cada um
dual de urn dos jornalistas que lembrou aqueles longínquos
longinquos 1920
1920 forja a memó-
memo—
ria dos jornalistas que conservam,
conscrvam, pela lembrança,
lembranca, um passado em comum
comum”. 18
.
lembranca se reconstrói
Para Halbwachs (1990), a lembrança reconstroi sempre a partir do presente ec é6':
o grupo ao qual pertencc individuo que fornece a ele meios de
pertence o indivíduo dc reconstruir o passado
(as palavras que exprimem
exprimcm a lembrança,
lembranca, as convenções,
convcncocs, os espaços,
espacos, as durações
duracoes que
dao ao passado sua significação).
dão significacao). A seletividade da memória
memoria nada mais é do que a
capacidadc de
capacidade dc ordenar e dar sentido ao passado, em
ern função
funcao das representações,
representacoes, visões
Visoes
dc mundo, símbolos
de simbolos ou noções
nocoes que pcrmitem
permitem aos grupos sociais pcnsar
pensar o prescnte.
presente.
Uma história
historia memorável
memoravel
86 no Rio de Janeiro, há
Só ha o
0 registro do aparecimento de mais de 800 periodicos
periódicos
1920. Destes apenas uma dezena atravessa a década.
naqueles anos 1920. de’cada. Os mais impor-
impor—
3510 de um lado O Paiz, o Jamal
tantes são cla Commercio,
Jornal do Cammercia, a Gazeta de Naticias,
Notícias, A Nati-
Notí-
Carreia da
cia. De outro: o Correio a’a Martha,
Manhã, o0 Jamal
Jornal do Brasil. Aparecem ainda dois outros
periodicos que terão
periódicos terao importância
importancia pela história
historia futura: O
0 Globo,
Glaba, fundado em 1925,
1925, e O
0
Jamal, Viria a ser líder
Jornal, que viria lider da cadeia dos Diários
Diarios Associados, de Assis Chateaubriand.
84 Vestígios memoráveis
deVia ser muito a favor; agora, o Jornal do Brasil era independente, ele
mas devia
ViVia dos seus anúncios.
vivia anl’incios”. (Idem,
(Idem, ibidem)
aperfeiooamento e a difusão
O aperfeiçoamento difusao de novas tecnologias — incorporaeao de
entre elas a incorporação
novos processos de impressão
impressao —, estruturaeao empresarial que inclui novos
, ao lado de estruturação
planos de assinaturas e vendas avulsas, são
sao determinantes para o desenvolvimento da
imprensa da cidade em novos moldes. A aquisição
aquisieao de novas rotativas Man, de fabrica-
oao americana, possibilita o aparecimento
ção apareeimento de suplementos a cores, como o Suplemen-
t0 Ilustrado de A Noite, lançado
to laneado em 1929.
1929.
A chegada de novas agências
agéncias internacionais de notícias
noticias — Vao se juntar a Havas,
que vão
seculo XIX —
que aqui estava desde o século contribui para o novo formato dos jornais,
jornais, que
passam a destacar notícias
notieias provenientes da Europa e agora tambe’m Uni—
também dos Estados Uni-
dos. A United Press, que desde 1918
1918 presta serviços
servieos ao Estado de S.S. Paulo, passa a
noticiario tambem
fornecer noticiário também ao Jamal
Jornal do Brasil, a partir de 1922
1922 e a partir do final
final da
0 Jamal.
década ao O Jornal. No mesmo periodo
período aaAssociated escritorio no
Associated Press inaugura seu escritório
Rio de Janeiro, passando a atender inicialmente apenas ao Correio da Martha.
Manhã.
“0 periodo
O ocorréncia do fato e sua transmissao
período entre a ocorrência transmissão para o Brasil era o0
seguinte: Nova Iorque era o0 centro irradiador do noticiário
noticiario para a América Latina.
noticiario era mandado pelo telégrafo
O noticiário tele’grafo para Buenos Aires, onde estava localizada
a United Press para a América Latina. De lá, la, então
entao o noticiário
noticiario era transmitido para
paises, entre eles o Brasil. O
outros países, 0 noticiário
noticiario vinha
Vinha tambem
também em telegrama para o
atrave’s da Western, a Pal American e da Italcabo. Os telegramas vinham
Brasil, através Vinham em
inglés”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria
inglês. Memória da ABI)
Nesse cenário
cenario de mutações
mutaeoes econômicas,
economicas, politicas
políticas e tecnologicas, eon-
tecnológicas, a imprensa con-
tinua dependente dos favores e favorecimentos oficiais
oficiais para garantir a sua sobrevi-
sobreVi—
Vencia. A independência
vência. independencia dos jornais existe
eXiste apenas como discurso memorável
memoravel construído
construido
pelos próprios
proprios jornalistas.
“Aquino
Aqui ale’m de O
no Rio, além 0 Paiz, outros jornais viviam
Viviam de subsídio
subsidio do governo,
entre eles, a Gazeta de Noticias
Notícias e ANoticia. nao me lembro de qualquer outro
A Notícia. Eu não
jomal.
jornal. Naquela época
epoca surgiam alguns jornais cam—
jornais que desapareciam durante as cam-
panhas presidenciais.
presidenciais”. (Depoimento de Leite Filho, Barreto. In: Memo’ria
Memória da AB!)
ABI)
Num cenário
cenario de transformaeoes
transformações urbanas marcantes — o crescimento demográfico
demografico
foi da ordem de 28% e háha um aumento de 37% no número
nfimero de pre’dios domicilios da
prédios e domicílios
19782551) —
cidade (Lobo, 1978:551) poucos jornais conseguem tiragens superiores a 10 10 mil
exemplares. Esse era o0 caso do Correio da Marthe?
Manhã e de A Noite. Dessa forma, trabalhar
nesses jornais de sucesso é uma forma de reconhecimento para os proprios
próprios jornalistas.
diseurso memorável
Segundo o discurso memoravel dos jornalistas, esses são
350 os
OS dois jornais mais po—
po-
entao.
pulares do Rio de Janeiro de então.
“O Correio da Manhã
O Manha devia
deVia ter, variava muito, segundo a época,
e’poea, eu não
nao
poderia jurar, mas eu tenho uma reminiscência
reminiscencia qualquer, que naquele tempo
o0 Correio da Manhã
Manha tinha uma tiragem de 40 mil exemplares, o que era, para
o0 Rio de Janeiro, uma tiragem muito grande. A Noite devia
deVia ter uma tiragem
maior, porque era um
urn jornal popular e explorava muito essa coisa
ooisa da reporta-
reporta—
gem de policia. urn grande jornal, um
polícia. Era um urn grande vespertino, tinha esplêndi-
espléndi—
dos redatores tambem
também e o Irineu Marinho era umurn grande secretário
secretario de jornal,
quer dizer, a cozinha do jornal ele fazia admiravelmente.
admiravelmente”. (Depoimento de
Leite Filho, Barreto. In: Memo’ria
Memória da ABI)
19 Em função
19
fungao de desentendimentos com a direção
diregao da Gazeta de Notícias,
Noticias, onde era secretário-geral,
secretério—geral, Irineu
Marinho abandona o cargo e junto com mais 13 companheiros, funda,
funda, em 18 de junho de 1911,
1911, o jornal
A Noite (1911-1956).
(1911—1956). A Noite define-se
define—3e desde o início
inicio como jornal de oposição,
oposigao, sendo crítico
critico severo do
86 Vestígios memoráveis
“Ate’ 30, jornal do governo não
Até nao era lido. Por exemplo, O Paiz era uma
obra—prima de jornal erudito. Nao
obra-prima Não era muito jornalistico,
jornalístico, era mais um jornal
jornal
semiliterario; publicava longos artigos, coisas muito le-
assim, vamos dizer, semiliterário;
ves, era muito bem escrito. Hoje em dia seria um urn jornal inconcebivelmente
atrasado, mas, naquela época publicava artigos notáveis,
notaveis, nacionais e estran-
ningue’m lia. Tinha trés
geiros, mas ninguém circulacao”. (Depoi-
três mil exemplares de circulação.
mento de Leite Pinto, Barreto. In: Memo’ria
Memória da AB!)
ABI)
Na divisão
divisao que constrói
constroi ao caracterizar as publicacoes circularn na cidade,
publicações que circulam
o jornalista apela a valores do presente para, mais uma vez, qualificar
qualificar os jornais.
literario de O
O estilo literário 0 Paiz, segundo sua visão,
Visao, é um dos fatores que inviabiliza o
seu sucesso, ao lado do ja já propalado alinhamento com o governo. Entretanto,
somente a partir dos anos 19501950 ée’ que o jornalismo diário
diario abandona — e mesmo
assim lentamente — digressoes literárias.
as digressões literarias. Portanto, a memória
memoria do jornalista re-
constroi o passado, a partir de um presente que materializa o distanciamento do
constrói
jornalisrno
jornalismo da literatura. A autonomização
autonomizacao do jornalismo em ern relação
relacao àa literatura
seria fundamental para a construção
construcao de seu profissionalismo
profissionalismo e6 para o seu reconhe-
corno lugar de fala específico,
cimento como especifico, mas isso só so ocorre muitas
Inuitas décadas
de’cadas depois.
memorias de época
Se as memórias e’poca servem
servern àa reflexão
reflexao sobre a construção
construcao de uma dada iden-
tidade jornalistica, sao fundamentais tambe’m
jornalística, são também para particularizar detalhes dessa im-
prensa. Assim, também
tambe’m será
sera a partir dos registros dos repórteres
reporteres e redatores da década
de’cada
1920 que procuraremos caracterizar algumas das publicacoes
de 1920 publicações da cidade. Mas como
memoria é feita do jogo entre lembrar e esquecer, certamente a construção
a memória construcao que
esta baseada em nuanças
faremos está nuancas desse jogo, que coloca em ern cena outras motivações
motivacoes
nao apenas o ato de lembrar.
que não
Ao produzir um
urn discurso destacando alguns periodicos
periódicos em detrimento de outros,
os jornalistas arquitetam, a partir de sua fala, uma dada história
historia da imprensa. Essa
historia sofre as interferências
história interferéncias da interpretação
interpretacao que construímos
construirnos a partir desses vesti-
vestí-
governo do marechal Hermes da Fonseca. Em 1918, 1918, quando da disputa eleitoral entre Epitácio
Epitacio Pessoa e Rui
Fazenda. Com a vitória
Barbosa, apoia, mais uma vez, o ex-ministro da Fazenda. vitéria de Epitácio,
Epitacio, o jornal continua na
oposição.
oposicao. Em 1921,
1921, apoia a candidatura de Nilo Peçanha,
Pecanha, na disputa com Artur Bernardes.
Bernardes. A vitória
vitéria de
Bernardes ocasiona uma série de problemas para o jornal, jornal, ja
já que o seu governo caracteriza-se
caracteriza—se por forte
repressão
repressao àsas oposições.
oposicées. Durante todo esse período,
periodo, que se estende até 1925,
1925, é
e comandado por Irineu Mari-Mari—
nho. Nesse ano,
ano, Marinho, doente, parte para a Europa,
Europa, e causiona a maioria de suas ações acoes em favor de
Geraldo Rocha,
Rocha, que realiza, em seguida,
seguida, uma assembleia de acionistas e elegendo nova diretoria.
diretoria. Com a
transferência
transferéncia de propriedade de Irineu Marinho para Geraldo Rocha,
Rocha, o jornal empreende amplas mudanças.
ojornal mudancas.
A primeira delas é na linha
Iinha política:
politica: de oposição
oposicao passa a apoiar a situação. Assim, o jornal seguiria apoiando
situacao. Assim,
as oligarquias dominantes atéate o 0 governo de Washington Luís.
Luis. Também no mesmo período periodo muda a feição
feicao
gráfica,
grafica, com a aquisição
aquisicao de novas máquinas
maquinas de impressão.
impressao. Em setembro de 1930, lança Ianca a revista Noite
Ilustrada,
//ustrada, toda impressa em rotogravura (DHBB, 4105-6).
0 Jamal,
O final da década de 1920,
Jornal, ao final 1920, possui 25 mil assinantes e vende 35 mil
exemplares nas bancas. Mas o periodico
periódico de maior prestigio
prestígio politico
político é o Correio da
Manhd,
Manhã, sobretudo pelo seu estilo combativo. O0 Jamal, Visao dos jornalistas,
Jornal, na visão jornalistas, é um
informaoao,
jornal de informação, enquanto o Correio é panfletario.
panfletário.
88 Vestígios memoráveis
Mas logo depois passei para O0 Imparcial. (Depoimento de Perdigão,
Perdigao, José
Jose
Maria da Silva. In: Memo’ria
Memória da AB].
ABI. Grifos nossos)
dia—a—dia da profissao,
O conhecimento anterior, aprendido no dia-a-dia profissão, ée muitas vezes
determinante para a mudança
mudanca de jornal. É
E o que acontece, por exemplo, com Manuel
Antonio Gonçalves,
Goncalves, que, quando desempregado pela venda do jornal onde trabalha,
vai para o vespertino de maior sucesso da cidade.
Se a posicao
posição de classe ée’ fundamental para galgar postos no mundo do jornalismo
1920, a condição
dos anos 1920, condicao de classe (Bourdieu, 1989a)
1989a) ée determinante para ingressar
profissao. As relações
na profissão. relacoes pessoais fazem a diferença
diferenca entre aqueles que desejam se
tornar jornalistas.
“Em 1928
Em 1928 precisava
preeisava compor
oompor meu salário
salario e ainda não
nao era redator chefe
ohefe da
tambem no O
United Press, fui trabalhar também 0 Jornal, levado pelo Austragesilo
Austragésilo de
Athayde (...) Eu passei a entrar lá
1a por volta das seis horas e trabalhava até
ate as
11, meia-noite,
11, meia—noite, quando
guando estava de plantão
plantao ia até
ate as duas horas. As mes—
Às vezes, mes-
mo sem estar de plantao ficar lá,
plantão eu era obrigado a ficar la, porque o Chateaubriand
chegava àsas 10
10 horas e gostava de conversar comigo. EntãoEntao fiquei
fiquei no jornal
jornal
ate’ ser nomeado redator chefe
até ehefe da United Press.
Press”. (Depoimento de Peixoto,
Armando Ferreira. In: Memo’ria
Memória da AB].
ABI. Grifos nossos)
“Eu entrava às
Eu as 7 horas da manha e saía
saia às
as 7 da noite. Nao
Não tinhamos
tínhamos hora
nenhuma, como tambem nao havia
também não haVia setores, todo sujeito
suj eito perteneia
pertencia a um setor, mas
mate’ria de prestigiar um noticiário
em matéria noticiario do jomal
jornal todos faziam as funções
funooes dos
outros”. (Depoimento de Magalhães,
outros. Magalhaes, Mário.
Mario. In: Memo’ria
Memória da daABI.
ABI. Grifos nossos)
A má
ma remuneração
remuneraoao ée apontada como fator determinante para que tivessem sempre
um outro emprego, normalmente pfiblico,
público, e que se torna accessível
aocessivel em função
funeao da
distineao que os jornais possibilitam. Enquanto um funcionário
distinção funcionario pdblico
público ganha em
media 600 mil-réis,
média mil-re’is, um jornalista recebe 200 mil-réis.
mil-reis. Há
Ha ainda um número
nfimero conside-
conside—
ravel de colaboradores que nada recebem. Apenas a distinção
rável distinoao de ser jornalista...
“A propósito
A proposito da posição
posieao do jornalista, ele sempre teve status, não
nao sei se
ooncomitantemente ele arranjava
porque concomitantemente arranj ava uma outra função,
funoao. mas tambe’m
também os
jornalistas de maior destaque dentro do jornal, aqueles que de uma maneira
ou de outra, poderiam ter uma influência
influencia dentro da linha do jornal”.
jornal. (Depoi-
mento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria
Memória da AB].
ABI. Grifos nossos)
Ser jornalista é,
e’, portanto, uma espécie
especie de lugar intermediário
intermediario para conseguir a
distinoao necessária
distinção necessaria para ocupar um cargo na administração
administraeao pfibliea.
pública. Ter um emprego
pfiblieo ée a aspiração
público aspiraeao primeira. Ocupar
Ooupar um lugar na politica, aspiraoao máxima.
política, a aspiração maxima.
90 Vestígios memoráveis
Leitao ec Jacy Monteiro, eram taquigrafos,
Leitão apanhavarn
taquígrafos, de maneira que eles apanhavam
camara, em primeira mão,
dentro da câmara, mao, tudo e depois mandavam
Inandavarn escrito. Alguns
levar”. (Depoimento de Perdigão,
iam levar. Perdigao, José Maria da Silva. In: Memo’ria
Memória da
AB].
ABI. Grifos nossos)
Na maioria dos casos os jornalistas do governo eram contemplados com
Na
(6
corn
nomeaooes para cargos
nomeações oargos pfiblicos, repartiooes onde não
públicos, em repartições nao tinham obrigação
obrigaoao
aparecer”. (Depoimento de Lima, Paulo Motta. In: Memo’ria
de aparecer. Memória da AB].
ABI. Grifos
nossos)
edificios
Modernos e permanentes edifícios
A grande sensação
sensaoao do mundo do jornalismo no último
filtimo ano da década de 1920
1920 é6’ a
inauguraoao do moderno pre’dio
inauguração prédio do vespertino A Noite, na Praça
Praoa Mauá.
Maua.
arranha—oéu situado no início
O arranha-céu inicio da então
entao Avenida Central representa para os pro-
fissionais uma vitória.
fissionais Vitoria. Assim, o sucesso de A Noite envaidece todo o campo jornalistico
jornalístico
identifica com a modernidade expressa em concreto pelo jornal.
que se identifica
“A inauguração
A inauguraoao do novo e imponente edifício
edifioio de A Noite, a realizar—se
realizar-se
as 16
hoje às 16 horas e 30 minutos, não
nao somente é uma grande festa do jornalismo
jornalismo
brasileiro como também se reveste do caráter
carater de um notável
notavel acontecimento
aoontecirnento
Vida da cidade.
da vida oidade. ÉE que A Noite, além de representar a imprensa do pais,país,
Vitoria que a todos nós
uma luminosa vitória nos dá
da se tanto envaidece, constitui,
oonstitui, sem
dfiVida, um
dúvida, urn dos mais valiosos elementos do patrimonio inteleotual do Rio de
patrimônio intelectual
Janeiro”. (Crítica,
Janeiro. (Crz’tica, 7 setembro
seternbro de 1929,
1929, p. 1)
1)
Crz’tica anuncia
Assim Crítica anunoia a inauguração
inauguraoao do novo prédio. O sucesso do periodioo,
periódico,
edifioio-sede, é partilhado pelos outros jornais, que viam
materializado no edifício-sede, Viam no fato de
atiVidade —
desenvolverem a mesma atividade construir o mundo a partir das notícias
noticias —
uma
espéoie de entrelaçamento
espécie entrelaoamento de objetivos.
noticia aparece a idealização
Também na notícia idealizaoao dos grandes nomes da imprensa como
responsaveis diretos pelo sucesso da iniciativa.
responsáveis inioiativa. Dessa forma, o jornal torna—se
torna-se Vito—
vito-
orientaoao editorial que Irineu Marinho implementou.
rioso pela orientação
“Fundada, lá
Fundada, 121 se
so vão
Vao anos, por um
urn grupo de rapazes, tendo àa frente essa
figura por tantos e meritórios
figura meritorios titulos admiravel que foi Irineu Marinho,
títulos admirável
A Noite tornou—se, graoas as suas reportagens sensacionais
tornou-se, logo a aparecer, graças
comentarios, uma folha por excelência
e a agudez de seus comentários, exceléncia popular”. (Critica, 7
popular. (Crítica,
seternbro de 1929,
setembro 1929, p. 1)
1)
“A Noite possuía
A possuia uma circulação
eireulaeao muito grande. Era um
urn jornal feito em
saia exclusivamente com
moldes novos e apesar de ser vespertino saía corn noticiá-
notieia-
caracteristica obrigava os redatores, repórteres
rio do dia. Essa característica reporteres e os gráfi-
grafi—
atiVidade enorme. Acho que havendo circulação,
cos a desenvolverem uma atividade eirculaeao,
ha automaticamente
há automaticarnente publicidade”. (Depoirnento de Ferrone, Pascoal. In:
publicidade. (Depoimento
Memo'ria
Memória da AB!)
ABI)
No final
final da década
de’cada de 1920,
1920, sua tiragern
tiragem chega a mais de 50 mil exemplares e nem
saida de Irineu Marinho, em 1925,
a saída 1925, diminui de imediato
irnediato o sucesso
sueesso do mais popular
vespertino da cidade. As seções
seeoes mais apreciadas
apreeiadas pelo pfiblieo sao as de politica,
público são política, de
notioiario polieial.
esporte e o noticiário policial.
Nelson Rodrigues, em
ern suas memórias,
memorias, destaca
destaea o sucesso
sueesso editorial do jornal.
jornal.
“A Noite foi amada por todo um povo. Eu penso nas noites de minha
A
infaneia em Aldeia Campista. O jornalismo vinha,
infância Vinha, de porta em porta. Os che-
che—
familia ficavam,
fes de família ficavarn, de pij ama, no portao,
pijama, portão, na janela, esperando. E lá121 longe
o jornaleiro gritava. A
‘A Noite. ANoite!
A Noite!. ’. Eu me lembro de um sujeito, encos-
eneos—
lampiao, lendo àa luz de gás
tado num lampião, gas o
0 jornal do Irineu Marinho. Estou certo de
saisse em branco, sem uma linha impressa, todos comprariam
que se saísse comprariamANoite
A Noite da
mesma maneira e por amor.
amor”. (Rodrigues, 1977:179)
1977: 179)
Na crônica
cronica intitulada Memória,
“Memoria”, Nelson Rodrigues relembra hábitoshabitos cotidianos
do pfiblico relaeao aos periodicos:
público em relação periódicos: a espera àa tarde pelo grito do jornaleiro que
ehegada do vespertino em subúrbios
anuncia a chegada subfirbios distantes, como Aldeia Campista. Tam-
Tam—
praticas de leitura aparecem
bém as práticas apareeem na narrativa memorável
memoravel do dramaturgo: a leitura
no ambiente privado, com a indicação
indieaeao de que os chefes de família
familia esperam o jornal na
porta de casa ja espaeo pfiblieo.
já ao anoitecer, e a leitura no espaço Lia—se na rua, encostado
público. Lia-se
92 Vestígios memoráveis
aos postcs
postes para aproveitar a luz tênue
ténuc ec fraca do lampião
lampiao a gás.
gas. A profusao dc leitores
profusão de
indica tambérn urna multiplicidade
também uma multiplicidadc de
dc leituras.
lcituras.
Na primeira
primcira página,
pagina, invariavelmente,
invariavclrncntc, publicam as notícias
noticias policiais, algumas ve-
ve—
dc fotografias.
zes acompanhadas de fotografias.
“Ontcrn, as últimas
Ontem, filtimas horas da tarde, estive
cstivc em casa de
dc Manoelina
Manoclina e6 com
corn ela
cla
palcstrci, durantc largo espaço
palestrei, durante cspaco de
dc tempo. A Santa
‘Santa’ estava de
dc pé, gozando de
dc
perfeita saúde.
safidc. Hoje,
Hojc, muito cedo,
ccdo, mandou ela
cla um portador chamar-me
chamar—mc (...) En-
tramos no quarto de
dc Manoelina.
Manoclina. Ela estava
cstava prostrada: Que tern?
tem? pcrguntamo—
perguntamo-
lhcs. A moça,
lhes. moca, com temperatura muito elevada, segurou-me
scgurou—rnc pcla mao e disse:
pela mão
aVisada... E não
Fui avisada... nao disse
dissc mais nada.
nada”. (A Noite. 11 maio de
dc 1931,
1931, p. 1)
1)
A rememoração
rernernoracao da fundação
fundacao de O
0 Globo, em 29 de julho de 1925,
1925, revelada pelas
estrate’gias memoráveis
estratégias memoraveis dos jornalistas, o constrói
constroi como
corno iniciativa
iniciatiVa do gênio
génio criador de
memorias proj
seu fundador: Irineu Marinho. Por outro lado, as memórias etam uma história
projetam historia de su-
su—
so se efetivaria muitas décadas
cesso para o novo matutino que, a rigor, só de’cadas depois.
A mesma história
historia da fundação
fundacao do jornal, a partir de um ato ilícito
ilicito — apropriacao
a apropriação
acoes de A Noite —
das ações aparece no depoimento de outros jornalistas. Alguns detalhes
94 Vestígios memoráveis
sao repetidos,
são rcpetidos, outros são
sao acrescentados.
acresccntados. A enfermidade
cnfcrrnidadc ec a viagem
Viagcm para tratarncnto
tratamento dedc
saudc são
saúde sao detalhes
detalhcs comuns emern muitas narrativas. Mas a forma como se dá
(121 a passagcm
passagem
acionario do jornal para o novo proprietário
do controle acionário proprietario aparece
aparecc de
dc forma diferencia-
difcrcncia-
multiplas lembranças.
da nas múltiplas lcmbrancas.
“Nao conheço
Não conhcco todos os detalhes. Mas sei sci que o Irineu
Irincu Marinho contraiu
cnfcrrnidadc e tcve
uma enfermidade dc viajar
teve de Viaj ar para a Europa para seguir
scguir um
urn tratarnento,
tratamento,
afastando—sc provisoriamente da direção
afastando-se direcao do jornal. No meio
mcio da viagem
Viagcm — o que
interrornper o tratamento
o obrigou, inclusive a interromper tratamcnto — clc foi avisado
ele aVisado que
quc o Geraldo
acionario da Noitc.
Rocha tinha assumido o controle acionário Noite. Foi assim que sesc deu
dcu o seu
scu
afastarncnto”. (Depoimento
afastamento. (Depoimcnto de dc Ferrone,
Ferronc, Pascoal. In: Memo’ria
Memória da ABI)
Dependcndo do lugar de
Dependendo dc onde
ondc fala, no futuro, os mesmos fatos aparecem
aparccem com
corn
nuancas distintivas. O que em
nuanças cm alguns depoimentos
depoirnentos figura
figura como traicao,
traição, em outros é
construido como venda do jornal por Irineu Marinho a Geraldo Rocha.
construído
“Eu trabalhei na
Eu naANoite 1924. Foi quando o Irineu Marinho saiu para
A Noite até 1924.
616 vendeu
fundar O Globo. E ele vendcu A Noitc
Noite para o Geraldo Rocha e6 eu
cu continuei
continuci
na A Noitc, corno diretor substituto, antes eu
Noite, como cu era redator.
rcdator”. (Depoimento de
dc
Magalhaes, Mário.
Magalhães, Mario. In: Memo’ria
Memória da ABI)
mccanismos de
Os mecanismos dc transmissao historia particular constroem
transmissão dessa história constroern uma tradicao
tradição
quc identifica
que identifica a fundação
fundacao de dc O
0 Globo como parte de uma traição,
traicao, cujo desfecho
dcsfccho foi
modificado graças
modificado gracas àa ação
acao empreendedora
emprecndedora de
dc Irineu Marinho.
rnitica da reconstrução,
Essa mítica reconstrucao, a partir de uma pcrda, dc ter seu funda-
perda, aliada ao fato de funda—
cxatos 21
dor morrido exatos 21 dias depois
dcpois do aparecimento
aparccimcnto do novo periodico, construin—
periódico, vai construin-
memoria do grupo uma identidade particular para o jornal, que
do na memória quc passa a ser
scr
identificado como
identificado corno uma espécie
cspécie de
dc lugar indestrutível.
indestrutivcl. Nessc scntido, nada mais
Nesse sentido, Inais evi-
evi—
dentc do que seu sucesso como empreendimento
dente emprecndimcnto empresarial.
crnpresarial.
construido pclo
O sucesso, no futuro, é construído memoravcl como sendo
pelo ato memorável scndo previsivcl
previsível no
passado. Por outro lado, nos depoimentos
depoirnentos aparece
aparccc como
corno elo comum o fato de
dc um
jornalista — acepcao plena —,
na acepção aprcndizado que
, a partir do aprendizado quc se
sc efetivara
cfctivara na pratica,
prática, tcr
ter
unico responsável
sido o único responsavcl pcla fundacao do novo periodico.
pela fundação periódico.
A transmissão
transmissao realizada
rcalizada pclos
pelos jornalistas que
quc falam do projeto rcproduz
reproduz nao
não a
historia particular do jornal, mas
história Inas a mítica
mitica do sucesso. Com
Corn a adaptação
adaptacao do passado ao
prescnte lcrnbranca ec reiteração,
presente como lembrança rcitcracao, vão
Vao forjando uma identidade particular, ao
mesmo tempo em quequc pela transmissão
transmissao repetem
rcpetcm várias
Varias vezes
vczcs para diversos indivíduos
individuos
rcproduzida, produz uma identidade particular. Repro-
a mesma narrativa que, assim reproduzida,
ducao ec invenção,
dução invencao, fidelidade
fidelidadc ou traicao, lcmbranca ec esquecimento
traição, lembrança esquccimcnto fazem part6
parte da
transmissao
transmissão como trabalho dedc memória.
memoria.
“O Globo ée’ um
O umjornal diario europeu, desapai-
jornal moderno, com o feitio de um diário
rnuito noticioso, com
xonado, muito corn uma infinidade
infinidade de seções
secoes informativas e parece
forrnar correntes vibráteis
pouco propenso a formar Vibrateis de opinião,
opiniao, a não
nao ser através
atraVés do exato
noticiario”. (Diário
e minucioso noticiário. (Didrio do Povo, Apud O 0 Globo, 3131 julho de 1925)
1925)
Na definição
definicao dos jornalistas ser umurn jornal moderno ée destacar as notícias
noticias informa-
opiniao a plano secundário.
tivas, relegando a opinião secundario. Valoriza-se
Valoriza—se o novo estilo jornalistico
jornalístico no
noticiario exato
qual o noticiário “exato e minucioso
minucioso” tem papel central. Observa-se, portanto, a con-
tinuacao da construção
tinuação construcao gradativa do ideal de objetividade
obj etiVidade no jornalismo carioca, que
comeca antes mesmo da década
começa de’cada de 1910.
1910. Com umurn longo trabalho para definir
definir o papel
do jornalista e do jornalismo — acambarcar múltiplos
ser isento, imparcial e açambarcar mfiltiplos aspectos
de uma realidade a quem ée outorgado o direito de figurar
figurar —,, os proprios
próprios jornalistas vão
Vao
construindo umurn lugar peculiar para a profissão,
profissao, no qual a ideia de representação
representacao fiel
fiel
da realidade se sobressai. Ao espelhar o mundo, atravésatrave’s das notícias,
noticias, ocupam lugar
emblematico e definem
emblemático definern o valor da profissao.
profissão.
Outro ideal que aparece comcorn frequência
frequencia está
esta associado às
as novidades introduzidas
periodico: a noção
pelo periódico: nocao de moderno. Como um urn conceito, moderno,
Inoderno, nas palavras dos
jornalistas, ée o jornal que divulga a informação,
informacao, numa linguagem que procura a isen-
950. A informação
ção. informacao passa a ter lugar de destaque. A valorização
valorizacao dessa pretensa neutra-
neutra—
lidade — apresentada pela formatação
formatacao discursiva do periodico
periódico e pela delimitação
delimitacao dos
espacos destinados àa opinião
espaços opiniao que não
nao mais se confundiria com as colunas de informa-
cao —
ção retira da narrativa jornalistica suspeicao.
jornalística a ideia de suspeição.
96 Vestígios memoráveis
Os jomais nao devem opinar e muito menos persuadir. Os conteúdos
jornais não conteudos revelam uma
realidade existente a priori.
priori. O jomal concepeoes, para se valer da
jornal deixa de expressar concepções,
iseneao que vão
isenção Vao construindo em torno
tomo da ideia de notícia.
notieia. Assim, a uniformização
uniformizaeao de
multiplos aspectos
múltiplos aspeetos numa retórica
retorica que procura despir a linguagem de elementos opinativos
constroi, gradativamente, a noção
constrói, noeao de linguagem jomalistica
jornalística neutra, elevada àa condição
condieao de
cieneia, afinada
ciência, afinada com o mito da isenção,
iseneao, da neutralidade e da prestaeao serVieos.
prestação de serviços.
Um ideal de mulher leitora ée claramente expresso na coluna, que busca uma mu-
tambe’m um ideal feminino: deve ser a guardiã
lher que resuma também guardia do lar, honesta, traba-
lhadora, mas ao mesmo tempo suave, leve e muito feminina.
A delimitação
delimitaeao dos assuntos por páginas
paginas e por colunas e a amplitude dos temas
abordados parecem indicar a intenção
inteneao do periódico
periodico de atingir um publico diversifica-
público diversifica-
do. Noticias estao lado a lado com outras que
Notícias sobre as festas que agitam a cidade estão
dizem respeito ao mundo do trabalho. O esporte e a religião
religiao contemplam um outro
segmento de publico.
público. Mas mesmo assim, ao terminar a década a tiragem do jornal não
nao
atinge 30 mil exemplares.
O jornal queria um novo interlocutor: uma massa uniforme que começa comeea a ser
adjetivada para ganhar consistência
consistencia na década
de’cada seguinte. Para isso estandardiza sua
construeao da sua autoimagem a retórica
linguagem, destacando na construção retorica da imparcialida-
imparcialida—
reforea também
de. Com isso, reforça tambem a imagem de independência.
independéncia.
98 Vestígios memoráveis
Na memória
memoria dos que viveram
Viveram este momento sobressai a idealização
idealizaoao do tempo
mitico de antes. Nos primordios
mítico primórdios existe uma idade de ouro redentora onde impera a
felicidade. As narrativas que constroem sobre a décadadecada de 1920,
1920, os jornalistas
jornalistas
relembram o passado como mito que ainda conserva um valor explicativo do presen—
presen-
te, esclarecendo a forma como se formula lentamente o profissionalismo
profissionalismo do jornalis-
ta. O
0 mito não
nao ée mistificação,
mistificaoao, ilusão,
ilusao, fantasma ou camuflagem,
camuflagem, mas o relato ou a
narrativa de um acontecimento que teve lugar num tempo imemorial, o tempo fabulo-
comeeos (Eliade, 1992).
so dos começos 1992).
Vivido, mas, sobretudo, foi sonhado, e sofre os trabalhos
Esse tempo de antes foi vivido,
seleeao, antes de sua transmissao.
de seleção, transmissão. O passado a que se referem não nao ée diretamente
conhecido, sendo antes de tudo um modelo, um arquétipo
arque’tipo que fornece uma espécie
espe’cie de
exemplo ao presente. Oposto àa imagem de um presente descrito como desencanta-
desencanta—
figura
mento, figura o passado em todo o seu fulgor. O tempo de antes e’
é um mito, no sentido
mais completo do termo: ficção,
ficoao, sistema de explicação
explicaoao e mensagem mobilizadora.
Nas redações,
redaooes, recordam os jornalistas, há
ha sempre relações
relaeoes amistosas, o horário
horario ée
fixado ao bel-prazer do jornalista e o dono do jornal ée alguém
fixado alguem sempre muito proximo.
próximo.
idealizaeoes constroem uma imagem da profissao
Essas idealizações profissão envolta numa atmosfera de
sonho e melancolia e particularizam um mundo do jornalismo que só so existe
eXiste como um
tempo de antes e que é revigorado pelo trabalho de memória
memoria dos depoentes. Uma
memoria dominada por vestígios,
memória vestigios, nos quais figuram
figuram como categoria central a constru-
constru—
oao idealizada da profissao.
ção profissão.
“Em pé,
Em pe, na calçada,
caleada, depois do expediente, Roberto explicou seu papel.
No O
0 Globo, ninguém
ningue’m cuidava de espanar o
0 p6
pó do tempo, o0 p6
pó que, desde
A Noite, cada geração
geraeao legava àa geração
geraoao seguinte. Ele estava disposto jus—
jus-
tamente a usar o espanador. Mas sem assombrar os redatores antigos. Que-
Que—
ria tambem
também mudar, sem choque e gradualmente, a pagina
página de futebol. Mas
Voces, um dia,
confessou que tinha medo de nossos exageros. Disse mesmo: Vocês,
puseram a fotografia
fotografia de um penico com o Jaguaré.
Jaguare”. (Rodrigues, 1977:180)
1977: 180)
“Eu saí,
Eu sa1’, fui aaANoite,
A Noite, no Largo da Carioca, subi as escadas e lá la em cima
estava o Adolfo, que era o0 porteiro e eu nesse tempo tinha uma cara de meni— meni-
no. Eu era mesmo menino, era mocinho, era estudante ainda. — O que você vocé
quer? — Eu quero falar com o0 Dr. Irineu Marinho. VocêVocé conhece? — Nao,
Não, nao
não
conheoo. Ele foi, voltou: —
conheço. nao está.
ele não esta. Eu ia me retirando quando abriu uma
porta e apareceu um senhor meio calvo. Era o proprio
próprio Irineu Marinho. Virou-
se e disse: — vocé quer, menino? —
O que você Eu queria falar com o senhor. — Pode
falar. Eu acabei de deixar O Imparcial, eu sou estudante, sou pobre, preciso
continuar trabalhando para poder continuar os estudos. Ele disse: — O que é
vocé sabe fazer? Digo: de jornal eu sei tudo, mais ou menos tudo porque
que você
eu tenho feito tudo, até ate’ Câmara
Camara dos Deputados, coisa e tal. Ele chamou
Eurycles de Mattos, que era o0 secretário
secretario e disse: — V6 o que esse
Eurycles, vê
menino pode fazer. Dá Da uma nota aí ai pra ele.
ele”. (Depoimento de Gonçalves,
Gonoalves,
Manoel Antonio. In: Memo’ria
Memória da ABI)
2°
20
Entrevista a Juliana Rodrigues Baião.
Baiéo. 12 de janeiro de 2001.
2001.
21 Essas ideias que podem ser sistematizadas sob a égide do pensamento conservador brasileiro são
21
sao desen-
volvidas por Oliveira Vianna, Alberto Torres e Francisco Campos.
Campos. Para referências
referéncias completas,
completas, cf. Bibliografia.
Bibliografia.
pressoes
Estado Novo: controle e pressões
23 É
23
E comum, até a década de 1960, a existência
existéncia de jornais cuja edição
edigao aparece às
as primeiras horas do dia,
dia, os
03
matutinos, e os
03 que circulam apenas à
a tarde,
tarde, os vespertinos.
vespertinos. No início
inicio da década de 1940,
1940, os vespertinos são
5:210
os
03 que possuem as maiores tiragens. Cf. Porto.
Porto. 1941:276.
1941:276.
Na mesma entrevista,
entreVista, o jornalista refere-se aos múltiplos
ml’iltiplos processos utilizados pelo
Estado, no sentido de produzir o consenso e conseguir o concurso dos jornalistasjornalistas
organicos dos grupos dirigentes.
como intelectuais orgânicos
24
24
Entrevista a Juliana Rodrigues Baião,
Baiéo, 20 de dezembro de 2000.
Aumentando o número
nfimero de agências,
agéncias, institutos, conselhos e autarquias, o governo
orgaos burocráticos
multiplica os órgãos burocraticos de forma a ampliar sua área
area de influência.
influencia. Entre
esses setores estatais passam a figurar
figurar empresas midiáticas.
midiaticas. É
E o que ocorre, por exem-
exem—
plo, com a encampação
encampacao de todo o patrimonio
patrimônio da Brasil Railway, representada pelo
jornal A Noiz‘e,
Noite, pela Radio Nacional, entre outras.
Ha que ressaltar tambe’m
Há criacao no periodo
também a criação mitico de nacionalismo,
período de um ideal mítico
legitimacao. Nesta mítica
como instrumento de legitimação. mitica se destaca a obrigatoriedade de inter-
inter—
vencao governamental como única
venção finica fórmula
formula capaz de superar os pontos frágeis
frageis da
industrializacao como fator
economia brasileira. O nacionalismo traduz-se na ideia de industrialização
determinante para a independência
independéncia econômica,
economica, tornando-se imperativa a construção
construcao
estrate’gias que significaria
de estratégias significaria a ruptura com a subordinação
subordinacao aos paises
países dominantes do
capitalismo mundial.
O nacionalismo passa a fazer parte dos discursos governamentais, como forma de
justificar realizacoes, sendo concebido como projeto do governo, a quem cabe
justificar suas realizações,
engaj a-los na tarefa de solucionar os proble—
mobilizar amplos setores da sociedade e engajá-los proble-
mas da sociedade.
Nacionalismo corresponde, pois, a Estado Nacional. Torna-se
Torna—se crucial, portanto,
para a consolidação
consolidacao do regime politico, nacao. E os conceitos de
político, construir a categoria nação.
nacao, nacionalismo e nacional passam a ser alvos de disputas de diferentes grupos
nação,
urn procurando impor uma marca. Grosso modo esse movimento
sociais. Cada um Inovirnento se
configura em duas correntes principais: de um lado, a concepção
configura concepcao totalitaria
totalitária dos buro-
ideologos do Estado e, de outro, a vertente autoritária
cratas e ideólogos autoritaria representando os inte-
(Mendonca, 1986).
resses da burguesia industrial (Mendonça, 1986).
Apesar das divergências,
divergencias, há
ha um
urn ponto em comum entre ambas as vertentes: para a
construcao da nação
construção nacao seria obrigatório
obrigatorio o controle da classe trabalhadora. Cidadania ée’
definida, a partir daí,
definida, dai, pela integração
integracao ao mundo do trabalho, enquanto se fabrica a
mitica da colaboração
mítica colaboracao e harmonia entre as classes. A questão
questao social ée’ sublimada pela
uniao entre todos os indivíduos,
ideia de união individuos, cabendo ao Estado promover esta união,
uniao,
nacao.
organizando o povo como nação.
A ampla propagacao
propagação desse proj eto e, sobretudo, de sua operacionalização,
projeto operacionalizacao, para a
maioria da populacao nao pode prescindir de uma nova linguagem —
população brasileira não dirigida
as massas, no dizer do ideólogo
às ideologo do Estado Novo, Francisco Campos — e dos meios de
cornunicacao, como
comunicação, corno mecanismos indispensáveis
indispensaveis para atingir a populacao.
população. Assim, o
operacionalizacao da linguagem e da ideologia estadonovista é a imprensa e
lugar de operacionalização
comunicacao, sobretudo, o
os novos meios de comunicação, 0 rádio.
radio.
“O Góes
O Goes Monteiro foi ele que, num dos primeiros atos, baixou a censura
total e absoluta àa imprensa. E a seguir o DIP foi ampliado, quase que com
dimensao de Ministério,
dimensão Ministerio, e controlado por um teorico
teórico do fascismo, chamado
la pelas nove e meia dez
Lourival Fontes. (...) Diariamente a gente recebia, lá
horas, um telefonema com aquela vozinha: Silveira, olha aqui, estáesta falando
fulano (geralmente dava só so o
0 primeiro nome), não
nao pode sair aquilo, evite
eVite
comentarios... Eram as coisas mais desagradáveis.
comentários... desagradaveis. Era a briga do Beijo Vargas
bofetao em alguém
que se embriagava no Cassino da Urca, dava um bofetão alguem e a vozi-
vozi—
comentario sobre a briga do Beijo, heim.
nha: nenhum comentário heim”. (Depoimento de
“0 Estado Novo e o Getulismo.
Silveira, Joel. O Getulismo”. Entrevista
EntreVista a Gilberto Negrei—
Negrei-
ros. In: Folha de S.
S. Paulo)
A adoção
adooao da ideia do primado da irracionalidade das multidões
multidoes também ée’ visível
visivel
“O irracional,
no texto de Campos. O irracional”, diz ele, é
“e o instrumento da integração
integraoao politica
política
“Eu não
Eu nao era do DIP, eu era de uma outra coisa que se chamava Departa-
Difusao Cultural, onde estava a censura do cinema.
mento de Propaganda e Difusão
Corn a nomeação
Com nomeacao de Filinto Müller
Mfiller para a chefia
chefia da policia,
polícia, a transferencia
transferência da
censura vai para o Ministério
Ministe’rio do Interior e Justiça
Justica e há
ha a progressiva incorporação
incorporacao de
policiais como censores em lugar de jornalistas. O DIP, além ale’m das prerrogativas da
censura, controla o registro de jornais, das emissoras de rádio radio e serviços
servicos de alto-
falantes, das revistas; distribui a propaganda do regime; ordena a prisao
prisão de jornalis-
fechajornais
tas; fecha radios, dita o que pode ou não
jornais e rádios, nao ser publicado. A comunicação
comunicacao entre
veiculos se faz pessoalmente (os censores são
os censores e os veículos sao civis,
ciVis, funcionários
funcionarios
“a divulgação
a divulgacao de qualquer notícia
noticia ou fotografia
fotografia sobre a visita
Visita do Ministro da
Guerra ontem às as oficinas
oficinas da EFCB, onde se estãoestao fabricando canhões
canhoes para o
Exe’rcito e todo o
Exército 0 material referente àa chegada ao Rio, a estada, partida e as
declaracoes do embaixador da Rússia
declarações Russia no Uruguai, inclusive fotografia,
fotografia, está
esta sujei-
suj ei-
to a apresentação
apresentacao pre’Via Departamento”. (Nasser, 1947.
prévia a este Departamento. 1947. Apud Inoja: 1978)
1978)
As verbas oficiais
oficiais engordam as receitas de jornais, revistas, agências
agencias de notícias,
noticias,
radio. Subsídios
emissoras de rádio. Subsidios ao papel e àa importação
importacao de equipamentos gráficos
graficos e de
som favorecem os que colaboram com o poder. As solenidades são sao transmitidas via
Via
radio para todo o pais.
rádio país. O DIP organiza congressos, palestras, seminários,
seminarios, divulgando
orgao, Divisao
as ideias do regime. Dentro do órgão, a Divisão de Imprensa, responsavel pelo con-
responsável
trole da informação
informacao nos jornais, revistas
reVistas e livros, ée’ a mais importante, sendo sua tarefa
principal vigiar
Vigiar a producao
produção discursiva da imprensa.
Os anos de chumbo do Estado Novo significam
significam tambe’m
também o controle rigoroso dos
comunicacao, o que leva ao fechamento de inúmeros
meios de comunicação, inumeros deles. Estima-se
Estima—se que
no periodo 61 publicacoes.
período deixam de circular 61 publicações. No Rio de Janeiro, todo o grupo per-
tencente a Geraldo Rocha na década
decada de 1920
1920 — incluindo o vespertino A Noite”,
Noite27, o
matutino A Mani/167
Manhã e as Rddios
Rádios Nacional e Mayrink Veiga,
Veiga, apenas para citar as mais
27 Com a
27
3 encampação,
encampagao, a administração
administragao de A Noite ficou a cargo do coronel Luís Luis Carlos da Costa Neto,
Neto, sendo
diregao do jornal entregue ao jornalista Andre
a direção Carrazzoni. Este novo estágio
André Carrazzoni. estégio é marcado por dificuldades,
dificuldades,
decorrentes do empreguismo generalizado e da má mé administração
administragao dos recursos.
recursos. Gradativamente o jornal se
transforma numa espécie de diário
diério oficial, no qual são
séo fartos os elogios a todos os governos.
governos. Com a queda de
agrava—se ainda mais a situação.
Vargas, agrava-se situacéo. Em 19 19 de agosto de 1946,
1946, o presidente Dutra promulga o Decreto-
Decreto—
Lei nº
n° 9610, autorizando o Ministério da Fazenda a arrendar A Noite por um urn prazo de 15 anos à a sociedade
anônima
andnima a ser construída
construida pelos funcionários
funcionérios do vespertino.
vespertino. Segundo Carvalho Neto,Neto, a inviabilidade do jornal
deveu-se
deveu—se também ao fato de ser ele um urn órgão
Orgéo do governo. O “O povo nãonao admite,
admite, com toda razão,
razao, que o
governo seja dono de jornal para ele ler.Ier. E deixou de ler
IerA Noite... Jornal do governo é o Diário
A Noite... Diério Oficial.
Oficial”. A Noite
depois de inúmeros
— int’Jmeros períodos
periodos de grande dificuldade financeira — sai de circulação
circulagao em 1958.
1958. (DHBB:
(DHBB: 4107)
Cf. também capítulo
capitulo anterior.
“Art. 19.
Art. 19. Ficam incorporadas ao Patrimônio
Patrimonio da Uniao.
União. A) Toda a rede
ferroviaria de propriedade da Companhia Estrada de Ferro São
ferroviária sao Paulo —
Rio
aoervo das Sociedades A Noite, Rio
Grande ou a ela arrendada. B) Todo o acervo
Radio Nacional. C) As terras situadas nos Estados do Paraná
Editora e Rádio Parana e
Santa Catarina, pertencentes àa referida Companhia Estrada de Ferro São
sao Pau—
Pau-
lo — Grande”. (Diário
Rio Grande. (Didrio Oficial,
Oficial, 9 março
mareo de 1940)
1940)
A pressão
pressao do governo se faz tambe’m economica, negando subsídios
também sob a forma econômica, subsidios e,
sobretudo, publicidade.
1939, o então
Em 23 de dezembro de 1939, entao ministro da Educação
Educacao Gustavo Capanema
informacoes sobre a revista Diretrizes, uma vez que Samuel Wainer, diretor
solicita informações
“a colaboração
da revista, havia pedido a colaboracao deste ministério
ministerio para um número
numero especial
sobre os problemas brasileiros de educação.
educacao”. Assim Capanema deseja em“em caráter
carater
confidencial, consultar o prezado amigo sobre o que consta a respeito da referida
confidencial,
publicacao Chefia de Polícia,
publicação na Chefia Policia, a fim
fim de melhor poder resolver o caso em questão
questao”
Muller a Capanema. Arguivo
(Carta de Filinto Müller Arquivo Capenema CPDOC, citado por
1984:313-315).
Schwartzman, 1984:313-315).
“resolver o caso em questão
Por resolver questao entenda-se
entenda—se colaborar ou não nao com a publicacao
publicação
atraves da concessão
através concessao de verba publicitaria. Muller
publicitária. Vinte dias depois da consulta, Filinto Müller
dossié sobre o que consta
responde a Capanema, enviando um dossiê “consta na repartição
reparticao a respei-
respei—
to da revista Diretrizes.
Diretrizes”. No arrazoado de trés
três paginas, informacoes sobre os diretores
páginas, informações
da publicacao entao DESPS. A revista ée classificada
publicação com antecedentes no então classificada como pos—
pos-
“tendéncia claramente esquerdista
suindo uma tendência esquerdista” e no arquivo do Serviço
Servico de Censura àa
orientacao suspeita,
Imprensa aparece como tendo orientação “suspeita”, ja “de início
já que de inicio foi marcante
em seu programa a tendéncia nazismo”. No
tendência esquerdista, combatendo o fascismo e o nazismo.
historico da publicacao
histórico publicação completa:
“Fundada em março
Fundada marco de 1938
1938 pelo jornalista Azevedo Amaral, que se afas-
afas—
tou para fundar a revista Novas Diretrizes. O escritor Genolino Amado pas-
afastando—se tambe’m
sou a dirigi-la, afastando-se também para dar lugar ao Sr. Samuel Wainer, seu
diretor”.
atual diretor.
“A imprensa regular-se-á
A regular-se-a por lei especial de acordo com os seguintes prin-
cipios: a) a imprensa exerce uma função
cípios: funcao de caráter
carater pfiblico;
público; b) nenhum jornal
insercao de comunicações
pode recusar a inserção comunicacoes do Governo, nas dimensões
dimensoes taxa-
das em lei; c) ée assegurado a todo o cidadão
cidadao o direito de fazer inserir gratui-
tamente nos jornais que o infamarem ou injuriarem,
inj uriarem, resposta, defesa ou reti-
reti—
ficacao”. (Constituições
ficação. (Constituicfies do Brasil, 1970:91)
1970191)
Nas
“Nas frígidas
frigidas noites, ela, toda estremecente
sob o0 lençol
lencol de brim, costumava ler àa luz de vela
os anúncios
anl'lncios que recortava dos jornais velhos do
escritório. É que fazia coleção
escritorio. E colecao de anúncios.
anfincios. Co-
C0-
lava-os no álbum.
album. Havia
HaVia um anúncio,
anl'lncio, o mais pre-
cioso, que mostrava em cores o0 pote aberto de
um creme para pele de mulheres que simples-
nao eram ela.
mente não ela.” (Lispector, 1998:38)
199823 8)
28 O livro
28
Iivro de Lima Barreto, escrito quando o autor trabalhava como jornalista no Correio da Manhã,
Manhé, é publicado
pela primeira vez em 1909. A aguda crítica
1909. Aaguda critica que destina a Edmund Bittencourt, dono do jornal, vale a inclusão
dojornal, incluséo de
Lima num índex
index de proibição
proibicéo do jornal.
jornal. A partir daí,
dai, durante muitas décadas, o nome de Lima Barreto foi consi-
consi—
derado maldito no jornal,
jornal, sendo vetada terminantemente qualquer alusão aluséo ao seu nome nas páginas
péginas da publica-
ção.
céo. Portanto, o jornal O Globo da ficção
ficcéo de Lima Barreto nada tem a ver com o periódico
periédico criado por Irineu
Marinho em 1925: trata-se de um nome fictício.
ficticio. O jornal representado por Lima Barreto é o Correio da Manhã.
Manhé.
tambem lê
Ele mesmo, Lima Barreto, também lé com relativa
“relativa minúcia
minficia” os jornais. E acres-
acres—
“Ate’ os
centa: Até 05 crimes de repercussão
repercussao eu leio.
leio.” Mais adiante se refere a um militar que
“francamente e permanentemente
gosta de conversar cousas superiores. Embora fosse francamente
nao lê
doido, não lé coisa alguma, a não
nao ser a Gazeta de Noticias, rabo”.
Notícias, de cabo a rabo.
propria leitura, o escritor, para fugir daquela realidade, concentra a
Descrevendo a sua própria
ateneao nas letras impressas. Para se distanciar da conversa que lhe arrastava
sua atenção “arrastava de novo
agoureiros”, força
a pensamentos agoureiros, forea a atenção
ateneao nos periodicos. “Li-os com cuidado, li
periódicos. Li-os 1i seções
seeoes
que, normalmente, desprezava, mas não nao findei
findei a leitura. Misael chamou-me
chamou—me para o jantar.”
jantar.
O texto leva-o
leva—o a construir não
nao só
so uma outra leitura, como o transporta para outro lugar. Os
deseritos são
ambientes descritos sao como que recriados, se inserindo ele mesmo naquela descrição,
descrieao,
transformando—se, dessa forma, o texto, aprisionado pela sua leitura, numa vivência
transformando-se, Vivéncia parti-
cular. Para isso ée preciso ler
“ler com cuidado,
cuidado”, ler
“ler minuciosamente,
minuciosamente”, com toda a sua aten-
aten—
950 e todos os seus sentidos voltados para aquele universo de letras impressas.
ção
A reflexão
refleXao sobre a leitura — sej a, a apreensão
ou seja, apreensao de um sentido particular do texto
indubitavelmente ligado ao leitor — infimeras vezes no mesmo livro. Em outro
aparece inúmeras
filho, lia
trecho, um engenheiro, que num acesso de loucura matara a mulher e um filho, “lia o
0
dia inteiro o jornal”. “ViVia na biblioteca, lendo o jornal e fazendo em voz alta, de
jornal. Vivia
reflexao sobre a leitura.
quando em quando, uma reflexão leitura.”
No livro de Lima Barreto figuram
figuram dois mundos, marcados por duas temporalidades
Vida, da saúde
completamente diversas. O mundo da vida, safide e da ação
aeao e o mundo da doença
doenea
perteneem ao primeiro mundo —
e da morte. Os que pertencem como Misael que vem de fora e
chama o doente para jantar — tem utilizaeao de seu tempo.
têm uma certa liberdade na utilização
Saem e voltam àa cena, marcando para o leitor a passagem do tempo. Já Ja os outros, os
que pertencem ao mundo da loucura e da morte, vivem
Vivem uma espécie
espeeie de imobilidade
temporal. Tudo se passaigua1,todos
passa igual, todos os dias. As mesmas cenas,
eenas, as mesmas situações
situaeoes e
nem mesmo a leitura insere esses personagens numa outra temporalidade.
29 Todas as citações
29
citagoes referentes ao
a0 texto de Lima Barreto foram retiradas de Diário
Diario do Hospício
Hospicio (1993).
(1993). Para
referéncia completa,
referência completa, ver Bibliografia.
Alem
Além de espelhar uma ideia de temor, que evoca a problematica
problemática do poder, o jornal,
jornal,
composieao montada, é,
na composição e’, para o leitor, a inserção
insereao na realidade, na vida
Vida quotidiana
diaria, longe das grades da prisao.
diária, E o meio pelo qual se colocam em contato com o
prisão. É
Dai a presenoa
mundo. Daí presença constante dos periodicos cubiculos.
periódicos em todos os cubículos.
ocio ée também
O ócio tambe’m preenchido com a leitura dos jornais. Leem
“Leem com avidez
aVidez as
noticias de crimes romantizados pelos repórteres
notícias reporteres e o pavor da pena ée o mais intenso
reincidéncia.” O repórter,
sugestionador da reincidência. reporter, por outro lado, ée’ apresentado como o
proprio
próprio poder. O anúncio
am’mcio da sua visita
Visita provoca reações
reaeoes diferenciadas. Uns
“Uns esticam
papeis, inoceneia; outros bradam que as locais dos jornais estavam erradas,
papéis, provando inocência;
escondem—se, receando ser conhecidos, e ée um alarido de ronda infernal, uma
outros escondem-se,
ansia de olhos, de clamores, de misérias.
ânsia mise’rias.”
Visualizar a literatura como registro de uma época epoca significa
significa considerar que um
autor deixa transparecer na sua obra não nao apenas sua subjetividade,
subj etiVidade, mas tambem
também seu
proprio Significa também
próprio tempo. Significa tambem perceber o papel decisivo da linguagem nas descri- descri—
eoes e concepções
ções concepeoes históricas.
historicas. O texto literário
literario — criaeao de um autor que
artefato de criação
constitui ambientes e valores nos seus relatos — Visao de mundo, as repre-
espelha a visão
sentaeoes, as ideias de um dado momento histórico-cultural,
sentações, historico-cultural, podendo ser lido como
materializaeao de formas de pensar, das emoções
materialização emoeoes e do imaginário
imaginario de um dado perio-
perío-
For outro lado, as narrativas literárias
do. Por literarias revelam a coerência
coeréneia e a plenitude de uma
Vida. Só
imagem de vida. Sc’) porque há
ha esta coerência
coeréncia ée que pode ser transformada em imagi-
naeao. Uma narrativa só
nação. so ganha sentido porque a ela ée atribuída
atribuida uma coerência,
coeréncia, ao se
transformar, para o leitor, numa forma reconhecível
reconheciVel de descrição
descrieao da existência.
existéncia. Ao se
tornar familiar, torna-se inteligível.
inteligivel.
literarios, desde os autores que fazem das redações
Percorrendo os textos literários, redaeoes mote de
criaeao de suas obras e, ao mesmo tempo, lugar de onde retiram parte de seu sustento,
criação
3° Todas as citações
30
citagoes de João
Joao do Rio foram retiradas de Alma Encantadora das Ruas (1987).
(1987). Para referência
referéncia
completa, ver Bibliografia.
O movimento que Lima Barreto está esta descrevendo insere-se nas mudanças
mudanoas por que
inicio do século XX, quando, se transformando em verdadeiras
passa a imprensa no início
“fabricas de notícias,
fábricas noticias”, os jornais ganham poder e notoriedade na sociedade carioca
carioca32.
32
.
Na sua descrição
descrioao o destaque recai sobre o simbolismo que passa a ter a palavra
nossa sociedade e a ingerência
impressa nessa ingeréncia dos jornais junto àa sociedade politica.
política.
A publicizaoao ootidiano, a capacidade
publicização de fatos do cotidiano, capaoidade de influir
influir com o poder da palavra
impressa leva o padeiro a ter admiração,
admiraoao, respeito, pelos homens de imprensa.
“Lage não
Lage nao lhe conhecia
conheoia as obras, nem mesmo os artigos e ficou
ficou satisfeito
Viesse sentar-se sem cerimônia
que um outro conhecido seu viesse cerimonia alguma àa nossa
obrigando—me a não
mesa, obrigando-me nao lhe fazer mais perguntas sobre o Pithecanthropus
Bra o
literato. Era 0 Oliveira — nao me conhece? O Oliveira, do O
não 0 Globo...!
Globo...! Tão
Tao
conhecido!... Oh!
Oh!” (Idem,
(Idem, ibidem)
31 As referências
31
referéncias que se seguem foram retiradas de Recordações
Recordagoes do Escrivão
Escrivéo Isaías
Isaias Caminha (1984).
(1984). Para
referéncias completas, cf.
referências cf. Bibliografia.
Bibliografia.
32 Sobre esse movimento da imprensa carioca, ver especialmente Capítulo
32
Capitulo I.
|.
“Era uma sala pequena, mais comprida que larga, com duas fileiras
Era fileiras paralelas de
minfisculas mesas, em que se sentavam os redatores e repórteres,
minúsculas reporteres, escrevendo em man—
man-
camisa.”
gas de camisa.
Dessa forma, Lima Barreto partieulariza descrieao da redação
particulariza a descrição redaeao de um dos jornais
inicio do século.
mais importantes do Rio de Janeiro do início seculo. Primeiro o ambiente geral, as
mesas colocadas lado a lado, onde se sentavam os dois personagens centrais daquele
reporteres.
lugar: os redatores e os repórteres.
Em seguida àa descrição
deserieao que apela para a visão,
Visao, a que deixa a impressão
impressao a partir
dos odores que particularizam o ambiente.
“Pairava no ar
Pairava at forte cheiro de tabaco: gas queimavam baixo e
tabaco: os bicos de gás
espaeo era diminuto, acanhado, e bastava que um redator
eram muitos. O espaço
arrastasse um pouco a cadeira para esbarrar na mesa de tras, Vizinho. Um
trás, do vizinho.
experiéncia fictícia
A experiência ficticia no jornalismo
1910 são
Se os anos 1910 3510 configurados
configurados na literatura como o momento em que o jorna-
jorna-
lismo queria se autoconstruir como lugar de poder, a partir da notoriedade que cons-
“A grande figura
A figura da redação
redacao era mesmo o repórter
reporter de policia.
polícia. O Quintanilha,
por exemplo, sabia de tudo, vira
Vira tudo. Por tras historias, havia
trás de suas histórias, haVia toda
Calida maravilhosa experiência
uma cálida experiencia shakespeariana. Seria talvez analfabeto,
121. E estava sempre bêbado.
sei lá. bébado. Deixava de beber há
ha meses, anos, e continuava
bébado. Nao
bêbado. lindas.” (Rodrigues, 1993)
Não importa. Contava coisas lindas. 1993)
Na sua crônica,
crénica, Nelson Rodrigues recorda o seu momento de entrada na redação.redaeao.
Com pouca idade — como a maioria dos jornalistas que ingressavam nos jornais na- na—
1920 —
queles 1920 relata o encantamento que tomou conta dele ao se ver diante do que
“misterio”. Tudo o fascinava. O desconhecido e, sobretudo, o desvendamento de
chama mistério.
improvavel para a maioria das pessoas. Como se transporta a
um mundo improvável “a realidade
realidade”
para o mundo das letras impressas? Como se descreve as agruras e os fatos que vão Vao
coeréncia àa existência?
formando e dando coerência existéneia? Idealizações
Idealizaeoes de uma profissao, autoconstrueoes
profissão, autoconstruções
de um lugar de poder, que fascinavam o menino que se tornava jornalista.
A0 misterios daquele mundo, lentamente Nelson Rodrigues desco-
Ao desvendar os mistérios
bre que os que ocupavam posieoes redaoao —
posições mais importantes na redação res—
os redatores res-
ponsaveis
ponsáveis pelos artigos de fundo que eram publicados em lugar nobre na primeira
pagina
página de todos os jornais, opinando sobre o fato de maior relevo — materializavam a
distineao do lugar pela pose empertigada com que andavam pela redação.
distinção redaeao. Ainda que
“paVoes enfáticos,
andassem como pavões enfaticos”, na opinião
opiniao do cronista, que relata um tempo que
so existe na sua memória,
só memoria, não
nao tinham nada a dizer.
Ao contrário
contrario do texto romanceado de Lima Barreto, que vimos Vimos anteriormente, as
memérias de Nelson Rodrigues, inseridas sob a forma de crônicas
memórias cronicas numa obra que tem
no titulo revelaeao de que ali ele faria confissões,
título a revelação “confissoes”, aproxima diretamente seu texto
carater de testemunho. Diante do seu livro, o leitor não
do caráter nao espera encontrar o ficcional,
ficcional,
recordaeoes do escritor, que, pelo ato memorável,
mas as recordações memoravel, figura
figura o seu texto. Espera-se
Espera—se
interveneao expressa
a intervenção eXpressa do autor como locutor da narrativa. O escritor, ao contrário
contrario do
escrivao, recorda fatos prete’ritos
escrivão, pretéritos se colocando em primeira pessoa no texto. Dessa
forma, em vez do quase passado introduzido pela ficção,
ficeao, temos o passado memorável
memoravel
de Nelson Rodrigues, expresso sob a forma de Memo’rias Confissées.
Memórias e Confissões.
historia —
Em seguida, ele remonta a história infidelidade da mulher e
os dissentimentos, a infidelidade
finalmente o desfecho da trama, com o tiro do marido contra a infiel
finalmente infiel —
que aparece
minl’icias na crônica,
com minúcias cronica, mas que a reportagem policial só
so materializou como desfe-
desfe—
reporter Nelson Rodrigues escreveu em 1920
cho. O repórter 1920 uma reportagem sobre um assas-
sinato. Os detalhes folhetinescos da narrativa permaneceram na sua memória,
memoria, interpe-
lando-o, e ée a partir dessa interpelação
interpelacao que compõe
compoe um novo texto, o 0 da crônica,
cronica,
decadas depois. Observa-se
décadas Observa—se sua presenca
presença no texto feito a partir de uma experiência
experiencia
quotidiana. O passado comparece na narrativa pelo uso do tempo verbal e tambem também
inscricao do autor no texto: Ainda
pela inscrição “Ainda no meu primeiro ano de repórter
reporter de policia,
polícia,
assombrou.”
trabalhei num crime que me assombrou.
Na memória
memoria constrói
constroi tambe’m idealizacao de um tempo de antes. Traçando
também a idealização Tracando um
paralelo entre o jornalismo que se fazia no momento em que escrevia
escreVia a crônica
cronica e no
redacoes, enfatiza o fato de, no passado, haver uma
momento em que ingressara nas redações,
especie de simultaneidade entre a notícia
espécie noticia e o acontecimento, produzida pela emoção
emocao
construida. Agora, o texto distanciado causava tambem
como era construída. espe’cie de hia-
também uma espécie hia—
noticia e o tempo do relato.
to entre o tempo da notícia
“Tinha 13
Tinha 13 anos quando me iniciei no jornal, como repórter
reporter de politica.
política. Na
redaoao não
redação nao havia
haVia nada da aridez atual e pelo contrário:
contrario: —
era uma cova de
delicias. O sujeito ganhava mal ou simplesmente
delícias. simplesrnente não
nao ganhava. Para comer,
utopico de cinco ou dez mil-reis. Mas tinha a compensa-
dependia de um vale utópico
oao da glória.
ção gloria. Quem redigia umurn atropelamento julgava—se urn estilista. E a
julgava-se um
propria
própria vaidade o remunerava. Cada qual era um pavao enfatico. EscreVia
pavão enfático. Escrevia na
Vespera e no dia seguinte via-se
véspera Via-se impresso, sem
sern o retoque de uma Virgula.
vírgula.
HaVia uma volúpia
Havia volupia autoral inenarrável.
inenarravel. E nenhum estilo era profanado por
uma emenda, jamais.” 1977264).
jamais. (Rodrigues, 1977:64).
“Moises comenta
Moisés cornenta o jornal. Nunca viVi ninguém
ninguem ler com
corn tanta rapidez. Per-
corre as colunas com os dedos e para no ponto que lhe interessa. Engrola,
saltando linhas, aquela prosa em língua
lingua estranha, relaciona o conteúdo
contefido com
corn
leituras anteriores e passa adiante.
adiante”. (Ramos, 1995:22)
1995:22)
A importância
importancia de ser um autor faz com que Gouveia emoldure o seu artigo (um
(“um
trabalhinho”) num quadro, ornando a parede. A moldura dourada e o
trabalhinho) 0 local nobre da
sala indicam tambe’m representacao do texto autoral naquela sociedade, não
também representação nao impor-
impor—
composicao e a redação
tando que a composição redacao fossem falhas.
Luiz, personagem principal de Angflstia, “funcionario publico,
Angústia, um funcionário ocu—
público, homem de ocu-
pacoes marcadas pelo regulamento,
pações regulamento”, apesar de nunca ter estudado e de julgar que os
nao prestavam, trabalha num jornal. O emprego fora conseguido por
seus escritos não
uma carta de um deputado dirigida a um diretor da publicacao.
publicação. Trabalha a noite, ja
já
que de dia ée funcionário
funcionario publico.
público.
A atividade
atiVidade jornalistica nao iniciara ainda no Rio de Janeiro plenamente o seu
jornalística não
processo de profissionalizacao.
profissionalização. Apesar das inúmeras
inumeras tentativas de transformar o saber
pratico em objeto
prático obj eto de estudo regulamentar — movimento que teria início
inicio no primeiro
congresso de jornalistas realizado em 1918,
1918, mas que só so se efetivaria com o proj eto de
projeto
criacao do curso de jornalismo ainda durante o Estado Novo —,
criação , a profissionalizacao
profissionalização
so seria efetivada a partir da década de 1950.
só 1950. O ingresso no mundo do jornalismo
jornalismo
relacao ao início
pouco tinha mudado em relação inicio do século:
se’culo: indicações
indicacoes de pessoas influentes
influentes
relacoes de amizade são
e relações sao fundamentais para ingressar na profissao,
profissão, que se acumula
atiVidade, normalmente no serviço
com outra atividade, servico publico.
público.
repressao àa imprensa, que redundaram muitas vezes na prisao
Os ecos da repressão prisão de jor—
jor-
nalistas, aparecem em outra obra de Graciliano Ramos. Em Memo’rias
Memórias dod0 Cárcere,
Cdrcere,
figura lendária
uma figura lendaria da imprensa brasileira — Aparicio Barao de Itararé,
Aparício Torelly, o Barão Itarare,
“De manhã,
De manha, ao lavar-me,
lavar—me, notei que alguém
alguem se esgoelava no chuveiro pro- pró-
Ximo, recitando Os Lusíadas:
ximo, Lusiadas: As
‘As armas e os barões
baroes assinalados...
assinalados’... A água
agua
jorrava com
corn forte rumor, alagava o chão;
chao; diversas torneiras abertas, resfôlegos,
resfolegos,
esfregar—se, magotes conversando àa porta, aguardando a vaga. O
gente a esfregar-se, 0 vo-
V0-
zeirao dominava o barulho: E
zeirão ‘E também
tambe’m as memórias
memorias gloriosas daqueles reis
que foram dilatando a fé,fe, o império,
imperio, a uretra...
uretra’ Dei uma gargalhada, ouvi ouVi este
comentario: —
comentário: ‘Hoje não
Hoje nao se dilata império
impe’rio nem fé.
fe’. Essas dilatações
dilataeoes vão
Vao desa-
desa—
parecendo. Agora o que se dilata ée’ a uretra.
uretra’. Saí.
Sai. E enquanto me enxugava,
conheci Aporelly, nu, um urn sujeito baixo, de longa barba grisalha, o nariz arre-
bitado, que uma autocaricatura vulgarizou. (Idem: 47).
Nos anos do Estado Novo não nao poderia ser diferente: mesmo nas celas da Casa de
Deteneao, ée’ através
Detenção, atrave’s de uma emissora de rádio
radio imaginária
imaginaria que os presos se comunicam
ou se distraem. Reproduzem o aparelho teenologico
tecnológico que faz parte de seu cotidiano:
caneoes, dramatizações
canções, dramatizaeoes e notícias
noticias compõem
compoem a programaeao
programação de uma emissora que só so
imaginaeao.
existe em imaginação.
“Ao fundo, Aporelly arrumava cartas sobre uma pequena mesa redonda,
Ao
infinita paciéncia.
entranhado numa infinita paciência. Avizinhei—me
Avizinhei-me dele, pedi notícias
noticias do livro
biografia do Barão
que me anunciara antes: a biografia Barao de Itararé.
Itarare. Como ia esse ilustre
fidalgo? A narrativa ainda não
fidalgo? nao começara,
comeeara, as glórias
glorias do senhor barão
barao conserva-
conserva—
Vam-se espalhadas no jornal. Ficariam assim, com certeza: o panegirista não
vam-se nao se
decidia a por notavel personagem.”
pôr em ordem os feitos do notável personagem. (Ramos, op. op. cit.:
cit: 48)
“Doia-me a paciencia
Doía-me paciência triste dele, aparentemente alegre. Nao
Não passava mal
o0 dia, mas àa noite, apagadas as luzes, entrava a aperrear-se,
aperrear—se, em forte agitação.
agitaeao.
erguia—se num tremor convulso, batendo os dentes, a arquejar.
De repente, erguia-se
Isso me dava um sono incompleto. Abandonava o travesseiro, agarrava o
ate que ele se acalmasse. Atormentava—me.
doente até Atormentava-me. Iria Aporelly morrer-me
braeos? Por fim
nos braços? fim o meu ato era mecânico:
mecanico: ao despertar ja segu—
já me achava segu-
impossivel”.
ro a ele, tentando um socorro impossível. (Idem)
habito de
O hábito do partilhar a leitura
loitura do jornal, oferecendo
oforocondo paginas
páginas jajá lidas para que
quo
tambom o façam
outros também faoam eo a descrição
doscrioao de do que
quo isso seso passa num banco de do praoa, indi—
praça, indi-
sociabilidado comum às
cam uma sociabilidade as praticas do leitura
práticas de loitura na cidade.
oidado. Na descrição
dosorioao seguinte,
soguinto,
mais uma vezvoz os suplementos
suplomontos dos jornais, que quo ganham importância
importancia nos anos 1960,
1960,
aparocom. A fotografia
aparecem. fotografia emom tamanho realroal da Pequena
Poquona Flor, uma mulher
mulhor dedo quarenta
quaronta eo
contirnotros, trazia o inesperado
cinco centímetros, inosporado para o poriodico. roalismo da imagem
periódico. O realismo imagom pro—
pro-
sonsaooos de
duz sensações do aflição,
aflioao, ainda mais
Inais polo
pelo fato dedo tor
ter sido publicada em orn tamanho
natural. A leitura
loitura dominical no ambiente
ambionto privado — loitura igualmente
mas uma leitura igualmonto parti-
lhada eo complementada
oomplomontada pelo polo comentário
oomontario de do um outrem
outrom — provoca sensações
sonsaooos que
quo indu-
indu—
zom ao esquecimento.
zem osquocimonto.
“Marcol Petre
Marcel Potro defrontou-se
dofrontou-so com
corn uma mulher
mulhor dedo quarenta
quaronta eo cinco centíme-
oontimo—
nogra, calada. Escura
tros, madura, negra, Esoura como um urn macaco.
macaoo. Informaria ele olo a
impronsa eo que
imprensa quo vivia
ViVia no topo de
do uma árvore
arvoro com
corn seu
sou poquono
pequeno concubino.
A fotografia
fotografia da Pequena
Poquona Flor foi publicada no suplemento
suplomonto colorido dos jor-
do domingo, onde
nais de ondo coube
ooubo em
om tamanho natural. Enrolada num pano, com a
barriga emom estado
ostado adiantado. O nariz chato, a cara prota,
preta, os olhos fundos, os
pos espalmados.
pés ospalmados. Pareceria
Parocoria um
urn cachorro. Nosso apartarnonto,
Nesse domingo, num apartamento,
mulhor, ao olhar no jornal aberto
uma mulher, aborto o retrato
rotrato de
do Pequena
Poquona Flor, não
nao quis olhar
sogunda vez
uma segunda voz porque
‘porquo me
mo dá
da aflição.
aflioao’. — olho —
Pois olhe doclarou de
declarou do repente
roponto uma
volha, fechando
velha, fochando o jornal com decisão,
dooisao, pois olhe,
olho, eu
ou só
so lhe
lho digo uma coisa: Dous
Deus
sabo o que
sabe quo faz.
faz.” (A Menor mulher do d0 mundo. In: Lispector,
Lispoctor, 1975)
1975)
poriodioos tambo’m
Mas os periódicos sorvom para informar sobre
também servem sobro o mundo. Os anúncios
anunoios
funobros torn
fúnebres Olimpioo, um dos porsonagons
têm para Olímpico, personagens principais de do A hora da estrela, a
funoao de
função do fazê-lo
fazo—lo poroorror oomitorios em
percorrer os cemitérios om busca de do sensações.
sonsaooos. Lê
Lo sobretudo
sobrotudo O0 Dia,
jornal popular eo de
do grande
grando circulação
circulaoao a partir da década
docada dedo 1960,
1960, eo que
quo destaca
dostaoa em
om seu
sou
notioiario também
noticiário tambom os crimes
crimos eo as desgraças
dosgraoas que
quo atordoam a cidade.
oidado. Olímpico,
Olimpico, diante
dianto da
informaoao que
informação quo o jornal lhe
lho transmito, ontorro de
transmite, o enterro do desconhecidos,
dosconhooidos, produz uma ação:
aoao:
porcorro os cemitérios
percorre oomito’rios em
om busca da emoção
omooao real
roal eo verdadeira,
vordadoira, diante
dianto da dor alheia.
alhoia.
“Olimpioo era
Olímpico ora macho de
do briga. Mas fraquejava
fraquoj ava em
om relação
rolaoao a enterros:
ontorros: às
as
vozos ia trés
vezes vozos por semana
três vezes somana a enterro
ontorro de
do desconhecidos,
dosconhooidos, cujos anúncios
anunoios
saiarn nos jornais eo sobretudo
saíam sobrotudo no O
0 Dia; eo seus
sous olhos ficavam
ficavam cheios
choios de
do lágri-
lagri-
fraquoza, mas quem
mas. Era uma fraqueza, quom não
nao torn Somana em
tem a sua. Semana om que
quo não
nao havia
haVia
ontorro, era
enterro, ora semana
somana vazia desse
dosso homem
homom que,
quo, se
so era
ora doido, sabia muito bem
born o
0
quo queria.
que quoria.” (Lispector,
(Lispoctor, 1998:70)
1998:70)
Macabe’a, além
Macabéa, ale’m de ouvinte
ouVinte de rádio,
radio, ée tambem
também leitora de jornais.
jornais. Toma em suas
maos os jornais velhos que encontra no escritório
mãos escritorio —
pouco importam o titulo,
título, a linha
noticias —
editorial e as notícias anuncios coloridos. O que lhe importa ée a beleza
e recorta os anúncios
anuncios, possibilitada pelas modernas te’cnicas
dos anúncios, impressao. Esses recortes
técnicas de impressão.
aleatorios pertencem agora a outro tipo de suporte: fazem parte de seu álbum.
aleatórios album. De
relé cada um deles e o mais precioso ée’ aquele que mostra um creme
noite, sozinha, relê
para pele. Cada uma daquelas imagens favorece a construção
construcao de outras imagens e de
multiplas interpretações
múltiplas interpretacoes no universo de Macabéa.
Macabe’a. O creme de beleza ée’ para ela ape-
“ape-
titoso”, tão
titoso, tao apetitoso que seria capaz de comê-lo.
come—lo.
Esses trechos de textos ficcionais,
ficcionais, entendidos aqui como restos de um passado
ate’ o
que chegam até 0 presente, indicam sob o ponto de vista
Vista de uma história
historia da impren-
comunicacao —
sa, que a partir do desenvolvimento de novos meios de comunicação como o0 rádio
radio
decada de 1930,
na década 1930, a televisao 1950 e a proliferacao
televisão nos anos 1950 proliferação de meios impressos
com amplas possibilidades de impressão
impressao —, ha a incorporação
, há incorporacao das mensagens e dos
midiaticos de tal forma junto ao publico,
apelos midiáticos público, que os aspectos mais cotidianos da
“A Rádio
A Radio Relógio
Rologio memo fascina. Os eletrodomésticos
olotrodomo’sticos — nao? Eles
compro ou não? Elos
mandam que quo eu
ou compre.
compro. Compro então.ontao. Fico paupo’rrirna. ostou sendo
paupérrima. Mas estou sondo mo-
dorna, éo o que
derna, quo vale.
valo. Anunciarn roligiao tambom.
Anunciam religião Dovo-so ouvir
também. Deve-se ouVir o pastor tal eo tal.
roligiosa, aliás
Fico religiosa, alias ja acroditaVa em
já acreditava oIn Deus.
Dous. Me
Mo sinto protogida
protegida polo anuncio eo por
pelo anúncio
Dous. E a rádio
Deus. radio relógio
rologio pinga os minutos. Compro móveis movois na casa
oasa tal eo tal. E o
supormorcado? Encho
supermercado? Enoho o meu
mou carinho
oarinho de
do coisa
ooisa das quais não
nao prooiso, ato a boca
preciso, até booa
Dopois não
do carrinho. Depois nao tonho diroito para pagar. Abro o jornal, quero
tenho direito quoro memo refu-
rofu—
nolo. Mas eis
giar nele. ois que
quo anunciam dois apartamentos
apartamontos por andar. Que Quo faço?...
faoo?... A
propaganda me mo entra
ontra em
om casa. Mandam-me
Mandam-mo uma espécieospo’cio de
do aspirina para minhas
doros de
dores do cabeça.
cabooa. Sou sadia, nãonao tonho doros de
tenho dores do cabeça,
cabooa, mas tomo as pilulas.
pílulas.
Assim quer
quor Deus.
Dous. E o mundo...
Inundo... Estou arruinada mais
Inais feliz.
foliz. Sou uma mulher
mulhor quequo
compra tudo. E bebe
bobo tudo que
quo anunciam.
anunciam”. (Contra
(“Contra veneno.
vonono”. In: Lispoctor, 1975)
Lispector, 1975)
moios de
Os meios do comunicação,
comunioaoao, na visão
Visao de
do mundo
rnundo do porsonagom forno—
personagem imaginado, forne-
corn refúgio,
cem rofugio, induzem
induzom comportamentos,
comportamontos, produzem
produzom inserção
insoroao no mundo. A publioidado
publicidade
quo jorra das paginas
que páginas das publicaooos
publicações eo das emissões,
omissoos, sobretudo,
sobrotudo, a partir do cresci-
crosci—
monto de
mento do importância
importanoia econômica
oconomioa dos meios,
moios, pela
pola sua inclusão
inclusao junto ao publico,
público, colo-
om discussão
ca em discussao a questão
quostao do consumo.
ficcional, cada um desses
Como narrativa ficcional, dossos toxtos sao a rigor narrativas históricas,
textos são historicas,
polo simplos fato de
pelo simples do que
quo ambos os modos narrativos — historico eo o ficcional
o histórico ficcional —
invariavolmonto a vida
utilizam invariavelmente Vida cotidiana para a produoao
produção do toxto. Do uma experiên-
texto. De oXporién—
litorato produz um
cia no mundo, o literato urn toxto quo espelha
texto que ospolha uma realidade
roalidado pro—textual. Con—
pré-textual. Con-
tar nada mais
Inais éo do que
quo transformar algo de do que
quo se
so tom conhocirnonto em
tem conhecimento orn algo dizível,
diziVol,
ostabolooondo entre
estabelecendo ontro umurn eo outro momento
rnomonto mediações
modiaooos simbólicas.
simbolicas. Cada uma dessas
dossas
modiaooos fala de
mediações do um
urn mundo
rnundo existente,
oxistonto, transportando o discurso comum
cornurn sob a forma
do texto,
de toxto, que
quo nada mais éo’ do quequo imitação
imitaoao da vida.
Vida.
Sou
“Sou da imprensa anterior ao copy-desk.
(...) Na redação
redaeao não
nao havia
haVia nada da aridez atual
e pelo contrário: era uma cova de delícias.
contrario: — delicias. O
sujeito ganhava mal ou simplesmente não
nao ga-
nhava. Para comer, dependia de um vale utópi-
utopi-
co
eo de cinco ou dez mil-réis. Mas tinha a com-
pensação da glória.
pensaeao gloria. Quem redigia um atropela-
mento julgava-se
julgava-se um estilista. E a propria
própria vai-
dade o remunerava. Cada qual era um pavão
urn paVao
enfático. Escrevia na véspera
enfatico. EscreVia Vespera e no dia seguinte
via-se
Via-se impresso, sem o retoque de uma vírgula.
Virgula.
Havia
HaVia uma volupia
volúpia autoral inenarrável.
inenarravel. E ne-
nhum estilo era profanado por uma emenda,
jamais. Durante várias
Varias gerações
geraeoes foi assim e sem-
pre assim. De repente explodiu o copy-desk.
copy-desk.”
1977:64)
(Rodrigues: 1977:64)
A crítica
critica caústica
caustica que Nelson Rodrigues dirige às as mudanças
mudanoas introduzidas no jomalis-
jornalis-
mo a partir da reforma do Didrio Carioca36
Diário Carioca 36
no sentido de transforrnar noticias produ-
transformar as notícias
obj etividade, na verdade uma estratégia
zindo a aura de neutralidade e objetividade, estrategia de poder, aparece
memorias como um momento de singular importância
nessas memórias importancia e, mais do que isso, como
sendo obra de alguns poucos jovens jomalistas, visionarios de um novo tempo.
jornalistas, visionários
Na verdade, todo o processo de modernização
modernizaoao do jornalismo da década
decada de 1950
1950
serie de mudanças
sedimentou uma série mudaneas que ja
já vinham sendo implementadas desde a pri— pri-
de’cada do século
meira década seculo e que encontra na conjunta história
historia dos anos 1950
1950 eco favorá-
favora—
diseurso da neutralidade. Na década
vel ao discurso decada seguinte, as condições
condieoes politieas
políticas brasileiras
— 1964 e a censura àa imprensa —
o Golpe de 1964 consolidariam de vez o processo de
transformaeao do jornalismo carioca.
transformação carioea.
O que se procura construir naquele momento ée a autonomização
autonomizaeao do campo
jornalistico relaeao ao literário,
jornalístico em relação literario, fundamental para a autoconstrução
autoconstruoao da legitimida-
legitimida—
propria profissão.
de da própria profissao. Assim, as reformas dos jornais da década de 19501950 devem ser
construeao, pelos proprios
lidas como o momento de construção, próprios profissionais, do marco funda-
funda—
dor de um jornalismo que se fazia moderno e permeado por uma neutralidade funda- funda—
mental para espelhar o mundo. A míticamitica da objetividade — imposta pelos padroes
padrões
redacionais e editoriais —
ée fundamental para dar ao campo lugar autônomo
autonomo e reconhe-
reconhe—
cido, construindo o jornalismo como a única unica atividade capaz de decifrar
deeifrar o mundo
para o leitor.
Como enfatiza Ana Paula Goulart Ribeiro (2000:8),
(2000z8), a modernização
modernizaeao gráfica,
grafica, edi-
edi—
linguistica e empresarial dos jornais diários
torial, linguística diarios do Rio de Janeiro representa para a
instauraeao de um lugar institucional que lhe permite, a partir de então,
imprensa a instauração entao,
36 O Diário
36
Diério Carioca foi fundado em 1928 por José Eduardo Macedo Soares,
Soares, sendo vendido,
vendido, logo após
apés a
Revolugao Constitucionalista de São
Revolução 8510 Paulo, a Horácio
Horacio Gomes Leite de Carvalho Júnior.
JUnior. Uma breve história
histéria
do periódico
periédico pode também ser encontrada em Ribeiro, 2000.
2000.
37 O processo de modernização
37
modernizacéo da imprensa carioca na década de 1950 é exaustivamente estudado por Ana
Paula Goulart Ribeiro em sua tese de doutorado, um trabalho completo e definitivo para o entendimento dos
processos culturais envolvendo a mídia
midia no período.
periodo. Os dados factuais e muitas das reflexões
reflexées desse capítulo
capitulo
foram construídos
construidos tendo como referência
referéncia esse excelente trabalho.
trabalho. Cf.
Cf. Ribeiro,
Ribeiro, Ana Paula Goulart.
Goulart. Imprensa e
História.
Histéria. Imprensa do Rio de Janeiro de 1950.
1950. Rio de Janeiro: ECO-UFRJ,
ECO-UFRJ, 2000.
2000. Tese de Doutorado.
Doutorado.
O mercado jornalistico
jornalístico da década
Jornais/Ano 51 52 53 54 55 58 60
Dia’r/o Carioca 45 35 4O 4O 4O 17 17
Jorna/ do Brasil 6O 7O 45 4O 4O 57 59
Correio da Manhé 56 70 70 72 72 57 53
Fonte: Anudrio
Anuário Brasileiro de Imprensa (1950-57) e6 Anudrio
Anuário de Imprensa,
Imprensa, Rddio
Rádio e Televisão
Televisdo
(1958-60). Apud: Ribeiro, 2000:43
2000243
0 Didrio
O Diário Carioca e O 0 Jamal 350 os dois matutinos que tém
Jornal são têm o0 maior decréscimo
em suas tiragens: o0 primeiro roda 45 mil exemplares em 1951 1951 e em 1960
1960 esse
6556 nfimero
número
17 mil exemplares. Já
se reduz a apenas 17 J2’1 O
0 Jamal
Jornal inicia a década com 70 mil exempla-
1960 apenas 27 mil exemplares.
res e registra em 1960
N0
No que diz respeito aos vespertinos, observa-se um aumento expressivo das tira-
0 Globo ao longo da década de 1950
gens de O 1950 e um decréscimo considerável
considerével nos
nfimeros do Didrio
números Diário da Noiz‘e
Noite e de A Noticia.
Notícia. Os outros jornais mantêm
mantém números
nfimeros rela-
tivamente estáveis.
estéweis.
Fonte: Anudrio
Anuário Brasileiro de Imprensa (1950-57) e6 Anudrio
Anuário de Imprensa,
Imprensa, Rddio Televisdo
Rádio e Televisão
(1958-60). Apud Ribeiro (2002:43)
“Se vocês
Se vocés quiserem uma hierarquia, ée o seguinte: havia haVia mais ou menos
rnenos
17, 18
17, 18 jornais no Rio. Certamente,
Certarnente, disparado, o Correio
Carreia da Martha
Manhã era o0 mais
corn mais peso politico;
importante, com político; o Diaria a’e Naticias
Diário de Notícias era o0 segundo, pela
respeitabilidade. Era um jornal mais duro, menos malicioso. Nos melhora—
Nós melhora-
mos muito o Diaria a’e Naticias
Diário de Notícias —
quer dizer, o Odylo e a equipe que ele
levou. Em seguida vinha
Vinha O Jornal, dos Diários
0 Jamal, Diarios Associados, que tinha o seu
peso; o Diaria Cariaca, um jornal muito
Diário Carioca, Inuito vivo,
Vivo, muito inteligente, mas de tira-
gem relativamente pequena. Depois os jornais mais populares: populares: Gazeta de a’e
Naticias,
Notícias, O 0 Dia, de grande tiragem mas sem sern peso politico.
político. Os vespertinos
erarn O Globo,
eram Glaba, no principio,
princípio, A Naite,
Noite, o0 Diana
Diário daa’a Naiz‘e,
Noite, um jornal
jornal mais es-
candaloso, dos Associados, A Natz'cia, area popular, Correio
Notícia, na área Carreia da Naite,
Noite,
jornal dos padres, Vanguarda,
Vanguarda, jornal integralista. Entre os matutinos havia haVia
tarnbem O
também 0 Radical, um
urn jornal da sarjeta
sarj eta do PTB, do George Galvão.
Galvao. Urn
Um tipo
desclassificado, de baixíssima
desclassificado, baixissima extração.
extraeao”. (Depoimento Correia, Villas-Boas.
CPDOC—FGV, p. 13-14)
CPDOCFGV, 13-14)
Os trés
três jornais com tiragens menos
rnenos expressivas na época
epoca — o Diaria Cariaca, a
Diário Carioca,
Tribuna da Imprensa e o Jamal cla Brasil —
Jornal do ée que construirão
eonstruirao a mítica
mitica da moderniza-
moderniza—
eao, reafirmada
ção, reafirmada exaustivamente pelo discurso memorável memoravel dos personagens que se
responsaveis por esse processo. Entre eles figuram
autoapregoam responsáveis figuram Alberto Dines,
Pompeu de Souza e Luis Paulistano. O Diaria Cariaca passaria a história
Diário Carioca historia como o
criador do texto objetivo,
obj etivo, respondendo àsas perguntas fundamentais do leitor através
atrave’s do
1ide, graças
lide, graeas àa ação
aeao individual de Pompeu de Souza, que, tomando contato nos Estados
norte-arnericana fazia na época,
Unidos com o que a imprensa norte-americana e’poea, trouxera para o Brasil
inovaoao. O Jamal
a inovação. da Brasil, o
Jornal do 0 responsável
responsavel pela segunda revolução
revolueao da década
decada com
corn
rnudaneas implementadas a partir de 1956,
as mudanças 1956, teria realizado sua ampla reforma gra-
38 Há
38
Ha que se ter em conta a importância
importancia do chamado bacharelismo ilustrado no Brasil,
Brasil, que faz com que desde
o século XIX somente os bacharéis formados nos tradicionais cursos existentes no país pais fossem visualizados
como verdadeiros intérpretes do paíspais e capazes de conduzir a Nação.
Nagao. O simbolismo do anel de doutor e do
diploma de nível
nivel superior são
sao reafirmados ao longo
Iongo de décadas e nos anos 1920 se tornam indispensáveis
indispensaveis
para definir quem seria responsável
responsavel direto pela condução
condugao do país.
pais. Sobre o tema Cf.
Cf. Holanda,
Holanda, Sérgio Buarque.
Buarque.
Raizes do Brasil e Vianna, Oliveira. A Organização
Raízes Organizagao Nacional, entre outros.
outros. Para referência
referéncia completa,
completa, ver
Bibliografia.
“Quando a complexidade
Quando compleXidade dos acontecimentos foi obrigando o jornal
jornal a se
transformar num veículo
veiculo de notícias,
noticias, o jornal conservou essa reminiscência
reminiscéncia do
panfleto,
panfleto, inclusive porque era até
ate’ um capitis diminutio para o redator escrever
noticia pura e simplesmente. Ele seria um mero noticiarista, não
uma notícia nao um
urn reda-
tor. Era preeiso, entao, caprichar
preciso, então, capriehar na forma, castigar o estilo para noticiar qual-
qual—
Corn a ocupação
quer coisa. Com oeupaeao e o dinamismo que foram tomando conta da vida, Vida,
ninguem tinha mais tempo de ler esse tipo de noticiário.
ninguém noticiario”. (Idem, ibidem)
“Desde o começo,
Desde comeco, ela procurou efetivar aquilo que sempre pensara, em ern
urn grande jornal da cidade. Aquele jornal que ela
fazer do Jornal do Brasil um
dizia — nos nos dissemos várias
nós Varias vezes — indispensavel, sem o qual
que fosse indispensável,
ningue’m pudesse participar da vida
ninguém Vida politica, Vida social, da vida
política, da vida Vida esportiva,
urn jornal para todas as classes. (...) Mas tinha havido
um haVido experiências
experiencias anterio-
res. A experiência
experiencia do Diário
Diario Carioca, com
corn Danton Jobim e Pompeu de Souza,
mais o0 Luís
Luis Paulistano. Danton e Pompeu, que foram os homens que proj eta-
projeta-
realizacao. Houve ainda as experiências
ram e Paulistano que ajudou a realização. experiencias da
Ultima Hora.
Tribuna da Imprensa e da Última Hora”. (Idem,
(Idem, ibidem)
Aliado àa decisão
decisao da Condessa e às
as experiências
experiencias anteriores de alguns poucos visio-
Visio—
narios, ée indispensável,
nários, indispensavel, no dizer de quem participa do processo de modernização,
modernizacao, o
génio criativo daqueles que anteriormente moldaram esse mesmo processo em outras
gênio
empresas.
“Entao, confluem
Então, confluern para o Jornal do Brasil, fornecendo gente, fornecendo
experiencias anteriores. Por outro lado, o
know-how de equipes, essas experiências 0 Cor-
Manha era um concorrente sério, tarnbem
reio da Manhã também comcorn pequeno anúncio.
anuncio. E
tambe’m começava
O Globo também comecava a penetrar na faixa do pequeno anúncio.
anuncio. Tanto
ate’ hoje ele divide
que até diVide com o
0 JB este mercado. O Globo ée dirigido por um urn
homem de imprensa, um homem sempre atento àa renovação.
renovacao. Estabeleceu-se
Estabeleceu—se
entao uma emulação
então emulacao natural e o Jornal do Brasil foi o coroamento desse pro-
cesso. Eu acredito que, ainda que nãonao houvesse o surto desenvolvimentista,
desenvolVimentista,
episodio estaria enquadrado dentro da história
este episódio histéria de uma empresa privada,
que é herdada por uma mulher excepcional, envenenada desde a infância
infancia pelo
p_elo
Virus do jornalismo, desejosa de
vírus deter urn grande jornal nas suas mãos.
ter um maos. De ma-
neira que eu atribuo o Jornal do Brasil mais àa presenca
presença da condessa Pereira
“Quem fez a reforma foi o Odylo Costa Filho, que eu conhecia bem, com
Quem
o Arnilcar
Amílcar de Castro, que eu conhecia muito bem, porque ele tinha sido
diagramador da Manchete. Enquanto eu trabalhava na Manchete, ele tambe’rn
também
la, levado pelo Otto. Mas, na Manchete, ele fazia uma coisa meio
estava lá,
quadrada. Foi no Jornal do Brasil que ele criou um modelo de jornalisrno
jornalismo que
Vige até
vige ate’ hoje. Durante 30 anos, foi copiado do Oiapoque ao Chuí.
Chui. Foi a mais
grafica feita no Brasil. Gráfica
importante reforma gráfica Grafica e jornalistica
jornalística tambe’m,
também, eu
acho”. (Dinis, Alberto. In: Abreu, Lattman-Weltman
acho. Lattrnan-Weltrnan e Rocha, 2003:87)
“Em 1965,
Em 1965, no dia em que a TV Globo foi ao ar, fiz fiz um memorando de
umas quatro ou cinco paginas,
páginas, para todas as chefias,
ehefias, dizendo assim: Hoje
comeea uma fase diferente do jornalismo. (...) Sugeri então
começa entao tudo aquilo que
eu tinha pensado nos Estados Unidos: um jornal jornal mais qualitativo, mais
refereneial, mais organizado —
referencial, porque era muito comum
eomum você
voeé ver um assunto
la na pagina
aqui, e o mesmo assunto estar lá página de esporte, digamos — um jornal
reVista. Ao mesmo tempo, as matérias
quase revista. materias do departamento de pesquisa
passariam a ser assinadas pela pesquisa, para o jornal ter um diferencial. Nos
Nós
iriamos vender um jornal mais qualificado.
iríamos gualifieado”. (Dines, idem:
ia’em: 91. Grifos nossos)
“Quando fizemos
Quando fizemos instalar nas editorias do Jornal do Brasil aparelhos de
TV, para que suas equipes assistissem aos principais programas noticiosos,
notieiosos,
politicas
Tribunas políticas
decada de 1950
Entre os jornais surgidos na década 1950 estão
estao a Tribuna
Tribzma da Imprensa e Última
Ultimo:
Hora, criados naquele periodo,
período, a partir da vinculação
Vinculaeao estreita de seus proprietarios
proprietários
com a politiea.
política.
1949, colabora diariamente com
Carlos Lacerda, em 1949, corn uma coluna no Correio da
Marthe? “Tribuna da Imprensa
Manhã intitulada Tribuna Imprensa” e por divergência
divergencia com a direção
direeao do jornal
urn jornal em que possa exercer claramente sua opinião
resolve fundar um opiniao e, sobretudo,
urn ponto da sua trajetéria
seja um direeao ao campo politico.
trajetória em direção político. Ser jornalista para
Carlos Lacerda — como para diversos jornalistas desde o século
se’culo XIX — espe’cie
é uma espécie
indispensavel para ocupar um
de meio do caminho indispensável urn lugar representativo na politica.
política.
“O primeiro número
O numero era feio. Nao
Não trazia nenhuma contribuição
contribuieao às
as artes
graficas e o proprio
gráficas próprio papel, importação
importaoao francesa, pouco encorpado, não
nao ajuda-
aj uda—
Va a apresentação.
va apresentaeao. O título
titulo do jornal, encimando a pagina,
página, em toda a exten-
exten—
sao, quebrava o usual dos vespertinos, assemelhando-a
são, assernelhando-a mais a um
urn matutino.
Urn único
Um unico clichê,
cliche, uma reprodução.
reprodueao. Títulos
Titulos sem grande destaque. Uma pagina
página
maeuda.” (Oliveira, 1966:188)
maçuda. 1966: 188)
“Carlos Lacerda
Carlos Laeerda estava sempre a par do desenvolvimento da imprensa
nao cabe dúvida
mundial e não duVida de que a moderna imprensa do Brasil muito deve,
notieiario e apresentação
em estilo, agressividade, noticiário apresentaeao gráfica,
grafica, ao dinamismo e àa
Visao do fundador da velha
visão ‘Velha tribuna’ Laeerda era
tribuna (...). Um dos empenhos de Lacerda
trazer para o jornal pessoas que, em sua opinião,
opiniao, tivessem o dom e o dinamis-
necessarios para renovar a folha. Gente como Carlos Castelo Branco,
mo necessários
He’lio Fernandes, Odylo Costa Filho. Membros da nova equipe do Jornal do
Hélio
Mario Faustino e Alberto Dines, passaram pela velha
Brasil, entre eles Mário “velha Tri-
buna’ e lá
buna la ficaram
ficaram mais ou menos tempo.” 1982258)
tempo. (Baciou, 1982:58)
Na declaração
declaraeao acima
aeima sobressai não
nao apenas o poder —
de fato — que detinha
detinhajunto
junto ao
presidente, assumindo a função
funeao de quase
“quase um conselheiro
conselheiro” e, algumas vezes, emissá-
“emissa—
rio”, mas o orgulho porter
rio, aleado esta posição.
por ter alçado posioao. Nesse papel privilegiado — refe—
mas refe-
rendando a cada momento o fato de continuar sendo jornalista — nenhum outro profis-
profis-
rivalizar—se com Wainer.
sional poderia rivalizar-se
fundaeao do jornal, Samuel Wainer lembra como foi sua passagem de
Sobre a fundação
reporter dos Associados para dono de jornal.
repórter
A proximidade de Getúlio
Getfilio ée fundamental inicialmente para o repórter
reporter e, posterior—
posterior-
empresario da imprensa. No início,
mente, para o empresário inicio, Getúlio
Getfilio era
A campanha eleitoral, segundo seu depoimento, foi objeto de frieza por parte da
imprensa. Assim, o proprio Getfilio incentiva Samuel a criar um jornal
próprio Getúlio opuses—
jornal que se opuses-
se àa conspiração
“conspiraeao do silêncio
silencio” que a imprensa lhe impusera. Wainer funda, então, entao,
grafica, a Érica,
duas empresas: uma gráfica, Erica, e a outra editorial, a Editora Última
Ultima Hora (Ribei-
ro, 2000).
Viabilizar a primeira, consegue recursos com o banqueiro Walter Moreira
Para viabilizar
Salles, com Ricardo Jafet, presidente do Banco do Brasil, e com Euvaldo Lodi, em-
presario e presidente da Confederação
presário Confederaeao Naeional Indl’istria. Obteve ainda um em-
Nacional da Indústria. em—
pre’stimo de 26 milhões
préstimo milhoes junto ao Banco do Brasil, que, além
ale’m disso, absorveu a dívida
divida
Economica Federal. Para viabilizar
da empresa com a Caixa Econômica Viabilizar a Editora Última
Ultima Hora
Hipotecario de Crédito
consegue recursos do Banco Hipotecário Cre’dito Real, através
atrave’s da intermediação
intermediaeao
entao governador de Minas. (Idem,
de Juscelino Kubitschek, então (Idem, ibidem)
“Portanto a Última
Portanto Ultima Hora nãonao foi criada acidentalmente, ela ia sendo cria-
cria—
da àa medida que a gente criava novos quadros e novas ideias. Eu senti que a
Getl'ilio me dava uma comunicação
popularidade de Getúlio comunicaeao com todas as camadas
comunicaeao com a camada dirigente do
sociais e a linha nacionalista me dava comunicação
Entao, a Ultima
novo empresariado brasileiro. Então, Última Hora foi, realmente, um produto
ViVéncia jornalistica
de uma imensa vivência jornalística e politiea”. “Jornalistas
política. (Wainer, S. In: Jornalistas
Historia”. Depoimento a Wianey Pinheiro. Folha de S.
contam a História. S. Paulo)
“Ele (Getúlio
Ele (Getulio Vargas) andando de um lado para o outro. Isso eu nunca
comissoes de inquérito,
contei em comissões inquerito, nada, mas ja Varios lugares. Ele
já contei em vários
me disse: Por que tu nãonao fazes um jornal? Eu disse: olha presidente, todo
reporter quer fazer um jornal, ainda mais um repórter
repórter reporter como eu, que ja fiz, e
já fiz,
que estou sendo convidado a fazer um jornal que não nao seria de oposição.
oposieao.
Contraria a tradieao
tradição da imprensa brasileira e do Rio de Janeiro, que é que
so jornal de oposição
só oposieao vence:
venee: acontece que o senhor ée um líder
lider de oposição.
oposieao.
Eu faria um jornal que apoiasse seu pensamento. O seu pensamento ée con- con—
tra. Eu gostaria de fazer um jornal desses. Ele disse: então
entao faça
faea (...) Eu disse:
(...) em 45 dias lhe dou um jornal. Então
Entao não
nao falemos mais nisso. Boa—noite
Boa-noite
profeta. Boa-noite,
Boa—noite, Presidente. E aí
ai nasceu a Última
Ultima Hora.
Hora”. (Wainer, Samuel.
16/89, do material bruto de S.W. In: Rouchou, op.
Fita n. 5, 16/89, op. cit.:
Cir; 66)
Entrotanto, as fórmulas
Entretanto, fOrrnulas redacionais,
rodacionais, editoriais
oditoriais eo administrativas implementadas
implornontadas
polo novo poriodico
pelo nao eram
periódico não oram novas na imprensa
impronsa do Rio: a cor fora utilizada pola
pela
primoira vez
primeira voz ja om 1907
já em 1907 pola
pela Gazeta de Noticias; fotografia ocupando
Notícias; a fotografia ooupando a pagina
página
intogralmonto
integralmente fora usada por infimoras publicaooos
inúmeras publicações ao longo do
de toda a primoira déca-
primeira déca—
soculo XX; tambom
da do século doixara de
também a caricatura nunca deixara do fazer
fazor parto rocursos grá-
parte dos recursos gra—
ficos dessa
ficos dossa imprensa.
impronsa. Portanto, a renovação
ronovaoao que
quo Última
Ultima Hora realiza
roaliza na imprensa
impronsa do
urn discurso mítico.
Rio é muito mais um mitico.
Nas palavras do proprio
próprio propriotario
proprietário
“o jornal não
o nao causou
oausou grande
grando impacto inicial. O possoal impronsa logo
pessoal da imprensa
om cima, de
foi em do onde
ondo eu
ou realmente
roalmonto aprendi
aprondi que
quo um
urn jornal nasce
nasoo aos poucos e, o,
dopois que
depois quo se
so cria
oria uma imagem,
imagom, nunca mais acaba.
aoaba”. (Wainer,
(Wainor, Fita n. 13,
13, p. 2/
do S.W. In: Rouchou, op.
289, material bruto de op. cit.: 79)
A construção
construoao dessa
dossa imagem
imagom de do jornal que
quo mais renovou
ronovou a imprensa
impronsa brasileira
brasiloira dos
1950 foi sendo
anos 1950 sondo efetivada
ofotivada não
nao só
so naquele
naquolo poriodo, oomo postoriormonto,
período, como atraVos
posteriormente, através
roitoradamonto repetidos
dos discursos reiteradamente ropotidos dos proprios
próprios jornalistas que,
quo, assim, constroem
constroom
Ultimo Hora como
Última oomo espécie
ospo’cio de
do jornal símbolo,
simbolo, sobretudo,
sobrotudo, porquo
porque éo produto da ação
aoao eo
idoalizaoao de
da idealização do um
urn personagem
porsonagom que quo nunca deixou
doixou de
do ser
sor jornalista.
Ao alinhar uma série
sorio de
do depoimentos
dopoimontos de
do jornalistas que
quo trabalharam no jornal
jornal nos
do 1950,
idos de 1950, num trabalho (Barros, 1978)
1978) em
om que
quo prooura domonstrar que
procura demonstrar quo Última
Ultimo:
Hora promove
promovo a mais drástica
drastica renovação
ronovaoao na fórmula
formula de
do fazer
fazor jornal, sobrossai na fala
jornal, sobressai
dossos atores
desses atoros sempre
sompro essa
ossa construção.
oonstruoao. Última
Ultima Hora, mais do que
quo um
urn jornal, passa a
sor uma espécie
ser ospo’cio de
do sonho.
4° Sobre as contribuições
40
contribuigoes técnicas da UH para a renovação
renovagéo da imprensa brasileira,
brasileira, cf. Barros (1978).
(1978).
No mesmo período,
periodo, inicia-se
inicia—se vertiginoso processo de concentração
concentraeao dos periodi—
periódi-
alcanearia o seu auge na década
cos, que alcançaria decada seguinte. Paralelamente há
ha a explosão
eXplosao do
que poderia se designada como a segunda fase de apogeu do jornalismo popular,
representado pelo sucesso editorial do jornal O
0 Dia.
Ao final
final da década,
de’cada, publica—se
publica-se no pais media de um exemplar de jornal diário
país a média diario
para 22 pessoas e 90% dos periodicos
periódicos do pais sao editados no Rio e em São
país são 8210 Paulo.
A tiragem dos jornais permanece praticamente estacionada e atribui-se àa televisao
televisão a
responsabilidade por este cenário,
cenario, uma vez que dos 600 bilhões
bilhoes de cruzeiros
oruzeiros investi-
dos com propaganda no pais,
país, naquele momento, 35 por cento são
sao destinados àa televi—
televi-
sao (Rego, 1969).
são 1969).
42 Não
42
Néo é objetivo deste livro
Iivro a história
histéria da televisão.
televiséo. Entretanto, não
néo é possível
possivel falar em história
histéria da imprensa
sem se referir, mesmo que brevemente, à a televisão.
televiséo. Sobre o tema,
tema, cf.
cf. os
05 trabalhos de Caparelli,
Caparelli, Mattos e
referéncias completas,
Sodré. Para referências completas, ver Bibliografia.
Bibliografia.
44 Cf. edições
44
edicoes do Diário
Diério de Notícias,
Noticias, Diário
Diério Carioca,
Car/00a, O Globo e Correio da Manhã
Manha" de 6 de agosto de 1954,
1954, p.
p. 1.
1.
“Escorracado, amordaçado
Escorraçado, amordacado e acovardado deixou o poder como imperati-
legitima vontade popular, o
vo da legítima 0 sr. João
J0510 Belchior Marques Goulart, infame
lider dos comuno-carreirista-negocistas-sindicalistas.
líder comuno—carreirista—negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatu- gatu—
historia brasileira ja
nos que a história J0510 Goulart passa outra vez àa
já registrou, o sr. João
historia, agora tambe’m
história, também como um dos grandes covardes que ela elaja conheceu”.
já conheceu.
(Tribuna da Imprensa, 2 abril de 1964, 1964, p. 1)l)
“A nação
A nacao saiu vitoriosa
Vitoriosa com o afastamento do sr. João
J050 Goulart da Presi-
dencia da República.
dência Republica. Nao possivel mais suportá-lo
Não era possível suporta-lo em consequência
consequencia de
administracao que estabelecia, em todos os setores, o tumulto e a
sua nefasta administração
pais foi vítima
desordem. O país Vitima de uma terrível
terrivel provacao
provação que abalou a sua pro—
pró-
democratica”. (Correio da Mani/1d,
pria estrutura democrática. Manhã, 1º1°abril 1964, p. 1)
abril de 1964, 1)
Assim:
“Nao admitimos —
Não isencao que para se restau—
e o fazemos com autoridade e isenção restau-
restabeleca o arbítrio
rar a disciplina se restabeleça arbitrio de quem quer que seja. Nao
Não podemos
restrinj am a liberdade de imprensa, a liberdade de
consentir que levemente se restrinjam
reuniao, a liberdade sindical, a liberdade partidaria,
reunião, partidária, ou melhor, que sofra o
arranhao a livre manifestação
menor arranhão manifestacao das ideias. (Idem,
(Idem, ibidem. Grifos nossos)
“Vive a Nacao
Vive unir—se todos os patriotas,
Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se
Vinculacoes politicas,
independente de vinculações opiniao sobre problemas
políticas, simpatias ou opinião
isolados para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças
Gracas a
decisao e ao heroísmo
decisão heroismo das Forças
Forcas Armadas, que obedientes a seus chefes de-
Visao dos que tentavam destruir a hierarquia e a discipli-
monstraram a falta de visão discipli—
na, o0 Brasil livrou-se do Governo irresponsável,
irresponsavel, que insistia em arrastá-lo
arrasta-lo para
contrarios a sua vocação
rumos contrários vocacao e tradições.
tradicoes”. (O
(0 Globo, 2 abril de 1964,
1964, p. 1) 1)
“Sob a alegação
Sob alegacao de que cumpriam
cumpriarn ordens do Governo, tropas embaladas
ernbaladas
do Corpo de Fuzileiros Navais impediram ontem pela manhã
manha a circulação
circulacao de
0 Globo e da Tribuna da Imprensa, invadindo as redações,
O redacoes, paralisando as
maquinas e dando ordens aos funcionários
máquinas funcionarios para que se retirassem.
retirassern. Nos dois
alrnirante Candido Aragao
casos, o almirante ocupa—
Aragão compareceu depois de efetuada a ocupa-
cao, acompanhado
ção, acornpanhado de um assessor portando metralhadora,
rnetralhadora, sendo que no Glo-
adverténcia (sempre com a
bo invadiu o gabinete dos diretores e fez uma advertência
metralhadora apontada) para que não
nao ousassem desobedecer a ordens.
ordens”. (Cor-
reio da Manhfi, 1964, p. 2)
Manhã, 2 abril de 1964,
nao a ação
No dia seguinte, em editorial, repudia não acao dos militares ao deporem o
0 pre-
rnas a investida contra os jornais, estampando com
sidente, mas corn destaque, na pagina
página 6, o
titulo Basta: fora a ditadura!
título ditadura! O texto, entretanto, investe veementemente contra a des-
des—
truicao dos jornais, deixando clara a aliança
truição alianca entre os periodicos
periódicos que propugnarn
propugnam pelo
legitimo de intérpretes
papel legítimo interpretes da realidade social. E, neste papel, podern
podem tudo falar,
tudo fazer. O0 editorial, na verdade, é um libelo contra o então
entao governador Carlos
Lacerda e a investida da DOPS da Guanabara contra alguns jornais.
“A Divisão
A Divisao de Ordem
Ordern Política
Politica e Social da Guanabara informa ter descober-
descober—
urn plano dos subversivos, para ocupar e empastelar os jornais, inclusive
to um
esse jornal. Essa informação
informacao não
nao nos assusta. Esses Planos Cohen, pré—fabrica—
pré-fabrica-
dos, ja nao assustam ninguém.
já não ninguem. Apenas enfeitam de colorido histórico
historico as outras
informacoes, admissões
informações, admissoes e confissões
confissoes dessa DOPS, que representa a ordem po-
litica e social do sr. Carlos Lacerda.
lítica Lacerda”. (Correio da Martha, 1964, p. 6)
Manhã, 2 abril de 1964,
“so uma
Só urna ilegalidade a DOPS nãonao confessa, nem menciona: a invasão
invasao e a
destruicao do vespertino Última
destruição Ultima Hora. Pode-se
Pode—se discordar — corno discorda-
como
mos — orientacao desse jornal. Mas ée’ um jornal. O ataque a esse como a
da orientação
qualquer jornal ée’ crime contra a liberdade de imprensa. Advertimos todos os
jornais da Guanabara e do país:
pais: se o0 crime contra aquele vespertino ficar
ficar
acabou”. (Idem,
impune, a liberdade de imprensa no Brasil acabou. (Idem, ibidem)
0 depoimento
O depoirnento de Danton Jobim revela a existência
existéncia de formas de pressao
pressão e contro-
extrapolarn as determinações
le que extrapolam determinacoes do Executivo. Investidos no papel de exercer a
seguranca, os agentes encarregados de fazer funcionar a máquina
segurança, maquina burocrática
burocratica do con-
con—
informacoes agem de forma autoritária,
trole das informações autoritaria, ainda que na pratica nao existam
prática não
respaldern.
medidas legais que os respaldem.
No período
periodo Costa e Silva a situação
situacao se agrava.
45 Em outubro de 1961,
45
1961, o então
entao governador da Guanabara, Carlos Lacerda,
Lacerda, vende a Tribuna
Tribuna da Imprensa a
direcao a Mário
Manuel Francisco do Nascimento Brito, que entrega sua direção Mario Faustino e Paulo Francis.
Francis. Pouco
tempo depois,
depois, em 12 de março
marco de 1962,
1962, o jornal é vendido a Hélio Fernandes. Sob sua direção
direcao a Tribuna
Tribuna faz
oposição
oposicao a Goulart,
Goulart, apoia o golpe de 64,
64, mas,
mas, em seguida, passa a combater o governo Castelo Branco.
Branco.
Quatro dias antes das eleições
eleigoes legislativas de 1966, Hélio Fernandes tem sua candidatura a deputado federal
pelo MDB impugnada. Em julho de 1967, por ocasião
ocasiao da morte de Castelo Branco,
Branco, escreve violento editorial
sobre o ex-presidente, que provoca indignação
indignacao nas Forças
Forcas Armadas e o leva àa prisão,
prisao, durante 30 dias,
dias, em
Fernando de Noronha. Ver DHBB,
DHBB, op.
op. cit.
cit.
“Reporteres e fotógrafos
Repórteres fotografos eram caçados,
cacados, ameaçados
ameacados ou agredidos em via Via
publica
pública pelos belequins, quando cumprindo a sua missão.
missao. (...) E culminaram
facanha na hora em que, através
essa façanha atraVés do ofício
oficio do CONTEL, o Governo reti-
Radio Jornal do Brasil, porque esta emissora realizava a tarefa
rou do ar a Rádio
orgao de imprensa, isto é, informar e relatar os
normal e natural de qualquer órgão
acontecimentos”. (Correio da Mani/167,
acontecimentos. 1968, p. 1)
Manhã, 5 abril de 1968, 1)
“Para não
Para nao serem fotografados enquanto transportavam mais de 300 pes-
haViam saído
soas que haviam saido do cinema Metro-Copacabana eeArt—Palacio, oficiais e
Art-Palácio, oficiais
soldados do Forte de Copacabana prenderam na madrugada de ontem, na
esquina da AV.
Av. Atlantica
Atlântica com Joaquim Nabuco, um repórter
reporter do Correio da
Manha, um motorista e quatro repórteres
Manhã, reporteres do Jornal do Brasil, levando-os
levando—os para
camioneta”. (Correio da Martha,
o Forte, dentro da camioneta. 1968, p. 3)
Manhã, 6 abril de 1968,
Na pagina
página 5 publicam a íntegra
integra da Portaria nº
n0 117
117 —
GB, que proibe acao da
proíbe a ação
Frente Ampla e a divulgação
divulgacao de qualquer atividade
atiVidade dessa Frente. O documento deter-
47 Em 1969
47
1969 o Correio da Manhã
Manha" foi arrendado por um prazo de cinco anos a um grupo liderado
Iiderado por Maurício
Mauricio
Nunes de Alencar, irmão
deAIencar, irméo de Marcelo Alencar,
Alencar, que viria a ser governador do Rio de Janeiro,
Janeiro, ligado à
a Compa-
Compa—
nhia Metropolitana, uma das maiores empreiteiras de obras do país.
pais. O jornal deixaria de circular em 8 de julho
de 1974.
1974. Sobre o período
periodo final do Correio da Manhã,
Manha", cf.
cf. o
0 próximo
proximo capítulo.
capitulo.
A censura prévia
pre’Via exercida por censor enviado
enViado àa redação
redacao ée aplicada
aplieada de modo pon—
pon-
tual e, sobretudo, sem regras claras (Kucinski, 2002:534). Para Kucinski, entretanto,
esses movimentos incidentes de censura sãosao frequentes. Citando o levantamento rea-
rea—
lizado por Paolo Marconi (1979) e as conclusões
conclusoes de Aquino (1990), o autor procura
mostrar que a censura se direciona a uma multiplicidade de assuntos e com uma fre-
quéncia tambem
quência também digna de nota. A frequência
frequéncia e a incidência
incidéncia de bilhetinhos e telefone—
telefone-
mas aos jornais sobre temas proibidos ou sensíveis,
sensiveis, conforme levantamento de Marconi,
atiVidade ampla.
sugerem uma atividade
Para Kucinski, é a falta de regras claras para a aplicação
aplicacao de censura pre’Via
prévia que
leva os jornais a adotarem cada vez mais a autocensura. Antecipando-se
“Antecipando—se a essas re-
re—
presalias, imprevisíveis,
presálias, imprevisiveis, tentando adivinhar
adiVinhar as idiossincrasias do sistema, jornalistas,
editores e donos de jornais esmeravam-se na autocensura, no controle antecipado e
voluntario das informações
voluntário informacoes” (Idem: 526). Segundo ele, o exercício
exercicio generalizado da
autocensura, estimulado por atos isolados de censura, determina o padrao
padrão de controle
informacao durante os dezessete anos do regime autoritário,
da informação autoritario, sendo os demais mé-
me-
todos — pre’Via e expurgos de jornalistas —
censura prévia acessorios e, sobretudo, instrumen-
acessórios
implantacao da autocensura. Isso tambe’m
tais para a implantação opiniao de Kucinski,
também explicaria, na opinião
“apenas quinze jornalistas terem sido processados por crime de imprensa, a
o fato de apenas
dem’mcias de corrupção
maioria em casos ligados a denúncias corrupcao ou mandonismo
mandonismo” (op.(op. cit.:
Cir; 536).
Parece demasiadamente simplista explicar essa falta de envolvimento contra o
inclusao e aderência
cerceamento da liberdade de imprensa e a ampla inclusão aderéncia ao regime auto-
ritario por uma espécie
ritário espe'cie de medo preVio
prévio da censura. Preferimos acreditar que, tal como
estamos mostrando, historicamente o jornalismo e os jornalistas se imiscuem às as cer-
cer—
dai advindas.
canias do poder, procurando as benesses daí adVindas. A construção
construcao de defensores do
Assim, é o simbolismo
simbolisrno que a profissao
profissão desempenha —
o poder simbólico
simbolico que de
fato possui —, argumentacao do jornalista, que faz com
, na argumentação corn que todas as ações
acocs sejam
sejarn
desculpadas. ÉE como se
sc tudo fosse
fossc válido,
Valido, desde que assim continue a ser
scr jornalista:
jornalista:
“Se alguém
Se algue’m for trabalhar num
nurn jornal, numa rádio
radio ou
on numa televisao,
televisão, e
achar que pode escrever ou dizer o que quiser, estáesta redondamente enganado,
nao vai conseguir. Mas nós
não nos sabemos que existem
existern brechas, e isso sempre
sernpre exis-
tira. Toda vontade humana, todo pensamento humano, todo comportamento
tirá. comportarnento
historia da humanidade, sempre encontrou uma forma
humano, ao longo da história
expressao. Nunca conseguiu ser abafado integralmente, ée impossível.
de expressão. impossivel. Da
mesma maneira não nao se inventou até
ate hoje nenhum
nenhurn sistema de poder capaz de
contentar a todos os seus componentes. Isso nãonao existe, nunca existiu, alguém
algue’m
ficar de fora, alguém
vai ficar alguern vai ficar
ficar contrariado. Mas vocêvocé sempre
sernpre encontra
expressao. Você
uma forma de expressão. Vocé pensa: hoje não
nao pude dizer isso, mas
rnas se eu sair
ai mesmo ée que vou dizer zero.
fora daqui, aí zero”. (Idem,
(Idem, ibidem)
48 Cf., sobretudo,
48
sobretudo, Aquino (1990) e Soares (1989).
(1989).
A história
4"A
49
histéria da aliança
alianga entre os jornalistas e o
0 general Golbery do Couto e Silva durante a abertura é estudada
por Duarte (1987).
(1987).
O
“O Globo publicou no dia 9 deste mês,
més, as
suas declarações
declaracées sobre o
0 caso do Correio.
Corrcio. No
18, o Mauricio
dia 18, Maurício Alencar usou do direito de
dc
resposta. Nao
Não quero que essa polémica
polêmica se travc
trave
nas colunas do O
0 Globo. Estamos asfixiados
asfixiados com
o preco
preço do papel
papcl e estamos comprimindo cada
dia mais o jornal. N510
Não publicarei, também, mais
nada do que pedir o Mauricio
Maurício Alencar. Por isso,
muito a contragosto, deixo de
dc publicar a sua car-
ta. Um abraço
abraco do Roberto.
Roberto”. (Carta de
dc Roberto
Marinho a Niomar Bittencourt, 21
21 de junho
junho de
1974.
1974. NMS 69.09.07. Documentos CPDOC)
A carta de
dc Roberto Marinho, dono de
dc O
0 Globo, àa proprietaria
proprietária do Correio da Mani/1d,
Manhã,
Niomar Bittencourt,
Bittcncourt, no auge
augc da crise do jornal, que levaria
lcvaria ao seu
scu término dias depois,
cm 8 de
em dc julho de
dc 1974,
1974, serve para introduzir um
urn dos cenários
ccnarios mais expressivos
cxprcssivos da déca-
dc 1970,
da de 1970, na imprensa
imprcnsa carioca: o desaparecimento
dcsaparccimcnto dedc inúmeros
inumcros pcriédicos.
periódicos.
Nos anos 1970,
1970, deixam
dcixam de
dc circular além do Correio da Marthe?
Manhã (1901-1974), o0
Didrio d6 Noticias
Diário de (1930-1976)”,
Notícias (1930-1976) 50
, Didrio (1928-1965)51
Diário Carioca (1928-1965) 51
ec O Jamal
Jornal (1919-
50A
50
A crise financeira do jornal acentua-se
acentua—se na década de 1960,1960, fazendo com que alcance um déficit,
déficit, em 1968,
1968,
de cerca de Cr$ 8 milhões.
milhées. O proprietário
proprietario do periódico
periédico João
Joao Dantas passa o Diário
Diario para Delfim Neto, então
entao
ministro da Fazenda. Pouco tempo depois, o matutino é vendido ao deputado Ricardo Fiúza. Fil’Jza. Em 1974,
1974, o
jornal passa para as mãos
maos de Joaquim Pires Ferreira e, deste, deste, para Olímpio
Olimpio de Campos,
Campos, que o edita até
novembro de 1976,
1976, quando saiu o seu último
L’Iltimo número.
nl'Jmero. Cf. Ribeiro,
Ribeiro, 2000:
2000: 72.
72.
51 Ribeiro (2000: 97-98) identifica o início
51
inicio da crise do Diário
Diario Carioca
Car/00a em 1957,
1957, quando a tiragem média do jornal atinge
menos de 20 mil exemplares. Em 1961, no início inicio do governo de Jânio
Janio Quadros,
Quadros, é vendido a Arnon de Mello,
Mello, político
politico
udenista de Alagoas (pai do futuro presidente Fernando Collor de Melo). Um ano depois, depois, novamente é vendido,
vendido, desta
vez a Danton Jobim. A partir daí, dai, apoia o governo de João
Joao Goulart. A adesão à
Goulart. Aadesao a política
politica trabalhista (expressa no apoio
a JK e a Jango) marca o inícioinicio da decadência
decadéncia do jornal.
jornal. As
“As tiragens diminuíam
diminuiam conforme o jornal ia perdendo sua
influência
influéncia política,
politica, tradicionalmente identificada
identificada a uma postura oposicionista.
oposicionista. Em 1965,
1965, Horácio
Horacio de Carvalho readquiriu
o jornal, para fechá-lo
ojornal, fecha-Io com a propriedade do título.
titulo. O último
ultimo número
nL’Jmero saiu dia 31
31 de dezembro.
dezembro.”
As mudanças
mudancas por que passa a imprensa da cidade se iniciam com uma crise repre-
culminara com o desaparecimento do Correio da Martha,
sentativa e que culminará Manhã, em meados
1970,
dos anos 1970, mas que a rigor ja e
já é sentida desde a decada
década anterior.
Em 7 de setembro de 19691969 ée assinado um contrato entre Niomar Moniz Sodré Sodre’
Bittencourt, diretora proprietaria Manha S/A, desde a morte de seu
proprietária do Correio da Manhã
Mauricio Nunes de Alencar e Frederico A. Gomes da
marido Paulo Bittencourt, e Maurício
Silva, do grupo de empresas que tinha na Cia. Metropolitana de Construções
Construcoes (atuando
no ramo de estradas de rodagem) a sua principal organização.
organizacao. O contrato entra em
vigor no dia 1313 de setembro daquele ano, pelo prazo de quatro anos e cinco meses,
expirar—se no dia 12
devendo expirar-se 12 de fevereiro de 1974.
1974. Por este contrato, a Cia. Metropo-
Metropo—
litana adquire o direito de utilizar o parque gráfico,
grafico, as instalações
instalacoes administrativas, a
redacao na sede e nas sucursais e o título
redação titulo Correio da Marthe?
Manhã para publicar o jornal.
jornal. A
Manha S/A continua em mãos
empresa Correio da Manhã maos de Niomar Bittencourt, que teria
funcao supervisionar a execução
como principal função execucao do contrato (NMS 69.09.07. Resu-
mo da Aplicacao
Aplicação do Contrato. Arquivo CPDOC,
CPDOC, FGV).
construcao de estradas de roda-
O interesse de um grupo empresarial do ramo de construção roda—
gem ée explicado em função
funcao das ligações
ligacoes existentes entre esses empresários
empresarios e o futuro
Mario Andreazza, que possui aspirações
ministro dos Transportes, Mário aspiracoes politicas
políticas maiores.
Para tanto necessita de um jornal para lhe dar sustentação.
sustentacao.
“A história
A historia ée que eles tinham feito um
urn acordo, de apoiar a candidatura
Andreazza, que tinha o respaldo total do Costa e Silva. Acontece que os plane—
plane-
jamentos existem para não
nao dar certo. Costa e Silva teve o derrame cerebral e
ficou afastado. Mas eles tinham assumido o compromisso e acharam que talvez
ficou
o0 Costa e Silva se recuperasse, e o Andreazza pudesse tocar a candidatura para
entao arrendou o Correio da Mani/167,
a frente. O grupo então divida, botou
Manhã, assumiu a dívida,
“O poder público
O pfiblico era o 0 responsável
responsavel por 30% dos anúncios
anfincios do jornal —
hoje talvez seja até
ate um pouco mais, nãonao sei —,
, mas, ao mesmo tempo, as
empresas particulares ficavam
ficavam temerosas de anunciar, porque recebiam tele-
anonimos, ameaças:
fonemas anônimos, ameacas: Você
Vocé está
esta anunciando no Correio da Manhã,
Manha, o
esta nos atacando, você
Correio está vocé amanhã
amanha não
nao espere a concorrência
concorréncia tal, não
nao
cre’dito tal... O Correio da Manhã
espere o crédito Manha começou
comecou a ter a sua receita
54 Em reação
54
reacao a essa postura oposicionista,
oposicionista, em 7 de dezembro de 1968 uma bomba foi jogada numa agência
agéncia
do jornal,
jornal, e em janeiro de 1969 Niomar Moniz Sodré Bittencourt foi presa,
presa, juntamente com os jornalistas
Osvaldo Peralva e Nelson Batista.
Batista. Ver DHBB, op.
op. cit.
E particularizam:
“A partir de 10
A 10 de fevereiro de 1973
1973 elas passaram nos dias comuns de 16
16
12 paginas,
para 12 páginas, depois para 1010 e finalmente
finalmente para 8 paginas.
páginas. Hoje o Correio
Manha ée um boletim inexpressivo, sem notícias,
da Manhã noticias, nem opinião,
opiniao, sem anún-
amin—
leitores.” (NMS 69.09.07. Resumo da Aplicaoao
cios e sem leitores. Aplicação do Contrato.
Arquivo CPDOC,
CPDOC, FGV)
periodo de contestação
Depois de longo período contestaoao na Justiça
Justioa pela proprietaria
proprietária do jornal,
jornal, em
funoao da quebra do contrato, Niomar procura também
função tambe’rn denunciar na Câmara
Camara dos
aoao do grupo Metropolitana e a tentativa deliberada —
Deputados a ação segundo ela — de
periodico.
liquidar o periódico.
“A denúncia
A denfincia no Parlamento nãonao tem
tern tido melhor sorte. No dia 9 de agosto
1973, o deputado Thales Ramalho, secretário-geral
de 1973, secretario—geral do MDB, fez umurn dis-
atiVidades do grupo da Metropolitana contra a Fazenda Nacio—
curso sobre as atividades Nacio-
nal. O discurso foi tao obj etivo que recebeu apartes, apoiando-o,
tão objetivo apoiando—o, de dois vice-
Vice—
lideres da Arena, deputados Grimaldi Ribeiro e Elcio Alvares,
líderes alem de outros
Álvares, além
deputados. Ao mesmo tempo, o0 parlamentar emedebista apresentou um pro— pro-
jeto proibindo que empresas devedoras àa Previdência
Previdéncia Social possam nego-
ciar com o Estado. Tanto o discurso como o proj eto foram vetados pela
projeto
Censura, admitindo-se a publicaeao noticia vaga, inócua,
publicação de uma ou outra notícia inocua,
assunto.”
sobre o assunto.
“um mês
um Ines e tanto depois disso, um
urn deputado da Arena carioca,
cariooa, Nina Ribeiro,
proferiu longo discurso na Câmara,
Camara, em defesa do grupo da Metropolitana. Esse
integra em
discurso saiu na íntegra ern vários
Varios jornais do Rio, em uns como matéria
mate’ria paga,
Manha e Última
em outros (Correio da Manhã Ultima Hora) como matéria
mate’ria redacional.
redacional”. (NMS
69.09.07. Resumo da Aplicaoao
Aplicação do Contrato, p. 5. Arquivo CPDOC,
CPDOC, FGV)
silencio da argumentação
O silêncio argumentaoao da proprietaria
proprietária do Correio da Marthe? Visibi—
Manhã contra a visibi-
favoraveis ao grupo dos irmãos
lidade das falas dos deputados favoráveis irmaos Alencar provoca vee-
mente protesto por parte de Niomar Bittencourt, que encaminha
enoaminha correspondência
correspondencia tan-
to a Roberto Marinho, proprietario 0 Globo, como a Nascirnento
proprietário de O Nascimento Brito, do Jamal
Jornal
do Brasil, cobrando igualdade de tratarnento.
tratamento.
Na carta datilografada e datada de 18
18 de outubro de 1973,
1973, em papel timbrado do
jornal, no qual acrescenta
aorescenta àa caneta o nome do destinatário
destinatario —
simplesmente Roberto —
Niomar pede que o recorte do Didrio d0 Congresso Nacional, no qual se transcreve a
Diário do
carta que ela encaminhara a Thales Ramalho, seja publicado no jornal de domingo.
“Na edição
Na edioao de O0 Globo do dia 23 do mês
mes passado, saiu publicado em uma
pagina
página e tanto o discurso do deputado Nina Ribeiro, em ern torno da questão
questao do
Manha, e no qual fui pessoalmente agredida e caluniada.
Correio da Manhã, oaluniada. Escrevi
EsoreVi
oarta ao Deputado Thales Ramalho restabelecendo
uma carta restabeleoendo a verdade dos fatos e
lanoando um
lançando urn repto ao leviano parlamentar, posto a serviço
serVieo da Cia. Metropo-
Construooes. Agora envio
litana de Construções. enVio a você
vooé o trecho do Diário
Diario do Congresso
Nacional, edição
edioao de 13
13 do corrente, em que se transcreve o texto da aludida
Camara dos Deputados, e peoo—lhe
carta, lida na tribuna da Câmara obsequio de
peço-lhe o obséquio
aoolhida no proximo
autorizar sua acolhida nfimero de domingo, de seu jornal, com o
próximo número
mesmo destaque concedido ao discurso do senhor Nina Ribeiro.
Ribeiro”. (Carta de
Niomar Bittencourt a Roberto Marinho, 18 18 de outubro de 1973.
1973. NMS 69.09.07,
CPDOC, FGV)
arquivo CPDOC,
corn idêntico
Outra carta, com idéntico teor, ée enviada na mesma data ao diretor do Jamal
Jornal do
Brasil. Nessa Niomar acrescenta não
nao o nome do destinatário,
destinatario, mas o apelido Maneco.
“Maneoo”.
No mesmo dia, obtém
obtern a resposta de Nascimento Brito.
No mesmo dia, Niomar recebe a resposta de Nascimento Brito, negando que tives-
se se referido a qualquer proibieao, “oficial ou não,
proibição, oficial nao, que nos impeça
impeea a divulgação
divulgagao da
Ramalho”. Segundo, o diretor do Jamal
sua carta ao Deputado Thales Ramalho. Jornal do Brasil, teria
“uma norma interna
aludido uma interna” do jornal. E acrescenta:
O jornal firma-se
firma—se claramente
elaramente num lugar construído
construido como
corno neutro e nem quando a
polérnica
polêmica envolve um urn de seus pares — no caso a proprietaria
proprietária tambem
também de um jornal
diario tradicional na cidade —
diário haveria justificativa
justificativa para a veiculação
veiculaeao de suas informa-
eoes. Para isso, vale-se do ideal de servir
ções. serVir de maneira ampla ao leitor, selecionando
fatos que, por principio, “interessariam ao público.
princípio, interessariam pfiblico”. A única
finica possibilidade de divulgar
o teor do discurso do deputado que defendia o Correio seria, portanto, se este fosse
publicado como
corno matéria
mate’ria paga.
“A publicação
A publieaeao pelo Jornal de Brasília,
Brasilia, cujo recorte
reeorte você
vocé anexou, em nada alte-
alte—
ra, pois, a decisão
decisao do Jornal do Brasil. Lamento dizer-lhe, assim, que não
nao encontro
equivoeo que agora esclareço,
nos seus argumentos, eivados de um equívoco esclareeo, razão
razao para
aeonteceu com o discurso do Depu-
reconsiderar o caso. Logicamente, assim como aconteceu Depu—
tado Nina Ribeiro, o discurso do Deputado Thales Ramalho não nao será
sera por nós
nos divul-
corno ocorreu com o primeiro, entre pelo Departamento Co-
gado, a menos que, como Co—
corn as características
mercial, com caracteristicas de praxe.
praxe”. (Carta de Nascimento Brito a Niomar
Bittencourt, 1919 de outubro de 1973.
1973. NMS 69.09.07. Arquivo do CPDOC,
CPDOC, FGV)
E conclui:
conelui:
“Estou certa
Estou oerta de que não
nao há
ha de sua parte intenção
inteneao discriminatória
discriminatoria contra o
Manha ou contra mim pessoalrnente.
Correio da Manhã pessoalmente. Por este motivo, peoo
peço sua
ateneao para o caso
atenção easo na segurança
seguranea de que encontrarei boa e justa solução.
soluoao”.
(Carta de Niomar Bittencourt a Nascimento Brito, 5 de dezembro de 1973.1973.
NMS 69.09.07. Arquivo CPDOC,
CPDOC, FGV)
A tentativa da proprietária
proprietaria do Correio da Manha?
Manhã de ter de novo o controle do
periédieo estende-se
periódico estende—se até
ate 8 de julho de 1974,
1974, quando sai a última
filtima edição
edioao do jornal.
Nesse ínterim
interim as dívidas
dividas se acumulam,
acumularn, bem como a crise que se materializa a cada
edieao. O depoimento de Pedro do Coutto ée exemplar neste sentido.
edição.
“O grupo então
O entao arrendou o Correio da Manhã
Manha (...) escolheu
eseolheu para redator
chefe o pior redator chefe da história
historia do Correio da Manhã,
Manha, hors concours,
que era o0 Paulo Germano Magalhães,
Magalhaes, filho
filho do Agamenon Magalhães.
Magalhaes. Tinha
“F az o contrário,
Faz contrario, reduzindo-o fisicamente
fisicamente a oito paginas, sem notícias,
noticias,
anuncios e sem leitores. No último
sem anúncios ultimo dia anterior àa posse do Sr. Maurício
Mauricio
Nunes de Alencar e associados, sábado,
sabado, 13/9/69,
13/9/69, o
0 Correio da Manhã
Manha vendeu
Circulacao de que eles e nós
43.000 exemplares, conforme Boletim de Circulação nos dispo-
dispo—
nao
mos, e não apenas 7.000, como ele afirma”. (Idem,
afirma. (Idem, ibidem)
Em seguida, justifica
justifica por que se recusa a receber de volta o jornal.
“Tovo de
Teve do fazê-lo,
fazé—lo, em
om defesa
dofosa do patrimonio omprosa eo em
patrimônio da empresa om face da situa-
oao procaria
ção lidor do grupo arrendatário,
precária da líder arrondatario, a Companhia Metropolitana
Motropolitana dedo
Construooos, ja
Construções, corn centenas
já com contonas de
do titulos
títulos protostados
protestados eo numerosos
numorosos podidos
pedidos
do falência
de faléncia na 17ª
17a Vara Cível,
Civol, conforme
conformo documentação
documontaoao emom meu
mou podor”.
poder.
E tormina
termina de
do maneira
manoira dramática:
dramatica:
“Finalrnonto, o
Finalmente, 0 Sr. Maurício
Mauricio Aloncar Cita bilhete
Alencar cita bilhoto no qual, lembrando
lombrando vor-
ver-
do Khalil Gibran, agradeci
sos de agradoci gentileza
gontiloza que
quo me rno havia
haVia feito
foito eo que
quo acabou
custando—mo muito cara, eo estabelece
custando-me ostaboloco relação
rolaoao entre
ontro isso eo o arrendamento.
arrondamonto.
sondo o arrendamento
Ora, sendo arrondarnonto dedo setembro
sotornbro de
do 1969
1969 eo o bilhete
bilhoto de
do julho do mos—
mes-
mo ano, éo impossível
impossivol relacionar
rolacionar as duas coisas. Tem,Torn, entretanto,
ontrotanto, o sr. Mauri—
Maurí-
cio Aloncar
Alencar plona, complota eo integral razão
plena, completa razao emom umurn aspecto:
aspocto: mudei
mudoi meu
mou pon—
pon-
to de
do vista
Vista a seu
sou respeito,
rospoito, como ja foz a maior parto
já o fez parte das possoas quo o
pessoas que
conhocorn. Hoje,
conhecem. Hojo, em
om lugar dedo Gibran, restar-me-ia
rostar—mo—ia apenas
aponas citar o Judas, que
quo
afinal enganou
afinal onganou ao proprio Cristo”. (Carta de
próprio Cristo. do Niomar Bittencourt
Bittoncourt a Roberto
Roborto
Marinho, 1919 de
do junho dedo 1974.
1974. NMS 69.09.07A. Arquivo do CPDOC. CPDOC. FGV)
A reforma eo a liderança
lidoranoa de
do O
0 Globo
Ao final
final da década
docada dedo 1970,
1970, o mercado
morcado jornalistico osta reduzido
jornalístico carioca está roduzido a trés
três
grandos jornais —
grandes O 0 Globo, O 0 Dia eo o Jamal
Jornal do Brasil — quo, juntos, monopolizam
que,
quaso 90% dos leitores.
quase loitoros. Isso terá
tora consequências
consoquéncias no aspecto
aspocto financeiro
financoiro eo patrimonial
dos jornais (Ribeiro,
(Riboiro, op.
op. cit.:
cit: 174).
174).
A rigor, estamos
ostamos afirmando
afirrnando que
quo a partir da década
do’cada de
do 1960
1960 a imprensa
impronsa diária
diaria do
do Janeiro
Rio de Janoiro passa por uma aguda crise
criso eo somente
somonto O0 Globo consegue
consoguo manter
mantor a sua
tiragom om torno de
tiragem em do 200 mil exemplares,
oxornplaros, sendo,
sondo, portanto, um dos jornais que
quo mais se
so
bonoficia com o procosso
beneficia do concentração
processo de concontraoao empresarial
omprosarial ocorrido neste
nosto poriodo.
período. A TV
avaliaoao de
Globo, na avaliação do Ribeiro
Riboiro (2000), inaugurada no ano seguinte
soguinto ao Golpe,
Golpo, em
om
do 1965,
maio de 1965, se
so tornando, em
orn algum
algurn tompo, rodo de
tempo, a maior rede do toloVisao
televisão da América
Latina, daria força
foroa ao jornal eo ao grupo como
corno um todo.
Na década,
do’cada, o poriodioo
periódico comandado por Roberto
Roborto Marinho prossoguo
prossegue com a sua modorni—
moderni-
zaoao tecnológica
zação tocnologica eo administrativa. Aroforrna do 1971,
A reforma de 1971, quando assume
assumo a redação
rodaoao o
ojornalista
jornalista
Evandro Carlos de do Andrado, significa a implantação
Andrade, significa implantaoao de
do uma série
sorio de
do mudanças
mudanoas editoriais
oditoriais eo
quo leva
administrativas que lova o jornal àa liderança
lidoranoa do mercado
morcado carioca.
oarioca. Em 1978,
1978, novas impresso-
improsso—
sao implantadas, dinamizando ainda mais o procosso
ras off-set são do produoao.
processo de produção.
As mudanças
mudancas incluem não
nao apenas ajustes e inovações
inovacoes na parte gráfica,
grafica, como tam—
tam-
bém transformacoes dc natureza administrativa. Assim, O
transformações de 0 Globo passa também a cir-
cir—
cular aos domingos.
Nas palavras de Evandro Carlos de Andrade, entretanto, cada uma dessas inova- inova—
coes aparece como sendo ideia particular do dono do jornal: Roberto Marinho. Um
ções “Um
dia, o0 dr. Roberto disse: Quero lançar
lancar o jornal no domingo. Eu nãonao inventei nada!
nada! Ele
perguntou: O que vocêvocé acha? Eu disse: Ótimo,
Otimo, vamos fazer. Era tudo assim, entre o
fazcr e o fazer, eram duas semanas
quero fazer semanas” (Abreu etez‘ alii: 2003:41).
Nas memórias
memorias do diretor de
dc redação
redacao de O 0 Globo, Roberto Marinho até 1973 1973 che-
“che-
gava no jornal de manhã
manha e saía
saia àa noite,
noite”, razão
razao pela qual é6’: do proprietario
proprietário do jornal
jornal
todas as ideias inovadoras.
“Nesse episódio
Nesse episodio da edição
edioao de domingo, ele encontrou uma grande resis—
resis-
téncia qué? Ah, isso é uma loucura, esse espaço
tência do conjunto da diretoria. Por quê? espaeo
ée do Jornal do Brasil, como ée’ que nós
nos vamos fazer isso, vamos sacrificar
sacrificar a
edigao de segunda, e por aí
edição ai afora. Mas ele foi firme,
firme, e fizemos
fizemos a edição
edioao de
domingo”. (Idem: 42)
domingo.
adoeao da impressão
Também a adoção impressao em off-set,
ofl-set, no final
final dos anos 1970,
1970, ée’ nas palavras
de Evandro Carlos de Andrade uma decisão
decisao solitária
solitaria de Roberto Marinho, que mais
reaoao adversa do restante da diretoria de O
uma vez enfrenta reação 0 Globo. Na avaliação
avaliaeao do
impressao
jornalista, a passagem para o novo sistema de impressão é determinante para o suces-
so do jornal na década
decada seguinte, em contraposição
contraposioao a derrocada crescente do Jamal
Jornal do
Brasil.
E continua:
“so que o Brito, no meu modo de ver, cometeu um erro estratégico. Ele
Só
nao levou em conta que o
não 0 New York Times tinha 120 120 unidades rotativas e
enfrentava o problema dos sindicatos lá,la, que eram uma coisa terrivel nao
terrível e não
Entao era um drama para eles passar para o
deixavam mudar nada. (...) Então 0 off-
set. (...) Aqui não
nao havia
haVia nada disso, mas o Brito estabeleceu uma relação
relaoao
direta New York Times-Jornal do Brasil e resolveu manter o sistema letter-
letter—
press. Fez algumas adaptações
adaptaooes para tentar melhorar a impressão,
impressao, mas foi isso,
competioao, porque a qualidade gráfica
no meu modo de ver, um desastre na competição, grafica
ée um dado fundamental, embora as pessoas nãonao saibam disso necessariamen-
55 Sobre a inclusão
55
inclusao nesses jornais da temática
tematica política
politica com característica
caracteristica sensacionalista,
sensacionalista, cf.
cf. Siqueira, Carla
Vieira de. Sexo,
“Sexo, crime e sindicato.
sindicato. Sensacionalismo e populismo nos jornais Última
Ultima Hora,
Hora, O0 Dia e Luta Demo-
Demo—
crática
crat/ca durante o segundo governo Vargas (1951-1954).
(1951-1954)”. Tese de Doutorado em História,
Histéria, PUC-Rio,
PUC—Rio, 2002.
2002.
“No caso
No easo da faixa popular, em que o povo tem pouca instrução,
instrueao, soletra as
manchetes, prefere a fotografia
fotografia ao texto longo, em suma, a imprensa sensacio-
sensacio—
nalista, precisamos captar o desejo do homem da rua. E disto não
nao tenham dúvida:
dfivida:
aeao da censura esses
ele quer sangue e mulher, crime e sexo. Mas, diante da ação
ingredientes devem ser bem dosados para atender a lei sem desatender o lei-
tor”. (Idem,
tor. (Idem, ibidem)
59 Essas temáticas
59
tematicas que estão
estao no centro desses relatos do jornalismo popular repetem,
repetem, com as inflexões
inflexoes
necessárias
necessarias ao tempo de sua construção,
construcao, os mitos, as figurações,
figuracoes, as representações
representacoes de uma literatura popu-
popu—
lar existente, na Europa Ocidental, desde o século XVI.
XVI. Essa literatura popular falava dos crimes violentos,
violentos,
das mortes suspeitas, dos enforcamentos,
enforcamentos, dos milagres, ou seja,
seja, de tudo que fugia à
a ordem instaurando um
modelo de anormalidade. Roger Chartier (1981,
(1981 , 1987,
1987, 1993), ao estudar este tipo de publicação,
publicacao, sublinha as
múltiplas
ml’JItiplas reconfigurações
reconfiguracoes narrativas que estes textos sofreram para se adaptar aos padrões
padroes e hábitos
habitos de
publico em larga escala.
leitura do público escala.
“A força,
A forca, não
nao politica,
política, mas eleitoral, do Dia era muito maior do que a
forca eleitoral do Globo ou do Jornal do Brasil. O
força 0 Globo e o Jornal do Brasil
nao elegeriam ninguém. Ningue’m
não Ninguém ée’ força
forca de expressão,
expressao, elegeriam um. Mas
Chagas Freitas elegia seis, sete, com O0 Dia. Por quê?
que? Porque o eleitor do Dia
era um eleitor muito mais propenso a seguir o comando daquela corrente que
o jornal representava, sintetizava, do que o leitor do Globo ou do Jornal do
Brasil. E assim ele utilizou o jornal”. (Idem, ibidem)
jornal. (Idem,
0 Dia só
O so possui expressão
expressao politica cenario dos anos 1970,
política no cenário 1970, porque conta com
aproximacao com o publico
uma rede de leitores e leituras. E essa aproximação gracas àa
público se faz graças
construcao
construção de uma outra rede de textos, que apelam a valores caros ao universo popu—
popu-
0 popular se realiza no massivo (Barbero: 1997).
lar. O 1997).
62 O
62
0 Plano Collor, programa de estabilização
estabilizagao lançado
Iangado no dia seguinte à a posse do presidente,
presidente, era baseado em
um inédito confisco monetário.
monetério. Mas o plano,
plano, que pretendia reverter o processo de estagnação
estagnagéo no qual se
encontrava a economia brasileira, não néo acabou com a inflação
inflagéo e a recessão
recesséo do país
pals aumentou.
aumentou. No Brasil,
Brasil, a
3
economia, que entre 1930
1930 e 1980 gozava de uma das maiores taxas de crescimento do mundo, estagnou e
deixou de crescer nas duas últimas
Ultimas décadas do século XX.XX. O0 país
pals foi atingido pela crise da dívida
divida externa da
década de 1980. A polarização
polarizagao entre a vocação
vocagéo do mercado interno,
interno, que exigia redistribuição
redistribuigao de renda e
aceleragao do crescimento, e a atração
aceleração atragéo do mercado global,
global, que exigia redução
redugéo do gasto e do tamanho do
Estado e recessão,
recessao, levou a um impasse, traduzido na longa
Ionga e profunda crise inflacionária
inflacionéria (Singer,
(Singer, 2001:124).
2001 :124).
quc é afinal
O que afinal o jornalismo investigativo? Seria
Scria possivel Visualiza-lo como cate-
possível visualizá-lo
scria melhor
goria conceitual ou seria Inclhor defini-lo
dcfini—lo como uma construção
construcao originária
originaria de
dc dentro
carnpo, como
do campo, corno forma de
dc qualificar
qualificar a profissão?
profissao?
inicio do século XX, o
Se no início 0 repórter
reporter é a figura
figura inovadora do jornalisrno, final
jornalismo, no final
do século, o jornalista investigativo parece
parecc sintetizar
sintctizar a mítica
mitica da profissao construida
profissão construída
pelos proprios
próprios jornalistas.
1950/1960 era importante
Enquanto nos anos 1950/1960 importantc do ponto de
dc vista
Vista da construção
construcao do
jornalista como
corno comunidade interpretativa mostrar
rnostrar o jornalismo como o lugar natural
‘55 O piso salarial do jornalista varia de acordo com a cidade onde trabalha,
65
trabalha, a categoria (rádio,
(radio, TV ou jornal) e
a carga horária.
horaria. De acordo com a Federação
Federacao Nacional dos Jornalistas (Fenaj),
(Fenaj), o redator, no Estado do Rio de
Janeiro, recebia,
recebia, em 2004, por mêsmés R$ 695,55 (5 horas) e R$ 1.113,26
1113,26 (7 horas). No Distrito Federal,
Federal, o piso
(midia eletrônica)
varia entre R$ 958,00 (mídia eletr6nica) e R$ 1.161,00
1.161 ,00 (mídia
(midia impressa).
impressa).
reporter
Cruzeiro, o repórter da TV Globo usava uma camera
câmera oculta para registrar a venda de
exploracao sexual infantil nas imediações
drogas e exploração imediacoes de um baile funk.
microcamera ja
O recurso da microcâmera já tinha sido utilizado por ele na matéria
mate’ria que consagrou
atuacao do repórter
a atuação reporter como detetive em áreas
areas de conflito.
conflito. Em dezembro de 2001, Tim
Prémio Esso na categoria Telejornalismo pela matéria
Lopes recebeu o Prêmio mate’ria Feira
“F eira das
drogas”, exibida
drogas, eXibida no Jornal
“Jornal Nacional”,
Nacional, da TV TV Globo, em agosto do mesmo ano.
O trabalho lhe rendeu homenagens. A imagem do premiado, editada com tre-
mate’ria vencedora, foi ao ar durante o noticiário
chos da matéria noticiario mais assistido da televisao
televisão
brasileira. A premiação
premiacao fortalecia o papel da reportagem investigativa na formação
formacao da
profissional do jornalista.
identidade profissional
No ano seguinte, o repórter
reporter Eduardo Faustino tambe’m Prémio Esso na
também venceu o Prêmio
camera escondida para flagrar
mesma categoria. Como Tim Lopes, usou a câmera flagrar um esque-
esque—
corrupcao envolvendo politicos
ma de corrupção empresarios no município
políticos e empresários municipio de São
S510 Gonçalo,
Goncalo,
Regiao Metropolitana do Rio de Janeiro. Faustino, no entanto, não
Região nao foi apresentado ao
publico. O prémio
público. prêmio foi entregue a um representante do vencedor (Jakobskind, 2003).
O meio jornalistico ViVia o impacto do assassinato de Tim Lopes.
jornalístico ainda vivia
66 Figura
66
Figure carismática,
carismética, com uma mecha branca nos cabelos negros,
negros, Pena Branca era famoso por desvendar
crimes, encontrar fugitivos e proteger testemunhas.
testemunhas. Acabou inspirando o personagem Valdomiro Pena,
Pena, inter-
inter—
pretado pelo ator Hugo Carvana, na minissérie da TV TV Globo Plantão
“Plantao de Polícia,
Policia”, no final dos anos 1970.
1970.
Pena Branca publicou ainda romances como Barra Pesada (1977) e Algemas de carne came (1983).
“Ele era dos nossos, e morreu fazendo o que todos queremos fazer —
Ele e
nem sempre todos sabemos: descobrir o0 crime que está esta oculto e, para o bem
coletivo, ée necessário
necessario contar. A sensação
sensacao de perda e a tristeza tendem a domi-
domi—
nar m
nossa reação, nossa interpretação
reacao, m interpretacao do que aconteceu: somos as vítimas,
Vitimas,
mataram um dos nossos quando fazia o w nosso trabalho.”
trabalho. (Somos
(“Somos todos víti-
Viti-
mas”. O
mas. 0 Globo,
Claim, 1010 junho 2002, p. 14)
14)
Ao reivindicar
reiVindicar para si o
0 papel de descobrir
“descobrir o0 crime que está
esta oculto e, para o bem
necessario contar,
coletivo, é necessário contar”, o jornal sobrepõe-se
sobrepoe—se a outras instituições
instituicoes como a poli-
polí-
Judiciario Da mesma forma que estampava em sua manchete que o
cia e o Poder Judiciário
trafico havia
tráfico haVia julgado, torturado e executado Tim Lopes, O 0 Globo também assume
o0 papel de um tribunal, não
nao se limitando a relatar os acontecimentos. Albuquerque
afirma que em
afirma “em face da ineficiência
ineficiéncia da Justiça,
Justica, os jornalistas brasileiros se veem ten-
tados a realizar simbolicamente a justica nao ée capaz de fazer
justiça que ela não fazer” (2000:48).
noticiario também reflete
Interessa observar que o noticiário reflete as instruções
instrucoes contidas nos arti-
arti—
gos publicados em O 0 Globo, tornando tênue
ténue a linha clássica
classica que separa as notícias
noticias
obj etivas dos espaços
objetivas espacos reservados para comentários
comentarios e opiniões.
opinioes. As matérias
materias se relacio-
nam com o sentido dado pelo escritor Silviano Santiago ao assassinato de Tim Lopes.
reporter a um correspondente de guerra: O
Ele compara o repórter “O correspondente de guerra
herois anônimos
deve ser reverenciado como se reverenciam os heróis andnimos do cotidiano.
cotidiano”. (Nos-
(“Nos—
guerra”. In: O
so correspondente de guerra. 0 Globo, 11
ll junho 2002, p. 19)
19)
Cenário
Cenario 3: Narrativas de um outro fim
fim de século 68
século68
A cadeira-monumento estará
estara ali para lembrar a falta, mas tambe'm
também como emblema
do que pode acontecer com aqueles que subestimam o medo. O monumento ée um
meméria, um sinal do passado, que pode ser tanto obra comemo-
suporte material de memória, comemo—
funerario, como a cadeira se tornou. Seu objetivo é
rativa quanto um monumento funerário,
perpetuar a recordação
recordacao de Gabriela em um domínio
dominio privilegiado de memória:
memoria: a morte.
Alem diferenca, o monumento dialoga concretamente com os colegas de sala da
Além dessa diferença,
adolescente, ele ée menos abstrato do que um documento. É E do universo sensível.
sensivel.
Cleide disse que costumava monitorar os passos da filha,
filha, o que é o mesmo que
“Quando ela demorou mais de dez minutos, sabia que alguma
monitorar seu tempo. Quando
acontecido.” Nao
coisa tinha acontecido. Não ée somente a morte e a experiência
experiéncia urbana que se preten-
dem domar, mas também suas temporalidades.
A construção
construcao da identidade leva a um processo permanente de des e reconstrução
reconstrucao
do passado (Velho: 1994).
1994). É
E isso que observamos na reportagem, embora o autor dê dé
énfase ao indivíduo.
mais ênfase individuo. O que interessa aqui são
sao as percepcoes
percepções coletivas. Nesse
Vida individual de Gabriela a ser reconstruída,
sentido, embora seja a vida reconstruida, sua importância
importancia
obj eto midiático
como objeto midiatico é somente na medida em que ela puder ser compreendida como
categoria social. Nao
Não se trata do destino de Gabriela do Prado Ribeiro, mas de como
o jornal trabalha com um personagem arquetípico
arquetipico melodramático
melodramatico e com sua relacao
relação
com a cidade do Rio. Assim em março
marco foi Gabriela, em maio foi Luciana.
A mobilidade do tempo no episódio
episodio Luciana ée menos dinâmica.
dinamica. Ela se concentra
principalmente no passado —
o ataque àa universidade —
e no que antecedeu, uma vez a
motivacao ée o grande enredo da cobertura. Tem-se, portanto, o passado da bala aloja-
motivação aloj a—
da na coluna cervical de Luciana e o passado misterioso da motivação
motivacao do ato. JáJa o
futuro ée representado pela iminência
iminéncia da sua morte ou por sua tetraplegia e pela possi-
bilidade de crimes semelhantes se repetirem. Articula-se, portanto, um tempo de natu-
natu—
ciclica.
reza cíclica.
A primeira pagina
página de 6 de maio de 2003, primeiro dia de cobertura do caso Luciana,
ja tensao entre o passado da bala perdida e o risco da estudante ficar
já traz a tensão ficar tetraplegica.
tetraplégica.
O texto relata que a direção
direcao da universidade recebera uma carta naquela manhã
manha orde-
orde—
nando o fechamento do campus, mas que os alunos estavam sendo dispensados, aos
poucos, para não
nao causar panico.
pânico. Luciana estava sentada na cantina esperando a aula
7° Ficção
70
Ficcao aqui tem o sentido de muthos aristotélico, ou seja,
seja, não
néo se quer dizer que os fatos sejam inventados,
inventados,
sem nenhuma referência
referéncia e verdade, mas como agenciamento de fatos (Ricoeur, op. op. cit.:
cit.: 102).
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CARACTERiSTICAS
C DESTE LIVRO
ARACTERÍSTICAS DESTE LIVRO::
Formato: 16 x 23
16 X 23 cm
Mancha: 12 x 19
12 X 19 cm
Tipologia: Times New Roman 10/14
10/14
Papel: Ofsete 75g/m
7 Sg/m22 (miolo)
Cartão
Cartfio Supremo 250g/m22 (capa)
Supreme 250g/m
1ª
I a edição:
edigdo: 2007
2ª
2" edição:
edigdo: 2010